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Mocidade e Morte – Castro Alves

Oh! Eu quero viver, beber perfumes

Na flor silvestre, que embalsama os ares;

Ver minh’alma adejar pelo infinito,

Qual branca vela n’amplidão dos mares.

No seio da mulher há tanto aroma…

Nos seus beijos de fogo há tanta vida… –

Árabe errante, vou dormir à tarde

À sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma voz responde-me sombria:

Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer… quando este mundo é um paraíso,

E a alma um cisne de douradas plumas:

Não! o seio da amante é um lago virgem…

Quero boiar à tona das espumas.

Vem! formosa mulher – camélia pálida,

Que banharam de pranto as alvoradas.

Minh’alma é a borboleta, que espaneja

O pó das asas lúcidas, douradas…

E a mesma voz repete-me terrível,

Com gargalhar sarcástico: — impossível!

Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.

Vejo além um futuro radiante:

Avante! – brada-me o talento n’alma

E o eco ao longe me repete – avante! –

O futuro… o futuro… no seu seio…

Entre louros e bênçãos dorme a glória!

Após – um nome do universo n’alma,

Um nome escrito no Panteon da história.

E a mesma voz repete funerária: — Teu Panteon – a pedra mortuária!