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“Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll – Resumo de Cada Capítulo

Lewis Caroll foi um professor de matemática em Oxford.

Segundo o prefácio de Monteiro Lobato, ele inventou uma história para três menininhas enquanto passeava pelo Tâmisa que gostaram muito, nascendo, assim, a obra. O problema da tradução é mais do que a língua, mas costumes, repertórios, tradições e imaginário popular. A história ganhou sucesso internacional e no Brasil por Emília, personagem de “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, querer saber da história, mas precisar de uma tradução.

Capítulo 1 – Descendo a toca do coelho

Alice estava ficando entediado com a irmã que lia um livro sem diálogos e imagens. Ela até pensou no que valia o livro assim, ainda mais de fazer uma coroa de margaridas naquele dia de calor. Então, viu um coelho branco passando na frente dela, mas ele dizia que estava atrasado, além de tirar um relógio do bolso, coisa que Alice finalmente achou estranho. Ardendo de curiosidade, seguiu o caminho e o viu pulando em uma toca de coelho. Ela entrou, mesmo não considerando como sairia, era uma toca estreita que ia se inclinando, até o ponto que ela não tinha mais firmeza e começou a cair. Sem saber se caia em um poço profundo ou se caía lentamente, deu tempo de ver para baixo e os arredores, mas estava escuro para baixo e dos seus lados via armários e prateleiras de livros, deu tempo de pegar um pote vazio enquanto caía dali que estava escrito “geleia de laranja”. Pensou que poderia ser considerada muito corajosa pela queda e como contaria tudo depois, devolveu o pote vazio em outro armário. Estava caindo faz um certo tempo, até fez as contas que já passaram dos 6.000 quilômetros, fato que repetia a si mesmo para praticar e menos para impressionar alguém, já que estava sozinha. Pensou até em latitude e longitude, mas não tinha chegado nesse assunto na escola, só quis falar. Pensou até que cruzaria o planeta e cairia ou na Nova Zelândia, Austrália ou com os Antipáticos, daí ficou feliz de ninguém ouvir o que falava, julgou prudente e menos evidente que seria ignorante se só olhasse uma placa. Até praticava uma reverência. Sentiu saudade da Diná, a gata, queria ela ali e ficou pensando na alimentação dela. Ficou se perguntando e ficando sonolenta, até cair em uma pilha de gravetos e folhas secas sem se machucar. Conseguiu ver um corredor longo e o coelho virando a esquina, ainda preocupado com a hora. Estava em uma sala baixa e comprida, com várias portas que não conseguia abrir e pensando como retornaria. Enfim, achou uma mesa de três pernas e uma chave, mas não entrava nas portas. Até que achou uma pequena porta atrás da cortina, nela, a chave entrou. Viu um jardim de flores, mas ela tinha que passar por um corredor muito pequeno. Pensando que nada seria impossível com tantas coisas extraordinárias, voltou à mesa da chave com esperança de algo e viu uma garrafa pequena com a nota de “beba-me”. Verificou se era veneno antes, trauma de histórias ouvidas. Vendo nada que lembrasse das outras histórias e no rótulo, bebeu e sentiu gostos variados, de peru assado a mel, e encolheu. Esperou um tempo para ver se diminuía mais, até pensando como é uma vela quando se apaga. O problema é que ela esqueceu de pegar a chave, e agora estava longe demais dela. Até chorou mas se recompôs, falando consigo mesma e se encorajando com conselhos, mesmo que raramente os seguisse, gostava de fingir ser duas pessoas e até já trapaceou contra si mesma em um croquet, até se punindo. Viu um bolo que tinha “COMA-ME” de aviso. Ficou esperando algo, assim como esperava de tudo, mas nada aconteceu. Terminou o bolo e continuou sua jornada para ir ao jardim.

Capítulo 2 – A lagoa de lágrimas

Supreendentemente, Alice começou a ficar esticada, ela ficou triste com o afastamento dos pés e prometeu que cuidaria deles, mas que eles deveriam se cuidar também. Conseguiu pegar a chave e foi para a porta. Mas ainda assim não podia passar, só ver com os olhos a passagem. Chorou e de novo se repreendeu. Depois de chorar uns galões que deixaram uma poça de 10 centímetros, ouviu passarinhos e o coelho falando de uma Duquesa. Ela até tentou pedir ajuda mas o coelho passou, deixando uma luva e um leque. Ela achou tudo curioso e ficou pensando se tudo era tão normal e quando tudo mudou, lembrou-se de ir dormir e da manhã, sem pistas de algo estranho. Pensou até ter sido trocada, mas cada uma das meninas eram muito diferentes de si. Tentou se recordar da tabuada, sem muito sucesso, da geografia também, poesia menos ainda. Até pensou que poderia ter mudado e se sairia dali se fosse para melhor, mas estava cansada de estar sozinha. Percebeu que vestia a luva do coelho e estava encolhendo por conta do leque. De novo, esqueceu a chave, mas para piorar, estava menor ainda e em águas salgadas. Pensou estar no mar, e que poderia pegar um trem, por associar que em toda praia há uma estação. Mas eram suas lágrimas, achou que devia ter chorado menos e como seria curioso ficar afogada nas próprias lágrimas. Ouviu algo respirando, achou ser um hipopótamo, mas era apenas um rato. Ela perguntou se ele sabia como sair dali, enquanto pensava qual era o tratamento correto para um rato de suas aulas de gramática, ela tentou falar francês, mas soltou uma pergunta de onde estava seu gato, o rato se estremeceu e ela se desculpou. Alice perguntou se ele não gostava de gatos, e o rato questionou como ele havia de gostar. Ainda assim, Alice disse que gostaria que conhecesse Diná. Mas o rato não gostava do rato calmo e Alice decidiu parar. O rato estava se tremendo e daí ela começou a falar de um cachorro simpático. Ele era bem esperto, fazia truques, valia muito e até matava ratos, daí o rato nadava para mais longe. Alice se desculpou e disse que não falaria mais de gatos e cachorros. Ele deu meia volta e explicou que contaria sua história na margem para Alice. Outros animais seguiram o comando de Alice para sair do lago, já que ficaram presos ali também.

Capítulo 3 – A corrida da convenção e uma longa história

O pato, o dodô, o papagaio, a aguiazinha, Alice, o rato e outros animais estavam na margem, irritados e querendo se secarem. Alice conversava com todos de forma que os conhecessem por um longo tempo, o papagaio parou de falar com ela por se achar mais velho e por saber mais. O rato bradou que todos sentassem e que tinha um plano, como parecendo que era um líder, todos os obedeceram. Ele disse que faria todos ficarem seco, e começou a contar a história de Guilherme, o Conquistador. Um resmungou, outro não entendeu, o rato contava a história. Até que o Dodô propôs uma corrida, a Corrida da Convenção. A regra era que a corrida fosse corrida do tanto que achassem bom, sendo que uns paravam, outros continuavam, até que o Dodô disse para parar. Todos tinham vencido segundo ele e mereciam prêmios. O Dodô colocou Alice para dar os prêmios e ela tinha uma caixa de bombons exatos para cada um ali que achou no bolso no desespero. Alice merecia um prêmio, então ela procurou e achou um dedal. Ela o presenteou, todos o aplaudiram com seriedade. Ao comer os bombons, os animais variavam de nem sentir o gosto para se engasgarem pelos seus tamanhos. Alice toca no assunto de novo dos bichos e o rato diz que é uma história triste, com um trocadilho em inglês. Segundo a história confusa, um cão e um gato o julgarem sem juíz e com pena de morte. Alice não prestava bem atenção. O rato ameaçou a ir embora e ela e todos pediram que contasse tudo. Ele se foi. Uma carangueja lamentou ter ido embora e Alice tornou a falar de Diná, assustando os pássaros e os outros animais a irem embora. Alice ficou sozinha, lamentando falar da gata, ouviu passos e pensou que era o rato chegando de novo.

Capítulo 4 – O coelho envia o pequeno Bill

Era o coelho vindo. Ele procurava pelo par de luvas que devia dar à Duquesa. A sala mudou e não tinha mais a mesa desde seu mergulho. O Coelho tratou Alice por Mary Ann e demandou que ela achasse logo as luvas. Eles seguiram até a casa do Coelho, ela entrou antes para ver se a verdadeira Mary Ann não estaria por ali. Pensou que seria possível que depois tivesse que obedecer a gata. Em um outro quarto, ela pegou um leque, um par de luvas e bebeu uma garrafa que estava por ali, esperando algo fantástico acontecer. Ela cresceu antes de terminar metade da garrafa. Ela ficou do tamanho do quarto, com o braço de fora, pensando que era desconfortável. Pensou nessas coisas fantásticas que lia em contos de fadas e que provavelmente haveria de ter um sobre ela, nem que ela escrevesse sobre. Ela pensou que não cresceria mais, muito menos ficaria velha ou aprenderia mais. Do lado de fora, ouviu o Coelho a chamando. Ele tentou abrir a porta sem sucesso, estava travada pelo ombro de Alice. Tentou ir pela janela, ela o agarrou mas o soltou e ele caiu em uma estufa. Ele chamou por Pat, e exigiu que ele retirasse o braço do quarto. Tentou pegá-los, outros gritinhos e vidro quebrando. Bill foi chamado para ajudar. Ela ouviu que ia descer pela chaminé e chutou ele para longe quando sentiu. Toda a cena é descrita apenas pela perspectiva de Alice estar na sala ouvindo, ela não vê de fora e pouco menos sabemos o que está de fora e até quais são os animais, como o Bill. Pensaram em queimar a casa e Alice disse para que não o fizessem. Após um silêncio, jogaram bombinhas na casa, ela disse para parar. Depois, viu que haviam alguns bolinhos dentro do quarto, resolveu comer. Ficou pequena e saiu do quarto para encontrar todos. Viu até o lagarto Bill, que antes tomava conhaque e agora se recuperava com dois porquinhos-da-índia. Ela correu para uma floresta densa antes mesmo que pudessem ver quem era Alice. Ela traçou um plano de ficar no tamanho normal, mas mal sabia o tamanho que tinha e como começar. Ela ouviu um latido agudo e viu um cachorro imenso que a olhava com cara de fome. Ela jogou um graveto, ele foi atrás e ela correu. Ela repetiu para que não fosse esmagada, tal qual brincasse com um cavalo. Ela repetiu até que ele ficasse entretido e foi embora. Pensou até que poderia ensinar-lhe truques, mas lembrou que precisava voltar ao seu tamanho. Ela viu tudo para ver o que podia comer, viu um cogumelo grande como ela, subiu nele e avistou uma lagarta que fumava um narguilé.

Capítulo 5 – Conselhos de uma Lagarta

Após uns momentos se encarando, a Lagarta perguntou quem era Alice com uma voz sonolenta. Alice mal sabia se definir, já que mudou tanto desde que acordou. A Lagarta não entendia, mas quando Alice era clara, não concordava com as análises de estar diferente. Ela até tentou fazer a Lagarta falar quem ela era primeiro, perguntou o motivo e ela desistiu. A Lagarta pediu que voltasse e pediu calma. Depois de um tempo, a Lagarta tentou entender Alice, ela explicou que não tinha certeza de ser si mesma e até esquecia de coisas que havia decorado. É muito comum a inteligência estar associada a coisas decoradas, a Lagarta pediu para recitar o poema “o velho pai William”. É um poema sobre um homem gordo com algumas façanhas e habilidades estranhas para seu físico. Mas estava tudo errado segundo a Lagarta. Ela ficou curiosa com a busca do tamanho, Alice só não queria mudar tanto, mas não agradava a altura de 7cm, a mesma da lagarta. Após um tempo de tanta contradição de sua vida, a Lagarta fumou, espreguiçou-se e foi embora, falando que um lado a iria crescer e outro a diminuir, dizendo que era o cogumelo. Não ajudava muito, o cogumelo era redondo, pegou um pedaço de cada lado, um fez ela se achatar, o outro se espichar. Seu pescoço era agora flexível como uma cobra. Encontrou-se com uma pomba assustada e tentou acalmá-la. Mas a pomba era traumatizada com serpentes e que todos os lugares eram locais para achar uma. Alice tentava lhe dizer que era uma garotinha, mas nem ela acreditava direito pelo tanto de coisas que se transformou em um dia. Relacionando que Alice comeu ovos, disse que ela não era tão distante de uma serpente assim. Ficou pensando na ideia nova, mas falou que nem ovos queria, ainda mais crus. Conseguiu voltar ao tamanho normal e estava desacostumada. A obra trata o crescimento do corpo de Alice como uma alegoria de crianças que passam pela puberdade. Novamente, voltou ao seu objetivo final e grande desenvolvedor da história, o jardim de flores. Ao continuar, chegou inesperadamente a um lugar aberto com uma casa de 1 metro e 20, e achou prudente não chegar lá com o tanto de altura que tinha e reduziu seu tamanho para 20 centímetros.

Capítulo 6 – Porco e Pimenta

Após olhar por uns momentos a casa, viu um peixe vestido de lacaio e peruca sair do bosque e bateu na porta da casa. Foi atendido por um sapo com peruca e uniformizado, o peixe trazia uma carta, para a Duquesa, era um convite da Rainha para jogarem croquet. Eles repetiram as frases um do outro, mudando a ordem das palavras, curvaram-se e as perucas se entrelaçaram. Alice riu da cena e se escondeu para não ser vista. Viu de novo e viu que o peixe se foi e o sapo fitava o céu. Alice queria entrar, mas o sapo disse que fazia tanto barulho lá dentro que seria difícil ouvir as batidas, além de que ele estava ali. Alice perguntava como poderia entrar, mas o sapo continuava fitando o céu, talvez por sua anatomia, e não respondia diretamente as perguntas, além de falar que deveria ficar ali até amanhã. Um prato saiu da porta, voou na frente dele e explodiu na árvore. Disse que era melhor voltar depois de amanhã. Alice queria entrar, mas o Lacaio perguntava se ela deveria entrar se quer. Constantemente, Alice é contrariada na obra, uma vez que ela estava acostumada a não ser confrontada ou que tudo que ela dizia era uma papagaiada dos adultos. Alice até perguntou o que devia fazer, o Sapo que disse que ficaria ali dias e dias, respondeu que ela podia fazer o que bem entendesse. Ela abriu a porta e se deparou com uma grande cozinha cheia de fumaça. A Duquesa estava por ali embalando um bebê. A cozinheira mexia uma sopa no caldeirão. Havia muita pimenta no ar, Alice se esforçava para não espirrar. Apenas as cozinheiras e o gato de Cheshire, que sorria de uma orelha para a outra, que não espirravam, o bebê e a Duquesa sofriam. Alice perguntou do gato e do seu sorriso, era típico da raça. Alice achou estranho, a Duquesa achava normal a todos os gatos, Alice disse nunca ter visto, a Duquesa afirmou que ela sabia pouco. Alice queria mudar o tópico da conversa, a cozinheira se estabanou com o caldeirão e a choradeira do bebê era descontrolada, Alice pedia cuidado. A Duquesa disse que tudo seria mais rápido se cada um se preocupasse com seus problemas, o que fez Alice dizer que não era possível, contando a velocidade de eixo da Terra, o que não fez a Duquesa continuar reclamando e pedir pra ela cortar a cabeça de Alice. A cozinheira pareceu não ouvir e a Duquesa cantava uma canção de ninar macabra enquanto embalava o bebê que só sabia chorar. O bebê e a cozinheira até embalavam no refrão, mas o bebê chorava cada vez mais. Ele foi arremessado para Alice, sugestão da Duquesa para embalar. A Duquesa foi se arrumar para ir ao croquet com a rainha, uma panela voou perto dela pela cozinheira mas não acertou. Alice tinha dificuldades de segurar o bebê inquieto e saiu dali. Conseguiu achar um jeito de segurá-lo e pensou melhor levá-lo dali, achou que poderia morrer com tantos perigos em sua volta e se sentiu responsável. O bebê parecia um porco, olhos pequenos, nariz torcido, grunhia várias vezes. Ela pensou no que fazer com ele, até que o bebê virou um porco. Ela o soltou e o porco trotou. Achou bom que ele era um porco e não seria uma criança estranha. Pensou até em crianças que conhecia e como seria bom se elas pudessem ser mudadas para o jeito certo. Percebeu que o gato de Cheshire a via. Ela pensou que poderia ganhar na simpatia e perguntou para onde deveria ir. O gato disse que já que o destino não importava, todos não importavam. Ela adicionou que queria chegar a algum lugar, o gato disse que bastava andar o suficiente. Dos caminhos, o gato disse que em um acharia a Lebre de Março, do outro, o Chapeleiro, ambos loucos. Alice queria distância de gente louca, mas o gato disse que todos eram loucos, inclusive eles dois. Ele argumentou que estava ali, por isso seria louca, não a convenceu, mas ficou curiosa como o gato seria louco. Ele disse que um cão balança o rabo feliz e rosna nervoso, ele faz o contrário. Alice chamou de ronronar, ele disse que poderia chamar do que quiser. Ele quis saber se ela jogaria croquet, ela queria, apesar da falta de convite. Disse que ele estaria lá e desapareceu, coisa que não surpreendeu Alice pois já estava acostumada com coisas estranhas acontecendo. O gato apareceu de novo, perguntou do bebê, Alice disse normalmente que virou um porco, o gato achou normal e desapareceu. Alice até esperou, achando que ele voltaria. Nisso, pensou que poderia ver a Lebre, já que já viu um Chapeleiro na vida e a Lebre poderia delirar menos já que era Maio. Ao olhar para cima, o gato a olhava e perguntou de novo se era porco ou figo que o bebê virou, ela repetiu a resposta, pediu que não ficasse aparecendo e desaparecendo tão rápido, ele aceitou e desapareceu lentamente, da cauda até só ficar o sorriso. Ficou pensando no sorriso e imaginou a casa da Lebre. A chaminé, que viu da casa, tinham o formato de uma lebre e o teto tinha pele. Comeu o cogumelo e aumentou para 70 cm. Pensou que se a Lebre estivesse delirando, teria sido melhor ter ido ver o Chapeleiro.

Capítulo 7 – Uma Louca Festa do Chá

Em uma mesa posta embaixo de uma árvore na frente da casa, estavam o Chapeleiro e a Lebre, com um Arganaz (espécie de esquilo). O Arganaz dormia, os outros o usavam como almofada. Alice achou desconfortável, mas pensou que ele dormia por não o ser, eles se alarmaram quando ela chegou falando que não havia espaço, mesmo que estivessem todos do mesmo lado em uma mesa grande. Alice sentou em uma poltrona do outro lado, disse que não via vinho e que achou nada educado oferecerem, mas a Lebre disse que ela não devia sentar sem ser convidada e disse que havia vinho nenhum. O Chapeleiro disse que ela deveria cortar o cabelo. Alice achou rude e o Chapeleiro perguntou da semelhança do corvo e de uma escrivaninha. Alice se empolgou para descobrir a charada. A Lebre se impressionou dela querer achar a resposta, e Alice quis dizer isso, mas aí os três da festa falaram que não era a mesma coisa que querer dizer, que tivesse dito. Depois, um silêncio. Alice pensava e o Chapeleiro perguntou que mês estavam, Maio, Alice disse “o quarto”, a ordem do mês no ano. Chapeleiro reclamou que a manteiga não ia funcionar, mesmo que fosse a melhor. A Lebre resmungou, olhava para o relógio de bolso, molhou-o no chá e guardou. Alice achou estranho o relógio falar apenas os dias, enquanto o Chapeleiro achou normal, acharia estranho se mostrasse o ano. Alice entendia mal o Chapeleiro, ele repetiu que o Arganaz tinha dormido, despejou chá nele e o Arganaz murmurou algo que concordasse com a conversa. O Chapeleiro perguntou se ela descobriu a resposta da charada. Ela disse que não, muito menos os outros sabiam. Ela acusou de ser perda de tempo, e ele disse que se ela conhecesse o tempo, não falaria em desperdiçar. Uma das alegorias mais comuns da obra é sobre a passagem do tempo e do trabalho relacionado ao relógio. Ela não entende, pois ela só bate tempo em estudo de música. O chapeleiro disse que realmente ela não entendia, já que o tempo não gostava disso. Ela achou estranha a ideia, mas o Chapeleiro disse que poderia avançar quando bem quisesse e parar. Alice perguntou se era isso que ele fazia, mas não, eles discutiram isso em Março, antes da Lebre enlouquecer, no meio do concerto organizado pela Rainha de Copas. Ele começou a cantarolar “twinkle twinkle” mas falando de morcego. Alice achava conhecer, a letra estava trocada e o Arganaz que dormia cantava junto. Até que a Rainha viu a Lebre matar tempo e mandou cortar a cabeça, desde então, o relógio parou nas 6 e não obedecia mais o chapeleiro. Alice percebeu que era isso que dizia que era sempre hora do chá, nunca limpavam nada porque a hora não ia e só mudavam de lugar. Apesar de Alice perguntar o que acontecia quando eles voltavam ao início, a Lebre quis mudar de assunto e pediu uma história de Alice. Ela não sabia, então os dois gritaram para que o Arganaz contasse uma. Ele contava de 3 meninas que. Viviam em um fundo de poço num caldo de xarope, por isso ficaram doentes. Alice ia perguntando tudo, como era possível viverem lá, no xarope, sem ficarem doentes. A Lebre pediu que ela tomasse mais chá, mas ela nem chá tinha tomada, por isso mesmo ela não podia tomar menos. Alice se revoltou e o Chapeleiro se sentiu triunfante. A história continuava para os dois e Alice achava tudo aquilo impossível. O Arganaz julgou que ele deveria parar e ela prometeu parar de comentar. Elas desenhavam xarope, coisa que Alice havia perguntado. Com o Chapeleiro querendo uma xícara limpa. Com a mudança, Alice ficou com um prato cheio de leite do Arganaz e só o Chapeleiro ficou bem. Ela achou estranho desenharem xarope, mas o Chapeleiro disse que bem se podia desenhar uma poça de água. O Arganaz disse que eles estavam obviamente dentro da poça. Alice ficou sem saber o que perguntar por um bom tempo. O Arganaz quase ia dormindo e contando que eles desenhavam tudo que começava com M, sendo que Alice perguntou o motivo e a Lebre perguntou como não seria. Ele até apontou que desenharam uma muiticidade, coisa que se fala, Alice disse que nunca tinha visto um desenho disto, o Chapeleiro apontou que ela deveria se calar. Para Alice, foi a gota d’água e ela foi embora, o Arganaz caiu no sono e ninguém deu por sua ida. Até achou que o chamariam, mas eles estavam mais ocupados tentando enfiar o Arganaz no bule. Achou a festa estúpida e falava consigo mesma, notou uma porta em uma árvore. Novamente, estava na sala de corredor comprido com a chave e a porta. Tendo aprendido, lidou melhor e conseguiu ir até o bonito jardim. Ler página 101

Capítulo 8 – O Campo de Croquet da Rainha

Uma roseira grande se erguia na entrada do jardim com rosas brancas, mas alguns jardineiros as pintavam de vermelho. Eram todos em formato de cartas e se nomeavam pelos números. Eles discutiam como um deles devia ter sido decapitado e viram Alice. Ela perguntou o que faziam, ele explicou que plantaram uma roseira branca por engano e pintavam para não serem pegos. A Rainha chegava no meio da explicação com soldados. Vinham também crianças em casais e os soldados e todos estavam decorados de corações. Viu também o Coelho branco que falava nervoso. Sem fazer cortejo, que era colocar o rosto no chão, a Rainha perguntou quem era Alice. Ela era bem grosseira e a disposição de Alice de ser direta e perguntona deixou-a brava. A Rainha pediu para cortar a cabeça e o Rei tentava acalmar. Nisso, as cartas viradas, foram desviradas para a Rainha ver melhor. Ela perguntou da roseira e eles tentavam explicar sem sucesso. Ela ficou sem paciência e os soldados fugiram com a cobertura de Alice. Sem ela perceber muito, perguntou se Alice sabia jogar Croquet, ela respondeu positivamente e foram caminhar. Alice até tentou comentar do dia mas o Coelho dizia para ela ficar quieta. Alice perguntou da Duquesa, já que ele a estava procurando. Pediu para ela falar baixo, pois ela estava sentenciada de morte por fazer a Rainha esperar. O campo de croquet tinha flamingos de marretas, soldados se apoiando no chão para serem arcos, ouriços de bolas e o campo todo ondulado. O jogo foi difícil para Alice porque o flamingo foi difícil de achar e mais ainda para poder acertar o ouriço que sumia. Todos jogavam sem se respeitar e discutindo. Os soldados iam de um lado para o outro da confusão e também a Rainha gritava a cada minuto para cortar a cabeça de um. Alice ficava apreensiva pois poderia ser logo a próxima. Enquanto pensava como fugir, prestou atenção em um ponto e viu o sorriso do Gato de Cheshire, ele perguntava como estava indo. Esperou as orelhas aparecerem e começou a contar da situação injusta do jogo. A Rainha ouviu a conversa, Alice notou e disse que ela ganharia, ela ficou satisfeita. O Rei ficou curioso com o Gato e deixou que ele beijasse sua mão, mesmo que não gostasse da aparência. O Gato disse que não, o Rei pediu que a Rainha cuidasse dele (cortando a cabeça). Alice até disse que em um livro dizia que isso não era problema, ele não ligou. Todos continuavam a brigar e discutir, em um momento que Alice perdeu o flamingo e o recuperou, o executor, a Rainha e o Rei brigavam e pediam que ela resolvesse o problema: O Executor não podia cortar uma cabeça sem corpo; o Rei disse que toda cabeça poderia ser decapitada; a Rainha iria decapitar todos se não resolvessem logo. Alice concluiu dizendo que o Gato era da Duquesa, foram à prisão para buscar e o Gato sumiu.

Capítulo 9 – A História da Tartaruga Falsa

A Duquesa estava muito mais amigável com Alice, talvez fosse a falta da pimenta. Alice pensou em como as comidas mudavam o humor das pessoas. A Duquesa tentava se descansar no corpo de Alice que tentava educadamente aguentar. A Duquesa procurava moral em tudo e até mesmo tentava ver se podia colocar a mão na cintura dela, mas Alice alertou do flamingo. Mas enquanto ela falava com Alice, ia colocando moralidades e ensinamentos, tais quais as obras infantis da época que tentavam moralizar crianças em vez de explorar a imaginação. A Duquesa falava de um presente com todos os ensinamentos e ela ficou muda em frente à Rainha. A Rainha mandou-a sumir e ela foi-se, mandou retornarem o jogo, os súditos voltaram do descanso repentino. Eram tantos sentenciados que sobraram só a Rainha, o Rei e Alice de jogadores. A Rainha começou a perguntar se Alice sabia da Tartaruga Falsa, a mesma que tinha uma receita, Alice desconhecia. Enquanto o Rei perdoava os sentenciados, que considerava até demais, a Rainha levava Alice para o Grifo, criatura de quatro patas, cabeça de falcão, asas e metade leão, para que contasse a história. Ele achou graça que ninguém era executado, e Alice ficava furiosa de ser mandada em todo lugar. Alice viu de longe a Tartaruga Falsa, o Grifo repetia que era tudo ilusão, as ordens da Rainha e a aflição da Tartaruga. Foram até eles e ele começou a contar sua história. Ele era antes uma Tartaruga de verdade, quando ainda jovem, ia à escola de uma tartaruga chamada Jabuti, pois assim foi ensinado. Mas tudo isso era muito lento. O Grifo tentava fazer Alice escutar, daí a Tartaruga se vangloriava de ir à escola todos os dias com aula extra. Alice dizia que fazia o mesmo, mas a Tartaruga disse que não era boa pois faltava aula de lavagem. Apesar disso, ela fez só o curso regular pois não poderia bancar tudo. Ela depois disse sobre alguns termos da matemática mas com nomes diferentes. Alice ficou confusa com o enfeiamento. Mas o Grifo a chamava de tola por qualquer pergunta, o que a desmotivava de perguntar mais, naturalmente a qualquer um. Existiam outras aulas, mas nem o Grifo e a Tartaruga Falsa podiam demonstrar, por corpo ou prática. As aulas diminuíam cada dia (brincadeira com a palavra “lesson”), até que o dia 11 as aulas acabavam. Curiosa com o dia 12, ela foi interrompida pelo Grifo para falarem sobre os jogos.

Capítulo 10 – A Quadrilha da Lagosta

A Tartaruga chorou, após consolada pelo Grifo, ela disse que era muito bom a Quadrilha de Lagosta. Eles descreviam a quadrilha e até tentaram fazer a parte que vinham as lagostas, ainda que só a Tartaruga soubesse da letra ainda. Alice ficou da dança que acabou e começa um assunto de anchovas, onde vivem, a origem do nome. Até pensaram na música de novo mas o grifo quis saber das aventuras de Alice, que se limitava ao dia de hoje por não se reconhecer mais. Ela tinha um pouco de medo deles tão perto mas contou tudo desde manhã até a Lagarta e o poema. A Tartaruga ficou curiosa e pediu para que recitasse outro poema. Alice estava bem cansada do quanto mandavam nela. Confundindo a letra da música da Quadrilha e o novo poema, ela ficava cada vez mais confusa. O Grifo e a Tartaruga Falsa ficam pensativos. Pediram outro poema, mas eles se cansaram de ter que pensar naquela loucura. Alice ficou feliz com a possibilidade de ouvir uma canção e a Tartaruga Falsa cantou sobre uma sopa. Ao longe, anunciaram um julgamento que começavam e puxaram Alice.

Capítulo 11 – Quem Roubou as Tortas?

Em uma sala de julgamento que Alice ficava feliz de saber o nome de tudo, todos se reuniam em frente ao Rei que era o juíz. O lagarto Bill estava ali com um giz, escrevendo, coisa que deixou Alice incomodada pelo barulho e roubou dele. Outras tantas criaturas escreviam e estavam em caos. O julgamento avaliava o caso do roubo de tortas pelo Valete de Copas. O Chapeleiro foi chamado como primeira testemunha e questionado por não ter terminado o chá e de sua profissão. Ele ficou nervoso com a Rainha e até mordeu a xícara em vez do pão. Alice voltava a crescer, mas o Arganaz estava incomodado com o crescimento dela e saiu de perto. Enquanto isso, a Rainha encarava o Chapeleiro que se tremia todo e pediu a lista dos cantores do último concerto. O Rei ameaçou cortar-lhe a cabeça mas o Chapeleiro continuava a dizer que era um pobre homem. Há uma piada de “twinkling” e “tea” e como o Chapeleiro queria só ter a hora do chá. Ele mal sabia de nada. Os Porquinhos da Índia ali se empolgavam e seus aplausos eram suprimidos. Alice achava bom pois poderia deixar tudo correr melhor. Mandaram o Chapeleiro sair, foi correndo e a Rainha mandou cortar a cabeça dele fora, mas os oficiais o perderam de vista. A próxima testemunha era a cozinheira da Duquesa. Pediram que ela fizesse um depoimento, ela negou, perguntaram do que eram feitas as tortas e ela disse que eram de pimenta, o Arganaz comentou xarope e a Rainha mandou tirarem-no dali. Depois da confusão, a cozinheira sumiu. A próxima testemunha era Alice.

Capítulo 12 – O Depoimento de Alice

Alice se levantou e derrubou todos, ela estava tão empolgada no momento para dizer onde estava que esqueceu de ver seu tamanho. Ela tentava colocar todos no lugar, lembrando de um acidente com um peixe que teve. O Rei esperava para continuar até que todos retornassem. O lagarto era o mais afetado por tudo. O Rei perguntou o que Alice sabia e ela não sabia de nada, ele se confundiu entre definir se era importante ou desimportante. Tentaram expulsar Alice com uma regra inventada de sua altura e Alice se recusava. O Coelho dizia que ainda haviam evidências, como um papel que achou. Acusaram o Valete e ele dizia ser inocente. A carta era confusa e dizia nada de muito sentido, Alice entendia muito menos. Tentaram achar sentido no que havia ali, Alice rebatia o que entendiam. A Rainha queria sentenciar antes do veredito. Alice se revoltou e as cartas avançaram nela, apesar de seu tamanho ter dobrado. As cartas engoliram-na e ela se deparou num banco, dormindo perto da irmã. Alice se apressou para o chá e sua irmã ficou pensando nos seus sonhos, até mesmo sonhou com ela. Ela via e ouvia as aventuras de Alice. Pensou em como poderia ser adulta e manter esse coração de criança.

“O ‘mal-estar docente’ como fenômeno da modernidade: os professores no país das maravilhas” por Eloisa da Silva Gomes de Oliveira – http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1806-58212006000100004&script=sci_arttext

“’Alice no país das maravilhas’: uma relação entre literatura e sociedade no período vitoriano” por Mircon Rothmann e Elis Regina Fernandes Alves – https://edoc.ufam.edu.br/retrieve/496902d5-b46e-4060-a0ae-18871a032401/TCC-Letras-2013-Arquivo.012.pdf

“A busca da identidade em ‘Alice no país das maravilhas’ e ‘Corda bamba’” por Cida Golin – https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/fale/article/download/16106/10579

“’Alice por artes de Narizinho’: ‘Alice no país das maravilhas’, de Monteiro Lobato” por Katarina Queiroga Duarte – https://baes.uc.pt/bitstream/10316/25128/1/KATARINA_QUEIROGA_DUARTE.pdf

“O que é ‘desenvolver o raciocínio lógico’? Considerações a partir do livro ‘Alice no país das maravilhas’” por Denise Silva Vilela e Deiziele Dorta – http://educa.fcc.org.br/pdf/rbep/v91n229/v91n229a11.pdf

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“Água Funda” de Ruth Guimarães – Resumo de Cada Capítulo

A obra tem 3 edições, uma do lançamento, em 1946, mesmo ano de “Sagarana”, outra esquecida (talvez reimpressão ou segunda edição nos anos 2000?) e uma terceira em 2018. Foi o romance de estréia de Ruth Guimarães, sempre apaixonada por ler e que morou na região rural.

A obra possui dois grandes momentos, 50 anos antes e 50 anos no momento da narração, até o fim dos anos 30.

Há um locutor silencioso, ao qual o narrador fala com e é sempre preocupado com a verdade.

É uma obra sobre o caipira do sudeste, em dois momentos do Brasil, antes e depois da escravidão em uma fazenda no sul de Minas, próximo ao Vale do Paraíba, local de nascimento e de vida da autora.

Os locais de maior atenção são a própria fazenda Olhos d’água e uma cidade próxima da fazenda.

O sentimento principal da obra é o medo.

A história se assemelha aos moldes de um causo contado, já que nem tudo é contado de uma vez e as histórias vão se adicionando aos poucos sem conexão aparente, até que elas se conectam ao final, como uma grande epifania de um causo contado.

Realismo mágico – É impossível traçar a linha de quando superstições e crendices superam a ciência e o racionalismo, os dois existem ao mesmo tempo

Super-realismo – O regional vira universal

Trecho inicial

Estas coisas aconteceram em qualquer tempo e em qualquer parte. O certo é que aconteceram. E, como sempre se dá, ninguém apreendeu nada do seu misterioso sentido. (A história é uma professora sem alunos, A história ensina e ninguém aprende.)

Capítulo 1 O narrador, muitas vezes que dá voz também a própria autora, conversa com um locutor silencioso chamado “moço”. Ele começa a descrever a região que passará boa parte da narrativa. O narrador conta como todo o engenho era o mesmo e não era. Talvez até tivesse as mesmas árvores, animais e até o mesmo Seu Pedro Gomes que lembrava da época, mas a praga mudou tudo naquele lugar, o ar era diferente. A casa tem salas grandes e o sol invade com facilidade tudo, mas há um ar frio de morte por ali, seja pela praga, pelo terreno construído por cima de corpos de negros ou de Maria Carolina, ou Sinhazinha Carolina, antiga bela dona que vigia tudo pelo quadro pendurado na sala. Era irmã de outros dois, Sinhá Maria Isabel, casada, e Miro. Quando a caçula casou, teve festança de uma semana, para felicidade da mãe desses três que eram a praga de sua vida. Tinham matado 40 bois e perderam noção dos cabritos e dos doces. Apesar do exagero, o narrador falava que era verdade, pois até Seu Pedro Gomes poderia confirmar. O narrador tem uma preocupação da história ser verídica, quando há uma suspensão da verossimilhança, ele diz que outros podem comprovar ou que tem como ele provar ou que o povo falava que era verdade, tal qual a expressão de que “A voz do povo é a voz de Deus”. Mas o casamento havia de terminar mal, “casamento que começa com foguete, acaba com porrete. Esse não acabou com porrete, mas foi muito pior.”. Um guainumbi, um beija-flor, de papo branco entrou no quarto no dia do casamento. No começo era bom, mas depois o marido virou festeiro e ia para todas as farras com Seu Pereira. Mas Sinhá não brigava, casou contra a vontade dos pais. Pode até ser que brigasse, mas era escondido ou nunca aconteceu. “A soberba ajudou Sinhá a sofrer calada”. Sinhá Carolina costumava visitar a irmã, que toda hora o marido de Sinhá Carolina ia para longe e voltava chorando. Mas o problema é que ela acreditava no arrependimento que era tantas repetidas vezes, achava sempre que mudaria. “Mulher, pelo coração, a gente leva para onde quer.”. Casaram cedo e era difícil mudar. Quando mudou, o coração de Sinhá já tinha endurecido. Um dia, Sinhá Carolina queria comprar uma cozinheira, Joana Maria dos Anjos, o problema foi que Seu Joaquim Dias falava que era melhor comprar o marido dela também, já que ela era muito bonita e podia dar problema com o marido dela que era mulherengo. Afinal, sempre havia trabalho na roça, uma mão extra era sempre bom. Ela tratou mal já de cara a cozinheira, até a Sinhazinha achou ruim o tratamento, mas a mãe falou que ela fazia o bem entendia pois ela mandava, quando ela fosse mandar, ela faria diferente. Os tempos que a faziam ser assim, ela não era de todo má, tal qual a desgraça depois não era de Joana dos Anjos, mas podia bem ser uma parcela de culpa, mas não total. Tem gente que só aprende depois que “fica com o sinal na carne”. O narrador fala de uma vez que o Sinhô foi sair procurando Carolina. O narrador até fala da beleza das coisas repetidas e como elas são sinais da beleza do mundo. Tal qual a história de Carolina e Deus eram um só. Zé Lucinda tocava violão numa toada repetida. Carolina tinha tido um sonho ruim com Sinhô, mas ele dizia que não ia dar nada. Coitado dele que sempre contrariava. Morreu, acharam com o pescoço quebrado, falaram de praga, até mesmo que era de Joana, e o narrador falou que era cobra e o cavalo assustou, crendice tem limite. Sinhá ficou de luto mas não a viram chorar. Reparou que Joana chorava pelos cantos, mas a soberba de Sinhá era ruim e ela insistia no não. “Ruindade, às vezes, é só falta de imaginar a tristeza dos outros”. Quando começou a cuidar da fazenda, mandou matar o baio, cavalo, só para que tivessem noção de sua ruindade, achavam melhor que tivesse dado ou presenteado ou vendido. Instalaram um moinho perto, Sinhá mandava e a desgraça dela veio por lá. A vida dela subiu, como a de todos que vêm em ondas, mas a dela subiu e desceu, de uma vez, com ela “de cabeça em pé”. Tinha ferramentas para se salvar, o marido, a filha, o dinheiro, mas o progresso vinha e tirava tudo que atrapalhava: marido morreu; filha saiu da frente; o dinheiro perdeu. Assim como Deus quis ter.

Capítulo 2

O narrador explica do caminho da estrada do Limoeiro para Olhos D’Água. De dia é alegre, de noite passava o espírito de Sinhazinha Gertrudes. Sinhazinha era como Sinhá, de juventude e de gênio. Ela procurava frutinhas, e a morte a esperava. A natureza sempre se embeleza para avisar o amor. Tudo fica mais cheiroso, vivo, e seus olhos eram lindos e encontraram os do filho do capataz. Parecia que o Inácio Bugre tinha armado tudo. Inácio Bugre é, supostamente, pelo seu comportamento e atividades, alguém indígena. O problema é que isso não é explicado claramente, alguns indicativos, além do comportamento (sisudo, poucas palavras, bom de natação, resistente à picada de cobra, bom com arame e trabalhos manuais) é o nome Bugre, que é um apelido pejorativo para indígenas de europeus por não serem cristãos, que vem de uma palavra francesa “bougre” que significa “búlgaro”, um povo considerado no século XII herético, o significado da palavra. Trazia presentes, armados, frutas, acessórios, não trazia a lua como Sinhá dizia porque estava alto demais. Um dia ela se afogou e Inácio a salvou. Ela ficou dias acamada, ele ficou do lado sem sair e sem comer. Quando falaram que ela iria melhorar, chorou. Parou pouco depois e fechou a cara. Quando foi vê-la outro dia, sorriu pela primeira vez. O amor estava ali, de uma barulhenta e um quieto. Mas falavam daquilo, ele podia ter más intenções. Sinhá gostava da simplicidade do homem, não era levada fácil por comentários alheios. A família de Inácio que deu o nome da fazenda, com várias nascentes boas e a crendice que ali era que a mãe d’água tem chorado. Trabalhava no brejo, ia de canoa, levava frequentemente picada de cobra. Tinha quem dizia que “ele tinha oração de fechar o corpo”, mas tinha mesmo sangue forte e fumo bom pra fechar ferida. Falava pouco, sorria pouco, mas tinha medo nenhum. Casou o filho do capataz com a menina, mas Sinhá não apoiou. Fez festa e antes dela já vinha tossindo. Conversavam que Seu Jovino não ia bem. Zé da Lucinda um dia se assustou com ele. Era o falecido Sinhô velho da fazenda, que todos se riam dele não saber quem era. Muitos dos velhos moravam no antigo armazém, Sia Maria, a avó, que sempre prozeava por lá, a querer saber de Miro, mas não queria saber de morar com as filhas apesar da saúde. A vida de Sinhazinha continuava uma festa, e Sia Maria não gostava do que ela aprontava. Sinhá falava menos, Sinhazinha o suficiente pela manhã, que passava com a avó o dia todo, mas ia mesmo era com o filho do capataz na canoa. Sinhá brigava com a tia Maria Isabel, não aprovava o filho de capataz. Não pensava no amor por casamento pois o dela não deu certo, logo o de Gertrudes não daria. Maria Isabel aceitou, ficou quieta e “saiu da fazenda para nunca mais voltar”. Tempos depois a Siá Maria faleceu, encontrar-se com o seu velho. Isso afetou Sinhazinha, pois não tinha a quem pedir conselho. Pode ser que foi decidir e decidiu mal, ou bem, nem o narrador sabe. Sinhá continuava dura, Sinhazinha corria para Inácio, até que ela saiu do ninho de vez. Sinhá quis falar com o filho do capataz e corria o boato de que Inácio ajudou o casal a fugir. Inácio ficou ofendido com a acusação, Sinhá estava desconsolada. Ela estava arrependida, e ele não dizia por nada, até porque se fosse a filha dele, não precisava fugir. Queria mandar gente, mas pra quê? Ficou sozinha e sem consolo. Seu Joaquim Dias após um tempo não trabalhava mais na fazenda. Até pensaram os dois de falarem que o filho do capataz era bom, e que ela perdoava a filha, mas a única troca foi de dinheiro. E aí piorou, era uma troca de capataz que nenhum prestava, um chegava tarde e não gostava de trabalhar, outro comprava briga e apanhou, outro era ruim e morreu, outro nortista de cara fechada, e um alemão que não achava brasileiro bom pra trabalhar. Esse ficou. Ficou e pra piorar. Ler página 35

Capítulo 3

O dono da fazenda expulsou o filho de casa. Não se sabe o que é, mas pelas palavras do pai que coisa boa não era. Um cavaleiro bem vestido chegou na fazenda, o mesmo menino que foi expulso da fazenda, apesar de não ser explicado diretamente, querendo saber do dono. Falaram para onde ir e ficaram pensando que ele ia comprar a fazenda. Mas os bichos dali saiam de perto da nova figura. Sinhá gostou dele, apesar de ser estranho um moço aparecendo assim. Eram olhos miúdos de cobra que seduziam, falava pouco. Choveu como nunca na noite. O alemão foi mandado embora, mesmo que ela não tivesse queixas, o novo moço ficou de capataz. Logo espalhou que ela casaria com o capataz. Logo depois que ia vender a fazenda. Falavam até mais, que iam comprar outra fazenda. Apesar do aviso de Miro, que não se intrometia e mal falava com sua irmã, avisar da situação, Sinhá não ouviu. Mulher se enleva com pouco. Miro respeitou. Tinha até boatos que ela e a irmã estavam bem. Mas não estavam, nem se falavam, a filha ninguém sabia, só o Bugre e ele não contava. Ela casava, ele disse que não era de deixar, mas que pelo menos fosse de separação de bens. Isso não era apenas o louco do Miro que via do dinheiro, mas até mesmo de que sabiam que ele foi expulso pelo pai. Há um retorno do conto de como Seu Jovino morreu. A desgraça é uma metáfora em uma história do narrador, e ela chegou para Sinhá Carolina por boa fé, ela nunca mais voltou para a fazenda, a Sinhá Carolina, ela mesma, com esse nome, nunca mais voltou. Sinhá Carolina se deu por toda, como o Diabo gosta, e por ter ficado sozinha, aceitou aquele pouco agrado. Ela fechou a mala e fechou a vida. Todo mundo é como canoa em água funda, a água mexe um pouco, mas é isso. Ler página 52

Capítulo 4

Viram Inácio indo levar a Sinhá para a estação. A história salta para o momento da fala do narrador, os acionistas estavam feliz com tudo, dinheiro sobrava. O novo manda-chuva queria saber o que achavam, chamava todos de amigos, camaradas, perguntavam o que podia melhorar, queria a opinião de pessoas que nunca ouviram nada mais do que ordens. Gente bruta também gosta de ser tratada como gente. Traziam gado novo, cruzavam para ter mais, cimentaram vias, progrediram. Foram 50 anos e muita coisa mudou. O chefe era tão próximo da gente e trabalhava igual que ele era chamado de Velho. Conversavam, comiam e riam juntos.

Capítulo 5

O narrador conta do modo de transporte da época e de hoje. Se antes eram carroças do Miro puxadas por burro, uma traquitana esquisita, hoje eram os caminhões do Zé Luiz, que mudaram de estética mas a engenharia era a mesma. No tempo do Miro era festança, faziam quantas viagens necessárias, até compras na cidade. Do Miro só sobrou uma neta, Curiango, sabia cantar, mas que nem sabia das histórias dele. Ficaram as invenções, acostumaram com a falta. O nome era de pássaro, mas o motivo é incerto. Ela atraía não pelo corpo ou olhos, mas um calor que vinha dela. Joca gostava dela antes mesmo de saber que gostava. Seu Pedro Gomes tentou apartar uma briga de desordeiros e levando facada. Não levava desaforo pra casa e quase nunca mais voltou para ela. Passou a sentir as coisas com a ferida, como toda pessoa, animal ou criança quando sente no ar a mudança. Assim como a lua também muda as coisas. Assim como Curiango.

Capítulo 6

O narrador conta da safra e dos animais criados e de criar estoque. Era nessa época que Joca viu Curiango. Na festança da casa dos Netos tinha de sobra de trabalho aos homens e mulheres cozinhando, já tinha gente e já tinha bagunceiro, como Zé Pedro bebendo e Choquinha, nome que tem sempre de ficar andando de cócoras e ficar nos cantos assim, que queria ajudar mas não conseguia, era enxotada para outro lugar. Joca mal percebeu Curiango, mas na hora da roda que a viu. Achou graça no jeito, ainda mais no apelido e do pai brabo. Ficou sem saber se gostava dela, até o casamento de Cecília. Teve até mesmo que ele caiu em um barranco correndo atrás de Curiango, sendo que no mesmo dia ela tinha ido embora com o pai. Era algo “naqueles olhos”. O narrador puxa a fala de ter ido à Mariquinha Machado para se benzer, e das histórias dela de benzimento. Ele acreditava que era mau-olhado em vez de paixão. Só que Curiango gostava dele e achava estranho as crendices e como espalhou a história do feitiço. Perdoou como se nada tivesse acontecido. E a primavera chegou em setembro. Lembrou da primeira vez que a viu e que a assustou, saiu voando como pássaro. Em um dia que comia Jaboticaba, viu como Mariana pedia para que ele jogasse e como ela cresceu. Pena que era nova. Desceu e viu Choquinha que pedia esmola. Não dava esmola mas dava carona. A relação entre os moradores e Choquinha é de não querer por perto, mas não querer longe. Joca estava de bom humor com a primavera. Sentia-se curado, não por causa do Dr. Amadeu. Tristeza de moço não dura muito tempo. “O coração de Joca era um potro xucro dando pinote”. Em uma noite quente, mal dormia. Era calor, ou até mesmo cavalo que procura algo no cio. Saiu para tomar sereno e acabou parando perto da casa de Mariana. Ler página 74.

Capítulo 7

Joca precisava viajar para resolver uns assuntos em Maria da Fé. Cantavam uma música triste na madrugada. Na volta, mostravam as compras, menos Joca que fingia não ter comprado algo. Na volta, Messias cozinhava naquela noite de breu e contavam histórias de encosto e fantasma. Falaram de portão batendo, enterro no céu, luzes, rezavam. Dito achava tudo esquisito e não se intrometia. Teve outro contando a história de um homem que não podia ir para o céu até ouvir um “Deus lhe pague”. Ganhou por dar um tatu. No meio da conversa, um rato foi roer o pacote de Joca, ele ficou louco, era um corte na seda ramada.

Capítulo 8

Toda noite na casa de Julinha tinha truco apostando dinheiro. Joca participava mesmo que não fosse bom. O truco mineiro joga com manilha específicas. É tão comum que é até parte de vocabulário, como a palavra “maço” e “seis”. A jogatina ia longe, o parceiro de Joca era bom e ele ia na toada, Mariana até pedia pra ir embora mas ele ficava ali. Jogaram até de madrugada. Por ali, veio um homem falando de uma empresa contratando com salário bom, emprego fácil, manual, mas que pagava bem. Mas era a vida, podia chover, trazer lodo, mas tudo era canoa em água funda. Em uma outra passagem, Mariana aparecia com o vestido que Joca comprou. Naquele dia de sol, tudo ficou calmo prevendo algo que ia acontecer e esperavam pra ver, Curiango viu o casal e não entendia bem, ou entendia bem até demais. Mariana até tentou fazer barraco, mas Curiango era maior. Disseram que jogaram o vestido novo pela janela. Joca queria ir nesse trabalho novo. Não ia por dinheiro, mas vergonha e de se punir. Até jogaram truco depois, mas Joca estava muito abalado por qualquer coisa. Zé Lucinda e Joca foram parar na cadeia por dois dias. Olhos d’água queriam os dois por lá mesmo, não porque eram pessoas ruins, mas formavam um grupo ruim. Ler página 93.

Capítulo 9

Mané Pão Doce era o antigo padeiro antes de Zé da Lucinda. Tinha sumido e nem entenderam como. Voltou pele, osso e pereba, pois foi ao trabalho do sertão que pagava bem. A filha ia bem e ele estava sozinho, acreditou e se deu mal. Era tão ruim quanto morrer. Trabalhavam sem parar, quando paravam eram assediados psicologicamente. A única forma de comprar algo era pelo armazém também da companhia que vendia mal e caro. O dinheiro vinha por vales e só podiam usar no armazém. Tentou pedir as contas, mas cobraram tudo que ele fez e tinha, devia dois meses de trabalho e seria preso se não pagasse, era trabalho escravo. Até tentou gritar com o patrão, acordou machucado e foi vigiado. Só que aos poucos foram vendo que mais ficavam com raiva. Não iam matar porque ir para a cadeia por aquilo não valia a pena. Planejaram fugir e conseguiram. Tiveram que amordaçar e irem como feras, já que eles estavam armados e já tinham matado outros. Fugiram um para cada lado e julgaram que não seriam seguidos. Quando ouviram a história, no dia seguinte, o homem que arranjava gente para trabalhar lá apanhou feio do pessoal. E era justa a cambada ruim que foi parar lá com mais gente ruim. Queriam dar um susto mas arrastaram o homem de corda pela cidade. Volta uma cena para um homem amaldiçoando Bugre, que ele seria o primeiro, mas não era. Tal qual 50 anos atrás, pessoas trabalhavam como formigas, mas como escravos. Muito não mudou. O narrador teve dó do homem jogado ao banheiro com remédio de carrapato. Ler página 98.

Capítulo 10

Joca se perdeu no rabicho de Mariana, depois no jogo, e, finalmente, a pinga. Vivia bêbado e sendo resgatado, ouvia sermão e sabia que era de laia ruim, mas queria que tudo se danasse. Vicente ainda dizia que podia ter algo com Curiango, com mulher, nunca se sabe. Choquinha foi pedir esmola para Mariquinha e ela pedia que tudo fosse em verso e assim ela fazia. Joca via tudo enquanto trabalhava no sol. Joca parou para ver Curiango vindo escondido. Acabou vendo Bugre. Amaldiçoou e esperou ela vir, veio e se assustou por achar que tinha gente vendo ela. Ela foi com um pote vazio e voltou cheio, ficou maravilhado vendo ela. Ficou até sabendo mais. Viu Tonho Piraquara passando por ali, tal qual outro pássaro. Pensou que ia ver alguém, até mesmo fosse Curiango, mas nada. Pensou até que fosse para matar alguém mas não, chegou Cecília e ele sumiu. Ficou até pensando em Antônio Olímpio, que tinha a mulher que o traía constantemente. Ficou em choque de contar e não contar da traição, lembrou de quando foi dançar com Curiango e como tudo chegou àquele momento. Lembrou de quando a ajudou levar um pote e fingia que não a conhecia. Era um bruto que não merecia tanta doçura porque ele o achava isso, não que o mundo não quisesse. E nesse tempo quente de vergonha, ela perguntou do boi e do nome, Condenado, mas ele o era e falou tudo, até de como a mulher que gostava não gostava dele, mesma cena de uns capítulos atrás. Tinha medo nenhum do feitiço, sentia-se bem, mas “a Mãe de Ouro é mais forte.”.

Capítulo 11

Mãe de Ouro é um folclore de uma mulher com cabelo de fogo que protege as mulheres casadas e mostra onde tem ouro. Em vez de ser uma ajudante de pessoas que querem se enriquecer, ela só avisa para que não cheguem por perto. Só que como toda lenda, há quem acredite demais, por ouvir os mais velhos e tentar achar explicação em um mundo caótico, e quem acredite de menos, que abusa e debocha. Muitas vezes, quem se dá mal é o último, seja por não se firmar em nada ou tomar porrada do natural e do sobrenatural. Joca acreditava que Curiango era uma praga de Mãe de Ouro. Caiu no barranco porque viu Mãe de Ouro, toda vez que via Curiango sentia no olhar dela a praga que chegava. Tinha um sonho ruim que alguém ia matar Curiango. Na mesma noite, Siá Maria acudiu Joca, seu filho. Achou tudo estranho. Ele parecia dormir, tentou até acordá-lo mas desistiu. Joca contou depois para Curiango, até falando que um dia mataria ela. Ela não achou graça, mas não era para achar. Enquanto a fazenda crescia e aumentavam a produção de cachaça, inventaram de pregar uma peça em um português durante a quaresma, havia uma reza braba que só podia ser ouvida de pé ou de joelhos, além de que os violões eram embrulhados, escondiam-se quadros e fechavam portas. Inventaram de fazer um Judas no sábado de aleluia e assustaram o português Pais que não conseguiu frear direito. Ele deu tiro para o alto de nervoso. Curiango e Joca, ao se casarem, pareciam crianças nas conversas. Moravam em um lugar perto de Olhos D’Água. Em uma noite de São João, ainda lembrou-se do caso de Cecília e da traição com o Quim e se mordia querendo contar. Enquanto viam os outros, pensavam em como subir o pau de sebo. Em uma noite que Joca tinha saído, Curiango deu uma festa e ficou mal, estava parindo. Nem Nhá Chica sabia o que fazer, rezava e pedia para não morrer. Joca deu tempo de chegar, vendo ela com suas roupas – era simpatia – e ele conseguiu ver a isquinha de gente. Joca ficou todo bobo. Mas a praga de Mãe de Ouro era pior que morrer, Deus não deixou que ele morresse. Ele tinha uma vida boa que ia levando, mas a praga veio, veio uma geada que destruiu tudo. O que sobrou dava pouco e nem valia. Depois aconteceram mais coisas estranhas, de espírito mau andando por aí, gente caindo, briga de coronel e vaca, vaca sendo liberada e depois o coronel arrependido, o administrador de Olhos D’Água comprando briga com os vaqueiros. E o narrador viu a morte chegando quando os vaqueiros mataram Santana e procuraram vingança por lá. Deu 3 meses e tudo tava certo. Mataram por charme e os pobres morreram. Ler página 119

Capítulo 12 Joca não sente mais nada, sente falta de sentir algo. Dizia que a Mãe de Ouro ia pegar ele um dia. Vicente Rosa que insistiu que ele falasse, mas ficou na dúvida se era bebedeira ou se ele estava sério demais. Em uma tempestade, Joca pedia ajuda para Curiango que Mãe de Ouro não a pegasse, mas ele não dizia exatamente isso. Há uma passagem de tempo para quando Joca trabalhando nas máquinas da Usina, ouviu Luís Rosa debochando do calor e encheu ele a pauladas com lenha quente. Todos fugiram para cada lado e não tinham coragem de seguir Joca. Acharam ele sem sentido em um morro. Nem o Dr. Amadeu entendia, todos queriam distância. Dr. Amadeu fazia várias perguntas, tentava achar desde genética até vício. Joca desembuchou e tinha medo de ficar louco. Ele sabia que tinha ataque quando via a Mãe de Ouro e lembrava de todas as vezes que a via, o Dr. ficou maravilhado. Joca tinha medo, só sabia das coisas depois, quando bateu no Luís Rosa ele não lembrava. O pessoal queria que ele fosse demitido, o Dr. mandava que ele fosse trabalhar fora dali, não aguentava. Mariquinha Machado falou até que ele tinha levado coice de mula quando pequeno, era atrevido e não gostava dele com razão. Luís Rosa perdoou com muita dor. O povo criava teorias, pensava que era desde o truco, mesmo que Joca dissesse que tinha nada e Luís Rosa ficasse quieto. Bebiano ficou para decidir se trocava de lugar com Joca no trabalho da usina, seria melhor, o trabalho de carregamento era impiedoso e mais trabalhoso. Pensou o dia todo, perguntou à mulher e decidiu assinar sua sentença.

Capítulo 13

Vicente passou na frente da casa de Choquinha, que vivia em uma de favor de uma companhia. Ela estava com frio e convidou ela pra tomar café. Estava na frente do fogão. O narrador fala como se o locutor silencioso perguntasse do moço do Limoeiro, tal qual alguém que ouve fofoca lembra de um detalhe que ficou no suspense. Não sabia o que aconteceu, mas tinha certeza que terminou mal. “Quem faz a Deus, paga ao Diabo.”. O narrador revela que Choquinha é Sinhá, mas, não assim, “Sinhá era a outra. Choquinha FOI Sinhá.”, tal qual lagarta vira borboleta, duas coisas que são e não ao mesmo tempo uma a outra. Sinhá era borboleta e virou lagarta. Por isso o narrador dizia que Sinhá não voltou, eram duas pessoal totalmente opostas, uma orgulhosa, bonita e teimosa, a outra feia, humilhada e dependente. Ela voltou porque não tinha mais juízo e não tinha uma unha do que era antes. O narrador conta a história do cachorro do Pedro Gomes, Biguá, um cão esperto e companheiro que ele levava sempre para caçar em uma época que tudo era mais mato e com mais bicho. Era esperto demais que só faltava falar e atirar. Em uma viagem de caçada que demorou muito tempo e tiveram que se enfiar em muitos lugares para dormir, caçar e achar, teve uma tempestade que deixou Biguá para trás. Acharam que ele tinha morrido para não ter achado o caminho. Seu Pedro Gomes até tentou procurá-lo, cortou mato e tudo, mas nada, ficou triste. Mas ele voltou, machucado de mordida e de espinho, voltou devagarzinho e mal conseguia andar. Seu Pedro Gomes chorava como criança, o cão estava falecendo e não tinha mais como viver. E o Zé Pedro era um bêbado da região que bebia até perder a consciência mas conseguia voltar para casa. Tal qual o bêbado que não vê mais e o cachorro cego de espinho de ouriço, algo guia eles para o caminho que precisam seguir, tal qual a água precisa descer o morro. Tal qual Sinhá. Ler página 150.

Capítulo 14

O narrador revela o que foi feito de Sinhá. É a história mais feia que ele sabia. Eles iam pegar uma linha de trem bem tarde e bem distante de tudo em Minas. Ele deixou ela lá sentada e falou que ia comprar as passagens, o narrador pensa como que ele tinha coração para fazer aquilo. Ela esperou um bom tempo, coisa de horas. Ela foi procurando e perguntando por ele, mas ela boba de amor não acreditava no abandono, ainda que os empregados falassem que a estação não era grande, que o viram entrar no trem, desconfiado e olhando pros lados. Um dos empregados teve até dó do tanto que ela chorava, virou a noite ali, perguntavam se ela conhecia alguém ou se era perto dali. Mas ela não podia e não queria voltar, não tinha para onde ir. Foi até a casa do moço, mas chorava e não comia, foi para a Santa Casa e saiu de lá abobada. A molecada que ouviu a história apelidaram Sinhá de Nhá Baldeação, mas ela não respondia e as crianças pararam. Andava por aí, tinha vezes que até ganhava roupa e banho, até que sumiu. Uns parentes de Vicente Rosa foram visitá-los com as crianças e elas reconheceram Nhá Baldeação e contaram a história. Vicente Rosa ouviu quieto e só contou ao narrador, mas notícia ruim espalha rápido e tem de mensageiro os familiares, que passaram a notícia e todos descobriram que Choquinha era Sinhá. Vicente até levou ela para o Dr. Amadeu, que pediu que a deixassem em paz para morrer, não tinha o que fazer com aquele frio dela. O narrador não sabe se ela morreu, mas o quadro na sala que arrepiava ele era um aviso. E aí a desgraça e a morte tomou conta de Olhos d’água: Bugre morreu de picada de cobra, ainda que tivesse matado ela pela crendice de que se cura comendo o coração da cobra, mas não conseguiu, no único dia que estava desprotegido e sem fumo; Antônio Olímpio foi o segundo, nas viagens de tropa ficava ouvindo uma possível indireta da infidelidade de Cecília, pediu ao filho mais velho que a vigiasse, escondeu-se e viu ela conversando com um homem, cego da idolatria que tinha por ela, matou de facada porque viu alguém pedindo fogo e não que ela tivesse traindo antes tantas vezes que não viu, morreu na cadeia de doença de friagem da cadeia e do coração de ciumento; por dois anos que a cana crescia bem e levaram até para pesquisar e foi a vez de Bebiano morrer na Usina, culparam Joca por trocar de lugar com ele que trabalhava com fogo e no dia um dos foguistas se descuidou da máquina que estava mais perigosa e só achou o corpo carbonizado, Curiango até ouviu tudo mas eles culpavam era Joca por ser ruim, mas o chefe das máquinas falava que não dava mais e o engenheiro contradiz e foi mandado embora. A praga foi pegando todos, de rebote até quem não tinha nada a ver.

Capítulo 15

Curiango percebia como Joca chamava ela desesperadamente, como criança desamparada. Achava graça no começo, mas teve medo. Ela achou que ele escondia algo, ele olhava como presa domada, e ela com raiva de jaguatirica dizia que podia ir para a rua com a outra, mas ele via a Mãe de Ouro. Joca foi resgatado de um atoleiro e se não fosse Bugre ficava lá, tinha visto a Mãe de Ouro. Curiango foi até uma igreja para pedir para uma santa ajudar-lo, ela tinha desespero. Ela ia prometendo, querendo uma crença de barganha, falando que se tudo desse certo ela faria algo em troca, mas ela era soberba e tinha vergonha. Retratava-se, prometia mesmo assim. Depois da igreja, até lembrou-de de Joca falando do fogo e se ria com essa mistura de crença e doideira que vivia, passou na frente de um angico que consideravam mal-assombrado e ela rezava com fervor. Vicente Rosa foi acordado e Curiango pedia ajuda. Mas naquele meio sono e meio dia começando ele tinha visto Mãe de Ouro. Curiango estava começando a ficar louca com Joca. Ele falava sobre grama, usina, mas voltou a dormir como se nem falado tivesse. Pensaram em encosto, mas ele reagia diferente, achava que a vizinha estava errada e era a Mãe de Ouro. Tinha melhorado, Santa Rita dos Impossíveis o curou. Tinha até ouvido que espiritismo é coisa do diabo e que “gente, quando morre, não volta para infernizar o juízo dos outros.”. Pensava que era bom, como tinha encosto. Não era mau, mas que tinha gente ruim que queria mau dos outros não faltava. Tentou dar uma chance ao centro espírita, mas Joca nem confiava no Dr. Amadeu. Desistiu do primeiro e foi no segundo. Ele teve um ataque feio antes dela ir conversar com o doutor. Ele não falava que tinha cura, mas nem desdizia, pedia que cuidasse bem dele. Curiango foi a um feiticeiro, relacionou com Bugre e ele poder saber de algo. Não achou. Uma noite, Joca disse que ia para lá que ela o chamava. Ela chorou e implorou pela filha. Tinha medo. Ele disse para que fossem juntos. Disse que era nada sem ela, e realmente foi a última coisa sã que disse. Choveu muito e ele foi, Curiango esperou para poder pedir ajuda para o compadre, não podia sair viajando com ele. Vicente Rosa ficou sério e falou que o encontrava, era homem de uma palavra só e o encontrou. Curiango ficou com medo que tivesse morrido, mas Vicente Rosa dizia que era quase o mesmo. Esqueceu de tudo. Estava na Santa Casa, estava bem, tinha nada grave, foi encontrado na estrada. Curiango ouviu tudo e só saiu, sem chorar ou agradecer. Foi para a Santa Casa mas foi cedo demais. No que esperava, ouviu conversas e pediu para ver Joca. Apesar de esperar, ouviu a conversa de que João José dos Santos já tinha tido alto e foi embora. Mas ela não acreditava e tudo zunia. A enfermeira se compadeceu e deixou ela visitar a enfermaria, achando que ele tinha morrido e não queriam lhe contar. Passou-se um tempo e Curiango estava com novo vestido, sentindo a terra e o dia feliz. Comentaram que Joca se foi para melhor. O médico dizia que não tinha cura para a cabeça, ao corpo tinha. Só que ele falou tudo para cuidar e deixar no sossego que ele mal entendeu que ele tinha ido embora sem ela saber para onde. Até perguntou ao enfermeiro, mas o médico podia fazer mais nada. Curiango ficou ali, sem saber o que fazer ou esperar, queria afastar-se dali mas não tinha rumo, com o embrulhinho de goiabada e queijo que comprou a Joca. Ela estava cansada, sentia nada por cansaço, antes fosse um passarinho preso que canta o dia inteiro por não saber o que é melhor. O narrador contou a mesma história ao Dr. Amadeu, e ele disse que o que mudou foi o espírito dessas paragens. O narrador não ficaria mais naquele “lugar pesteado”. A praga cai pela metade e sobe pela metade, vai ricocheteando todos no caminho que nem tem relação como o Biguá, o Bugre, Antônio Olímpio, Santana, Joca e finalmente Curiango, com o pai que dá trabalho, a beleza que não ajuda e a mocidade que atrapalha. O narrador comenta que Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que diz. Deve ter acontecido tudo porque era bom. Ler página 185.

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“Romanceiro da Inconfidência” de Cecília Meireles – Resumo de Cada Capítulo

“Romance” é um estilo de poema com a estrutura de redondilha maior e rima assonante (foco em sons de vogais).

A obra foi escrita em 1953. A obra é aclamada como uma epopeia e um distanciamento lírico intimista marcante de Cecília Meireles.

É uma narrativa inventiva baseada num evento real, a Inconfidência Mineira de 1789, com o objetivo de tonar a cidade de Ouro Preto, a antiga Vila Rica, independente da corte real.

São 85 romances e 5 partes:

Do romance 1 ao 19, o ambiente, tanto físico, de paisagem, cidade e tensão que antecede a Inconfidência. A corrida do ouro com o misto de tradições e folclores explicam o ambiente de forma sincrônica e anacrônica.

Do romance 20 ao 47, trama e frustração, há um foco na cidade de Ouro Preto, o que se passava por ali que traria o espírito insurrecional. Há a invocação e importância do falar, tanto pelo espírito poético, mas das ações de denúncia, apoio, mentiras e declarações entre os inconfidentes.

Do romance 48 ao 54, a morte de Cláudio Manoel da Costa e Tiradentes, a forma que morrem aumenta o fator lendário da história. A violência e a cegueira da busca do ouro marcam a parte.

Do romance 65 ao 80, o infortúnio de Gonzaga e Alvarenga, há uma análise do sofrimento dos dois escritores e de como poderia nem ser tudo isso quando olhado com outra perspectiva. Há uma perspectiva da África e de outras pessoas também envolvidas com os vivos do episódio e os delatores.

E, por fim, do romance 81 ao 85, a presença da dona rainha Dona Maria I. Apesar de ela mesma ter dado a sentença, ela lamenta e sofre com o que aconteceu na terra. Há, por fim, o testamento de Marília, fechando a fala final dos inconfidentes.

As figuras da obra são reais, há uma releitura poética dos eventos, com inserções fantásticas. A história remota não de figuras proeminentes e influenciadoras, mas inimigos poderosos.

Parte 1

Fala inicial 16 versos e 7 sílabas poéticas, 9 versos e 7 sílabas poéticas 8 sílabas poéticas, 16 versos, 13 versos e 8 sílabas poéticas, 11 versos e 7 sílabas poéticas 21 04 1792 XVI, IX, XVI, XIII, XI X, IX, X, I,

O eu lírico fala das vozes do passado “vinte-e-um de abril sinistro”, do terror e das promessas. Há uma falta de memória, mas um pedido do eu lírico que não se chore pela memória dos que já foram. Há uma lamentação da Rainha louca e de não ouvirem a voz das orações. Procuram-se culpados e inocentes, mas tudo é um mistério.

Cenário

10 sílabas poéticas, versos em tercetos, no esquema de rima de ABA, BCB, CDC Há a descrição paisagística de Ouro Preto, do gado, dos rios, das montanhas, de tudo que ali conta do que foi antes. Ali, os fracos encontraram os fortes, o amor encontrou violência. O eu lírico relembra das mulheres dos árcades brasileiros, procurando sobreviventes e testemunhas. Apesar do passado não estar mais lá e não entender as escritas do presente, o campo entende. Como quem não encontra musas, o eu lírico fica com a visão de Alferes, Tiradentes, para escrever a história.

Romance I ou da revelação do ouro No sertão, os americanos (para nomear quem andava no novo continente) anda pela região, povoada de insetos, novos cheiros, luz e pedras. Ele conhece os arredores, apesar de ver muita vida e não ser encostado, o seu objetivo é o ouro que se esconde pelos rios. Se o cheiro de onça era perigo, agora é do homem, que ali infesta a área procurando ouro com inúmeros equipamentos. Com essa fome que não se sacia, que faz até homem matar outro e morrer por isso, nasce Ouro Preto.

Romance II ou do ouro incansável Há uma descrição do ouro, como ele é doce e suave, as possibilidades do que pode ser colocado e adornado. Mas o que o torna feio são quem os procuram: ladrões; políticos; contrabandistas. Em um local que nasce riqueza, a pobreza aumenta.

Romance III ou do caçador feliz Há a descrição de um caçador, que tropeça em diamantes em ouro e que parece caçar o que não está caçando.

Romance IV ou da donzela assassinada A história é sobre uma moça que, enquanto limpava seu lenço, o seu pai a apunhalou pelas costas, achando que ela estava de romance com alguém pelo período do Natal. Para conectar-se à história, o punhal era de ouro. Morreu pela honra do pai sem poder se quer ser entendida.

Romance V ou da destruição de ouro podre O Arraial de Ouro Podre estava sendo limpado pelo fogo. A violência durante o período é assustadora, mandam enforcar e esquartejam depois, queimam locais sem remorso, só pensam na riqueza. Em toda essa história, o eu lírico diz a um garoto que durma, para que ele não veja as atrocidades ou ouça o que acontece. Há uma invocação de quem se dava título ao Conde de Assumar, o D. Afonso VI, um rei com pouco poder, incapaz e traído pelo irmão, Pedro II. O eu lírico fica triste de como os pequenos tiranos mandam mais que o rei. Há uma lamentação de Filipe dos Santos, participante da Revolta de Vila Rica, que foi esquartejado e espalhados os seus pedaços em torno da cidade como exemplo. Mas, como diz, morreu, “outros, porém, nascerão.”.

Romance VI ou da transmutação dos metais Há um relato poético do casamento de D. José I de Portugal e Mariana Vitória da Espanha dos noivos que fariam a união de Portugal e Espanha em 1727, José tinha 13 anos e Mariana 9 anos, ainda vindo com a temática histórica do romance anterior. O pai de D. José I, D. João V, gastou muito na festa de forma espalhafatosa. Na conexão desta história, há a chegada do pagamento de “os quintos de ouro das minas/que do Brasil são mandados”, imposto cobrado por 20% do material extraído desde 1534, por D. João III. Na narrativa, os caixões estão com “grãos de chumbo / cunhetes acogulados”. Os monarcas se sentiram traídos. Há quem suspeitasse de Sebastião Fernandes Rego, fraudador do Brasil colônia e trapaceiro.

Romance VII ou do negro das Catas Catas pode ser uma cidade de Minas. Há um relato de um negro cantando, antes mesmo do sol nascer, que já trabalhava. É uma inclusão da figura dos negros no Brasil, ainda que no período colonial. Na literatura, custou muito tempo até finalmente termos negros na literatura como personagens em vez de plano de fundo ou objetos. Ele canta da terra que sente saudades e de como a escravidão acabaria com sua vida e sonho de liberdade. Presença estética da anáfora, repetição de uma construção ou palavra no início dos versos (”Já se ouve cantar o negro”, 7 sílabas poéticas).

Romance VIII ou do Chico-Rei Chico-Rei é uma personagem lendária que era um antigo monarca na África, foi trazido como escravo ao Brasil e ganhou alforria, com o trabalho, tornou-se “rei” em Ouro Preto. Em 5 sílabas poéticas, há a narração da lamentação dos escravos que viviam em Luanda e Congo, que agora viviam para minerar pelos portugueses em Minas. Apesar de alguns versos parecerem ter mais, a contagem de sílabas poéticas para com vírgulas, por isso as partes com “, meu povo” não contam. Os negros pedem salvação e que até, um dia, quem sabe, descansem em paz, para Nossa Senhora do Rosário, figura que simboliza a conexão do céu e terra na reza.

Romance IX ou de Vira-e-sai Santa Ifigênia, santa que ajudou no catolicismo se espalhar na Etiópia, é invocada. Na história, ela é virgem e casada com o Senhor, apesar de tentarem queimar a casa que morava, após mandar mata o evangelista Mateus que a dedicou a Deus, as chamas foram enviadas para a casa real. No romance, o eu lírico pede ajuda para ela com Chico-Rei e os negros.

Romance X ou da donzela pobre Há uma relação de antítese no que é apresentado à donzela do romance. Os parentes dela procuram ouro em lugares vazios, ela reza em locais que falam de planos celestes com ouro e riqueza da terra, há uma comparação dos olhos, apesar de serem olhos grandes, eles dão medo. O reino de Deus é longe do dos humanos. “Pobre” pode ser lido como “coitada” ou “inocente”, não só de riqueza.

Romance XI ou do punhal e da flor Uma donzela foi cortejada na Sexta-Feira da Semana Santa por um Ouvidor. Porém, procurando satisfação, o parente dela vai até ele e o Ouvidor saca um punhal.

Romance XII ou de Nossa Senhora da Ajuda Há uma descrição das posses do Marquês de Pombal, tanto de estátuas de santos quanto de louça cara. A “que mais valia” era uma de imagem de Nossa Senhora da Ajuda, uma das diversas invocações de Maria, mãe de Jesus. Haviam sete crianças rezando ali, entre elas, Joaquim José, o Tiradentes. O eu lírico pede à Santa que o salve. Como na época eram tempos de ouro, não poderia o salvar do futuro tempo de sangue.

Romance XIII ou do Contratador Fernandes João Fernandes de Oliveira era contratador e explorador de diamantes, além de apaixonado pela ex-escrava Chica da Silva. Em uma conversa entre ele e o Conde de Valadares, que pressionaria o Marquês de Pombal para não dar mais os direitos de procura de diamantes, ele é recebido com muito bom gosto e carisma, marca do Contratador, pois assim ele ganhava o respeito e favores das pessoas de Minas. O que o Conde queria era dinheiro, tinha voz para prendê-lo mas esperava algo que dissesse que ele não estava do lado da Corte. Fernandes até falava como a riqueza deixava o homem mal e não melhorava nada. O Conde nem ouvia tudo isso. O eu lírico lamenta como os pobres pagam pela soberba dos ricos.

Romance XIV ou da Chica da Silva Chica da Silva era uma ex-escrava que, apesar do senso comum de que era bela e sensual, era feia e banguela. Muito do que se sabe dela não é possível diferenciar de mito e verdade, apesar de ser uma figura lendária que alcançou a alforria. Ela era muito rica e tinha muito poder. Há até comparações de que nem os reis de Portugal tiveram uma mulher tão rica como ela, “a Chica-que-manda”.

Romance XV ou das cismas da Chica da Silva Presença de rima grave ou feminina, feito em palavras paroxítonas. Chica da Silva tem medo da visita do Conde ao Contratador, pensando no que poderia ser o seu real intento. Dentro dela, o pensamento da inconformação de como a Corte que só aproveita do melhor da exploração de Ouro nas minas, não vê as mazelas e a destruição do ciclo do ouro. O Contratador não entende a malícia do Conde, porém Chica da Silva não se sente bem.

Romance XVI ou da traição do Conde A rima se foca em ser toante ou assonante, que é o foco nos sons vocálicos e ignorando as vogais entre, como cavalo-cascalho e longe-volve e alarmado-vassalo. Trazem novidades à Chica da Silva e ao Contratador, sendo que a primeira não gosta do mensageiro Conde, o Contratador tinha que voltar a Portugal, mesmo sendo fiel. Era desejo do Conde, além da cobiça, Fernandes não sabia o que fazer e Chica da Silva estava enfurecida.

Romance XVII ou das lamentações no Tejuco Em sete sílabas poéticas e com a rima feita nos versos pares, altas-madrugadas-mulatas-douradas-falsas-desgraçadas, com a ajuda da construção de “ai que” e “e que” do contraste dos sonhos, dos castigos, dos corpos malhados e das almas tão ruins. Fernandes ia embora e Chica ficava em prantos. O eu lírico amaldiçoa o ouro e seu desejo, além de como corrompe os homens.

Romance XVIII ou dos velhos do Tejuco O eu lírico contempla o futuro que perguntarão de Chica da Silva. Tejuco é o segundo maior afluente do rio Paranaíba que passa em Minas Gerais. O título “velhos do Tejuco” pode ser uma alusão aos Lusíadas do “Velho do Restelo” do Canto IV dos Lusíadas, já que ele amaldiçoa as aventuras por trazerem dor aos lusitanos em troca de fama, deixando a família e a pátria, em uma oposição de antigo x novo, passado x presente, já que as ideias monárquicas eram anti-expansionistas. Dali, a história pode sair, mas nada levarão, nem deixarão “o nome da caveira”.

Romance XIX ou dos maus presságios Fernandes fica e Chica lamenta. Dizem que a história se repete, levam ouro, deixam um rastro de sangue e de lágrimas, podem até mudar os nomes mas é tudo o mesmo. Não tinha santo que protegesse, lenda para se inspirar.

Parte 2

Cenário Dividido em dísticos, parelhas, ou dois versos, descrevendo um avanço temporal para falar de Vila Rica. É mais do mesmo, cidade com igreja, entre montanhas, com gente de Minas, o silêncio, a obediência, uma névoa que se cria desse cenário de exploração.

Fala à antiga Vila Rica O local é repleto de água, natural e de lágrimas. Há uma retenção por parte do eu lírico de contar da história dos homens que pisaram naquelas terras que o sol mal encosta.

Romance XX ou do país da Arcádia A Arcádia vem da referência do período literário de fuga aos ideias de escapismo. Como retratado pelo eu lírico, é tudo por parte de desejo. Ele invoca os nomes de amadas de árcades brasileiros. A natureza é muito importante como retrato de sentimentos.

Romance XXI ou das ideias A região é cercada de ouro, diamantes, negros, mulatos e indígenas. A terra toda revirada procurando-se ouro. As ideias de repartição começam a surgir, no meio de pessoas que nascem, voltam, de quem vê a diferença e vê a injustiça. Há o uso de gradação pelas palavras que seguem uma linha lógica de começo, meio e fim. Há uma disparidade da vida de Portugal, pedindo ouro e vivendo em guerra, do Brasil que só manda ouro e só fica pior, começam a receber ideias dos Estados Unidos de independência. Fazem comparações do casamento da família real com o amor impossível dos árcades.

Romance XXII ou do diamante extraviado Um negro carregava um diamante no meio da noite. Era uma tentativa de vender para comprar a alforria e podia ser morto por isso. De forma curiosa, não é visto, ou é fingido não ser visto.

Romance XXIII ou das exéquias do príncipe O príncipe morre e as relações com França e Inglaterra não melhoram em 1788. As estrofes são divididas em introdução (dois iniciais), desenvolvimento e conclusão (dois finais). Há um foco sonoro no som “o” e na tentativa de deixar uma feição de espanto ou revolta. Apesar de muitos chorarem, muitos fingem a tristeza e outros nem entendem. Ele também poderia ser a esperança de um novo período, uma jovem mentalidade de inovação, mas o Brasil estava fadado a ficar com um pensamento antiquado.

Romance XXIV ou da bandeira da inconfidência Há uma descrição de um clima de desconfiança. As pessoas ficam em janelas, vigiando o que acontece, as reuniões para um levante popular acontecem de noite. Como tudo é ainda muito idealizado, há mais perguntas do que respostas. A bandeira é criada ainda que no imaginário para a Inconfidência Mineira e o mote “Liberdade, ainda que tarde”. “Inconfidência” é um ato de deslealdade, ou seja, ela nunca aconteceu, todos foram julgados por um ato que iria acontecer e foi interceptado. Mesmo que a liberdade não acontecesse ali, todos sabiam que a queriam.

Romance XXV ou do aviso anônimo Há notícias que a guarda real irá para a cidade, anunciando sangue e justiça. Há avisos de esconder jóias e correr para quem mentiu. Há um foco no som de “v” e som de “s”, como um som de vento que prenuncia a tempestade.

Romance XXVI ou da Semana Santa de 1789 O romance começa com o imperativo “Lembrai-vos”. Há uma troca de falas do eu lírico marcadas por parênteses, enquanto a narração é positiva, as parênteses trazem melancolia. A narração é sobre a luta da liberdade e seus custos e sacrifícios.

Romance XXVII ou do animoso Alferes Alferes é outro nome para Tiradentes, que é uma posição militar antiga equivalente ao segundo-tenente ou a de porta-bandeira, que era uma porta de entrada para o oficialato. Ele era bom conhecedor da região, não tinha vindo de família pobre, foi dentista (o que o fez ganhar o apelido) e era militar. Em uma terra de belezas naturais, Tiradentes, que promete segurança e sossego, sente uma sombra que paira, deixando tudo feio e sombrio. Ler página 86

Romance XXVIII ou da denúncia de Joaquim Silvério Há uma narração da carta que Joaquim Silvério denunciaria o complô da Inconfidência Mineira. Como aponta o eu lírico, a escrita é traiçoeira e as intenções de se enriquecer, tal qual na história ficam os heróis mortos e com estátuas em praças e os denunciadores cobrando dinheiro nas cartas.

Romance XXIX ou das velhas piedosas Há um mensageiro, Joaquim Silvério, levando as cartas na Semana Santa. Como nada suspeitam, não vêem a falsidade das ações e desconfiança que precisariam.

Romance XXX ou do riso dos tropeiros Passaram loucos, acusando Portugal e de como iriam trazer liberdade. Incomodava-se com o tanto que a terra era rica e ali ficavam sem direito nenhum. As pessoas riem, apesar da loucura que realmente faz sentido, há uma conformidade de aceitar a situação, até porque era passível de morte ser contra a corte real.

Romance XXXI ou de mais tropeiros O louco reclama de como toda a riqueza vai para Portugal, deixando-os pobres. Tinham inspiração dos Estados Unidos e sua independência. Como é visível, “loucura” e “coragem” são pontos de vista. Este mesmo louco foi preso com algumas cartas ao Visconde e Vice-Rei. O uso do verbo conjugado, mesmo que no mesmo tempo verbal, traz uma diferença do Romance XXX. Apesar de rirem dele, ficavam quietos com o seu destino.

Romance XXXII ou das Pilatas O eu lírico conta de um pobre que vai para o Rio. Se até sonhar era quase um crime, quem diria falar algo disso.

Romance XXXIII ou do cigano que viu chegar o Alferes Um cigano viu Tiradentes vindo. Tinha um semblante de pessoa cansada e perseguida. A vida de Tiradentes foi tal qual, trabalhou muito para não ser recompensado.

Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério O eu lírico compara Joaquim Silvério com Judas, acusando-o de pior e mais ganancioso que Judas, já que a figura bíblica pediu menos e teve remorso, o oposto do delator. Curiosamente, o nome Joaquim remete a um rei orgulhoso e imoral que renegava Deus. Ele desafiou Deus e é um símbolo de esperança de libertação. Outra história é símbolo de luta contra injustiça e opressão.

Romance XXXV ou do suspiroso Alferes “Apanhar” vem do verbo espanhol que significa “arrumar”. Há um espanto da vegetação e dos rios, além das bocas que sussurram de uma inconfidência e de traidores escrevendo.

Romance XXXVI ou das sentinelas Dois soldados passeiam. Em uma imagem, é como se Tiradentes estivesse colocando sementes de revolução em outras pessoas para que brotasse algo. Porém, o Alferes sente a sombra de vários soldados sentinelas que o levarão para julgamento. O traidor não ouve.

Romance XXXVII ou de Maio de 1789 Os revolucionários sonham com a chegada do dia glorioso, enquanto Joaquim Silvério pensava no perdão de suas dívidas. Durante o mês de maio deu-se a perseguição dos inconfidentes e da denúncia de Joaquim Silvério do ato antes da Derrama, ato que aconteceu poucas vezes e que servia como arrecadação do ouro no Brasil para Portugal. Tiradentes havia fugido e o procuravam. Como é uma história real que está com narrativa ficcional, a história perdura até o fim de maio, mas Tiradentes havia feito uma viagem ao Rio e depois voltado a sua cidade, que ficou cercado na própria casa por soldados e se rendeu, achando que a revolução ainda poderia acontecer sem ele no dia 10. Ele foi para o Rio no dia 7, denunciado pela família no dia 8.

Romance XXXVIII ou do embuçado Uma pessoa embuçada, com o rosto escondido por um capuz, aparece em Vila Rica. Ele trouxe mais perguntas do que respostas (com o romance preenchido com 34 perguntas em 36 versos). Ele trazia a notícia de que deveriam fugir, pois seriam presos e enforcados.

Romance XXXIX ou de Francisco Antônio Francisco era um coronel, minerador e fazendeiro que se juntou ao movimento pelos ideais separatistas. A mulher dele que denunciou Joaquim Silvério por ter traído o movimento. O romance o descreve como uma pessoa enorme, gorda, rica e detentora de muitas posses. Ele fala alto como não se devem meter pessoas com poucas convicções em grandes planos. Tinha inspiração na revolução dos Estados Unidos, foi enviado a Moçambique.

Romance XL ou do Alferes Vitoriano Vitoriano foi participante do movimento, foi chicoteado. Vitoriano anda pela calada da madrugada. Ele levava um recado pelo Coronel Francisco Antônio, que já estaria preso ou morto naquela hora. Porém, foi interceptado, chicoteado e nem conseguiu entregar o recado.

Romance XLI ou dos delatores Aqui se passa como foi a delação, como se ouviu de tantas pessoas e que nem mais se sabe de onde saíram as informações. Passaram entre militares, políticos, agentes. O problema de toda a Inconfidência Mineira é que não houve justamente um crime, houve a sentença por lesa-majestade, quando há traição com a fidelidade à família real. O nome de quem se foi fica, mas não é claro se houve nem se quer revolta.

Romance XLII ou do sapateiro Capanema Há uma reclamação de um sapateiro reclamando dos “branquinhos do Reino”. Há alguns romeiros indo a uma taverna. As notícias corriam soltas sobre as prisões, sentenças e julgamentos, falavam que era desde levante, a contrabando e extravio. Como eles ouvem a história, ficam com raiva dos portugueses, foi como se os condenados tivessem levantado mais pessoas para a revolução. E, no fim, a personagem para em uma cadeia.

Romance XLIII ou as conversas indignadas A dinâmica de “Romanceiro da Inconfidência” é interessante pela perspectiva do colono. Em vez de podermos ver a história com olhos de quem colonizou o Brasil, os colonos vêem a injustiça, o ouro sendo levado, a violência sem tamanho por quem queria uma vida melhor. Tiradentes fica sozinho, sem ter o que ou quem o salve.

Romance XLIV ou da testemunha falsa Há pouca esperança para os presos, ainda que acusariam até os próprios pais se isso os salvassem. O problema da história épica é que os inimigos são infinitamente mais fortes e poderosos do que os heróis, além de mais violentos. Tal qual Camões disse que o mundo vive ordenado para quem faz o mal, aqui se fala de como há mais prêmios para o Mal do que para o Bem, como os heróis recebem glórias e compaixão só depois de degolados. O medo toma conta dos presos, a verdade virou conveniência e crença.

Romance XLV ou do Padre Rolim Padre José da Silva e Oliveira Rolim foi sentenciado. Apesar deste ser o resultado, a definição não foi simples, houve muitas trocas de cartas. Tinha vida bizarra e vivia longe, mas a desgraça vem mesmo que você tente se afastar.

Romance XLVI ou do caixeiro Vicente Vicente era um capitão e caixeiro que foi condenado a exílio perpétuo. Apesar da acusação de Joaquim Silvério, Vicente contou o que sabia sobre Tiradentes, temendo por sua vida.

Romance XLVII ou dos sequestros As ordens são enviadas para encontrar os inconfidentes, encontram livros que inspiraram o ato, como de Horácio, Júlio César e Ovídio, como compêndios, dicionários e tratados que influenciaram até a França e os Estados Unidos. Nada fica no mesmo lugar, procurando evidências, provas, destruindo tudo no caminho. A inteligência não tem vez contra brutalidade.

Fala dos pusilânimes Pusilânime é um outro jeito de chamar alguém de corajoso. O romance é uma forma de lembrar a recompensa da liberdade, de poder aproveitar o que existe hoje de bom. Todavia, não é algo que veio de graça ou que não possa deixar de ser seu. O problema é que houve o esquecimento. Cecília Meireles traz de volta uma história que por 200 anos permaneceu intocada para que fosse relembrada e relida. Cecília Meireles é reconhecida por ser uma escritora dos temas que fugiram e foram esquecidos. A sombra e o vento são elementos importantíssimos, pois são usados como metáfora para perda, tristeza e solidão.

Parte 3

Romance XLVIII ou do jogo de cartas Há novamente o uso de sombra e vento para falar da tristeza e da perda. Há um jogo sinestésico dos naipes, principalmente com o símbolo de ouros.

Romance XLIX ou de Cláudio Manuel da Costa Cláudio Manuel da Costa foi um escritor árcade preso na Inconfidência Mineira. Ele se suicidou antes de ser levado para o exílio. Há quem disse que se enforcou, apunhalado ou com veneno. Até consideraram ser outro corpo e não do poeta.

Romance L ou de Inácio Pamplona Inácio Correia Pamplona foi um dos delatores de Tiradentes. O português fugiu ainda quando ouviu a notícia da morte de Cláudio Manuel da Costa. Ninguém explicava para onde foi com essa perda e nem como morreu o poeta árcade.

Romance LI ou das sentenças As sentenças são dadas tanto para inocentes quanto culpados, sem medida ou dó. A justiça pesa mais quando não há como ir contra ou ter armas. Quem tem dinheiro, consegue escapar ou ter as penas reduzidas.

Romance LII ou do carcereiro O eu lírico prevê um fim ruim para a história. Há uma digressão do eu lírico de como os escrivões não contam a história pelo lado da vítima, os infelizes são deixados de lado, no sentido de não terem poder.

Romance LIII ou das palavras aéreas O vento retorna como elemento da mudança constante, além de como a vida foge rapidamente. O tempo é acima de tudo, tal qual não é possível controlá-lo. Há também a importância e o peso das palavras, sejam elas escritas, ouvidas ou pronunciadas.

Romance LIV ou do enxoval interrompido Uma pastora costurava um enxoval. Infelizmente, o jovem a que ela costurava para casar não está mais vivo. Há uma conversa com a natureza e a pastora tal qual os poemas do Trovadorismo de cantigas de amigo.

Romance LV ou de um preso chamado Gonzaga Tomás António Gonzaga é preso, período que também escreve a segunda parte das liras de “Marília de Dirceu”. Ele está só e triste, da terra nem quer o ouro. Um homem inteligente e respeitado agora preso para ir para outra terra.

Romance LVI ou da arrematação dos bens do Alferes Há uma reunião de inventário para avaliar o preço dos bens de Tiradentes. Em uma terra que só se preocupam com dinheiro, tudo que vinha do herói era arrematado para ser qualquer outra coisa, menos a memória de um revolucionário. Enquanto eles possuem praticidade real, o sentimento que eles levam são tristes.

Romance LVII ou dos vãos embargos Minas está sobre o domínio do governador da capitania D. Luís da Cunha Meneses, violento, impulsivo e irracional. E assim como a história mostra, ele não seria culpado ou punido por isso.

Romance LVIII ou da grande madrugada O amanhecer é um símbolo para algo novo ou o fim de um período ruim. A escuridão novamente aparece como uma figura do presente e do futuro de perda. A figura do governador da capitania passa como um lembrete de não trair o rei nem em pensamentos.

Romance LIX ou da reflexão dos justos Há uma lamentação de Tiradentes ter trabalhado tanto e agora estar preso e sozinho. Não tem a quem falar, ficou solitário, apenas sobrando o choro.

Romance LX ou do caminho da forca As pessoas vêem o caminhar de Tiradentes para a forca, todos o conhecem. A história é interessante pois brinca com a fantasia do que poderia ser, o que distancia a história da factualidade, trazendo a condição humana sem negar a realidade histórica. Ninguém intervinha, muito menos tinha quem pudesse ajudar da decisão de Maria I, considerada uma rainha louca.

Romance LXI ou dos domingos do Alferes A mãe de Domingos já sonhava com o nome do filho que seria “Domingos”. Pensava no nome de título e como ele viria bem para a família, tal qual o dia sagrado faz jus.

Romance LXII ou do bêbedo descrente Há uma indagação do eu lírico de ver pessoas sendo enforcadas, ainda que fosse culturalmente uma coisa triste. Mais ainda o fato de tantas comemorações e gente importante da patente militar por ali se era só um criminoso sendo executado.

Romance LXIII ou do silêncio do Alferes Tiradentes tem um silêncio ao seu redor de quando proferia suas afirmações do passado e da injustiça que vivia agora.

Romance LXIV ou de uma pedra crisólita Em meio de escuridão do futuro e do presente, uma pedra que não foi lapidada era segurada. Tiradentes estava morto, a pedra continuava ali. Tal qual a revolução era contra a riqueza gananciosa, a ideia sumiu com a morte dele.

Parte 4

Cenário Há uma descrição do jardim que foi de Gonzaga, homem rico e que pode também ser uma metáfora às liras que escrevia. Só cresciam espinhos naquela terra infértil. As rosas ali definham, um símbolo de desejo que morreu, desejo da inconfidência e também de Dirceu e Marília.

Romance LXV ou dos maldizentes Há um lamento dos poetas árcades, nomeados com pessoas que usam nomes fingidos e que falam por consoantes. Pensavam tanto na Arcádia e de como foi na Inglaterra e na França e agora tudo se foi.

Romance LXVI ou de outros maldizentes Há pessoas perguntando de como ficou Tomás António Gonzaga. Ficou sem muito dinheiro. Falam de como tinha outro nome e como amava outra mulher. Diziam como era tudo tolice. Como que se fosse para fugir da febre poética, era enviado para Moçambique.

Romance LXVII ou da África dos Setecentos Há uma lamentação da África, de quem sai de lá é cativo escravo e quem chega foi por exílio. Ler página 185

Romance LXVIII ou de outro Maio fatal Em outro ano, no mês de maio, semelhante ao que deflagraram a Inconfidência Mineira, era uma despedida. Vila Rica estava pobre, não havia mais ouro. Não há mais desejos da Arcádia de outro momento, tudo volta ao silêncio, as pessoas se estranham.

Romance LXIX ou do exílio de Moçambique Há uma narração sentimental de Gonzaga indo para Moçambique, lamentando não sentir mais o Amor.

Romance LXX ou do lenço do exílio Em uma construção de uma estrofe em quatro versos, há um verso em parênteses para cada estrofe, trazendo um estado de exceção ao eu lírico. Há uma tentativa de bordar-se um lenço como lembrança da terra natal e de tudo o que já foi.

Romance LXXI ou de Juliana de Mascarenhas Juliana de Sousa Mascarenhas foi a mulher com quem Tomás António Gonzaga casou em Moçambique e teve dois filhos. Ainda casado, Tomás António Gonzaga escreveu a terceira parte das liras de Marília de Dirceu a sua amada no Brasil, com quem planejava ir para Moçambique, mas não conseguiu a levar. O eu lírico conversa com Juliana, dizendo que ali ela teria como ser mais bonita que Marília, que conseguiria conquistar o coração do preso exilado, que traria uma nova vida.

Imaginária serenata Há uma lamentação do eu lírico feminino em ser de uma pessoa que está distante do amado, porém não fisicamente, mas na mente dele. Apesar da história poder se encontrar nos documentos históricos, Cecília Meireles teve o trabalho de encontrar nos ecos da história o o ritmo poético em meio aos ritmos sociais da Inconfidência Mineira. Mesmo que ela nunca aconteceu e já foi terminada romances atrás, a história continua para podermos ter acesso ao ritmo emocional e poético das personagens (bem conhecidas e satélites da Inconfidência)

Romance LXXII ou de Maio no Oriente Em outro mês de maio, de novo, Juliana e Gonzaga se casam. As pessoas do casamento dizem que Gonzaga tinha sonhos de Arcádia e imaginava um amor que agora poderia o ter. Apesar de ser um mês que se comemora Virgem Maria, é perceptível que na obra Maio tem um sinal de um mês terrível. Curiosamente, maio é um mês que nunca termina no mesmo dia da semana e começa no mesmo dia da semana que todos os outros meses do ano. Há uma simbologia de um mês de primavera no hemisfério norte, mas é uma tradução mal feita no Brasil, já que é outra estação.

Romance LXXIII ou da inconformada Marília Marília era para ter ido com Tomás António Gonzaga para Moçambique a pedido do poeta, mas ela nunca soube se ele se quer ficou vivo depois da prisão ou do que aconteceu com ele. O campo conversava com Marília, em uma tentativa de locus amenos (o campo/o lugar que acalma), mas ela dizia que ele jamais o deixaria, com a desculpa dele estar alienado (o que ele estava, já que o escapismo era comum como recurso linguístico). Ela até julgava que ele tivesse a esquecido e até mesmo casado, ainda que repetisse que só seria possível se estivesse fora de si.

Romance LXXIV ou da rainha prisioneira Há uma lamentação para Maria I, considerada uma rainha louca no período. Há um paradoxo com seu nome, já que é um nome santo que significa perdão e esperança, dois sentimentos que ela não trazia no seu reinado no Brasil. Por conta do seu estado mental, o filho mais novo, João, nomeado João VI, governou em seu lugar como regente. O seu reinado foi conhecido como a Viradeira, um período de abalo de governança, instabilidade financeira e de desconfiança até das ciências por ser fervorosamente religiosa, o que era totalmente o oposto do tanto de ouro que recebiam do Brasil. Ainda há um perigo iminente que eram os países da França, Inglaterra e Espanha que eram mais fortes no período, sem contar a ascensão de Napoleão. Ler página 204

Fala à Comarca do Rio das Mortes A Comarca do Rio das Mortes era uma antiga parte da capitania de São Paulo e Minas de Ouro (que englobava quase todo o centro-oeste, sudeste e sul do país). Há uma lamentação dessa região que, apesar de ter tanta fauna e flora, estava destruída. Em uma região tão bela com tanta vida, hoje passam fantasmas de outro tempo.

Romance LXXV ou de Dona Bárbara Heliodora Bárbara Heliodora foi poetisa, ativista do movimento e casada com o inconfidente Alvarenga Peixoto, considerada heroína do movimento. Apesar de ter sido linda, tinha caído em demência e perdeu seus bens quando Alvarenga Peixoto foi exilado. Viveu os últimos anos da vida com a irmã e os filhos, lamentando a ida do marido. Era considerada a estrela que soube guiar o marido.

Romance LXXVI ou do ouro fala Ouro Fala também é um lugar no sul de Minas Gerais. Mas há também uma brincadeira, pois há como que uma simbologia do ouro usado em peças, objetos e riqueza como se o ouro denunciasse um passado, como se as regiões abandonadas dos aluviais contassem uma história, que denuncia o passado.

Romance LXXVII ou da música de Maria Ifigênia
Maria Ifigênia é a filha primogênita do casal Bárbara Heliodora e Alvarenga Peixoto. Há um relato e avaliação emocional dos pais – um exilado e a outra louca. É como se seu futuro de sucesso fosse tirado de si por fantasmas (da Inconfidência e da ganância portuguesa) de seu sucesso, agora silenciada.

Romance LXXVIII ou de um tal Alvarenga Alvarenga Peixoto era poeta e doutor, além de amigo de Basílio da Gama e dado como autor da frase “Libertas quae sera tamen” (”Liberdade ainda que tardia” em latim). Apesar de nascer na cidade do Rio, estudou em Portugal e morava em Minas. Tinha ideias iluministas, como devia muito dinheiro, foi exilado à Angola e morreu de uma febre tropical da região.

Romance LXXIX ou da morte de Maria Ifigênia Maria tinha porte e jeitos de princesa. Aparentemente, não há um registro incontestável de quando ela morreu, há de que ela se casou mas não deixou filhos. A história deixa de forma poética a suposta causa da morte, que foi uma viagem a cavalo.

Romance LXXX ou do enterro de Bárbara Heliodora É curioso analisar a pausa lírica usada na obra, pois mesmo que se tenha na imagem alguns poetas e Tiradentes como figuras da Inconfidência, a extensão e prolongamento da história aumentam a dramaticidade de tudo que aconteceu, desde o início da descoberta do ouro, como trataram a situação e o julgamento. Há uma repetição dos verbos no passado, como se a figura do presente não fosse mais do que poeira do que ela foi. É uma dualidade do tempo presente na obra, falar de tempo é de ser e não ser, o que foi e o que é, mudança e repetição, temporário e eterno, ao mesmo tempo.

Parte 5

Retrato de Marília em Antônio Dias Todo o romance está entre parênteses, como se fosse uma fala de fora do eu lírico e mais pessoal. Há uma lamentação de Marília, pseudônimo dado por Gonzaga à Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, a qual conheceu com 15 anos, noivou aos 22 e nunca mais se viram. Ela morreu aos 85 anos. Lamenta-se como ela ficou feia, sem brilho, que apenas na morte havia o brilho do que ela já foi, em um paradoxo de realidade e lembrança.

Cenário Há uma projeção para a Rainha Maria I, agora próxima da morte. Estava em um estado avançado de demência, há uma revisitação de um passado glorioso de uma terra infértil, de inconfidentes que iam para outras terras, de vassalos de um reino que nem conhecia mais.

Romance LXXXI ou dos ilustres assassinos Há uma denúncia dos assassinos dos inconfidentes, apesar deles terem poder e decretar tudo facilmente com penas e tinta, o nome dos assassinados é o que é lembrado ao longo do tempo.

Romance LXXXII ou dos passeios da Rainha Louca A Rainha costumava fazer passeios nos últimos anos da sua vida, é, inclusive daí que surge a expressão “Maria vai com as outras”, denominando as suas companhias para todo lugar que ia, mesmo que fosse com uma louca. Apesar da visão tropical, bela e paradisíaca, ela pensava muito em como seria julgada, no fogo do Inferno, não conseguia lembrar-se do poder e como era poderosa, nem se quer da paz dos dias que anunciavam o tanto que ela sofreria.

Romance LXXXIII ou da Rainha morta Morre a rainha, havia uma triste nas cerimônias e tudo que rondava a notícia. Apesar de tanta tristeza, aquele rosto morto lembrava de tempos e de rostos que jamais foram sepultados no Brasil.

Romance LXXXIV ou dos cavalos da inconfidência Em uma mudança para oito sílabas poéticas, há a fala dos cavalos da inconfidência, animal que simboliza poder, liberdade e nobreza. Há a passagem dele pelos campos, anunciando novos tempos para pessoas, mas tudo no passado. Infelizmente, todos os cavalos ficaram algemados, acorrentados e condenados a crimes. Ninguém sabe mais os nomes deles ou se quer os lembram. Essa história é uma retomada do que foi a Inconfidência Mineira que, durante o início da República do Brasil, tentaram montar esse imaginário coletivo de Tiradentes como um herói, mas que ficou intocado por 200 anos sem nada se falar.

Romance LXXXV ou do testamento da Marília Marília escreve seu testamento, sendo que toda sua glória esteve no passado e a morte vem como um alívio. Há uma reclamação do ouro de Minas, levado dali, que deixou pobre de espírito e bolso Portugal e Brasil.

Fala dos inconfidentes mortos Há uma mudança de contagem de sílabas poéticas para 4 sílabas poéticas (simbologia do mundo material). A covardia reinou neste período da Inconfidência, do que iniciou o movimento, do que veio antes, do que aconteceu durante e do que ficou em terra arrasada. Quem, afinal, foi para o inferno e subiu ao céu, em um conflito que ninguém saiu bem? Ler página 238

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“Quincas Borba” de Machado de Assis – Resumo de Cada Capítulo

Livro de Machado de Assis de 1892, reeditado para ser uma novela. Foi escrito inicialmente como um romance de folhetim entre 1886 e 1891 com mudanças nos capítulos para adaptar-se. Parte da trilogia realista de Machado de Assis.

Tópicos importantes:

  • Excesso de “ismos”: crítica à paixão desenfreada de tentarem explicar como o mundo funciona de forma caricata com Quincas Borba
  • Ter e ser: crítica ao status social
  • Papéis sociais: aproveitamento, amizade de faixada, conexões
  • Instituições decadentes: governo, casamento, exército

Capítulo 1 – Há um retrocesso e uma divagação do narrador da figura de Rubião olhando a enseada de Botafogo. Era um “capitalista”, quem detinha o capital (não no termo de produzir capital, mas que tem dinheiro). Gostou do fato de Piedade não ter casado com Quincas Borba, pois não teria o dinheiro que agora tem, dizendo que “Deus escreve direito por linhas tortas”.

Capítulo 2 – Como quem queria afastar o pensamento do prazer imoral, pensou em outra coisa. Mas o pensamento maldoso que Piedade poderia ter casado, ter filhos com Quincas Borba, entrava em choque com a paz que havia de frente a Rubião, que se deliciava de ter todo aquele capital.

Capítulo 3 – Rubião encarava a bandeja de prata, material que gostava, ainda que seu amigo Palha dissesse que bronze, matéria que não gostava, tinha o seu preço. Comparou-os com Fausto e Mefistófeles (o primeiro, cheio de sabedoria, o segundo, o próprio diabo). O criado que tinha era espanhol, ainda que preferisse não ter línguas estrangeiras na casa e preferia os crioulos de Minas. Palha aconselhou a importância de criados brancos na casa. Rubião perguntou se o Quincas Borba cão estava impaciente, ao passo que o espanhol disse que sim e falou que o soltaria – coisa que não fez. Viu os quadros que Sofia aconselhou a comprar, começou a lembrar dela, de como era bonita e de seus ombros. Julgava não ser “inteiramente feliz”, só que sabia que “não estava longe a felicidade completa”. Parecia jovem para quem tem 41 anos. Era professor, tinha barba, agora até ficava sem barba (por ter tempo e dinheiro). Nesse devaneio, começou a lembrar de quando encontrou Sofia e Palha pela primeira vez, ainda num trem em Minas. O narrador sabe que o leitor tem curiosidade, pois “todos vós que tendes sedes, vinde às águas” e retrocede ao passado, para poder explicar o atual presente e o futuro de tudo que estava por ali, para rever Quincas Borba.

Capítulo 4 – O narrador relembra o leitor sobre Quincas Borba, personagem do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, agora vivendo em Barbacena. O mesmo inventor da filosofia do Humanitismo vivia esperando seu fim, Rubião até tentou casar ele com sua irmã Piedade, a qual morreu de inflamação no pulmão. O ex-professor começou a cuidar do filósofo. A família do filósofo estava morta, sobrou ninguém, muito menos o tio que deu sua herança, quem sobrou foi o Rubião de amigo, que tentou abrir empresas antes e só fechou, sua última empreitada era a escola de meninos que fechou para cuidar do jamais cunhado. Ficou por seis meses como enfermeiro, Quincas considerava Rubião bom. O médico achava que a doença passaria e logo melhoraria. Perguntou como o filósofo se encontrava. Rubião achava que não estava bom, mas que não via mais nada sobre filosofia, pois “morrer é negócio fácil”. O médico disse que “morrer de verdade é outra”.

Capítulo 5 – Surge o cão Quincas Borba, que era “um rival no coração” para Rubião. Era bonito, “meio tamanho, pêlo cor de chumbo, malhado de preto.”. Dormiam juntos, acordavam juntos, iam para toda parte. A origem do cão homônimo tinha dois motivos. Como acreditava no Humanitas que existia em toda a parte, o cão mereceria receber um nome de gente. A outra razão, em vez de dar outro nome como a de um rival político da localidade, era de que ele continuaria vivendo com o cão. Queria viver ou pelo livro ou pelo cão, já que poderia ter quem não o lesse ou não sabia ler. Enquanto falava o nome do cão, ele foi até o dono. O filósofo se emocionou e disse que ele era o único amigo. O ex-professor ficou enciumado, “mas a um doente perdoa-se tudo”. Quis ver-se no espelho. Disse que iria morrer, a pele era reflexo da alma. Rubião ainda tentou falar do jantar para desviar do que ele chamava de “umas filosofias”. O filósofo ficou comovido com o desdém, ao qual Rubião tentava dizer que não era bem assim. Trouxe as chinelas do filósofo e algo para se proteger do frio. Ele recusou. Parou de pé no quarto enquanto pensava e começou a divagar.

Capítulo 6

Para que entendesse a teoria, Quincas Borba disse que contaria a história da morte da avó dele, apesar de tentar parecer estar interessado na história. Em frente à Capela Imperial, na época Real, a avó foi atravessar a rua para sentar numa cadeira no Largo do Paço. Ali perto, um cavalo se assustou e saiu correndo disparado com os outros que se assustaram também. Ainda tentaram salvá-la, mas morreu minutos depois de ser levada para uma botica. Apesar de Rubião achar a história uma desgraça, Quincas disse que não o era, pois a história começava com o dono da sege ter fome, pois tinha almoçado “cedo e pouco” e já era bem tarde. Quem tinha fome era Humanitas, e o mesmo poderia acontecer se fosse um cão, gato, Gonçalves Dias ou Byron no caminho. Rubião entendia mal, pois nem se quer entendia quem era Humanitas e como isso se relacionava com um cocheiro que morria de fome (metafórico) com a morte da avó do filósofo (literal). Quincas hesitou mas perguntou se queria que ele fosse seu discípulo, que entenderia tudo de pouco em pouco. O filósofo acreditava que era o “remate das cousas”, a teoria que a formulou o fazia “o maior homem do mundo”. Humanitas é o princípio, que mora no invisível e no visível, é o universo e todo que o rodeia. Como não havia morte, a avó de Quincas teria retornado ao Humanitas. Tudo era princípio para a vida, mesmo que uma chegue ao fim. Ele dá uma situação de duas tribos indígenas e um campo de batatas, que é o suficiente para uma tribo apenas se alimentar e cruzar a montanha. Uma precisa exterminar a outra, “ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”. Não há, dessa forma, opinião do exterminado ou quem é retirado da vida, pois a substância, segundo Quincas, é tudo a mesma. É como se as pessoas fossem bolhas em uma panela de água fervendo, elas vêm e vão. Tal qual uma peste que devasta um ponto do globo “é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa”. Ler página 4

Capítulo 7 – Quincas sentou ofegante e Rubião foi ajudá-lo com água, o filósofo perdeu o costume de falar. Rubião ficou pensando como que alguém naquele estado tinha aquela mente. Quincas decidiu ir caminhar, mesmo que Rubião não o quisesse. Quis ouvir de Rubião que era seu amigo, o ex-professor respondeu tanto ou mais do que o cão. O filósofo respondeu “bem”.

Capítulo 8 – Quincas acordou querendo ir para o Rio de Janeiro, ficaria por um mês. Rubião ficou pensando na doença e no médico. O filósofo chamou o médico de charlatão e a moléstia de um estado de Humanitas. Queria resolver alguns negócios e tinha um plano sublime, que nem o aprendiz poderia entender. Quincas parecia melhorar, voltou a escrever e até chamou o tabelião para escrever o testamento. Ao sairem, Rubião queria levar Quincas para a viagem, mas o filósofo só confiava no aprendiz, tanto na casa quanto quem cuidar do cachorro. Ficou preocupado com o cão, pediu para Rubião jurar que cuidaria de tudo. O filósofo chorava ao pensar no cão que ficava, tal qual “o derradeiro suor de uma alma obscura, prestes a cair no abismo.”.

Capítulo 9 – Rubião chegou a ficar neurótico que pensariam que a ideia de Quincas Borba viajar era do aprendiz, para “matar mais depressa, e entrar na posse do legado”, mas nem sabia se estava no testamento. O cão ficou triste nos dias seguintes, achando em Rubião alguém para confortar e trocar carícias. O cão mal comia, mas aceitava o leite. O médico ficou assustado que deixaram o filósofo viajar. Rubião ainda tentou falar que o cachorro parecia gente, o médico só pediu para que visse as cartas se alguma chegasse e não fossem reservadas. Começaram os boatos de que Rubião guardava o cachorro e não o oposto, assim como as risadolas. Ainda guardava dentro de si e do alvo das risadas uma pequena lembrança de herança.

Capítulo 10 – Chegou uma carta do Rio de Janeiro. Quincas dizia que retornaria em breve. Proclamava-se Santo Agostinho, que vivia em meio da heresia como quem se comparava para provar sua teoria e chamava Rubião de “ignaro”, um ignorante. Pediu para guardar segredo e falou como era bom para o aprendiz que tinha um grande amigo como ele. Disse que iria o compreender algum dia. Rubião tinha a certeza que o filósofo estava doido. O cérebro dele morria, “morria antes de morrer”. O médico ficou sabendo da carta pelo carteiro, Rubião disse que a carta era bem reservada. Teve remorso de sair andando e não mostrar o estado do filósofo, ficava inseguro pois ele chegaria ali alguns dias, pensou que poderia ser até imprudente. Pensou no testamento e em até receber 5 contos para ficar feliz, que convertido daria em 125 mil reais.

Capítulo 11 – Enquanto lia os jornais que recebia na casa de Quincas, leu a notícia da morte do filósofo. O jornal dizia que suportava “a moléstia como singular filosofia”, que sabia muito e cansou de batalhar com o pessimismo amarelo que chega a todos, era “a moléstia do século”. Segundo o jornal, disse que a dor era uma ilusão, falando que Pangloss, personagem de “Cândido” de Voltaire, era menos tolo do que o autor queria colocar.

Capítulo 12 – Rubião ficou aliviado com a morte de quem sofria tanto. Releu e notou que não falavam de sua demência, mas que apenas delirou na última hora, “efeito da moléstia”. Foi embora tal qual Santo Agostinho, estava “são e morto”, já não padecia. Olhou para o cachorro, tinha pena dele não saber que o dono morreu, mas o levaria à comadre Angélica para cuidar do cão, pois “acabou a obrigação”.

Capítulo 13

A notícia se espalhou rapidamente na cidade de Barbacena da morte de Quincas Borba. Foram até Rubião para saber da informação, além do carteiro levar uma carta para o aprendiz. Era de Brás Cubas, falando de como morreu e da morte do seu amigo. Rubião, após ler a carta, pediu ao escravo que levasse o Quincas Borba cão para a comadre Angélica, “como gostava de bichos, lá ia mais um”, dizendo dos mimos e do nome.

Capítulo 14

Quando abriu o testamento, “Rubião quase caiu para trás”. Era herdeiro universal. Tinha tudo, porém, uma única condição: cuidar do Quincas Borba cão como se o cão fosse o herdeiro, de qualquer mal, tal qual uma pessoa fosse. Pediu também uma sepultura ao cachorro em um dos seus terrenos, além de retirar os ossos do cão, do túmulo já com flores cheirosas, para que fossem depositados “no lugar mais honrado da casa.”. Ler página 8

Capítulo 15 – Rubião pensava na possibilidade da herança somar 300 contos de réis (75 milhões de reais). Ficou imaginando as casas, posses, livros e, naturalmente, o cachorro que constava na cláusula. Achou natural, já que eram o três juntos sempre. Até lembrou duma história de urna, mas tudo havia de se cumprir. Gostava mais do cachorro. Lembrou das empresas que faliu, e que agora estava rico. “Deus não falta a quem promete.”. Ficou pensando se ficava em Barbacena, esfregar na cara das pessoas que foi tão zombado de ser amigo de Quincas para brilhar, ou se iria para o Rio de Janeiro. Decidiu a capital, com moças bonitas, teatro e movimento, até porque poderia “subir muitas e muitas vezes à cidade natal.”.

Capítulo 16

Rubião entrou na casa, chamando pelo cão. Nada dele. Lembrou que o havia mandado à Angélica. Ficou pensando em tudo que é de ruim enquanto corria, desde que o cachorro fugiu até de que alguém sabia da cláusula do cão e pegariam a herança. Começou a pensar que não teria como ser culpado se o cachorro morresse em uma fuga. Começou a prometer a santos, dizia ir em missas. Viu a comadre na frente da porta da casa, rindo do destrambelhado novo rico.

Capítulo 17

Rubião perguntou do cão. A comadre pediu para que não falasse dele, ficou pálido. Até que ela terminou a explicação – o cachorro nem comia, só chorava. Ela achou estranho, pensou que o cão era dado, estava no quintal separado dos outros. Falou que daria até cinco outros, mas aquele não. Prometeu até um filho, disse que “o recado veio torto”. Tinha bicho de tudo quanto é jeito, até pavão, mas Rubião tinha olhos no Quincas Borba. A comadre ficou espantada com tal amizade. Rubião foi embora, prometendo um filho.

Capítulo 18

Voltaram os dois para a casa do filósofo falecido, sentou-se na cadeira, o aprendiz, relembrando da aula do mestre, o cão procurava o dono. Lembrou-se da história da avó morta e das batatas. “Era um vencedor” aos seus olhos, iria “comer as batatas da capital”. Gostava da ideia e considerava-a profunda. O problema é que agora ele fazia parte da teoria e ela o beneficiava. Antes do testamento, ele era quem recebia o ódio ou a compaixão da teoria. Agora, ele era vencedor, entendeu completamente a teoria. “Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.”.

Capítulo 19

Rubião mandou fazerem uma missa para o finado mestre, ainda que soubesse que “ele não era católico”. Não é que criticasse ou falasse bem e/ou mal, mas não falava. Achava mesmo que a religião era o Humanitas. Tinha mais vontade de fazer a missa para não parecer ingrato aos olhos dos vivos do que desejo do morto. Muitos foram para ver o antigo mestre de meninos, outros não foram, para não ver a glória de Rubião.

Capítulo 20

Rubião iria ao Rio de Janeiro, fixando casa.

Capítulo 21

“Na estação de Vassouras, entraram no trem Sofia e o marido, Cristiano de Almeida e Palha.”. Sentaram-se na frente de Rubião, era um casal de 4 ou 5 anos de diferença, ambos perto dos 30. Levavam presentes. Palha percebeu o olhar feliz de Rubião, em um trem com tanta gente carrancuda. Palha tentou puxar conversa, falando que a estrada de ferro cansava muito. Rubião respondeu que “para quem estava acostumado a costa de burro”, a estrada de ferro era realmente mais cansativa e sem graça, mas “era um progresso”. Perguntaram o que faziam, falaram de gado, escravatura e política. Queria vender os escravos, mas Rubião queria manter um pajem. Palha se desinteressou e falaram da Guerra do Paraguai, mais política, sobre as câmaras, Rubião conversava de forma geral bem. Palha perguntou se iria para a Corte ou Barbacena, o aprendiz disse que queria aproveitar a vida, quem sabe ir para a Europa. Palha ficou interessado. Começaram a falar da Europa e da Corte, de como eram ambas bonitas, mas como a segunda precisava de tempo para ficar mais. Rubião perguntou à Sofia se já foi à Europa, esqueceram de se apresentar uns aos outros. Rubião ficou feliz com o acolhimento tão repentino, queria que eles fossem com ele para a Europa. Palha tentou falar que não tinha planos, mas quem sabe a “Divina Providência é que manda o melhor”. Rubião mal se segurava para poder dizer que estava rico, até que murmurou. Palha quis saber de quem e quanto. Rubião respondeu que era de um bom amigo, que chegava perto dos 300 contos. Palha elogiou o amigo, pois desses há poucos, e recomendou que não contasse a história desse jeito para estranhos. “Discrição e caras serviçais nem sempre andam juntas.”.

Capítulo 22

Quando chegaram à estação da Corte, despediram-se de forma familiar. Palha ofereceu casa mas o ex-professor ficaria em um hotel, prometendo visitá-lo.

Capítulo 23

Apesar de Rubião estar ansioso para ver Palha na casa de Santa Teresa, foi o amigo da estrada de ferro que foi procurar o aprendiz de filósofo. Queria saber se estava bem por ali ou preferia a casa dele. Recusou a casa, “mas aceitou o advogado”. Era parente de palha, não cobrava caro pois era moço. O cão queria ir para os lugares, mas tudo se ajeitou. Palha convidou-o para jantar, dizendo que o esperaria.

Capítulo 24

Rubião era muito ruim em falar com mulheres. Porém era novo homem, “forte e implacável”, foi para lá e ficou feliz com a decisão, pois Sofia estava muito mais bonita. Vestia-se bem, falava com posse, “Rubião desceu meio tonto.”.

Capítulo 25

“Jantou lá muitas vezes.”. Enquanto se passava o inventário, Rubião tinha um fogo que não conseguia apagar, pois havia um boato que a demência de Quincas Borba não validaria o documento. Porém, a denúncia foi destruída e o inventário concluído. Para comemorar, Palha fez uma festa, que, inclusive, foram advogado, procurador e escrivão, que conveniente. Sofia tinha “os mais belhos olhos do mundo” neste jantar.

Capítulo 26

Rubião ficou pensando nos olhos dela enquanto descia o morro. Começaram as mudanças de Botafogo e Palha ajudou muito Rubião, indo para lojas e leilões. Iam os três, até que Sofia dizia que “só uma senhora escolhe bem”. Rubião agradecia e aceitava com muito bom gosto. Tentava demorar o máximo possível e comprar o que não precisava para ter a mulher por perto.

Capítulo 27

Todas essas ideias passavam na cabeça de Rubião, que esqueceu de ir soltar Quincas Borba cão. Foi até ele.

Capítulo 28

Rubião pensava no pecado que era desejar Sofia, ainda mais que era casada tão bem com Palha. Pensou como era bonita e que parecia o querer tanto. Quincas Borba cão ficou feliz de vê-lo, latia e Rubião tentava acalmá-lo. Rubião lhe dá um tabefe, o cão que lambia a mão antes agora tinha medo. Rubião estalou com as mãos ele veio com o mesmo entusiasmo. Quincas fica feliz com o passeio, esquece rapidamente do tabefe e gosta muito de estar ali. “Gosta de ser amado. Contenta-se de crer que o é.”. A maioria dos funcionários, menos o mordomo espanhol, gostam do cão e não ligam dele andando pela casa. Mas quando vem visitas, o mordomo retira o cão com muita delicadeza, ao passo de quando não há mais ninguém vendo, o joga longe pela perna ou orelha que o segura. Quincas Borba cão se recolhe e deita num canto, misturando a imagem de boas lembranças entre o antigo dono filósofo e do atual aprendiz. Quando acorda, esquece de todo o mal que existe ou possa existir. O narrador pede para que o leitor se contente em ter dó. Ler página 13

Capítulo 29

Dois amigos foram almoçar com Rubião no domingo. Carlos Maria, que já se aproveitava dos bens da mãe e era jovem, Freitas já tinha seus 40 anos e não tinha o que pegar da mãe mais. Freitas elogiava tudo da casa e saia da casa com o bolso cheio de charuto. Era uma figura que Rubião não tinha como ter por bem socialmente falando, mas logo percebeu que era vivo, tal qual começou a elogiar e contar mentiras com tanta crença que até assustou o jardineiro que cuidava das rosas que ele comentava. Foram beber licor, que Freitas aproveitou com muito bom gosto. Quis saber de onde vinha, Rubião falou que era de um armazém e logo comprou 3 dúzias de caixa. Freitas ia jantar e almoçar lá muitas vezes, “mais vezes ainda do que quer ou pode”.

Capítulo 30

Rubião perguntou a Freitas se o acompanharia à Europa. Ele respondeu que não, era “amigo livre”, falando que discordariam do itinerário. Rubião lamentou, pois o considerava alegre, ao passo que disse que carregava uma “máscara rinhosa” e era triste, “arquiteto de ruínas”, queria ir ver os monumentos de ruínas de antigos impérios e civilizações. Rubião dava risada.

Capítulo 31

O narrador trouxe o avesso de Freitas, Carlos Maria. Até Freitas que não gosta dele, recebe-o com muita felicidade íntima. Rubião gostava de Carlos Maria mais ainda do que gostava de Freitas, esperou ele a tarde inteira “e esperá-lo-ia até amanhã.”. O jovem olhava de todos por cima, não tinha consideração para ninguém, menos ainda aos dois que ali estavam. Parecia que, ali, fazia dois favores: o de almoçar; e o de não chamar os dois de “pascácio”, de idiotas. Comeram bem. Freitas continuava soltando anedotas. Carlos Maria ouvia tudo com seriedade parecendo que era para humilhar, tanto que Rubião começou a ficar sério, mesmo que achasse graça. No fim, Freitas pediu aventuras amorosas dos outros. Carlos Maria dava risada finalmente. Freitas ainda tentava se explicar mas Carlos Maria atropelou a fala para perguntar se Rubião gostava da casa do Botafogo. Gostava da vista e a praia era linda, Carlos maria concordava, mas era que ficava mal de vez em quando com o cheiro. Freitas começou a elogiar enormemente a praia, falou tanto que queria até mesmo que Carlos Maria prestasse atenção no pedaço de fruta que ficou no bigode dele. Rubião se recompunha mentalmente do almoço e do que sobrou. Viu Carlos Maria aproveitando o charuto que mandou oferecer. Dali, entrou o criado com uma cesta coberto de um lenço de cambraia, um tecido que amassa rápido mas é muito bonito para decorações, e uma carta.

Capítulo 32

Rubião ficou sabendo que quem mandou era Dona Sofia. Era a primeira vez que via a letra dela e ficou comovido. Freitas viu os morangos enquanto descobria a cesta. A carta dizia que era para aproveitar no almoço e que deveria ir jantar, sem falta e por ordem de Cristiano. Freitas ria da situação e dizia que era tudo normal para quem ama. Carlos Maria disse que o amor é lei universal, perdoa-se até e não se deixa de ser exceção para quem é senhora casada. Ficaram tentando entender se ela era casada, viúva, solteira. Rubião estava num misto de tristeza, empolgação, felicidade e tontura. Pensava que tudo aquilo era pecaminoso, as frutas, o arranjo. Carlos Maria viu o relógio e ia embora. Propôs que fosse algo a ser feito todo domingo, Freitas concordou. Pegou seis charutos e disse que era uma delícia por dia. Rubião pediu para levar mais, mas ele iria “buscá-los depois.”. Quincas Borba cão viu todos ali com o barulho do portão, Freitas ficou feliz e o recepcionou, Carlos Maria tinha nojo, Rubião deu um pontapé no cachorro, que se afastou chorando e gritando. Os dois visitantes ainda tentaram ver onde um e o outro iam, mas foram para caminhos opostos.

Capítulo 33

Rubião leu mais uma vez o bilhete de Sofia, era um mistério sem fim a carta. Não tinha nome de casada ou de família ali ou se quer o casal. Pensava que era uma metáfora a frase de “verdadeira amiga”. Beijou o papel. Na verdade, “o nome”.

Capítulo 34

Sofia ficou irritada que Rubião chegou tarde – eram 4 e meia da tarde. Rubião tentou se defender falando que ficou trabalhando e que ainda era cedo, que ela respondeu que “sempre é tarde para os amigos”. Mal se recuperou e viu que existiam 4 senhoras, olhando para ele, que esperavam “um capitalista Rubião”, detentor de dinheiro. Três eram casadas, uma “mais que solteira”. Tinha 39 anos, era filha do Major Siqueira. Ela começou a contar de como soube da história da amizade de Palha, Sofia e Rubião pelo seu pai. Disse que tinha um acaso na família. Mas Rubião estava em outro lugar. D. Tonica, filha do Major, falava com um homem com a alma em um beco sem saída. O Major até apareceu e repetiu a história, conversando com as moças, depois saiu para a rua.

Capítulo 35

As senhoras eram bonitas, até mesmo a mais velha poderia ter sido mais bonita ainda se fosse mais nova, “mas Sofia primava entre todas elas.”. Não era tudo o que Rubião “sentia, mas era muito.”. Tinha aquela coisa de escultura que o artista vai polindo aos anos e parecia que daria os últimos toque em Sofia aos 30 anos. Os olhos eram mais negros e se impunham mais do que no trem, a boca era “mais fresca.”, tinha apenas “excesso de sobrancelhas”, coisa que Rubião achava destoar do rosto e a dona não suportava. Vestia-se bem, usava até os brincos de pérolas que Rubião deu na Páscoa. Ela era filha de um funcionário público e casou aos vinte anos com Palha, que na época tinha 25 e cheirava bem onde o dinheiro ia crescer mais. Gastava muito mal o dinheiro consigo, ia para lugares para ser visto, não para se divertir. Gostava de mostrar os olhos da parceiras e os seios, decotando-os “até onde não podia”. Era um rei Candaules, que morreu porque queria mostrar a todos o quanto sua mulher era bonita. Sofia não gostava no início, mas foi pegando gosto.

Capítulo 36

Rubião a achava tão linda que poderia “fazer um escândalo”. Todos prestavam atenção numa mulher que cantava, mas Sofia e Rubião trocavam olhares. Ninguém da sala percebia a troca, exceto Dona Tonica.

Capítulo 37

Dona Tonica sabia que Rubião gostava de Sofia, não tinha olhos para outra coisa se não ela. Tinha até uma fagulha de esperança no capitalista, que mais queria um marido do que um homem rico. Sofia olhava menos para Rubião, pois eram “cautelas naturais da situação.”. Redobrou as tentativas, do dote de sedução e do que tinha na loteria, que “vem um bilhete que resgata os perdidos.”. Quanto mais pensava na possibilidade, mais tinha certeza que era amor o que existia ali. Tentava conversar com ele, dizia coisas bonitas, mas quando Sofia deixava a sala e não voltava, ele respondia maquinalmente. Tentou até perguntar de Barbacena, mas ele nem respondeu.

Capítulo 38

Rubião desejava Sofia e achava que parecia convidar ele para ir para outro lugar.

Capítulo 39

“A lua era magnífica”. Sofia e Rubião foram passear, a senhora até convidou Dona Tonica, que disse que ia depois – mas não foi. Passearam em silêncio, podiam ouvir vozes por ali, mas não era possível ouví-los. Rubião lembrou de uma comparação que leu em um livro antigo, que falava algo de estrelas da terra com as estrelas dos olhos do céu, “tudo isso baixinho e trêmulo.”. Sofia ficou assustada, estava pesando o corpo no braço de Rubião e se endireitou. Ficou em silêncio sem saber o que fazer com o homem que era tão tímido. Rubião continuava, falando que as estrelas eram belas e só podiam ser vistas de longe sem poder ver detalhes, mas que Sofia estava ali perto e eram mais bonitos. “Rubião parecia totalmente outro.”. Só que se repetia, não tinha outras ideias. Sofia tentava achar como pará-lo sem zangar. Não podia ignorar as finezas do homem, mas deixá-lo em casa era demais.

Capítulo 40

As estrelas riam de tal situação. Até compararam a história de Diana que se encontrava com Endimião, mas que problema há se encontrar no céu e não viver na terra? As estrelas eram as jovens moças que conversam de tudo e riem-se de tudo. Mas a lua era solitária. Sofia se enganou com as asas de Rubião, que mostrou na testa ser um arcanjo caído. Queria “alma e o corpo”.

Capítulo 41

Sofia sugeriu ir para dentro, tentou retirar o braço dele, mas Rubião o reteve com força, dizendo que ali estava melhor ou até mesmo tentando entender se ele o aborrecia. Desconversou falando que precisava ir para a sala de visitas, pois podiam dar pelo sumiço dos dois nos últimos dez minutos. Rubião pediu duas coisas: que não esquecesse daqueles 10 minutos; e que olhasse para o Cruzeiro às 10, pois o pensamento de ambos se cruzariam. “O convite era poético, mas só o convite.”. Rubião olhava com fogo para ela e não a soltava. Sofia ia pedindo com jeito, depois com desespero, depois com ânsia. Começou a machucá-la e Rubião começou a voltar para si. Quis beijar a mão dela mas ouviu uma voz.

Capítulo 42

O Major Siqueira apareceu, contemplando a lua, boa para namorados. Sofia se recompôs rápido, falando que Rubião dizia como as noites de Barbacena eram mais bonitas do que do Rio, até mesmo de uma história de um Padre Mendes, que Rubião, ainda atordoado, mal acompanhava a linha de raciocínio da amada. O Major, mesmo tendo visto Rubião indo para a mão de Sofia, e agora vendo-a tão calma, achou que tinha visto mal o cenário. Sofia se despediu e perguntou do voltarete dos rapazes. Major disse que tinha acabado e foi ali procurar por Rubião, o interesse do grupo. Rubião até tentou continuar a anedota do Padre Mendes, mas ele era ruim em criar história e não conhecia-o. Para piorar, o Major o conhecia. O Major começou a falar muito do padre que tinha bom olho para mulheres, ainda mais quando falava de Sofia. Perguntou a Rubião o que achava dela. Ele a considerava bonita. Rubião começou a desconfiar que o Major sabia do que tinha acontecido, ou até adivinhado. Ele falou que era possível até se mudasse, o que deixou curioso o pensamento do Major, pois havia acabado de se mudar. Falou como era difícil se desapegar de onde se viveu a vida inteira. Major até falou que se o problema fosse casório pela cidade, era só esperar como alguém espera um resfriado com a janela aberta. Como voltaram a um assunto em comum, Rubião até melhorou na fala e começaram a discursar sobre tantos outros assuntos. Dona Tonica apareceu procurando o pai para irem embora. Rubião até tentou agradá-lo convidando para a casa, Major disse que estava tentando convencer a pessoa errada, que quem mandava nele era Dona Tonica.

Capítulo 43

Dona Tonica ia descendo a ladeira com seu pai, remoendo os olhares de Sofia para Rubião e vice-versa. O Major foi dormir logo, mas ela ficou acordada com o fogo do ódio. A figura de Sofia se tornou em um monstro hediondo, queria vingança, até tentaria contar sobre tudo que viu. Pensava em tantos impropérios que gastou uns bons 20 minutos pensando, mas a alma cansou. A realidade bateu na vista e olhava ao seu redor, quarto de solteira que esperava um noivo, tal qual a história da virgem de Israel que esperava a concepção divina. Mas há uma diferença: Dona Tonica espera toda noite. Lembrou de todas as amigas e conhecidas, todas estavam casadas. Teve até esperanças quando uma de 30 anos se casou com um oficial da marinha. Mas os 40 anos chegavam à Tonica. Foi para a cama chorando.

Capítulo 44

O narrador aponta que a raiva e a dor foram de iguais intensidades. “Os efeitos é que foram diversos.”. A imaginação que dava tudo para se vingar da mulher que não merecia marido ou amante, tal qual passou um fio de Calígula, um imperador louco.

Capítulo 45

Se Dona Tonica chorava, Rubião ria, era “a lei do mundo”. Dizia às estrelas de sua confissão enquanto descia o morro. Via em todas as janelas e sacadas “caras bonitas e grossas sobrancelhas”. Fica num misto de calafrio temeroso pelo que fez e como agiu. Achou bem feito que se despedissem logo, tinha que esperar. Considerava-se maluco. Porém, defendia-se. Pensou que Sofia, em todas as suas atitudes, jeitos e ações o convidavam a ter chegado a tal ponto. Ficou pensando que deveria resistir, como continuou resistindo, mesmo com o dinheiro emprestado, pois devia favores e estimava o marido dela. Culpava e suspirava Sofia. Deparou-se na Praça da Constituição. Queria ir ao teatro, mas era tarde, foi para o Largo de São Francisco e pegou um charrete.

Capítulo 46

Um mendigo acordou com o alvoroço e ficou encarando o céu de barriga para o ar. Ficaram se encarando, tal jogo de siso, o mendigo falando que não era para o céu cair nele, tão menos do mendigo de escalar até si.

Capítulo 47

Rubião sentiu inveja do mendigo, que mal pensava e logo estaria dormindo. Os cocheiros tentavam convencer a escolher, mas Rubião foi para o mais próximo. Lembrou-se de um episódio ainda jovem. Morava na casa de um amigo por três dias que viraram quatro semanas. Lembrou-se de uma comoção nas ruas, um homem lia a sentença de dois negros. Era raro ver um enforcado, mas “não queria ver a execução.”. Mas como uma das pernas quisesse fugir e a outra assistir, ficou ali vendo. Tal qual tinha olhos para escolher a carruagem, todos tinham ali para o executado. Subiu um não sei o quê nas entranhas de Rubião e ele gritou, não viu mais nada.

Capítulo 48

O cocheiro fala como o cavalo é bom, dá uma leve chicotada no cavalo. Rubião se zangou por ter sido retirado de recordações antigas. O cocheiro ainda elogiou a amizade entre homens e cavalos, que trazem histórias inacreditáveis, tal qual os cachorros. Rubião lembrou do Quincas Borba cão, que deveria estar esperando ele em casa ansiosamente. Ele cumpria à risca o testamento, ainda que tivesse o desejo de vê-lo fugir, tinha mais medo de perder os bens. Não havia nada no testamento para fazê-lo perder os bens. Ficou num limbo de se sentir ingrato com o cão e das opiniões alheias do que fazer com o testamento e sua cláusula. Lembrou do outro Quincas Borba, até mesmo da transmigração de almas para corpos brutos, como poderia ter acontecido com o filósofo ao cão. Quando o cocheiro lembrou-o de falar onde era a casa, Rubião pediu para parar.

Capítulo 49

“O cão ladrou de dentro” quando Rubião chegou, recebendo-o com alegria. Rubião ficou imaginando que estava sendo observado pelo testador enquanto acariciava o cão. Viu nos olhos do cão o antigo filósofo. “Novo arrepio”. Envolto nesses pensamentos de que estava sendo observado para cuidar bem do cão e do pedido do filósofo, o mordomo espanhol pediu para levar o cão para baixo. Rubião pediu para que não desse pancadas. Mas só de sair dali, o cão já chorava, era doloroso o suficiente.

Capítulo 50

O narrador alerta que o dia ainda não acabou, pois havia ainda a perspectiva de Palha e Sofia. Alertando as leitoras, talvez tivesse uma história mais interessante ali do que do “caso do enforcado”. Palha falava mal dos convidados que foram embora. Sofia ria dos comentários. Até que ela tocou no assunto do melhor da noite, uma declaração de amor. Palha tinha ficado sério com a tentativa dele acertar o que era, ficou pálido ao ouvir. Não que não gostasse de expor tudo que ela era. Sofia “gostou da má impressão causada”. Ela soltou o cabelo e disse que era Rubião. Falou de como já recebeu outros olhares, mas nunca um comentário e ainda mais de como o fez no jardim. Mas Palha confiava nele, até mesmo de ter escrito o bilhete que o próprio Rubião ficou apaixonado e Sofia só o copiou. Só que nunca passou na cabeça que Rubião teria se apaixonado, “menos ainda a Sofia”. Ele sabia que Rubião ficava olhando para ela. Sofia não era inocente, mas eram “concessões de moça bonita”. Mas enquanto ficassem em olhares. Até chamou de tolice o que disse, podia ser coisa de poeta, moça de quinze anos ou tolos, sendo que os dois primeiros ele não era. Mas Sofia preocupava-se com a retenção das mãos. “Palha teve um calafrio.”. Ele poderia ir até Rubião e espancá-lo, mas também perguntou que ideia foi essa de ir ver a lua. Ela explicou que foi convidar D. Tonica, mas que ela não foi. Palha a culpou por ter dado chance. Sofia queria revidar, mas ainda disse que o próprio Palha falou para cuidar dos convidados com cuidado e atenção, mas que não sabia o que poderia acontecer no jardim antes. Palha recomendou evitar o jardim e a lua. Sofia não sabia como receber Rubião novamente. Palha ficou matutando, queria aprovar mas desaprovar Sofia, disse que estavam muito afetados pelo vinho. Ele ainda tentou perguntar da viúva Mendes que poderia ter chamado a atenção de Rubião. Tentou ver se poderia arranjar e se a esposa poderia suportar mais um tempo, pois ele devia muito mais do que apenas os presentes que Rubião comprava. Sofia ficou incomodada, apenas pediu que cortassem as relações. Palha tentava repetir o pedido para suportar, até que a pegou pela cintura e confessou que devia muito dinheiro. Sofia tapou a boca dele e olhou para o corredor, procurando quem pudesse ter ouvido. Aceitou continuar, que seria mais fria e que o marido, ao pedido dela, continuasse amigável. Ler página 24

Capítulo 51

Palha lia o jornal, Sofia chega. Enquanto esperava o almoço e após ler o jornal, Sofia ouvia o caso de dois comerciantes fazendo um saque e toda a tecnicidade, enquanto estava aflita. Sofia já pensava em deixar a cidade, tinha medo do Major Siqueira passar os boatos do que tinha visto. Pensava ser a culpada pela situação ter acontecido.

Capítulo 52

Nisso que Sofia olhava para a rua, um homem a cortejou, ela retribuiu. Nem sabia quem era. Lembrou, pois o rosto era familiar, de uma antiga festa que dançou com ele. Ela lembrou da festa e como era vista por todos, comentado por Carlos Maria no almoço de Rubião de outro dia. Sofia tentava dormir depois de pensar, não conseguia. Viu um carteiro andando na rua, que tropeçou e caiu. “Não pôde conter o riso.”.

Capítulo 53

O narrador pede perdão pelo riso. Pediu perdão, pois não é falta de compostura. Fez um paralelo com Homero e os deuses do Olimpo que riam de Vulcano, deus greco romano casado com Afrodite e que é traído constantemente. Pediu que para rir, bastava uma sombra de lembrança.

Capítulo 54

“Quinze dias depois”, Rubão recebe Palha em sua casa, não o tinha visto desde então. Palha se desculpou por não ter visto Doutor Camacho, mas Rubião pediu para que não se desculpasse. Pediu para Palha ficar, até para que pudessem ver a lua na enseada. Palha estremeceu. O silêncio era constante, mas Rubião e Palha não davam por ele. Doutor Camacho ficou aborrecido e foi ver a lua. Rubião queria ir, mas ficou. Palha queria esganá-lo, mas não o fez. Rubião soltou que ia se mudar.

Capítulo 55

Palha deixou de ter raiva de Rubião para ter pena. Rubião tentava praticar uma punição em si mesmo. Palha começou a pensar que poderia até ser bom para que o romance fosse embora.

Capítulo 56

Rubião ficou mal depois do episódio. Tinha vergonha. O narrador chama a atenção para o capítulo 10, que os remorsos do homem eram fáceis, mas de pouca duração, só que faltou a explicação de como eles poderiam ser curtos ou longos. O que tem de diferente em não ter mostrado a carta para receber a herança, ou qualquer coisa que o fosse na época, e da noite no jardim é que a moral é a mesma, mas os pecados eram diferentes. Queria passar dois meses em Barbacena, mas não sabia como dizer. Camacho discordou, parecia dominar Rubião.

Capítulo 57

“Camacho era homem político.”. Até mesmo enquanto estudava, já tinha ideias políticas. Como o jornal que tinha não tinha visões partidárias, as ideias eram inúmeras. O uso de adjetivos também o era para reclamar e criticar de tudo e todos. “Queria ser ministro, e trabalhou por obtê-lo.”. Falava muito, falava de várias formas a entender a visão geral. Amava política, entrava num ramo que os sonhos energéticos “evaporam com o tempo”. Elogiava quem tinha poder, procurando alguém que lhe desse uma pasta. Não dedicou a vida para mais nada, apenas a política. Comia bem.

Capítulo 58

Em um dia que para a casa de um conselheiro, viu Rubião. Viram um discurso de prestação de contas. Rubião ia que concordando com a cabeça, Camacho ouvia com atenção. Camacho convidou-o para almoçar falando que “os conservadores não se demoram no poder”. Discutiam sobre o jornal e Rubião gostava do amor pela política de Camacho. Camacho queria um lugar na câmara e Rubião via a jornada. O doutor tentou achar Rubião no dia seguinte, não o fez, mas agora que o achou, “vinha o Palha interrompê-los.”.

Capítulo 59

Rubião teimou que precisava ir a Minas. Perguntaram se estava aborrecido com a corte. “Ao contrário.”. Tinha saudades de lá, a terra natal tinha ambições que ele não alcançou, ainda mais quando saiu de lá homem. Estava “arrependido do gozo, e mal acomodado na própria riqueza.”. Camacho e Palha se entreolharam, entenderam o que cada um queria e o objetivo em comum dos dois – Rubião não podia sair dali. Palha ofereceu uma proposta de viagem de poucos dias, iria ele, Sofia e Rubião. Ele ficou empolgado, mas falou das eleições. Camacho adicionou que era coisa pouca e a viagem poderia ser de dia, que depois delas, poderia aproveitar mais Barbacena. A lua brilhava na enseada e Rubião até pensou em Sofia. Camacho se despediu. Palha quis falar que era loucura ir para Barbacena sem liquidar as dívidas. Rubião se fez de desentendido e perguntou até se Palha precisava de dinheiro. Palha pediu para que avisasse quando fosse, Rubião prometeu visitá-lo antes.

Capítulo 60

Rubião ficou com as ideias na cabeça dos dois de ir para Minas. No dia seguinte, recebeu um jornal que nunca viu, a Atalaia, jornal do Doutor Camacho, que descobriu logo depois. Porém, no caminho, viu uma criança que atravessava a rua e quase seria atropelada por um carro de cavalos. A criança tinha apenas um arranhão da queda, todos foram ver o acontecido. Rubião perdeu o chapéu que foi devolvido por um garoto, que queria fazer parte da glória e ganhou até uns cobres. Rubião machucou a palma da mão, a qual foi socorrida pela mãe do menino.

Capítulo 61

Camacho ficou interessadíssimo na história, perguntando detalhes que Rubião nem se quer tinha ideia. Rubião queria assinar, mas o que Camacho precisava era de assunto, corpo, o que ter para publicar. Tinha quase o capital que precisava, Rubião insistiu de investir os cinco contos, 1 milhão e 250 mil.

Capítulo 62

“Rubião despediu-se.”. Enquanto saia, uma baronesa argentina foi ver Camacho. Rubião descia mais devagar para ir ouvindo o que ela demandava, fingindo que não se enrolava. Rubião, em torno de tanto luxo e tanta coisa, ainda sentia-se o professor de Barbacena.

Capítulo 63

Rubião viu Sofia com uma senhora idosa e uma moça, falaram pouco e ele até olhou para trás, sem que olhassem para trás também. Ficou refletindo se ia de noite na casa, apostou que se um carro viesse da esquerda, não iria, se fosse da direita, iria. Acabou que veio da esquerda, mas teimou porque era um tílburi, carro de cavalo com apenas um assento traseiro, e não um carro. Apareceu uma caleça virando a direita, um carro com dois acentos. Decidiu ir para lá.

Capítulo 64

Duas senhoras passeavam com Sofia, uma era “tia da roça” e “autora da carta que Sofia recebeu no jardim das mãos do carteiro que logo depois deu uma queda.”, Dona Maria Augusta. Era viúva, tinha grana e dívidas. A filha era Maria Benedita, uma menina não tão bonita, mas não era feia, não gostava do nome por ser de velha. Era um nome da avó dela e afilhada do vice-rei. Sofia, contando a história para Rubião, dizia que o nome era bonito pela pessoa o ser. Rubião mal prestava atenção na história pois acariciava um cãozinho presente dele para Sofia, até ser apertado e responder que sim. Maria Benedita nasceu na roça e de lá gostava de ficar, ia para a cidade mas ficava pouco e já queria voltar. Sofia tentava puxar ela para a cidade, até para treinar piano, que tinha talento, mas tinha mais saudade da roça. Maria Augusta tentava incentivar a filha a aprender francês, outra coisa que se ria e perguntava a necessidade, já que era feliz sem e nunca fez diferença. Maria Augusta queria de todas as formas que a filha casasse, Maria Benedita ficava preocupada com a mãe que fazia drama porque morreria logo, não queria o desastre que aconteceu consigo para a filha.

Capítulo 65

“Curta foi a visita de Rubião.”. Até tentou esperar um pedido para ficar mais por Sofia mas nada veio. Ela trocava olhares, mas nada como da noite que fez a proposta de olhar para a lua. Ela agia naturalmente, ele titubeava. Desejou bem Palha que poderia aparecer logo, mas quem veio antes foi Carlos Maria. Pensou que era pela família da roça. Sofia lamentou que Palha não poderia ver Rubião. Carlos Maria acusou Palha de ter mau gosto, enquanto olhava o retrato de Sofia, já que ela era “muito mais bela, infinitamente mais bela que a pintura.”. Pediu atenção das senhoras para ver.

Capítulo 66

Rubião ficou surpreso em como Carlos Maria falava desta forma tão naturalmente. Para bom malandro, basta falar o que os outros desejam e gostariam de ouvir.

Capítulo 67

Rubião abriu o jornal Atalaia e leu o artigo editorial e outras notícias, viu o seu nome. Era o caso da Rua da Ajuda, que salvou o menino. Tentava ignorar, não gostava da atenção mas não detestava. Quis entender como que algo tão pequeno ganhou tantas proporções com tantos adjetivos. Amaldiçoou-se por ser linguarudo e não ficar quieto. Era como se fosse o oposto da história da avó de Quincas Borba, que morreu sem cerimônias ou Rubião que a salvasse. A história realmente era grandiosa em outros olhos, poderia ter se machucado mais ou até morrido. Eram adicionados alguns detalhes, que não achava ruim. Dizia que era nada, outros achavam que era até demais. “Contava a cena a alguns curiosos”. Teve até quem teve inveja, mesmo sem conhecer o aprendiz de filósofo. Foi falar para Camacho tomar cuidado, sem antes comprar mais edições para enviar à Barbacena.

Capítulo 68

“Maria Benedita consentiu finalmente em aprender francês e piano.”. Ela queria voltar logo para a roça, mas resistia. Carlos Maria até um dia pediu para que ela tocasse, a menina ficou vermelha. A mãe tentava puxar a filha para a vida da roça, ela foi criada assim, mas Palha finalmente convenceu a menina para que fosse para a cidade, para que pudesse ter uma chance para viver na cidade, onde havia união. Convenceu Maria Augusta que visitasse a filha de vez em quando e que ela também iria ser visitada pela filha e Sofia. Palha até sugeriu vender os negócios dela para que mudasse para a cidade, mas ela recusou. O começo foi difícil para se acostumar Maria Benedita, mas Sofia foi usando as distrações da cidade para acostumá-la. Os professores ensinavam e achavam gracioso a prima da roça que aprendia depois de tanto tempo. Sofia pedia para que ela descansasse entre estudos. Queria “recobrar o tempo perdido”. Aprendia novas palavras, ia para passeios que eram os descansos que Sofia inventava. Maria Benedita começava a brilhar no meio de tantos elogios que Sofia só podia ficar ouvindo. Sofia até tentou ensinar Maria Benedita a dançar, mas ela queria manter esse “bocadinho de casca da roça”. Sofia dançava bem, Palha só dançava pouco, apesar de Maria Benedita ter contado muito mais que poucos minutos.

Capítulo 69

Mas quem contou esses minutos foi o relógio de Rubião, já que Maria Benedita perguntava as horas para ele. Ela inclinou-se para ver a hora. Era cedo, queria ficar mais tempo, morava perto de lá agora. Passaram-se oito meses desde o início dos estudos de Maria Benedita. Rubião era “sócio do marido de Sofia, em uma casa de importação”, negócio que ia propor quando se deparou com Camacho na casa do aprendiz de filósofo. Apesar de entender muito mal dos números, cálculos e o tanto de conto de réis que ia dando, era convencido pela fala a continuar investindo. Palha investia com um membro do Parlamento que era da Inglaterra. Em casa, Rubião via os gastos do dinheiro que tinha e viu olhos de censura no Quincas Borba cão, com um “tom de censura” ao aprendiz. Apesar de querer o dinheiro de volta, pensava que Palha desconfiaria dele. Ainda queria vitória nas eleições. Mas ainda pensava em Sofia. Maria Benedita perguntou a Rubião se achava Sofia bonita, ao qual ele concordou. Ela estava bonita e bem decotada, o que já foi explicado no capítulo 35, usando as pérolas que Rubião as deu. Carlos Maria dançava com ela, tinha pose de rei, tal qual um imperador que “se admiraria da demora do ministério em vir cumprimentá-lo.”. Tal qual o episódio da lua, Carlos Maria convidou-a para passear, sabendo que ela queria descansar. Os galanteios duravam por 6 meses, apesar de uma pausa de dois meses que viajou para Petrópolis. Carlos Maria fez uma analogia do mar batendo com o coração dele que batia por Sofia. Diferente de Rubião, ele era mais decidido e sabia como disfarçar, Sofia é que ficou desconcertada. Ela quis sentar enquanto estava sentindo o olhar de todos que nem ouviram o que ele disse, mas Carlos Maria a deixou perto da sua prima, como pediu, e saiu do baile, mesmo ela pedindo rapidamente para ficar. Ler página 38

Capítulo 70

“Rubião cedeu a cadeira, e acompanhou Carlos Maria”. Antes de entrarem, Rubião o puxou de lado para que perguntasse algo que lhe atormentava. Rubião se contentava em vê-la de relance e do dinheiro que emprestava. Não tinha ciúmes de Palha, mas “a possibilidade de um rival de fora veio atordoá-lo”. O baile era na casa de Camacho, festejando o aniversário de sua mulher. No meio de tantas conversas, um homem “doutrinário” começou a falar que a punição moral sempre chegava, mesmo que não fosse em sua geração. As conversas começaram a se misturar, sem ninguém que concordasse ou fim que se chegasse. Carlos Maria se retirava, Rubião perguntou e achou estranho, já que via-o acompanhando Sofia até a carruagem das últimas vezes. Ele respondeu que só ficou para dançar porque Sofia era “mestra no ofício”. Rubião começou a ficar com ciúmes e foi vigiar Sofia.

Capítulo 71

Sofia reclamava do sarau e de como doíam suas pernas. Palha falava que era a má disposição da esposa que despenteava-se, se dançou muito, é que foi bom. Palha elogiou como Carlos Maria valsava. “Sofia estremeceu”. Sofia esperava ciúmes, já que ele mal falava bem de alguém sem ser vaidoso. Palha a beijou e ela não tinha tédio ou dor de cabeça como o episódio de Rubião. Sofia, como quem procurasse sinais, olhava para o mar e para toda a força que ele batia por ali. Ela relembrou de como Carlos Maria falou, “teve um calafrio” e o texto ficou ecoando.

Capítulo 72

Sofia sentiu a mão do marido em seu ombro, eles se despediram. Palha falou da prima da roça que estava mal e Sofia ajeitou a gravata do marido. Despediram-se mais duas vezes.

Capítulo 73

Sofia jurou pela própria mãe que não mais pensaria no episódio de Carlos Maria. Pensou que evitou um escândalo, já que ele poderia ter dito o mesmo na frente de todos. As frases ecoavam em sua cabeça.

Capítulo 74

Enquanto ela se vestia, banhava-se e decidia o que ia fazer no dia, ecoava as palavras de Carlos Maria em sua mente. O que mais intriga na comparação era o jeito que ela foi feita. Enquanto Rubião era clichê e usava a lua, Carlos Maria inventou uma situação totalmente inusitada que pegou até Sofia desprevenida do que poderia ser dito e até de poder parar ele antes do galanteio ser finalizado – é um misto de mistério, culpa e curiosidade. Só que Carlos Maria mentiu, não tinha ido lá. Pensou em se desculpar, mas achava que “a emenda era pior que o soneto, e que há bonitos sonetos mentirosos.”. Carlos Maria se deliciava da inveja e da ambição, pois teve Sofia. Só via um defeito nela – a educação, mal de ser jovem ou vício do casamento.

Capítulo 75

Quando saiu de perto de Sofia, Carlos Maria estava rodeado de mulheres, as quais se deleitava pela atenção. Carlos Maria gostava de Sofia, mas amar? Achou exagero. Saiu de casa irritado. Não sabia quais mentiras emendar e quais manter pela estética.

Capítulo 76

Carlos Maria montava bem o cavalo. Colhia todas as admirações, mesmo que fossem pequenas.

Capítulo 77

Sofia mandou Maria Benedita se levantar. A prima da roça ainda estava acostumada a “dormir com as galinhas e acordar com os galos.”. Sofia perguntou o que achou do baile, viu que não dançou. A prima disse que gostou do baile com a boca, e que odiou com o corpo. Não dançou porque não gostava, ainda menos da ideia de um homem apertando o corpo dela com o seu. Sofia perguntou se ela queria voltar para a roça, ao passo que Maria Benedita largou o jornal que fingia ler para responder que tinha saudades da mãe. Sofia não entendia, parecia tão feliz ali. Maria Benedita não respondia o motivo. Sofia disse que ela precisava casar e que tinha noivo – obviamente, era Rubião. Mas não revelou o nome, pois tinha ciúmes. Maria Benedita voltou a sorrir, pensou até que poderia ser Carlos Maria.

Capítulo 78

Rubião continuava insistindo em interrogar Carlos Maria, sem nunca encontrá-lo. Major Siqueira afirmava que Rubião precisava casar. Rubião pensou que poderia ser o episódio da lua, mas a filha do Major ainda estava bonita, só que agora com quarenta anos. Dona Tonica nem ficou feliz, só lamentava. O pai estava contente com as lembranças. Ler página 42

Capítulo 79

Depois que o Major saiu, uma voz perguntou o motivo de não fazer isso. Rubião viu apenas o cão. Achou estranho, mas acariciou o cão, com ternura e medo.

Capítulo 80

A ideia grudou tanto na cabeça que mal lembrou que suas pernas levaram o Major para a rua. Foi até o canapé pensar que estava entediado quando não tinha público. Ia até mesmo às sessões da câmara e audiências. A lembrança e visão de Sofia só piorava tudo. Lia muito ultimamente, especificamente Dumas e Feuillet. (explicar brevemente dos dois)

Capítulo 81

“Antes de cuidar da noiva, cuidou do casamento.”. Ficou pensando em tudo que poderia ser e lembrando de como gostava de ir ver o imperador. Pensava nas pessoas que iam, como chegaria ao local de coupé, os elogios que recebia. Era um espetáculo direcionado a ele, sem pensar quem era a casada.

Capítulo 82

Só que o sonho vinha com pessoas da nobreza, com títulos, por isso o fascínio com a nobreza. Fingia até mesmo assinar com os nomes que achava sonoros e tinha um almanaque com o nome deles. Mas quando conhecia as mulheres da nobreza, Sofia vinha em mente. E quem o acordava desses sonhos era a visão de Palha. Iam ao teatro com frequência, mas quando ela não lhe dava o braço, o dia era ruim. Conversava com Quincas Borba cão sobre, e o cão repetia as palavras do Major. Lembrou do filósofo e de como poderia participar do casamento e do brinde. “O espírito de Rubião pairava sobre o abismo.”.

Capítulo 83

Rubião foi ver Sofia, descobriu que Maria Augusta tinha morrido. Maria Benedita sofria, Palha pediu para que a visitasse. Falou do sofrimento e de como evoluiu, falou até dos negócios mas Rubião entendia nada do que o sócio dizia. Palha até ficou mais alegre e reteve Rubião que queria sair, falou que era o noivo que Maria Benedita tanto precisava. Rubião ficou surpreso. Palha achou estranho dele não saber da ideia por Sofia. Rubião disse que andava distraído. Os dois se despediram.

Capítulo 84

Mas Rubião se perguntava o motivo de Sofia não ter lhe dito. Pensou que ela não disse e mentia ao marido para que o projeto não andasse. Ficou calmo.

Capítulo 85

Mas não tão calmo. Não tinha com o que se distrair, era cedo para fazer qualquer coisa por ali ou por perto ou por longe. Pensou até em como que não se entediava em Minas mas o acontecia de ficar na capital. Lembrou que Freitas estava doente, foi visitá-lo. Conversou com o doente e disse à mãe, pobre, que a falta de dinheiro não devia ser vergonha. Deu seis notas de vinte mil-réis (3.500). Ela nem soube como agradecer, quando conseguiu se mexer, tentou correr até a rua para agradecer, “mas já não podia ver o benfeitor.”.

Capítulo 86

Rubião só refletiu a atitude espontânea depois. Sentiu alívio de não ser pobre. Passaram por um lugar que Rubião lembrou quando visitou a cidade pela primeira vez. A praia mudava de estética de casas formosas para locais com apenas canoas e crianças descalças. As pessoas ali perceberam os olhos de Rubião. Gostou de ver as risadas, mas começou a ver de novo a arquitetura da corte. Ficou feliz de ser rico. Ler página 46

Capítulo 87

Rubião foi andando pela Rua da Saúde sem prestar atenção ao sair do tílburi. Passou por uma mulher nos 25 anos, mais pobre do que bonita. O filho dela se atrapalhou nas pernas de Rubião. Ela ficou nervosa com a criança. Mais uma vez, a visão de ter uma família assombrou Rubião. Olhou de volta para a mãe da criança e pensou em candidatas. Pensou em Dona Tonica, pensou em Sofia, cada uma tinha uma música conjugal.

Capítulo 88

Lembrou do Freitas novamente. Pensou que fez bem em deixar o dinheiro. Até pensou que deixou demais ou de menos, mas queria se esquecer disso.

Capítulo 89

Voltou ao tílburi, querendo escapar das ideias. O cocheiro perguntou o que ele achou, disse que gostou e que voltaria mais vezes. O cocheiro riu. Rubião ficou pensando se era algo que disse ou até maneirismos de Minas, mas não chego à conclusão nenhuma. O cocheiro, como soubesse que ficou quieto muito tempo, confessou que não acreditava que Rubião estivesse admirado pelo bairro, pois era o jeito que olhava para tudo, inclusive que olhou para a mulher. Rubião fingiu que não sabia da mulher que trombou. O cocheiro continuou falando que era bom guardador de segredos, tal qual viu a história dum moço da Rua dos Inválidos. O moço entrou, disse que ia ver a costureira da mulher na Rua da Harmonia. Como Rubião prestava atenção, o cocheiro verificava se continuaria contando, já que quem fica contando fofoca presta atenção se alguém lhe ouve. Quando chegou na casa, a mulher se apressou para que ele entrasse na casa.

Capítulo 90

Rubião começou a matutar se a história era com Sofia e Carlos Maria depois de sair do tílburi. Ficou tão neurótico que ouviu a canção da cigarra falando o nome dela. Pensou na história da cigarra e da formiga.

Capítulo 91

A campainha tocou. Tentou manter a feição calma para os convidados. Achou os convidados na sala de visita e teve um desejo repentino de dar a mão para beijar, mas “reteve-se a tempo, espantado de si próprio.”.

Capítulo 92

Rubião foi visitar Maria Benedita que preparava um vestido de luto. Ela estava encantadora. Rubião mal acompanhava a conversa. Maira Benedita havia feito uma comissão de mulheres para a epidemia de Alagoas. Os homens só participavam com dinheiro, ria Maria Benedita disso que dizia si mesma. Rubião ajudou com uma quantia grossa. A comissão ajudaria Sofia a ter mais evidência. Sofia não entendia o motivo de Rubião sumir de tempos em tempos. Rubião disse que era sem motivo. Apareceu um diretor de banco que queria falar com Palha. Sofia foi com ele e deixou Rubião.

Capítulo 93

Rubião ficou impaciente e andava de um lado para o outro, ouvia algumas frases soltas de Palha, mais do que ouvia do diretor. A costureira perguntou as horas e estava atrasada para ir para a Rua do Passeio, tinha que ir à Rua da Harmonia também.

Capítulo 94

Sofia viu Rubião transtornado, ele dizia que era nada. O diretor logo saiu e Palha agradeceu a visita. Rubião não conseguia sair, recusava tudo, até mesmo os caprichos de Sofia e o tílburi de Palha, queria caminhar de noite.

Capítulo 95

Rubião tentou achar a costureira no caminho. Tinha tão em mente que queria vê-la que trombou em um homem e só continuou andando.

Capítulo 96

O homem que foi empurrado era o diretor do banco, estava bem contente. Só que ele tinha tido um bom dia. O ministro foi jantar com ele, ouviu as ideias longas. Sentiu-se humilhado por tentar agradar. Só que Palha o tratou bem, o que faltou no ministro sobrava no sócio de Rubião. Ruminava “os rapapés de Cristiano Palha.”.

Capítulo 97

Rubião continuou seguindo e viu um homem com a costureira. Perdeu eles. Voltou para dormir mas não conseguia. Queria comprar a informação e ter a qualquer custo. Foi olhar para o céu e lembrou da promessa do Cruzeiro. Ficou pensando no quanto o Cruzeiro era distintivo e até uma honra. Fechou a janela e foi dormir. Acordou com o criado espanhol com um bilhete.

Capítulo 98

O bilhete era de Sofia, ela e Palha ficaram preocupados com Rubião. Deu dinheiro ao mensageiro e ofereceu dar mais se precisasse. Entregou uma carta e até perguntou a ele como as moças estavam. Repetiu a pergunta antes dele ir embora e não sabia mais o que pergunta. O menino se foi.

Capítulo 99

Rubião ficou matutando de como não enviou nenhuma flor do seu jardim, pensou que o luto era mais chamativo. Viu uma carta caída no chão do moleque, era de Carlos Maria. Queria abrir. Queria esganar Carlos Maria com todo o dinheiro que tinha. Ler página 51

Capítulo 100

“Nenhum dos habituados da casa compareceu ao almoço.”. Estava tão acostumado com gente, comentários e graças que comer sozinho era comer nada. Davi e Camacho apareceram, o primeiro tinha uma candidatura para Rubião. Ainda assim, ficou pensando no conteúdo da carta, com “a esperança de descobrir que não havia nada.”. Rubião duvidava da candidatura e da influência de Camacho, mas o outro confirmava que conseguiria tudo em seu devido tempo. Ainda denunciou que a política era como a religião, gostou tanto da analogia que escreveu em um papel para fazer um artigo. Rubião temia os olhares e o poder da política, até teve vertigem de pensar.

Capítulo 101

Freitas faleceu. Rubião chorou escondido e custeou todo o enterro. A mãe dele quase caiu aos pés, mas Rubião não deixou, os convidados ficaram impressionados. Um convidado tentou chamar a atenção, dizendo que foi demitido, foi o perseguindo enquanto Rubião relutantemente segurava uma das argolas do caixão. Participou de toda a cerimônia, bem triste e choroso. Quando foi embora, ouviu um comentário que parecia senador.

Capítulo 102

Rubião voltava de carro, viu até mesmo o ministro que ia para o despacho imperial. Rubião pensava no amigo morto e no som do galope.

Capítulo 103

“Ao sétimo dia da morte de Dona Maria Augusta, rezou-se a missa de uso”. Rubião foi e viu Carlos Maria. Ele ainda tinha a carta que viu cair três dias atrás. Sofia estava lá também, Rubião a via tão bonita. Rubião começou a perguntar para Sofia do costume dela de escrever cartas. Ficou triste e cada vez mais preocupante porque ele falava que gostava dela. Sofia pedia silêncio, porque não é que alguém chegava, mas ele aumentava o tom de voz. Ela tapou a boca dele antes que pudesse continuar e decidiu sair dali.

Capítulo 104

Sofia retornou momentos depois, Rubião foi ter com ela que já colocou os dedos no lábio para que ele fizesse silêncio. Sabia que ele era bom e que aceitaria que tudo foi só um episódio se ele se arrependesse. Porém, Rubião não se arrependia. Acusou da manipulação dela e mostrou a carta. Ela ficou pálida ao ver o nome de Carlos Maria. Ela quis saber como o tinha e até pediu que lesse. Rubião até foi puxado pelo braço, mas ele foi mais forte e saiu de lá. Sofia ficou, “com medo dos criados”.

Capítulo 105

Sofia ficou inquieta com a carta. Pensou como que Rubião a tinha. Pensou até nos possíveis boatos. Começou a chamá-lo de bobo. Ria de nervoso dele. Lembrou das palavras de Carlos Maria, de como era bonita e como todos, inclusive Rubião, não a achariam? Ficou matutando a mudança de Rubião, tinha medo de recebê-lo sozinha, como o fez em um dia e mentiu que não estava em casa.

Capítulo 106

Porém, o narrador intervém para dizer que a história de tudo que ouviu era mentira. Não foi por excesso do cocheiro, mas paranoia de Rubião. O nome das ruas veio por convenção da mulher que Rubião viu no passeio, e além do fato que o jeito que ele se vestia cabia de onde morava. Ler página 55

Capítulo 107

Porém, apenas Sofia ficava pensando no que poderia ser de Carlos Maria. Não o amava e nem tinha expectativas.

Capítulo 108

“Durante alguns meses, Rubião deixou de ir ao Flamengo.”, mesmo que se forçando a não ir. Tanto em não saber do que pedir perdão como o de ver Carlos Maria e de que fazia muito tempo que não ia, Rubião não aparecia. Foi visitar Palha no armazém, disse que tinha muito o que fazer. Sofia, porém, esperava mais a visita do que Palha, queria se explicar, nunca conseguiu. Rubião veio dar dinheiro para a subscrição para Alagoas, eram 5 contos de réis (1 milhão e 250 mil). Palha até pediu menos, já dizendo que era muito. Rubião riu, escreveu o número 1 na frente, totalizando 15 contos de réis (3 milhões e 750 mil). Palha advertiu que tivesse cautela com o dinheiro, com o capital, ele sabia mais do que Rubião possuía porque cuidava da grana do que o próprio aprendiz de filósofo. Palha nem entendia porque colocava tanto. Rubião dizia que era que sabia que não ia perder dinheiro e que eram para negócios. Palha ficava incomodado, sabia onde investir, até mesmo os últimos investimentos de Rubião iam mal. Rubião ouvia tudo, de como investia sem ouvir Palha ou seguir os instintos, agradeceu e recusou tudo. Palha até falou que devolvia os dez contos, mas queria saber o motivo de não visitá-los mais. Rubião sentia ironia, “como de pessoa que soubesse de tudo, e risse dele.”. Convidou para jantar e não podia.

Capítulo 109

“Rubião sonhou com Sofia e Maria Benedita.”. Viu-as de saia, costas despidas. Rubião segurava um chicote e as castigava sem misericórdia. Elas choravam e pediam misericórdia. Em comparação com Álvares de Azevedo, era metáforas para a Imperatriz Eugênia. Hamlet dizia que era um método. Rubião pediu para retirar as mulheres e enforcar Palha. Sofia aceitou ir na carruagem com Rubião. O aprendiz de filósofo sentia-se Luís Napoleão, o cão Quincas Borba ia no carro. Rubião acordou.

Capítulo 110

“Rubião fez os dous empréstimos e o negócio.”. Pagou dívidas da Atalaia de 1 conto e 200 (30 mil) e investiu em negócios do porto. Camacho falava energético de como era desvalorizado pelo povo que tanto defendia e que reergueria o serviço, tal qual colocou o dinheiro no paletó. Camacho contava de ataques aos inimigos políticos como forma de correção. A candidatura ia mal por conta da oposição. O narrador analisa como a política é feita de concessões de quem está no poder.

Capítulo 111

Rubião gostou do artigo, ainda que tenha mudado de estratégia de atacar a política. Ficaram insistindo em um som de “v” em “vis vendilhões”. Camacho ficava feliz com as adições do seu investidor na sonoridade dos artigos. Prometia que todos iriam ser castigados.

Capítulo 112

O narrador pensa de como queria fazer um sumário de como tudo acontecia, tal qual os velhos livros. Mas o narrador culpa o leitor. Se queres ler, basta ler.

Capítulo 113

Mas, ainda como se fosse para agradar o leitor, disse que o título poderia ser “de como Rubião, satisfeito da emenda feita no artigo, tantas fases compôs e ruminou, que acabou por escrever todos os livros que lera.”. Rubião era satisfeito de ser autor de frases soltas.

Capítulo 114

Porém, o próximo capítulo não teria o mesmo título.

Capítulo 115

Rubião conseguia não ir mais ver Sofia, quiça o Flamengo. Até a viu em um carro, cumprimentou ela de volta. Ficou surpreso com a fineza, mas pensou que eram as outras pessoas do carro que a viam. Foi andando até chegar ao Banco do Brasil, Palha estava por ali, comentou que viu Sofia. Perguntou como o sócio estava. Palha ficou incomodado que ele não lembrava do aniversário de Sofia, pediu para que ao menos fizesse o favor de uma xícara. Assim como Palha desviou da pergunta, Rubião tentou desviar também. Rubião falou que iria, comprou um presente, uma jóia de 2 contos, 50 mil reais. Enquanto Sofia se arrumava, a criada trouxe o presente de Rubião e ficou lá esperando para ver o que era. Sofia ficou espantada e perguntou do entregador. Ficou pensando em tudo que passaram e da generosidade, sabia que ele o adorava. Ela ficou se admirando no espelho, tal qual ainda tivesse 25 anos, e o tinha fisicamente. Rubião ficou pensando que Carlos Maria estaria lá e que não teria dado presente melhor. A comissão de Alagoas e Carlos Maria estavam lá. Rubião foi, com outro olhar, Sofia até deu a mão e viu que tinha outro passo. Rubião ficou vigiando os olhares de Carlos Maria e Sofia. No meio da festa, Rubião até tentou falar com ela sobre o que aconteceu da carta, ela deixou uma lágrima cair. Tentou sair dali e Rubião tentou fazer com que ficasse. Sofia disse que Maria Benedita e Carlos Maria iriam casar. Para quem tinha pouco tempo, foi falando muito de Maria Benedita. Saiu da sala e deixou Rubião.

Capítulo 116

Rubião ficou surpreso com tudo isso, não achava que “era Maria Benedita que casava com Carlos Maria”, viu que tinha se confundido todo. Foi até conversar com Maria Benedita, já que ele foi abordado por ela que procurava a prima. Rubião a elogiava ternamente, era bonita, não tanto quanto Sofia, mas tinha sua beleza, Carlos Maria não a elogiava desse jeito, só pensava na felicidade conjugal como um troféu.

Capítulo 117

O casamento foi breve. Até pensaram que a catástrofe de Alagoas foi útil para este casamento. Falou da história de uma choupana que pegava fogo. A dona da casa chorava na frente. Um bêbado passou e perguntava se era dela, pediu permissão para acender o charuto. Ler trecho da página 62.

Capítulo 118

Voltando ao casamento, Maria Benedita claramente de vista gostava de Carlos Maria. Desde o começo que não sabia do nome, ao qual Sofia guardava que era Rubião, aconteceu todo o desastre de Alagoas e formou a liga, conheceu outras mulheres. Dona Fernanda quando conheceu Carlos Maria tentou empurrar uma outra menina, trocaram ofensas irônicas, desde o gosto até a religião. Gostava de conversar com mulheres, achava bem melhor do que falar com homens. Passado tempo e também da morte de Maria Augusta, deixou a outra pretendente para depois e firmou de casar Maria Benedita com Carlos Maria. Dona Fernanda gostava de ouvir a lamúria dos outros, era o completo oposto de Sofia. Maria Benedita ficava confusa, gostava de Carlos Maria, mas não sabia se compor e agir como uma casada, tal qual Fernanda afirmava que deveria gostar do marido, mas não mais do que Deus.

Capítulo 119

Dona Fernanda prometia que ter um marido era melhor que qualquer sonho, apesar deles poderem ser maus e custarem a irem embora. O marido de Dona Fernanda, Teófilo, reclamou. do discurso dele dito e passado ao jornal. Dona Fernanda tentava consolar o marido, até esqueceu e não percebeu Maria Benedita ali. Dona Fernanda conseguiu acalmar o marido que “ao almoço, já ele sorria”.

Capítulo 120

“No Domingo seguinte, D. Fernanda foi à igreja de Santo Antônio dos Pobres.”. Viu o primo, Carlos Maria e se surpreendeu dele ali, Teófilo, por exemplo, mal passava ali. Falou que saindo dali podiam almoçar, mesmo sem convite, só precisavam decidir na casa de quem. Dona Fernanda tinha notícias a Carlos Maria, tinha alguém para casar, mas não contava que era Maria Benedita, era uma mulher que ia sofrendo e se acostumando a ficar solteira. Carlos Maria se aborrecia com tanto misticismo da mulher que a adorava. Fernanda até trocava de assunto, falava da casa, dos filhos. Até que Dona Fernanda disse o nome de Maria Benedita. Começou a ir ver mais vezes a menina que não confessava em palavras mas tinha o rosto e os modos de vergonha com ele. Assim foi que descobriu, tempos antes ainda dizia coisas doces à Sofia, agora descobriu que tinha uma pretendente.

Capítulo 121

Rubião ficou contente que Carlos Maria estava para casar. Ainda pensou nas lágrimas de Sofia quando confessou o mal-entendido. Ele sentia que Sofia queria ser entendida e que a lágrima era um arrependimento da alma.

Capítulo 122

Rubião ficou contente demais que Carlos Maria estava para casar. Casaram dentro de três semanas que Rubião ouviu a notícia. Carlos Maria ficou feliz com o evento, mais o evento do que a mulher. Estava acostumado com “olhos admirativos”, mas tinha outro aspecto esse dia. Até os arredores eram diferentes, os comentários. Porém, Carlos Maria ainda era um admirador de ruínas. Via os contrastes de casas desbotando com as novas borboletas. Mas já via Maria Benedita grata a ele, ajoelhada, suplicando e devota.

Capítulo 123

Mas Maria Benedita pensava o mesmo, com a mesma atitude.

Capítulo 124

“Casaram-se; três meses depois foram para a Europa.”. Dona Fernanda estava muito feliz. Cantou uma música italiana de como era bom ser feliz vendo a aurora.

Capítulo 125

Sofia não foi para a Europa e mandou o marido, estava doente. Porém, sentia vergonha, o sentimento que a deixou doente. Não embarcou pois ficou lembrando de como Rubião disse que a faria Imperatriz. Pensou se era um pretexto de amante, mas achou ser essa intenção “demasiado vaidosa”. Viu que todos os homens passavam, até Carlos Maria passou, mas Rubião ficava. Leu no romance que alguém merecia ser amado. Fechou os olhos e ficou pensando. A escrava, achando que ela dormia, deixou o caldo e saiu nas pontas do pé.

Capítulo 126

No cais, Palha e Rubião ficavam calados. Palha disse que precisava “dizer-lhe uma cousa importante.”.

Capítulo 127

Rubião estava sonhando enquanto via o paquete – grande embarcação que transporta mercadorias. Ficou pensando no que via na frente, de pessoas, nacionalidades, olhou para o distante e pensou na vastidão do mar e no que poderia até existir na imaginação. Acordou com a fala de Palha.

Capítulo 128

Foram almoçar para que Palha contasse a coisa importante a Rubião. Ele queria liquidar os negócios para ser diretor em um novo banco. Rubião achou que era para o ano que vem, mas ele queria no mesmo ano, até disse que a coisa era certa, precisava fazer tudo logo, ainda que Rubião não entendesse a pressa, e que o Camacho já tinha garantido o lugar para Rubião. Até perguntou se essa liquidação era para separá-los como amigos, Palha disse que não, até perguntou como que poderiam ser amigos se os negócios não estivessem a parte. Só que Palha só pagava o que tinha emprestado, não o que devia. Ainda tentou entregar a Rubião o dinheiro, mas Rubião não aceitava. Palha ria e gostava da cena. Ler página 69

Capítulo 129

Não havia banco, Palha queria toda a grana, inventou a história para ser o único em lucro. Palha tinha um bom dinheiro, tinha capital em bons lugares, precisava crescer com essas jogadas. “Vagamente pensava em baronia.”.

Capítulo 130

O Major se lamentava que Palha não os convidava para mais nada. Dona Tonica pediu que o pai não falasse assim. Moravam em outra casa, agora um sobradinho. Rubião dizia que era confusão e não havia nada de especial. Desde a comissão de Alagoas que o Major Siqueira percebia a mudança de comportamento agora que ficava cada vez mais rico e o Major ficava cada vez mais pobre. Dona Tonica ainda tentou defender que quiseram saber do estado de doença dela tempos atrás com um moleque, coisa que nem mandaram para que fossem convidados ao aniversário. Até chorou o Major, a filha por ver o pai chorando.

Capítulo 131

Rubião parou de defender os Palhas na frente do Major. Major até pediu que fosse jantar, mas que avisasse antes, pois era “jantar de pobre”. Rubião disse que viria quando pudesse e Dona Tonica o viu indo embora pela janela.

Capítulo 132

Dona Tonica foi ler Saint-Clair das Ilhas, o qual já tinha decorado. Dona Tonica pediu para que comprasse comida enlatada para ter um jantar quando ele aparecesse. O Major só tinha dinheiro para o vestido da filha. Falou que deixavam para o próximo mês, falando que haveria chance e tempo.

Capítulo 133

O narrador tinha coisa para contar, mas os capítulos se atropelaram. As relações de Rubião aumentaram por ajuda de Camacho. Era famoso pela barba e bigode, peito largo, sobrecasaca justa e uma bengala de unicórnio, “um ricaço de Minas.”. Até a história de ser discípulo de filósofo adicionaram, era uma lenda, apesar de nunca falar de filosofia. Tinha até discípulos, que ouviam as palestras e até se acostumaram a dar ordens aos criados. Até emprestou dinheiro aos novos discípulos, que não recebia de volta. Quincas Borba era adorado por todos. Apesar de Rubião não gostar da primeira vez, Quincas Borba comia as migalhas que iam no colo dos discípulos. Explicou como dentro do cão vivia o maior homem de todos os tempos. Tentando conciliar sua vida com os discípulos, mandou que o jantar fosse servido às 6 horas, ele ali ou não. Alguns até tentavam disfarçar, mas a maioria seguiu as ordens do aprendiz de filósofo.

Capítulo 134

Os discípulos aproveitavam a ausência para fumar os charutos que ali estavam. Os discípulos iam desde os acostumados aos móveis para os que se deleitavam com os charutos. Dois bustos estavam ali, o de Napoleão primeiro e Napoleão terceiro. O criado espanhol achava tudo bobo.

Capítulo 135

Rubião tinha livros e diplomas a ele. Era sócio de congregações e colocava seu dinheiro em tudo. “Assinava jornais sem os ler.”.

Capítulo 136

O cobrador do jornal do Governo foi mandado ao diabo pelo Rubião, que o pagou mesmo assim. Ficou intrigado como tinha gente que adorava e não pagava pelo jornal.

Capítulo 137

Se o dinheiro saiu, a imaginação vinha para Rubião. Se antes ficava entediado esperando outros, agora tinha muito o que fazer. Comprou uma tetéia de bronze para a filha do Camacho, ela ia fazer aniversário.

Capítulo 138

Sofia ia bem. Ganhou até apelido de “o anjo da consolação” no jornal Atalaia. Ficava lisonjeada, mas não a alegrava. Na outra edição, as outras mulheres foram elogiadas. Palha exagerava nas novas relações e Sofia o censurava. Sofia ia removendo as amizades antigas. Os trinta anos chegaram. Nem via mais se os homens a verificavam.

Capítulo 139

Foi ver a Sofia, desejou defender o Major mas ela interrompia sempre. Até disse de ir passear, mesmo que Palha não fosse. Sofia, mesmo com Rubião já fazendo planos, negou. Mas Sofia tinha vontade, só que usava Palha como desculpa. Até imaginou eles andando a cavalo.

Capítulo 140

Não era um cavalo, era corcel, encaixa melhor na situação.

Capítulo 141

Rubião insistia, Sofia também, por motivos e coisas diferentes. Ela até disse para irem hoje, mas Rubião tinha visitas. Ficou para depois. Rubião foi embora. Sofia pensou que ele era um homem aborrecido. Ela começou a ver algumas rosas, que eram duas. Há uma comparação de que as rosas mostram bem o passar do tempo e de como a ira consome tudo. A rosa é símbolo de amor e desejo. Como as rosas podem ser eternas? Depende do jardineiro. Há um conflito de Sofia entre amá-lo fora do matrimônio e desprezá-lo. Sentia-se má e injusta.

Capítulo 142

Sofia perguntou o mesmo para outras plantas, “e não lhe disseram cousa diferente”. Até pensou que a frase “pensar com os seus botões” fazia sentido. Ler página 74

Capítulo 143

Foram passear, Sofia caiu do cavalo. Otelo até diria que era uma bela guerreira, Rubião limitou-se a dizer no começo que parecia um anjo.

Capítulo 144

O joelho de Sofia machucou. Ficou preocupada se ficou despida, Palha jurou que não. Palha apreciava o corpo da mulher e Sofia ficava nervosa de Rubião ter visto algo. Palha disse que não e perguntou se ele repetiu o episódio de Santa Teresa. Sofia disse que não. Pediu para jurar, ele jurou por Deus e o que era mais sagrado a ele, por ela mesma. Ficou feliz com a mulher que era dele, e até queria que Rubião tivesse visto o começo da perna da esposa.

Capítulo 145

Rubião, no dia seguinte do passeio, decidiu se barbear em casa. Lucien, um oficial francês, foi cedo a pedido de Rubião. O aprendiz de filósofo estava contente.

Capítulo 146

Quincas Borba cão não gostava do francês, mas Rubião o repeliu, o cão obedeceu. O francês lamentava a barba que ia retirar, testemunhou que aquilo era para agradar mulher. Rubião concordou. Queria o rosto como de Napoleão III. Apesar de até haver um busto de referência, o francês teimava em continuar ou atender os pedidos de Rubião. Finalmente atendeu às demandas e ficou sério. Depois de tanto serviço, Rubião achou que estava parecido. Os bigodes não eram muito compridos, o francês disse como deixar parecido. Deu vinte mil-réis, 500 reais, pelo serviço, apesar do francês afirmar que não tinha troco.

Capítulo 147

Rubião ficou numa poltrona, pensando em ideias de ministros e embaixadores. Imaginou-se indo à lua.

Capítulo 148

“Quando desceu da lua” ouviu o cão. Até pensou que a cara nova era muito diferente, mas era boa, aprovada pelos discípulos. Camacho gostou e aconselhou que mantivesse o rosto. Rubião ouvia e concordava. Parecia agora que nem era um imperador e o aprendiz de filósofo, mas era só imperador.

Capítulo 149

Sofia achou curiosa a transformação, Rubião perguntou do joelho, ela estava melhor. Ela achou que a mudança seria por conta dela, Rubião pensou que estava melhor, o que ela acreditava. A luva dela caiu no chão, foram os dois pegar e bateram um o nariz do outro. Riram-se. Rubião foi já que o carro chegou.

Capítulo 150

Rubião ajudou Sofia a entrar no carro, mas ele pulou para ir com ela.

Capítulo 151

Mal conseguiu pedir que parasse. Ela tinha medo do escândalo e não pediu para parar o carro. Sofia tinha medo que vissem os dois juntos e ele propôs abaixar as cortinas. Apesar de ser um cenário parecido com o de Santa Teresa, ali ela não podia fugir e estava enclausurada. Entretanto, Rubião “não dizia nada.”.

Capítulo 152

Sofia estava encolhida, talvez de medo, mas “principalmente repugnância.”. Ela até pensou onde estavam os sonhos bons antigamente com ele, mas ali tudo desapareceu. Tentou pedir que ele saísse ou ela saía, até tentou ajoelhar para pedir, ele a parou antes de completar o movimento. Pediu pela mãe dele, que ele disse que era uma santa. Ele disse que não saía, que até obedeceu as cortinas porque ficava aborrecida. Iam como um casal cansado. Ele não pedia nada de volta. “Era um inexplicável, um monstro.”.

Capítulo 153

Rubião falou, dizia que jamais um homem esquecia o primeiro amor correspondido. Dizia até que os dois pareciam naturalmente casados. Sofia temia que alguém o ouvisse. Ele lembrou da primeira vez que se viram e como ele a acalmou. Até disse que beijou a soleira da porta e teve que parar para não beijar os degraus. Sofia o chamou pelo nome, mas ele era Luís Napoleão, para ela, “Luís. Sou o teu Luís”. Sofia planejava como tirá-lo daí, o destino final era o armazém do Palha. Ele dizia que até o vento era indigno de tocá-la e que temia que Palha zangasse-se com ela. Mas não queria que ela se sentisse mal, podia castigá-lo e não o fazia. Deu o solitário a ela, ainda que não o quisesse. Ainda ia dar outro melhor, queria que pensasse no título de duquesa para ter. Antes que chegassem, Rubião pediu que o carro parasse.

Capítulo 154

Rubião saiu do carro mas voltava à normalidade, conversava, tirava dúvidas e entrava nas lojas. Sofia mergulhava no devaneio.

Capítulo 155

“Espalhou-se a nova mania de Rubião.”. Alguns testavam e outros encaminhavam conversas de negócios da França para ele. Rubião caia ao abismo.

Capítulo 156

A guerra franco-prussiana chegou e abalou ainda mais os devaneios de Rubião. Lia as notícias, contava os mortos e sempre achava uma vitória. Os discípulos e amigos não desconversavam e iam no devaneio. Cada um tinha uma patente militar. Mesmo que ele ordenasse ataques, já os via cumpridos na mente, com eles fazendo algo ou não. A casa ia desbotando-se, a prataria ia se perdendo, mas a linguagem parecia a mesma de Quincas Borba ainda em Barbacena.

Capítulo 157

Sofia tinha compaixão, pois sentia-se culpada pela doença em ser a loucura dele. Tinha compaixão pois ele o amou até a loucura.

Capítulo 158

Dona Fernanda até perguntou o motivo de não o tratarem, Palha disse que não era grave, pois não fazia nada de mais, “era rico, mas gastador.”. Teófilo pensava ser bom tratá-lo. Dona Fernanda tinha uma carta de Maria Benedita. Era uma carta de quem viaja para um lugar novo, nada de mais, exceto o post scriptum que dizia que estava grávida. Ela tinha uma dualidade, tinha um excesso de compaixão e informações em excesso de Carlos Maria. Soube se recompor e disse que estava feliz.

Capítulo 159

A manhã era de sol, apesar de Sofia sentir que chovia pelo espírito da alma, quando acordou, começou a chover. Estava com espírito de defunto pensando da carta que recebeu e das memórias de Carlos Maria. Pensava em como ele a movia e também do caco que era Maria Benedita para transformá-la em pessoa da cidade. Até pensou em como Dona Fernanda entregou a carta e como o deputado Teófilo elogiou o vestido de Sofia, que era cor de palha, o marido dela ficou cheio de vaidade, era um vestido que mostrava muito do corpo, e olhá-lo era olhar Sofia por inteiro, coisa que Teófilo o fez. Ficou remoendo, adicionando e multiplicando pensamentos.

Capítulo 160

“A chuva cessou um pouco”. Sofia até tentou sacudir os pensamentos e sair. Há uma comparação com Diógenes, filósofo grego do cinismo. Até pensou em amar de volta os bilhetes dos namorados. Porém, a chuva voltou espessa.

Capítulo 161

Sofia ficou em casa lendo, leu um livro de Feuillet, “Na Revista dos Dous Mundos”. Enquanto lia, sonhou que recebia as palavras de ternura de Rubião e Carlos Maria, mas aceitava com prazer. Acordou assustada com o sonho que acabava com um beijo de sangue na mão. Palha viu tudo sem ligar, pensava em negócios. Sofia temeu ter chamado o nome de alguém enquanto dormia. Ela até disse que sonhou que matavam Palha. Ele gostou da ideia, queria até mais sonhos que o matassem para vê-la com ternura, gritando agoniada.

Capítulo 162

“No dia seguinte, o sol apareceu claro e quente, o céu límpido, e o ar fresco.”. Sofia passeou e fez visitas. Tanta gente boa e bonita fez tudo de ruim de desaparecer do dia anterior. Ler página 83

Capítulo 163

Todos os maus pensamentos voltaram para onde moravam. O remorso existe sempre em algum nível, mas ali estava aceitável.

Capítulo 164

“Um só incidente afligiu Sofia naquele dia puro e brilhante”, ela viu Rubião. Fingiu não o ter visto enquanto comprava um livro e fugiu para a rua. Dias depois, até viu Rubião na casa de Dona Fernanda, apertaram mãos e ele foi embora. Sofia perguntou se ia lá com frequência, ela disse que foi umas 5 vezes, sendo que apenas a segunda vez ele veio delirando. Ele podia até sarar, mas tinha olhos distantes, Dona Fernanda pediu que Palha fizesse uma intervenção. Sofia disse que apressaria o marido, até pensou que Rubião tivesse dito algo de Sofia, mas o delírio por si só explicaria tudo. Até perguntou como que Dona Fernanda não tomasse conta do assunto, ela disse que era muito trabalho e já tinha, até pensou em como seria no futuro se tivesse que tomar conta dele. Sofia impressionou-se com a generosidade de Dona Fernanda.

Capítulo 165

Palha alugou uma casa na Rua do Príncipe e meteu Rubião e Quincas Borba cão lá. Os discípulos e amigos de Rubião entenderam a mudança e continuaram a visitar a casa antiga do aprendiz de filósofo, estavam muito acostumados. Palha avisou que ele precisava de descanso. Até ouviu quem diria que tinha de ser feito antes o exílio. Outros acompanharam a ideia. Mas mal podiam se separar, estavam acostumados com a convivência e nem poderiam pensar em se separar.

Capítulo 166

Rubião notou o sumiço, chegou a convidá-los, ninguém veio. Pensou até se “fizera algum mal”, mas não achou nada.

Capítulo 167

Doutor Falcão disse que até podia ficar bom, Dona Fernanda tinha esperanças. Ele achou que era menos da família do que era de Sofia. O Doutor Falcão disse que a fez duquesa “por não poder nomeá-la imperatriz”, achou até que se amaram. Dona Fernanda achou tudo muito sem fundamento, ainda que o Falcão achasse que poderia se arranjar tal situação facilmente. Falcão até achou que Rubião poderia amar Dona Fernanda, já que era uma mulher tão prestativa.

Capítulo 168

Doutor Falcão pensou nisso a noite inteira, há uma comparação de Hamlet. Não contou a mais ninguém suas suspeitas.

Capítulo 169

Carlos Maria e Maria Benedita voltaram, Dona Fernanda podia focar em outra coisa que não fosse Rubião. Dona Fernanda estava feliz demais, quis saber de tudo, ainda mais se Carlos Maria a amava e se ela era feliz com o casamento. Carlos Maria ouvia as confissões da amada, mas tinha opiniões singulares. Não gostava do afeto como demonstração pública, o bebê não era para ser festa, não entendia como Maria Benedita poderia ser outra coisa que não feliz no casamento. Queria estar só. Maria Benedita estava entediada com o relacionamento, Carlos Maria cedia, mas ela só ficava com incômodos. Só lembrava das palavras de Maria Nazaré que fazia a vontade do senhor.

Capítulo 170

Quando ficaram sozinhos, Maria Benedita achou que Carlos Maria estava aborrecido. Ele recusava, ela repetia, ele sorriu um sorriso debochado, que ela detestava. Maria Benedita repetia os gestos e conversa, achou até ter sido excessiva – o que sabia que era. Viu isso do costume da felicidade expansiva quando na colônia brasileira em Paris. Ela prometeu ser menos tagarela, Carlos Maria a perdoou pois ela tinha pedido isso, diz que até mesmo o feto tinha ficado feliz.

Capítulo 171

Rubião gritou que era assim que queria ver o casal, Maria Benedita até se afastou de Carlos Maria. Carlos Maria não fez muita comoção, Rubião foi sentando sem ser convidado, falavam da queda do Ministério de Rubião, disse que iria falar com Palha. Disse que queria Carlos Maria nele e de outros colegas. Maria Benedita se retirou. Carlos até estendeu a mão para se despedir de Rubião, voltou a pedir que fizesse parte do ministério. Saiu da casa, mas ficava fazendo pausas e demorava, dizia fatos da guerra. Maria Benedita olhava de longe, quando foi para a rua, ficou rindo de como gesticulava. “Carlos Maria, porém, olhava plácido.”.

Capítulo 172

Maria Benedita relembrou Carlos que, se o ministério caiu, Teófilo era o ministro. Ainda viram Rubião parado na rua, esperando carro ou outra coisa.

Capítulo 173

Carlos Maria exclamou ao pensar no primo ministro, perguntou se Maria Benedita gostaria de vê-lo ministro. Pensou que ele seria um bom ministro. Carlos pensou que ela gostaria dele se fosse qualquer posição, até pensou que ela poderia ser rainha e ele imperador. Carlos Maria voltava a ler, Maria Benedita ficava calada, alisando o cabelo, saiu dali e deixou-o lendo.

Capítulo 174

“Rubião foi à casa de Dona Fernanda”, mas ele não podia entrar. Esperavam o médico, segundo o criado. Rubião não teimou e saiu. Havia uma comoção pois a mulher falou que ela precisava do médico, mas quem estava abatido era Teófilo. Uma criada fofoqueira ouviu a ama chorando e se lastimando. Ela pedia que ele sossegasse, viviam bem, não havia motivo para pegar mais trabalho. Ele estava em choque por não fazer parte de nenhuma pasta, ainda que fosse ativo na política.

Capítulo 175

Fernanda chamava-o para jantar, ele levantou-se com raiva e dizendo palavras raivosas. Ele ficava mais incomodado com a gente que ali estava do que não ter recebido nenhuma nomeação. Queria até dizer ao Imperador sobre toda a canalhice. Até foi ao gabinete, tentava achar algo para escrever enquanto terminava uma ideia que parou no meio. Ele estava decepcionado pelo trabalho meticuloso que fazia, de guardar jornais, arquivar informações e da organização. A mulher tentava consolá-lo, pedia até para passar um ano em Varsóvia, pedia pelos filhos e para que passeasse, porém a política era tudo para Teófilo, sair dela era “sair da própria pele.”. Gostou da ideia e agradeceu a mulher. No jantar, um dos filhos mais velhos disse que queria ser ministro, o pai disse para ser qualquer outra coisa.

Capítulo 176

Teófilo recebeu uma carta no outro dia da Ordenança. Achou até que podia ser um cargo, mas não era, era uma chamada de última hora, pensou que era conferência.

Capítulo 177

Era um pedido de assumir uma presidência, iriam viajar, a pedido do marquês. Até perguntou a Fernanda se teria como recusar, ela concordou com Teófilo que não tinha como.

Capítulo 178

Despediu-se dos pertences do gabinete na casa, iriam ficar separados por quatro meses. Ela prometeu que deixaria os livros limpos.

Capítulo 179

Rubião ficou sabendo de nada. Vivia com o cão e o criado, trabalhava mal e gostava do título de marquês. Rubião tinha poucas crises, ainda que tentasse se segurar em lembranças e vistas de amigos que ainda mantinha, como Camacho e o Major. Foi visitar Camacho, até tentou falar de política, o amigo lhe recebeu quieto, ele foi embora como se entendesse os pormenores, falou que voltaria quando estivesse menos atarefado, pensou que teria lhe machucado.

Capítulo 180

Encontrou o Major, ele mudou de casa e Rubião achou-o na rua, acompanhou-o até a nova casa. Tinha boas notícias, Dona Tonica os recebeu com um novo vestido e ia casar. Era um homem de meia-idade que a visitava na janela, chamado Rodrigues, “cabelo curto, raro, olhando espantado para a agente, cara chupada, pescoço fino e paletó abotoado.”. Tinha filho prestes a morrer de tuberculose, era empregado no Ministério da Guerra, viúvo. Sonhava em ter filhos e pedia a Nossa Senhora, o chamaria de Álvaro.

Capítulo 181

Casariam em cinco semanas, não era capitalista mas Rodrigues ganhava dinheiro. Major ficava feliz de se livrar do trambolho que chamava de filha, mas Dona Tonica estava tão feliz que não ligava para a vexação. Rubião disse que o pai teria saudades. Major até pensou que poderia casar. Rubião começou a surtar. Major e Tonica tentavam convencê-lo a sair de casa, mas ele delirava com um carro que não viria. Rodrigues apareceu para visitar a casa, Major tentou convencer que havia um carro na praça, coisa que o Rodrigues viu pela piscadela que deveria seguir com a mentira. Cumprimentou o novo noivo, iria dar presentes, até tentou olhar para trás para ver Dona Tonica que nem na janela estava, pois estava com o noivo.

Capítulo 182

Rubião foi só andando, chegou até o paço imperial, falava com uma imperatriz, que não se sabia se era Sofia ou Eugênia. Crianças corriam em volta dele chamando de “gira”, de maluco. Uma das crianças, Deolindo, foi chamado pela mãe. Rubião entendia tudo como uma aclamação e agradeceu. A criança foi, mas não antes de gritar para Rubião pela última vez.

Capítulo 183

O filho era uma peste, mas o marido achou estranho que a mulher não reconheceu quem salvou a vida do filho. A mulher ficou pálida, não tinha certeza, o homem falou que o era, mas não o tinha visto desse estado. Amaldiçoou as crianças e a falta de polícia. Queria trazê-lo para casa, mas teve medo de ser vaiado pelas crianças. Virou o rosto para não ser reconhecido por Rubião. A mãe teve medo do filho endoidecer por castigo divino. Ler página 94

Capítulo 184

Rubião foi até a casa de Dona Fernanda, os vadios já tinham ido embora, ele ainda andava como imperador. As pessoas comparavam como ele andava em um palacete fantasmagórico, ainda que a casa real deles fosse pior, era real.

Capítulo 185

“Rubião foi recolhido a uma casa de saúde.”. Palha não cumpriu o que Sofia pediu e Sofia nem se quer lembrava da promessa. Cuidavam de outra casa no Botafogo. Palha e Falcão o acompanharam para a casa, Rubião até pediu que fossem sábado para uma revista militar, eles falaram que iriam, Rubião enviaria um carro novo, um que jamais foi tocado para Sofia poder sentar.

Capítulo 186

Falcão achava que realmente Sofia e Rubião foram amantes.

Capítulo 187

O Quincas Borba cão não foi, teve que ser segurado, tal qual em Barbacena. Dona Fernanda, pedindo o consentimento do diretor, pôde levar o cão. Iria escrever para Sofia mas foi ela mesma até lá.

Capítulo 188

Sofia falava de como Rubião foi rico, enquanto andavam pela casa dele, mas como estragou tudo. Tinha nojo da imundice, o criado se quer se incomodou com as visitas. Tentaram abrir as janelas, procuravam o que podia ser sentimental, além de procurarem o cão. Estava no quarto, magro, abatido. Ele foi até Dona Fernanda, que mal sabia o nome dele. Ela o acariciou, ele comia mal e chorava muito, sentia falta do dono. Sofia até disse que estava se enchendo de pulgas, Dona Fernanda se conectava nos olhos da simpatia do animal e não escutou-a.

Capítulo 189

“Saíram. Sofia, antes de pôr o pé na rua, olhou para um e outro lado, espreitando se vinha alguém”. Foi voltando aos poucos na delicadeza que tinha. Falou a Dona Fernanda da loucura de Rubião. Até a convidou para ver o palacete.

Capítulo 190

A filha de Maria Benedita nasceu. Ela esqueceu momentaneamente do louco para acudir a mulher tão boa de Carlos Maria.

Capítulo 191

A ideia é que ficasse bom entre seis a oito meses segundo o diretor. Dona Fernanda até convidou Sofia a ver o doente, podia fazer bem. Palha contou os bens finais de Rubião, eram três contos e duzentos, 80 mil.

Capítulo 192

O tempo passaria logo, dizia Dona Fernanda. Sofia dizia que até poderia vê-lo, mas não tinha ânimo de vê-lo assim. Nesse meio tempo, também, Teófilo voltou, caiu o ministério, o marido de Dona Tonica morreu três dias antes de casar, Camacho escrevia sobre a lei dos ingênuos e a casa nova foi inaugurada de Palha e Sofia. Sofia estava irradiante e usava jóias, algumas presentes de Rubião. Todas admiravam a “trintona fresca e robusta”, mas alguns falavam com pena da virtude conjugal de amar demais o marido.

Capítulo 193

Dona Fernanda levou ao marido uma carta, ele trabalhava já cedo, ainda que ontem fosse o dia que inauguraram a casa de Palha e Sofia. O diretor da casa de saúde anunciou que Rubião sumiu da casa faziam 3 dias. Ele melhorava e o sumiço o assustou. Apesar de não ter interesse em Rubião, gostava de mandar cartas para pessoas de alto escalão, por isso atendeu o pedido da mulher de pedirem para achá-lo.

Capítulo 194

Rubião e Quincas Borba cão haviam ido para Barbacena. Rubião encontrou-se com Palha, disse que estava bom mas queria pagar quem lhe tinha servido bem, pediu cem-mil réis de Palha, 2500, que o deu de bom grado e sem hesitar. Palha falou que falaria com o diretor. O diretor disse que precisava de meses, não apenas dias.

Capítulo 195

Quando chegou, bradou o lema de Quincas Borba filósofo, mesmo que tenha esquecido da alegoria toda. Foi até a igreja, havia ninguém para recepcioná-lo. As memórias vinham de tudo, mas ninguém vinha. Pensou que não soubessem que chegou.

Capítulo 196

Começou a chover fortemente. Andavam sem rumo e esperança de pouso. Pensou em parar na farmácia mas apenas continuou.

Capítulo 197

Rubião pensava nos banquetes em vez de ter forme, recurso que faltava a Quincas Borba cão. Quando Rubião parava, podia dormir e ignorar a fome, mas o dono continuava andando por aí sem rumo e sem motivo, ele apenas o seguia.

Capítulo 198

Exclamou de novo “ao vencedor, as batatas”, já fazia sol.

Capítulo 199

A comadre de Rubião encontrou os dois e os agasalhou, deu abrigo e almoço. “Rubião tinha febre. Comeu pouco e sem vontade.”. Ele tentou até explicar, mas a comadre entendia nada. Até tentou chamar a vizinha para ajudar a entender o homem sem juízo. As pessoas ouviam os boatos e viam de perto o doido. Aconselharam prendê-lo, não fazia bem ter doido por perto. O mesmo médico que tratou Quincas Borba filósofo tratou de Rubião, mas ele disse que era nada ao médico, apenas que capturaram o rei da Prússia, exigiam 5 bilhões de francos.

Capítulo 200

Rubião morreu dias depois. Não antes de ser coroado. Tomou força, o corpo cedeu, pediu que guardassem a coroa e mal conseguiu terminar o bordão, morreu. “A cara ficou séria, porque a morte é séria”.

Capítulo 201

Quincas Borba cão agoniou na morte, fugiu em busca do dono e morreu na rua. O narrador até pergunta se o nome do livro é do cão ou do filósofo. “Questão prenhe de questões”. Pediu para chorar quem quisesse ou risse. O Cruzeiro, que Sofia nunca mais olhou, está alto para que ninguém possa ver riso ou choro algum.

O livro passa em um tempo entre 3 anos e 5 anos. No primeiro, ele gastou 6.800 reais por dia, no segundo, 4.100 reais por dia. O Neymar ganha 1.17 milhões por dia. Elon Musk ganha 354 milhões por dia. Palha pensava em ser barão, ele precisaria dar 750 mil réis, 80 mil reais.

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Eça de Queirós / Queiroz FUVEST 2025 Literatura Portuguesa Resumo de Cada Capítulo Vestibulares 2024

“A Ilustre Casa de Ramires” de Eça de Queirós – Resumo de Cada Capítulo

É comum que Eça de Queirós tem uma tese em seus romances, seja para provar ou refutar. “Velha Casa de Ramires / Honra e Flor de Portugal”

Eça de Queirós foi filho bastardo de nobres, ele tinha propriedade material para falar da corrupção dos valores.

A obra foi publicada em 1900, mesmo ano de sua morte, talvez a versão fosse definitiva, mas era comum que Eça relesse as obras e fizesse alterações (como as inserções que existem sobre a África)

A história é contada por duas narrativas históricas, a história da torre e de Gonçalo na política.

Grande presença de discurso indireto livre.

Narrativo majoritariamente intrusiva, mas com acesso a outros pensamentos

Há inserções da discussão sobre a África no período do neocolonialismo, mapa rosa e o ultimato inglês na reescrita, já que Eça de Queirós reescrevia constantemente suas obras antes de publicar.

Há elementos de um romance de formação, como uma narrativa que ensina jovens a irem para a fase adulto, com ensinamento de moral, ética e destino.

O que define um clássico e uma obra-prima? A obra-prima dele é “Os Maias”, mas a obra é considerada uma maturidade narrativa de Eça de Queirós.

A obra possui 12 capítulos, em um tempo de 4 anos e 4 meses, sendo que acompanha-se a história de Gonçalo do início da escrita de sua novela histórica e sua tomada de posição de Deputado de Vila-Clara nos 11 capítulos iniciais e 4 anos se passam para o capítulo final.

Capítulo 1

Gonçalo Mendes Ramires, “o mais genuíno e antigo fidalgo de Portugal, escrevia sua novela histórica. A biblioteca da torre tinha um aspecto clássico de boa posição financeira, mas de má-cuidada. Ele olhava para a torre, propriedade da família desde o século X, família também bem antiga. O narrador detalha e compara a família e seus antepassados e de seus encontros com figuras históricas, meio que sobrevivendo entre sorte, valentia, uma mistura dos dois, de lutas, episódios estranhos, sorte, uma mistura dos três, mas com uma coisa em comum, a família ia perdendo poder e espaço na nobreza em Portugal. Gonçalo era ordinário, começou nas letras naquele ano. Havia uma onda de recuperar Portugal e sua tradição, iniciada com o período literário do Romantismo de Portugal. Até celebrou que escreveu 3 páginas e fez um banquete, sendo celebrado como o Walter Scott português, prometia escrever dois volumes e acabou de receber um R da escola. Havia uma movimentação nacionalista, os alunos olhavam para o passado que Fernão Lopes escrevia com intenções de trazer tudo de volta, inclinavam-se para a política e observavam o que acontecia nos discursos. No que passou de um tempo, passou para o Quarto Ano e perdeu o pai, Gonçalo foi abandonando a ideia dos dois volumes e deixava de tocar no assunto. Mas alguns dos amigos, D. Guiomar e José Lúcio Castanheiro, lembraram dele em Coimbra e iriam ressuscitar o “sentimento português”, pediram sua colaboração em “Os Anais de Literatura e de História”, sobre o seu avoengo Tructesindo Ramires, eles desejavam que o estilo arcaico e a tradição portuguesa da obra poderiam ser uma obra inestimável. Mesmo que procrastinasse, era coisa de lusitano, pediu que tomasse o trabalho no verão, precisaria de um conto, de 30 páginas, mas não receberia dinheiro, não que Gonçalo parecesse precisar. A família de Gonçalo ia perdendo poder e relevância, mas era uma mudança de eras em Portugal, esse retorno ao passado não se relaciona com o momento histórico. Gonçalo ficou com a promessa e pensando em um poema que sempre recitava de menino do protagonista agora do conto, de como o outono chegava e amarelava as folhas, ele aceitou escrever o conto porque já tinha a ideia e a vida do antepassado. Ele fumava um cigarro e pensava que agora teria uma obra moderna, boa de ser escrita. Tinha até um modo de escrita, como começaria, ajudado com um pouco de plágio, e o nome da obra, “A Torre de D. Ramires”. José Castanheiro achou o nome sublime, era bom, o antepassado que ali conquistou e o descendente de 700 anos depois escrevendo a história. Pediu a um criado os livros da família para analisar tudo. Já tinha de inspiração histórica a família e a inspiração poética do poema que recitava de criança e das obras de Walter Scott, só o tornaria uma prosa, atividade que parece ser simples. Aproveitou o calor da tarde para aproveitar a vista e ser interrompido por uma lembrança de uma noite de bebedeira de Manuel Relho, ex-caseiro da família, alcoólico e violento, que fez um desastre de machucar objetos e pessoas e foi mandado embora. Pensou que arrendaria um dos lotes da família com um papo de que era de família nobre, o lavrador só queria que ele ficasse em silêncio. Ficou empolgado, pegou um charuto, falava sozinho e escrevia, mas a história não saia com facilidade. Era muita responsabilidade de um grande passado histórico para um moderno nobre fraco.

Capítulo 2

Gonçalo tinha ficado no divã o dia todo, era mais de 17h e pensou em caminhar. Curiosamente, seu nome significa “salvo no combate”, “salvo na guerra”, ou até mesmo “disposto a participar de toda luta”. Ouviu a voz de Titó, António Vilalobos, um parente. Convidou para entrar, beber e depois passear, mas Titó convidou-o para cear na casa de Gago. Ele aceita o convite, mas reclama de como está com dor em vários órgãos e precisava de algo com galinha cozida. Mas assim que Titó se foi, decidiu ficar de jejum, pensando nos benefícios de tal ato. Chamou os criados e nada. Viu apenas em silêncio a arquitetura antiga da morada da família. Achou-os, disseram que não o ouviam, Rosa o convenceu a tomar um caldo, como ele nunca ia contra os preceitos dela e de Bento, aceitou não ficar mais de jejum. Rosa conta de uma viúva, Críspola, com vários filhos que faleceu. Gonçalo decide mandar a comida que era dele com a panela e dinheiro. Prometeu que visitaria depois e pediu que falasse à família, assim como pediu que Bento subisse com água quente. Ficou analisando a cara toda. A única coisa que lhe incomodava era o cabelo, mesmo que cuidasse tão bem, estava calvo. Tem pensamentos de sua vida política, social e financeira, nenhuma delas ia bem e precisava pensar no que faria. Tinha que agir e decidir, não queria ficar como a torre, “emperrado, sem veia, com o fígado combalido”, mas também não fazia nada. Bento traz a água. Foi buscar um remédio com todo o cuidado que sempre tem com tudo, Gonçalo falou que era para Bento e Rosa tomarem também. Viu um pergaminho com os anos de 1577, aludindo às vésperas das viagens para a África, fato que foi sendo adicionado ao longo da obra como tópico histórico e social nas re-escritas da obra. Falaram do pergaminho, de como a família o recebeu, de como a política mudava de reis que davam renda para idosos na política que poderiam dar lugar a jovens, como, obviamente de forma irônica, Gonçalo. Falaram de D. Ana Lucena, uma menina de classe social econômica baixa, mas bem bonita. Encontrou Titó e João Gouveia e foram logo para a casa para que ele pudesse saciar sua fome “Ramírica”. Contaram algumas histórias absurdas de política e de bêbados. Gonçalo comeu bem. Discutiam sobre a venda de Lourenço Marques aos ingleses, a denominação antiga da cidade de Maputo, capital de Moçambique. Começaram a falar que os regeneradores poderiam negociar com gente melhor, mas a política é sempre a mesma gente, fazendo as mesmas coisas, com análises excelentes sobre o passado e péssimas sobre o futuro. Falavam de como o Alentejo estava abandonado. Sem chegar a nenhum ponto mas não concordando em nada, viram as horas e precisavam ir embora. Curiosamente, toda vez que Gonçalo se referencia ao pai ele o chama de “papá”, quase como de forma infantilizada. Gonçalo discutia com João Gouveia sobre o Governador Civil, aquele criticando e este o defendendo. Titó reconcilia os dois com seu carisma, um pede desculpa ao outro, ainda que tenham se defendido. Pensavam até agora em pensamentos filosóficos. Agora, Gonçalo ficava pensando em uma família que tinha uma rivalidade antiga, a família Cavaleiro, em especial André Cavaleiro, que tinha aspirações políticas e era apaixonado por Gracinha Ramires, era um amor correspondido, mas não maior do que a paixão de André por política. Gracinha ficou para lá, ainda que os pais dos dois aprovassem a união. Ele até escrevia para Gracinha, mas a distância era cada vez pior, só que o pai não oprimia o futuro político. Gracinha pensava que ele logo teria férias e voltaria, mas ele estava indo para a Europa. Enquanto via a situação financeira após a morte do pai, Gracinha se apaixonou por José Barrolo e foi correspondida. Casaram e passaram-se 2 anos. André retornou como Governador Civil do Distrito. Ainda que Gonçalo tenha avisado de André, José não proibiu suas visitas e André cortejava Gracinha. Voltou à realidade com alguém lhe chamando. Enquanto andavam, Gonçalo ia ouvindo uma serenata, tal qual um bardo, de Videirinha a respeito da família Ramires. De noite, seja lá por ter comido muito ou lembrar de André, teve pesadelos e lembrava da família e ancestrais. Ao acordar, tomou o sal de frutas e se sentiu melhor. Ficou se sentindo tão bem que voltaria a escrever, inspirado nos pesadelos e em eventos históricos. Pensou nas mulheres históricas e da família. O correio chegou e ele tinha uma carta da irmã, estava perto do aniversário dela e ele queria ir a Lisboa, resolveria algumas pendências e compraria um guarda-chuva a ela. Empolgado com as ideias e a história, escreveu a convocação dos Ramires à batalha.

Capítulo 3

O Fidalgo da Torre trabalhava nas horas de calma, o almoço esperava o fim da escrita do capítulo 1, sobre a construção do Castelo de Santa Irineia, com outras personagens históricas. Na obra que se mescla com a narrativa de Gonçalo, Tructesindo encontra-se com Mendo Pais, havia notícias da disputa de damas com o rei, mas o antepassado estava determinado a defender sua honra. Como forma de imersão, há uma descrição da época pela construção, arquitetura, móveis e ações das pessoas. Há uma descrição irônica de Tructesindo, ele é velho e gordo, a família fala de decadência e de desonra, mas ele age como se fosse alguém maior do que tudo na terra. Discutem até da raiva e da confiança que tinha de seus conhecidos, coisa que empolgou até Gonçalo na escrita. Fechou os tomos e estava rejuvenescido com o seu antepassado lírico. Ficou sabendo que Manuel Pereira, apelidado de Brasileiro por ter terras no Pará, estava por ali. A sala estava bem enfeitada e bem posta para a visita. Apesar de toda a preparação e o elogio de Gonçalo da fidelidade política de Pereira ao Sanches Lucena, Manuel não ficaria. Gonçalo reclamou do guardanapo não novo e cheiroso e soube que Manuel comemoraria o aniversário do neto. Gonçalo até falou da falta de atitude do político, mas Manuel mantinha-se fiel a ele, aceitando as críticas. No que falavam do político, Gonçalo ia começar a comer e sentiu que Manuel queria arrendar a torre, o que era verdade, mas ele já tinha negócios com o José Casco dos Bravais. Até ficou sabendo do preço e achou tudo uma pena, já que gostava da propriedade, dizia até que valia mais, aí a história do José Casco mudou, que ele até veio visitar e ver o lugar, foi mais de uma vez, falava que sim, que não, veio com a família, o Fidalgo até foi flexível no preço final mas não via mais ele depois de ele ter que tratar das assinaturas. Casco ficou analisando a situação, ofereceu o preço de um conto e cento e cinquenta mil réis, disse que não daria nada para a família e, por gosto do lugar, deixava o pomar e a horta para benefício. Trataram de assinar tudo no próximo sábado. Chegaram a falar que não dava em segundo pensamento, tinha negócios em outra cidade com a irmã. Na saída, Gonçalo pergunta se Casco sabia a saída e ele dizia tudo de forma bem lembrada, que até conversaria com Rosa no caminho. Gonçalo saboreou os duzentos mil réis extras e fumava charuto. Foi até adiar a égua para escrever mais, leu Walter Scott, ficou irritado e jogou os livros na parede. Depois de montado na égua, viu Feitosa, um velho mendigo bem mal apresentado. Conversaram de onde ele mendigava e outras pessoas e foi trotando, viu de longe um coxo. Ele cumprimentou e contou as desgraças que lhe passavam. Sofria de chagas e de morar longe, Gonçalo ofereceu a égua. Lógico que recusou, mas uma braveza de ensino superior ordenou o coxo a subir, ele obedeceu. Ele encontra D. Ana e Sanches Lucena, que observam assustados tal cena e vêem o coxo com um aspecto bom. Combinaram o caminho de volta e D. Ana olhava para tudo assustada, mas ainda assustada com as luvas de Gonçalo sujas, que prontamente jogou longe. Eles recordaram-se de um baile passado. Depois, perguntaram ao Sanches o que ele tinha. Estava mal, mas podia arrastar uns anos. Gonçalo pensava que a política lhe fazia mal, mas Sanches gostava de tudo. D. Ana ficava feliz com a conversa de Gonçalo, Sanches e ela admiravam o fidalgo. Começaram a falar de música enquanto Gonçalo fumava, falavam de Videirinha e também de seu fado aos Ramires. Falam de Titó e Sanches fica feliz de lembrar dele. D. Ana lembrou da saúde de Sanches do frio e de se recolherem. Sanches elogia a propriedade. Gonçalo recusa o passeio de carruagem pois esperaria a égua ali. Ficou sendo idolatrado por levar um lavrador a cavalo. Esperava um amigo na torre. Quando eles foram embora, Gonçalo ficava pasmo de como o assunto era chato e como a mulher era insuportável, ainda que fosse bonita. Queria era desabafar tudo com Titó. O filho do Solha logo chegou com a égua. Recebeu o recado de um menino que não ia ter visita, havia uma festa de alta classe e nem ficou sabendo. Mandou dizer, mentindo, que tinha uma festança na torre também. Pensando na mentira, avistou de longe um homem que ficava vendo a propriedade, achou até que o conhecia, mas ele logo sumiu.

Capítulo 4

Gonçalo vai até a casa de Barrolos, conhecida como Casa dos Cunhais. É uma grande moradia, melhor vista pela luz da manhã. Gonçalo vê que André Cavaleiro chegava em um cavalo preto. Ficou tão envolvido no ódio que até esqueceu os presentes da irmã. Foi reclamar com José Barrolo de forma jocosa sobre André Cavaleiro, ele Barrolo achava graça de tudo, até de Gracinha, que suspeitava ter ganhado peso. Como Gonçalo é um fracassado e não casaria, deixou o trabalho do sangue da família continuar com ela, ainda pior que queria que fosse um menino e se chamasse Tructesindo, tal qual o antepassado. Gracinha quis saber da torre e Gonçalo contou do episódio do Manuel Relho. Gracinha pergunta do bem-estar do irmão e das ceias com o Titó, ele contou tudo e enfeitou algumas partes. O grande problema do Romantismo foi que a popularização do sofrimento humano se tornou trivial. Em vez de grandes questionamentos e sofrimentos que marcaram a época serem a norma, rapidamente muitos começaram a ser triviais, como é o foco de crítica do Realismo, ao qual Gonçalo tem dor de barriga por comer demais e não gosta de uma pessoa por pura birra. Ficou falando de como gostava de D. Ana e Gracinha não entendia como. Gonçalo perguntou do padre Toeiro e do resto da família, o padre estava escrevendo um livro de bispos, Gonçalo aproveitou para falar que também escrevia um. Gracinha pouco se interessa, fala até que a família o via como embaixador, e menos ainda com a ideia de ir para a África, como ele falou. De novo, viram o André Cavaleiro enquanto conversavam sobre o peso um do outro. Apesar de não se relacionar com André por imposição do Gonçalo, ele via na amizade a possibilidade de relações sociais de valor muito bom, tentou trazer um pouco de calma ao Gonçalo, falava de política, coisa que o irritava. Aqui, se vê política não só como o assunto, mas também as relações sociais da classe nobre. Enquanto tomava banho e se sentia incapaz, viu a Maria Mendonça. Trocaram elogios, eram íntimos. Por fim, ela se foi e encontrou Padre Soeiro, dizendo que ele não ia mais à torre. Falou até que tinha feito negócios, mas como toda pessoa que não sabe ficar quieta quando ganha vantagem, o padre sabia dos rumores da troca de comprador. Até discutiram da musicalidade de um dos poemas escritos e de como não iam aos cafés para discutir de política. Titó apareceu por lá, Gonçalo até perguntou de como não foi a sua festa inventada e Titó falou que esqueceu de um aniversário de “dia sagrado”. O Barrolo perguntou quem era D. Casimira, a aniversariante, Gonçalo acabou com ela de tantas ofensas, Titó tentou emendar com alguns elogios. Gonçalo tentava mudar de assunto para falar de outra coisa mas Barrolo insistia. Gonçalo é uma péssima pessoa para conversar de outras pessoas, ele não se interessa nas capacidades políticas ou até do que pode ganhar com as amizades, tudo que ele pode projetar de ruim ele o faz e ainda diz aos outros, como se estivesse fazendo um favor de se isolar de todos. Você pode até querer falar o que quer, mas existem normas básicas de sociedade que vão fazer você ser isolado por não ser suportável a ninguém. Começaram a falar do Governador Civil, mais uma vez, Gonçalo usou o momento para fazer uma piada. Barrolo estava constrangido. Tentou até elogiar, falando que ouviu boas coisas dele, mas nem adiantou, até ofendeu o Administrador na sala. Perguntaram ao padre Soeiro como ele era tão jovem, dizia que o sofrimento edificava, o Administrador achou o ensinamento péssimo. Foram ao tópico da viagem de Gonçalo para a África, zombavam das ideias e do que ele podia fazer lá, ainda mais dele querer ser deputado. Gonçalo esperava como se já tivesse pensado durante um banho uma discussão que tivesse resposta, réplica e tréplica. Fez uma analogia com Portugal ser uma fazenda. Aceitaram a comparação, mas ainda não entendiam a África. Avistaram as duas Lousadas, fofoqueiras temidas da cidade. Vigiavam se iam para lá, relaxaram porque parecia que não, elas bateram na porta, fingiram não estar ali. Depois que se acalmou e de Gracinha esconder a sangria, eles fofocaram sobre a transferência do Ricardo Noronha. No meio da fofoca, o Gonçalo até ajuda uma mulher com uma criança, mas ficavam incomodados em como o trataram mal. Gonçalo ia pensando em um plano de manchar a imagem de André Cavaleiro. Pensou que isso poderia machucar Gracinha, mas ver a queda e a má-fama que isso traria ao André Cavaleiro o saboreava mais. Foi correndo, pediu sossego, pois escreveria uma carta anônima expondo a situação para o jornal Gazeta do Porto. Fez analogias, falou do passado histórico, denunciou a política vergonhosa e assinou como Juvenal, trazendo ironia à situação. Foi falar tudo a Barrolo com deleite, falando como se fosse um herói, mas se disfarçando de uma fofoca. Ao final, até se toca um pouco do fado dos Ramires, Gonçalo se delicia com tudo. Ler Página 131

Capítulo 5

Apesar de esperar o que aconteceria com o escândalo na Gazeta do Povo e temendo ser descoberto, ainda que tivesse assinado com nome fictício, Gonçalo esperava na torre o desfecho. Saboreava um vinho, trazido por Titó. Em um passeio a cavalo, viu uma mulher bonita, pediu instruções para puxar assunto e soltou uma cantada. Logo em seguida, vinha um caçador com uma espingarda que viu a cara de Gonçalo de quem cantava mulher. Passou bem perto, intimidando Gonçalo e até raspando o cano da arma próximo a ele. “Gonçalo picou a égua”, como sempre fazia ao sentir temor. Olhou para trás, o caçador sorria e até acenou para o fidalgo. Há uma descrição da fauna e da vista da região. Recebeu uma carta do Castanheiro que perguntava da obra, se ela estaria pronta para o grande anúncio e também um subtítulo. Isso o motivou a escrever o capítulo 2 da sua obra. Ele narra um fato de Lourenço Mendes Ramires, filho de Tructesindo, semelhante a sua jornada de cavalo pela passagem. Lopo de Balão era apaixonado pela D. Violante, filha mais nova de Tructesindo, e o pai da menina tinha ódio secular e recusava o amor ao mais velho de Baião. Lopo tentou raptar a amada durante a primavera, mas foi parado em uma luta de adaga. Os dois entraram em guerra por meses. Gonçalo se empolgava em lembrar da história da família pelos poemetos. Lopo e Lourenço travavam guerra e lutavam um contra o outro. Lourenço tinha desvantagem, ainda que Lopo o quisesse vivo, ele preferia a morte. Ficou cativo. Lourenço lamentava que ele e Lopo podiam ser amigos. Dessa forma, Gonçalo, após 3 dias, terminou o capítulo 2. Viu alguns fogos ao longe, que celebravam a romaria. É interessante perceber que Eça de Queirós não utiliza apenas os aspectos visuais para poder descrever passagem de tempo e descrições, como ele também usa de aspectos sonoros para fazer a narração. Gonçalo ficou pensando nos antepassados. Considerava-se um bom Ramires e queria também ser enaltecido por tal. Era o último fidalgo do país, deveria ser tratado como tal. Gonçalo viu José Casco dos Bravais, pessoa a quem Gonçalo se esforçou para mostrar um sorriso. Ele queria saber do arrendamento da torre, como que ele faltou com a palavra. Gonçalo pedia que resolvessem aquilo na torre, não na estrada, mas Casco ficava enraivecido e gritava por ter dado a palavra e de nada servir. Gonçalo tentava se esconder pela lei o que ele faltava de coragem. Isso só serviu para deixar Casco mais enraivecido e falar que Gonçalo tinha que sair dali. Um sarau acontecia por perto da Torre que ele contemplava antes, ficou curioso. Foi contar que encontrou um bêbado, distorcendo a história da conversa com Casco. Falavam até de uma porta que Ramires disse ter aberto com sua força, com fechadura nova e tudo mais. Ele dizia como era forte e os outros o reconheciam como tal. Começou a contar a história de novo do bêbado, mas de forma mais “carregada, mais terrífica”. Os jovens escutavam, só que Gonçalo se confundiu com as armas – entre foice e espingarda – e corrigia com impaciência que viu primeiro a foice e depois uma espingarda. Contou e encheu de inspiração os jovens. Eles acharam a história épica, e até semelhante ao de Sanches Lucena, que, infelizmente, não saiu bem, viu dois bêbados, os repreendeu e só foi salvo pelo título de ser deputado, dias atrás, mas ficou acamado. Disse que finalmente o título de deputado lhe ajudou. Quis aproveitar a vitória de um Ramires, encheu-se de charutos e foi procurar o Administrador. Teve dificuldade pois não o achava em seus lugares habituais e cada um dava um paradeiro. Até que o acha e Gonçalo fica sabendo da morte de Lucena pelo Administrador. Ficaram ali pensando na morte, surpresos com um homem que iria fazer 60 anos e deixou uma viúva de 28 anos com uma boa grana. Mas o Fidalgo pensava em algo adianta, a vaga de política que lhe apareceu. Quem decidia era o Cavaleiro, que tinha ideais regionalistas. O Administrador diz que Gonçalo tem chances de finalmente entrar na política, fosse pelas histórias ou pelas conexões, que tudo se acertava e as inimizades particulares eram tolice, tinha história, a irmã era rica, tinha propriedades. Disse até que em uma carta ele queria reatar relações com Gonçalo, e que ele mesmo queria conversar. Não deixava de criticar, mas as críticas agradavam Cavaleiro, inclusive as críticas que até Gonçalo escreveu. Ficou decidido que iria conversar com Cavaleiro. Depois de semanas, Casco amaldiçoava Gonçalo pela Torre dada ao Pereira Brasileiro. Só que a situação fica feia a ponto de ser melhor levar para o Governo Civil. Apesar de querer entrar na política, Cavaleiro lhe dava asco. Ficou pensando na sua vida, nas suas inimizades, até mesmo em ceder a própria irmã. Enquanto andava, viu o cemitério da Vila e ficou encarando a cruz, as tumbas e toda aquela imagem assombrosa lhe deu medo. Queria ver o Cavaleiro o quanto antes para não ter que lidar com fofoqueiros, mas encontrou o primo José Mendonça, que ficou assustado com o objetivo do primo. Falou da situação com Casco e o primo lamentava tudo, até lamentou Sanches Lucena, da viúva, da voz dela. A cidade ficou sabendo da reconciliação de Gonçalo com Cavaleiro e ficou assustada. Comemoravam a nova amizade e Gonçalo que se caminhava para a política, aliás, as cartas para a Gazeta eram meras tolices. Cavaleiro e Gonçalo conversavam sobre o caso do Casco na Torre e sobre a Torre. Cavaleiro até mencionou que se Gonçalo quisesse, podia ser deputado, bastava pedir. Aceitou, abraçaram-se, conversando mais sobre política, coisas antigas e a Torre, chegou ao assunto da novela aos Anais. No dia seguinte, Gonçalo recebe o telegrama aprovando sua posição. Preocupou-se se poderia terminar a obra ainda político. Traçou o objetivo de terminar a obra antes das eleições. Ficou pensando que o começo do capítulo 2 não o agradava, talvez como relação nova dele e Cavaleiro. Pensou em como rearranjaria tudo e foi interrompido por Bento, era a mulher de Casco que pedia ajuda, o marido foi preso. Gonçalo prometeu libertá-lo amanhã e conversaria para acertar tudo. Só que a mulher chorava e dizia que até o filho estava mal, queria ouvir dele mesmo as palavras. Amaldiçoou a família que o queria morto e agora choravam por ele. Queria mesmo era ir para Moçambique e declarou mais uma noite perdida de trabalho. Ele estava com raiva, mas foi amolecendo depois que foi pensando na situação. Ela achava que Casco iria ser exilado para a África. Ele foi ríspido e direto em dar a palavra que de manhã estaria o homem solto, tal qual Rosa e Bento repetiam antes. As crianças de D. Ana estavam lá, uma dormia e a outra estava doente. Gonçalo decidiu que o menino ficava, poupando da viagem com água e frio, o curaria e até deixaria mais gordo. Providenciou ajuda e mantimentos para a viagem. Depois foi escrever a carta para Gouveia da libertação de Casco, além de ir jantar lá. Tentou voltar ao trabalho da novela mas não conseguia, o que teve com Cavaleiro o abalou tanto, ainda mais quando descobriu uma carta das Lousadas falando sobre a situação. Mas ele pensava que tudo melhorava desde que reatou com Carrasco, de como tratavam o bem, como estava sendo integrado de novo. Retomado de inspiração, escreveu mais sobre a história e a Torre ganhou ares heróicos. Videirinha estava na janela a tocar uma serenata a Gonçalo, comemorando ser Deputado. João Gouveia explicou que Titó não vinha, mas era o plano original. Enquanto se arrumava para receber os dois, cantarolava as músicas da família. Titó chegou e já perguntava da posição e da situação política de Gonçalo e seus companheiros. Gonçalo dizia que nada era extremo. Apesar de achar toda a situação estranha, diz que foi tudo positivo. O Fado dos Ramires soa novamente.

Capítulo 6

Há uma descrição da casa de André Cavaleiro, uma construção do século XVIII, com mármores, árvores e janelas, período após a União Ibérica em Portugal. André, cujo nome significa “viril” e “másculo”, chamou Gonçalo para que já o encontrasse, literalmente só de ceroulas, para abraçar pela visita. Falavam de Lisboa, do calor, dos mulatos. André falava dos problemas políticos de Lisboa, de um Teotônio Pita em corrida para cargo político. Gonçalo até ficou abalado, mas André ameaçou sair, comprou jantar e concubinas e tudo ficou acertado. Havia um outro rival, Julinho, pelo partido dos Regeneradores. André amaldiçoava a canalhice política de Lisboa. Enquanto se troca, há muitas descrições de tato, as quais são atribuídas pelas roupas. Foram passear pelas redondezas, verem as famosas rosas. Os dois pensavam no passado e se entristeciam com o futuro, viviam no mesmo lugar mas o tratamento era diferente, André invejava como Gonçalo envelhecia na torre. As flores eram cuidadas pela prima Jesuína, governanta pobre, bom para a casa já que “onde não há saia, não há ordem”. A rosa é um símbolo de desejo, a qual continua sendo florida e mantida se há alguém que a cuide, curiosamente, restou apenas as Lousadas para André enviar flores. Gonçalo as amaldiçoou por serem desavergonhadas, André sabia do gênio delas, por isso mesmo que enviava flores. Gonçalo ficou com uma rosa para o paletó e André com um botão, vai saber se isso tem algum significado além de uma referência da ou da personalidade de cada um. André já planejava sair para campanha política, ainda que Gonçalo tivesse preguiça social. O empregado Mateus lembrou André do amanuense que o esperava ainda antes da chegada de Gonçalo, mandado-o esperar e depois almoçar. Gonçalo achou estranho o tratamento com as visitas e os empregados. Falavam da novela histórica, do provável tempo que sairia a primeira edição. Até comentaram sobre Pita, que desejava o mal para as disputas políticas de forma jocosa, mas logo deixaram de falar de política para falar da novela de Gonçalo. Como todo domingo, há uma reunião social no antigo pelourinho demolido. Um pelourinho é um local de punição pública dos criminosos. As Lousadas ainda não estavam lá, estranhamente. Ainda que soubessem da novidade da reconciliação, Gonçalo e André chegarem juntos a cavalo era surpreendente. Barrolo e José Mendonça os chamam para conversar na casa do primeiro. Foi bem recebido por lá pois já tinha quarto e era comum que fosse lá. Ficou com vergonha do tratamento atencioso e até convidou André para ficar. Agradeceu, recusou e foi embora. Após se arrumar, deixar a Gracinha pensativa, Barrolo foi até o quarto e perguntou o que era tudo aquilo com Cavaleiro. Gonçalo explicou da morte de Lucena e chance de uma vaga na política, representando o partido dos Históricos. Reconciliou a amizade como estratégia política. Pediu ajuda tanto do Barrolo quanto de Gracinha para que tudo ocorresse bem. Gracinha contou da tia Arminda que melhorava e perguntava do Fidalgo. Planejaram uma janta discreta com ele e João Gouveia com Cavaleiro, mas Barrolo estava tão empolgado que nem parecia que tinha parado de falar com ele. Depois, falavam que Julinho era só para não ficar na cara que a política já era armada. Marcaram o jantar para uma quinta-feira. Combinavam também como se vestiriam, já que André estava feliz por ir jantar e eles queriam algo íntimo. Gonçalo se preocupava em como Gracinha iria tratar seu antigo interesse amoroso. Pensavam em um vinho do século passado de outros reis ou do que Cavaleiro gostava e Gracinha fechou o almanaque que lia para ir para outro lugar. Gonçalo foi conversar com Maria Mendonça, sua prima. Comentaram do vestido de Gracinha, que acentuava sua palidez. Maria achava ruim a falta de interesse, principalmente de Barrolo, de conhecer a família e Lisboa. Tomavam vinho, falavam da Itália. Pensaram nos vinhos da Itália, França e Portugal, da variedade de vinho branco e verde e até de uma viagem para a Ásia Menor. O Padre Soeiro até mencionava que um dos antepassados de Gonçalo participou da primeira Cruzada e não aceitou ser Duque de Galileia e de Além Jordão. Gonçalo riu do antepassado e Maria comentou como ele era “terrivelmente aristocrata”. Mas chega um assunto de que uma mulher interessava-se por Gonçalo. Pensava ser D. Ana Lucena, já que Maria dizia que ela era bonita, mas também não dizia não ser ela. Ele sentiu-se lisonjeado mas se resguardava. Falavam de outro casamento, de D. Rosa Alcoforado, uma mulher que não se arrumava tanto para eventos sociais e era um desastre. Mas nisso falavam de outros casamentos e de outras mulheres. Não era comum por ali ter mulheres bonitas, segundo Gonçalo, tirando Gracinha. Até mencionaram a filha do Visconde de Rio-Manso, mas ela tinha doze anos apenas. André Cavaleiro ia achando problemas nas mulheres tal qual fazia Gonçalo. Lembraram de comer os ovos queimados, um símbolo de frustração e esperanças má-nutridas. Falavam da política da Espanha, dos republicanos em Portugal, de como tudo é violento. Brindaram ao André Cavaleiro. Foram tomar café e André foi valsar com Gracinha. Dona Maria fica surpreendida, Barrolo aplaudia a situação e Gonçalo retorcia o bigode com tanta familiaridade.

Capítulo 7

Enquanto passeava no pomar, Gonçalo vê Casco. Tentou fingir que não o tinha visto e ele chegou sorrateiro. Pediu licença, o Fidalgo fingiu que não reconheceu, mas ficou contente de vê-lo, daí Casco se pôs a chorar. Gonçalo misturou a história de Lucena que ele andava sempre de arma desde um encontro com bêbados, falando que Casco estava fora do juízo. Ele tinha esquecido e Casco só se sentia pior porque Gonçalo tratou bem da mulher e do filho, o que o emocionou muito. Quando se despediu, depois de agradecer e oferecer a vida, Casco saiu até com postura melhor, e Gonçalo se empolgou para começar as campanhas eleitorais com pessoas influentes – Dr. Alexandrino, velho Gramilde, Padre José Vicente e o Visconde do Rio-Manso, o mais difícil – de uma lista feita por Gouveia. Nunca se encontrou com o Visconde, um velho brasileiro que vivia sozinho com a neta de onze anos, apelidada de “O botão de Rosa”. Gonçalo aceitou um convite do Comendador Romão Barros para uma festa. Procurava popularidade, mas mesmo que fizesse vários agrados para arranjar eleitores, não sentia que isso surtia efeito. João Gouveia dizia ser melhor conquistar a elite primeiro, coisa que Gonçalo achava tediosa. Já era quase fim de agosto e nada do capítulo 3 de sua novela. Mas João Gouveia dizia que a parte pobre já gostava dele, pois queriam alguém que falasse e sentissem inteligência, não gente rica e muda. Em um passeio de sexta, foi numa taverna famosa chamada de Pintainho. Foi tomar uma sangria, mas, da janela, avistou o mesmo caçador que lhe fitava daquele dia que Gonçalo cantou sua mulher. Gonçalo deixou dinheiro e fugiu galopando, ouvindo uma risada no fundo. Ficou pensando o que ele fez de tão errado para ser perseguido dessa forma. Recebeu uma carta de D. Maria Mendonça, achando que poderia ser de D. Ana, pedindo para passear e visitar os túmulos de antigos tios da família, em uma região subterrânea que Gonçalo nunca ficou sabendo sobre. Ficou pensando se não era apenas uma desculpa para que D. Ana fosse lá, já que nem Bento e Rosa sabiam da existência dos túmulos. Pensou até em sua fidelidade e inventou para Gouveia, dias depois, que recebeu uma carta que D. Ana iria casar. Gouveia achou tudo um escândalo, ainda mais que faziam só sete semanas que o ex-marido morreu. Gonçalo dizia que o namorico tinha tempo e não foi de repente. O Administrador até falava do corpo dela e de como ela se banhava, coisa que deixou Gonçalo irritado e mudou de assunto, para política. Gonçalo brinca de arranjar emprego para Videirinha. Gonçalo pensa que o único defeito de Ana era o pai carniceiro, ainda que ficasse pensando em sua árvore genealógica para achar outro carniceiro. No fatídico domingo de visita, até pensou em ficar demorando mas já era 4 da tarde, a visita seria às 5, e ele já se vestia. Da janela, viu o Mendigo passando por lá, o qual acenou e respondeu. Pensou até que o Mendigo era uma analogia com a metáfora do Destino ser um velho de longas barbas como ele. Foi passeando pela propriedade, em um silêncio de coisa velha que tentava ficar nova. Maria repreendeu o primo atrasado que fingiu dar aquela hora para Deus. Perguntou das ruínas para Ana e ela voltou a falar do falecido marido. Maria voltou para o assunto da família Ramires, que reanimou o sorriso do Fidalgo. Descobriu que não eram bem ruínas, mas eram boas de visitar. Maria pergunta da família e acha estranho que pessoas como Videirinha e o Padre Soeiro saibam mais do que ela. Gonçalo conta sobre a história, sobre o avô, sem saber precisamente o nome. Gonçalo vai contando sobre tudo, estudava por ofício, curiosidade e da academia, tentando ter a atenção de Ana, tentando impressionar alguém com histórias que nem eram deles. Só que o que fez ela rir foi de uma história de pedir dinheiro a uma família da França, que era para ser parte de sua árvore genealógica ainda quando estudava em Coimbra. Curiosamente, é a única história que ela comenta e acha graça. Gonçalo foi até dramático, falando que só em Portugal restava uma família nobre, mas que acabaria com ele, já que não casaria. Maria ouvia que ele dizia não ter jeito pro casamento, ainda que gostasse de crianças. Fez uma analogia de gostar de flores e não praticar jardinagem. Foram para uma igreja feia aos olhos das damas. Até discutiram de Ana ser paciente com crianças, quanto tempo ficaria por ali e de visitarem um outro lugar. Gonçalo pensou em como Ana poderia ser mais do que uma mulher bonita, mas uma mulher delicada. Gonçalo se despede de Ana e Maria e visita o claustro de Craquede, vendo os túmulos dos antepassados. Porém, alucinou em pensar que um dos túmulos tinha se aberto e saiu correndo, sentindo melancolia, solidão e medo. Ler página 284.

Capítulo 8

Desde a visita de Santa Maria de Craquede que Gonçalo abandonou a novela por preguiça. Ele recebeu uma carta de Castanheiro, avisando que caso não tivesse três capítulos do original até meado de outubro, publicaria uma obra de Carlos o Temerário no lugar. Gostava da obra de Gonçalo mas precisava de algo. Era uma tragédia, mas havia motivo, segundo ele. Gonçalo jogou a carta e declarou que almoçaria tarde, isso é, se almoçasse. Retomou a história de Tructesindo, inspirado pela visita dos túmulos dos avós. O avô recebia a notícia que o Bastardo de Baião chegava com lanças à torre. Tructesindo avisou que deveriam ouvir o mensageiro como se fosse neutro e não inimigo. Ele trazia sobre o resgate de Lourenço Ramires e que o esperava no Cruzeiro. Garcia Viegas, o Sabedor e amigo de Tructesindo sugeria cautela. Ao subir na torre para ver a situação melhor, viu o filho com o Bastardo, que queria que a guerra findasse e ele, Lourenço e a filha de Tructesindo, D. Violante, casasse com o Bastardo. O Ramires amaldiçoa o Bastardo e ouve de volta que perderá o filho se não ter D. Violante. No final das contas, Lourenço morreu com uma única punhalada. Há uma movimentação geral e os homens de Bastardo fogem. Tructesindo ficava imóvel enquanto tentavam recolher o corpo de seu filho. A cena tem descrições bem brutais, o que fez Gonçalo ficar feliz com o resultado e vontade de mostrar a Gracinha e Padre Soeiro o resultado. Recebeu uma cesta de pêssegos de presente de Maria, falando que Ana os colheu. Achou que teria uma carta dela, não achou e organizou os pêssegos para dar a Gracinha depois. No dia seguinte, de tarde, recebeu a visita do Visconde do Rio-Manso. Em vez de ser um encontro difícil, Gonçalo havia dado uma pêra de volta a sua neta, o que o fez muito estimado pelo Visconde. Ele foi lembrando, ou talvez fingia, conforme ele detalhava o ato e também de ter dado flores. Convidou o Fidalgo para conhecer a família. Gonçalo vai para Oliveira e leva o cesto de pêssegos, mas não encontra ninguém pela casa. Ele passeia pelo jardim, observando a arquitetura de fora. Enquanto ia até o Mirante, ouviu uma conversa e foi curiosamente ver, descobrindo que era Cavaleiro e Gracinha. Ele sai dali, sem ouvir mais, para o palacete. Ficou pensando em fugir de todo. Ele ficava impaciente com a carruagem que não ficava pronta. Pensou que seu mundo tremia, a torre rachava e mostrava um monte de saias sujas e lixo ignorados.

Capítulo 9

Gonçalo repreende Rosa por escrever à Gracinha, uma viúva vizinha da Torre morreu e suas posses definhavam. Muitas das vezes, uma das três meninas ia ajudar nos trabalhos. Tinham três meninos. O outro, de doze anos, era um mensageiro. O outro tinha jeito para carpinteirar e foi enviado para Lisboa, com patrocínio da Tia Louredo. Uma das raparigas foi morar em outra casa e adorava Gonçalo como se fosse vassala dele. A mais nova não tinha amparo, daí que Rosa inventou de escrever para Gracinha. Só que desde o episódio do Mirante que ele não queria falar com a parte da família dos Cunhais. Barrolo achou estranho a saída repentina, apesar de gostar dos pêssegos que ficaram. Deixou um manuscrito da Novela para o Padre Soeiro. Tinha raiva de Barrolo por puxar sardinha para Cavaleiro, de sua irmã, de André. Cansado da solidão, em uma tarde, foi passear em Vila-Clara, local de morada de Gracinha. Ficou pensando que não tinha como odiar Barrolo, por ser um bobão, de sua irmã, por não ter um homem forte para educá-la, ainda que fosse casada. O grande culpado era Gonçalo, sedento por poder. Tinha que manter a amizade e intimidade com o Cavaleiro, não queria ser motivo de boatos. Amaldiçoava e maldizia as eleições, mas eram a única forma de subir socialmente. Pensou em D. Ana e seus duzentos contos como forma de subir socialmente. Pensou na árvore genealógica, que não era tão diferente da sua, de assassinos. Como forma de escapar de todos esses pensamentos, voltou a escrever a novela. Tructesindo cavalgava em busca do Bastardo, que já previa a perseguição e dificultava a empreitada. Apesar de estar fixado na ideia, o avô de Gonçalo perguntava aos seus amigos o que achavam da empreitada. Decidem pernoitar em Três-Caminhos. Foi bem recebido e elogiado por todos. Gonçalo se sentia cansado com a interminável novela. Completou os três capítulos para Castanheiro, mas reviver a vida da família lhe fazia sentir que perdia cada dia mais a sua. Recebia cartas cobrando dívidas ainda da faculdade. A solidão da Torre era o que mais lhe machucava. Antes de ir cavalgar, Maria aparece de surpresa na Torre. Foram conversar pelos jardins da Torre e Gonçalo aproveitou para perguntar o que achava dele apostar suas chances com D. Ana. Ela achava a situação engraçada. Gonçalo tinha desespero confesso que queria alguém para se acomodar economicamente, Maria dizia que ela tinha jeito de dona de casa. Ela foi embora o quando antes para não falar mais do assunto, disse que Titó estava por ali, Gonçalo gostava dele, mas ele era muito efusivo e expansivo. Encontraram-se e Gonçalo disse que ele fazia falta. Gonçalo foi avisar Rosa do convidado que comia muito, por sorte, ela comprou comida de sobra antes que estava em boa aparência e frescura. Bento achou um chicote de cavalo-marinho enquanto limpava os cômodos, Gonçalo pediu para colocar no quarto, seria seu chicote de guerra. Videirinha também foi, e como homem que quer sossego, apreciou aquela paz e estômago cheio com um charuto. O Fado de Ramires tocava com Videirinha, com um novo quarteto que adicionava, falava do Rei da França e do mestre santo da Torre. Gonçalo tocou no assunto de D. Ana. Porém, Titó não aprovava tudo aquilo, Gonçalo sabia que ele escondia algo mas ele não disse nada, não estava lá para testemunhar. Foram embora ele e Videirinha. Mas antes, ficou se sentindo mal e falou que ela tinha amante. Ler página 350.

Capítulo 10

Como todo bom homem em uma crise de meia-idade, Gonçalo pensou até tarde da noite que vivia para sofrer de vergonhas e humilhações. Pensou em como André Cavaleiro o humilhava, desde tempo de escola, vida política e irmã, até mesmo de D. Ana. Pensou que não herdara dos avós e pais a honra que Videirinha cantava no Fado. Não tinha coragem, era perseguido pelo lenhador, por Casco e sempre fugia, e as Eleições não iam bem. Não governava na Torre, Bento impunha o que bem entendia e ele se sentia cada vez mais triste na noite longa. Em meio a um sonho sem percebeu, sonhava que os avós o adoravam, abençoavam e lhe armavam. Ele não tinha a alma, mesmo que estivesse armado. Ao acordar, estava mal e quieto. Bento notou a quietude e trouxe a água para que ele se barbeasse. Culpou o excesso de conhaque, o que deixou Gonçalo irado, pois tentava mandar e impor limites, reclamou da água e Bento respondeu de novo. Gonçalo exigia obediência e Bento se recolheu com vergonha, assim que fechou a porta, o Fidalgo já se sentia mal. Barbeou-se, usou a água quente e falava mais docemente com o velho. Reataram a simpatia um ao outro e ele dizia que precisava viajar, não para a Corte de Lisboa, mas coisa como Rússia ou Hungria. Ao sair de cavalo, pensou em visitar o Visconde, e aproveitava aquele dia de setembro. Viu flores, pessoas conversando, aproveitava a manhã e até viu o brasão de armas da sua família em uma ponte. Depois, pediu ajuda a um homem com espingarda para saber o caminho da casa do Visconde. Porém, novamente apareceu o caçador, ofendendo-lhe de asno e o chamando para a briga. Cego de raiva, apanhou o chicote e deu-lhe um golpe na face. O caçador caiu no chão e ele continuou, até que ele perdesse dentes e morresse. O outro de espingarda até tentou atirar para o alto para parar, mas foi vítima de perseguição e também morreu na mão do Fidalgo. Um velho lamentou a morte dos dois e pediu misericórdia ao Fidalgo. Gonçalo, desconfiado que receberia um tiro logo que desse as costas, fez o velho marchar. Ele ia, chorando. Perguntou os nomes dele e dos meninos, eram João, Manuel Domingues e Ernesto de Nacejas, o Valentão de Nacejas. Gonçalo disse que os tiros e as sovas eram o de menos e que agora os moradores de Grainha iriam se entender com a justiça. O velho fugiu e Gonçalo cavalgava com orgulho, com a virilidade de seus avós. Pensava que não precisaria mentir nessa história, pois todas que contavam eram modificadas. Ao chegar na Torre, sentiu-se mais senhor dela e mandou Joaquim para dar recado do acontecido depressa. Gonçalo se deparou com Barrolo, que ouvia tudo, tudo se encaixava, o terror de ser tudo tão repentino, o sangue fresco no chicote e nas calças, Gonçalo queria se limpar e se acalmar. Graça e Rosa foram acudir o Fidalgo. Esqueceu da desonra de Gracinha e contou tudo. Dizia que eles mereciam a morte, pior, exílio para a África. Enquanto foram ao escritório, a história se repetiu para o prazer de Bento e do chicote que protegeu seu senhor. Só naquele momento que Gonçalo percebeu a presença inusitada de Barrolo na torre, que estava preocupado com o Fidalgo desde o episódio dos pêssegos e do Mirante, foi lá para ver se tudo estava bem, além de querer mostrar uma carta das Lousadas. Elas denunciavam de que era chamado de Bacoco pelos amigos nas costas. Isso o incomodava e deixou até cego do namoro denunciado de Gracinha e Cavaleiro, que tinha partido para Lisboa, voltava só para as eleições. Com efeito, voltou ao caso e viu que tinha passado de raspão um tiro, salvo ele por Deus, segundo o Fidalgo. Gonçalo tinha dó de Barrolo. Ficou pensando em Gracinha e o que seria dela com esses boatos. Foi vê-la no quarto que ficava lembrando de seus tempos de solteirice e de juventude. Ela estava feliz de vê-lo, ainda mais depois de grande perigo, mas Gonçalo cobrava explicações da carta, com nova vontade de Ramires, rindo desses boatos de baixo nível e exigindo explicações, além de mais reserva para não criar boatos. Ela chorava, mas colocava esperanças que, a partir daquele momento, ela traria orgulho. Barrolo e ele sentiam fome. Joaquim chegou com novidades, o Ernesto era uma má influência e a região dava razão e glória ao Fidalgo. Gonçalo estava feliz. Comeram, rezaram, foram embora os convidados e Gonçalo retomou a escrita. Tructesindo lamentava a morte do filho e D. Garcia planejava uma vingança dolorosa. Pensaram em fazer uma emboscada em uma aldeia próxima, já que o Bastardo estaria por ali. Assim, terminou o capítulo 4. Ele havia ficado feliz com o dia, além de ter recebido dois telegramas, um do Barão das Margens e outro do Capitão Mendonça, elogiando a história que se espalhou por Barrolo. O Administrador foi até à Torre, apesar de Gonçalo pedir que não denunciassem os infratores, o Administrador assim o faria para garantir a Ordem. Titó também almoçou com eles e todos foram à Assembléia, consagrar Gonçalo como herói. Comendador Barros queria aproveitar o dia santo para pagar uma festança ao Fidalgo. Ele ficava chocado com tanto apreço, até mesmo Videirinha fez novos quartetos para o Fado, adicionando sua façanha. As novas foram para Lisboa, celebrado por André e outras pessoas da corte, de família e Castanheiro. Mal dormiu pois queria ler os jornais, todos o idolatravam pela nobreza, ele tinha mudado totalmente sua visão política. Durante toda essa glória, terminou o capítulo final da novela. O Bastardo ia embora sem prestar atenção que foi pego de surpresa por Tructesindo e seus colegas, ele que procurava vingança. Lutaram e venceram, pegando de cativo e com intenções de forca, para fazer sofrer o Bastardo. Fizeram ele sofrer, derramaram o sangue, humilharam-no. Estava preso em um pilar em água suja com sanguessugas. Diferente do filho, seu sangue não tingia o campo de batalha, o dele deixava de existir. Tructesindo se deliciava com a cena. Todos vigiavam a morte lenta. Até que morreu e todos celebraram. Jogaram até esterco na sua face. Ler página 398

Capítulo 11

Após quatro meses, terminou sua obra. Porém, achando que ia se sentir melhor, sentia pena de não poder ter de volta a moral dos velhos tempos, e lamentava tanto sangue da época afonsina. Antes de poder andar de cavalo, foi parado por Godinho, um amanuense. Vinha com notícias que Ernesto melhorava e logo ia preso. Gonçalo dizia que ele já tinha pagado o suficiente. Dizia que não era da família querer vingança. Só nessas 2 primeiras páginas ele já foi irônico com a postura da família. Godinho foi levar o recado naquele calor. Ao chegar na casa do Sr. Esteves, foi recebido por comadre Firmina. Recebeu pão fresco e promessa de votos, de amor ou de pau. Bebeu com outros com o Manuel da Adega. Lembraram da história que deu a égua emprestada e celebraram o Fidalgo. Foi tido como santo pela a avó Ana Preta por cuidar do filho de Casco. Encontrou até Júlio, que ficava feliz em ver o Fidalgo e falava até que na eleição era capaz dele mesmo votar no oponente. Novamente, falavam como estava calor. O Barrolo corria para encontrar Gonçalo, o Cavaleiro chegou e precisavam se ajeitar para as eleições, precisavam ver o povo. Gracinha tinha passado um tempo com as Lousadas mas já estava em casa tocando piano. Tinham uma notícia, uma bomba, coisas de José, mas não contavam. A reunião com André e Gracinha dava ares de que tudo não passou de um amor de verão. Contava de toda a história, trabalho e aventuras em Lisboa, mas trazia uma notícia marcante, o el-rei dava a Gonçalo o título de Marquês de Treixedo. Só que Gonçalo ficou ofendido e disse com que autoridade ele ganhava esse título, a família vinha de antes da criação de Portugal, quem tinha que dar título era Gonçalo a el-Rei, coisa que o proclamou Marquês do Roncão. Cavaleiro ficou ofendido e Barrolo estava de boca aberta. Gracinha gostava da cena do sangue de Ramires e Cavaleiro dizia que cada um fazia o que bem entendia. As eleições vieram, Gonçalo queria ficar sozinho e saiu depois para cavalgar. Soube da vitória na janta. José Casco liderava um grupo celebrando Gonçalo. Até o Visconde e sua filha celebravam, mas Gonçalo queria ficar saboreando a vitória no silêncio, ainda que fosse avisado por um garoto do alvoroço. Gonçalo pensava em como a Torre deixou de ser uma lembrança do passado glorioso da família, como se devesse algo a eles. Mal lembravam que a Torre se chamava Torre de Santa Irineia e apelidavam de Torre de D. Ramires. Com olhos após criar a novela histórica, Gonçalo admirava tudo aquilo, a construção, o que significava. Pensava em como ficou popular, sentia-se arrependido. Queria entrar na política para ser útil, mas não o merecia antes, era apenas um qualquer, agora eles queriam aos montes os votos. Era sempre uma desconfiança em tudo de sua vida, teve que se humilhar a ser amigo de Cavaleiro, até o fatídico momento que usou o chicote. O dia da comemoração ia acabando, ele era o Deputado por Vila-Clara, tal qual Sanches Lucena. Mas, para quê? Tanto esforço parecia para apenas poder fazer atividades sociais sem motivo. Pensou que os verdadeiros homens úteis eram outros, não os da política. Em início de Dezembro apareceu a Torre de D. Ramires na primeira edição dos Anais e elogiado como uma lembrança dos bons modos e passado de Portugal. Gonçalo foi para Lisboa em janeiro e pessoas assinavam jornais para saber por onde ele passeava. Em fim de abril, sem aviso e deixando todos assustados, foi para Moçambique para uma viagem longa com Bento após hipotecar todas as suas posses. Ler página 471.

Capítulo 12

Quatro anos se passaram, Gracinha ficou na torre e trabalhava por lá com Padre Soeiro e Barrolo. A Torre tinha vida, tinham até morangos nascendo na casa. Gonçalo, após 4 anos, voltou à Torre. Nada mudou na vida de Gracinha desde sua saída, recebia algumas raras cartas. André Cavaleiro continuava trabalhando na “Reforma”, tinha ido acolher a mãe de Barrolo que adoecia e ficava pior, foi embora em maio. Barrolo se preocupava com Gracinha que emagrecia e fazia mais nada, até alugou um chalé do Comendador Barros, sem ter muito sucesso de melhora. Em uma manhã, André Cavaleiro renunciava o posto, foi para Constantinopla. Santos Maldonado era o novo Governador Civil, e até Gracinha melhorava no aspecto. Barrolo que trabalhou nas obras das moradas de el-Rei, ficou pensando no Mirante com novas caras. Apesar de ter mobília, preferiu tacar fogo em tudo em vez de dar. As Lousadas chegaram a ver o Cavaleiro em Lisboa com a mulher do Conde de S. Romão, um fazendeiro de Cabo Verde. Videirinha foi à Torre, queria saber do retorno de Gonçalo que só chegaria no domingo, dia emblemático. Videirinha era agora amanuense graças a Gonçalo, apesar de ser usado para mais serviços. Ficara sabendo que Maria Mendonça estava em Lisboa e visitava D. Ana Lucena, que morava em Lisboa. Liam uma carta que falavam da chega de Gonçalo a Portugal, ele parecia mais viril, mais bonito, acompanhado de 30 pessoas, com a prima, o Visconde de Rio-Manso, a filha do Visconde e a tia do Fidalgo. Ele mantinha os mesmos jeitos de gente atenciosa e parecia que iria casar com Rosa, a filha do Visconde, mesmo com a diferença de 11 anos, ela “tinha dotes”, mas o problema parecia ser a linhagem sanguínea. Falavam que ele não voltava à África, e Barrolo achava o lugar bom só para vender. Rosa ficava feliz de ver de novo o Fidalgo. André até escreveu falando das saudades que tinha do Barrolo e se ele não arranjava um vinho verde para a Condessa. Ao esperarem pela chegada de Gonçalo, ficaram lembrando das passagens da novela, de como era semelhante que eles ali esperando era como na obra, ou até mesmo da jura de espada e a perseguição do Bastardo. Titó elogiava-o, sem esconder que o achava leviano e incoerente. Padre Soeiro adicionava que ele era bom. João Gouveia fazia um resumo de Gonçalo, de ser desconfiado, solitário, bom, generoso, útil, imaginativo, fazia-o lembrar de Portugal, pois Gonçalo é uma alegoria a Portugal. Ler o fim a partir da página 494.

Leitura adicional:

“Recriações de traços identitários da cultura portuguesa nas obras de Eça de Queirós e Fernando Pessoa: ‘A Ilustre Casa de Ramires’ e ‘Mensagem’” por Fernando Ferreira da Cunha Neto https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/ECAP-7QHHJR

“A (des)construção do romance histórico em ‘A Ilustre Casa de Ramires’” por Maria de Fátima Marinho https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/115568/2/286403.pdf

“A lúdica complexidade de ‘A Ilustre Casa de Ramires’, de Eça de Queirós” por Lélia Parreira Duarte https://www.leliaparreiraduarte.com.br/pdf/a_ilustre_casa_de_ramires.pdf

• VALENTIM, J. V. . Matrizes culturais no romance de Eça de Queirós. 2007. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra).
• VALENTIM, J. V. . ‘Eça de Queirós nos seus 169 anos’. São Carlos: Livre Opinião: idéias em debate, 2014 (Comentário do Leitor).
•VALENTIM, J. V. . Eça de Queirós e a tradição musical do século XIX em Portugal. 2011.

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Dyonélio Machado FUVEST 2025 Os Ratos Resumo de Cada Capítulo

“Os Ratos” de Dyonélio Machado – Resumo de Cada Capítulo

A história percorre o total de 24 horas da vida do protagonista. São 28 capítulos no total.

Segunda fase do modernismo, preocupação dos conflitos sociais (personagens alegóricas) e individuais (intrigas psicológicas), sendo a obra o último.

O mito do homem gaúcho, ligado ao campo e que não se adapta bem à cidade, o famoso adjetivo “rústico”. Um homem nômade em um sistema sedentário, ele guerreia por obrigação e decadência moral e financeira. A migração na obra é do campo para a cidade, mas em sobrevivência, diferente da obra “Trilogia do gaúcho a pé”. Não há uma história fundadora da figura, há uma difusão do viver cotidiano, fadada à repetição, à fragmentação. O modo de fazer e a eficácia podem ser gaúchas.

A cidade não é o pampa, os prédios intimidam. Se o campo representa atraso, ignorância e limitação, a cidade representa barulho, mundanidade e ambição. Se o campo representa paz, inocência e virtude simples, a cidade representa centro do saber, comunicação e luz. A mudança é até temática, antigamente se falavam dos aristocratas, as personagens agora são do grupo do proletariado. Porém, de forma diferente, há problemas na classe operária, os aristocratas possuem trivialidades narrativas. Não há heroísmo em buscar o dinheiro, ainda que existam dificuldades.

A cabeça não para a nenhum momento, ele mais pensa do que fala. Todo seu comportamento é de precisar de alguém forte do lado.

A mulher de Naziazeno toma a postura de mulher derrotada por conta da fraqueza masculina. As mulheres são comparadas e caracterizam as fraquezas dos homens.

Características da obra:

-Narrador onisciente (o exterior abala o interior) -Narrativa fragmentada, já que ele articula o real e o imaginário, supondo muitas vezes, animando-se, desanimando-se -Trama psicológica, a condição de estar submetido à vergonha e a condição o transforma, já que ele não pode mudar nada e mesmo que não a aceite
-Descrição dos arredores como um pampa desconhecido e inimigo, a cidade subverte valores antigamente estabelecidos e de conduta
-Metáfora e metonímia aos animais, não como amigos, mas inimigos, como ratos, em atitude, sons e postura -Tríplice simbólica: leite; rato; e infância

Capítulo 1 ”Os bem vizinhos de Naziazeno Barbosa assistem ao ‘pega’ com o leiteiro”, ele já devia dinheiro e teria que pagar no dia seguinte. Apesar de muitas das brigas que ele tinha com a mulher poderem ser interrompidas com o alvará de que os vizinhos poderiam ouvir, o leiteiro parecia querer que os vizinhos o ouvissem, não só as palavras, mas as ações, de sair galopando, batendo portão e pisando no chão. Naziazeno voltou para casa, contou para a mulher o que conseguia lembrar, a comoção abalou ele e a mulher tentava acalmá-lo. Naziazeno até pensou em não tomarem mais leite, assim como cortaram a manteiga, já que pensava que manteiga era coisa de gente rica em sua época de criança. Zombou da manteiga, do gelo que antes compravam e ficou comparando com o leite, dizendo que a vida não mudaria se não tivessem tudo isso. A mulher ouvia tudo pacientemente, sabendo que ele sempre se irritava com coisa pouca, mas o leite ser comparado a tudo isso lhe trouxe a voz de volta que perguntava se fazia sentido a comparação, já que era para o filho. Ele tentava falar que o filho era forte, disse que quando era novo, só tinha água quente com açúcar para tomar. A mãe se comovia, pois não uma criança não podia ficar sem leite.
Sugestão de leitura do livro: Parágrafos iniciais

Capítulo 2 Naziazeno vê o vizinho, Fraga, homem que sempre fica bisbilhotando mas diz sempre que nunca viu nada. Sempre no meio do mês, diz que quer já pagar o leiteiro e o padeiro. É a visão de alguém que ganha benefícios por meramente ser simpático, não que tenha dinheiro. Viu um outro homem que era sempre muito quieto, mas observava Naziazeno da ponta do pé até o último fio da cabeça, trabalhava de “empregado de escritório na ‘Importadora'”, ainda que não entendesse bem tudo isso. Vão no bonde, o vizinho silencioso, fica feliz de ver uma gente boa, já que pega o bonde cedo e não vê as pessoas pobres que aparecem depois das 9 horas. O vizinho tinha fama de não pagar ninguém e ter um olhar sério. Dali a pouco, aparece o cobrador, acordando todos que olham para fora e sonham em algo melhor ou só querem aproveitar o sol bom da manhã. Como a narrativa é psicológica, o pensamento fragmentado é muito comum, ele começa a pensar sobre o que tinha na lista de compras, pensou nas garrafas vazias que tinha, pensou na medicina e lembrou de quando o filho ficou atacado de meningite e melhorou, ainda assim, feliz que o filho ficou vivo, não pagou o doutor. Viu um dos soldados que ia no bonde que trocava de gente, era jam já 7 e meia. Uma pessoa leva leite de almoço, já que de café-da-manhã ele churrasqueava, tinha ar de gente de fora, morava em chácara com estoque farto mesmo que não tivesse dinheiro, o leite, ali, era símbolo do seu almoço, o que faz Naziazeno pensar que ele não passa dificuldades. Ouviu as pessoas do banco da frente falando da aposta, coisa que Naziazeno era viciado. Continuou pensando em tantas outras coisas, apostas que fez, na mulher do amanuense, ou copista, como sua mulher empalidecia por qualquer coisa que ele tinha que encarar. Tudo para quando o bonde quase que para por pouco para não atropelar as crianças. As pessoas riem de uma piada de que pessoas com muitas pernas não viviam perto das linhas. Mas Naziazeno pensava nas palavras que ecoavam do leiteiro em sua cabeça. Lembrou de novo das palavras, de com sua mulher sofria pelo filho, do sapato que ela pediu para consertar e o sapateiro ficou com ele para receber o pagamento. Ficou sofrendo, um sofrimento de existência de não poder fazer nada, de quem vive em um sistema que dizem que ele é a solução mas negam qualquer forma de poder aproveitar o sistema. Ecoou de novo que não pagou o médico e que só tinha mais um dia para pagar o leiteiro.

Capítulo 3 Naziazeno devia 53 mil réis, o que daria 1350 reais. Saiu impaciente do bonde, já chutava a porta antes de chegar à estação. Foi com as pernas desalinhadas aos pensamentos e parou perto do mercado, viu as pessoas tomando café, pessoas que não conhecia e que tomavam café com leite se estranhando. Aquelas pessoas relaxando o convidou a um café. Pensou de novo que aqueles dois tostões poderiam ser usados para coisa melhor. Lembrou do Duque, homem batalhador, conhece a miséria e sabia o caminho das casas de penhores e de agiotas. Naziazeno olha ao redor e pensa em ver o Duque. Nem lembrava que horas eram. Pensou em pedir sessenta mil réis para arredondar. Lembrou de quando pegou emprestado com o diretor e ele arredondou a dívida. A dinâmica social do livro é de pessoas que sempre estão em dívida umas com as outras, por favores, por dinheiro, por dó, por simpatia ou uma mistura de algumas ou todos esses fatores. Pensou em ir logo à repartição, ainda que fossem oito horas, mas temeu ver um velho corcunda varrendo que não gostava sem saber o motivo de ver, Jacinto. Enrolou o tempo indo à praça. Confiar no Duque era infalível, ainda mais na solidariedade, “quem não o compreenderia?”. Ficou inquieto de que o tempo não passava. A dinâmica de passagem do tempo é sempre de que as coisas não chegam antes, há sempre uma noção de que o tempo passa para quem tem dinheiro, pois ele pode ficar gastando-o sem pensar, o pobre tem pressa, ele precisa se alimentar e pagar dívidas hoje. Ele fica imaginando como ele iria pedir tamanha quantia, pensava na solidariedade sem tamanho do diretor, até mesmo de como o ofereceria café sendo que já havia tomado. O relógio ainda dava oito e meia e seus pensamentos já o colocavam com o dinheiro na mão. Ficou pensando se não era melhor ir ao cais.

Leitura complementar – O gaúcho como herói da decadência em “Os Ratos”, de Dyonélio Machado por Ismael Sebben e Douglas Ceccagno https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rua/article/view/8653450/18517

Capítulo 4 Mesmo sendo ainda nove horas enquanto estava no cais, Naziazeno arrependia-se daquela folga de ficar esperando um tempo que poderia estar fazendo outra coisa. Se conseguisse o dinheiro ali mesmo, poderia descansar o resto do dia. O sentimento mais comum da obra é o de preocupação torturante, que fica cada vez mais aflito e quer algo que possa descomprimir tudo o que sente. Lembrava do filho que voltou à vida, sentia o mesmo, queria pagar logo o leiteiro e ter a tranquilidade tal qual de ver o filho com saúde. O cargueiro alemão ficava falando sobre qualquer coisa que via no céu, tal qual alguém que fica falando só para não esquecer como é a própria língua. Pensava de novo na conversa com o diretor. Pensava em como usaria os outros 7 mil do empréstimo para pagar coisas da casa, até em como diria à mulher de onde veio o dinheiro. Naziazeno não gosta de ninguém da repartição, mas a solidariedade que procura o faz ser social. Um capataz passou na frente dele, perguntou do diretor, ele não estava ali ainda. Ofereceu um café, que era antes pago pelo governo e agora os funcionários faziam uma caixinha. Naziazeno recusou. O datilógrafo responde que o diretor está na Secretaria. Naziazeno o esperaria. Pensava no trabalho do datilógrafo e na arte das matemáticas, de organizar, de somar e multiplicar. Naziazeno tenta puxar assunto de quem trabalha por ali para chegar ao assunto do diretor, mas não tem interesse. O diretor apareceu, havia uma comoção. Chamou o chefe da seção e Naziazeno se sente mal.
Sugestão de leitura do livro – Página 19, “O Horácio”

Capítulo 5 Naziazeno pensava em como o Duque poderia ser sua salvação, já que começava a pensar que aceitar sua pobreza seria melhor do que pedir um empréstimo. Pensou que o diretor iria demorar muito e não queria atrapalhá-lo. Sabia já que deveria ter algo para penhorar, era sempre a primeira pergunta do Duque, que ia pensando, perguntando e trazia uma solução. Pensou até em pegar menor dinheiro, mas estava fixo que levaria todos os 53 mil réis ao leiteiro. Viu as pessoas que trabalhavam na bolsa, com ações, “parecem andar sempre prontos pra uma festa”. Não encontra o Duque, fica o esperando pois ele passaria ali logo mais, “é a ‘hora dele'”. Viu um casal de idosos, se sentiu velho perante tanta mocidade que ganhava dinheiro. Vê Carvalho, um velho que o olha com os mesmos olhos de Fraga pela manhã. Alcides o encontrou, achando que estava matando emprego ou se estava tirando folga. Convidou Naziazeno forçadamente a tomar um café, pago pelo pobre.

Capítulo 6 A conversa entre Naziazeno e Alcides já havia esfriado. Carvalho ia embora, toda sua morosidade em fazer tudo, de dar o dinheiro, pagar, colocar o troco no bolso e ir embora o incomodam, já que ele tem dinheiro e não precisa pagar nada para ter pressa de tudo. O velho dá bom dia e eles respondem enquanto ele se afasta. “E o Duque, que não aparece…”. Alcides usava um casaco esquisito, mas ele havia sido roubado e era a única coisa que lhe sobrou para usar. Naziazeno pensou consigo o que seria dele se acontecesse o mesmo, sairia nu pois não tem roupa sobrando. É comum se colocar na desgraça alheia, muito menos como pensar em como a pessoa é uma coitada ou se compadecer ou se quer ajudar, mas como um aviso de se preparar para o pior. Alcides e Naziazeno até voltam a falar do casaco e de como veio de um judeu. “O Duque não aparece mesmo” e Naziazeno decide ir embora, com uma amargura e náusea de novo no peito. Ele conta o dinheiro do bolso, até hesita em deixar uma gorjeta mas acaba deixando. Alcides pergunta de ver uns cafés no centro e Naziazeno concorda. Ele achava que a manhã estava perdida e pensou em ir ao diretor, Alcides reprime falando que não teria dinheiro. Lembrou da figura que ficava sempre se remexendo e resolvendo problemas, pensou em não ir até ele mesmo. Não tinha outras ideias do que fazer, ou, melhor, outra pessoa, pois elas eram a solução dos problemas. Alcides ri da situação dele não achar outra solução e finalmente fala em apostar no bicho. Já armou o plano de ir até a repartição, procurava um dinheiro com os amigos e se encontravam depois para apostar. Ele respondia tudo com natureza e segurança, mas ele tinha uma tristeza que rebatia o estômago. Voltou ao local do Diretor, sentia os olhos de Fraga e ouvia pés de ratos.

Capítulo 7 Há um retorno ao passado de Naziazeno, que brincava nas ruas e via no sol e na rua uma liberdade e felicidade que não tem agora, ainda menos quando compara o ato de beber leite antigamente, quase obrigado pela mãe, e o de agora, que era o que o filho tinha que ter no mínimo. Muitas vezes, não gostava da tristeza de quando o sol ia embora e as ruas ficavam em um tom marrom e quieto. Incomodava Naziazeno toda essa coisa dos preços de tudo, da importância de algumas coisas como leite, aluguel, manteiga e o salário que se equilibram, nenhum sobra. Ele vê nos idosos e pessoas calmas, com poder, dinheiro e tempo, uma salvação. Naziazeno nem pensou em como abordar o diretor. Ele disse que já tinha ajudado anteriormente, tinha contas o suficiente para pagar, mas falando alto para que os capatazes e quem os seguia rissem dele e do diretor. Ele falava sobre o integralismo, uma forma de movimento nazista do Brasil. Era já passado de onze e meia, o diretor foi embora e Naziazeno ficou na “deriva na enxurrada”. Ele vai caminhando e os funcionários do diretor partem também. Ele gosta de andar, pois significa fugir, mas tudo tem limite. A imagem dos seguidores do diretor rindo com caras enrugadas e do Diretor negando ajuda ficaram na mente. Ele encontrou Justo Soares no caminho, sabia das dívidas de Naziazeno. Passava entre todos, Alcides, Duque e Justo, aquele cheiro de urtiga de desconfiança da condição de Naziazeno, como se eles estivesse escolhendo não pagar, sendo que ele quer. Sua cabeça estava oca e não tinha mais ideias, queria não pensar em nada, não ir para casa. Era meio dia e não sabia o que fazer, se quer queria encontrar Alcides.
Sugestão de leitura do livro: Página 30 “Mas com isso ele fizera”

Capítulo 8 ”Naziazeno disfarça o cansaço, porque tem uma esperança.”. Ele vê as casas que se movem com suas cores e o seu destino, uma pessoa que mora no “fim da rua, lá no alto.”. Alcides o esperava para apostar. O jogo do bicho era uma esperança de quem já não tinha mais o que perder que poderia ter uma chance de ganhar. Alcides lembra de outra pessoa que lhe devia dinheiro da venda de um carro e sugeriu a Naziazeno de cobrar nem que fosse metade. Só que ele tem medo. Ele tem medo do silêncio que Alcides tem, da empolgação do jogo, da figura robusta de Andrade, quem estava devendo, de patrão. Era meio longe, mas Naziazeno foi. As casas continuam com o treme-treme de antes. Chegando perto da casa, ouve o som velado de música. A música o intimida, pensou que 100 mil réis (valor da dívida) não faria diferença para um homem como Andrade. Ele não sabe explicar, mas o dinheiro, como para o advogado Dr. Otávio Conti não é o mesmo que para quem está na miséria. Não é que o dinheiro não significa nada, mas é versátil, fácil, é como se não fosse um problema, mas uma solução. Como estava com fome e cansado, tudo ondulava-se ao seu redor e à sua vista. Ter dinheiro e uma melhor condição de vida era afastar-se do trauma do passado, com outro símbolo e outras responsabilidades, e do presente castrador, que o leite significa dinheiro e dinheiro é se humilhar. ”’
Leitura complementar: A obsessão miúda’ em ‘Os Ratos’ de Dyonélio Machado” por Cleusa Rios Pinheiro Passos https://www.revistas.usp.br/linguaeliteratura/article/view/114008/111862

Capítulo 9 Naziazeno bate na porta mal preservada, ninguém o atende. Bateu normalmente, com força, e quem quer se desviar da obrigação. Uma criança o viu e chama o pai. Andrade tem lábia e percebe quando alguém gagueja. Muito do Brasil se ganha por quem sabe se impor só na fala e quebra qualquer tipo de pedido. Andrade disse que a dívida era feita de outra forma, que havia parte do banco e parte do Alcides. Ele até joga que se honra de ter dívidas e não as negava ter, “é um sinal de crédito”. Sua filha tentava entrar no meio da conversa pelo meio das pernas. Atestou que já havia dado a sua parte para Alcides e não tinha mais nada consigo. Andrade até o convida a entrar, ele o faz mas não entende bem o motivo de ter aceitado. Os dois chegaram à conclusão, por manipulação de Andrade, que era tudo um engano. Naziazeno vai embora.

Capítulo 10 Naziazeno antecipava a espera de Alcides em um dos cafés. Era “seguramente uma hora.”. Como levantou cedo, a fome era óbvia. Ficou pensando que com cem mil-réis estaria almoçando no Restaurante dos Operários, passaria a tarde palestrando e saboreando a louça, iria para casa quando satisfeito. Como a cidade falta sombra de árvore, o sol é impiedoso. Ainda fica com uma dúvida de toda a situação de Andrade com Alcides, mas que logo o saberia ao ter com Mister Rees (já que Andrade disse que ele poderia explicar tudo) e quem o esperava no café. Lembrou de certa vez que encontrou Alcides e foram almoçar, deixando que Naziazeno, sem dinheiro direito, pagasse. Chegou aos cafés e não achou Alcides, teve a suposição que ele estaria no restaurante. Pensou até voltar para casa, comer a comida esturricada de estar no forno, não teria como achar Alcides ou ter notícia dele. Já era 13h45. Em meio a tantos rostos que não conhecia, decidiu ir ao banco e ver o Mister Rees. Quando entrou no banco, ficou gelado. Toda a ideia que tinha foi se esvaindo quando pensou que tudo poderia ser um engano. Ainda mais quando o funcionário perguntou o que ele queria, tudo começou a ficar mais confuso. O problema de quem só tenta achar uma solução é pensar que a solução nunca virá, pensando sempre no pior ou em um milagre. Como um alívio, Mister Rees não estava. Lamentou que não tinha a arte da fala com Andrade. Pensou que foi até melhor não vê-lo, pois poderia ter que se explicar, pior do que ter pessoa que fica devendo é ter que falar com quem deve. “É preciso comer”, mas não voltaria para casa. Tinha confiança, tal qual quando saiu do bonde pela manhã. Pensou no Dr. Otávio Conti, ele poderia ajudá-lo, era amigo do Duque e poderia reconhecê-lo. Perguntou se sabiam onde ficava o escritório e lá foi ele.

Capítulo 11 Viu como o escritório poderia dar a visão de qualquer um que chegasse ali perto. Não encontrou o Dr. Otávio Conti. Fica andando pelo quarteirão, meio que quem quer ver, meio que não quer ser visto. Pensa de novo e até cogita não ir ter com o advogado. Como ele andava cansado e com muito foco, trombou com Costa Miranda. Perguntou o que fazia, Naziazeno disse que ia ver o advogado. Ele até adiciona um comentário do dia estar quente. Naziazeno viu em Costa Miranda uma chance e pediu dinheiro emprestado para pagar no dia seguinte, falando que era para almoçar. Falou que Alcides devia pagar a letra do agiota o quanto antes para não se manchar. Naziazeno ficou assustado e no fim recebeu cinco mil-réis. Costa Miranda se despediu e foi embora lentamente.
Sugestão de leitura do livro: Ler página 43 “Na primeira esquina”
Leitura complementar: “Os ratos: uma trama de ponteiros, pontuações e negócios” por Tiago Lopes Schiffner https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/navegacoes/article/view/27216/18431

Capítulo 12 Decidia onde e o que ia almoçar, não queria mingau e empada, mas queria (e precisava) de bife com batatas e pão. Sentia a nota lisa e acariciava, até lembrar de segurá-la bem no bolso para não perder. Pensou de relance numa roleta ilegal nos fundos de uma tabacaria, até pensou que poderia tomar só um café e tentar a sorte. Ele pensa em como poderia trocar a nota com só um café. Bebe água e a fome se alastra por toda a boca e garganta seca. No que entrou, viu Horácio e queria não ser visto. Apesar da situação de Naziazeno que ele tenta evitar encontrar pessoas pelo medo de uma resposta negativa, ele teme outros colegas que podem ou cobrar a mais ou tirar o pouco de dinheiro que mal tem. “Já são quase duas e meia naquele relógio”. Vê Costa Miranda e finge que não o vê. Ficou pensando de novo se contaria a Alcides sobre a situação do banco. Ficou pensando em como apostaria o dinheiro. Lembrou de outras situações que pediu dinheiro e viu um caminhão que o fez lembrar de mais dívidas. Em momentos de nervosismo e dívida, em um sistema que diz que é a solução mas te pune e isola de não fazer parte, tudo é uma constante lembrança de que você é o culpado e tudo depende de você querer. Naziazeno detesta mudanças. Ficou pensando em como o Duque poderia ajudá-lo ou em como ele poderia desenrolar mais dinheiro, tentando inutilmente imitá-lo, pensou no Alcides e toda a situação. Apostou no jogo do bicho. Chegou à tabacaria. Entra num lugar quieto, onde só se ouve o barulho de fichas, viu a cabine do jogo de roleta.

Capítulo 13 Naziazeno já era acostumado com o jogo, ele hesitou mas jogou no número 28, tal qual promessa que fez quando voltasse a jogar. Mal deu tempo de colocar o dinheiro e ele foi o vencedor. Os cinco mil-réis viraram quinze mil-réis. Ele nem acreditava que tinha ganhado, achou que nem participava daquele mundo. Porém, muito inocente, achou que os quinze mil poderiam virar mais. Fica a tarde toda jogando, ora ganhando, ora perdendo, até esperava que o Alcides ou o Duque aparecessem já que toda a gente se renovava por ali. Tenta mudar de estratégia, decide por nas cores, decide por nos números, mas havia uma constante que era de que perdia dinheiro. Incrivelmente, ele ganha em um jogo e decide dobrar o que ganhou nos cálculos que fazia. Em vez de continuar colocando em números que não saiam, colocou no 28 de novo. Perdeu todo o dinheiro.

Capítulo 14 Foi ver o resultado do jogo do bicho e não deu o dele. O calor continua na cidade apesar do dia estar acabando. Naziazeno continua andando, vê os negócios fechados ou já fechando, a rua com automóveis e o bonde quase vazio. Ele encontra-se com um agiota. Apesar dele já ter pedido dinheiro outra vez, ele tenta explicar que precisava do dinheiro para uma dívida, sem entrar nos detalhes que não comia por não ter dinheiro ou precisava do dinheiro para alimentar uma criança. Ele diz que não pode ajudar, Naziazeno até tenta ser simpático por desespero e o acompanha até a estação. Ele chega a suplicar, angustiado pela ajuda. O homem escapa dele e pega o bonde andando para sair de perto. O bonde vai sumindo com a figura do homem, Naziazeno vai andando para uma rua de construções, no sentido oposto do bonde. As cores de trabalho, construção, óleo e sombra se misturam na cidade, há um ar melancólico de que Naziazeno não acompanha o progresso de tudo que está em sua volta. Ele volta à rua comercial.
Leitura complementar: ”O rato que vê, o olho que rói: um estudo multifocal de ‘Os Ratos’, de Dyonélio Machado” por Aline Pereira Gonçalves https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/6974/1/AlinePereiraGoncalves_Dissertacao.pdf

Capítulo 15 As casas se permanecem imponentes com os sobrenomes e o sol alaranjado iluminando tudo por ali. O silêncio das casas era contrastante com as pessoas passando por ali. Ele passa perto de uma obra que tem como chefe o seu Júlio, ele vai revistando os funcionários, mais por obrigação do que acreditar que eram ladrões. É a humilhação do trabalhador que já tem que receber pouco, mas também tem que ser desconfiado. Depara-se com um carro que vai andando sem saber por onde, vê um hotel, o bonde, e tudo abandonado, o que fazia ele querer fumar perto deste horário. Naziazeno, vendo tudo isso, continua andando, já que não pode ficar parado.

Capítulo 16 Alguém chama Naziazeno de longe, era Alcides e outra pessoa que ele não reconhece rapidamente. Eles voltam para uma conversa falando do sangue como foi na Alemanha, Naziazeno fica em silêncio. Alcides viu que Naziazeno estava pálido e perguntou se queria algo, ele aceitava um café. Alcides mencionou que o Duque estava ali, o outro percebeu a conversa e a dívida que Andrade não pagou, pagou a conta e foi embora. Naziazeno conta tudo, menos que foi ao banco. Naziazeno até tenta perguntar do Mister Rees, Alcides desconversa, chamando Andrade de tapeador. O Duque estava ali conversando com outro, tinha chegado com Alcides. O Duque conversa com eles, pergunta se já foram ao agiota, Rocco, ao qual foi mencionado por Costa Miranda. Decidem ir até ele, mesmo que já seja tarde. O velhaco fica interessado com Naziazeno, conversaram na mesa do Duque e perguntou o que ele tinha. Falou que já ouviu desses problemas de doença, negócios, e que, de forma até quase maquiavélica, disse que resolveu tudo isso com uma ação de despejo. O Duque começa a fabular sobre o agiota e tudo que faria, tal qual Naziazeno não queria mais pensar, ele queria que as coisas acontecessem.

Capítulo 17 Naziazeno bebe uma charrua, está enjoado. Alcides chegou, tinham esperança, mas enquanto ia tomar o café, a esperança virou suspense, que virou desânimo. Rocco não emprestava e suspendeu os empréstimos. O Duque tinha outro plano e chamou Naziazeno, Alcides esperaria o Dr. Mondina a mando do Duque. Enquanto passava pelos mesmos lugares e via onde já passou, uma esperança surgia. Foram até o Fernandes e ele propôs um negócio ao gordo. Pediu o dinheiro e o gordo, com “o ar canalha”, tinha recusado até outro pedido menor por falta. Quis insistir mas o Duque agradeceu e se foi com Naziazeno. A noite vai chegando, como símbolo de um fim inevitável do dia e de até quando ele poderia achar uma solução. Eles voltam ao café e perguntam ao Dr. Mondina, que estava conversando sobre trazer estrangeiros ao país com Alcides, se ele não poderia ajudar. Simpatizava com a situação, mas não podia. Duque lembrou que Alcides tinha um anel para penhorar. O anel dava bem 180 mil-réis, herança do avô de bacharel. Pensaram se daria tempo, er ainda 6h45, a loja ainda ficaria aberta no verão.

Capítulo 18 A cidade fecha com a noite, mas o Duque vai andando, concentrado, ele tinha um plano. Eles têm esperança, mas a loja está fechada também. Pensam até em adiar o pagamento, mas não dava. Alcides pega o telefone e liga para alguém. Depois de uma conversa que estavam jantando, ele ganha a notícia que o dono da casa de penhor os esperava na casa dele, o Martinez. De novo, pensava no valor que tinha da dívida, que já tinha repetido inúmeras vezes. Mondina acompanhava tudo, andava com os 3, simpatizava.

Capítulo 19 Entraram na casa guiados pela criadinha, algumas luzes começaram a ser acesas. Como forma de polidez, convida-os a sentarem, mas como bom brasileiro que pede desculpa pela existência ou não quer tomar tempo sendo cordial, dizem que é um assunto rápido, o anel de penhor. Ele não diz se recordar, a loja estava fechada desde às 18h e ficou até surpreso que queriam o anel para a mesma noite, todos ficam com vergonha, mas ele pede a nota a respeito do penhor para analisar, perguntando o valor. Ele sai dali e vai conversar com a mulher, que é possível ouvir algumas palavras elevadas. Curiosamente, são as pessoas que possuem mais conforto e situação econômica favorável que reclamam se precisam trabalhar a mais, pois para quem é miserável e marginal o trabalho é uma condição que não acaba nunca. Mais uma vez, como quem estivesse ali para ver a história do melhor cenário, Mondina era o único que via tudo ao seu redor e não estava tenso como Duque e Alcides. Depois de um silêncio, voltou Martinez e iriam à loja. Naziazeno via que o chão anunciava a noite, mas havia uma luz no céu que dizia que era dia, ainda havia tempo. Ele contempla o quanto tudo toma tempo, nada é rápido, tudo precisa de uma extensão de tempo que se vai e nada se ganha. O silêncio é interrompido por um assovio de bondinho ao longe, mas tudo está quieto na rua. Mais uma vez, para quem o tempo não importa, o dono da loja de penhores analisa cuidadosamente o número da cautela, onde pode estar, toma um tempo para organizar, analisar o preço, ver o objeto e até perguntar de quem era. Quando tomam o anel, o Duque diz logo que deveriam ir. Martinez se despede, Mondina agradece e eles vão em passos martelados. “É noite fechada.”.

Capítulo 20 Naziazeno já não tinha mais esperança, mas o Duque era obstinado. Até tinha pensado em pedir de novo para Mondina, já que ele simpatizava com a situação. Não davam um passo fazia um bom tempo. Tudo estava fechado, mas Duque chegou a ideia de ir até o Dupasquier. Ele os recepciona, a loja estava aberta mas era para outros motivos. O Duque diz que era particular e explica a situação do anel. Ele diz que o anel era bom, valia dois contos e quinhentos, mas não saia sem quinhentos mil-réis, 12.500 reais. Ele ofereceu 350 mil-réis, aceitaram que iriam empenhar, mas o Dupasquier não fazia esse tipo de negócio e deu as costas. Já na rua, Alcides até comenta de outros agiotas, poderiam dar o anel de garantia. Pensaram até em pedir ao Mondina que ficasse com o anel para na manhã seguinte já liquidar a dívida. Ele não gosta da situação, mas Duque argumenta que até o próprio Dupasquier pagaria sem problema algum por quase 400 mil-réis, já que quando ele penhorou o anel inicialmente era um tempo mais difícil. Já eram oito horas. O Duque até se propõe para penhorar, garantindo 420 mil-réis. Mondina gaguejava, ele simpatizava mas não sabia as palavras para dizer não. Naziazeno tinha sono.

Capítulo 21 ”São nove horas”. Naziazeno entra quieto na casa para não assustar a mulher que já estava ansiosa. A mulher o viu magro, cansado, com a barba para fazer mas os olhos deles estavam vivos. Ele trouxe embrulhos, era o sapato que deixou para consertar e também trouxe manteiga, até queijo holandês ele trouxe. A mulher virou jovem de novo. Perguntou do filho, Mainho, trouxe uns brinquedos de borracha. Ele vai comer, a mulher perguntando onde ele estava e se comeu. Ele se lembra de quando foi comprar o presente e das opções. O leão até pode ser uma representação de Cristo, pois ele é denominado o Leão de Judá. Vai saber se realmente é isso, um símbolo de esperança ou uma piada de mal gosto. Perguntou se tinha vinho e pensou que o menino da vizinha poderia buscá-lo, deu dinheiro e a mulher foi ver. Lembrou da empolgação de querer comprar o queijo a mais e levar um quilo, mas considerou mais caro que o normal e levou só um quarto. O caixeiro sem ter embalado a manteiga direito embalou no mesmo papel o queijo. Ela fica curiosa em como arranjou o dinheiro, disse que contaria depois, mas não o faria. Perguntou se ela o esperou para almoçar, disse que tinha esperado até a uma. O som da ária enquanto foi ver o Andrade apitou na cabeça. O vinho chegou e bebeu um pouco, perguntou se o pessoal da repartição ou qualquer outra pessoa o havia procurado. Ela perguntou da comida, ele fez com que estava aceitável. Até provou o queijo. Ela pergunta se foi o diretor que lhe arranjou dinheiro, a frase “tenho lá alguma fábrica de dinheiro?” retorna. Ele diz que foi com Alcides e o Duque. Ela acha que foi pelo jogo, ele até vê o número 28, depois vê a areia pesada do cais em construção, a luz pálida do fim de tarde, as paredes e paredes do centro comercial. Disse que não foi no jogo. Ele pede um café, ela se levanta, ele apalpa a nota de cinquenta mil-réis e lembra-se dos cinco-mil réis do Costa Miranda. Quando o Duque contou os 75 mil-réis, os 5 mil já estavam separados para Costa Miranda. Mas ele se preocupou, não achou o dinheiro separado e pensou que poderia ter gastado mais do que sua empolgação lhe cegou. Contou as notinhas surradas e os níqueis e viu que poderia ter o suficiente. Ela pergunta quanto foi o presente e ele conta. Ele mostra o dinheiro para o leiteiro, sente-se incomodado das moedas soltas e da falta do dinheiro exato para pagar, ainda que tivesse a mais. Adelaide tinha uma nota exata de 2 mil-réis. Estava ventando, ele disse que era uma boa noite para dormir, ela pergunta se ele se deitaria, disse que ainda era cedo, nove e meia. Ele pega o leãozinho e fica apertando e ouve o assovio. Pensa que Mainho vai encher aquilo de água. Tinha sono e ouvia bem o murmúrio do vento.

Capítulo 22 Naziazeno saboreava como o leiteiro só poderia ter a boca aberta em espanto com o dinheiro todo ali. Mainho ainda está dormindo e ele fica pensando em como era quase uma mentira que ele tinha o dinheiro ali com a mulher. Ele só saberia do que seria do penhor amanhã de tarde. Ficou pensando se o diretor iria reclamar da sua falta no expediente da tarde. Eles ainda conversam de fofoca, verificam e arrumam a casa. Ele ainda não queria dormir, estava saboreando o momento que lhe lembrava a infância (o brinquedo presente, a mesa posta, a promessa de leite), a mulher sugeriu deixar o leite de madrugada para ele não precisar acordar cedo. Vai na cadeira de balanço e vai tomar outro café.

Capítulo 23 Colocaram o dinheiro para ser pegado pelo leiteiro, até pensaram em colocar um peso mas não ventava em casa. Adelaide vai ninhar a criança que choraminga, Naziazeno decide ir deitar, estava cansado. Ao se despir, deitar-se, sentir dor em todos os membros, coisa que não desgostava, ficou pensando no dia todo e em o que não devia ter feito ou não percebeu. É mais fácil ser um bom analista do passado do que do futuro. Mas, como estava com um dia cheio de coisas, ele não conseguia se desligar e deixar de pensar. O problema de quem precisa ficar trabalhando é que o cérebro nunca para. Lembra de tudo, analisa o quarto, pensa no bonde que passa ali perto. Ele não sabe se dormiu ou se ficou acordado, fica pensando em todos os barulhos ao seu redor. Nem sabe mais que horas seriam, poderia bem ser perto da meia-noite. Pensou em comer, até em beber, ouviu a criança resmungando e tudo voltou ao silêncio. Acordou com uma pancada ouvida de longe, já era uma da manhã e ele não conseguia descansar.

Capítulo 24 Cogitou fazer alguma coisa, já que não estava dormindo. Em um universo que pede que a todo momento você faça algo, abandone a preguiça, que seu estado de miséria é uma culpa individual, descansar é um crime psicológico e sistemático. Não queria fazer barulho, todos estavam dormindo e isso também o deveria fazer. Concentraria-se em algo. Pensa em um círculo, lembra dos companheiros, pensa na repartição. Ele até culpa a luz do quarto da criança, achando que não deveria estar ligada ao mando do médico. Eram quase duas da manhã. Ficou pensando em Mondina, em Costa Miranda, viu Mainho descoberto da perna mas continuou divagando. Pensou no avô nunca antes citado por Alcides. Começa a meio que lembrar, sonhar e delirar, vê a cara do Duque como a de um rato. Um estalo ameaça acordar a criança, Adelaide o ninha e Naziazeno finge que não estava acordado.

Capítulo 25 Voltar para casa deu realmente o silêncio que pensou o dia todo. Pensou no sapato da mulher e do passeio que fariam no domingo, e na cara saltada do leiteiro cobrando. Pensa em como arranjou o dinheiro, no vento da noite, na comida no estômago. Pensou no dinheiro bem colocado ali como forma de carinho ao leiteiro. Pensou ser melhor do que estar na frente dele, poderia começar uma discussão. Pensou em como tudo poderia ficar pior, na gritaria, ainda que isso nunca fosse acontecer pois ele já tinha o dinheiro. Pensava no passado, no que podia ser do presente, até da noite ser mais quente que poderia justificar sua ida à sala. Sente culpa de não dormir, de ser uma exceção. Tentou se arrumar, coisa que lhe pesava. Sentiu que era vigiado para ver se dormia. Pensaria em nada.

Capítulo 26 O calor vem chegando quando fica assim acolhido. Vai sentindo cada parte do corpo de volta. Pensou ter ouvido o bonde já passar, mas não sabe mais. Até pensou em comprar o jornal, mas dois tostões valia para muita coisa, na mão do Duque podia valer mais, para Naziazeno ele podia usar para outra coisa. Lembra de quando o Duque manipulava todos com o anel, para que tudo se solucionasse. A todo momento, há essa situação de que as pessoas adorariam ajudar, querem ajudar, mas jamais ajudam, sem explicar, ficando mais confuso o desejo de ajudar sendo que seria mais fácil falar que não ajudaria. Seja por causa do anel, seja por outras figuras na história, até quando era trocada uma nota de cem mil-réis no café. Lembra da luz do bonde, lembra do Duque contando e repartindo o dinheiro. Lembrou de sua ida ao sapateiro e do bonde de retorno. O bonde, com pessoas cansadas, com medo de quem aparecia por perto de estar incomodando, o sapateiro, julgando Naziazeno de todo o corpo. Teve toda a demora da contagem de notas, a velocidade do bonde terminar o caminho, Naziazeno acabou dizendo que precisava de 53 mil-réis, o Duque lhe deu 65 mil, 5 mil a mais do que pretendia. Lembrou de Adelaide o vendo enquanto entrava com os embrulhos.

Capítulo 27 ”Outra vez um silêncio súbito.”. Achou que já eram 5 da manhã. Pensou que talvez tivesse dormido, não tinha certeza mas não tinha dúvidas. Começa a ouvir um chiado e fica interessado, pensando nesses ruidozinhos. Os ruídos viram chiados, os chiados viram guinchos. Fica ouvindo ratos. Acredita que a casa esteja cheia deles. Fica neurótico com todo o barulho quase silencioso e acha que os ratos vão comer o dinheiro. Até pensa em acordar Adelaide, ficou pensando que o dinheiro era novidade e os ratos gostariam de comer. Pensou em esconder o dinheiro, mas onde o leiteiro o acharia? Não queria mexer porque o leiteiro não o veria e ele precisava descansar. Os galos começam a cantar depois de um certo tempo. Ele analisa toda a casa e vê que o dinheiro continua ali. Vê alguns pequenos farelos da obra dos ratos. Sente-se finalmente um silêncio de trabalho concluído. E, mais uma vez, “aquela sua tristeza, aquela ânsia no estômago, aquele desânimo”, ele não estava com a vida melhor, era só outro problema da sua vida com tantos problemas.

Capítulo 28 Tudo ganha uma luz amarela meio sanguínea. Ele ouve novamente os ratos. Ele tenta localizar mas não consegue focar de onde foi. Ele não dorme e não descansa. Ele ouve um baque do portão, depois, a porta se abrindo e um silêncio. Ouve um jorro forte do leite que é despejado. Alguns passos se afastam depois de outro bater da porta, mas agora mais suave do que de antes. Finalmente, “ele dorme.”. Flávio Kothe, “O Herói”, Naziazeno é um herói da decadência, heróis contra a trivialidade, a narrativa moderna quando é positiva aponta para a trivialidade. https://pdfcookie.com/documents/kothe-flavio-o-heroi-mly03mnrdo20

A narrativa é cíclica, como de Sísifo, nunca acaba a angústia.

Categorias
Literatura Brasileira Resumo de Cada Capítulo

“Dois Irmãos” de Milton Hatoum – Resumo de Cada Capítulo

Livro da FUVEST até 2025. Contexto histórico – Próximo da Segunda Guerra Mundial, mudança do eixo de comércio de Manaus para São Paulo, início da Ditadura Militar.

Carlos Drummond de Andrade – “A casa foi vendida com todas as lembranças todos os móveis todos os pesadelos todos os pecados cometidos ou em vias de cometer a casa foi vendida com seu bater de portas com seu vento encanado sua vista do mundo seus imponderáveis” – Poema “Liquidação”

Temáticas:

  • Diferenças de classes sociais
  • Choque entre regiões do Brasil
  • A narração pós-moderna e o conflito do que é memória e o que aconteceu
  • Sexualidade e conflito e identidade
  • Situações paradoxais que propulsionam a narrativa
  • A fatalidade do esquecimento, da morte

O livro não é dividido por muitos capítulos. Há separações que denotam uma passagem de tempo entre capítulos. Para motivos de organização, esses espaçamentos serão chamados de “parte” dentro de cada capítulo.

Prólogo – Zana abandonou tudo que tinha de memórias. Queria que Omar voltasse. Ela perambulava em uma casa que só possuía lembranças de membros da família libanesa e que morava em Manaus. O narrador não teve coragem de vê-la morrer. Ela ainda perguntou, em árabe, se os irmãos tinham se reconciliado.

Capítulo 1 – Parte 1 – Yaqub, 18 anos, o irmão mais velho, chega no Rio de Janeiro, vindo do Líbano. Halim, seu pai, que não via desde seus 13 anos, mal reconheceu o pai. Ao abrir a mala, tinha nada, pois a família do Líbano não queria que o jovem fosse ao Brasil. Yaqub tinha um irmão gêmeo, Omar, que ficou no país, enquanto ele foi enviado para ser ra’í. Enquanto iam para Manaus, Halim ensinava Yaqub sobre os costumes diferentes do Líbano (mijar na parede, cuspir no chão, vestimentas) em relação ao Brasil. Zana, mãe de Yaqub, o encontra no aeroporto, após pagar propina para passar pela segurança, com o garoto ainda enjoado da viagem, a mãe que encontrou de volta um pedaço dela, emociona-se. Yaqub tinha dificuldades de falar em português, enquanto revia seu lugar de infância em Manaus. Yaqub lembrava do caçula, Omar, e como ele era destemido e irresponsável na infância, diferente de si, mais fechado e medroso. Yaqub lembra de uma festa de Carnaval que queria ficar com uma garota. Após obedecer sua mãe e levar Rânia, sua irmã, para casa, voltou ao baile vendo a garota que gostava com Omar – foi a última manhã que viu o irmão, o qual nunca sofria repressões da mãe, voltar do baile, viajou para o Líbano logo depois.

Capítulo 1 – Parte 2 – Rânia, irmã de Yaqub, reencontra-se com o irmão. Yaqub perguntou por Domingas e começou a revisitar a casa. Zana diz que Omar apareceria para jantar com eles. Yaqub olha para fora, lembrando do passado. Os parentes comentaram de como Yaqub tinha chegado do Rio, o garoto tentava falar mas faltavam palavras do português. Começaram a elogiar Yaqub, em contraponto do caçula, ao passo que a mãe disse que os dois eram idênticos em tudo. Yaqub ficou feliz de faltar palavras naquele momento e não dizer nada. Omar chegou e foi recepcionado pela mãe como se ele fosse o filho ausente. Os irmãos se estranharam, mas Yaqub disse que ia melhorar, afinal, “tudo melhora depois de uma guerra.”

Capítulo 1 – Parte 3 – O narrador conta que a cicatriz no rosto de Yaqub foi contado por Domingas, o único traço de diferença física entre os gêmeos. O narrador conta que conheceu Domingas pouco depois do Carnaval. Era costume ir bem arrumado para o cinema ambulante na casa dos Reinoso. Enquanto esperavam o filme, a sobrinha dos Reinoso, Lívia, ficava paquerando os gêmeos. O caçula teve ciúmes. Apesar dela ter o coração de todos, ela gostava dos gêmeos, em específico de Yaqub. A sessão durou pouco pois faltava luz em meio ao dia de chuva. Todo viram Lívia beijando Yaqub enquanto ligavam as luzes do cinema. Omar foi para cima do irmão. Zana culpava Halim pelo comportamento dos gêmeos. Yaqub foi humilhado na escola e permanecia em silêncio. A ideia inicial era que os dois fossem ao Líbano, apenas Yaqub foi, no meio da guerra. Os pais, com medo da violência ir para a casa, mandaram-no para viagem. Voltando ao presente, Yaqub ainda falava nada, apenas comia, no meio das conversas da família.

Capítulo 1 – Parte 4 – O narrador fala da moradia e do comportamento igual aos gêmeos de mesada, educação e moradia. Zana temia os hábitos do Líbano no irmão recém-chegado, além da fala trocada de “p” por “b” e ser quieto. Yaqub com as mulheres, porém, era outra história. “Tinha olhos de boto”. A mãe sabia de antemão e lia os versos copiados das meninas a ele, de prazer quase cruel. Yaqub estudava muito a gramática da língua portuguesa. Era bom em matemática, como opostos do outro irmão (que ouvia as comparações vindas dos pais). Anos depois, Yaqub passaria na Escola Politécnica de São Paulo, “em ‘brimeiro lugar, babai’”. O matemático não dava bola para ninguém, gostava de xadrez mas preocupava os pais de sua falta de ciclo social. Yaqub não gostava de sair, ainda mais nos bailes carnavalescos, festas juninas, jogos de futebol. Compensava a pele sem sol pela matemática que fazia na cabeça, sem precisar tomar notas. Já Omar gostava das farras e “audácias juvenis”. Halim detestava a repetição de comportamento de encher a cara de bebida, voltar para casa e ser auxiliado por Domingas para tirar a roupa, beber água e passar as tardes dormindo na rede de ressaca. Halim não apoiava e repreendia o garoto, mas ele não se abalava, até teve orgulho quando foi expulso do colégio de padres que reprovou duas vezes. Ao encontrar o diretor, ele perguntou à mãe se o outro filho continuaria na escola. Deixou para responder outro dia.

Capítulo 1 – Parte 5 – O Caçula foi estudar no Águia de Haia – apelidado de “Galinheiro dos Vândalos”. O professor de francês mal ensinava, os gestos obscenos na escola eram livres, Laval era o que mais se destacava, professor que recitava poemas e escrevia um para cada aluno. O Caçula contava com gosto como foi expulso do antigo colégio de padres. Deu um soco e um chute no padre, foi punido para ficar ajoelhado do meio dia até ver a primeira estrela. A mãe defendia dizendo que “Bolislau errou”, pois o “filho só quis provar que é homem… que mal há nisso?”. O narrador conquistaria o diploma na mesma escola do Caçula, sendo que o irmão mais novo nem terminou o curso no Galinheiro dos Vândalos.

Capítulo 1 – Parte 6 – Yaqub foi para São Paulo, sem avisar com antecedência e enfrentando as negações da mãe, deixando livros e roupas ao narrador. No Natal de 1949, um ano antes de sua partida à grande cidade, recusou o presente de bicicleta e dinheiro e pediu uma farda de espadachim para desfilar no colégio de padres. O pai aproveitou o dia de silêncio, a mãe foi ver o filho, toda orgulhosa. Yaqub foi destaque do desfile, ganhou até foto e elogios no jornal, além de beijos e flores enquanto desfilava “com um ar de filho único que não era”. Foi Bolislau que recomendou ir embora de Manaus, já se ficasse ali, seria “derrotado pela província e devorado pelo” irmão.

Capítulo 1 – Parte 7 – Yaqub saiu da escola cheio de elogios, ganhou duas medalhas. Os professores sabiam do futuro brilhante dele, diferente do irmão que faltou ao jantar de despedida. Ele só voltou tarde, enquanto Yaqub pedia para não receber dinheiro dos pais. Omar acordou mas dessa vez sem a ajuda das mulheres, que só tinham olhos e foco para o viajante. Recusou a comida fria. Lívia apareceu na casa e perguntou por Yaqub, que foi voando a ela. Domingas foi espiar e viu os dois trocando carícias. Omar, sombra da casa, viu o irmão ainda marcado da garota que amava.

Capítulo 2 – Parte 1 – Há um retorno ao passado, para 1914. Há uma descrição do restaurante de Galib, viúvo e pai de Zana, ponto de encontro de imigrantes libaneses, sírios e judeus marroquinos. Halim recebeu uma indicação de um amigo poeta, Abbas, e começou a frequentar cada vez mais o local. Halim admirava Zana e trazia peixes para Galib, ganhando almoço de graça. Quis comprar um chapéu para a filha do dono do restaurante, mas o amigo poeta sugeriu um gazal (peça de tecido com um poema). Fingiu ter esquecido no restaurante para, semanas depois, receber de volta de Galib. Abbas, ao ver o amigo derrotado, recomendou beber e ter coragem. Halim apareceu bêbado no restaurante para o susto de Galib e Zana. Leu os versos do gazal no meio de risadas dos outros clientes. Dois meses depois, era esposo da garota de 15 anos. Já velho, Halim contava a história ao narrador, confundindo árabe com português, pois contava de vez em quando algumas histórias, “como retalhos de um tecido” que “foi se desfibrando até esgarçar”, era um “romântico tardio, um deslocado anacrônico”. O casamento entre ele e Zana não era bem visto por ser muçulmano. Zana era bem decidida, de “uma teimosia silenciosa, matutada, uma insistência em fogo brando”, sendo a última e definitiva palavra do casal. O casamento seria no altar de Nossa Senhora do Líbano, com a presença das maronitas (tradicional do Líbano) e católicas de Manaus. No casamento, a foto dos dois beijando tinha Zana de olhos abertos, assustada com a voracidade. Halim era um Jó paciente acompanhado de Zana que mandava e desmandava, além de ser “um demônio na cama e na rede”. O narrador disse que contava as histórias com a maior naturalidade, ainda que pausasse para fumar narguile e tentando lembrar de vozes e pessoas devoradas pelo tempo. Apesar do casal não ter viajado para o Líbano, Galib foi, todo contente. Depois de duas cartas, Zana recebeu uma carta enquanto morava no Biblos, de que o pai morreu. Zana ficou desesperada, pedindo três filhos e se agarrando às roupas do pai. Halim tentava convencer de que não adiantava se agarras às coisas, já que eram vazias. Tinha o costume de não guardar dinheiro, agradava mulher e filhos. A dor da morte era grande pois quando viajavam para fora não viam o corpo, recebiam apenas uma carta ou telegrama. E ainda assim, Zana quis que Yaqub fosse sozinho para a aldeia dos parentes dele.

Capítulo 3 – Parte 1 – Yaqub, já em São Paulo, mandava cartas ao fim de cada mês. A vida era sozinha e fria, deixando a mãe de coração partido e o filho caçula com ideias de ter uma festança para afastar essas ideias da cabeça da mãe. Conforme os meses passavam, e talvez pela cabeça de matemático professor paulistano, as cartas diminuíam o número de textos, até entrar na Universidade de São Paulo. Seria engenheiro. Mandaram dinheiro e felicitação, sem entenderem o título, porém, ele agradeceu e mandou o dinheiro de volta. Zana enchia-se de orgulho, levando o crédito do filho paulistano ser dela, não o filho que foi levado ao Líbano por ordens dela.

Capítulo 3 – Parte 2 – O narrador conta como via apenas fotos de Yaqub fardado. Enquanto um era uma figura abstrata de um mundo distante, o outro irmão era bem presente, zombando do sucesso de quem tinha voz e aparência iguais. Zana ficava entre o pouco que recebia de notícias e fotos do filho matemático e de seu falecido pai. O narrador ficava entre as reclamações do paciente Halim e da saudosa Zana. Lembraram de como Domingas chegou à casa, como era próxima de Zana, apesar de ser sua empregada e de como Zana se deixava levar pelo prazer do sexo. Halim lamentava de não ter comércio, já que “exagerava nas coisas do amor”. Halim nunca quis filhos, mas Zana pestanejava por caprichos do marido, sua teimosia e de seu falecido pai, queria três. Tinha muito carinho pelo Caçula que adoeceu nos primeiros meses, temendo a morte. Domingas era uma índia que sonhava na liberdade que deixava para depois, ainda mais quando nasceu Rânia, cuidava dela e de Yaqub com muito carinho. Ela ouvia fofocas da patroa e tinha medo, mas rezavam juntas e tudo voltava ao normal. Como esperado, as noites de sexo de Halim e Zana não eram mais as mesmas. Os gêmeos eram travessos, com destaque em Omar. Numa noite, viu o mosquiteiro pegando fogo e Omar deitado ao lado de Zana. Acordou a casa aos gritos, achava um desaforo o filho dormir na mesma cama. Foi dormir no depósito da loja e até sugeriu para Zana que fizessem amor na frente de Omar. Ela respondeu com ironia para que anunciassem outro filho. Ele começou a dormir no depósito e se trancavam lá por horas quando ela resolvia visitá-lo.

Capítulo 4 – Parte 1 – O narrador conta como sabe pouco de si. Tão pouco dos antepassados, da origem e desconfiava que um dos gêmeos era o pai. Domingas disfarçava. Uma noite de sábado, Domingas pediu para ir à cidade. Zana achou estranho mas deixou, desde que voltasse cedo. Domingas acordou feliz, fez café e identificava os pássaros da região. Ela lembrava de como os pais se encontraram. Lembrou também de como o pai morreu e foi levada ao orfanato. Rezava muito, aprendeu a ler e queria fugir, inspirada em outras do orfanato. Um dia, uma das irmãs pediu que ela tomasse banho, cortasse as unhas e se vestisse bem. Ela foi levada até Dona Zana, com a ameaça de que caso ela se comportasse mal, voltava ao orfanato. Cuidou dos gêmeos, em especial Yaqub, sofreu quando ele viajou. Apesar do pouco tempo que passou, Domingas chegou a vila mas logo foi embora, assombrada pelas memórias e por não cumprir de chegar cedo à casa. Conforme chegavam próximos da cidade, Domingas falava menos. Choveu no final da viagem. O barco balançava fortemente, tanto o narrador quanto Domingas vomitaram. Voltaram para casa sujas, Domingas dormiu na rede e o narrador no chão. No meio da noite, Domingas perguntou se gostava de Yaqub, mas não ouviu mais. O narrador ganhou um quarto separado de Domingas, já estava grande. O narrador ficou fascinado pelo rio, enquanto Domingas jamais viajou de barco novamente. Ia ao cinema e via sessões de domingo.

Capítulo 4 – Parte 2 – O narrador tinha permissão de passear pela casa. Domingas sempre se ocupava em limpar a casa, até demais. O narrador era apaixonado por Zahia. Apesar de filho de Domingas, fazia os afazeres para Zana e alguns amigos dela. Para poder fugir dos trabalhos pesados, ouvia as fofocas da rua e contava para Zana. Chegava até a faltar de aulas para comprar coisas para Zana, sendo que ela pagava fiado e nunca estava satisfeita. Porém gostava menos era de Omar, que não queria que comesse na mesa e ainda precisava ajudar o caçula quando chegava bêbado ou machucado. O narrador só sabia nutrir ódio pelo relacionamento entre Zana, Halim e sua mãe. Ainda assim, era fascinado pelas histórias do pai dos gêmeos. O narrador procurava memórias em uma casa que esquecia o passado.

Capítulo 4 – Parte 3 – Em 1956, Yaqub continuava genial e conquistando objetivos em São Paulo. Omar iria a São Paulo, apesar do matemático não gostar da ideia. Uma noite, Omar levou uma mulher à casa e a deixou em completo caos. Halim esperou a mulher ir embora e deu uma única bofetada no filho que fingia estar dormindo, segurando-o pelo cabelo. Depois, algemou o filho ainda nu no cofre e Halim sumiu por dois dias. As mulheres da casa cuidavam dele. O narrador tentou procurar Halim, sem sucesso. Viu um vira-lata acorrentado que latia e babava. Riu da cena pois lembrou de Omar, já que “toda valentia é vulnerável”.

Capítulo 4 – Parte 4 – Halim decidiu mandar Omar para São Paulo. Yaqub estava casado e ainda não aceitava dinheiro dos pais, nem se quer anunciou o nome da esposa. Zana teve ciúmes, já que “filho casado era um filho perdido ou sequestrado”. No aniversário da mãe, o Caçula trouxe flores, trazendo surpresa para Rânia. Porém, Omar trazia isso como uma máscara de suas intenções, “sorrindo cinicamente para a irmã. Sorria, fazia-lhe cócegas nos quadris, nas nádegas, uma das mãos tateava-lhe o vão das pernas”. Rânia afastou-se do irmão e foi para o quarto. Rânia era reclusa, mal saía do quarto, abandonou a universidade no primeiro semestre, não frequentava festas e dormia em uma cama estreita. Pediu para trabalhar na loja do pai, coisa que nunca veio de Omar. Era uma vendedora exímia, por habilidade e beleza. Recebia cartas de pretendentes, médicos e advogados, mas jogava todas no fogo, as únicas que guardava era de Yaqub. A mãe tinha pena da filha solteirona. Porém, escondendo “seus pensamentos, suas ideias, seu humor e mesmo uma boa parte do corpo”, ela mantinha a loja do pai andando e sua vida. Na única noite que se arrumava, no aniversário de Zana, iludia um pretendente que a mãe trazia e encantava todos, até o narrador. Talib era tarado por ela. Quando recebia o pretendente, dançava, fingindo não saber como e dando esperanças à mãe. Porém, quando aparecia o Caçula, jogava-se aos braços dele, para ciúmes do pretendente. Zana e Rânia competiam pela atenção do Caçula, até que chegou o evento da Mulher Prateada (motivo que Omar foi mandado para São Paulo). Era uma mulher mais velha que conhecia, motivo que a preocupava, já que todas as meninas que Omar trazia eram desconhecidas. Era Dália, tinha sobrenome mas o narrador esqueceu, tinha um vestido vermelho e corpo que chamavam atenção de todos, mais até do que Rânia. Zana duelava com sorrisos falsos com Dália. Rânia, diferente das outras noites, comeu a sobremesa e foi para o quarto. Dália dançava com um corpo prateado, ganhando a atenção de todos, ainda mais da mãe, uma rainha destronada que jamais havia traído Omar. Zana sequer assoprou as velas e foi ao quarto. Zana viu os dois dançando, chamou a mulher para limpar a casa enquanto Omar ficava na rede. Um momento, a mãe a puxou pelo braço e cochichou. Dália foi ao banheiro, com o vestido prateado em uma sacola e com um olhar derrotado. Saiu e bateu a porta com força. Omar, assustado, a perseguiu. Descobriram que ela fazia parte de um grupo de dança e a mãe pediu abrigo para Yaqub ao irmão, que negou prontamente. Escreveu que poderia alugar um quarto, matricular em um colégio particular, enviar notícias mas jamais dormir no mesmo teto. Sabendo dos planos, Omar aparecia menos em casa, xingava o irmão. Descobriram o lar de Dália, uma casa derruída, destruída. O narrador foi visitar a mando de Zana. Foi oferecer dinheiro, as tias da casa aceitaram. Dália sumiu. Em uma noite chuvosa, Omar, bêbado e doente, apareceu. Zana discutiu com o filho sobre a dançarina. O pai deu o ultimato que iria para São Paulo. Zana ainda tentou adiar a viagem e dizer que voltaria depois de alguns meses. Halim não falou mais com o filho até o dia do embarque. Omar viajou dando coices no ar. Foram seis meses de quietude. O quarto ficou do jeito que ele deixou, a pedido dele para Domingas. A mãe demorava para limpar os dois quartos – um bagunçado e o outro que nem parecia ter vida. O narrador entrou no Galinheiro dos Vândalos com a ajuda de Halim. A escola tinha histórias, ex-namoradas e gravuras do Caçula. Conseguiu terminar o curso que o mais novo não concluiu. Omar disse que ia bem e que estudava em São Paulo, acostumado ao frio. A empregada de Yaqub levou doces da mãe para Omar, que comeu com muito gosto. Yaqub, em novembro, visitou o bairro da Liberdade, onde morava Omar, ainda que ele não o queria vê-lo. Yaqub lembrava do começo de sua vida em São Paulo. Pensou em tudo que não teve, na solidão e no que não podia comprar, pensando que “o desamparo engrandece a pessoa” e isso engrandeceria Omar. Foi visitar o colégio do irmão, ele era participativo e prestava atenção. Porém, após o feriado de novembro, o irmão deixou de aparecer na escola e nem avisou que não ficaria mais no quarto. Yaqub tentou procurá-lo em todos os lugares e a esposa disse que não deveria se preocupar. Foi até o quarto de Omar e viu um mapa dos Estados Unidos. Após alguns meses, recebia os doces e também o primeiro cartão-postal.

Capítulo 5 – Parte 1 – Yaqub foi visitar a família pela primeira vez. O narrador ficou aflito, conta de como Domingas estava nervosa. Lembrou de quando Domingas discutiu com Yaqub por levar Lívia a São Paulo, e que não a levou para visitar em Manaus. A mãe perguntou da nora e Yaqub se irritou, falando que “o outro filho vai te dar uma nora e tanto”, e que seria “tão exemplar quanto ele”, o irmão caçula. Zana contou do sonho que teve com os gêmeos se dando bem, Halim reclamou da atenção desproporcional ao caçula e disse para falar com o matemático. Zana e Domingas faziam de tudo para que os gêmeos não se vissem. O narrador conta como ficou em conflito do que contavam de Yaqub a ele – era desconfiado da família, mas saudoso com os lugares da infância que via com o narrador. Porém, a dor do reencontro era maior que a saudade da infância. Foi ao restaurante, ao porto e aos lugares que visitava quando criança, muito sério. Yaqub reclamava do comércio e de como o pai não se inovava. O narrador notava como Rânia se tornava sensual na presença do irmão, recebendo carinhos de Yaqub no colo dele. Viu os dois indo ao quarto e trancarem a porta, só os viu de novo no jantar. Em um jantar que mal tocou na comida, Talib perguntou se ele não tinha saudade do Líbano. Yaqub perguntou “Que Líbano?”. O silêncio reinou na sala, Talib disse que era o Líbano que morava no coração, com a resposta de Yaqub sendo “Não morei no Líbano, seu Talib”. Disse que não havia esquecido uma coisa, mas desistiu de continuar. Talib se retirou após um pedido de tomar licor com suas filhas. Fumava no jardim incomodado. Conversou com Halim e o narrador só o viu no domingo, dia que voltaria para São Paulo. Rânia o acompanhou até o aeroporto, Domingas entregou um pacote de farinha e penca de pacovãs, “abraçou-o; soluçou ao vê-lo partir”.

Capítulo 5 – Parte 2 – Os pais descobrem das aventuras de Omar. Não haviam desconfiado porque ele voltou falando inglês e espanhol. O narrador foi com Halim até a ponta da Cidade Flutuante, local que o pai dos gêmeos vendia. Halim era conhecido e conhecia o pessoal. Um navegante contou a história de um casal de irmãos que vivia ali por perto, longe das pessoas. Halim desembestou a falar mal de Omar e reclamar de como era ingrato. O Caçula mandou cartões-postais de diferentes cidades, Yaqub fez questão de rasgar todos, menos um, ao qual entregou ao pai e que elogiava o país, inferiorizava os pais e os convidava a visitar. Omar tinha roubado o passaporte de Yaqub, além de roupas. Descobriu após a empregada confessar tudo: a invasão do irmão na casa enquanto viajavam para Santos no feriado, os almoços com o dinheiro que os pais mandavam a Omar, os 820 dólares roubados de um “harami, ladrão”. O engenheiro queria o dinheiro de volta. O pai pediu para perdoar, fazendo com que o filho só ficasse mais energético. Afinal, “parece que o diabo torce para que uma mãe escolha um filho”. Não era apenas dinheiro, mas também o casamento que era segredo – Omar havia desenhado nas fotos de casamento. Halim ouviu tudo, disse que ia dar um jeito. Foi para casa com orquídeas, ficou nu na rede, chamou a mulher e fez sexo.

Capítulo 5 – Parte 3 – 6 anos depois da fuga de Omar, Yaqub mudou de endereço. Mandavam fotos que mostravam mais a “decoração e se esqueceram de mostrar o rosto”. A mãe emoldurava as fotos, apesar da diferença visível, fazia elogios em gangorra para Omar e Yaqub. Zana era enciumada com a nora, que enviava presentes para Halim. Zana tinha vontade de destruir tudo. As notícias da nova capital do Brasil ecoavam, Rânia queria modernizar a loja. Halim só queria comer bem, sem se importar com o amanhã. Yaqub foi o pequeno deus que apareceu e reformou tudo, sem dar chance aos pais de dizer “não”. A falta de energia era constante, mas tudo na casa era novo, até o quarto do narrador e de Domingas. A loja até terminou com o fiado e melhorava. Quem desprezava tudo era Omar, não queria nem que pintassem o seu quarto. Zana admirava o filho em fotos com mulheres seminuas, Omar roubava dinheiro da loja, Domingas repunha e Zana dava de presente a Omar no bolso enquanto se arrumava para sair. A loja não era mais a mesma, possuía vitrines e artigos novos da moda. Halim era um conhecido que lembrava-se do passado.

Capítulo 5 – Parte 4 – Depois de Dália, o Caçula se apaixonou por uma mulher apelidada de Pau-Mulato. Apesar de Omar ter parado de voltar bêbado, acordar cedo e barbear-se, sua mãe não ficava calma, ficava aflita. O novo irmão encantava Rânia, conversavam nas refeições e convivia com a família. As filhas de Talib se encantavam com o novo Omar. Omar até trouxe um inglês a sua casa, que recusou as comidas de Domingas. Saiu ele e o inglês no conversível do caçula para surpresa de todos. Zana desconfiava do filho, viu que o emprego do filho era falso. Ele estava participando de contrabando. “Quando o destino de um filho está em jogo, nenhum detetive do mundo consegue mais pistas que uma mãe.”. Halim desconfiou de Zanuri, um agente do governo, que frequentava a casa e vigiava casais. Delatou o episódio que Omar encontrou com a mulher, a mãe foi aos poucos dando indícios, até que Omar percebeu. Foi dando sinais e disse que ele devia sair de casa, o que aceitou. No fatídico dia que iria embora, a mãe brigou com ele, num misto de quer que vá embora mas que fique de mãe. O pai, por outro lado, deliciava-se com a saída do caçula. A mãe causou um alvoroço na casa após as palavras duras de um filho que saía e pedia para não ser seguido, já que o outro dava orgulho. As mulheres sentiam falta do Caçula, ainda que o narrador não entendesse como e o quê. Halim, sem ser amado, prometeu que traria de volta o filho.

Capítulo 6 – Parte 1 – Halim envelhecia, apesar do corpo demorar para mostrar. O narrador nasceu em um dia de briga, já que Azaz contou que Halim estava de graças com algumas indígenas. Chamou o sem-teto para brigas às 3 – o valentão apareceu horas antes e o pai dos gêmeos apareceu meia hora atrasado. Foi um banho de sangue. Azaz morreu três anos depois, Halim nem festejou. O pior foi quando voltou no dia da luta para casa, viu Omar brigando com Yaqub e Zana tentando apartar. Halim tirou a camisa e rodopiava a corrente de aço, chamando os filhos para a briga. Zana pediu calma, ouviu o boato dele ter filha com indígenas e disse que “estaria em paz se tivesse meia dúzia de curumins soltos por aí”. Mandou Omar ao quarto, Yaqub foi se esconder no quarto de Domingas com o filho, Domingas e Zana cuidaram dos ferimentos de Halim, cheio de furos e marcas de navalha.

Capítulo 6 – Parte 2 – Halim procurava Omar, foi atrás do Booth Line, procurar Wyckham, o inglês contrabandista. Procurou nos lugares que Omar frequentava e nada, só tinha notícia de que Omar foi aos Estados Unidos para ter um supermercado de importados. Na quarta noite, descobriu por Tannus, que o ajudava na procura, que o nome de Wyckham era Francisco Keller, Chico Quelé, filho de alemães pobres e era inglês coisa nenhuma. Soube do conversível que foi um carro adaptado, peças de um, motor de outro. Foi daí que Omar conheceu Quelé, que aparecia dando agrados e Omar que procurava mulheres, além de conhecer a Pau-Mulato. Omar queria sempre mais. Halim continuava com a procura com Tannus. Ficaram em círculos, chegaram a repetir trajetos, enquanto Tannus aproveitava para fazer comércio.

Capítulo 6 – Parte 3 – Halim esperava por um pequeno milagre, ainda que fosse pouco religioso e adiava a crença. Rânia, agora tutora da loja, controlava as despesas da casa, exceto do peixe, já que comiam bem. Mas era peixe até demais. Halim começou a prestar atenção no peixeiro, Adamor, o famoso Perna de Sapo. Tentava vender os peixes ruins, mas Domingas era boa para saber da qualidade do peixe. Apesar de esbravejar contra a indígena, ela fazia comentários duros mas prezava pela apresentação do vendedor. Adamor era sobrevivente de guerra e salvador de um herói americano. Ao longo do tempo que Omar estava sumido, Adamor prestava atenção nas dores de Zana, meio chorando meio querendo vender. Halim queria a atenção de Zana mas nem lendo os gazais era possível. Um dia, ele viu Zana e Adamor saindo juntos, ela vestindo a melhor roupa, chovia uma chuva triste e fina. Omar foi encontrado, vivendo metade na terra, metade nos rios, foi Perna de Sapo quem achou, vivendo como pescador e cartomante, sem terem se afastado da cidade. Ele estava careca, com barba grisalha, olhos esbugalhados e tomava banho quando a mulher o dava, vendia peixes na madrugada por qualquer preço. Omar foi até a antiga casa e começou a destruir tudo com uma corrente, esbravejava contra o pai sobre o irmão engenheiro. As mulheres ficaram assustadas e fugiam dele, o Caçula rosnava, enquanto o narrador segurava sua posição para se defender. Apesar de esperar pela raiva, Omar foi se acalmando, a mãe foi tentando acalmar o filho perdido. Abraçou o filho e pediu ao narrador e às meninas que limpassem tudo. O narrador comenta do espelho que Omar quebrou, pois já não precisaria lustrar com tanto zelo. Halim comprou outro, o qual o narrador limpava com menos zelo.

Capítulo 6 – Parte 4 – Na madrugada que Zana e o Perna de Sapo saíram, Halim pediu ao narrador para ir vigiar. Omar estava por perto, todos perceberam a presença de Zana, já que seu cheiro era inconfundível. Todos viam ela chegar, tal qual chegava para encantar Omar. O narrador só conseguiu ouvir o choro e a voz de Zana falando que o filho voltaria para casa. Omar retornou à casa. “O Caçula foi mimado como nunca”. Rânia ia abrindo o cofre da loja, cedendo ao irmão, que ia acariciando ela por beijos, afagos, lambidas. Omar sentiu-se derrotado de não poder ter uma vida simples com uma mulher, mas ter que ficar na tutela da mãe com várias putas. Omar voltou ao lar. O narrador discutiu com Halim sobre o seu futuro e se aprendeu algo onde estudava, dizendo que nem o Galinheiro dos Vândalos Omar terminou. Disse que nunca queria filhos e que os queria em outro país. Reclamou de como Zana se comportava, da vida difícil no começo do Brasil, da preferência do filho mais novo por parte da mulher. Halim envelhecia, mal jogava, mal subia as escadas e nem identificava as pessoas que passavam perto dele. Era “um náufrago agarrado a um tronco, longe das margens do rio, arrastado pela correnteza para o remanso do fim”.

Capítulo 7 – Parte 1 – Na primeira semana de janeiro de 1964, Antenor Laval, o professor de francês, foi falar com Omar. Perguntou ao narrador se tinha lido os livros. Foram ele e Omar resolver algo. A mãe estranhou a sobriedade. Omar pediu dinheiro para Rânia, a mãe pedia para Rânia ceder e ela se enraiveceu. Amava o comércio, o narrador a ajudava com frequência, tentando ao máximo ouvir as histórias dos clientes. Halim não aguentava mais ver Omar, lamentava a filha que sustentava “aquele parasita”. O narrador estudava no Liceu. Falava do poético professor de francês. Em sua última aula que o viu, o narrador anotou “Que cherchent- ils au Ciel, tous ce aveugles?” (Os Cegos, Baudelaire), o professor saiu da sala sem dizer nada. Foi preso no dia seguinte. Foi humilhado na praça das Acácias, “esbofeteado como se fosse um cão vadio à mercê da sanha de uma gangue feroz”. O narrador pegou a mala do professor Laval e levou consigo. No dia de sua morte, acenderam tochas, todos tinham um poema manuscrito do mestre. Após um minuto de silêncio, começaram a ler os poemas do mestre. O Caçula foi o último a ler. Até escreveu um dos versos com tinta vermelha ali. O narrador teve pena dele.

Capítulo 7 – Parte 2 – A cidade vivia em medo. O narrador ainda lembra de Laval. Corria no Liceu que Laval era “militante vermelho, dos mais afoitos, chefe dos chefes, com passagem por Moscou”. Escreveu muito, não gostava do título de poeta, mas não recusava o título de mestre. Em meio a ver Laval, viu um espectro na casa, era Yaqub.

Capítulo 7 – Parte 3 – Yaqub não tinha perdido a pose de espadachin, Domingas abraçou, “o abraço mais demorado que ela deu num homem da casa”. Domingas preparou a mesa, a rede, ele foi deitar e pediu para que Domingas ficasse perto dele. Várias vezes mencionou o nome do narrador. Ele ria, mas parou quando Domingas passou a mão na cicatriz, “traço estranho na face esquerda”. Omar chegou ensopado, viu o irmão. Yaqub balbuciou algumas palavras e o Caçula ignorou, subiu ao quarto. Omar chamou Domingas, que a ignorou, sorrindo. Yaqub era um alguém que quis provar a si mesmo. A mãe foi abraçar o filho que chegou, mas percebendo que o Caçula gemia. Halim reclamava dos soldados, Yaqub disse que finalmente “Manaus está pronta para crescer”. Yaqub trabalhava na casa dos pais, voltou sem vestir terno. Acordava bem cedo, gostava de ver o dia amanhecer e as cores mudarem. Prometeu ao narrador que levaria-o para ver o mar. O narrador desconfiou de Yaqub saber da morte de Laval. Yaqub ficou pensativo, falou que outro professor em São Paulo sem terminar a frase. A cidade estava ocupada pelo Exército e Marinha. O comércio de Rânia fechou. Yaqub não se abalava, era oficial da reserva, como dizia orgulhoso. Em uma tarde que foi sair para fotografar edifícios, vários soldados apareceram em jipes. Desesperou-se, foi resgatado por Halim e Yaqub, ardendo de febre. Nos últimos dias, Yaqub acariciava-o, até Halim se preocupou com o “neto bastardo”. O que não foi deixado de gastar com médico, Yaqub ofereceu de dinheiro para Domingas, que aceitou desta vez. O narrador não sabia se veria Yaqub de novo, “ele não gostava de prolongar a despedida; segurou” as mãos do narrador e disse escreveria e mandaria livros. Halim abraçou o filho que tinha presa, chorava e balbuciava que ali era a casa do filho. Pediu para ver a nora, Yaqub disse que traria e que ficaria num hotel. Yaqub disse que ficaria num hotel pois não era obrigado a aturar os surtos do Caçula, ainda que não tivesse falado dele, mas falou alto para que ouvisse. O narrador perguntou se Yaqub era o pai. Não aguentava a humilhação da mãe, que ignorou o assunto. Omar ficava cada vez mais doente e saudoso.

Capítulo 7 – Parte 4 – Omar teimou de catar frutas podres, folhas e colocava em um saco. Tinha nenhum conhecimento, machucava-se. O narrador ficava feliz pois podia estudar aos sábados. Rânia foi até a loja para limpar tudo, com ajuda do narrador. Limpava tudo, “não teve pena de jogar nada fora”. O narrador encarou o corpo de Rânia, vendo também através da roupa. Beijaram-se. Após horas, Rânia disse da festa de quinze anos que não teve, falando que a mãe implicou com o homem que ela amava. Porém, ela nunca disse quem era o homem, pediu para que fosse embora e nunca mais voltou a ajudá-la.

Capítulo 7 – Parte 5 – Zana olhava para o narrador estudando e para o filho que remexia no quintal. Um dia, as duas filhas de Talib, Zahia e Nahda, chegaram na casa e viram Omar pelado no quintal. Quando percebeu que estava sendo vigiado, tapou a virilha. Porém, estava com o ramêmi, pênis, com pus, estava doente de novo. Tinha uma gonorreia galopante e Zana só sabia disso agora. Halim não sabia de nada e Zana mentia que ele tinha ressaca, em vez de contar a verdade. Halim saía por aí com mais frequência, fosse de dia ou de noite. Ele percebia que estava envelhecendo e que as pessoas ao seu redor morriam. Estava cada vez mais audacioso, comia a comida de Lívia em vez da de Zana. Em uma tarde, o narrador achou Halim na beira do Rio Negro, vendo a demolição da Cidade Flutuante. Chorava muito com os outros moradores. Uma noite apenas que a busca do narrador pelo pai dos gêmeos foi em vão, na véspera de Natal de 1968. Esperaram Halim voltar, dizendo que era costumeiro o seu desaparecimento. Porém já de madrugada, o acharam no sofá. Tentou falar com ele. Tentou até falar em árabe. Porém, não respondeu, estava “calado, para sempre”.

Capítulo 8 – Parte 1 – Dois meses antes de Halim morrer, Omar desapareceu. Continuou exercendo a ocupação de jardineiro. O narrador até torceu para que voltasse às festas e “nunca mais se erguesse da rede vermelha”, mas não aconteceu. Continuava arrumando, subindo na árvore, sem limpar os cupinzeiros, tarefa que acabaria ficando para o narrador. O narrador gostava de ver o espetáculo. Halim evitava ver fogo, suas consequências e ficar parado, morto, como o pai ficou. Viu o pai morto sentado no sofá, começou a gritar, lembrando de quando ficou acorrentado. Talib chegou com as filhas, a tempo de evitar o “confronto entre o filho vivo e o pai morto”. Rânia ficou desesperada, tal qual Zana tinha ficado quando aconteceu com o pai dela. Zana jamais tinha contado que tinha lido os gazais que Halim deixou no restaurante de propósito. Repetia os versos de quem achava isso tolo, romântico, curiosa e aliviada. Yaqub mandou flores com dizeres, Omar ficou afastado, vendo o enterro. Poucas semanas depois, Omar foi repreendido pelas palavras grosseiras que apontou para o pai morto, “humilhar o esposo morto, isso Zana não admitia”. Disse que deveria abandonar o “trabalho de péssimo jardineiro” e procurar um emprego. Omar parou de ir ao quintal. Rânia ofereceu trabalho, ao qual ele riu com “trovões de uma bronquite cônica” e dentes amarelos e afiados. Zana ficava quieta, de luto. Manaus mudava, menos Omar. Tentou agradar a mãe, que apenas queria “paz entre os” filhos. Um dia, Omar surgiu com um homem desconhecido. Rochiram, era um indiano que começou a frequentar a casa, falava manso, misturando inglês e espanhol. Ele começou a trazer presentes, conquistando a atenção de Zana. A família tomou curiosidade pelo indiano e Omar morria de medo de falarem o nome de Yaqub. Rochiram estava sendo ajudado por Omar a “encontrar um terreno perto do rio”. Começou a ficar desconfiado, até mesmo do pai morto, deixou de levá-lo para casa. Zana quis datilografar uma carta para Yaqub – o engenheiro ajudaria com a planta e Omar ajudaria o indiano em Manaus, tudo para que puddeve ter o “seu grande sonho” de ver os filhos reconciliados. Tinha falta de Halim, não podia “morrer vendo os gêmeos se odiarem como dois inimigos”. Já que Yauqb era mais estudado, ele poderia entender melhor, tanto do Líbano, quanto do filho que não saia de perto da mãe. Enviou a carta. Yaqub disse que o que tinham era entre eles, mas se interessou pelo hotel, ignorando a participação do irmão. Rânia mostrou a carta, tentando ter algo para mostrar a Omar, que riu. Quando mencionou da construtora, piorou. Omar se esquivava de todos e esbravejava contra Yaqub. As mulheres apenas viam em silêncio. O narrador conseguiu escutar que Yaqub estava em um hotel por ali, um hotel muito simples e escondido. Em um dia de chuva forte que trouxe goteiras, tiveram que tirar a mobília dos quartos enlameados. No outro dia, Omar acordou cedo, sem comer o manjar que era feito a ele todos os dias e avisou que não voltaria para o almoço. Antes das onze, enquanto o narrador limpava os arredores da casa e cavava fossas, Yaqub apareceu. Trouxe roupa para Domingas e livros para o narrador. Estava com o corpo ereto e a expressão saudável, o que o deixava “bem menos envelhecido que o Caçula”. Ele havia ido ao cemitério ver o túmulo. Comeu o que Omar deixou para trás, chamou o narrador que mostrou os desenhos, vendo o corpo sujo de terra. Disse a ele sobre os cálculos e de que “não podes passar a vida limpando quintal e escrevendo cartas comerciais para Rânia”. Domingas pedia para Yaqub fugir e sair dali, apesar dele querer ficar com Domingas, que só observava o corredor. Porém, o inevitável aconteceu – Omar chegou e destruiu Yaqub. Os vizinhos ainda o ajudaram, mas Omar ainda descontou nos desenhos e na louça da cozinha.

Capítulo 8 – Parte 2 – Yaqub se contorcia na rede, tinha o rosto inchado e a boca que não parava de sangrar. Domingas tratou de limpar tudo antes que Zana chegasse, pediu para mentir sobre Yaqub. Zana não engoliu a mentira, achou o passaporte roubado de Yaqub por Omar no quarto do Caçula. Ficou pensando, repensando, analisando como Omar tinha ficado com mulheres e não ia para frente. Zana tinha o sonho desfeito, falou que Yaqub tinha se reunido com o indiano e “estragou tudo”. Rochiram apareceu na loja de Rânia, pedindo muito mais do que antes. Ameaçou sabendo conhecer pessoas influentes, a irmã pediu tempo. Domingas ficava preocupada com Yaqub. Zana já não pintava o cabelo e mechas grisalhas apareciam.

Capítulo 9 – Parte 1 – Domingas piorava de saúde, pensando em Yaqub. Em uma tarde de domingo, ela foi passar com o narrador por Manaus Harbour. Passeou por ali, viu conhecidos e rezou. Começou a contar de quando nasceu e como Halim cuidava dele, dizendo que ia estudar, foi no batismo, pediu o nome do pai dele no menino, Nael. Omar não aceitava essa proximidade de Domingas com Yaqub, em uma noite, bêbado, “agarrou com força de homem”. Na casa, Zana começou a chamar o filho agredido de agressor. Zana estava cada vez mais desnorteada, sem marido e sem Domingas. Ela pedia pelo filho Caçula de volta. Talib dizia que uma porta fechava e a outra abria. Rânia começou a se livrar de tudo da casa que lembrava do passado. Quando voltou para casa, o narrador encontrou Domingas enrolada na rede de Omar, armada no quartinho. Viu os olhos fechados, balançou a rede mas a mãe não mexeu. “Ela não dormia”. O narrador lembra dos cheiros e de como a mãe o deu o que mais queria saber, sua origem. Zana chamou por Domingas, até a vê-la na rede e abraça-la de joelhos.

Capítulo 9 – Parte 2 – O narrador tentou escrever em vão que sua mãe morreu. Filosofou sobre esperar a morte e o esquecimento. Pediu a Rânia que a enterrasse no jazigo da família.

Capítulo 10 – Parte 1 – “A casa foi se esvaziando e em pouco tempo envelheceu”. Rânia mudou para um bangalô. Zana teimava em ficar na casa. Caiu e teve que engessar braço e clavícula. Estendia a roupa de Halim, sentava ao lado direito de onde o filho almoçava, de noite chamava Domingas. O narrador ia assustado correndo, ver Zana perto do oratório. Rânia tinha medo de Rocharim aparecer e queria abandonar Manaus. Continuava enxotando clientes e ex-pretendentes que compravam de tudo e sorria ao próximo cliente. Eram menos visitas, mais tempo de estudo para o narrador. Estelita passou para visitar Zana e recebeu acusações da filha da irmã dela, Lívia, acabar com a casa. Zana queria ver mais ninguém. Só tolerou a visita de Emilie. Aos poucos, Zana contava coisas que poucos sabiam. Seu nome era Zeina. Disse que Halim incomodou-se de quando Domingas foi para a casa, que mudou muito depois que Domingas engravidou. Quando ia ter o filho, Zana perguntou se ia aturar um filho de ninguém como havia reclamado antes, no qual ele “se aborreceu, disse que tu eras alguém, filho da casa”. Ela falava e fazias as próprias perguntas. Até falou que sabia que o narrador os espiava quando eles faziam sexo no tapete que rezavam. A vontade de viver de Zana ia dissipando conforme ia percebendo que Omar não voltaria. Chorava e conversava com fotos. Cinco semanas foram necessárias “para ofuscar a casa, para dar um ar de abandono”. Um dia que uma boca de lobo entupiu e Rânia pediu ajuda do narrador, um homem entrou na loja, era Rochiram. Ela ouviu o que tanto esperava e já sabia, “a dívida dos dois irmãos em troca da casa de Zana”, mas a surpresa veio que o irmão engenheiro já estava de acordo com as condições. Foram para o bangalô, Zana saiu da casa, vendo lugares vazios que faltavam algo. Cozinhava, procurava Domingas e esperava Omar, segurando sua rede encardida, “esperava a visita que nunca veio”.

Capítulo 10 – Parte 2 – O narrador ficou sozinho na casa. Zana levou o que tinha de roupas de Halim, a fotografia do pai e a mobília do aposento. Rânia apareceu para pedir que cuidasse da mãe, que voltou a quebrar o braço. Rânia pediu para que chamasse uma das meninas do cortiço, mas Zana queria ninguém, o narrador cuidava. Zana ia sofrendo de “tanta saudade de Halim e do Caçula diluía a beleza do rosto dela”. Orava para que Omar não morresse, que voltasse. Não falava de Yaqub. Em um dia, Zana sumiu, acharam-na no galinheiro. O narrador pediu por ajuda mas ela disse que dali não saía, foi levada com muito custo para o carro, enquanto chorava. Teve hemorragia interna, ficou internada. O narrador a visitou, ela já se esforçava muito para poder lembrar e só podia falar em árabe. Procurou as mãos dele e balbuciou “Nael… querido…”.

Capítulo 11 – Parte 1 – Zana morreu com o filho ainda foragido. Não viu a casa que morava renovada. Tinha gente de tudo quanto é lugar na Casa Rochiram, até mesmo de Brasília, mas ninguém que era da rua, que o narrador conhecesse. Porém, havia um corredorzinho que conduz aos fundos da casa, que pertencia ao narrador, a herança dele. Yaqub queria assim: facilitar a vida do narrador e arruinar a do irmão. Disse que seria melhor receber a bagatela para que Omar não sofresse as consequências. Rânia arrancou a assinatura da casa da mãe só no hospital, quando ela tentou reconciliar os irmãos. Ela não sabia que Yaqub saiu antes do hospital e de Manaus pois Omar apareceu por lá. Omar saiu andando, bebeu e esbravejou a história. Rânia tentou comprar o silêncio, Yaqub fez corpo delito e comprou advogados atrás de Omar. Yaqub teve paciência de pantera, perseguia Omar que vivia de favores. Rânia não conseguia mais pagar pelas dívidas que Omar continuava fazendo, as queixas continuavam e Rânia esperava pelo pior.

Capítulo 12 – Parte 1 – Rânia achou Omar, com um destino conectado ao de Laval, na praça das Acácias. Os policiais apareceram aos montes, as pessoas fugiram. Omar, como esperado, reagiu, rindo deles. Recebeu uma coronhada e um ticket de ida para o presídio. Rânia se desesperou perguntou para onde ia. Ficou incomunicável no presídio. Tentava comprar os policiais em vão, a conexão de Omar com Laval era uma condenação política. Estava em condições deploráveis na cela que enchia de água nas chuvas. Na manhã que saiu para o Tribunal, Rânia estava sozinha. Omar era só osso e pelanca. Rânia escreveu a Yaqub, dizendo que “a vingança é mais patética do que o perdão”. Ameaçou devolver tudo que tinha dele, reclamou de como tratou a mãe e o irmão. Foi nessa época que o narrador se afastou de Rânia, o lugar dele não era ali.

Capítulo 12 – Parte 2 – Omar saiu às custas dos poucos níqueis de Rânia. Omar queria ver a mãe e chorava. Rânia tentou se aproximar mas Omar continuava perambulando por aí. Yaqub continuava escrevendo ao narrador, pedindo por flores no túmulo de Halim e de Zana. Não falava de Rânia ou de Omar, perguntava quando iria visitá-lo em São Paulo, o que adiou por vinte anos. “Não quis ver o mar tão prometido”, sequer encostou nos desenhos rasgados. Queria distância dos cálculos de Yaqub. Nas últimas cartas, ele só falava do futuro, “essa falácia que persiste”. O narrador guardou apenas uma única foto, a qual Yaqub estava perto do Bar da Margem. Recortou a foto para ver o rosto de Domingas, sorrindo. Anos antes de Yaqub morrer, queria mais se distanciar do que estar perto dos irmãos. A dor que os gêmeos causaram eram iguais, o sentimento de perda o narrador deixou aos mortos. O que Halim desejou tanto os filhos cumpriram: não tiveram filhos.

Capítulo 12 – Parte 3 – O narrador viu Omar pela última vez, em uma chuva de tarde de meio-céu. Foi o dia que tinha dado a primeira aula no Liceu que estudou. Ainda morava no mesmo quartinho na Casa Rochiram. Tinha um bestiário da mãe, única coisa que sobrou dela ali. Começou a reunir as conversas com Halim, os escritor de Laval, passou “parte da tarde com as palavras do poeta inédito e a voz do amante de Zana”. Desde que Zana morreu, não cuidava da natureza, era uma conexão ao passado que não podia ter mais. Omar invadiu o refúgio do narrador. Era já quase velho, um homem de meia-idade. Não reconheceu o local ou agia como quem não reconhecesse. O narrador esperava uma palavra. Quis dizer algo. Titubeou. Olhou para o narrador, emudecido. “Deu as costas e foi embora.”.

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“Marília de Dirceu” de Tomás António Gonzaga – Resumo de Cada Capítulo

O livro é uma história de amor de poemas escritor por Dirceu (Tomás António Gonzaga) a Marília (Maria Doroteia), um amor entre o autor aos seus 40 anos com uma jovem de 16 anos. Por fazer parte da Inconfidência Mineira, Tomás António Gonzaga seria preso. No dia que iriam se casar, que ele marcou de propósito no dia que seria preso e era também o dia que Maria Doroteia teria 18 anos, não houve pena do autor e ele ficou exilado em Moçambique para cumprir a pena. Maria Doroteia nunca soube mais dele e morreu aos 85 anos. Tomás António Gonzaga casou-se com uma filha de comerciante de escravos, teve dois filhos e morreu aos 66 anos. Seu corpo foi levado ao Brasil e enterrado junto ao corpo de Maria Doroteia. O livro é um conjunto de poemas que varia de sílabas poéticas e rimas. São 3 partes (as 2 primeiras escritas antes do exílio, a terceira em Moçambique), com 33 liras, 38 liras e 9 liras, respectivamente. Foi publicado em 1792 (a primeira parte), em 1799 (a segunda parte) e em 1812 (a terceira parte). Há uma mistura de características do Arcadismo e do Romantismo, sendo a primeira mais presente do que a segunda.

Parte I

Lira 1

A parte 1 é publicada em 1792. Lira é um instrumento que acompanha a leitura dos poemas, principalmente na Grécia Antiga, que deveria ser cantada (por isso o nome “eu lírico”). Dirceu se apresenta como um vaqueiro que tem seu próprio gado, que não trabalha para outras pessoas. O amor é tratado racionalmente – nos moldes do Arcadismo – e tenta convencer logicamente a Marília que ele é uma boa opção. Ele se apresenta como dono de terras, que possui talento e que está bem preservado (que não parece velho).

Lira II

Dirceu começa a descrever Marília. Apesar dele citar os cabelos de Marília em partes da obra em ser loiro, ela é morena (o Arcadismo segue os moldes greco-romanos de beleza, como o amor é idealizado, Marília é descrita com o cabelo loiro mesmo que seja morena, e, há, até, partes do texto que ele confunde a cor). Marília é retratada como um amor distante, já que o amor na vida real não era aceito pela família de Maria Doroteia por conta da diferença de idade entre os dois.

Lira III

Dirceu diz que ama Marília pois é humano amar. Ela é bela, e ignorar a beleza é estar fora de razão. O amor no Arcadismo é galante, ele tenta convencer, mostrar o que possui. Não é como o amor romântico (apesar de alguns traços do Romantismo começarem a aparecer na obra) que é fatalista e extremamente exagerado, o amor árcade é comedido, racional, comparativo.

Lira IV

Dirceu conta como ver Marília fez seu corpo mudar. As relações são com vocabulário pastoril – em vez de espelho, uma fonte, em vez de senhor, pastor, em vez de posses, gado – e o amor é uma relação de servo como era no Trovadorismo, trocando a imagem da Senhora e do Vassalo para Pastor e Camponesa.

Lira V

Dirceu fala dos sítios que possui e cita Alceu, pseudônimo para Inácio José de Alvarenga Peixoto, um dos participantes e principais articuladores da Inconfidência Mineira, além de poeta carioca do Arcadismo (Tomás António Gonzaga nunca quis confessar de sua participação e sempre tentou deixar registrado que era inocente, pois poderia ser morto por isso). Há a descrição do campo ao seu redor, seguindo os conceitos de Fugere Urbem (do latim “fugir da cidade”, voltar à simplicidade dos campos em meio à intensificação da industrialização dos centros urbanos).

Lira VI

Há uma mudança nas sílabas poéticas de lira em lira, variando entre versos decassílabos (10 sílabas poéticas, separando as sílabas por quantas vezes caem o queixo/há uma pronúncia de uma vogal forte até outra) como nesta lira ou em redondilhas maiores (7 sílabas poéticas). Dirceu fala do talento – Estrela – e até cita Alceste (pseudônimo para Glauceste, Cláudio Manuel da Costa) que ele chora pelo talento em escrever poemas que Dirceu tem. E mesmo com esse talento e de várias outras coisas interessantes no mundo, Dirceu que é feliz por passar horas olhando para Marília.

Lira VII

Dirceu tenta explicar a beleza de Marília e falha, pois não tem recursos que poderia comparar ela por ser tão bela. Ele chega a comparar ela com os deuses greco-romanos, uma das táticas do Arcadismo de recuperar elementos da Grécia e Roma Antiga, e diz que venceria a beleza de todas. Porém, o que se destaca também do Arcadismo é a linguagem simples do poema, como uma forma de negação do Barroco de possuir uma linguagem que é exageradamente complicada, o Arcadismo traz poemas compreensíveis, de fácil leitura, sem usar palavras não usuais ou construções que confundem os leitores.

Lira VIII

Dirceu pergunta o motivo de Marília estar se queixando de estar apaixonada. Há o uso de elementos da natureza – pombas, ninho – para falar que é a Lei da Natureza amar. Se até as Deuses e os animais amam, como ela poderia não amar? É uma tentativa de Dirceu argumentar o amor, tornando ele racional, em vez de puramente impulsivo (como o seria no Romantismo).

Lira IX

Dirceu diz como ele tem suas mãos nos cabelos de Marília, em vez de estar em martelos, bigornas e ferros de trabalho como outros vaqueiros. Como é um período próximo da Revolução Francesa e também perto industrialização do Brasil, Dirceu ser dono de capital e não trabalhar para outros mostrava como seria vantajoso Marília estar com ele (na vida real, Tomás António Gonzaga era juiz).

Lira X

Há uma mudança para 4 sílabas poéticas na lira X. Dirceu conta como o Amor (em letra maiúscula, citando a divindade, não o sentimento) traz setas – flechas – que atingem os mortais, traz guerras, foi ao Céu e à terra. Inclusive, que a própria Marília possui essas flechas, falando como ela faz quem olhe para ela se apaixone. Então, a única forma de não se apaixonar, é fugindo do seu rosto lindo.

Lira XI

Por ser uma obra com tantas edições, que só perde para “Os Lusíadas”, sendo uma citação do próprio Manuel Bandeira, há uma metalinguagem – conversa de um texto com outros textos – com Virgílio (inspiração de Tomás António Gonzaga) e Homero na questão de escrever poemas. Ele pede inspiração para as Musas – divindades que trazem o espírito poético aos poetas – para escrever seus poemas, que seja maior do que já foi escrito, para falar de Marília. Dizendo que toda a natureza se silencia perante o simples falar de seu nome.

Lira XII

Dirceu narra uma batalha que trava e de como o Amor jamais morrerá enquanto Marília continuar vivendo. Perceba que, mesmo que o sentimento do amor tente ser mais racional no Arcadismo, é possível perceber um exagero dos sentimentos que será tão comum ao Romantismo.

Lira XIII

Há citações de deuses e elementos da cultura greco-romana, já que o Arcadismo possui esta retomada de princípios e valores da época. Dirceu diz que tudo faria – desde ir ao Céu e ao Inferno – por Marília. Como é um amor de galanteio, há sempre uma argumentação, convencimento e exposição para poder amar.

Lira XIV

Dirceu conversa com Marília para aproveitarem o momento, já que eles irão morrer. Este conceito é aplicado ao Carpe Diem – “aproveite o dia” – no sentido de aproveitar o que já se tem, não de que você deve fazer loucuras porque vai morrer, mas ficar feliz com o que está ao seu alcance hoje.

Lira XV

Aqui, o vocativo muda para Alceu – Alvarenga Peixoto – sobre a perfeição natural da beleza de Marília. O vocativo aqui muda pois, geralmente, Marília é usada como o vocativo (a voz com quem o eu lírico, Dirceu, conversa e fala) ao longo do poema. Até mesmo, o uso dos nomes é alterado para que fossem mais semelhantes à Grécia e à Roma.

Lira XVI

Agora, o vocativo muda para Glauceste – Cláudio Manuel da Costa – para poder comparar as pastoras – Marília de Dirceu e Eulina de Glauceste, em como cada uma se comporta com o amor que recebe dos pastores. Perceba que o próprio livro possui um aspecto de posse, já que a Marília é de Dirceu (Marília de Dirceu). Como é um período de intensificação de ideias burguesas de propriedade privada, o amor também se modifica para esta ideia de posse, em vez de uma relação emocional como era nas escolas anteriores.

Lira XVII

Dirceu compara suas emoções com elementos da natureza – a ideia de um local tranquilo para o amor é do Locus Amoenus. Ele diz como os céus ficam triste quando ela está, até porque ela tem ciúmes de alguém que estava interessado nele, e Dirceu pede para que ela não tenha. A relação de pastores é uma tentativa de fugir da vida de cidades, uma forma de ir para simplicidade do que são os centros urbanos na época.

Lira XVIII

Dirceu lamenta que logo será velho como um que ele está falando para Marília. Esta percepção da vida e morte é um dos pressupostos do Arcadismo para que a vida seja aproveitada, em vez do que será colocado no Romantismo como uma forma de escapismo de uma realidade cruel.

Lira XIX

Dirceu chama Marília para prestar atenção no local calmo que estavam – Locus Amoenus – assim como viam o gado e ficavam na sombra. Isso traz uma oposição à rápida urbanização dos centros urbanos brasileiros.

Lira XX

Há uma narração de Marília se machucando com uma rosa e sendo resgatada. Esta imagem de uma mulher bela e idealizada como inocente e que precisa ser resgatada.

Lira XXI

Apesar de ser melhor articulado no Romantismo, Dirceu fala de como se sente com os sentimentos do amor. A ele, não apetece mais os mesmos assuntos que tinha anteriormente com outras pessoas, perde noção de tempo e não se cuida mais como antes, pois viu Marília.

Lira XXII

Dirceu diz como os poemas podem eternizar a beleza de Marília, tal qual já fizeram outros poetas. Já passadas tantas liras, parece exagero o tanto que se fala da beleza de Marília, mas é comum ao Arcadismo (e também ao Romantismo) de como se descreve a amada.

Lira XXIII

Há uma cena que Marília canta para Dirceu em um campo calmo. Por muitas vezes, a obra faz mistura de um texto lírico (poemas) e um texto narrativo.

Lira XXIV

Dirceu diz como o deus Jove deu presentes e talentos às criações da terra. O homem ganhou as armas do discurso e as donzelas ganharam a arma da beleza. Ele diz como há até mesmo guerra e paz por isso (citando Helena de Tróia) e que até Marília poderia dar a todos paz e guerra.

Lira XXV

Há uma história de como o Cupido não conseguia atingir suas flechas em Dirceu, e que apenas Marília conseguiria atingir. Apesar de não ser dito ao longo da obra, a paixão é real e aconteceu, porém, Maria Doroteia tinha 16 anos quando eles se conheceram, e só chegaria aos 18 anos no dia que combinou o casamento (que, de propósito, ele marcou para ser o mesmo que seria exilado, tentando compadecer as autoridades).

Lira XXVI

Cupido pintou um quadro para poder representar a maior beleza do mundo. Vênus, a deusa da beleza, cede o lugar para que fosse de Marília.

Lira XXVII

Dirceu chama Alexandre, César e Augusto para falar das conquistas de terras. Dirceu diz que, em vez de batalhar, quer viver nos braços de Marília, já que nem dormindo ele deixa de pensar nela. Isto será uma das temáticas do Romantismo (o mundo dos sonhos como local ideal e possível do amor, ou de escapar da realidade cruel).

Lira XXVIII

Dirceu conta que Marília roubou as flechas de Cupido enquanto ele dormia. Apesar das risadas dos Faunos, Cupido diz que agora suas flechas devem ser temerosas, já que quem as têm é Marília.

Lira XXIX

Dirceu discute com o Amor, dizendo como ele faz as pessoas sofrerem e como causa guerras. Quando Dirceu se arma para enfrentar uma batalha, ele vê que é contra Marília e que ele perderia nesta luta de amor.

Lira XXX

Dirceu conta a história de que a deusa Vênus dormia e que o Cupido foi dar um beijo no rosto. Vênus fica zangada e Cupido disse que era fácil confundir seu rosto com o de Marília.

Lira XXXI

Dirceu pede paciência de Marília para que possa escrever versos que sejam da altura da beleza dela. É comum ver o verbo “cantar” com a escrita de poemas, já que os poemas, inicialmente, eram cantados.

Lira XXXII

Dirceu fala de que encontrou antigos versos que escreveu a outras amores em uma noite. Ele conversou com um Deus cego tentando convencer a não queimar pois os versos eram inspirados pelo Cupido e que havia glórias ali. Dirceu responde que tinha Marília e que não teria sentido ter versos que não fossem delas.

Lira XXXIII

Dirceu chama Glauceste para que cante de Marília. Apesar dele cantar, os outros choram de inveja e Dirceu chora de gosto, pois Dirceu é quem tinha Marília.

Parte 2

Lira I

A parte 2 foi publicada em 1799. Nesta época, Tomás António Gonzaga já estava preso (não no ano da publicação, mas da escrita). Dirceu se encontra em uma masmorra (prisão) e que não está contente. Ainda assim, por conta do pedido de Marília pedir para cantar a ele, assim ele o faz.

Lira II

Dirceu diz ter um coração maior que o mundo. Diferente da parte 1, que ele não estava preso, Tomás António Gonzaga ainda afirma nunca ter participado da Inconfidência Mineira.

Lira III

Dirceu lamenta como sua sorte não muda, já que ao longo de tantos anos o mundo mostrou exemplo de como o mundo muda. O aspecto agora mais melancólico não somente se liga à vida do autor como também a características que surgirão no Romantismo, sobre os exageros de sentimento e do fatalismo (como a vida do eu lírico é miserável em tantas obras).

Lira IV

Dirceu lamenta que a idade está deixando marcas em seu corpo – o cabelo perde a cor, sente dor nas costas e não anda mais da mesma forma. Diz que Marília poderia trazer saúde a seu corpo novamente e que seria jovem por vê-la. Esta narração é comum à segunda geração do Romantismo. Porém, é possível avaliar a obra como uma obra do Arcadismo não só pela primeira parte, mas como também a natureza é uma forma de mostrar os sentimentos do eu lírico e que até Cláudio Manuel da Costa usava deste recurso (usando o local calmo e também o local horrível).

Lira V

Há uma temática do mar, tão comum na escrita da literatura portuguesa de como o mar não traz mais novidades ou ventos bons. Tudo isso para relacionar seu sofrimento por não ter Marília.

Lira VI

Dirceu reclama de como não resta nem mais a língua para ele, ou até mesmo de como tantas outras pessoas tiveram mais do que merecia. Ele ainda tem honra e virtude.

Lira VII

Dirceu conversa com Glauceste, invocando seu talento para que cante novos poemas para acalmar os corações. Vale lembrar que Cláudio Manuel da Costa, durante a prisão dos envolvidos da Inconfidência Mineira, cometeu suicídio, enquanto Tomás António Gonzaga foi exilado.

Lira VIII

Dirceu diz como foi chamado para visitar sua história com a deusa Fortuna. Apesar de está lá, disse que eram pequenos momentos de felicidade em coisas gastas que não seriam o mesmo do que Marília, o que o fez abandonar o templo da deusa.

Lira IX

Dirceu lamenta sua vida de agora, comparando o passado que ele possuía gado, tempo e que ficava com Marília. Hoje, o que ele pode fazer é suspirar. Esta comparação é comum ao Romantismo, como forma melancólica de que o presente é insuportável.

Lira X

Dirceu lamenta não ter Marília com ele, ao mesmo tempo que Cupido ri de sua situação. Lembre-se que esta parte tem uma diferença escandalosa de comportamento do eu lírico antes positivo e que para ele bastava pouco para ser feliz – Aurea Mediocritas -, agora, possui nada.

Lira XI

Dirceu diz que nem o inferno poderia ser tanto sofrimento como o sofrimento que ele sofre do abutre da saudade que ataca ele.

Lira XII

Dirceu narra uma história possível do futuro que Marília levará o rebanho dela para passear e contará as histórias que ela teve que passou tempo com Dirceu. O uso de verbos até muda da parte 1 para a parte 2 – enquanto na primeira se foca em ações do futuro e presente, agora há uma atenção redobrada para o futuro do pretérito e verbos no passado, em uma dicotomia entre “o que poderemos ter” contra “o que não temos mais”.

Lira XIII

Dirceu, mesmo sem esperança nenhuma, ainda guarda uma gota de crença que o Destino o ajudará a não ser punido ou morrer – esta última, era a punição comum aos integrantes da Inconfidência Mineira.

Lira XIV

Dirceu invoca o poder da amizade, tão recorrente na literatura grega para que lembrem do que deve honrar as santas leis da Humanidade.

Lira XV

Dirceu lamenta a sua situação de hoje, comparado com o que tinha anteriormente. Dirceu fala até da morte, como fim certeiro que não costuma ser pensado no Arcadismo como trágico, mas como algo que é certeiro e que o dia deve ser aproveitado por isso – para que você possa aproveitar que está vivo. Ao contrário nesta lira, a morte é um alívio do sofrimento, o que será um traço marcante no Romantismo.

Lira XVI

Dirceu fala de como se sente triste de ter deixado Marília, amaldiçoa o Cupido, fala mal de Jove e diz pouco da sorte. Mais uma vez, ele deixou Marília no altar, achando que a ocasião faria com que as autoridades tivessem pena de prendê-lo, deixando ela sem saber para onde foi e nem sabia se estava vivo.

Lira XVII

Dirceu lamenta que está ficando velho. Ele apenas vê a única possibilidade de ver Marília ser morrer aos braços dela, após ter sido julgados pelos juízes do inferno e o deus Plutão.

Lira XVIII

Dirceu faz um devaneio a respeito do choro – tanto das lágrimas de Marília, quanto das referências gregas e romanas.

Lira XIX

Dirceu diz que lembra de Marília nas memórias, principalmente na sombra, que ele pode se iludir. Este recurso de imaginar visões e até confundir o que é realidade e imaginação é comum na literatura inglesa, principalmente com Poe e Byron.

Lira XX

Aqui, Dirceu fala de como o sol se põe e ele fica a chorar por Marília, mesmo que o Cupido tente levar a cantar. É notório perceber como aqui o pôr do sol é diferente da parte 1, a qual tem uma perspectiva de descanso do fim do dia, para aproveitar o fim. Já na parte 2, o pôr do sol ganha um aspecto fúnebre, de fim da vida e perda das esperanças.

Lira XXI

Dirceu lamenta a relação atual entre os pastores (Glauceste e Dirceu) e suas pastoras (Eulina e Marília). Como o amor pastoril continua, a diferença nesta parte é que não há galanteio, não se argumenta para amar. Agora, há apenas a saudade e a lamentação do que não se pode mais fazer. Apesar de Dirceu não mais cantar como antes, seu juramento de amor continua a Marília.

Lira XXII

Mais uma vez, Dirceu afirma ser inocente, mesmo na masmorra (prisão). Em nenhum momento do livro e nem na vida, Tomás António Gonzaga assume ter participado da Inconfidência Mineira.

Lira XXIII

Dirceu fala da justiça, invocando referências da Antiguidade.

Lira XXIV

Dirceu diz que vai lutar contra tigres e leões, provando que é inocente.

Lira XXV

Dirceu fala de como o tempo vence tudo, menos o amor que ele sente por Marília.

Lira XXVI

Dirceu fala que tudo conspira para que ele seja humilhado de sua inocência.

Lira XXVII

Dirceu fala de elementos da noite e da neve, o que é oposto da primeira parte que fala do dia e do sol.

Lira XXVIII

Dirceu se compara com os elementos da natureza, dizendo que é mais forte que tudo.

Lira XXIX

Dirceu tenta quebrar sua tristeza com um pouco de contentamento, mesmo que não veja sentido nisso. Apolo o ajuda a cantar para Marília.

Lira XXX

Dirceu canta a beleza de Marília.

Lira XXXI

Dirceu diz da tristeza da falta de tudo de Marília. Fala da voz, do cabelo e da pele da pastora. É notória a diferença de um desejo de ter da parte 1 (a possibilidade de poder ter por estar galanteando) da parte 2 (o sentimento de desolação de nunca mais poder ter ou de que tudo ficou na memória).

Lira XXXII

Dirceu perde as esperanças de ficar vivo, compara-se com os navegadores e descreve calafrios. Ao pensar em Marília, ele ganha forças para continuar. O Arcadismo traz a temática da calma como contraponto do desenvolvimento e crescimento desenfreado das cidades, aqui, é semelhante ao Romantismo que traz a calma como uma exceção da vida sofrida do eu lírico.

Lira XXXIII

Dirceu descreve sua aparência de dado como morto, o cabelo em mal estado e a barba por fazer. Ainda insiste em ser inocente.

Lira XXXIV

Dirceu traz Morfeu para pintar seus sonhos. Traz o passado que é interrompido por ser acordado, e vê que nada é real. Diz que o único crime é amar Marília.

Lira XXXV

Dirceu diz à Marília que os suspiros que ela ouvir algum dia serão dele. É interessante perceber como é comum ver o uso recorrente do elemento da visão como primeiro contato da paixão e da voz como elemento carente ao Romantismo. Há muito mais o uso de descrição de imagens na parte 1, enquanto a parte 2 possui mais descrições sonoras.

Lira XXXVI

Dirceu fala de como suas mãos perecem, como elas antes carregavam uma pluma e que poderiam até segurar um cetro de monarca.

Lira XXXVII

Dirceu conversa com um pássaro para que não cante para ele, mas que visite Marília, pois será melhor do que cantar para ele que está preso na masmorra.

Lira XXXVIII

Dirceu faz um retrocesso histórico dos povos que já visitaram as terras brasileiras. Ele sempre usa o termo Luso Povo para o povo de Portugal pois Brasil ainda é colônia de Portugal. Dirceu queria gastar mais uma hora com Marília.

Parte 3

Lira I

A parte 3 foi publicada em 1812. Ela reúne Marília e outras musas que teve de inspiração antes de conhecer ela. Cupido chama Dirceu para um templo para que termine seu lamento e cante novamente. Ele mostra os tesouros e armas de outros deuses a Dirceu. Fala de outras mulheres conhecidas na cultura grega e romana – Helena de Tróia, Deidamia de Aquiles, Cleópatra, Hérmia, Ônfale – até chegar em Marília.

Lira II

Dirceu diz que mesmo não cantando o nome de Marília, ainda fala bem dela.

Lira III

Dirceu fala de como está atrás de grandes livros e cantos de poesia. Ele lerá novamente o processo do passado até chegar a Marília.

Lira IV

Dirceu narra uma história entre Amor e Morte conversando. Cada um deles fala de como as flechas atingem os humanos. Falando da história, Marília conhecerá se Dirceu padece de amor ou de morte.

Lira V

Dirceu canta de Nise, a pastora de Cláudio Manuel da Costa. Várias vezes ele invoca sua estrela – seu talento.

Lira VI

Dirceu fala de como estava em um bosque tecido pelo Amor, até ser picado por uma serpente, porém, ele sai ileso.

Lira VII

Dirceu diz que os mares sabem agora da beleza de Marília.

Lira VIII

Dirceu narra como está navegando pelos mares com Marília. Ele se encontra com seu pai e apresenta Marília. Todavia, era apenas um sonho.

Lira IX

Dirceu usa Dircéia para referir-se à Marília. É notório perceber que Dirceu parece totalmente servo de Marília em toda a obra, fazendo até sentido que o título fosse “Dirceu de Marília”. Todavia, com a cultura patriarcal, explica-se a ordem “Marília de Dirceu”. Ele lamenta que não pode dizer adeus a ela, porém, esperançoso do próximo dia que poderia ver ela. Fora da obra, tanto Tomás António Gonzaga e Maria Dorotéia foram enterrados juntos, anos após a morte de cada um, como ele havia prometido na obra.