A obra tem 3 edições, uma do lançamento, em 1946, mesmo ano de “Sagarana”, outra esquecida (talvez reimpressão ou segunda edição nos anos 2000?) e uma terceira em 2018. Foi o romance de estréia de Ruth Guimarães, sempre apaixonada por ler e que morou na região rural.
A obra possui dois grandes momentos, 50 anos antes e 50 anos no momento da narração, até o fim dos anos 30.
Há um locutor silencioso, ao qual o narrador fala com e é sempre preocupado com a verdade.
É uma obra sobre o caipira do sudeste, em dois momentos do Brasil, antes e depois da escravidão em uma fazenda no sul de Minas, próximo ao Vale do Paraíba, local de nascimento e de vida da autora.
Os locais de maior atenção são a própria fazenda Olhos d’água e uma cidade próxima da fazenda.
O sentimento principal da obra é o medo.
A história se assemelha aos moldes de um causo contado, já que nem tudo é contado de uma vez e as histórias vão se adicionando aos poucos sem conexão aparente, até que elas se conectam ao final, como uma grande epifania de um causo contado.
Realismo mágico – É impossível traçar a linha de quando superstições e crendices superam a ciência e o racionalismo, os dois existem ao mesmo tempo
Super-realismo – O regional vira universal
Trecho inicial
Estas coisas aconteceram em qualquer tempo e em qualquer parte. O certo é que aconteceram. E, como sempre se dá, ninguém apreendeu nada do seu misterioso sentido. (A história é uma professora sem alunos, A história ensina e ninguém aprende.)
Capítulo 1 O narrador, muitas vezes que dá voz também a própria autora, conversa com um locutor silencioso chamado “moço”. Ele começa a descrever a região que passará boa parte da narrativa. O narrador conta como todo o engenho era o mesmo e não era. Talvez até tivesse as mesmas árvores, animais e até o mesmo Seu Pedro Gomes que lembrava da época, mas a praga mudou tudo naquele lugar, o ar era diferente. A casa tem salas grandes e o sol invade com facilidade tudo, mas há um ar frio de morte por ali, seja pela praga, pelo terreno construído por cima de corpos de negros ou de Maria Carolina, ou Sinhazinha Carolina, antiga bela dona que vigia tudo pelo quadro pendurado na sala. Era irmã de outros dois, Sinhá Maria Isabel, casada, e Miro. Quando a caçula casou, teve festança de uma semana, para felicidade da mãe desses três que eram a praga de sua vida. Tinham matado 40 bois e perderam noção dos cabritos e dos doces. Apesar do exagero, o narrador falava que era verdade, pois até Seu Pedro Gomes poderia confirmar. O narrador tem uma preocupação da história ser verídica, quando há uma suspensão da verossimilhança, ele diz que outros podem comprovar ou que tem como ele provar ou que o povo falava que era verdade, tal qual a expressão de que “A voz do povo é a voz de Deus”. Mas o casamento havia de terminar mal, “casamento que começa com foguete, acaba com porrete. Esse não acabou com porrete, mas foi muito pior.”. Um guainumbi, um beija-flor, de papo branco entrou no quarto no dia do casamento. No começo era bom, mas depois o marido virou festeiro e ia para todas as farras com Seu Pereira. Mas Sinhá não brigava, casou contra a vontade dos pais. Pode até ser que brigasse, mas era escondido ou nunca aconteceu. “A soberba ajudou Sinhá a sofrer calada”. Sinhá Carolina costumava visitar a irmã, que toda hora o marido de Sinhá Carolina ia para longe e voltava chorando. Mas o problema é que ela acreditava no arrependimento que era tantas repetidas vezes, achava sempre que mudaria. “Mulher, pelo coração, a gente leva para onde quer.”. Casaram cedo e era difícil mudar. Quando mudou, o coração de Sinhá já tinha endurecido. Um dia, Sinhá Carolina queria comprar uma cozinheira, Joana Maria dos Anjos, o problema foi que Seu Joaquim Dias falava que era melhor comprar o marido dela também, já que ela era muito bonita e podia dar problema com o marido dela que era mulherengo. Afinal, sempre havia trabalho na roça, uma mão extra era sempre bom. Ela tratou mal já de cara a cozinheira, até a Sinhazinha achou ruim o tratamento, mas a mãe falou que ela fazia o bem entendia pois ela mandava, quando ela fosse mandar, ela faria diferente. Os tempos que a faziam ser assim, ela não era de todo má, tal qual a desgraça depois não era de Joana dos Anjos, mas podia bem ser uma parcela de culpa, mas não total. Tem gente que só aprende depois que “fica com o sinal na carne”. O narrador fala de uma vez que o Sinhô foi sair procurando Carolina. O narrador até fala da beleza das coisas repetidas e como elas são sinais da beleza do mundo. Tal qual a história de Carolina e Deus eram um só. Zé Lucinda tocava violão numa toada repetida. Carolina tinha tido um sonho ruim com Sinhô, mas ele dizia que não ia dar nada. Coitado dele que sempre contrariava. Morreu, acharam com o pescoço quebrado, falaram de praga, até mesmo que era de Joana, e o narrador falou que era cobra e o cavalo assustou, crendice tem limite. Sinhá ficou de luto mas não a viram chorar. Reparou que Joana chorava pelos cantos, mas a soberba de Sinhá era ruim e ela insistia no não. “Ruindade, às vezes, é só falta de imaginar a tristeza dos outros”. Quando começou a cuidar da fazenda, mandou matar o baio, cavalo, só para que tivessem noção de sua ruindade, achavam melhor que tivesse dado ou presenteado ou vendido. Instalaram um moinho perto, Sinhá mandava e a desgraça dela veio por lá. A vida dela subiu, como a de todos que vêm em ondas, mas a dela subiu e desceu, de uma vez, com ela “de cabeça em pé”. Tinha ferramentas para se salvar, o marido, a filha, o dinheiro, mas o progresso vinha e tirava tudo que atrapalhava: marido morreu; filha saiu da frente; o dinheiro perdeu. Assim como Deus quis ter.
Capítulo 2
O narrador explica do caminho da estrada do Limoeiro para Olhos D’Água. De dia é alegre, de noite passava o espírito de Sinhazinha Gertrudes. Sinhazinha era como Sinhá, de juventude e de gênio. Ela procurava frutinhas, e a morte a esperava. A natureza sempre se embeleza para avisar o amor. Tudo fica mais cheiroso, vivo, e seus olhos eram lindos e encontraram os do filho do capataz. Parecia que o Inácio Bugre tinha armado tudo. Inácio Bugre é, supostamente, pelo seu comportamento e atividades, alguém indígena. O problema é que isso não é explicado claramente, alguns indicativos, além do comportamento (sisudo, poucas palavras, bom de natação, resistente à picada de cobra, bom com arame e trabalhos manuais) é o nome Bugre, que é um apelido pejorativo para indígenas de europeus por não serem cristãos, que vem de uma palavra francesa “bougre” que significa “búlgaro”, um povo considerado no século XII herético, o significado da palavra. Trazia presentes, armados, frutas, acessórios, não trazia a lua como Sinhá dizia porque estava alto demais. Um dia ela se afogou e Inácio a salvou. Ela ficou dias acamada, ele ficou do lado sem sair e sem comer. Quando falaram que ela iria melhorar, chorou. Parou pouco depois e fechou a cara. Quando foi vê-la outro dia, sorriu pela primeira vez. O amor estava ali, de uma barulhenta e um quieto. Mas falavam daquilo, ele podia ter más intenções. Sinhá gostava da simplicidade do homem, não era levada fácil por comentários alheios. A família de Inácio que deu o nome da fazenda, com várias nascentes boas e a crendice que ali era que a mãe d’água tem chorado. Trabalhava no brejo, ia de canoa, levava frequentemente picada de cobra. Tinha quem dizia que “ele tinha oração de fechar o corpo”, mas tinha mesmo sangue forte e fumo bom pra fechar ferida. Falava pouco, sorria pouco, mas tinha medo nenhum. Casou o filho do capataz com a menina, mas Sinhá não apoiou. Fez festa e antes dela já vinha tossindo. Conversavam que Seu Jovino não ia bem. Zé da Lucinda um dia se assustou com ele. Era o falecido Sinhô velho da fazenda, que todos se riam dele não saber quem era. Muitos dos velhos moravam no antigo armazém, Sia Maria, a avó, que sempre prozeava por lá, a querer saber de Miro, mas não queria saber de morar com as filhas apesar da saúde. A vida de Sinhazinha continuava uma festa, e Sia Maria não gostava do que ela aprontava. Sinhá falava menos, Sinhazinha o suficiente pela manhã, que passava com a avó o dia todo, mas ia mesmo era com o filho do capataz na canoa. Sinhá brigava com a tia Maria Isabel, não aprovava o filho de capataz. Não pensava no amor por casamento pois o dela não deu certo, logo o de Gertrudes não daria. Maria Isabel aceitou, ficou quieta e “saiu da fazenda para nunca mais voltar”. Tempos depois a Siá Maria faleceu, encontrar-se com o seu velho. Isso afetou Sinhazinha, pois não tinha a quem pedir conselho. Pode ser que foi decidir e decidiu mal, ou bem, nem o narrador sabe. Sinhá continuava dura, Sinhazinha corria para Inácio, até que ela saiu do ninho de vez. Sinhá quis falar com o filho do capataz e corria o boato de que Inácio ajudou o casal a fugir. Inácio ficou ofendido com a acusação, Sinhá estava desconsolada. Ela estava arrependida, e ele não dizia por nada, até porque se fosse a filha dele, não precisava fugir. Queria mandar gente, mas pra quê? Ficou sozinha e sem consolo. Seu Joaquim Dias após um tempo não trabalhava mais na fazenda. Até pensaram os dois de falarem que o filho do capataz era bom, e que ela perdoava a filha, mas a única troca foi de dinheiro. E aí piorou, era uma troca de capataz que nenhum prestava, um chegava tarde e não gostava de trabalhar, outro comprava briga e apanhou, outro era ruim e morreu, outro nortista de cara fechada, e um alemão que não achava brasileiro bom pra trabalhar. Esse ficou. Ficou e pra piorar. Ler página 35
Capítulo 3
O dono da fazenda expulsou o filho de casa. Não se sabe o que é, mas pelas palavras do pai que coisa boa não era. Um cavaleiro bem vestido chegou na fazenda, o mesmo menino que foi expulso da fazenda, apesar de não ser explicado diretamente, querendo saber do dono. Falaram para onde ir e ficaram pensando que ele ia comprar a fazenda. Mas os bichos dali saiam de perto da nova figura. Sinhá gostou dele, apesar de ser estranho um moço aparecendo assim. Eram olhos miúdos de cobra que seduziam, falava pouco. Choveu como nunca na noite. O alemão foi mandado embora, mesmo que ela não tivesse queixas, o novo moço ficou de capataz. Logo espalhou que ela casaria com o capataz. Logo depois que ia vender a fazenda. Falavam até mais, que iam comprar outra fazenda. Apesar do aviso de Miro, que não se intrometia e mal falava com sua irmã, avisar da situação, Sinhá não ouviu. Mulher se enleva com pouco. Miro respeitou. Tinha até boatos que ela e a irmã estavam bem. Mas não estavam, nem se falavam, a filha ninguém sabia, só o Bugre e ele não contava. Ela casava, ele disse que não era de deixar, mas que pelo menos fosse de separação de bens. Isso não era apenas o louco do Miro que via do dinheiro, mas até mesmo de que sabiam que ele foi expulso pelo pai. Há um retorno do conto de como Seu Jovino morreu. A desgraça é uma metáfora em uma história do narrador, e ela chegou para Sinhá Carolina por boa fé, ela nunca mais voltou para a fazenda, a Sinhá Carolina, ela mesma, com esse nome, nunca mais voltou. Sinhá Carolina se deu por toda, como o Diabo gosta, e por ter ficado sozinha, aceitou aquele pouco agrado. Ela fechou a mala e fechou a vida. Todo mundo é como canoa em água funda, a água mexe um pouco, mas é isso. Ler página 52
Capítulo 4
Viram Inácio indo levar a Sinhá para a estação. A história salta para o momento da fala do narrador, os acionistas estavam feliz com tudo, dinheiro sobrava. O novo manda-chuva queria saber o que achavam, chamava todos de amigos, camaradas, perguntavam o que podia melhorar, queria a opinião de pessoas que nunca ouviram nada mais do que ordens. Gente bruta também gosta de ser tratada como gente. Traziam gado novo, cruzavam para ter mais, cimentaram vias, progrediram. Foram 50 anos e muita coisa mudou. O chefe era tão próximo da gente e trabalhava igual que ele era chamado de Velho. Conversavam, comiam e riam juntos.
Capítulo 5
O narrador conta do modo de transporte da época e de hoje. Se antes eram carroças do Miro puxadas por burro, uma traquitana esquisita, hoje eram os caminhões do Zé Luiz, que mudaram de estética mas a engenharia era a mesma. No tempo do Miro era festança, faziam quantas viagens necessárias, até compras na cidade. Do Miro só sobrou uma neta, Curiango, sabia cantar, mas que nem sabia das histórias dele. Ficaram as invenções, acostumaram com a falta. O nome era de pássaro, mas o motivo é incerto. Ela atraía não pelo corpo ou olhos, mas um calor que vinha dela. Joca gostava dela antes mesmo de saber que gostava. Seu Pedro Gomes tentou apartar uma briga de desordeiros e levando facada. Não levava desaforo pra casa e quase nunca mais voltou para ela. Passou a sentir as coisas com a ferida, como toda pessoa, animal ou criança quando sente no ar a mudança. Assim como a lua também muda as coisas. Assim como Curiango.
Capítulo 6
O narrador conta da safra e dos animais criados e de criar estoque. Era nessa época que Joca viu Curiango. Na festança da casa dos Netos tinha de sobra de trabalho aos homens e mulheres cozinhando, já tinha gente e já tinha bagunceiro, como Zé Pedro bebendo e Choquinha, nome que tem sempre de ficar andando de cócoras e ficar nos cantos assim, que queria ajudar mas não conseguia, era enxotada para outro lugar. Joca mal percebeu Curiango, mas na hora da roda que a viu. Achou graça no jeito, ainda mais no apelido e do pai brabo. Ficou sem saber se gostava dela, até o casamento de Cecília. Teve até mesmo que ele caiu em um barranco correndo atrás de Curiango, sendo que no mesmo dia ela tinha ido embora com o pai. Era algo “naqueles olhos”. O narrador puxa a fala de ter ido à Mariquinha Machado para se benzer, e das histórias dela de benzimento. Ele acreditava que era mau-olhado em vez de paixão. Só que Curiango gostava dele e achava estranho as crendices e como espalhou a história do feitiço. Perdoou como se nada tivesse acontecido. E a primavera chegou em setembro. Lembrou da primeira vez que a viu e que a assustou, saiu voando como pássaro. Em um dia que comia Jaboticaba, viu como Mariana pedia para que ele jogasse e como ela cresceu. Pena que era nova. Desceu e viu Choquinha que pedia esmola. Não dava esmola mas dava carona. A relação entre os moradores e Choquinha é de não querer por perto, mas não querer longe. Joca estava de bom humor com a primavera. Sentia-se curado, não por causa do Dr. Amadeu. Tristeza de moço não dura muito tempo. “O coração de Joca era um potro xucro dando pinote”. Em uma noite quente, mal dormia. Era calor, ou até mesmo cavalo que procura algo no cio. Saiu para tomar sereno e acabou parando perto da casa de Mariana. Ler página 74.
Capítulo 7
Joca precisava viajar para resolver uns assuntos em Maria da Fé. Cantavam uma música triste na madrugada. Na volta, mostravam as compras, menos Joca que fingia não ter comprado algo. Na volta, Messias cozinhava naquela noite de breu e contavam histórias de encosto e fantasma. Falaram de portão batendo, enterro no céu, luzes, rezavam. Dito achava tudo esquisito e não se intrometia. Teve outro contando a história de um homem que não podia ir para o céu até ouvir um “Deus lhe pague”. Ganhou por dar um tatu. No meio da conversa, um rato foi roer o pacote de Joca, ele ficou louco, era um corte na seda ramada.
Capítulo 8
Toda noite na casa de Julinha tinha truco apostando dinheiro. Joca participava mesmo que não fosse bom. O truco mineiro joga com manilha específicas. É tão comum que é até parte de vocabulário, como a palavra “maço” e “seis”. A jogatina ia longe, o parceiro de Joca era bom e ele ia na toada, Mariana até pedia pra ir embora mas ele ficava ali. Jogaram até de madrugada. Por ali, veio um homem falando de uma empresa contratando com salário bom, emprego fácil, manual, mas que pagava bem. Mas era a vida, podia chover, trazer lodo, mas tudo era canoa em água funda. Em uma outra passagem, Mariana aparecia com o vestido que Joca comprou. Naquele dia de sol, tudo ficou calmo prevendo algo que ia acontecer e esperavam pra ver, Curiango viu o casal e não entendia bem, ou entendia bem até demais. Mariana até tentou fazer barraco, mas Curiango era maior. Disseram que jogaram o vestido novo pela janela. Joca queria ir nesse trabalho novo. Não ia por dinheiro, mas vergonha e de se punir. Até jogaram truco depois, mas Joca estava muito abalado por qualquer coisa. Zé Lucinda e Joca foram parar na cadeia por dois dias. Olhos d’água queriam os dois por lá mesmo, não porque eram pessoas ruins, mas formavam um grupo ruim. Ler página 93.
Capítulo 9
Mané Pão Doce era o antigo padeiro antes de Zé da Lucinda. Tinha sumido e nem entenderam como. Voltou pele, osso e pereba, pois foi ao trabalho do sertão que pagava bem. A filha ia bem e ele estava sozinho, acreditou e se deu mal. Era tão ruim quanto morrer. Trabalhavam sem parar, quando paravam eram assediados psicologicamente. A única forma de comprar algo era pelo armazém também da companhia que vendia mal e caro. O dinheiro vinha por vales e só podiam usar no armazém. Tentou pedir as contas, mas cobraram tudo que ele fez e tinha, devia dois meses de trabalho e seria preso se não pagasse, era trabalho escravo. Até tentou gritar com o patrão, acordou machucado e foi vigiado. Só que aos poucos foram vendo que mais ficavam com raiva. Não iam matar porque ir para a cadeia por aquilo não valia a pena. Planejaram fugir e conseguiram. Tiveram que amordaçar e irem como feras, já que eles estavam armados e já tinham matado outros. Fugiram um para cada lado e julgaram que não seriam seguidos. Quando ouviram a história, no dia seguinte, o homem que arranjava gente para trabalhar lá apanhou feio do pessoal. E era justa a cambada ruim que foi parar lá com mais gente ruim. Queriam dar um susto mas arrastaram o homem de corda pela cidade. Volta uma cena para um homem amaldiçoando Bugre, que ele seria o primeiro, mas não era. Tal qual 50 anos atrás, pessoas trabalhavam como formigas, mas como escravos. Muito não mudou. O narrador teve dó do homem jogado ao banheiro com remédio de carrapato. Ler página 98.
Capítulo 10
Joca se perdeu no rabicho de Mariana, depois no jogo, e, finalmente, a pinga. Vivia bêbado e sendo resgatado, ouvia sermão e sabia que era de laia ruim, mas queria que tudo se danasse. Vicente ainda dizia que podia ter algo com Curiango, com mulher, nunca se sabe. Choquinha foi pedir esmola para Mariquinha e ela pedia que tudo fosse em verso e assim ela fazia. Joca via tudo enquanto trabalhava no sol. Joca parou para ver Curiango vindo escondido. Acabou vendo Bugre. Amaldiçoou e esperou ela vir, veio e se assustou por achar que tinha gente vendo ela. Ela foi com um pote vazio e voltou cheio, ficou maravilhado vendo ela. Ficou até sabendo mais. Viu Tonho Piraquara passando por ali, tal qual outro pássaro. Pensou que ia ver alguém, até mesmo fosse Curiango, mas nada. Pensou até que fosse para matar alguém mas não, chegou Cecília e ele sumiu. Ficou até pensando em Antônio Olímpio, que tinha a mulher que o traía constantemente. Ficou em choque de contar e não contar da traição, lembrou de quando foi dançar com Curiango e como tudo chegou àquele momento. Lembrou de quando a ajudou levar um pote e fingia que não a conhecia. Era um bruto que não merecia tanta doçura porque ele o achava isso, não que o mundo não quisesse. E nesse tempo quente de vergonha, ela perguntou do boi e do nome, Condenado, mas ele o era e falou tudo, até de como a mulher que gostava não gostava dele, mesma cena de uns capítulos atrás. Tinha medo nenhum do feitiço, sentia-se bem, mas “a Mãe de Ouro é mais forte.”.
Capítulo 11
Mãe de Ouro é um folclore de uma mulher com cabelo de fogo que protege as mulheres casadas e mostra onde tem ouro. Em vez de ser uma ajudante de pessoas que querem se enriquecer, ela só avisa para que não cheguem por perto. Só que como toda lenda, há quem acredite demais, por ouvir os mais velhos e tentar achar explicação em um mundo caótico, e quem acredite de menos, que abusa e debocha. Muitas vezes, quem se dá mal é o último, seja por não se firmar em nada ou tomar porrada do natural e do sobrenatural. Joca acreditava que Curiango era uma praga de Mãe de Ouro. Caiu no barranco porque viu Mãe de Ouro, toda vez que via Curiango sentia no olhar dela a praga que chegava. Tinha um sonho ruim que alguém ia matar Curiango. Na mesma noite, Siá Maria acudiu Joca, seu filho. Achou tudo estranho. Ele parecia dormir, tentou até acordá-lo mas desistiu. Joca contou depois para Curiango, até falando que um dia mataria ela. Ela não achou graça, mas não era para achar. Enquanto a fazenda crescia e aumentavam a produção de cachaça, inventaram de pregar uma peça em um português durante a quaresma, havia uma reza braba que só podia ser ouvida de pé ou de joelhos, além de que os violões eram embrulhados, escondiam-se quadros e fechavam portas. Inventaram de fazer um Judas no sábado de aleluia e assustaram o português Pais que não conseguiu frear direito. Ele deu tiro para o alto de nervoso. Curiango e Joca, ao se casarem, pareciam crianças nas conversas. Moravam em um lugar perto de Olhos D’Água. Em uma noite de São João, ainda lembrou-se do caso de Cecília e da traição com o Quim e se mordia querendo contar. Enquanto viam os outros, pensavam em como subir o pau de sebo. Em uma noite que Joca tinha saído, Curiango deu uma festa e ficou mal, estava parindo. Nem Nhá Chica sabia o que fazer, rezava e pedia para não morrer. Joca deu tempo de chegar, vendo ela com suas roupas – era simpatia – e ele conseguiu ver a isquinha de gente. Joca ficou todo bobo. Mas a praga de Mãe de Ouro era pior que morrer, Deus não deixou que ele morresse. Ele tinha uma vida boa que ia levando, mas a praga veio, veio uma geada que destruiu tudo. O que sobrou dava pouco e nem valia. Depois aconteceram mais coisas estranhas, de espírito mau andando por aí, gente caindo, briga de coronel e vaca, vaca sendo liberada e depois o coronel arrependido, o administrador de Olhos D’Água comprando briga com os vaqueiros. E o narrador viu a morte chegando quando os vaqueiros mataram Santana e procuraram vingança por lá. Deu 3 meses e tudo tava certo. Mataram por charme e os pobres morreram. Ler página 119
Capítulo 12 Joca não sente mais nada, sente falta de sentir algo. Dizia que a Mãe de Ouro ia pegar ele um dia. Vicente Rosa que insistiu que ele falasse, mas ficou na dúvida se era bebedeira ou se ele estava sério demais. Em uma tempestade, Joca pedia ajuda para Curiango que Mãe de Ouro não a pegasse, mas ele não dizia exatamente isso. Há uma passagem de tempo para quando Joca trabalhando nas máquinas da Usina, ouviu Luís Rosa debochando do calor e encheu ele a pauladas com lenha quente. Todos fugiram para cada lado e não tinham coragem de seguir Joca. Acharam ele sem sentido em um morro. Nem o Dr. Amadeu entendia, todos queriam distância. Dr. Amadeu fazia várias perguntas, tentava achar desde genética até vício. Joca desembuchou e tinha medo de ficar louco. Ele sabia que tinha ataque quando via a Mãe de Ouro e lembrava de todas as vezes que a via, o Dr. ficou maravilhado. Joca tinha medo, só sabia das coisas depois, quando bateu no Luís Rosa ele não lembrava. O pessoal queria que ele fosse demitido, o Dr. mandava que ele fosse trabalhar fora dali, não aguentava. Mariquinha Machado falou até que ele tinha levado coice de mula quando pequeno, era atrevido e não gostava dele com razão. Luís Rosa perdoou com muita dor. O povo criava teorias, pensava que era desde o truco, mesmo que Joca dissesse que tinha nada e Luís Rosa ficasse quieto. Bebiano ficou para decidir se trocava de lugar com Joca no trabalho da usina, seria melhor, o trabalho de carregamento era impiedoso e mais trabalhoso. Pensou o dia todo, perguntou à mulher e decidiu assinar sua sentença.
Capítulo 13
Vicente passou na frente da casa de Choquinha, que vivia em uma de favor de uma companhia. Ela estava com frio e convidou ela pra tomar café. Estava na frente do fogão. O narrador fala como se o locutor silencioso perguntasse do moço do Limoeiro, tal qual alguém que ouve fofoca lembra de um detalhe que ficou no suspense. Não sabia o que aconteceu, mas tinha certeza que terminou mal. “Quem faz a Deus, paga ao Diabo.”. O narrador revela que Choquinha é Sinhá, mas, não assim, “Sinhá era a outra. Choquinha FOI Sinhá.”, tal qual lagarta vira borboleta, duas coisas que são e não ao mesmo tempo uma a outra. Sinhá era borboleta e virou lagarta. Por isso o narrador dizia que Sinhá não voltou, eram duas pessoal totalmente opostas, uma orgulhosa, bonita e teimosa, a outra feia, humilhada e dependente. Ela voltou porque não tinha mais juízo e não tinha uma unha do que era antes. O narrador conta a história do cachorro do Pedro Gomes, Biguá, um cão esperto e companheiro que ele levava sempre para caçar em uma época que tudo era mais mato e com mais bicho. Era esperto demais que só faltava falar e atirar. Em uma viagem de caçada que demorou muito tempo e tiveram que se enfiar em muitos lugares para dormir, caçar e achar, teve uma tempestade que deixou Biguá para trás. Acharam que ele tinha morrido para não ter achado o caminho. Seu Pedro Gomes até tentou procurá-lo, cortou mato e tudo, mas nada, ficou triste. Mas ele voltou, machucado de mordida e de espinho, voltou devagarzinho e mal conseguia andar. Seu Pedro Gomes chorava como criança, o cão estava falecendo e não tinha mais como viver. E o Zé Pedro era um bêbado da região que bebia até perder a consciência mas conseguia voltar para casa. Tal qual o bêbado que não vê mais e o cachorro cego de espinho de ouriço, algo guia eles para o caminho que precisam seguir, tal qual a água precisa descer o morro. Tal qual Sinhá. Ler página 150.
Capítulo 14
O narrador revela o que foi feito de Sinhá. É a história mais feia que ele sabia. Eles iam pegar uma linha de trem bem tarde e bem distante de tudo em Minas. Ele deixou ela lá sentada e falou que ia comprar as passagens, o narrador pensa como que ele tinha coração para fazer aquilo. Ela esperou um bom tempo, coisa de horas. Ela foi procurando e perguntando por ele, mas ela boba de amor não acreditava no abandono, ainda que os empregados falassem que a estação não era grande, que o viram entrar no trem, desconfiado e olhando pros lados. Um dos empregados teve até dó do tanto que ela chorava, virou a noite ali, perguntavam se ela conhecia alguém ou se era perto dali. Mas ela não podia e não queria voltar, não tinha para onde ir. Foi até a casa do moço, mas chorava e não comia, foi para a Santa Casa e saiu de lá abobada. A molecada que ouviu a história apelidaram Sinhá de Nhá Baldeação, mas ela não respondia e as crianças pararam. Andava por aí, tinha vezes que até ganhava roupa e banho, até que sumiu. Uns parentes de Vicente Rosa foram visitá-los com as crianças e elas reconheceram Nhá Baldeação e contaram a história. Vicente Rosa ouviu quieto e só contou ao narrador, mas notícia ruim espalha rápido e tem de mensageiro os familiares, que passaram a notícia e todos descobriram que Choquinha era Sinhá. Vicente até levou ela para o Dr. Amadeu, que pediu que a deixassem em paz para morrer, não tinha o que fazer com aquele frio dela. O narrador não sabe se ela morreu, mas o quadro na sala que arrepiava ele era um aviso. E aí a desgraça e a morte tomou conta de Olhos d’água: Bugre morreu de picada de cobra, ainda que tivesse matado ela pela crendice de que se cura comendo o coração da cobra, mas não conseguiu, no único dia que estava desprotegido e sem fumo; Antônio Olímpio foi o segundo, nas viagens de tropa ficava ouvindo uma possível indireta da infidelidade de Cecília, pediu ao filho mais velho que a vigiasse, escondeu-se e viu ela conversando com um homem, cego da idolatria que tinha por ela, matou de facada porque viu alguém pedindo fogo e não que ela tivesse traindo antes tantas vezes que não viu, morreu na cadeia de doença de friagem da cadeia e do coração de ciumento; por dois anos que a cana crescia bem e levaram até para pesquisar e foi a vez de Bebiano morrer na Usina, culparam Joca por trocar de lugar com ele que trabalhava com fogo e no dia um dos foguistas se descuidou da máquina que estava mais perigosa e só achou o corpo carbonizado, Curiango até ouviu tudo mas eles culpavam era Joca por ser ruim, mas o chefe das máquinas falava que não dava mais e o engenheiro contradiz e foi mandado embora. A praga foi pegando todos, de rebote até quem não tinha nada a ver.
Capítulo 15
Curiango percebia como Joca chamava ela desesperadamente, como criança desamparada. Achava graça no começo, mas teve medo. Ela achou que ele escondia algo, ele olhava como presa domada, e ela com raiva de jaguatirica dizia que podia ir para a rua com a outra, mas ele via a Mãe de Ouro. Joca foi resgatado de um atoleiro e se não fosse Bugre ficava lá, tinha visto a Mãe de Ouro. Curiango foi até uma igreja para pedir para uma santa ajudar-lo, ela tinha desespero. Ela ia prometendo, querendo uma crença de barganha, falando que se tudo desse certo ela faria algo em troca, mas ela era soberba e tinha vergonha. Retratava-se, prometia mesmo assim. Depois da igreja, até lembrou-de de Joca falando do fogo e se ria com essa mistura de crença e doideira que vivia, passou na frente de um angico que consideravam mal-assombrado e ela rezava com fervor. Vicente Rosa foi acordado e Curiango pedia ajuda. Mas naquele meio sono e meio dia começando ele tinha visto Mãe de Ouro. Curiango estava começando a ficar louca com Joca. Ele falava sobre grama, usina, mas voltou a dormir como se nem falado tivesse. Pensaram em encosto, mas ele reagia diferente, achava que a vizinha estava errada e era a Mãe de Ouro. Tinha melhorado, Santa Rita dos Impossíveis o curou. Tinha até ouvido que espiritismo é coisa do diabo e que “gente, quando morre, não volta para infernizar o juízo dos outros.”. Pensava que era bom, como tinha encosto. Não era mau, mas que tinha gente ruim que queria mau dos outros não faltava. Tentou dar uma chance ao centro espírita, mas Joca nem confiava no Dr. Amadeu. Desistiu do primeiro e foi no segundo. Ele teve um ataque feio antes dela ir conversar com o doutor. Ele não falava que tinha cura, mas nem desdizia, pedia que cuidasse bem dele. Curiango foi a um feiticeiro, relacionou com Bugre e ele poder saber de algo. Não achou. Uma noite, Joca disse que ia para lá que ela o chamava. Ela chorou e implorou pela filha. Tinha medo. Ele disse para que fossem juntos. Disse que era nada sem ela, e realmente foi a última coisa sã que disse. Choveu muito e ele foi, Curiango esperou para poder pedir ajuda para o compadre, não podia sair viajando com ele. Vicente Rosa ficou sério e falou que o encontrava, era homem de uma palavra só e o encontrou. Curiango ficou com medo que tivesse morrido, mas Vicente Rosa dizia que era quase o mesmo. Esqueceu de tudo. Estava na Santa Casa, estava bem, tinha nada grave, foi encontrado na estrada. Curiango ouviu tudo e só saiu, sem chorar ou agradecer. Foi para a Santa Casa mas foi cedo demais. No que esperava, ouviu conversas e pediu para ver Joca. Apesar de esperar, ouviu a conversa de que João José dos Santos já tinha tido alto e foi embora. Mas ela não acreditava e tudo zunia. A enfermeira se compadeceu e deixou ela visitar a enfermaria, achando que ele tinha morrido e não queriam lhe contar. Passou-se um tempo e Curiango estava com novo vestido, sentindo a terra e o dia feliz. Comentaram que Joca se foi para melhor. O médico dizia que não tinha cura para a cabeça, ao corpo tinha. Só que ele falou tudo para cuidar e deixar no sossego que ele mal entendeu que ele tinha ido embora sem ela saber para onde. Até perguntou ao enfermeiro, mas o médico podia fazer mais nada. Curiango ficou ali, sem saber o que fazer ou esperar, queria afastar-se dali mas não tinha rumo, com o embrulhinho de goiabada e queijo que comprou a Joca. Ela estava cansada, sentia nada por cansaço, antes fosse um passarinho preso que canta o dia inteiro por não saber o que é melhor. O narrador contou a mesma história ao Dr. Amadeu, e ele disse que o que mudou foi o espírito dessas paragens. O narrador não ficaria mais naquele “lugar pesteado”. A praga cai pela metade e sobe pela metade, vai ricocheteando todos no caminho que nem tem relação como o Biguá, o Bugre, Antônio Olímpio, Santana, Joca e finalmente Curiango, com o pai que dá trabalho, a beleza que não ajuda e a mocidade que atrapalha. O narrador comenta que Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que diz. Deve ter acontecido tudo porque era bom. Ler página 185.