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“O Sol Na Cabeça” de Geovani Martins – Resumo de Cada Conto

Coleção de 13 contos. O livro homenageia seus irmãos e irmãs, sua mãe Neide e sua companheira Érica.

A obra é composta por uma coleção de 13 contos, é o livro de estréia do autor.

Quem é Geovani Martins Ana da publicação da obra = 2018 O que caracteriza um conto (brevidade e dualidade histórica) Quais são os contos (Rolézim, Espiral, Roleta-russa, O caso da borboleta, A história do Periquito e do Macaco, Primeiro dia, O rabisco, A viagem, Estação Padre Miguel, O cego, O mistério da vila, Sextou, Travessia) Construções importantes (linguagem da periferia carioca, uso da memória, antítese e paradoxo) Elementos importantes (a favela como integração do indivíduo, as drogas como cotidiano, interrupção abrupta e desconforto)

“O sol na cabeça de Geovani Martins: um estudo de crítica e tradução” por Andréia Guerini e Willian Moura – ******https://www.scielo.br/j/ct/a/KhJQhNHtyLC8vP7qdkFwNdy/?lang=pt#ModalTutors

Conto 1 – Rolézim

“Para Matheus, Alan e Gleison”

Acordou e o sol era impiedoso, tudo estava quente e sentiu que o dia não seria fácil. Tinha dois reais na mesa que o narrador tinha para comprar pão, mas precisava de mais 1,80 para inteirar uma passagem, era fácil dar o calote na ida, mas na volta era o problema. Ia investir os dois reais no pão, pegar um café e ir para a praia de barriga cheia, tudo menos ficar ali no calor. Passou na casa do Vitim e mais lugares com a mesma situação: sem maconha; querendo ir para a praia; sem dinheiro. Teco tinha até um farelo que ganhou de um trampo, trabalho, mas queria ficar em casa. Iam para a praia cantar as novinhas, banharem-se e dormirem que nem criança depois. Teco até deu um baseado, queriam arranjar belengo, cocaína, o narrador achava estranho querer usar aquilo no nariz com aquela lua, aquele sol forte. O narrador nunca cheirou cocaína, lembrou de uma conversa com o irmão quando ele tinha a idade que ele tem agora, 22, era papo de gente grande, sentia, um amigo morreu de overdose no caminho para comprar mais. Proibiu o irmão de experimentar qualquer coisa e manter no baseado, mais nada. Prometeu, puxava até loló, mas sabia se controlar. Mas hoje via que era melhor ficar no baseado, até bebida era uma merda, falou de quando perdeu o sentido bebendo cachaça no aniversário, lembrava de nada e seguiu até mina no beco, coisa que podia custar a vida ainda mais se ela fosse namorada de outro. Iam de ônibus, os amigos travados e o calor estralando. O narrador achava estranho esse costume de ficar drogado enquanto era oprimido. Lembrou dele e do Poca Telha queimando um na laje da tia e chegaram mais dois com o Mano de Cinco cheirando linhas, tudo com olho vermelho, ficaram ouvindo barulho onde não tinha e o Poca Telha e ele dando risada, para piorar o Mano de Cinco pilhou falando que era a polícia tentando pegar eles, saíram peidando e tentando se esconder. Bem diferente de quando realmente teve operação quase na semana seguinte, tirando a vida do Jean, que era apaixonado por futebol, jogava na base do Madureira e era pouco para virar profissional e até ir no Flamengo ou Botafogo. Até no enterro ele tirava onda, fazia graça, tinha 4 namoradas chorando por ele com a mãe dele. O narrador amaldiçoou os policiais. Chegaram na praia “com o sol estalando”. Muitas mulheres, bunda, água gostosa. Problema era a cara de cu, de incomodados, da galera, tinha policial na praia escoltando e quebrando a brisa, empatando, impedindo, de acender o baseado. O narrador tinha duas teorias: eram maconheiros e queriam pegar o baseado deles; era traficante querendo revender pra playboy. O narrador tinha medo de quando policial queria trabalhar, “coisa boa num é!”. Quando os policiais foram embora, outro problema, nada de seda. Ninguém tinha vontade de pedir pros playboys, até porque quando estavam sozinhos parecia que iam ser assaltados, em bando pareciam que iam pular em ti. O Tico e o Poca Telha chegaram em dois menós, moleques, que pareciam estar na larica, fome após fumar maconha, e deviam dá um dois, fumar maconha, compravam tudo de doce e comida, ficavam ali como se estivessem na Disneylândia, bobeando, mas foi chegar a galera já tinham medo de assalto. O narrador tinha raiva, mas se controlava por causa da mãe e do irmão, neurótica e que prometia não falar mais se fosse dar problema. Foi o narrador para achar seda, reclamou até dessa galera que antes fumava até em guardanapo, agora era só seda smoking, conseguiu a boa com um rasta que falou que os vermes, policiais, estavam na atividade, mataram um boliviano na areia, os policiais tiveram que abafar o caso para não repercutir, ele estava devendo dinheiro e era exagero. Falou para o rasta que só ia aproveitar a praia. O rasta falou antes para ficar na atividade e depois para não perder a fé em Deus. O rasta era do Maranhão, terra que todo mundo fuma bem cedo, desde os 10, como ele e o narrador. Aproveitou a brisa, ficou vendo gaivota, aproveitou a marola, tanto de fumar maconha quanto o mar em si, sentia a água, era levado até a areia e depois competiam de quem ficava mais tempo sem respirar com todos sendo fumantes. O melhor foi depois, os mesmos que recusaram seda foram tirar foto como se fossem donos da praia e passaram dois, um pegou a mochila, o outro os celulares, ficaram procurando mas os menores já tinham vazado e ficaram rindo dos playboy que saíram só de canga. Ainda assim, pensou no rasta falando que a praia estava ativa e na polícia que podia enquadrar eles. A fome surgiu em todos de noite e a polícia estava querendo fiscalizar os meninos e outros menores. Quando quase terminaram de passar pela fila que fizeram no muro, pediram para eles encostarem também. Explicou que quem tivesse sem identidade, sem dinheiro pra passagem ou muito mais que para a passagem, ia para a delegacia. Ficou pensando na raiva da mãe, largou o chinelo e saiu correndo. Lembrou do irmão jogando golzinho, era rápido, e o narrador corria rápido e nem olhava para trás. O irmão morreu pela polícia, ele sabia que não era X9 e foi no lugar de outro. Pensou na família, todo mundo olhava ele, decidiu ver se a polícia o seguiu e eles desistiram para revistar os outros. Construções importantes: vivência no Rio como morador de favela, democratização dos espaços Elementos literários importante: o dialeto de periferia carioca, oralidade como transcrição

“Espaço urbano, opressão e resistência: as figurações da cidade em ‘O Sol na Cabeça’, de Geovani Martins – considerações finais de pesquisa” por Leandro Borges Silva – https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/coneil/2020/TRABALHO_COMPLETO_EV144_MD1_SA7_ID62614092020113539.pdf

Conto 2 – Espiral

O narrador comenta que começou cedo, achava estranho, passava na frente de uma garotada de escola particular e eles tinham medo, o que era curioso, pois eles fugiam dos meninos maiores. Pelas ruas da Gávea, ele se sentia os moleques que metiam medo nele. Ele até gostava da sensação de medo dos outros, mas “não entendia nada do que estava acontecendo.”. Há quem diga que morar na favela da Zona Sul é privilégio se comparado às outras favelas, mas a diferença é o que separa asfalto da Zona Sul e o chão do morro. É ter que andar em ruela, desviar de fio elétrico, ver amigo de infância portando arma, desviar o olhar de ratos, policiais, de cano, para depois de quinze minutos dar de frente a um condomínio com plantas ornamentais e aula de tênis. “É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros.”. A primeira perseguição o narrador jamais esqueceria, começou como toda vez, como ele assustando com o susto dos outros, era uma senhora no ponto de ônibus, ele engoliu o choro, foi chegando perto, fixando na bolsa como quem procurasse algo e ela procurava ajuda em volta. Só que mesmo ela indo embora, ele seguiu sem motivo, ia acelerado, devagar, deixando ela desesperada até que entrou em uma cafeteria. Ele sentiu nojo, pensou que aquilo podia ser invertido com sua mãe e avó sendo desconsideradas por quem corria dele sem motivo algum, mas sentiu mais ódio de que, mesmo assim, a senhora não pensava nele. Ele sentia que não dava para parar, pois eles, os perseguidos, nunca parariam. “Veio a solidão.” e uma apatia a tudo. Ele começava a se afastar de tudo e todos, mas se aproximar desse estudo de caso que fazia, entendia o terreno, as vítimas, mas era muito curto o período de reação e muitas variantes, precisava focar em um único indivíduo. Um dia, cruzando esquina, esbarrou com um homem que já levantou o braço se rendendo para um assalto aterrorizado. O narrador falou para ele sair dali logo, segurando o choro como na primeira vez. Era ele, decidiu seguir. O nome dele era Mário, ouviu perto do lugar que trabalhava, tinha filhas, duas, talvez de sete, oito anos e a outra com quatro no máximo cinco. Nunca pegou o nome porque seguia a família de longe. Batizou a mais velha de Maria Eduarda e a mais nova de Valentina, nomes equivalentes para as caras de bem alimentadas. A esposa ganhou o nome de Sophia. Ainda mais quando via o piquenique no Jardim Botânico, era uma família de comercial de margarina, tirando a babá toda de branco. Tentou forçar os encontros por 3 meses, no começo era um misto de intimidação ou não notar a presença. Até ele perceber a perseguição, ficava mais atento e preocupado, tinha vezes que claramente o perseguia, deixando a tensão crescer, até ele naturalmente fingir entrar em outro lugar. Chegaram ao momento presente e ele ficou rondando uns dias pela casa. O que era para Mário um privilégio morar perto do trabalho, ficava tentando dar voltas para despistar o narrador, o que era inútil pois ele sabia onde Mário morava. Isso era custoso ao Mário e ao narrador, que não sabia onde isso daria. Um dia, decidiu seguir até o fim e viu que ele tomava o caminho mais curto para casa, ambos suavam e tinham a cara vermelha. Ele entrou no prédio que nem máquina, e ele ficou encarando da rua para ver pela janela. Viu Mário transtornado segurando uma pistola automática. O narrador riu, sabendo que, para continuar aquilo, precisaria de uma arma de fogo também. Elementos literários importantes – Clímax, dualidade histórica Construções importantes – O preconceito, abstração da humanidade

“’O Sol na Cabeça’: a enunciação literária em ‘Espiral’ e as cenografias paratópicas no espaço discursivo êmico” por Izilda Maria Nardocci e Anderson Ferreira – https://pdf.blucher.com.br/openaccess/9786555500325/05.pdf

Conto 3 – Roleta-russa

Quando chegou na casa, geral estava tentando se escalar no pé de acerola, com o sol queimando a cabeça e brigavam para ver a fotonovela pornô do Mingau, achada em casa nas coisas do primo desaparecido. Paulo se juntou à turma sem interesse, não que não gostava, até pirava na televisão com os programas conotativos, mas a cabeça dele pirava em outra coisa. Dois brigavam entre si pela masculinidade e pela família, Paulo viu toda aquela cena meio que já prevendo o que aconteceria, quando veriam o revólver. Paulo já mexeu em uma arma e mexia, sentia o peso da arma do pai, não sabia se era bom ou ruim o que sentia. O ar pesava, queria ver os detalhes. Almir, pai de Paulo, prometeu uma vida melhor agora que saiu de ser frentista de posto de gasolina para segurança noturno, ia ganhar mais dinheiro, mas teve uma conversa séria a respeito da arma enquanto o garoto tinha apenas 10 anos. Enquanto repete aos quatro ventos que educa o filho pela culpa e remorso em vez do medo, ainda com a falta da mãe na vida do menino, Paulo nem sabia onde terminava e começava remorso, respeito, medo e culpa pelo pai. Mas tem vezes que Paulo preferia ser descoberto do que ouvir sermão. O pai conversava e pregava, o filho tinha vezes que pensava que o pai tinha descoberto, não queria decepcionar o pai, e quando o via chorando, chorava também sem saber o que acontecia. Eram dois patetas chorando, porque o filho não sabia o que fazer. Pensava em parar de mexer no revólver, comportar-se nas aulas. Dessa vez, Almir tomou banho em vez de dormir após o almoço, coisa que era tão ruim quanto leite com manga, porque disso tem gente que morre.”. Pensando que devia lembrar o pai da arma, perguntou o que ele ia fazer já que se arrumava, ele dizia que daqui a pouco voltava. Quando ouviu o portão bater, trancou a porta como quem não consegue abrir por fora e ficou a sós com a arma. A felicidade veio grande com o remorso, sentia-se mal de noite e no dia seguinte repetia tudo de novo. Era tudo um sonho, “mas nunca seria o bastante enquanto não levasse a arma para a rua, enquanto não a exibisse pra sua galera.”. Mas a maioria estava enfiada em casa vendo desenho depois do almoço ou voando pipa. Mas não ligava para as batalhas de desenho japonês, ficava com a arma, carregava e descarregava, colocou no peito, imaginava como seria ser perfurado pela bala, desceu ao estômago e depois ao pênis, que, inclusive, ficou ereto. Tirou o revólver de vergonha. Em uma conversa, falam da bala de festim e da história do Bruce Lee que tomou um tiro de um em um filme. Paulo descarregou o revólver e queria jogar no time dos ladrões no polícia e ladrão, queria desviar, fugir, provocar, mas ficou no time dos policiais, ainda que não gostasse de perseguir. Queria apontar na cabeça dos amigos e fazer o som com a boca do tiro, que entrava como buraquinho e saía fazendo estrago. Os moleques ainda brigaram de tipo de arma, de filme, de exército e irmão mais velho. As brincadeiras de corrida, as favoritas de Paulo, iam ficando para trás e preferiam cada vez mais brincadeiras que valiam algo como aposta, tazo, carta. Elas até voltavam em festa de rua, lembravam quando morreu um cara na frente da casa da Dona Margarida, o que acharam estranho, pois só ele foi morto, não levaram nada. Ainda reclamaram que a tia dele só via de morte, o que ela parou, pois não queria ver estampada a cara do primo. Paulo queria toda aquela comoção e conversa para sempre, ele não era bom ou excepcional em nada, sentia até que nem faria diferença se um dia fosse embora dali, mas sabia que no fundo tinha algo de diferente. Tentou contar que o pai já tinha matado alguém com aquela arma, mas logo falaram que ele estava sonhando com toda a história de ouvir o pai com outras armas e conversando bem cedinho. Falaram que estavam tirando as balizas de futebol e iam pedir para deixar mais um pouco e daí surge o problema: significava que estava anoitecendo e os homens iam sair para namorar e as crianças entrariam para casa; além de que o pai dele teria já voltado. Paulo saiu correndo sem se desculpar, sentiu ódio do pai por testar ele daquele jeito, raiva de ser um filho assim, pena do pai pelo filho que tinha, triste por ter caído naquela armadilha, medo de não ter pensado em uma desculpa antes, e “de qualquer forma, tudo era uma grande merda olha do por qualquer lado que fosse.”. Chegando em casa já viu os sapatos do velho e sentiu o cheiro de cigarro. Tudo ia ficando cada vez mais pesado e ele nervoso, já via o pai sentado querendo conversar. Ele ouviu o chuveiro, devolveu o revólver, segurou o choro e proclamou que era homem, tinha passado dos limites e contaria tudo ao pai. O banho demorava mais que o normal, jurava que não seria mais assim, assim como jurou tantas vezes. Queria que o mundo acabasse antes do banho, mas não foi assim, ele ouviu o chuveiro desligar, o pai esfregar a toalha no corpo, bater o Prestobarba na pia e finalmente abrir a porta. Elementos literários: narrador onisciente, digressão Construções importantes: sentimento de pertencimento, a violência como elemento que convive ”Cidades, possibilidades e violências: o Rio de Janeiro em ‘O Sol Na Cabeça (2018)’” por Marcelo Reis – https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/118005/pdf

Conto 4 – O caso da borboleta

Ninguém nasce borboleta, ela é uma dádiva do momento presente. Entretanto a borboleta não pensava nisso lá fora, realmente era azul e foi lagarta, estava ocupada em voar de árvore em árvore. Breno tinha nove anos, mas diferente de lagarta, ele vira adulto, e homem não voa. O sonho do Breno era voar, seja como piloto ou jogador de futebol. Não chegou a pensar sobre, mas sabia que era menino e não lagarta, sua avó dizia sempre que não se nascia borboleta. Pensava em como ela comia, já tinha visto passarinho e beija-flor e lagarta comer, menos borboleta. Teve fome e foi à cozinha. A avó dormia na novela das sete, coisa que adorava fazer. Não quis acordar e foi para a cozinha que era antes um quarto e tinha janela, coisa que todos achavam curioso e estranho, Breno sempre viu a cozinha daquele jeito e gostava, achava azar de quem não tinha janela. Pensou em comer biscoito ou ovo, tinha tamanho para fazer o segundo. Entra uma borboleta enquanto procura biscoito, era maior e mais bonita. Ela fica desnorteada e batendo nas paredes, Breno tenta ajudar a guiá-la pela janela. Ela voa direto para uma panela com óleo usado para a batata frita do almoço. Pensou que só se queimaria com o fogo aceso e tirou a borboleta com papel toalha, deixou-a encima da janela e foi comer biscoito. Ficou pensando na borboleta no óleo e se fosse ele nadando em uma panela que coubesse uma criança, não gostava de imaginar, mas era difícil, ainda com o estímulo da mão suja de óleo. Lembrou do pó de borboleta que cegava e teve medo de passar mal porque lambeu o óleo. Foi à cozinha e viu que ela estava morta, quis enterrar ela de pena. “Decidiu que a borboleta seria seu bicho preferido, caso não passasse mal por conta daquela lambidinha no dedo.”. Deixou a borboleta na janela e ia avisar a avó para não usar mais o mesmo óleo, deixou ela cochilando, tentou não passar mal, pensou de novo na frase da avó, sentiu uns trecos no estômago e dormiu. Elementos literários: descrição de sensações, comparação Construções importantes: descoberta de emoções, o lugar como influenciador de sensações ”Favela, infância e adolescência: o discurso narrativo do lugar e de todos os lugares em ‘O Sol Na Cabeça’” por Robson Fagundes dos Santos – https://dspace.unila.edu.br/server/api/core/bitstreams/73f438f5-35c5-42d8-8c35-c1850d4133ea/content

Conto 5 – A história do Periquito e do Macaco

Quando a UPP apareceu no morro, era mais difícil comprar drogas, dava até pena de ver a criançada vendendo, mas tudo se acostuma, infelizmente. Há um locutor silencioso, ao qual o narrador diz que foi a melhor coisa ele ter ido para o Ceará, aproveitavam as conexões com o jornal e qualquer coisa era primeira página, mesmo que a carga fosse pouca ou uma arma, ainda que ninguém saiba o que esteja acontecendo no morro ou até mesmo se prenderam alguém grande. Só piorou com a ocupação da polícia, tinham que dar satisfação, não havia paz. Não demorou tempo para os traficantes que estavam lá antes deixarem de manter a ordem pois foram para outros lugares e de novo surgir a violência, as armas e, finalmente, a morte. Antes eram alguns tiros de aviso, mas evoluiu para morte dos dois lados. Na Rocinha, chegou um momento que a polícia ficava de um lado e, segundo o narrador, os vagabundos de outro. Até dava para fumar maconha, mas piorou muito a qualidade desde a chegada da UPP. Não sabia-se muito bem o que ia rolar, se ia subir exército como no Alemão, ia ter que vir os moradores pedir para parar ou se iam lutar até a morte, mas a única certeza é que a maconha mudou mesmo. Entretanto o pior de tudo é quando entra o Cara de Macaco. Era um tenente que fazia vigia na região da Cachopa, a mesma que o narrador morava, ele conta que o tenente gostava mesmo era de tratar mal viciado, ele colocava a culpa nele, não no traficante, chegou a pegar um cara em um beco, fazer usar tudo e ainda levar a cabeça na parede de apanhar. Outro dia, pegou o Neguinho fumando baseado, ele jogou na vala e ele já apontou a arma perguntando onde que ele arranjou. Era na subida da Vila Verde, todo mundo ia lá, deu uma coronhada e perguntou de novo, ou tomava bala ou descia na vala, não pensou duas vezes e parece que pegou leptospirose. O pior foi na ladeira da Cachopa que ele pegou um playboy pegando de tudo, era a compra do mês de drogas, falava que ele financiava a compra de armas dos traficantes, coisa que era a própria polícia, e o playboy ia crescendo e respondia de volta, lógico, ele tinha as costas quentes, era filho de juiz, aí que o Cara de Macaco ficou espumando de raiva. Ele já subiu querendo fazer maldade e a galera tentou avisar, mas o Buiú se deu mal, ele estava na laje, lugar que os policiais falavam para fumar lá e ninguém mexia, nem o Cara de Macaco sabia subir, mas mandou descer, levou até a casa do Mestre e arregaçou o Buiú a noite inteira, de ter até cenoura no cu. Mas o Buiú era irmão de leite do Periquito da Rajada, coisa que o Cara de Macaco não sabia, e tão piroca das ideias, maluco, quanto o tenente. Era necessário ser maluco, pois a voz fina não dava respeito, mas quando trocava bala ele virou braço direito do dono do morro. A raiva que ele já tinha de policial só piorou com o irmão e o tenente, ele dizia que ia se vingar, até tentaram convencer a não fazer nada ou deixar passar que era coisa do momento, mas sujeito homem não ia deixar barato. O Periquito nem dormir direito dormia, aí bolou um plano, precisava de uma menina gostosa, de deixar gente maluca, como a Vanessa. No que ela chegou, disse ao tenente que tinha tesão de homem de farda, lógico que ele ficou com ela sozinho no barraco e de pau duro, mandou todos os caras com quem fazia ronda, que eram sempre cinco ou mais pessoas, para longe. A ideia era que o Periquito estivesse esperando com uma M16, ela ia entrar no banheiro, ele seguia e matava ali. Só que ele já foi tirando a roupa, ela conseguiu até tirar o colete e ir fingindo que gostava, gemendo alto para o Periquito ouvir, que já encostou o cano e o tenente nem teve como reagir, Vanessa cuspiu na cara do tenente. Os manos ajudaram a levar o corpo e queimar, ele teve que sair dali, coisa que já sabia porque ia ficar feia a situação e ficou. Embora dentro de um mês, a paz voltou na Cachopa. Sem achar o corpo, uma notícia de jornal lamentava a morte de Roberto de Souza, que até o narrador chegou a ter pena dos filhos que choravam a morte do pai, mesmo odiando polícia. Contexto histórico – Instalação das UPP’s (Unidades de Política Pacificadora) em 2013 Elementos literários – Locutor silencioso, alegoria Construções importantes – A polícia como aparato do Estado, o paradoxo de justiça ”’O Sol Na Cabeça’ e os campos de força da bios” por Vanessa Augusta Cortez dos Santos Cunha – https://www.abralic.org.br/anais/arquivos/2018_1546968876.pdf

Conto 6 – Primeiro dia

André já foi embora sem nem deixar escreverem na camiseta, estava de saco cheio de todos e tudo da escola Antônio Austregésilo, nome feio demais só que não rimava com nada para piorar. Além disso, era repetente, tinha quase doze anos em uma escola cheia de sete e oito anos. André tinha confiança que estudar no Henrique seria melhor, queria fazer a fama com as porradarias semanais contra a galera do Getúlio e ser um neurótico reconhecido. André era desligado, estava sempre pensando em estar em outro lugar, mas pensava agora na nova escola. As férias ajudavam a deixar ele de volta ao mundo, mas jurava agora que daria gosto de ser aluno, não pelo estudo, nem por ser excepcional em brigas, mas para escapar de ser chacota e chamado de pirralho pelos mais velhos. Deixou todo material exceto o caderno do Flamengo e uma Bic, a mãe se esforçava e fazia diferença na renda comprar tudo, mas fazia questão, só que André queria impressionar, ser estudioso não era uma opção. Ainda assim, viu a quadra, a escola, andava atento mas aproveitou o novo lugar. Viu duas meninas fumando escondido no intervalo, pensou até o que seria dele no futuro, diante da cumplicidade e amadurecimento. A última aula foi francês, queria aprender inglês para ter fama e ser popular, até simpatizou com a língua quando descobriu como falar “pescoço” em francês. Dois moleques da oitava série diziam que não ia ter almoço, um playboy de cabelo de chapinha loiro mandou todos ao banheiro. Apesar de tentar parecer firme, André temia pederastia como ritual de novatos e parte das regras da escola, mas não era. Era o teste da Loura do Banheiro, que foi violada naquela escola e morreu. Quem chamasse ela três vezes no espelho, ou corria ou enfrentava dois destinos, ficar possuído ou ser sugado para o espelho. O André pediu um teste de verdade, a realidade é que prometeu nunca mais fazer aquilo porque morreu de medo. O loiro sentenciou ele a fazer já que não acreditava. Luzes apagadas e portas trancadas, pensou em tudo que perderia se vacilasse. Firmou as pernas e a chamou. Elementos literários – Metáfora, brevidade do conto Construções importantes – Aceitação, lúdico ”A representação do espaço social: entre o subúrbio e o (sub)mundo em ‘Clara Dos Anjos’, de Lima Barreto, e ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Viviane Chagas de Lima – https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/50889/1/DISSERTAÇÃO Viviane Chagas de Lima.pdf

Conto 7 – O rabisco

“Não era pra estar ali.”. Tomou cerveja, já estava com a lata de spray de tinta na mão e ouviu uma moça gritando por ajuda. Os moleques de tinta iam na esperança de ter cerveja, cigarro, erva e tinta para um grande rolê, ganhando fama, juntos, como carrapatos. “O mundo tá de saco cheio desses moleques, Fernando também.”. Tinha outro nome, Maluco Disposição, mas abandonou o xarpi, tentava se distrair com outra coisa e mudava sua relação com a cidade. Desde que Raul, o filho dele, nasceu, abandonou a vida, ainda lutava contra o desejo de pintar, evitava até usar caneta. Se quisesse ser presente e ficar vivo, ia, no máximo, só pixar em baixo, em lugar seguro, que era uma morte muito pior. Quando já ouviu os tiros, nem sabia de onde vinha, já saltou para o terraço com os reflexos em dia e viu que o moleque da tinta já tinha ido embora. Não ia roubar, ia deixar de presente sua marca no mundo, uma frase em homenagem aos amigos que deram a vida pela arte dos Racionais, “Pesadelo do sistema não tem medo da morte.”. Sabia que ladrão e pichador era tudo o mesmo nos olhos da polícia, mas sabia que fazia parte do jogo aquela parte que o caçava. Não ia conseguir pixar, ia esperar eles encontrarem ninguém para ir embora, um empate. Queria ser eterno, por isso aquilo tudo, ficar na memória, mas o filho mudou a perspectiva, foi chamado de pau-mandado por querer parar. Tem dias que o sol aparece até de noite e ninguém dorme, seja de calor ou da cabeça não descansar. O pessoal se aglomerava para ver justiça contra um homem desconhecido. Fernando queria era pixar tudo, rabiscar e mostrar que a vida continua mesmo com ou sem rabisco. Pensava em como tudo parou naquilo, mas a vida tem forças que vão uma atrás da outra, não dá tempo de planejar, só de reagir depois de tudo que aconteceu. Lembrava do pai que voltava para casa e a mãe sabia o som da batida dele de bêbado. A mãe não deixava entrar, ele até queria deixar, tinha memórias de infância boas, mas vinha um mau pressentimento. Assim como veio agora, um nó na garganta que antes ficava de forma positiva, fazia-o se mover. Dessa vez, a vida passou em lampejos desordenados, não como filme, mas presságio, seu corpo sufocava de medo sendo espetáculo para as pessoas ali e o desfecho de tudo. Pensou em como seria melhor com o pai que gastou toda a aposentadoria na cachaça em vez de tentar continuar a abrir a porta da casa. O peso das escolhas veio, não adiantava mais querer pedir desculpa ou dar do melhor ao Raul, o pai já estava morto. Havia uma possibilidade de não o terem visto, estudava o tempo que passou ali e em como sair, jogou uma lata e confirmou que era pichador, ao menos não saía morto, mas que levaria porrada daquela área residencial tomaria. Abriram a porta e subiu gente, mesmo que sobrevivesse à surra, coisa que já matou também outros, ainda ia ter que explicar como que levou aquilo, sem contar que o pai trocou o filho por álcool, ele estava trocando por tinta. Pulou para outro telhado, sentiu o pé doendo muito, quis gritar mas só se escondeu. Sabia que o silêncio que reinava agora ali era definitivo. Ainda sonhou em poder rabiscar o seu nome ali nos prédios, Loki. Elementos literários: Foco narrativo para simpatizar, jornada do herói Construções importantes: O picho como reivindicação do espaço social, conflito de desajuste ”Sujeitos em trânsito: figurações do espaço urbano em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Evandro Batista Siqueira – https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/37271/1/Sujeitos em trânsito. Figurações do espaço urbano em O sol na cabeça%2C de Geovani Martins.pdf

Conto 8 – A viagem

O conto é em homenagem a Rapha, “é claro.”. O narrador, Rafa, desembarca no Cabo do Arraial, fugindo de toda a festa de fim de ano que é em Copacabana. Estava ao lado de Nanda e completamente apaixonado. Pensou que a viagem os uniria, saindo do ambiente universitário para ali. Gabriel estava lá e estava contente com isso, era um dos primeiros amigos e ficava feliz de ter por perto, ainda mais que a namorada gostava dele também. A casa era de um argentino, amigo de Gabriel, Juan, gostava de falar e rir alto, fumar maconha e achar camarão de boa qualidade, tinham fumado três baseados já, o narrador retribuiu com LSD. Só que Juan já ficou falando “no, no, no” e ninguém entendeu se ele não aceitava por ser um desses maconheiros intolerante a outras drogas ou outra coisa. Só que Gabriel voltava com a tesoura e ria da situação que entendia, porque a qualidade da maconha era bem maior do que do Fundão, e isso explicava o narrador ver tudo em câmera lenta. A voz de Juan ecoava com a gargalhada de Gabriel e o desconforto de Nanda, parecia um Zé Droguinha querendo usar tudo que podia antes das 2 da tarde. A voz ecoava nas paredes e tremia ele todo, mas que ele guardasse o LED porque era difícil achar e queria estar fritando na queima de fogos. O narrador ficou feliz em poder salvar a pátria para deixar todos muito loucos na virada, todos riram, agora, invadidos por uma onda coringa. Tentou dividir tudo por igual, ainda tomou um pouco com a Nanda, ficaram falando de coisas de sinceridade, promessas de infância e tentando explicar viagens psicodélicas inexplicáveis. Ele até desenhou ela nas almofadas, ficaram calados e curtindo a brisa. Querendo fumar mais maconha, com vergonha da dele e de pedir do argentino, contentou-se com cigarro. Só que Juan procurava algo nos bolsos e na sala e o narrador ria, achando que ele procurava maconha também, influenciado pela fumaceira que fazia, mas não era isso, ele achou uma cápsula enorme de cocaína, “Gabriel esbugalhou os olhos e soltou” uma gargalhada. Ele ia rindo com os olhos brilhando com o serviço, Gabriel nunca usou cocaína, até pegou um pouco para deixar a boca dormente, curiosamente, o narrador aponta que ele só usa maconha, doce e lança-perfume, o último em ocasiões especiais. Nanda até olhou ao narrador que tentou não dizer nada com o olhar e ela aceitou uma linha. Ele ficou até ciumento por dividirem um canudo feito de uma nota de dois reais, mas não queria mostrar que era facilmente influenciável para usar também. Depois, saíram na rua, Juan e Gabriel conversavam em espanhol e a onda batia no narrador, que ficava maravilhado com os dedos e com as coisas ao redor, como as árvores, ser bom estar vivo e morar na Terra. Rafa fica preocupado com Nanda estar fungando e a onda bater errado de misturar drogas. Ele pergunta a ela o que acha do Juan, diz que o acha muito louco, no sentido de feliz, de falar, de entender mesmo sem saber a língua, e que é por isso que vive assim, ele tinha até perguntado se era no sentido de drogado, mas no fim do ano todo mundo fica, de amor, de estresse, de drogas, é quase um fim do mundo e todos tentam viver ao máximo para aí se decepcionaram que nada acabou. Rafa pergunta se ela acha Juan gay, ela o acha engraçado, perguntou se ele ficou interessado nele e falou que não conhecia o lado ciumenta dela. Chegaram na praia e a felicidade os invadiu, o dia era quente e a água fria, mais uma vez o equilíbrio universal, o narrador nem percebeu que Nanda tirou a roupa para ficar de biquini e nem viu se o Juan tinha malícia no olhar de ver ela tirando a roupa. Era uma maravilha ver mulher tirando roupa, mas queria ver a malícia do olhar ser presente nele. Juan olhava para o céu, Nanda para o mar, parece que ficava, como fica sempre pensando demais, pensando em como todos os átomos se reuniram para estar tudo ali naquele exato momento. Gabriel nadava de um lado ao outro, Rafa achava bonito como a liberdade tomava conta do corpo dele. Com dedicação como sempre tinha, Juan foi ver as ondas, depois de um tempo, se reuniu com os meninos na água. Nanda tomava sol na areia. Rafa boiava na água, fascinado com os tons de azul, pensando como era íntimo da água, conectado a ela e como era isso que os tornava próximos, mesmo que não se conhecessem de antes, eram amigos. Nanda se juntou e a felicidade e festança foi tanta de ficar pegando areia do fundo e jogar água que os ciúmes e a neurose foram embora. Foi perceber só depois que estava explorando outros cantos, o que sua alma precisava. Andaram movidos pela alucinação, pois já estavam cansados, o narrador imaginava o que passava no íntimo de cada um, viam praias belas e mal se comunicavam, se não fossem por gestos e gargalhadas. Até que Gabriel disse que era melhor voltar pois ia escurecer. Juan garantiu e sugeriu que ir pelas dunas era um caminho curto, Rafa ficou maravilhado, pensando em quanto tempo toda aquela areia estava ali, como eram pedras antes e quanto tempo precisa passar para virar aquilo. Todo o pensamento se foi quando percebeu que o grupo era perseguido por dois loiros altos, fortes, com roupa de academia. Não queria alarmar o grupo, achou que ia ser taxado de Doidão do Grupo, mas a verdade o enchia e sentia que ia explodir se não fizesse nada, não deu outra, avisou o grupo, virou o Doidão, saiu correndo puxando Nanda. Ela perguntava o que ele tinha, Juan e Gabriel ficaram olhando, mas logo viram que os dois playboys eram da geração saúde e corriam bem melhor que todos, além de conhecerem melhor onde estavam correndo. O primeiro a ser pego foi Gabriel. Rafa não conseguia ver de onde vinham os assaltantes e se encheu de ódio, aquilo não podia estar acontecendo naquele dia, e calculou para derrubar o brutamontes como um jogador de futebol americano. Juan, vendo a ação, sacou Nanda e fugiam. Rafa se debatia, tentando não ser imobilizado, gritou que tinha nada, aí os assaltantes falaram que não eram gringos, pois estavam focando em assaltar turista, não morador, aí Gabriel cresceu e mandou eles respeitarem os moradores. Rafa achou tudo aquilo inacreditável. Mas eles estavam confusos com tudo, achou que ia reverberar no relacionamento com Nanda, mal podiam planejar o próximo passo e deram de cara com um pântano. Mal viam algo na frente, uma bad imensa bateu no narrador e ele chorou, chamavam Juan e Nanda e nada, por sorte, Gabriel não conseguia ver. Chegaram ao final e deram com o centro da cidade. Ele continuava triste, desesperado, até que Nanda o chamou de uma farmácia, ela foi comprar mertiolate, ela saiu correndo com Juan e não parava para não dar chance de anoitecer, daí foi se cortando em tudo que era espinho. Ela achava estranho como via a dor e não a sentia. Juan permanecia o mesmo, feliz e desastrado. O narrador queria dormir, ainda faltavam dois dias para o fim de ano, ficou pensando o que mais o ano poderia o reservar. Elementos narrativos – Sinestesia, texto descritivo Construções importantes – O olhar complexo de coisas simples, o uso de drogas ”A importância da obra ‘O Sol Na Cabeça’ para a literatura brasileira, e sua relevância sob uma perspectiva social” por Isabelle Laurence Marques Fonseca Silva – https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/21863/1/ILMFSilva.pdf

Conto 9 – Estação Padre Miguel

“Na época estava proibido fumar crack na Vintém. As coisas tinham fugido do controle: muito roubo, briga, perturbação.”. O consumo até existia e o comércio, mas eles tentaram limitar, quem sofria mais eram os moradores. O narrador afirma que o lucro era imenso, não iam parar, e a pedra mais trazia problema do que outra coisa, não lembrava se era proibido o consumo na favela ou na linha do trem, onde era mais intenso o uso. Até teve certeza da linha do trem pois havia ninguém mais por lá. Era tudo cercado de lixo e dejetos humanos e não-humanos, ali se reunia de tudo, gente do trabalho, da escola, tudo a noite escondia. O narrador não fumava mais, o lugar lhe causava cada vez mais nojo, ele até ria no auge do crack sobre piadas de cracudo, mas quanto mais passava por lá e ouvia histórias de antes do vício, sentia vontade de chorar. Lembrou de uma mulher que conheceu, tentou vender um guarda-chuva, daí contou que abandonou Alagoas e toda a vida para tentar a sorte no Rio com a família. Contou da filha que tinha nove anos, que o marido aparecia volta e meia na linha, apanhava, trancava a mulher no quarto mas voltava ali de qualquer jeito, ela achava um jeito. Ela chorava desesperada. O narrador não sabia se acreditava na história, até contava os dentes dela enquanto ela chorava. Ela dizia como o marido precisava de alguém melhor, chorava de verdade e pediu um abraço. Na falta de um, cedeu a maconha que tinha, falando que dava um barato bom. Até comentaram de como era a qualidade de antes, como vinha em outro saquinho, Rodrigo, amigo do narrador, comentava disso, o narrador mal sabia, os saquinhos na Vila Vintém sempre mudavam mesmo. Lembrava do grupo inseparável, Rodrigo, Felipe, Alan e Thiago, uma vez foram passar ali, fazer a cabeça e visitar a filha do Léo, mais um pai. Pensava também se a amizade sobreviveria até a vida adulta. Alan comentava do gosto de amônia, enquanto Thiago dizia que o importante era no fim todo mundo estar de cara murcha. Deu nem duas voltas na roda e Rodrigo já ia preparar outro baseado. Felipe falava que era melhor investir, ele sabia onde ficava coisa boa. O narrador já previa a conversa, só pensavam em droga, já falava para inteirar 10 cada um. Alan falava que não tinha como, a droga era o que movia a cidade do Rio, se parasse por uma semana, a cidade morria. O narrador adiciona que era droga e medo. Era o terceiro baseado e só vinha uma pressão na cabeça. Mesmo que a Amanda fosse do bonde e até fumasse, até pensou se não era melhor outro dia essa visita, um filho muda uma pessoa e todos fediam amônia, além de ser já oito horas. Foram andando, até cantaram “Recado à minha amada” do Katinguelê, mas logo voltou o silêncio. O silêncio incomodava o narrador, esse abismo entre outra pessoa que sabe se lá como se rompe. Voltavam a conversar dos dez contos para inteirarem na maconha no Jacaré, discutiam do horário para pegar, de pagarem certo e o narrador sabia que era uma tentativa de voltar à normalidade anterior. Aí começou uma história do Alan, estava todo arrumadinho para não ser pego pela polícia e aí surge uma cracuda, olhou ele de cima em baixo e disse que chupava o pau dele por cinco reais, pior, já retrucou falando que chupava de graça. Os outros já o chamaram de galã das cracudinhas do Jacaré, já até disse do possível problema e da falta de dente como vantagem, começaram a rir e pararam só quando o trem passava. Até pensou se não era efeito da onda, como quando o Vítor sentia nada ao tomar um pedaço de quadrado pela primeira vez. Era sempre mais fácil ver de pé se bateu ou não. Mas aí o narrador não sentou de volta, sentia uma agonia. Tinha vontade de sair andando dali e seguir seu rumo, mas ficou quieto segurando a bad e sem contar a eles. O narrador sempre falava que a onda tinha que ser aceita, ria e achava estranho os outros que fritavam, mas era alertado que sua hora chegaria. Mas logo voltou à calma, achou estranho como ele sofria daquele jeito e ninguém viu, sentiu que podiam todos serem sozinhos, “sem nunca permitir que o outro habite nossa intimidade”. Ele até ficava neurótico antes, achando que as pessoas o vigiavam, prestavam atenção em tudo, pior ainda quando fumava. Mas não era verdade, ninguém ligava, “Nossa dor, nosso vício, nosso vexame, é tudo muito distante dos outros.”. Passaram o baseado, era o último, fumou sem gosto e pensou se todo aquele corre com a polícia, fumar maconha com amônia e ficar ruim valiam algo, mas pensou que essa felicidade que tinha com os amigos eram o importante. Levantou e estava cansado, queria ir para casa. Apareceu um amigo do Rodrigo, pedindo folha de caderno e falando gago. Ele ia fumar, até ofereceu um fininho, mas falaram que só servia fumar aquela erva com pedra. O narrador viu de longe uma mulher fumando em uma lata de Guaravita, o crack tomou conta da favela e era difícil controlar tanto viciado. O narrador até desistiu de falar algo porque adiantaria de nada, pensou que tudo poderia ser dez minutos, juntar o restante de cada grupo e fumarem. Nisso, apareceram dois caras em uma moto, o passageiro segurando AK e quando o narrador viu já estava na parede, levando bronca que não podiam fumar crack, mas a moça já chorou gritando que estava grávida. Falou de volta que se quisesse o filho vivo, não estariam fumando, depois de mais intimidação do motorista mostrar a pistola, o da AK perguntou quem queria ser o primeiro, apontando o cano na cara de cada um por um tempo. Nunca viu tanto medo na cara de todos, pensou o que aconteceria se deixassem de existir naquele momento. Como sempre, estava sem identidade, esquecendo dos alertas da mãe de sempre andar com a sua. Ouviu o pagode e conectou as ideias, ele estava querendo jogar terror, era muito provável o tiro atravessar a parede e pegar morador, e não iam levar todos favela a dentro para matar. Agora era focar em parecer apavorado e não sorrir de deboche como sempre faz. Soltou a ordem de sair correndo e uma rajada de tiros para o ar, corriam todos desesperados e a grávida mais ainda, ele ia menos rápido, via todos e pensava que um dia escreveria aquela história. Contexto histórico – 2012, Governo Dilma, intensificação do combate ao uso de crack Elementos literários – Interrupção da normalidade, o sentimento de ser diferente Construções importantes – O sofrimento do morador, a culpa do indivíduo ”A representação da favela nos contos de ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por André Natã Mello Botton – https://abralic.org.br/anais/arquivos/2018_1547745521.pdf

Conto 10 – O cego “Seu Matias nasceu cego.”. Nunca viu arma, mulher, mar, mas vivia como se o mundo fosse feito para ele, pois também ouvia, cheirava, tocava, falava e sentia. E falava muito, pois usava sua voz para arranjar uns trocados. Tudo variava, religião, começo de mês, bom humor, consciência, mas recebia o suficiente para trabalhar dia sim e dia não. Não gostava das crianças, atropelavam uma fala da outra e era difícil ver tudo, gostava de falar com os idosos, pessoas que falam com gosto, sem medo de gastar tempo pois usam ele para falar com detalhe. O pai morreu aos 6 anos sem fazer diferença ou sentido, vivia bebendo demais. Os irmãos forma embora: Marcos com uma mulher mais velha com filho; Mariana com o pai da criança. Dona Sueli foi derrubada pela doença, só ficou Matias e as fofoqueiras para cuidarem dela. As vizinhas até perguntavam dos filhos que não cuidavam dela, ao qual ela respondia que criou os filhos para o mundo. Pensava em como se alimentar e ganhar dinheiro, não queria ficar com a caneca mendigando, queria conversar, contar a história. Treinou o que falaria no ônibus, do pai, da mãe, pediria para Deus abençoar todos, os que contribuíram e que não podiam. Os primeiros dias foram fáceis, sabia onde colocar piadas, mas a tristeza de ter que repetir a história, a solidão vinha com a contemplação do que viveu e vivia tomava seu coração “e viver de caridade passou a ser um inferno.”. Aproximou-se de um menino chamado Desenho, todos juravam que era bandido. Fazia avião, buscava quentinha para traficante, comprava pó para viciado, e gastava a grana que ganhou comprando baseado na mesma boca. Um dia Matias sugeriu irem juntos, e ele lembrava levemente, aí que aumentaram os ganhos, tinham dó do suposto filho de cego, e também ganhava bem mais que no morro, para alegria dele e conforto da mãe. Entretanto a idade veio, Desenho já era velho para bater uma laje, aos 16 comprou uma moto e virou mototáxi. Matias ia ficando velho e ia sozinho. Ficavam separados, não que falassem muito, mas continuavam o contato. No final do trabalho, pegava o dinheiro do velho, comprava o tanto de maconha e cocaína que podia e ficavam “a noite inteira fumando e cheirando, num papo angustiante em que não se olha no olho.”. Elementos literários – Limitação criativa, preenchimento criativo de descrição Construções importantes – Marginalização de membros da sociedade, deixar ao leitor que complete a história ”(Re)pensando subjetividades marginalizadas ‘no’ e ‘pelo’ discurso literário de Geovani Martins” por Élida Cristina de Carvalho Castilho – https://repositorio.ufms.br/jspui/retrieve/c2b92fb6-f1e8-4da2-80f4-926f24601479/ÉLIDA CRISTINA DE CARVALHO CASTILHO – VERSÃO FINAL.pdf

Conto 11 – O mistério da Vila

“Em memória de dona Maria de Lourdes”. Ruan, Thaís e Matheus voltaram para a rua refrescada da chuva de verão. Ao final da rua, morava uma senhora antiga, a dona Iara, e dessa casa que já via a terceira geração de família crescer, vinha o cheiro de macumba. Os moleque armaram dois golzinhos entre lombadas, tentando chegar mais perto da casa, ouvir o barulho de morcego, rato e bambu rangendo ao lado do valão. Até que um sai correndo em disparada e todos vão, naquele terror de primeira infância. O que saiu correndo disse que viu algo saindo do rio, em meio de risadas e sorrisos de cumplicidade. Um sempre concordava, aumentando a ansiedade. Dona Iara era cumprimentada durante o dia, iam para buscar cigarro, o resultado do jogo do bicho, parecia santa de dia, mas de noite era outra forma, com o cheiro e o barulho de coisa rangendo. As crianças comentam como macumba era coisa do diabo, que podia ser coisa de gente de bem e até possuir. Quando mudou, ainda era vivo Jorge, seu marido, que era pai de santo e reunia até os católicos na gira no quintal. O passar dos anos fez o número diminuir, que parecia vir com o crescimento de igrejas em volta, os antigos frequentadores convertidos agora deixavam o terreiro mal-falado. Usou as lembranças para se consolar, mesmo querendo vender a casa que tinha raízes suas com o terreiro. Um dia, um menino chamado Matheus estava ardendo de febre, igreja e médico não ajudavam, mandaram chamar dona Iara. Enquanto rezava e passava erva, todos gritavam cânticos de igreja. No final, tragou cachaça, pediu para todos também o fazerem, fizeram, e disse que ia melhorar, com a resposta de que Deus estava com eles, era só um susto. Quando dona Iara se foi, fizeram um pacto de nunca contar na rua o que aconteceu ali, só Matheus que contou para Ruan, mais ninguém. Em outra vez, a casa do Ruan ficou infestada de carrapato, dona Iara pegou três, colocou numa caixa de fósforo e mandou colocar em uma encruzilhada. A avó levou Ruan e Ruan só contou para Matheus. Da família de Thaís, menos o pai era testemunha de Jeová, ele era alcoólatra. Thaís não comemorava aniversário, não comia doce de Cosme e Damião, não doava sangue e nem usava troco para comprar cigarro ou jogo do bicho da dona Iara mas foi ela quem desamarrou a barriga no ventre no parto. “A mãe de Thaís nunca contou para ninguém.”. As crianças voltam de novo para o lugar do susto, escondendo-se com o coração batendo forte, que no fim dava história animada na frente do bar do Galo Cego. Em uma noite, soltou um barulho forte, a porta. Mílton, um dos filhos de Iara saiu correndo pela vila, suado, cheirando, eles achavam que estava possuído. O carro do tio do Matheus logo chegou e levavam o corpo desacordado de dona Iara para o carro. As crianças se espremiam escondidas para ver tudo, Ruan e Thaís sentiam vontade de abraçar e chorar, a velha saiu para o pronto-socorro. A porta estava aberta, ninguém sabia o que dizer e nem queriam contar a história no bar do Galo Cego. Ruan fechou a porta e todos foram embora, com a noite suspensa por um medo diferente. Ficaram sabendo pelo Matheus que soube dos filhos dela, era derrame ou infarto, por pouco não morre e ia ficar no hospital. Sem que vissem, Thaís pedia a Jeová pela vida de dona Iara, todos os dias e ocasiões, sem saber se era pecado orar por macumbeira. Ruan ficou em casa, sozinho, sem fazer barulho. A avó perguntou se brigou com os amiguinhos, ele disse que não queria que dona Iara morresse e a lembrou dos carrapatos. Ela disse para pedir para Deus, melhor, um santo, pois Deus ia ouvir o santo. Ruan olhava para as figuras que sempre conviveu e nunca pediu nada ou se quer prestava atenção. Ia pedir para Nossa Senhora, parecida com dona Iara, desistiu. Não sabia o que dizer e a quem, mas São Jorge, com um cavalo e uma espada que era capaz de matar um dragão era quem podia fazer qualquer coisa, as palavras saíram naturalmente, o pedido também e agradeceu antecipadamente. Ruan e Thaís voltaram para as brincadeiras da rua sem parar de orarem e pedirem preces, só Matheus parecia apático. Ruan ficou inconformado com sua indiferença da dona Iara, cobrou dele pela história de segredo e ia bater nele se mentisse da reza. Matheus saiu e foi embora. Dona Iara voltou perto do horário da novela, apoiada aos filhos, as crianças queriam espalhar as boas-novas. Ruan e Thaís foram à casa de Matheus, Ruan se desculpou e propôs de visitarem dona Iara, ele aceitou as pazes e falou que preferia ficar ali jogando videogame. Ruan soltou que se fosse assim, esquecia as pazes e nem precisava mais conversar com ele. Como eram melhores amigos, pausou o jogo e foi com o bonde. Chegando lá, dona Iara estava vestida de branco como santa com uma vela acesa ao lado de um copo de água, igual a vó de Ruan. A casa tinha um cheiro estranho, com pouca luz, mas o suficiente para os olhos de dona Iara brilharem. Thaís disse que pediu a Jeová pela vida dela, beijando a cabeça da velha, ela agradeceu e disse que devia estar viva por Deus. As crianças acharam estranho como falou de Deus, ela contou do que passou no hospital, teve medo da morte, contou de como chegou lá, como era a rua, das festanças. Eles ouviam tudo atentos, até das histórias de Orixás. Quando deram conta, já precisavam ir, Ruan contou da promessa de São Jorge, dona Iara riu, falando que ele era filho de Ogum, como disse a avó dele. Dona Iara se recuperou, voltaram os dias de cheiro com as brincadeiras. Nem parecia que tinha acontecido algo, era tudo o mesmo, menos Ruan, que invadia a vila sozinho, que ia para ouvir as histórias de seu protetor e pai, Ogum Iê. Elementos literários – Tradição oral, a memória como símbolo da literatura contemporânea Construções importantes – Sincretismo religioso, religião de barganha ”Ancestralidade e memória da cor ausente em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Cláudio do Carmo

Conto 12 – Sextou

Quando a mãe do narrador descobriu que ele fumava cigarro, ela não deu um esporro como achou que teria, mas parou de dar dinheiro e falou que se era grande o suficiente para ter vício, podia trabalhar. Até ficou bolado, mas entendeu o papo. O primeiro trabalho foi de boleiro com Márcio, professor de tênis. Arranjou dinheiro para as compras e até dormiu com seu primeiro Nike quando comprou um. Tinha o maior orgulho em cada pisada, ainda mais quando foi para a escola com ele. Gostava da sensação de ajudar em casa, queria trabalhar para sempre. Entretanto, o mesmo desejo sumia quando precisava trabalhar para gente que nem olhava na sua cara com o sol ardendo na cabeça. Odiava os idosos mas principalmente os mais novos, o jeito de falar, andar, tratar funcionário, pensava no que gostaria de responder, só que o pior de tudo eram os problemas que reclamavam, que iam desde a empregada não foi para não aguentarem mais irem para a aula de inglês. Em casa ou na escola a raiva passava devagar, com os amigos e a comida na mesa. Um dia, tudo explodiu, um aluno disse que parecia um personagem de desenho, mandou tomar no cu que não era amigo dele, nem o aluno e nem ele acreditou no que aconteceu. A mãe ficou bolada, Márcio disse que quase fode com o trabalho dele e parou de falar com o narrador. Ele se sentia mal, foi ele que o levou para ver um jogo de futebol pela primeira vez, e ver o Flamengo fazer gol dava vontade de ir abraçá-lo e celebrar. Trabalhou em outras coisas, mas era sempre fazendo algo para os outros, chegar na hora e ter sangue de barata. A convivência com o padrasto piora a, a mãe ficava quieta, o narrador ia na máxima de “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, apesar de pensar que aquilo era uma bobagem, “o caralho”. Arranjou um trampo de indicação de panfleteiro, 30 reais por dia, das 8 às 16, diferente de como não se firmava em outras coisas antes, ficou quase um ano, dava para quem pegava o papel, quem não pegava, sempre tinha outro. Tinha tempo o suficiente para sonhar. No primeiro dia chegou bem antes, viu gente grávida, mais velha que os avós e muita gente. Pensou até não ser ali, mas viu o amigo, chegou o fiscal momentos depois e ele entregou um maço de papel, tinha que entregar na rua da Carioca, na esquina. No começo sentia vergonha, olhavam-no com raiva ou pena, levava para o pessoal até entender que não era ele, mas o que ele representava, um entregador de papel. O difícil era quando passava gente que conhecia, fingia que não estava ali, um amigo ouviu que ele estava na correria e até que queria se arranjar ali, outra era uma menina que estava desenrolando, só que ele continuou trabalhando e ela passou batida. Quis usar o pagamento da primeira semana em maconha, salvar quem salvou ele nos corres, pagar a internet e algumas coisas da casa, ia ficar duro, mas trabalhar o dia inteiro tem essa vantagem, nem dá tempo de gastar o dinheiro. Comprou uma passagem de um cracudo, podia ser golpe mas ele conhecia onde ficava, arriscado tentar dar um golpe, garantiu que tinha duas passagens, pegou o trem depois de tanto tempo e estava lotado no horário das cinco. Os camelôs tentavam achar espaço que nem tinha, em São Cristóvão os novos passageiros tentavam achar espaço e os antigos diziam para pegar o próximo trem aos empurrões. No Maracanã, choveu. Pensou na desgraça de uns e na felicidade de outros, eram dos garotos inseparáveis, magros de vareta, aproveitavam do clima e do dia para fazerem negócios. Conheceu eles quando foi comprar maconha, ele tinha rodado, ficou puto, e os garotos o salvaram. Chegou em Triagem, mal conseguia chegar na porta e pisou no pé de um. Não tinha força para passar, aí em Jacarezinho empurrou e saiu, sabendo que não ficaria para ouvir as reclamações. Estava enlameado, tinha até pouca gente que poderia achar normal, pensou que se tivesse operação, ia ter que achar outra rota. A maconha ali já fez muito sucesso e era ponto de outra facção, até encontrou um amigo por ali um dia, só não voltou com o amigo mototáxi porque ficar com droga no erro era difícil. Estranhava a falta de gente, da galera fumando maconha que era em abundância, além dos cracudos que não o abordavam pedindo qualquer coisa com insistência. Foi comprar a maconha com um menino que disse que a polícia já tinha passado de manhã, não tinha mais nada no dia e estava tranquilo agora. No que ele compra cigarro, a tia disse algo que ele não associou até ele ser encontrado por um policial na estação “Cuidado com os tiras!”. Eles abordam e começam a perguntar da maconha e, principalmente, do dinheiro que fez os olhos deles brilharem. Ele tenta concordar em ir para a cadeia, assinar papel, dar a maconha, mas que precisava do dinheiro. Os policiais, sem identificação, riem, falaram que ele perdeu tudo e tentavam esquematizar que tinham achado muito mais maconha com ele do que ele dia. No final das contas, ele vai com a maconha e fica sem o dinheiro, deram, após ele reclamar, 4 reais para pegar o trem. A passagem que comprou do cracudo não funcionou e teve que pular o muro do trem para economizar. Em casa, os amigos perguntaram se ele foi abordado, explicou como levaram o dinheiro e deixaram com a maconha. Foi dechavando, pensando em cada perrengue que passou com a polícia, ia crescendo o ódio que passou todas as vezes e naquele dia, foi ver tinha feito um charuto. Fumou, a galera reclamava dos vermes, mas fumou com tanto ódio, tristeza e desânimo que preferia que tivessem levado a maconha. Elementos literários: Regionalismo, hibridismo Construções importantes: Cidade partida, desigualdade social ”A identidade marginal periférica em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Dra. Ana Paula Franco Nobile Brandileone – file:///Users/alessandroperre/Downloads/2049-6625-1-PB.pdf

Conto 13 – Travessia

Beto já tomou bronca pela primeira vez ao encontrar com o o dono do morro que mandava sumir com o corpo, não queria saber de processo ou problema, se não, quem ia para a vala era ele. Já fazia ano que entrou na boca, segurava a metralhadora mas nunca atirou uma vez. A favela nem tinha mais aparição da polícia, estavam em uma época de calma, era tanta calma que muitos entraram na boca e nem tinham como fazer algo para mostrar o valor, ficavam apontando para o invisível e imaginando tudo. O problema é que a falta de experiência de mostrar que era sangue frio ia ter que ser colocada agora para dar embora do presunto. O problema todo veio que o cara comprou pó e fez cumprimento de outra facção, em vez de dar um coro ou uma bronca deu uma rajada. Passou a adrenalina e o ódio do momento e viu que o corpo também era filho de Deus e de uma mãe, a merda já estava feita no primeiro tiro. Era tudo difícil, tinha que ver um carro para levar ao lixão, de moto não dava, já sentia que ia ser taxado de vacilão do morro. Ficou pensando em como perdeu a chance de ganhar grana, via todo mundo antes de carro importado e ele precisava pagar fiado em marmita, “bandido duro é foda”. Beto, vai contando o narrador, ia pedindo ajuda e todo mundo se desviava, na hora de arranjar droga e pagar de bandido com arma todo mundo aparecia. Ficava puto com o dono do morro que não deixava desovar o corpo no mato, a polícia nem subia para pegar droga, imagina entrar para procurar corpo de drogado morto, mas tinha que respeitar. Arranjou um Chevette para pagar depois, já sentia que ia ser parado, polícia gostava de parar carro assim, sem documento, com lanterna faltando. Pensou em levar de madrugada, mas aí mesmo que iam parar ele com sede de fazer trabalho. Decidiu ir no fim da tarde com a ajuda de Deus. Fazia tempo que não dirigia carro, no morro era de moto. Pensava no nome do corpo espremido no porta-mala, quis até que nem tivesse família e lembrou de como se afastou da mãe quando trocou os cultos por maconha. Teve dó da mãe, bastava o filho ficar na boca, mas ser assassino e ter que lidar com as fofoqueiras do culto ia ser uma desgraça, povo bom para cuidar da vida dos outros em vez da palavra de Deus. O pior rolou, o Chevette morreu em área de milícia, já estava todo doído de dirigir nervoso por trinta minutos e nem tinha grana para desenrolar ali. Viu um bar com uns coroas jogando sinuca, bebendo cerveja e que muito provavelmente tinha um miliciano. Os mesmos velhos já iam em direção ao carro e dava para ver a arma na silhueta da camiseta, vinham três. Ia explicar sem saber como, pode ser que se falasse que o presunto era viciado aliviasse, mas o número de tiros denunciava que trabalhava na boca, e aí ficou pensando em como ia morrer, ser torturado antes até verem dinheiro, e não iam ver, estava queimado e o pessoal do morro ia falar para matar mesmo, era destino de vacilão. Pensou na mãe de novo. Pensou agora em Deus. E o Chevette foi, ajudaram sem nem perguntar, ele mesmo já ajudou e nem sabia o que ia dentro, talvez as coisas melhorassem, era cria do bagulho, não tinha motivo para ficar taxado para sempre. No lixão, tinha até gente procurando, mas ele viu que nem prestavam atenção e já puxou o saco de lixo, pesado. Se fosse no mato, ia tacar fogo com gasolina, mas ali o fogo se alastrava e ia ganhar fama de vacilão e até pagar por isso, aprendeu a se controlar naquela situação e deixou para os urubus. Avaliava se voltava ao plantão, podia mostrar à galera que passou, errar era humano, qualquer um pode perder a cabeça, ou se não voltava e depois vinha no sapatinho. Só sabia que sentia ódio. Voltou e era como se visse o morro pela primeira vez com os moradores, cachaceiros, gente vendendo droga, e sua vida desmoronou na boca, mandaram o papo de vazar e nem se despedir, o morro ali não era lugar para gente emocionada. Achou que ia tomar bala, era feio morrer para vacilão, ele era cria, achou que não ia ser assim pela reação de quando voltava. Deu meia-volta, sem medo de tomar tiro pelas costas. Ia descendo, lembrando de coisas da infância, festanças, correr, sonhos de trabalho, sonhou em ser jogador de futebol, piloto, técnico de informática, nunca pensou no tráfico, olhava tudo pela última vez, sem saber onde dormir, com o peito doendo de amar e odiar aquele lugar e saber que tudo seria diferente a partir daí. Elementos literários: In Media Res, Anedota Construções importantes: O outro lado do tráfico, desconforto ”A representação da violência em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Keury Carolaine Pereira da Silva – https://repositorio.uema.br/bitstream/123456789/1868/1/Dissertação – Keury -1 PDF- A.pdf

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“Água Funda” de Ruth Guimarães – Resumo de Cada Capítulo

A obra tem 3 edições, uma do lançamento, em 1946, mesmo ano de “Sagarana”, outra esquecida (talvez reimpressão ou segunda edição nos anos 2000?) e uma terceira em 2018. Foi o romance de estréia de Ruth Guimarães, sempre apaixonada por ler e que morou na região rural.

A obra possui dois grandes momentos, 50 anos antes e 50 anos no momento da narração, até o fim dos anos 30.

Há um locutor silencioso, ao qual o narrador fala com e é sempre preocupado com a verdade.

É uma obra sobre o caipira do sudeste, em dois momentos do Brasil, antes e depois da escravidão em uma fazenda no sul de Minas, próximo ao Vale do Paraíba, local de nascimento e de vida da autora.

Os locais de maior atenção são a própria fazenda Olhos d’água e uma cidade próxima da fazenda.

O sentimento principal da obra é o medo.

A história se assemelha aos moldes de um causo contado, já que nem tudo é contado de uma vez e as histórias vão se adicionando aos poucos sem conexão aparente, até que elas se conectam ao final, como uma grande epifania de um causo contado.

Realismo mágico – É impossível traçar a linha de quando superstições e crendices superam a ciência e o racionalismo, os dois existem ao mesmo tempo

Super-realismo – O regional vira universal

Trecho inicial

Estas coisas aconteceram em qualquer tempo e em qualquer parte. O certo é que aconteceram. E, como sempre se dá, ninguém apreendeu nada do seu misterioso sentido. (A história é uma professora sem alunos, A história ensina e ninguém aprende.)

Capítulo 1 O narrador, muitas vezes que dá voz também a própria autora, conversa com um locutor silencioso chamado “moço”. Ele começa a descrever a região que passará boa parte da narrativa. O narrador conta como todo o engenho era o mesmo e não era. Talvez até tivesse as mesmas árvores, animais e até o mesmo Seu Pedro Gomes que lembrava da época, mas a praga mudou tudo naquele lugar, o ar era diferente. A casa tem salas grandes e o sol invade com facilidade tudo, mas há um ar frio de morte por ali, seja pela praga, pelo terreno construído por cima de corpos de negros ou de Maria Carolina, ou Sinhazinha Carolina, antiga bela dona que vigia tudo pelo quadro pendurado na sala. Era irmã de outros dois, Sinhá Maria Isabel, casada, e Miro. Quando a caçula casou, teve festança de uma semana, para felicidade da mãe desses três que eram a praga de sua vida. Tinham matado 40 bois e perderam noção dos cabritos e dos doces. Apesar do exagero, o narrador falava que era verdade, pois até Seu Pedro Gomes poderia confirmar. O narrador tem uma preocupação da história ser verídica, quando há uma suspensão da verossimilhança, ele diz que outros podem comprovar ou que tem como ele provar ou que o povo falava que era verdade, tal qual a expressão de que “A voz do povo é a voz de Deus”. Mas o casamento havia de terminar mal, “casamento que começa com foguete, acaba com porrete. Esse não acabou com porrete, mas foi muito pior.”. Um guainumbi, um beija-flor, de papo branco entrou no quarto no dia do casamento. No começo era bom, mas depois o marido virou festeiro e ia para todas as farras com Seu Pereira. Mas Sinhá não brigava, casou contra a vontade dos pais. Pode até ser que brigasse, mas era escondido ou nunca aconteceu. “A soberba ajudou Sinhá a sofrer calada”. Sinhá Carolina costumava visitar a irmã, que toda hora o marido de Sinhá Carolina ia para longe e voltava chorando. Mas o problema é que ela acreditava no arrependimento que era tantas repetidas vezes, achava sempre que mudaria. “Mulher, pelo coração, a gente leva para onde quer.”. Casaram cedo e era difícil mudar. Quando mudou, o coração de Sinhá já tinha endurecido. Um dia, Sinhá Carolina queria comprar uma cozinheira, Joana Maria dos Anjos, o problema foi que Seu Joaquim Dias falava que era melhor comprar o marido dela também, já que ela era muito bonita e podia dar problema com o marido dela que era mulherengo. Afinal, sempre havia trabalho na roça, uma mão extra era sempre bom. Ela tratou mal já de cara a cozinheira, até a Sinhazinha achou ruim o tratamento, mas a mãe falou que ela fazia o bem entendia pois ela mandava, quando ela fosse mandar, ela faria diferente. Os tempos que a faziam ser assim, ela não era de todo má, tal qual a desgraça depois não era de Joana dos Anjos, mas podia bem ser uma parcela de culpa, mas não total. Tem gente que só aprende depois que “fica com o sinal na carne”. O narrador fala de uma vez que o Sinhô foi sair procurando Carolina. O narrador até fala da beleza das coisas repetidas e como elas são sinais da beleza do mundo. Tal qual a história de Carolina e Deus eram um só. Zé Lucinda tocava violão numa toada repetida. Carolina tinha tido um sonho ruim com Sinhô, mas ele dizia que não ia dar nada. Coitado dele que sempre contrariava. Morreu, acharam com o pescoço quebrado, falaram de praga, até mesmo que era de Joana, e o narrador falou que era cobra e o cavalo assustou, crendice tem limite. Sinhá ficou de luto mas não a viram chorar. Reparou que Joana chorava pelos cantos, mas a soberba de Sinhá era ruim e ela insistia no não. “Ruindade, às vezes, é só falta de imaginar a tristeza dos outros”. Quando começou a cuidar da fazenda, mandou matar o baio, cavalo, só para que tivessem noção de sua ruindade, achavam melhor que tivesse dado ou presenteado ou vendido. Instalaram um moinho perto, Sinhá mandava e a desgraça dela veio por lá. A vida dela subiu, como a de todos que vêm em ondas, mas a dela subiu e desceu, de uma vez, com ela “de cabeça em pé”. Tinha ferramentas para se salvar, o marido, a filha, o dinheiro, mas o progresso vinha e tirava tudo que atrapalhava: marido morreu; filha saiu da frente; o dinheiro perdeu. Assim como Deus quis ter.

Capítulo 2

O narrador explica do caminho da estrada do Limoeiro para Olhos D’Água. De dia é alegre, de noite passava o espírito de Sinhazinha Gertrudes. Sinhazinha era como Sinhá, de juventude e de gênio. Ela procurava frutinhas, e a morte a esperava. A natureza sempre se embeleza para avisar o amor. Tudo fica mais cheiroso, vivo, e seus olhos eram lindos e encontraram os do filho do capataz. Parecia que o Inácio Bugre tinha armado tudo. Inácio Bugre é, supostamente, pelo seu comportamento e atividades, alguém indígena. O problema é que isso não é explicado claramente, alguns indicativos, além do comportamento (sisudo, poucas palavras, bom de natação, resistente à picada de cobra, bom com arame e trabalhos manuais) é o nome Bugre, que é um apelido pejorativo para indígenas de europeus por não serem cristãos, que vem de uma palavra francesa “bougre” que significa “búlgaro”, um povo considerado no século XII herético, o significado da palavra. Trazia presentes, armados, frutas, acessórios, não trazia a lua como Sinhá dizia porque estava alto demais. Um dia ela se afogou e Inácio a salvou. Ela ficou dias acamada, ele ficou do lado sem sair e sem comer. Quando falaram que ela iria melhorar, chorou. Parou pouco depois e fechou a cara. Quando foi vê-la outro dia, sorriu pela primeira vez. O amor estava ali, de uma barulhenta e um quieto. Mas falavam daquilo, ele podia ter más intenções. Sinhá gostava da simplicidade do homem, não era levada fácil por comentários alheios. A família de Inácio que deu o nome da fazenda, com várias nascentes boas e a crendice que ali era que a mãe d’água tem chorado. Trabalhava no brejo, ia de canoa, levava frequentemente picada de cobra. Tinha quem dizia que “ele tinha oração de fechar o corpo”, mas tinha mesmo sangue forte e fumo bom pra fechar ferida. Falava pouco, sorria pouco, mas tinha medo nenhum. Casou o filho do capataz com a menina, mas Sinhá não apoiou. Fez festa e antes dela já vinha tossindo. Conversavam que Seu Jovino não ia bem. Zé da Lucinda um dia se assustou com ele. Era o falecido Sinhô velho da fazenda, que todos se riam dele não saber quem era. Muitos dos velhos moravam no antigo armazém, Sia Maria, a avó, que sempre prozeava por lá, a querer saber de Miro, mas não queria saber de morar com as filhas apesar da saúde. A vida de Sinhazinha continuava uma festa, e Sia Maria não gostava do que ela aprontava. Sinhá falava menos, Sinhazinha o suficiente pela manhã, que passava com a avó o dia todo, mas ia mesmo era com o filho do capataz na canoa. Sinhá brigava com a tia Maria Isabel, não aprovava o filho de capataz. Não pensava no amor por casamento pois o dela não deu certo, logo o de Gertrudes não daria. Maria Isabel aceitou, ficou quieta e “saiu da fazenda para nunca mais voltar”. Tempos depois a Siá Maria faleceu, encontrar-se com o seu velho. Isso afetou Sinhazinha, pois não tinha a quem pedir conselho. Pode ser que foi decidir e decidiu mal, ou bem, nem o narrador sabe. Sinhá continuava dura, Sinhazinha corria para Inácio, até que ela saiu do ninho de vez. Sinhá quis falar com o filho do capataz e corria o boato de que Inácio ajudou o casal a fugir. Inácio ficou ofendido com a acusação, Sinhá estava desconsolada. Ela estava arrependida, e ele não dizia por nada, até porque se fosse a filha dele, não precisava fugir. Queria mandar gente, mas pra quê? Ficou sozinha e sem consolo. Seu Joaquim Dias após um tempo não trabalhava mais na fazenda. Até pensaram os dois de falarem que o filho do capataz era bom, e que ela perdoava a filha, mas a única troca foi de dinheiro. E aí piorou, era uma troca de capataz que nenhum prestava, um chegava tarde e não gostava de trabalhar, outro comprava briga e apanhou, outro era ruim e morreu, outro nortista de cara fechada, e um alemão que não achava brasileiro bom pra trabalhar. Esse ficou. Ficou e pra piorar. Ler página 35

Capítulo 3

O dono da fazenda expulsou o filho de casa. Não se sabe o que é, mas pelas palavras do pai que coisa boa não era. Um cavaleiro bem vestido chegou na fazenda, o mesmo menino que foi expulso da fazenda, apesar de não ser explicado diretamente, querendo saber do dono. Falaram para onde ir e ficaram pensando que ele ia comprar a fazenda. Mas os bichos dali saiam de perto da nova figura. Sinhá gostou dele, apesar de ser estranho um moço aparecendo assim. Eram olhos miúdos de cobra que seduziam, falava pouco. Choveu como nunca na noite. O alemão foi mandado embora, mesmo que ela não tivesse queixas, o novo moço ficou de capataz. Logo espalhou que ela casaria com o capataz. Logo depois que ia vender a fazenda. Falavam até mais, que iam comprar outra fazenda. Apesar do aviso de Miro, que não se intrometia e mal falava com sua irmã, avisar da situação, Sinhá não ouviu. Mulher se enleva com pouco. Miro respeitou. Tinha até boatos que ela e a irmã estavam bem. Mas não estavam, nem se falavam, a filha ninguém sabia, só o Bugre e ele não contava. Ela casava, ele disse que não era de deixar, mas que pelo menos fosse de separação de bens. Isso não era apenas o louco do Miro que via do dinheiro, mas até mesmo de que sabiam que ele foi expulso pelo pai. Há um retorno do conto de como Seu Jovino morreu. A desgraça é uma metáfora em uma história do narrador, e ela chegou para Sinhá Carolina por boa fé, ela nunca mais voltou para a fazenda, a Sinhá Carolina, ela mesma, com esse nome, nunca mais voltou. Sinhá Carolina se deu por toda, como o Diabo gosta, e por ter ficado sozinha, aceitou aquele pouco agrado. Ela fechou a mala e fechou a vida. Todo mundo é como canoa em água funda, a água mexe um pouco, mas é isso. Ler página 52

Capítulo 4

Viram Inácio indo levar a Sinhá para a estação. A história salta para o momento da fala do narrador, os acionistas estavam feliz com tudo, dinheiro sobrava. O novo manda-chuva queria saber o que achavam, chamava todos de amigos, camaradas, perguntavam o que podia melhorar, queria a opinião de pessoas que nunca ouviram nada mais do que ordens. Gente bruta também gosta de ser tratada como gente. Traziam gado novo, cruzavam para ter mais, cimentaram vias, progrediram. Foram 50 anos e muita coisa mudou. O chefe era tão próximo da gente e trabalhava igual que ele era chamado de Velho. Conversavam, comiam e riam juntos.

Capítulo 5

O narrador conta do modo de transporte da época e de hoje. Se antes eram carroças do Miro puxadas por burro, uma traquitana esquisita, hoje eram os caminhões do Zé Luiz, que mudaram de estética mas a engenharia era a mesma. No tempo do Miro era festança, faziam quantas viagens necessárias, até compras na cidade. Do Miro só sobrou uma neta, Curiango, sabia cantar, mas que nem sabia das histórias dele. Ficaram as invenções, acostumaram com a falta. O nome era de pássaro, mas o motivo é incerto. Ela atraía não pelo corpo ou olhos, mas um calor que vinha dela. Joca gostava dela antes mesmo de saber que gostava. Seu Pedro Gomes tentou apartar uma briga de desordeiros e levando facada. Não levava desaforo pra casa e quase nunca mais voltou para ela. Passou a sentir as coisas com a ferida, como toda pessoa, animal ou criança quando sente no ar a mudança. Assim como a lua também muda as coisas. Assim como Curiango.

Capítulo 6

O narrador conta da safra e dos animais criados e de criar estoque. Era nessa época que Joca viu Curiango. Na festança da casa dos Netos tinha de sobra de trabalho aos homens e mulheres cozinhando, já tinha gente e já tinha bagunceiro, como Zé Pedro bebendo e Choquinha, nome que tem sempre de ficar andando de cócoras e ficar nos cantos assim, que queria ajudar mas não conseguia, era enxotada para outro lugar. Joca mal percebeu Curiango, mas na hora da roda que a viu. Achou graça no jeito, ainda mais no apelido e do pai brabo. Ficou sem saber se gostava dela, até o casamento de Cecília. Teve até mesmo que ele caiu em um barranco correndo atrás de Curiango, sendo que no mesmo dia ela tinha ido embora com o pai. Era algo “naqueles olhos”. O narrador puxa a fala de ter ido à Mariquinha Machado para se benzer, e das histórias dela de benzimento. Ele acreditava que era mau-olhado em vez de paixão. Só que Curiango gostava dele e achava estranho as crendices e como espalhou a história do feitiço. Perdoou como se nada tivesse acontecido. E a primavera chegou em setembro. Lembrou da primeira vez que a viu e que a assustou, saiu voando como pássaro. Em um dia que comia Jaboticaba, viu como Mariana pedia para que ele jogasse e como ela cresceu. Pena que era nova. Desceu e viu Choquinha que pedia esmola. Não dava esmola mas dava carona. A relação entre os moradores e Choquinha é de não querer por perto, mas não querer longe. Joca estava de bom humor com a primavera. Sentia-se curado, não por causa do Dr. Amadeu. Tristeza de moço não dura muito tempo. “O coração de Joca era um potro xucro dando pinote”. Em uma noite quente, mal dormia. Era calor, ou até mesmo cavalo que procura algo no cio. Saiu para tomar sereno e acabou parando perto da casa de Mariana. Ler página 74.

Capítulo 7

Joca precisava viajar para resolver uns assuntos em Maria da Fé. Cantavam uma música triste na madrugada. Na volta, mostravam as compras, menos Joca que fingia não ter comprado algo. Na volta, Messias cozinhava naquela noite de breu e contavam histórias de encosto e fantasma. Falaram de portão batendo, enterro no céu, luzes, rezavam. Dito achava tudo esquisito e não se intrometia. Teve outro contando a história de um homem que não podia ir para o céu até ouvir um “Deus lhe pague”. Ganhou por dar um tatu. No meio da conversa, um rato foi roer o pacote de Joca, ele ficou louco, era um corte na seda ramada.

Capítulo 8

Toda noite na casa de Julinha tinha truco apostando dinheiro. Joca participava mesmo que não fosse bom. O truco mineiro joga com manilha específicas. É tão comum que é até parte de vocabulário, como a palavra “maço” e “seis”. A jogatina ia longe, o parceiro de Joca era bom e ele ia na toada, Mariana até pedia pra ir embora mas ele ficava ali. Jogaram até de madrugada. Por ali, veio um homem falando de uma empresa contratando com salário bom, emprego fácil, manual, mas que pagava bem. Mas era a vida, podia chover, trazer lodo, mas tudo era canoa em água funda. Em uma outra passagem, Mariana aparecia com o vestido que Joca comprou. Naquele dia de sol, tudo ficou calmo prevendo algo que ia acontecer e esperavam pra ver, Curiango viu o casal e não entendia bem, ou entendia bem até demais. Mariana até tentou fazer barraco, mas Curiango era maior. Disseram que jogaram o vestido novo pela janela. Joca queria ir nesse trabalho novo. Não ia por dinheiro, mas vergonha e de se punir. Até jogaram truco depois, mas Joca estava muito abalado por qualquer coisa. Zé Lucinda e Joca foram parar na cadeia por dois dias. Olhos d’água queriam os dois por lá mesmo, não porque eram pessoas ruins, mas formavam um grupo ruim. Ler página 93.

Capítulo 9

Mané Pão Doce era o antigo padeiro antes de Zé da Lucinda. Tinha sumido e nem entenderam como. Voltou pele, osso e pereba, pois foi ao trabalho do sertão que pagava bem. A filha ia bem e ele estava sozinho, acreditou e se deu mal. Era tão ruim quanto morrer. Trabalhavam sem parar, quando paravam eram assediados psicologicamente. A única forma de comprar algo era pelo armazém também da companhia que vendia mal e caro. O dinheiro vinha por vales e só podiam usar no armazém. Tentou pedir as contas, mas cobraram tudo que ele fez e tinha, devia dois meses de trabalho e seria preso se não pagasse, era trabalho escravo. Até tentou gritar com o patrão, acordou machucado e foi vigiado. Só que aos poucos foram vendo que mais ficavam com raiva. Não iam matar porque ir para a cadeia por aquilo não valia a pena. Planejaram fugir e conseguiram. Tiveram que amordaçar e irem como feras, já que eles estavam armados e já tinham matado outros. Fugiram um para cada lado e julgaram que não seriam seguidos. Quando ouviram a história, no dia seguinte, o homem que arranjava gente para trabalhar lá apanhou feio do pessoal. E era justa a cambada ruim que foi parar lá com mais gente ruim. Queriam dar um susto mas arrastaram o homem de corda pela cidade. Volta uma cena para um homem amaldiçoando Bugre, que ele seria o primeiro, mas não era. Tal qual 50 anos atrás, pessoas trabalhavam como formigas, mas como escravos. Muito não mudou. O narrador teve dó do homem jogado ao banheiro com remédio de carrapato. Ler página 98.

Capítulo 10

Joca se perdeu no rabicho de Mariana, depois no jogo, e, finalmente, a pinga. Vivia bêbado e sendo resgatado, ouvia sermão e sabia que era de laia ruim, mas queria que tudo se danasse. Vicente ainda dizia que podia ter algo com Curiango, com mulher, nunca se sabe. Choquinha foi pedir esmola para Mariquinha e ela pedia que tudo fosse em verso e assim ela fazia. Joca via tudo enquanto trabalhava no sol. Joca parou para ver Curiango vindo escondido. Acabou vendo Bugre. Amaldiçoou e esperou ela vir, veio e se assustou por achar que tinha gente vendo ela. Ela foi com um pote vazio e voltou cheio, ficou maravilhado vendo ela. Ficou até sabendo mais. Viu Tonho Piraquara passando por ali, tal qual outro pássaro. Pensou que ia ver alguém, até mesmo fosse Curiango, mas nada. Pensou até que fosse para matar alguém mas não, chegou Cecília e ele sumiu. Ficou até pensando em Antônio Olímpio, que tinha a mulher que o traía constantemente. Ficou em choque de contar e não contar da traição, lembrou de quando foi dançar com Curiango e como tudo chegou àquele momento. Lembrou de quando a ajudou levar um pote e fingia que não a conhecia. Era um bruto que não merecia tanta doçura porque ele o achava isso, não que o mundo não quisesse. E nesse tempo quente de vergonha, ela perguntou do boi e do nome, Condenado, mas ele o era e falou tudo, até de como a mulher que gostava não gostava dele, mesma cena de uns capítulos atrás. Tinha medo nenhum do feitiço, sentia-se bem, mas “a Mãe de Ouro é mais forte.”.

Capítulo 11

Mãe de Ouro é um folclore de uma mulher com cabelo de fogo que protege as mulheres casadas e mostra onde tem ouro. Em vez de ser uma ajudante de pessoas que querem se enriquecer, ela só avisa para que não cheguem por perto. Só que como toda lenda, há quem acredite demais, por ouvir os mais velhos e tentar achar explicação em um mundo caótico, e quem acredite de menos, que abusa e debocha. Muitas vezes, quem se dá mal é o último, seja por não se firmar em nada ou tomar porrada do natural e do sobrenatural. Joca acreditava que Curiango era uma praga de Mãe de Ouro. Caiu no barranco porque viu Mãe de Ouro, toda vez que via Curiango sentia no olhar dela a praga que chegava. Tinha um sonho ruim que alguém ia matar Curiango. Na mesma noite, Siá Maria acudiu Joca, seu filho. Achou tudo estranho. Ele parecia dormir, tentou até acordá-lo mas desistiu. Joca contou depois para Curiango, até falando que um dia mataria ela. Ela não achou graça, mas não era para achar. Enquanto a fazenda crescia e aumentavam a produção de cachaça, inventaram de pregar uma peça em um português durante a quaresma, havia uma reza braba que só podia ser ouvida de pé ou de joelhos, além de que os violões eram embrulhados, escondiam-se quadros e fechavam portas. Inventaram de fazer um Judas no sábado de aleluia e assustaram o português Pais que não conseguiu frear direito. Ele deu tiro para o alto de nervoso. Curiango e Joca, ao se casarem, pareciam crianças nas conversas. Moravam em um lugar perto de Olhos D’Água. Em uma noite de São João, ainda lembrou-se do caso de Cecília e da traição com o Quim e se mordia querendo contar. Enquanto viam os outros, pensavam em como subir o pau de sebo. Em uma noite que Joca tinha saído, Curiango deu uma festa e ficou mal, estava parindo. Nem Nhá Chica sabia o que fazer, rezava e pedia para não morrer. Joca deu tempo de chegar, vendo ela com suas roupas – era simpatia – e ele conseguiu ver a isquinha de gente. Joca ficou todo bobo. Mas a praga de Mãe de Ouro era pior que morrer, Deus não deixou que ele morresse. Ele tinha uma vida boa que ia levando, mas a praga veio, veio uma geada que destruiu tudo. O que sobrou dava pouco e nem valia. Depois aconteceram mais coisas estranhas, de espírito mau andando por aí, gente caindo, briga de coronel e vaca, vaca sendo liberada e depois o coronel arrependido, o administrador de Olhos D’Água comprando briga com os vaqueiros. E o narrador viu a morte chegando quando os vaqueiros mataram Santana e procuraram vingança por lá. Deu 3 meses e tudo tava certo. Mataram por charme e os pobres morreram. Ler página 119

Capítulo 12 Joca não sente mais nada, sente falta de sentir algo. Dizia que a Mãe de Ouro ia pegar ele um dia. Vicente Rosa que insistiu que ele falasse, mas ficou na dúvida se era bebedeira ou se ele estava sério demais. Em uma tempestade, Joca pedia ajuda para Curiango que Mãe de Ouro não a pegasse, mas ele não dizia exatamente isso. Há uma passagem de tempo para quando Joca trabalhando nas máquinas da Usina, ouviu Luís Rosa debochando do calor e encheu ele a pauladas com lenha quente. Todos fugiram para cada lado e não tinham coragem de seguir Joca. Acharam ele sem sentido em um morro. Nem o Dr. Amadeu entendia, todos queriam distância. Dr. Amadeu fazia várias perguntas, tentava achar desde genética até vício. Joca desembuchou e tinha medo de ficar louco. Ele sabia que tinha ataque quando via a Mãe de Ouro e lembrava de todas as vezes que a via, o Dr. ficou maravilhado. Joca tinha medo, só sabia das coisas depois, quando bateu no Luís Rosa ele não lembrava. O pessoal queria que ele fosse demitido, o Dr. mandava que ele fosse trabalhar fora dali, não aguentava. Mariquinha Machado falou até que ele tinha levado coice de mula quando pequeno, era atrevido e não gostava dele com razão. Luís Rosa perdoou com muita dor. O povo criava teorias, pensava que era desde o truco, mesmo que Joca dissesse que tinha nada e Luís Rosa ficasse quieto. Bebiano ficou para decidir se trocava de lugar com Joca no trabalho da usina, seria melhor, o trabalho de carregamento era impiedoso e mais trabalhoso. Pensou o dia todo, perguntou à mulher e decidiu assinar sua sentença.

Capítulo 13

Vicente passou na frente da casa de Choquinha, que vivia em uma de favor de uma companhia. Ela estava com frio e convidou ela pra tomar café. Estava na frente do fogão. O narrador fala como se o locutor silencioso perguntasse do moço do Limoeiro, tal qual alguém que ouve fofoca lembra de um detalhe que ficou no suspense. Não sabia o que aconteceu, mas tinha certeza que terminou mal. “Quem faz a Deus, paga ao Diabo.”. O narrador revela que Choquinha é Sinhá, mas, não assim, “Sinhá era a outra. Choquinha FOI Sinhá.”, tal qual lagarta vira borboleta, duas coisas que são e não ao mesmo tempo uma a outra. Sinhá era borboleta e virou lagarta. Por isso o narrador dizia que Sinhá não voltou, eram duas pessoal totalmente opostas, uma orgulhosa, bonita e teimosa, a outra feia, humilhada e dependente. Ela voltou porque não tinha mais juízo e não tinha uma unha do que era antes. O narrador conta a história do cachorro do Pedro Gomes, Biguá, um cão esperto e companheiro que ele levava sempre para caçar em uma época que tudo era mais mato e com mais bicho. Era esperto demais que só faltava falar e atirar. Em uma viagem de caçada que demorou muito tempo e tiveram que se enfiar em muitos lugares para dormir, caçar e achar, teve uma tempestade que deixou Biguá para trás. Acharam que ele tinha morrido para não ter achado o caminho. Seu Pedro Gomes até tentou procurá-lo, cortou mato e tudo, mas nada, ficou triste. Mas ele voltou, machucado de mordida e de espinho, voltou devagarzinho e mal conseguia andar. Seu Pedro Gomes chorava como criança, o cão estava falecendo e não tinha mais como viver. E o Zé Pedro era um bêbado da região que bebia até perder a consciência mas conseguia voltar para casa. Tal qual o bêbado que não vê mais e o cachorro cego de espinho de ouriço, algo guia eles para o caminho que precisam seguir, tal qual a água precisa descer o morro. Tal qual Sinhá. Ler página 150.

Capítulo 14

O narrador revela o que foi feito de Sinhá. É a história mais feia que ele sabia. Eles iam pegar uma linha de trem bem tarde e bem distante de tudo em Minas. Ele deixou ela lá sentada e falou que ia comprar as passagens, o narrador pensa como que ele tinha coração para fazer aquilo. Ela esperou um bom tempo, coisa de horas. Ela foi procurando e perguntando por ele, mas ela boba de amor não acreditava no abandono, ainda que os empregados falassem que a estação não era grande, que o viram entrar no trem, desconfiado e olhando pros lados. Um dos empregados teve até dó do tanto que ela chorava, virou a noite ali, perguntavam se ela conhecia alguém ou se era perto dali. Mas ela não podia e não queria voltar, não tinha para onde ir. Foi até a casa do moço, mas chorava e não comia, foi para a Santa Casa e saiu de lá abobada. A molecada que ouviu a história apelidaram Sinhá de Nhá Baldeação, mas ela não respondia e as crianças pararam. Andava por aí, tinha vezes que até ganhava roupa e banho, até que sumiu. Uns parentes de Vicente Rosa foram visitá-los com as crianças e elas reconheceram Nhá Baldeação e contaram a história. Vicente Rosa ouviu quieto e só contou ao narrador, mas notícia ruim espalha rápido e tem de mensageiro os familiares, que passaram a notícia e todos descobriram que Choquinha era Sinhá. Vicente até levou ela para o Dr. Amadeu, que pediu que a deixassem em paz para morrer, não tinha o que fazer com aquele frio dela. O narrador não sabe se ela morreu, mas o quadro na sala que arrepiava ele era um aviso. E aí a desgraça e a morte tomou conta de Olhos d’água: Bugre morreu de picada de cobra, ainda que tivesse matado ela pela crendice de que se cura comendo o coração da cobra, mas não conseguiu, no único dia que estava desprotegido e sem fumo; Antônio Olímpio foi o segundo, nas viagens de tropa ficava ouvindo uma possível indireta da infidelidade de Cecília, pediu ao filho mais velho que a vigiasse, escondeu-se e viu ela conversando com um homem, cego da idolatria que tinha por ela, matou de facada porque viu alguém pedindo fogo e não que ela tivesse traindo antes tantas vezes que não viu, morreu na cadeia de doença de friagem da cadeia e do coração de ciumento; por dois anos que a cana crescia bem e levaram até para pesquisar e foi a vez de Bebiano morrer na Usina, culparam Joca por trocar de lugar com ele que trabalhava com fogo e no dia um dos foguistas se descuidou da máquina que estava mais perigosa e só achou o corpo carbonizado, Curiango até ouviu tudo mas eles culpavam era Joca por ser ruim, mas o chefe das máquinas falava que não dava mais e o engenheiro contradiz e foi mandado embora. A praga foi pegando todos, de rebote até quem não tinha nada a ver.

Capítulo 15

Curiango percebia como Joca chamava ela desesperadamente, como criança desamparada. Achava graça no começo, mas teve medo. Ela achou que ele escondia algo, ele olhava como presa domada, e ela com raiva de jaguatirica dizia que podia ir para a rua com a outra, mas ele via a Mãe de Ouro. Joca foi resgatado de um atoleiro e se não fosse Bugre ficava lá, tinha visto a Mãe de Ouro. Curiango foi até uma igreja para pedir para uma santa ajudar-lo, ela tinha desespero. Ela ia prometendo, querendo uma crença de barganha, falando que se tudo desse certo ela faria algo em troca, mas ela era soberba e tinha vergonha. Retratava-se, prometia mesmo assim. Depois da igreja, até lembrou-de de Joca falando do fogo e se ria com essa mistura de crença e doideira que vivia, passou na frente de um angico que consideravam mal-assombrado e ela rezava com fervor. Vicente Rosa foi acordado e Curiango pedia ajuda. Mas naquele meio sono e meio dia começando ele tinha visto Mãe de Ouro. Curiango estava começando a ficar louca com Joca. Ele falava sobre grama, usina, mas voltou a dormir como se nem falado tivesse. Pensaram em encosto, mas ele reagia diferente, achava que a vizinha estava errada e era a Mãe de Ouro. Tinha melhorado, Santa Rita dos Impossíveis o curou. Tinha até ouvido que espiritismo é coisa do diabo e que “gente, quando morre, não volta para infernizar o juízo dos outros.”. Pensava que era bom, como tinha encosto. Não era mau, mas que tinha gente ruim que queria mau dos outros não faltava. Tentou dar uma chance ao centro espírita, mas Joca nem confiava no Dr. Amadeu. Desistiu do primeiro e foi no segundo. Ele teve um ataque feio antes dela ir conversar com o doutor. Ele não falava que tinha cura, mas nem desdizia, pedia que cuidasse bem dele. Curiango foi a um feiticeiro, relacionou com Bugre e ele poder saber de algo. Não achou. Uma noite, Joca disse que ia para lá que ela o chamava. Ela chorou e implorou pela filha. Tinha medo. Ele disse para que fossem juntos. Disse que era nada sem ela, e realmente foi a última coisa sã que disse. Choveu muito e ele foi, Curiango esperou para poder pedir ajuda para o compadre, não podia sair viajando com ele. Vicente Rosa ficou sério e falou que o encontrava, era homem de uma palavra só e o encontrou. Curiango ficou com medo que tivesse morrido, mas Vicente Rosa dizia que era quase o mesmo. Esqueceu de tudo. Estava na Santa Casa, estava bem, tinha nada grave, foi encontrado na estrada. Curiango ouviu tudo e só saiu, sem chorar ou agradecer. Foi para a Santa Casa mas foi cedo demais. No que esperava, ouviu conversas e pediu para ver Joca. Apesar de esperar, ouviu a conversa de que João José dos Santos já tinha tido alto e foi embora. Mas ela não acreditava e tudo zunia. A enfermeira se compadeceu e deixou ela visitar a enfermaria, achando que ele tinha morrido e não queriam lhe contar. Passou-se um tempo e Curiango estava com novo vestido, sentindo a terra e o dia feliz. Comentaram que Joca se foi para melhor. O médico dizia que não tinha cura para a cabeça, ao corpo tinha. Só que ele falou tudo para cuidar e deixar no sossego que ele mal entendeu que ele tinha ido embora sem ela saber para onde. Até perguntou ao enfermeiro, mas o médico podia fazer mais nada. Curiango ficou ali, sem saber o que fazer ou esperar, queria afastar-se dali mas não tinha rumo, com o embrulhinho de goiabada e queijo que comprou a Joca. Ela estava cansada, sentia nada por cansaço, antes fosse um passarinho preso que canta o dia inteiro por não saber o que é melhor. O narrador contou a mesma história ao Dr. Amadeu, e ele disse que o que mudou foi o espírito dessas paragens. O narrador não ficaria mais naquele “lugar pesteado”. A praga cai pela metade e sobe pela metade, vai ricocheteando todos no caminho que nem tem relação como o Biguá, o Bugre, Antônio Olímpio, Santana, Joca e finalmente Curiango, com o pai que dá trabalho, a beleza que não ajuda e a mocidade que atrapalha. O narrador comenta que Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que diz. Deve ter acontecido tudo porque era bom. Ler página 185.

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“Romanceiro da Inconfidência” de Cecília Meireles – Resumo de Cada Capítulo

“Romance” é um estilo de poema com a estrutura de redondilha maior e rima assonante (foco em sons de vogais).

A obra foi escrita em 1953. A obra é aclamada como uma epopeia e um distanciamento lírico intimista marcante de Cecília Meireles.

É uma narrativa inventiva baseada num evento real, a Inconfidência Mineira de 1789, com o objetivo de tonar a cidade de Ouro Preto, a antiga Vila Rica, independente da corte real.

São 85 romances e 5 partes:

Do romance 1 ao 19, o ambiente, tanto físico, de paisagem, cidade e tensão que antecede a Inconfidência. A corrida do ouro com o misto de tradições e folclores explicam o ambiente de forma sincrônica e anacrônica.

Do romance 20 ao 47, trama e frustração, há um foco na cidade de Ouro Preto, o que se passava por ali que traria o espírito insurrecional. Há a invocação e importância do falar, tanto pelo espírito poético, mas das ações de denúncia, apoio, mentiras e declarações entre os inconfidentes.

Do romance 48 ao 54, a morte de Cláudio Manoel da Costa e Tiradentes, a forma que morrem aumenta o fator lendário da história. A violência e a cegueira da busca do ouro marcam a parte.

Do romance 65 ao 80, o infortúnio de Gonzaga e Alvarenga, há uma análise do sofrimento dos dois escritores e de como poderia nem ser tudo isso quando olhado com outra perspectiva. Há uma perspectiva da África e de outras pessoas também envolvidas com os vivos do episódio e os delatores.

E, por fim, do romance 81 ao 85, a presença da dona rainha Dona Maria I. Apesar de ela mesma ter dado a sentença, ela lamenta e sofre com o que aconteceu na terra. Há, por fim, o testamento de Marília, fechando a fala final dos inconfidentes.

As figuras da obra são reais, há uma releitura poética dos eventos, com inserções fantásticas. A história remota não de figuras proeminentes e influenciadoras, mas inimigos poderosos.

Parte 1

Fala inicial 16 versos e 7 sílabas poéticas, 9 versos e 7 sílabas poéticas 8 sílabas poéticas, 16 versos, 13 versos e 8 sílabas poéticas, 11 versos e 7 sílabas poéticas 21 04 1792 XVI, IX, XVI, XIII, XI X, IX, X, I,

O eu lírico fala das vozes do passado “vinte-e-um de abril sinistro”, do terror e das promessas. Há uma falta de memória, mas um pedido do eu lírico que não se chore pela memória dos que já foram. Há uma lamentação da Rainha louca e de não ouvirem a voz das orações. Procuram-se culpados e inocentes, mas tudo é um mistério.

Cenário

10 sílabas poéticas, versos em tercetos, no esquema de rima de ABA, BCB, CDC Há a descrição paisagística de Ouro Preto, do gado, dos rios, das montanhas, de tudo que ali conta do que foi antes. Ali, os fracos encontraram os fortes, o amor encontrou violência. O eu lírico relembra das mulheres dos árcades brasileiros, procurando sobreviventes e testemunhas. Apesar do passado não estar mais lá e não entender as escritas do presente, o campo entende. Como quem não encontra musas, o eu lírico fica com a visão de Alferes, Tiradentes, para escrever a história.

Romance I ou da revelação do ouro No sertão, os americanos (para nomear quem andava no novo continente) anda pela região, povoada de insetos, novos cheiros, luz e pedras. Ele conhece os arredores, apesar de ver muita vida e não ser encostado, o seu objetivo é o ouro que se esconde pelos rios. Se o cheiro de onça era perigo, agora é do homem, que ali infesta a área procurando ouro com inúmeros equipamentos. Com essa fome que não se sacia, que faz até homem matar outro e morrer por isso, nasce Ouro Preto.

Romance II ou do ouro incansável Há uma descrição do ouro, como ele é doce e suave, as possibilidades do que pode ser colocado e adornado. Mas o que o torna feio são quem os procuram: ladrões; políticos; contrabandistas. Em um local que nasce riqueza, a pobreza aumenta.

Romance III ou do caçador feliz Há a descrição de um caçador, que tropeça em diamantes em ouro e que parece caçar o que não está caçando.

Romance IV ou da donzela assassinada A história é sobre uma moça que, enquanto limpava seu lenço, o seu pai a apunhalou pelas costas, achando que ela estava de romance com alguém pelo período do Natal. Para conectar-se à história, o punhal era de ouro. Morreu pela honra do pai sem poder se quer ser entendida.

Romance V ou da destruição de ouro podre O Arraial de Ouro Podre estava sendo limpado pelo fogo. A violência durante o período é assustadora, mandam enforcar e esquartejam depois, queimam locais sem remorso, só pensam na riqueza. Em toda essa história, o eu lírico diz a um garoto que durma, para que ele não veja as atrocidades ou ouça o que acontece. Há uma invocação de quem se dava título ao Conde de Assumar, o D. Afonso VI, um rei com pouco poder, incapaz e traído pelo irmão, Pedro II. O eu lírico fica triste de como os pequenos tiranos mandam mais que o rei. Há uma lamentação de Filipe dos Santos, participante da Revolta de Vila Rica, que foi esquartejado e espalhados os seus pedaços em torno da cidade como exemplo. Mas, como diz, morreu, “outros, porém, nascerão.”.

Romance VI ou da transmutação dos metais Há um relato poético do casamento de D. José I de Portugal e Mariana Vitória da Espanha dos noivos que fariam a união de Portugal e Espanha em 1727, José tinha 13 anos e Mariana 9 anos, ainda vindo com a temática histórica do romance anterior. O pai de D. José I, D. João V, gastou muito na festa de forma espalhafatosa. Na conexão desta história, há a chegada do pagamento de “os quintos de ouro das minas/que do Brasil são mandados”, imposto cobrado por 20% do material extraído desde 1534, por D. João III. Na narrativa, os caixões estão com “grãos de chumbo / cunhetes acogulados”. Os monarcas se sentiram traídos. Há quem suspeitasse de Sebastião Fernandes Rego, fraudador do Brasil colônia e trapaceiro.

Romance VII ou do negro das Catas Catas pode ser uma cidade de Minas. Há um relato de um negro cantando, antes mesmo do sol nascer, que já trabalhava. É uma inclusão da figura dos negros no Brasil, ainda que no período colonial. Na literatura, custou muito tempo até finalmente termos negros na literatura como personagens em vez de plano de fundo ou objetos. Ele canta da terra que sente saudades e de como a escravidão acabaria com sua vida e sonho de liberdade. Presença estética da anáfora, repetição de uma construção ou palavra no início dos versos (”Já se ouve cantar o negro”, 7 sílabas poéticas).

Romance VIII ou do Chico-Rei Chico-Rei é uma personagem lendária que era um antigo monarca na África, foi trazido como escravo ao Brasil e ganhou alforria, com o trabalho, tornou-se “rei” em Ouro Preto. Em 5 sílabas poéticas, há a narração da lamentação dos escravos que viviam em Luanda e Congo, que agora viviam para minerar pelos portugueses em Minas. Apesar de alguns versos parecerem ter mais, a contagem de sílabas poéticas para com vírgulas, por isso as partes com “, meu povo” não contam. Os negros pedem salvação e que até, um dia, quem sabe, descansem em paz, para Nossa Senhora do Rosário, figura que simboliza a conexão do céu e terra na reza.

Romance IX ou de Vira-e-sai Santa Ifigênia, santa que ajudou no catolicismo se espalhar na Etiópia, é invocada. Na história, ela é virgem e casada com o Senhor, apesar de tentarem queimar a casa que morava, após mandar mata o evangelista Mateus que a dedicou a Deus, as chamas foram enviadas para a casa real. No romance, o eu lírico pede ajuda para ela com Chico-Rei e os negros.

Romance X ou da donzela pobre Há uma relação de antítese no que é apresentado à donzela do romance. Os parentes dela procuram ouro em lugares vazios, ela reza em locais que falam de planos celestes com ouro e riqueza da terra, há uma comparação dos olhos, apesar de serem olhos grandes, eles dão medo. O reino de Deus é longe do dos humanos. “Pobre” pode ser lido como “coitada” ou “inocente”, não só de riqueza.

Romance XI ou do punhal e da flor Uma donzela foi cortejada na Sexta-Feira da Semana Santa por um Ouvidor. Porém, procurando satisfação, o parente dela vai até ele e o Ouvidor saca um punhal.

Romance XII ou de Nossa Senhora da Ajuda Há uma descrição das posses do Marquês de Pombal, tanto de estátuas de santos quanto de louça cara. A “que mais valia” era uma de imagem de Nossa Senhora da Ajuda, uma das diversas invocações de Maria, mãe de Jesus. Haviam sete crianças rezando ali, entre elas, Joaquim José, o Tiradentes. O eu lírico pede à Santa que o salve. Como na época eram tempos de ouro, não poderia o salvar do futuro tempo de sangue.

Romance XIII ou do Contratador Fernandes João Fernandes de Oliveira era contratador e explorador de diamantes, além de apaixonado pela ex-escrava Chica da Silva. Em uma conversa entre ele e o Conde de Valadares, que pressionaria o Marquês de Pombal para não dar mais os direitos de procura de diamantes, ele é recebido com muito bom gosto e carisma, marca do Contratador, pois assim ele ganhava o respeito e favores das pessoas de Minas. O que o Conde queria era dinheiro, tinha voz para prendê-lo mas esperava algo que dissesse que ele não estava do lado da Corte. Fernandes até falava como a riqueza deixava o homem mal e não melhorava nada. O Conde nem ouvia tudo isso. O eu lírico lamenta como os pobres pagam pela soberba dos ricos.

Romance XIV ou da Chica da Silva Chica da Silva era uma ex-escrava que, apesar do senso comum de que era bela e sensual, era feia e banguela. Muito do que se sabe dela não é possível diferenciar de mito e verdade, apesar de ser uma figura lendária que alcançou a alforria. Ela era muito rica e tinha muito poder. Há até comparações de que nem os reis de Portugal tiveram uma mulher tão rica como ela, “a Chica-que-manda”.

Romance XV ou das cismas da Chica da Silva Presença de rima grave ou feminina, feito em palavras paroxítonas. Chica da Silva tem medo da visita do Conde ao Contratador, pensando no que poderia ser o seu real intento. Dentro dela, o pensamento da inconformação de como a Corte que só aproveita do melhor da exploração de Ouro nas minas, não vê as mazelas e a destruição do ciclo do ouro. O Contratador não entende a malícia do Conde, porém Chica da Silva não se sente bem.

Romance XVI ou da traição do Conde A rima se foca em ser toante ou assonante, que é o foco nos sons vocálicos e ignorando as vogais entre, como cavalo-cascalho e longe-volve e alarmado-vassalo. Trazem novidades à Chica da Silva e ao Contratador, sendo que a primeira não gosta do mensageiro Conde, o Contratador tinha que voltar a Portugal, mesmo sendo fiel. Era desejo do Conde, além da cobiça, Fernandes não sabia o que fazer e Chica da Silva estava enfurecida.

Romance XVII ou das lamentações no Tejuco Em sete sílabas poéticas e com a rima feita nos versos pares, altas-madrugadas-mulatas-douradas-falsas-desgraçadas, com a ajuda da construção de “ai que” e “e que” do contraste dos sonhos, dos castigos, dos corpos malhados e das almas tão ruins. Fernandes ia embora e Chica ficava em prantos. O eu lírico amaldiçoa o ouro e seu desejo, além de como corrompe os homens.

Romance XVIII ou dos velhos do Tejuco O eu lírico contempla o futuro que perguntarão de Chica da Silva. Tejuco é o segundo maior afluente do rio Paranaíba que passa em Minas Gerais. O título “velhos do Tejuco” pode ser uma alusão aos Lusíadas do “Velho do Restelo” do Canto IV dos Lusíadas, já que ele amaldiçoa as aventuras por trazerem dor aos lusitanos em troca de fama, deixando a família e a pátria, em uma oposição de antigo x novo, passado x presente, já que as ideias monárquicas eram anti-expansionistas. Dali, a história pode sair, mas nada levarão, nem deixarão “o nome da caveira”.

Romance XIX ou dos maus presságios Fernandes fica e Chica lamenta. Dizem que a história se repete, levam ouro, deixam um rastro de sangue e de lágrimas, podem até mudar os nomes mas é tudo o mesmo. Não tinha santo que protegesse, lenda para se inspirar.

Parte 2

Cenário Dividido em dísticos, parelhas, ou dois versos, descrevendo um avanço temporal para falar de Vila Rica. É mais do mesmo, cidade com igreja, entre montanhas, com gente de Minas, o silêncio, a obediência, uma névoa que se cria desse cenário de exploração.

Fala à antiga Vila Rica O local é repleto de água, natural e de lágrimas. Há uma retenção por parte do eu lírico de contar da história dos homens que pisaram naquelas terras que o sol mal encosta.

Romance XX ou do país da Arcádia A Arcádia vem da referência do período literário de fuga aos ideias de escapismo. Como retratado pelo eu lírico, é tudo por parte de desejo. Ele invoca os nomes de amadas de árcades brasileiros. A natureza é muito importante como retrato de sentimentos.

Romance XXI ou das ideias A região é cercada de ouro, diamantes, negros, mulatos e indígenas. A terra toda revirada procurando-se ouro. As ideias de repartição começam a surgir, no meio de pessoas que nascem, voltam, de quem vê a diferença e vê a injustiça. Há o uso de gradação pelas palavras que seguem uma linha lógica de começo, meio e fim. Há uma disparidade da vida de Portugal, pedindo ouro e vivendo em guerra, do Brasil que só manda ouro e só fica pior, começam a receber ideias dos Estados Unidos de independência. Fazem comparações do casamento da família real com o amor impossível dos árcades.

Romance XXII ou do diamante extraviado Um negro carregava um diamante no meio da noite. Era uma tentativa de vender para comprar a alforria e podia ser morto por isso. De forma curiosa, não é visto, ou é fingido não ser visto.

Romance XXIII ou das exéquias do príncipe O príncipe morre e as relações com França e Inglaterra não melhoram em 1788. As estrofes são divididas em introdução (dois iniciais), desenvolvimento e conclusão (dois finais). Há um foco sonoro no som “o” e na tentativa de deixar uma feição de espanto ou revolta. Apesar de muitos chorarem, muitos fingem a tristeza e outros nem entendem. Ele também poderia ser a esperança de um novo período, uma jovem mentalidade de inovação, mas o Brasil estava fadado a ficar com um pensamento antiquado.

Romance XXIV ou da bandeira da inconfidência Há uma descrição de um clima de desconfiança. As pessoas ficam em janelas, vigiando o que acontece, as reuniões para um levante popular acontecem de noite. Como tudo é ainda muito idealizado, há mais perguntas do que respostas. A bandeira é criada ainda que no imaginário para a Inconfidência Mineira e o mote “Liberdade, ainda que tarde”. “Inconfidência” é um ato de deslealdade, ou seja, ela nunca aconteceu, todos foram julgados por um ato que iria acontecer e foi interceptado. Mesmo que a liberdade não acontecesse ali, todos sabiam que a queriam.

Romance XXV ou do aviso anônimo Há notícias que a guarda real irá para a cidade, anunciando sangue e justiça. Há avisos de esconder jóias e correr para quem mentiu. Há um foco no som de “v” e som de “s”, como um som de vento que prenuncia a tempestade.

Romance XXVI ou da Semana Santa de 1789 O romance começa com o imperativo “Lembrai-vos”. Há uma troca de falas do eu lírico marcadas por parênteses, enquanto a narração é positiva, as parênteses trazem melancolia. A narração é sobre a luta da liberdade e seus custos e sacrifícios.

Romance XXVII ou do animoso Alferes Alferes é outro nome para Tiradentes, que é uma posição militar antiga equivalente ao segundo-tenente ou a de porta-bandeira, que era uma porta de entrada para o oficialato. Ele era bom conhecedor da região, não tinha vindo de família pobre, foi dentista (o que o fez ganhar o apelido) e era militar. Em uma terra de belezas naturais, Tiradentes, que promete segurança e sossego, sente uma sombra que paira, deixando tudo feio e sombrio. Ler página 86

Romance XXVIII ou da denúncia de Joaquim Silvério Há uma narração da carta que Joaquim Silvério denunciaria o complô da Inconfidência Mineira. Como aponta o eu lírico, a escrita é traiçoeira e as intenções de se enriquecer, tal qual na história ficam os heróis mortos e com estátuas em praças e os denunciadores cobrando dinheiro nas cartas.

Romance XXIX ou das velhas piedosas Há um mensageiro, Joaquim Silvério, levando as cartas na Semana Santa. Como nada suspeitam, não vêem a falsidade das ações e desconfiança que precisariam.

Romance XXX ou do riso dos tropeiros Passaram loucos, acusando Portugal e de como iriam trazer liberdade. Incomodava-se com o tanto que a terra era rica e ali ficavam sem direito nenhum. As pessoas riem, apesar da loucura que realmente faz sentido, há uma conformidade de aceitar a situação, até porque era passível de morte ser contra a corte real.

Romance XXXI ou de mais tropeiros O louco reclama de como toda a riqueza vai para Portugal, deixando-os pobres. Tinham inspiração dos Estados Unidos e sua independência. Como é visível, “loucura” e “coragem” são pontos de vista. Este mesmo louco foi preso com algumas cartas ao Visconde e Vice-Rei. O uso do verbo conjugado, mesmo que no mesmo tempo verbal, traz uma diferença do Romance XXX. Apesar de rirem dele, ficavam quietos com o seu destino.

Romance XXXII ou das Pilatas O eu lírico conta de um pobre que vai para o Rio. Se até sonhar era quase um crime, quem diria falar algo disso.

Romance XXXIII ou do cigano que viu chegar o Alferes Um cigano viu Tiradentes vindo. Tinha um semblante de pessoa cansada e perseguida. A vida de Tiradentes foi tal qual, trabalhou muito para não ser recompensado.

Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério O eu lírico compara Joaquim Silvério com Judas, acusando-o de pior e mais ganancioso que Judas, já que a figura bíblica pediu menos e teve remorso, o oposto do delator. Curiosamente, o nome Joaquim remete a um rei orgulhoso e imoral que renegava Deus. Ele desafiou Deus e é um símbolo de esperança de libertação. Outra história é símbolo de luta contra injustiça e opressão.

Romance XXXV ou do suspiroso Alferes “Apanhar” vem do verbo espanhol que significa “arrumar”. Há um espanto da vegetação e dos rios, além das bocas que sussurram de uma inconfidência e de traidores escrevendo.

Romance XXXVI ou das sentinelas Dois soldados passeiam. Em uma imagem, é como se Tiradentes estivesse colocando sementes de revolução em outras pessoas para que brotasse algo. Porém, o Alferes sente a sombra de vários soldados sentinelas que o levarão para julgamento. O traidor não ouve.

Romance XXXVII ou de Maio de 1789 Os revolucionários sonham com a chegada do dia glorioso, enquanto Joaquim Silvério pensava no perdão de suas dívidas. Durante o mês de maio deu-se a perseguição dos inconfidentes e da denúncia de Joaquim Silvério do ato antes da Derrama, ato que aconteceu poucas vezes e que servia como arrecadação do ouro no Brasil para Portugal. Tiradentes havia fugido e o procuravam. Como é uma história real que está com narrativa ficcional, a história perdura até o fim de maio, mas Tiradentes havia feito uma viagem ao Rio e depois voltado a sua cidade, que ficou cercado na própria casa por soldados e se rendeu, achando que a revolução ainda poderia acontecer sem ele no dia 10. Ele foi para o Rio no dia 7, denunciado pela família no dia 8.

Romance XXXVIII ou do embuçado Uma pessoa embuçada, com o rosto escondido por um capuz, aparece em Vila Rica. Ele trouxe mais perguntas do que respostas (com o romance preenchido com 34 perguntas em 36 versos). Ele trazia a notícia de que deveriam fugir, pois seriam presos e enforcados.

Romance XXXIX ou de Francisco Antônio Francisco era um coronel, minerador e fazendeiro que se juntou ao movimento pelos ideais separatistas. A mulher dele que denunciou Joaquim Silvério por ter traído o movimento. O romance o descreve como uma pessoa enorme, gorda, rica e detentora de muitas posses. Ele fala alto como não se devem meter pessoas com poucas convicções em grandes planos. Tinha inspiração na revolução dos Estados Unidos, foi enviado a Moçambique.

Romance XL ou do Alferes Vitoriano Vitoriano foi participante do movimento, foi chicoteado. Vitoriano anda pela calada da madrugada. Ele levava um recado pelo Coronel Francisco Antônio, que já estaria preso ou morto naquela hora. Porém, foi interceptado, chicoteado e nem conseguiu entregar o recado.

Romance XLI ou dos delatores Aqui se passa como foi a delação, como se ouviu de tantas pessoas e que nem mais se sabe de onde saíram as informações. Passaram entre militares, políticos, agentes. O problema de toda a Inconfidência Mineira é que não houve justamente um crime, houve a sentença por lesa-majestade, quando há traição com a fidelidade à família real. O nome de quem se foi fica, mas não é claro se houve nem se quer revolta.

Romance XLII ou do sapateiro Capanema Há uma reclamação de um sapateiro reclamando dos “branquinhos do Reino”. Há alguns romeiros indo a uma taverna. As notícias corriam soltas sobre as prisões, sentenças e julgamentos, falavam que era desde levante, a contrabando e extravio. Como eles ouvem a história, ficam com raiva dos portugueses, foi como se os condenados tivessem levantado mais pessoas para a revolução. E, no fim, a personagem para em uma cadeia.

Romance XLIII ou as conversas indignadas A dinâmica de “Romanceiro da Inconfidência” é interessante pela perspectiva do colono. Em vez de podermos ver a história com olhos de quem colonizou o Brasil, os colonos vêem a injustiça, o ouro sendo levado, a violência sem tamanho por quem queria uma vida melhor. Tiradentes fica sozinho, sem ter o que ou quem o salve.

Romance XLIV ou da testemunha falsa Há pouca esperança para os presos, ainda que acusariam até os próprios pais se isso os salvassem. O problema da história épica é que os inimigos são infinitamente mais fortes e poderosos do que os heróis, além de mais violentos. Tal qual Camões disse que o mundo vive ordenado para quem faz o mal, aqui se fala de como há mais prêmios para o Mal do que para o Bem, como os heróis recebem glórias e compaixão só depois de degolados. O medo toma conta dos presos, a verdade virou conveniência e crença.

Romance XLV ou do Padre Rolim Padre José da Silva e Oliveira Rolim foi sentenciado. Apesar deste ser o resultado, a definição não foi simples, houve muitas trocas de cartas. Tinha vida bizarra e vivia longe, mas a desgraça vem mesmo que você tente se afastar.

Romance XLVI ou do caixeiro Vicente Vicente era um capitão e caixeiro que foi condenado a exílio perpétuo. Apesar da acusação de Joaquim Silvério, Vicente contou o que sabia sobre Tiradentes, temendo por sua vida.

Romance XLVII ou dos sequestros As ordens são enviadas para encontrar os inconfidentes, encontram livros que inspiraram o ato, como de Horácio, Júlio César e Ovídio, como compêndios, dicionários e tratados que influenciaram até a França e os Estados Unidos. Nada fica no mesmo lugar, procurando evidências, provas, destruindo tudo no caminho. A inteligência não tem vez contra brutalidade.

Fala dos pusilânimes Pusilânime é um outro jeito de chamar alguém de corajoso. O romance é uma forma de lembrar a recompensa da liberdade, de poder aproveitar o que existe hoje de bom. Todavia, não é algo que veio de graça ou que não possa deixar de ser seu. O problema é que houve o esquecimento. Cecília Meireles traz de volta uma história que por 200 anos permaneceu intocada para que fosse relembrada e relida. Cecília Meireles é reconhecida por ser uma escritora dos temas que fugiram e foram esquecidos. A sombra e o vento são elementos importantíssimos, pois são usados como metáfora para perda, tristeza e solidão.

Parte 3

Romance XLVIII ou do jogo de cartas Há novamente o uso de sombra e vento para falar da tristeza e da perda. Há um jogo sinestésico dos naipes, principalmente com o símbolo de ouros.

Romance XLIX ou de Cláudio Manuel da Costa Cláudio Manuel da Costa foi um escritor árcade preso na Inconfidência Mineira. Ele se suicidou antes de ser levado para o exílio. Há quem disse que se enforcou, apunhalado ou com veneno. Até consideraram ser outro corpo e não do poeta.

Romance L ou de Inácio Pamplona Inácio Correia Pamplona foi um dos delatores de Tiradentes. O português fugiu ainda quando ouviu a notícia da morte de Cláudio Manuel da Costa. Ninguém explicava para onde foi com essa perda e nem como morreu o poeta árcade.

Romance LI ou das sentenças As sentenças são dadas tanto para inocentes quanto culpados, sem medida ou dó. A justiça pesa mais quando não há como ir contra ou ter armas. Quem tem dinheiro, consegue escapar ou ter as penas reduzidas.

Romance LII ou do carcereiro O eu lírico prevê um fim ruim para a história. Há uma digressão do eu lírico de como os escrivões não contam a história pelo lado da vítima, os infelizes são deixados de lado, no sentido de não terem poder.

Romance LIII ou das palavras aéreas O vento retorna como elemento da mudança constante, além de como a vida foge rapidamente. O tempo é acima de tudo, tal qual não é possível controlá-lo. Há também a importância e o peso das palavras, sejam elas escritas, ouvidas ou pronunciadas.

Romance LIV ou do enxoval interrompido Uma pastora costurava um enxoval. Infelizmente, o jovem a que ela costurava para casar não está mais vivo. Há uma conversa com a natureza e a pastora tal qual os poemas do Trovadorismo de cantigas de amigo.

Romance LV ou de um preso chamado Gonzaga Tomás António Gonzaga é preso, período que também escreve a segunda parte das liras de “Marília de Dirceu”. Ele está só e triste, da terra nem quer o ouro. Um homem inteligente e respeitado agora preso para ir para outra terra.

Romance LVI ou da arrematação dos bens do Alferes Há uma reunião de inventário para avaliar o preço dos bens de Tiradentes. Em uma terra que só se preocupam com dinheiro, tudo que vinha do herói era arrematado para ser qualquer outra coisa, menos a memória de um revolucionário. Enquanto eles possuem praticidade real, o sentimento que eles levam são tristes.

Romance LVII ou dos vãos embargos Minas está sobre o domínio do governador da capitania D. Luís da Cunha Meneses, violento, impulsivo e irracional. E assim como a história mostra, ele não seria culpado ou punido por isso.

Romance LVIII ou da grande madrugada O amanhecer é um símbolo para algo novo ou o fim de um período ruim. A escuridão novamente aparece como uma figura do presente e do futuro de perda. A figura do governador da capitania passa como um lembrete de não trair o rei nem em pensamentos.

Romance LIX ou da reflexão dos justos Há uma lamentação de Tiradentes ter trabalhado tanto e agora estar preso e sozinho. Não tem a quem falar, ficou solitário, apenas sobrando o choro.

Romance LX ou do caminho da forca As pessoas vêem o caminhar de Tiradentes para a forca, todos o conhecem. A história é interessante pois brinca com a fantasia do que poderia ser, o que distancia a história da factualidade, trazendo a condição humana sem negar a realidade histórica. Ninguém intervinha, muito menos tinha quem pudesse ajudar da decisão de Maria I, considerada uma rainha louca.

Romance LXI ou dos domingos do Alferes A mãe de Domingos já sonhava com o nome do filho que seria “Domingos”. Pensava no nome de título e como ele viria bem para a família, tal qual o dia sagrado faz jus.

Romance LXII ou do bêbedo descrente Há uma indagação do eu lírico de ver pessoas sendo enforcadas, ainda que fosse culturalmente uma coisa triste. Mais ainda o fato de tantas comemorações e gente importante da patente militar por ali se era só um criminoso sendo executado.

Romance LXIII ou do silêncio do Alferes Tiradentes tem um silêncio ao seu redor de quando proferia suas afirmações do passado e da injustiça que vivia agora.

Romance LXIV ou de uma pedra crisólita Em meio de escuridão do futuro e do presente, uma pedra que não foi lapidada era segurada. Tiradentes estava morto, a pedra continuava ali. Tal qual a revolução era contra a riqueza gananciosa, a ideia sumiu com a morte dele.

Parte 4

Cenário Há uma descrição do jardim que foi de Gonzaga, homem rico e que pode também ser uma metáfora às liras que escrevia. Só cresciam espinhos naquela terra infértil. As rosas ali definham, um símbolo de desejo que morreu, desejo da inconfidência e também de Dirceu e Marília.

Romance LXV ou dos maldizentes Há um lamento dos poetas árcades, nomeados com pessoas que usam nomes fingidos e que falam por consoantes. Pensavam tanto na Arcádia e de como foi na Inglaterra e na França e agora tudo se foi.

Romance LXVI ou de outros maldizentes Há pessoas perguntando de como ficou Tomás António Gonzaga. Ficou sem muito dinheiro. Falam de como tinha outro nome e como amava outra mulher. Diziam como era tudo tolice. Como que se fosse para fugir da febre poética, era enviado para Moçambique.

Romance LXVII ou da África dos Setecentos Há uma lamentação da África, de quem sai de lá é cativo escravo e quem chega foi por exílio. Ler página 185

Romance LXVIII ou de outro Maio fatal Em outro ano, no mês de maio, semelhante ao que deflagraram a Inconfidência Mineira, era uma despedida. Vila Rica estava pobre, não havia mais ouro. Não há mais desejos da Arcádia de outro momento, tudo volta ao silêncio, as pessoas se estranham.

Romance LXIX ou do exílio de Moçambique Há uma narração sentimental de Gonzaga indo para Moçambique, lamentando não sentir mais o Amor.

Romance LXX ou do lenço do exílio Em uma construção de uma estrofe em quatro versos, há um verso em parênteses para cada estrofe, trazendo um estado de exceção ao eu lírico. Há uma tentativa de bordar-se um lenço como lembrança da terra natal e de tudo o que já foi.

Romance LXXI ou de Juliana de Mascarenhas Juliana de Sousa Mascarenhas foi a mulher com quem Tomás António Gonzaga casou em Moçambique e teve dois filhos. Ainda casado, Tomás António Gonzaga escreveu a terceira parte das liras de Marília de Dirceu a sua amada no Brasil, com quem planejava ir para Moçambique, mas não conseguiu a levar. O eu lírico conversa com Juliana, dizendo que ali ela teria como ser mais bonita que Marília, que conseguiria conquistar o coração do preso exilado, que traria uma nova vida.

Imaginária serenata Há uma lamentação do eu lírico feminino em ser de uma pessoa que está distante do amado, porém não fisicamente, mas na mente dele. Apesar da história poder se encontrar nos documentos históricos, Cecília Meireles teve o trabalho de encontrar nos ecos da história o o ritmo poético em meio aos ritmos sociais da Inconfidência Mineira. Mesmo que ela nunca aconteceu e já foi terminada romances atrás, a história continua para podermos ter acesso ao ritmo emocional e poético das personagens (bem conhecidas e satélites da Inconfidência)

Romance LXXII ou de Maio no Oriente Em outro mês de maio, de novo, Juliana e Gonzaga se casam. As pessoas do casamento dizem que Gonzaga tinha sonhos de Arcádia e imaginava um amor que agora poderia o ter. Apesar de ser um mês que se comemora Virgem Maria, é perceptível que na obra Maio tem um sinal de um mês terrível. Curiosamente, maio é um mês que nunca termina no mesmo dia da semana e começa no mesmo dia da semana que todos os outros meses do ano. Há uma simbologia de um mês de primavera no hemisfério norte, mas é uma tradução mal feita no Brasil, já que é outra estação.

Romance LXXIII ou da inconformada Marília Marília era para ter ido com Tomás António Gonzaga para Moçambique a pedido do poeta, mas ela nunca soube se ele se quer ficou vivo depois da prisão ou do que aconteceu com ele. O campo conversava com Marília, em uma tentativa de locus amenos (o campo/o lugar que acalma), mas ela dizia que ele jamais o deixaria, com a desculpa dele estar alienado (o que ele estava, já que o escapismo era comum como recurso linguístico). Ela até julgava que ele tivesse a esquecido e até mesmo casado, ainda que repetisse que só seria possível se estivesse fora de si.

Romance LXXIV ou da rainha prisioneira Há uma lamentação para Maria I, considerada uma rainha louca no período. Há um paradoxo com seu nome, já que é um nome santo que significa perdão e esperança, dois sentimentos que ela não trazia no seu reinado no Brasil. Por conta do seu estado mental, o filho mais novo, João, nomeado João VI, governou em seu lugar como regente. O seu reinado foi conhecido como a Viradeira, um período de abalo de governança, instabilidade financeira e de desconfiança até das ciências por ser fervorosamente religiosa, o que era totalmente o oposto do tanto de ouro que recebiam do Brasil. Ainda há um perigo iminente que eram os países da França, Inglaterra e Espanha que eram mais fortes no período, sem contar a ascensão de Napoleão. Ler página 204

Fala à Comarca do Rio das Mortes A Comarca do Rio das Mortes era uma antiga parte da capitania de São Paulo e Minas de Ouro (que englobava quase todo o centro-oeste, sudeste e sul do país). Há uma lamentação dessa região que, apesar de ter tanta fauna e flora, estava destruída. Em uma região tão bela com tanta vida, hoje passam fantasmas de outro tempo.

Romance LXXV ou de Dona Bárbara Heliodora Bárbara Heliodora foi poetisa, ativista do movimento e casada com o inconfidente Alvarenga Peixoto, considerada heroína do movimento. Apesar de ter sido linda, tinha caído em demência e perdeu seus bens quando Alvarenga Peixoto foi exilado. Viveu os últimos anos da vida com a irmã e os filhos, lamentando a ida do marido. Era considerada a estrela que soube guiar o marido.

Romance LXXVI ou do ouro fala Ouro Fala também é um lugar no sul de Minas Gerais. Mas há também uma brincadeira, pois há como que uma simbologia do ouro usado em peças, objetos e riqueza como se o ouro denunciasse um passado, como se as regiões abandonadas dos aluviais contassem uma história, que denuncia o passado.

Romance LXXVII ou da música de Maria Ifigênia
Maria Ifigênia é a filha primogênita do casal Bárbara Heliodora e Alvarenga Peixoto. Há um relato e avaliação emocional dos pais – um exilado e a outra louca. É como se seu futuro de sucesso fosse tirado de si por fantasmas (da Inconfidência e da ganância portuguesa) de seu sucesso, agora silenciada.

Romance LXXVIII ou de um tal Alvarenga Alvarenga Peixoto era poeta e doutor, além de amigo de Basílio da Gama e dado como autor da frase “Libertas quae sera tamen” (”Liberdade ainda que tardia” em latim). Apesar de nascer na cidade do Rio, estudou em Portugal e morava em Minas. Tinha ideias iluministas, como devia muito dinheiro, foi exilado à Angola e morreu de uma febre tropical da região.

Romance LXXIX ou da morte de Maria Ifigênia Maria tinha porte e jeitos de princesa. Aparentemente, não há um registro incontestável de quando ela morreu, há de que ela se casou mas não deixou filhos. A história deixa de forma poética a suposta causa da morte, que foi uma viagem a cavalo.

Romance LXXX ou do enterro de Bárbara Heliodora É curioso analisar a pausa lírica usada na obra, pois mesmo que se tenha na imagem alguns poetas e Tiradentes como figuras da Inconfidência, a extensão e prolongamento da história aumentam a dramaticidade de tudo que aconteceu, desde o início da descoberta do ouro, como trataram a situação e o julgamento. Há uma repetição dos verbos no passado, como se a figura do presente não fosse mais do que poeira do que ela foi. É uma dualidade do tempo presente na obra, falar de tempo é de ser e não ser, o que foi e o que é, mudança e repetição, temporário e eterno, ao mesmo tempo.

Parte 5

Retrato de Marília em Antônio Dias Todo o romance está entre parênteses, como se fosse uma fala de fora do eu lírico e mais pessoal. Há uma lamentação de Marília, pseudônimo dado por Gonzaga à Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, a qual conheceu com 15 anos, noivou aos 22 e nunca mais se viram. Ela morreu aos 85 anos. Lamenta-se como ela ficou feia, sem brilho, que apenas na morte havia o brilho do que ela já foi, em um paradoxo de realidade e lembrança.

Cenário Há uma projeção para a Rainha Maria I, agora próxima da morte. Estava em um estado avançado de demência, há uma revisitação de um passado glorioso de uma terra infértil, de inconfidentes que iam para outras terras, de vassalos de um reino que nem conhecia mais.

Romance LXXXI ou dos ilustres assassinos Há uma denúncia dos assassinos dos inconfidentes, apesar deles terem poder e decretar tudo facilmente com penas e tinta, o nome dos assassinados é o que é lembrado ao longo do tempo.

Romance LXXXII ou dos passeios da Rainha Louca A Rainha costumava fazer passeios nos últimos anos da sua vida, é, inclusive daí que surge a expressão “Maria vai com as outras”, denominando as suas companhias para todo lugar que ia, mesmo que fosse com uma louca. Apesar da visão tropical, bela e paradisíaca, ela pensava muito em como seria julgada, no fogo do Inferno, não conseguia lembrar-se do poder e como era poderosa, nem se quer da paz dos dias que anunciavam o tanto que ela sofreria.

Romance LXXXIII ou da Rainha morta Morre a rainha, havia uma triste nas cerimônias e tudo que rondava a notícia. Apesar de tanta tristeza, aquele rosto morto lembrava de tempos e de rostos que jamais foram sepultados no Brasil.

Romance LXXXIV ou dos cavalos da inconfidência Em uma mudança para oito sílabas poéticas, há a fala dos cavalos da inconfidência, animal que simboliza poder, liberdade e nobreza. Há a passagem dele pelos campos, anunciando novos tempos para pessoas, mas tudo no passado. Infelizmente, todos os cavalos ficaram algemados, acorrentados e condenados a crimes. Ninguém sabe mais os nomes deles ou se quer os lembram. Essa história é uma retomada do que foi a Inconfidência Mineira que, durante o início da República do Brasil, tentaram montar esse imaginário coletivo de Tiradentes como um herói, mas que ficou intocado por 200 anos sem nada se falar.

Romance LXXXV ou do testamento da Marília Marília escreve seu testamento, sendo que toda sua glória esteve no passado e a morte vem como um alívio. Há uma reclamação do ouro de Minas, levado dali, que deixou pobre de espírito e bolso Portugal e Brasil.

Fala dos inconfidentes mortos Há uma mudança de contagem de sílabas poéticas para 4 sílabas poéticas (simbologia do mundo material). A covardia reinou neste período da Inconfidência, do que iniciou o movimento, do que veio antes, do que aconteceu durante e do que ficou em terra arrasada. Quem, afinal, foi para o inferno e subiu ao céu, em um conflito que ninguém saiu bem? Ler página 238

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“Quincas Borba” de Machado de Assis – Resumo de Cada Capítulo

Livro de Machado de Assis de 1892, reeditado para ser uma novela. Foi escrito inicialmente como um romance de folhetim entre 1886 e 1891 com mudanças nos capítulos para adaptar-se. Parte da trilogia realista de Machado de Assis.

Tópicos importantes:

  • Excesso de “ismos”: crítica à paixão desenfreada de tentarem explicar como o mundo funciona de forma caricata com Quincas Borba
  • Ter e ser: crítica ao status social
  • Papéis sociais: aproveitamento, amizade de faixada, conexões
  • Instituições decadentes: governo, casamento, exército

Capítulo 1 – Há um retrocesso e uma divagação do narrador da figura de Rubião olhando a enseada de Botafogo. Era um “capitalista”, quem detinha o capital (não no termo de produzir capital, mas que tem dinheiro). Gostou do fato de Piedade não ter casado com Quincas Borba, pois não teria o dinheiro que agora tem, dizendo que “Deus escreve direito por linhas tortas”.

Capítulo 2 – Como quem queria afastar o pensamento do prazer imoral, pensou em outra coisa. Mas o pensamento maldoso que Piedade poderia ter casado, ter filhos com Quincas Borba, entrava em choque com a paz que havia de frente a Rubião, que se deliciava de ter todo aquele capital.

Capítulo 3 – Rubião encarava a bandeja de prata, material que gostava, ainda que seu amigo Palha dissesse que bronze, matéria que não gostava, tinha o seu preço. Comparou-os com Fausto e Mefistófeles (o primeiro, cheio de sabedoria, o segundo, o próprio diabo). O criado que tinha era espanhol, ainda que preferisse não ter línguas estrangeiras na casa e preferia os crioulos de Minas. Palha aconselhou a importância de criados brancos na casa. Rubião perguntou se o Quincas Borba cão estava impaciente, ao passo que o espanhol disse que sim e falou que o soltaria – coisa que não fez. Viu os quadros que Sofia aconselhou a comprar, começou a lembrar dela, de como era bonita e de seus ombros. Julgava não ser “inteiramente feliz”, só que sabia que “não estava longe a felicidade completa”. Parecia jovem para quem tem 41 anos. Era professor, tinha barba, agora até ficava sem barba (por ter tempo e dinheiro). Nesse devaneio, começou a lembrar de quando encontrou Sofia e Palha pela primeira vez, ainda num trem em Minas. O narrador sabe que o leitor tem curiosidade, pois “todos vós que tendes sedes, vinde às águas” e retrocede ao passado, para poder explicar o atual presente e o futuro de tudo que estava por ali, para rever Quincas Borba.

Capítulo 4 – O narrador relembra o leitor sobre Quincas Borba, personagem do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, agora vivendo em Barbacena. O mesmo inventor da filosofia do Humanitismo vivia esperando seu fim, Rubião até tentou casar ele com sua irmã Piedade, a qual morreu de inflamação no pulmão. O ex-professor começou a cuidar do filósofo. A família do filósofo estava morta, sobrou ninguém, muito menos o tio que deu sua herança, quem sobrou foi o Rubião de amigo, que tentou abrir empresas antes e só fechou, sua última empreitada era a escola de meninos que fechou para cuidar do jamais cunhado. Ficou por seis meses como enfermeiro, Quincas considerava Rubião bom. O médico achava que a doença passaria e logo melhoraria. Perguntou como o filósofo se encontrava. Rubião achava que não estava bom, mas que não via mais nada sobre filosofia, pois “morrer é negócio fácil”. O médico disse que “morrer de verdade é outra”.

Capítulo 5 – Surge o cão Quincas Borba, que era “um rival no coração” para Rubião. Era bonito, “meio tamanho, pêlo cor de chumbo, malhado de preto.”. Dormiam juntos, acordavam juntos, iam para toda parte. A origem do cão homônimo tinha dois motivos. Como acreditava no Humanitas que existia em toda a parte, o cão mereceria receber um nome de gente. A outra razão, em vez de dar outro nome como a de um rival político da localidade, era de que ele continuaria vivendo com o cão. Queria viver ou pelo livro ou pelo cão, já que poderia ter quem não o lesse ou não sabia ler. Enquanto falava o nome do cão, ele foi até o dono. O filósofo se emocionou e disse que ele era o único amigo. O ex-professor ficou enciumado, “mas a um doente perdoa-se tudo”. Quis ver-se no espelho. Disse que iria morrer, a pele era reflexo da alma. Rubião ainda tentou falar do jantar para desviar do que ele chamava de “umas filosofias”. O filósofo ficou comovido com o desdém, ao qual Rubião tentava dizer que não era bem assim. Trouxe as chinelas do filósofo e algo para se proteger do frio. Ele recusou. Parou de pé no quarto enquanto pensava e começou a divagar.

Capítulo 6

Para que entendesse a teoria, Quincas Borba disse que contaria a história da morte da avó dele, apesar de tentar parecer estar interessado na história. Em frente à Capela Imperial, na época Real, a avó foi atravessar a rua para sentar numa cadeira no Largo do Paço. Ali perto, um cavalo se assustou e saiu correndo disparado com os outros que se assustaram também. Ainda tentaram salvá-la, mas morreu minutos depois de ser levada para uma botica. Apesar de Rubião achar a história uma desgraça, Quincas disse que não o era, pois a história começava com o dono da sege ter fome, pois tinha almoçado “cedo e pouco” e já era bem tarde. Quem tinha fome era Humanitas, e o mesmo poderia acontecer se fosse um cão, gato, Gonçalves Dias ou Byron no caminho. Rubião entendia mal, pois nem se quer entendia quem era Humanitas e como isso se relacionava com um cocheiro que morria de fome (metafórico) com a morte da avó do filósofo (literal). Quincas hesitou mas perguntou se queria que ele fosse seu discípulo, que entenderia tudo de pouco em pouco. O filósofo acreditava que era o “remate das cousas”, a teoria que a formulou o fazia “o maior homem do mundo”. Humanitas é o princípio, que mora no invisível e no visível, é o universo e todo que o rodeia. Como não havia morte, a avó de Quincas teria retornado ao Humanitas. Tudo era princípio para a vida, mesmo que uma chegue ao fim. Ele dá uma situação de duas tribos indígenas e um campo de batatas, que é o suficiente para uma tribo apenas se alimentar e cruzar a montanha. Uma precisa exterminar a outra, “ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”. Não há, dessa forma, opinião do exterminado ou quem é retirado da vida, pois a substância, segundo Quincas, é tudo a mesma. É como se as pessoas fossem bolhas em uma panela de água fervendo, elas vêm e vão. Tal qual uma peste que devasta um ponto do globo “é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa”. Ler página 4

Capítulo 7 – Quincas sentou ofegante e Rubião foi ajudá-lo com água, o filósofo perdeu o costume de falar. Rubião ficou pensando como que alguém naquele estado tinha aquela mente. Quincas decidiu ir caminhar, mesmo que Rubião não o quisesse. Quis ouvir de Rubião que era seu amigo, o ex-professor respondeu tanto ou mais do que o cão. O filósofo respondeu “bem”.

Capítulo 8 – Quincas acordou querendo ir para o Rio de Janeiro, ficaria por um mês. Rubião ficou pensando na doença e no médico. O filósofo chamou o médico de charlatão e a moléstia de um estado de Humanitas. Queria resolver alguns negócios e tinha um plano sublime, que nem o aprendiz poderia entender. Quincas parecia melhorar, voltou a escrever e até chamou o tabelião para escrever o testamento. Ao sairem, Rubião queria levar Quincas para a viagem, mas o filósofo só confiava no aprendiz, tanto na casa quanto quem cuidar do cachorro. Ficou preocupado com o cão, pediu para Rubião jurar que cuidaria de tudo. O filósofo chorava ao pensar no cão que ficava, tal qual “o derradeiro suor de uma alma obscura, prestes a cair no abismo.”.

Capítulo 9 – Rubião chegou a ficar neurótico que pensariam que a ideia de Quincas Borba viajar era do aprendiz, para “matar mais depressa, e entrar na posse do legado”, mas nem sabia se estava no testamento. O cão ficou triste nos dias seguintes, achando em Rubião alguém para confortar e trocar carícias. O cão mal comia, mas aceitava o leite. O médico ficou assustado que deixaram o filósofo viajar. Rubião ainda tentou falar que o cachorro parecia gente, o médico só pediu para que visse as cartas se alguma chegasse e não fossem reservadas. Começaram os boatos de que Rubião guardava o cachorro e não o oposto, assim como as risadolas. Ainda guardava dentro de si e do alvo das risadas uma pequena lembrança de herança.

Capítulo 10 – Chegou uma carta do Rio de Janeiro. Quincas dizia que retornaria em breve. Proclamava-se Santo Agostinho, que vivia em meio da heresia como quem se comparava para provar sua teoria e chamava Rubião de “ignaro”, um ignorante. Pediu para guardar segredo e falou como era bom para o aprendiz que tinha um grande amigo como ele. Disse que iria o compreender algum dia. Rubião tinha a certeza que o filósofo estava doido. O cérebro dele morria, “morria antes de morrer”. O médico ficou sabendo da carta pelo carteiro, Rubião disse que a carta era bem reservada. Teve remorso de sair andando e não mostrar o estado do filósofo, ficava inseguro pois ele chegaria ali alguns dias, pensou que poderia ser até imprudente. Pensou no testamento e em até receber 5 contos para ficar feliz, que convertido daria em 125 mil reais.

Capítulo 11 – Enquanto lia os jornais que recebia na casa de Quincas, leu a notícia da morte do filósofo. O jornal dizia que suportava “a moléstia como singular filosofia”, que sabia muito e cansou de batalhar com o pessimismo amarelo que chega a todos, era “a moléstia do século”. Segundo o jornal, disse que a dor era uma ilusão, falando que Pangloss, personagem de “Cândido” de Voltaire, era menos tolo do que o autor queria colocar.

Capítulo 12 – Rubião ficou aliviado com a morte de quem sofria tanto. Releu e notou que não falavam de sua demência, mas que apenas delirou na última hora, “efeito da moléstia”. Foi embora tal qual Santo Agostinho, estava “são e morto”, já não padecia. Olhou para o cachorro, tinha pena dele não saber que o dono morreu, mas o levaria à comadre Angélica para cuidar do cão, pois “acabou a obrigação”.

Capítulo 13

A notícia se espalhou rapidamente na cidade de Barbacena da morte de Quincas Borba. Foram até Rubião para saber da informação, além do carteiro levar uma carta para o aprendiz. Era de Brás Cubas, falando de como morreu e da morte do seu amigo. Rubião, após ler a carta, pediu ao escravo que levasse o Quincas Borba cão para a comadre Angélica, “como gostava de bichos, lá ia mais um”, dizendo dos mimos e do nome.

Capítulo 14

Quando abriu o testamento, “Rubião quase caiu para trás”. Era herdeiro universal. Tinha tudo, porém, uma única condição: cuidar do Quincas Borba cão como se o cão fosse o herdeiro, de qualquer mal, tal qual uma pessoa fosse. Pediu também uma sepultura ao cachorro em um dos seus terrenos, além de retirar os ossos do cão, do túmulo já com flores cheirosas, para que fossem depositados “no lugar mais honrado da casa.”. Ler página 8

Capítulo 15 – Rubião pensava na possibilidade da herança somar 300 contos de réis (75 milhões de reais). Ficou imaginando as casas, posses, livros e, naturalmente, o cachorro que constava na cláusula. Achou natural, já que eram o três juntos sempre. Até lembrou duma história de urna, mas tudo havia de se cumprir. Gostava mais do cachorro. Lembrou das empresas que faliu, e que agora estava rico. “Deus não falta a quem promete.”. Ficou pensando se ficava em Barbacena, esfregar na cara das pessoas que foi tão zombado de ser amigo de Quincas para brilhar, ou se iria para o Rio de Janeiro. Decidiu a capital, com moças bonitas, teatro e movimento, até porque poderia “subir muitas e muitas vezes à cidade natal.”.

Capítulo 16

Rubião entrou na casa, chamando pelo cão. Nada dele. Lembrou que o havia mandado à Angélica. Ficou pensando em tudo que é de ruim enquanto corria, desde que o cachorro fugiu até de que alguém sabia da cláusula do cão e pegariam a herança. Começou a pensar que não teria como ser culpado se o cachorro morresse em uma fuga. Começou a prometer a santos, dizia ir em missas. Viu a comadre na frente da porta da casa, rindo do destrambelhado novo rico.

Capítulo 17

Rubião perguntou do cão. A comadre pediu para que não falasse dele, ficou pálido. Até que ela terminou a explicação – o cachorro nem comia, só chorava. Ela achou estranho, pensou que o cão era dado, estava no quintal separado dos outros. Falou que daria até cinco outros, mas aquele não. Prometeu até um filho, disse que “o recado veio torto”. Tinha bicho de tudo quanto é jeito, até pavão, mas Rubião tinha olhos no Quincas Borba. A comadre ficou espantada com tal amizade. Rubião foi embora, prometendo um filho.

Capítulo 18

Voltaram os dois para a casa do filósofo falecido, sentou-se na cadeira, o aprendiz, relembrando da aula do mestre, o cão procurava o dono. Lembrou-se da história da avó morta e das batatas. “Era um vencedor” aos seus olhos, iria “comer as batatas da capital”. Gostava da ideia e considerava-a profunda. O problema é que agora ele fazia parte da teoria e ela o beneficiava. Antes do testamento, ele era quem recebia o ódio ou a compaixão da teoria. Agora, ele era vencedor, entendeu completamente a teoria. “Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.”.

Capítulo 19

Rubião mandou fazerem uma missa para o finado mestre, ainda que soubesse que “ele não era católico”. Não é que criticasse ou falasse bem e/ou mal, mas não falava. Achava mesmo que a religião era o Humanitas. Tinha mais vontade de fazer a missa para não parecer ingrato aos olhos dos vivos do que desejo do morto. Muitos foram para ver o antigo mestre de meninos, outros não foram, para não ver a glória de Rubião.

Capítulo 20

Rubião iria ao Rio de Janeiro, fixando casa.

Capítulo 21

“Na estação de Vassouras, entraram no trem Sofia e o marido, Cristiano de Almeida e Palha.”. Sentaram-se na frente de Rubião, era um casal de 4 ou 5 anos de diferença, ambos perto dos 30. Levavam presentes. Palha percebeu o olhar feliz de Rubião, em um trem com tanta gente carrancuda. Palha tentou puxar conversa, falando que a estrada de ferro cansava muito. Rubião respondeu que “para quem estava acostumado a costa de burro”, a estrada de ferro era realmente mais cansativa e sem graça, mas “era um progresso”. Perguntaram o que faziam, falaram de gado, escravatura e política. Queria vender os escravos, mas Rubião queria manter um pajem. Palha se desinteressou e falaram da Guerra do Paraguai, mais política, sobre as câmaras, Rubião conversava de forma geral bem. Palha perguntou se iria para a Corte ou Barbacena, o aprendiz disse que queria aproveitar a vida, quem sabe ir para a Europa. Palha ficou interessado. Começaram a falar da Europa e da Corte, de como eram ambas bonitas, mas como a segunda precisava de tempo para ficar mais. Rubião perguntou à Sofia se já foi à Europa, esqueceram de se apresentar uns aos outros. Rubião ficou feliz com o acolhimento tão repentino, queria que eles fossem com ele para a Europa. Palha tentou falar que não tinha planos, mas quem sabe a “Divina Providência é que manda o melhor”. Rubião mal se segurava para poder dizer que estava rico, até que murmurou. Palha quis saber de quem e quanto. Rubião respondeu que era de um bom amigo, que chegava perto dos 300 contos. Palha elogiou o amigo, pois desses há poucos, e recomendou que não contasse a história desse jeito para estranhos. “Discrição e caras serviçais nem sempre andam juntas.”.

Capítulo 22

Quando chegaram à estação da Corte, despediram-se de forma familiar. Palha ofereceu casa mas o ex-professor ficaria em um hotel, prometendo visitá-lo.

Capítulo 23

Apesar de Rubião estar ansioso para ver Palha na casa de Santa Teresa, foi o amigo da estrada de ferro que foi procurar o aprendiz de filósofo. Queria saber se estava bem por ali ou preferia a casa dele. Recusou a casa, “mas aceitou o advogado”. Era parente de palha, não cobrava caro pois era moço. O cão queria ir para os lugares, mas tudo se ajeitou. Palha convidou-o para jantar, dizendo que o esperaria.

Capítulo 24

Rubião era muito ruim em falar com mulheres. Porém era novo homem, “forte e implacável”, foi para lá e ficou feliz com a decisão, pois Sofia estava muito mais bonita. Vestia-se bem, falava com posse, “Rubião desceu meio tonto.”.

Capítulo 25

“Jantou lá muitas vezes.”. Enquanto se passava o inventário, Rubião tinha um fogo que não conseguia apagar, pois havia um boato que a demência de Quincas Borba não validaria o documento. Porém, a denúncia foi destruída e o inventário concluído. Para comemorar, Palha fez uma festa, que, inclusive, foram advogado, procurador e escrivão, que conveniente. Sofia tinha “os mais belhos olhos do mundo” neste jantar.

Capítulo 26

Rubião ficou pensando nos olhos dela enquanto descia o morro. Começaram as mudanças de Botafogo e Palha ajudou muito Rubião, indo para lojas e leilões. Iam os três, até que Sofia dizia que “só uma senhora escolhe bem”. Rubião agradecia e aceitava com muito bom gosto. Tentava demorar o máximo possível e comprar o que não precisava para ter a mulher por perto.

Capítulo 27

Todas essas ideias passavam na cabeça de Rubião, que esqueceu de ir soltar Quincas Borba cão. Foi até ele.

Capítulo 28

Rubião pensava no pecado que era desejar Sofia, ainda mais que era casada tão bem com Palha. Pensou como era bonita e que parecia o querer tanto. Quincas Borba cão ficou feliz de vê-lo, latia e Rubião tentava acalmá-lo. Rubião lhe dá um tabefe, o cão que lambia a mão antes agora tinha medo. Rubião estalou com as mãos ele veio com o mesmo entusiasmo. Quincas fica feliz com o passeio, esquece rapidamente do tabefe e gosta muito de estar ali. “Gosta de ser amado. Contenta-se de crer que o é.”. A maioria dos funcionários, menos o mordomo espanhol, gostam do cão e não ligam dele andando pela casa. Mas quando vem visitas, o mordomo retira o cão com muita delicadeza, ao passo de quando não há mais ninguém vendo, o joga longe pela perna ou orelha que o segura. Quincas Borba cão se recolhe e deita num canto, misturando a imagem de boas lembranças entre o antigo dono filósofo e do atual aprendiz. Quando acorda, esquece de todo o mal que existe ou possa existir. O narrador pede para que o leitor se contente em ter dó. Ler página 13

Capítulo 29

Dois amigos foram almoçar com Rubião no domingo. Carlos Maria, que já se aproveitava dos bens da mãe e era jovem, Freitas já tinha seus 40 anos e não tinha o que pegar da mãe mais. Freitas elogiava tudo da casa e saia da casa com o bolso cheio de charuto. Era uma figura que Rubião não tinha como ter por bem socialmente falando, mas logo percebeu que era vivo, tal qual começou a elogiar e contar mentiras com tanta crença que até assustou o jardineiro que cuidava das rosas que ele comentava. Foram beber licor, que Freitas aproveitou com muito bom gosto. Quis saber de onde vinha, Rubião falou que era de um armazém e logo comprou 3 dúzias de caixa. Freitas ia jantar e almoçar lá muitas vezes, “mais vezes ainda do que quer ou pode”.

Capítulo 30

Rubião perguntou a Freitas se o acompanharia à Europa. Ele respondeu que não, era “amigo livre”, falando que discordariam do itinerário. Rubião lamentou, pois o considerava alegre, ao passo que disse que carregava uma “máscara rinhosa” e era triste, “arquiteto de ruínas”, queria ir ver os monumentos de ruínas de antigos impérios e civilizações. Rubião dava risada.

Capítulo 31

O narrador trouxe o avesso de Freitas, Carlos Maria. Até Freitas que não gosta dele, recebe-o com muita felicidade íntima. Rubião gostava de Carlos Maria mais ainda do que gostava de Freitas, esperou ele a tarde inteira “e esperá-lo-ia até amanhã.”. O jovem olhava de todos por cima, não tinha consideração para ninguém, menos ainda aos dois que ali estavam. Parecia que, ali, fazia dois favores: o de almoçar; e o de não chamar os dois de “pascácio”, de idiotas. Comeram bem. Freitas continuava soltando anedotas. Carlos Maria ouvia tudo com seriedade parecendo que era para humilhar, tanto que Rubião começou a ficar sério, mesmo que achasse graça. No fim, Freitas pediu aventuras amorosas dos outros. Carlos Maria dava risada finalmente. Freitas ainda tentava se explicar mas Carlos Maria atropelou a fala para perguntar se Rubião gostava da casa do Botafogo. Gostava da vista e a praia era linda, Carlos maria concordava, mas era que ficava mal de vez em quando com o cheiro. Freitas começou a elogiar enormemente a praia, falou tanto que queria até mesmo que Carlos Maria prestasse atenção no pedaço de fruta que ficou no bigode dele. Rubião se recompunha mentalmente do almoço e do que sobrou. Viu Carlos Maria aproveitando o charuto que mandou oferecer. Dali, entrou o criado com uma cesta coberto de um lenço de cambraia, um tecido que amassa rápido mas é muito bonito para decorações, e uma carta.

Capítulo 32

Rubião ficou sabendo que quem mandou era Dona Sofia. Era a primeira vez que via a letra dela e ficou comovido. Freitas viu os morangos enquanto descobria a cesta. A carta dizia que era para aproveitar no almoço e que deveria ir jantar, sem falta e por ordem de Cristiano. Freitas ria da situação e dizia que era tudo normal para quem ama. Carlos Maria disse que o amor é lei universal, perdoa-se até e não se deixa de ser exceção para quem é senhora casada. Ficaram tentando entender se ela era casada, viúva, solteira. Rubião estava num misto de tristeza, empolgação, felicidade e tontura. Pensava que tudo aquilo era pecaminoso, as frutas, o arranjo. Carlos Maria viu o relógio e ia embora. Propôs que fosse algo a ser feito todo domingo, Freitas concordou. Pegou seis charutos e disse que era uma delícia por dia. Rubião pediu para levar mais, mas ele iria “buscá-los depois.”. Quincas Borba cão viu todos ali com o barulho do portão, Freitas ficou feliz e o recepcionou, Carlos Maria tinha nojo, Rubião deu um pontapé no cachorro, que se afastou chorando e gritando. Os dois visitantes ainda tentaram ver onde um e o outro iam, mas foram para caminhos opostos.

Capítulo 33

Rubião leu mais uma vez o bilhete de Sofia, era um mistério sem fim a carta. Não tinha nome de casada ou de família ali ou se quer o casal. Pensava que era uma metáfora a frase de “verdadeira amiga”. Beijou o papel. Na verdade, “o nome”.

Capítulo 34

Sofia ficou irritada que Rubião chegou tarde – eram 4 e meia da tarde. Rubião tentou se defender falando que ficou trabalhando e que ainda era cedo, que ela respondeu que “sempre é tarde para os amigos”. Mal se recuperou e viu que existiam 4 senhoras, olhando para ele, que esperavam “um capitalista Rubião”, detentor de dinheiro. Três eram casadas, uma “mais que solteira”. Tinha 39 anos, era filha do Major Siqueira. Ela começou a contar de como soube da história da amizade de Palha, Sofia e Rubião pelo seu pai. Disse que tinha um acaso na família. Mas Rubião estava em outro lugar. D. Tonica, filha do Major, falava com um homem com a alma em um beco sem saída. O Major até apareceu e repetiu a história, conversando com as moças, depois saiu para a rua.

Capítulo 35

As senhoras eram bonitas, até mesmo a mais velha poderia ter sido mais bonita ainda se fosse mais nova, “mas Sofia primava entre todas elas.”. Não era tudo o que Rubião “sentia, mas era muito.”. Tinha aquela coisa de escultura que o artista vai polindo aos anos e parecia que daria os últimos toque em Sofia aos 30 anos. Os olhos eram mais negros e se impunham mais do que no trem, a boca era “mais fresca.”, tinha apenas “excesso de sobrancelhas”, coisa que Rubião achava destoar do rosto e a dona não suportava. Vestia-se bem, usava até os brincos de pérolas que Rubião deu na Páscoa. Ela era filha de um funcionário público e casou aos vinte anos com Palha, que na época tinha 25 e cheirava bem onde o dinheiro ia crescer mais. Gastava muito mal o dinheiro consigo, ia para lugares para ser visto, não para se divertir. Gostava de mostrar os olhos da parceiras e os seios, decotando-os “até onde não podia”. Era um rei Candaules, que morreu porque queria mostrar a todos o quanto sua mulher era bonita. Sofia não gostava no início, mas foi pegando gosto.

Capítulo 36

Rubião a achava tão linda que poderia “fazer um escândalo”. Todos prestavam atenção numa mulher que cantava, mas Sofia e Rubião trocavam olhares. Ninguém da sala percebia a troca, exceto Dona Tonica.

Capítulo 37

Dona Tonica sabia que Rubião gostava de Sofia, não tinha olhos para outra coisa se não ela. Tinha até uma fagulha de esperança no capitalista, que mais queria um marido do que um homem rico. Sofia olhava menos para Rubião, pois eram “cautelas naturais da situação.”. Redobrou as tentativas, do dote de sedução e do que tinha na loteria, que “vem um bilhete que resgata os perdidos.”. Quanto mais pensava na possibilidade, mais tinha certeza que era amor o que existia ali. Tentava conversar com ele, dizia coisas bonitas, mas quando Sofia deixava a sala e não voltava, ele respondia maquinalmente. Tentou até perguntar de Barbacena, mas ele nem respondeu.

Capítulo 38

Rubião desejava Sofia e achava que parecia convidar ele para ir para outro lugar.

Capítulo 39

“A lua era magnífica”. Sofia e Rubião foram passear, a senhora até convidou Dona Tonica, que disse que ia depois – mas não foi. Passearam em silêncio, podiam ouvir vozes por ali, mas não era possível ouví-los. Rubião lembrou de uma comparação que leu em um livro antigo, que falava algo de estrelas da terra com as estrelas dos olhos do céu, “tudo isso baixinho e trêmulo.”. Sofia ficou assustada, estava pesando o corpo no braço de Rubião e se endireitou. Ficou em silêncio sem saber o que fazer com o homem que era tão tímido. Rubião continuava, falando que as estrelas eram belas e só podiam ser vistas de longe sem poder ver detalhes, mas que Sofia estava ali perto e eram mais bonitos. “Rubião parecia totalmente outro.”. Só que se repetia, não tinha outras ideias. Sofia tentava achar como pará-lo sem zangar. Não podia ignorar as finezas do homem, mas deixá-lo em casa era demais.

Capítulo 40

As estrelas riam de tal situação. Até compararam a história de Diana que se encontrava com Endimião, mas que problema há se encontrar no céu e não viver na terra? As estrelas eram as jovens moças que conversam de tudo e riem-se de tudo. Mas a lua era solitária. Sofia se enganou com as asas de Rubião, que mostrou na testa ser um arcanjo caído. Queria “alma e o corpo”.

Capítulo 41

Sofia sugeriu ir para dentro, tentou retirar o braço dele, mas Rubião o reteve com força, dizendo que ali estava melhor ou até mesmo tentando entender se ele o aborrecia. Desconversou falando que precisava ir para a sala de visitas, pois podiam dar pelo sumiço dos dois nos últimos dez minutos. Rubião pediu duas coisas: que não esquecesse daqueles 10 minutos; e que olhasse para o Cruzeiro às 10, pois o pensamento de ambos se cruzariam. “O convite era poético, mas só o convite.”. Rubião olhava com fogo para ela e não a soltava. Sofia ia pedindo com jeito, depois com desespero, depois com ânsia. Começou a machucá-la e Rubião começou a voltar para si. Quis beijar a mão dela mas ouviu uma voz.

Capítulo 42

O Major Siqueira apareceu, contemplando a lua, boa para namorados. Sofia se recompôs rápido, falando que Rubião dizia como as noites de Barbacena eram mais bonitas do que do Rio, até mesmo de uma história de um Padre Mendes, que Rubião, ainda atordoado, mal acompanhava a linha de raciocínio da amada. O Major, mesmo tendo visto Rubião indo para a mão de Sofia, e agora vendo-a tão calma, achou que tinha visto mal o cenário. Sofia se despediu e perguntou do voltarete dos rapazes. Major disse que tinha acabado e foi ali procurar por Rubião, o interesse do grupo. Rubião até tentou continuar a anedota do Padre Mendes, mas ele era ruim em criar história e não conhecia-o. Para piorar, o Major o conhecia. O Major começou a falar muito do padre que tinha bom olho para mulheres, ainda mais quando falava de Sofia. Perguntou a Rubião o que achava dela. Ele a considerava bonita. Rubião começou a desconfiar que o Major sabia do que tinha acontecido, ou até adivinhado. Ele falou que era possível até se mudasse, o que deixou curioso o pensamento do Major, pois havia acabado de se mudar. Falou como era difícil se desapegar de onde se viveu a vida inteira. Major até falou que se o problema fosse casório pela cidade, era só esperar como alguém espera um resfriado com a janela aberta. Como voltaram a um assunto em comum, Rubião até melhorou na fala e começaram a discursar sobre tantos outros assuntos. Dona Tonica apareceu procurando o pai para irem embora. Rubião até tentou agradá-lo convidando para a casa, Major disse que estava tentando convencer a pessoa errada, que quem mandava nele era Dona Tonica.

Capítulo 43

Dona Tonica ia descendo a ladeira com seu pai, remoendo os olhares de Sofia para Rubião e vice-versa. O Major foi dormir logo, mas ela ficou acordada com o fogo do ódio. A figura de Sofia se tornou em um monstro hediondo, queria vingança, até tentaria contar sobre tudo que viu. Pensava em tantos impropérios que gastou uns bons 20 minutos pensando, mas a alma cansou. A realidade bateu na vista e olhava ao seu redor, quarto de solteira que esperava um noivo, tal qual a história da virgem de Israel que esperava a concepção divina. Mas há uma diferença: Dona Tonica espera toda noite. Lembrou de todas as amigas e conhecidas, todas estavam casadas. Teve até esperanças quando uma de 30 anos se casou com um oficial da marinha. Mas os 40 anos chegavam à Tonica. Foi para a cama chorando.

Capítulo 44

O narrador aponta que a raiva e a dor foram de iguais intensidades. “Os efeitos é que foram diversos.”. A imaginação que dava tudo para se vingar da mulher que não merecia marido ou amante, tal qual passou um fio de Calígula, um imperador louco.

Capítulo 45

Se Dona Tonica chorava, Rubião ria, era “a lei do mundo”. Dizia às estrelas de sua confissão enquanto descia o morro. Via em todas as janelas e sacadas “caras bonitas e grossas sobrancelhas”. Fica num misto de calafrio temeroso pelo que fez e como agiu. Achou bem feito que se despedissem logo, tinha que esperar. Considerava-se maluco. Porém, defendia-se. Pensou que Sofia, em todas as suas atitudes, jeitos e ações o convidavam a ter chegado a tal ponto. Ficou pensando que deveria resistir, como continuou resistindo, mesmo com o dinheiro emprestado, pois devia favores e estimava o marido dela. Culpava e suspirava Sofia. Deparou-se na Praça da Constituição. Queria ir ao teatro, mas era tarde, foi para o Largo de São Francisco e pegou um charrete.

Capítulo 46

Um mendigo acordou com o alvoroço e ficou encarando o céu de barriga para o ar. Ficaram se encarando, tal jogo de siso, o mendigo falando que não era para o céu cair nele, tão menos do mendigo de escalar até si.

Capítulo 47

Rubião sentiu inveja do mendigo, que mal pensava e logo estaria dormindo. Os cocheiros tentavam convencer a escolher, mas Rubião foi para o mais próximo. Lembrou-se de um episódio ainda jovem. Morava na casa de um amigo por três dias que viraram quatro semanas. Lembrou-se de uma comoção nas ruas, um homem lia a sentença de dois negros. Era raro ver um enforcado, mas “não queria ver a execução.”. Mas como uma das pernas quisesse fugir e a outra assistir, ficou ali vendo. Tal qual tinha olhos para escolher a carruagem, todos tinham ali para o executado. Subiu um não sei o quê nas entranhas de Rubião e ele gritou, não viu mais nada.

Capítulo 48

O cocheiro fala como o cavalo é bom, dá uma leve chicotada no cavalo. Rubião se zangou por ter sido retirado de recordações antigas. O cocheiro ainda elogiou a amizade entre homens e cavalos, que trazem histórias inacreditáveis, tal qual os cachorros. Rubião lembrou do Quincas Borba cão, que deveria estar esperando ele em casa ansiosamente. Ele cumpria à risca o testamento, ainda que tivesse o desejo de vê-lo fugir, tinha mais medo de perder os bens. Não havia nada no testamento para fazê-lo perder os bens. Ficou num limbo de se sentir ingrato com o cão e das opiniões alheias do que fazer com o testamento e sua cláusula. Lembrou do outro Quincas Borba, até mesmo da transmigração de almas para corpos brutos, como poderia ter acontecido com o filósofo ao cão. Quando o cocheiro lembrou-o de falar onde era a casa, Rubião pediu para parar.

Capítulo 49

“O cão ladrou de dentro” quando Rubião chegou, recebendo-o com alegria. Rubião ficou imaginando que estava sendo observado pelo testador enquanto acariciava o cão. Viu nos olhos do cão o antigo filósofo. “Novo arrepio”. Envolto nesses pensamentos de que estava sendo observado para cuidar bem do cão e do pedido do filósofo, o mordomo espanhol pediu para levar o cão para baixo. Rubião pediu para que não desse pancadas. Mas só de sair dali, o cão já chorava, era doloroso o suficiente.

Capítulo 50

O narrador alerta que o dia ainda não acabou, pois havia ainda a perspectiva de Palha e Sofia. Alertando as leitoras, talvez tivesse uma história mais interessante ali do que do “caso do enforcado”. Palha falava mal dos convidados que foram embora. Sofia ria dos comentários. Até que ela tocou no assunto do melhor da noite, uma declaração de amor. Palha tinha ficado sério com a tentativa dele acertar o que era, ficou pálido ao ouvir. Não que não gostasse de expor tudo que ela era. Sofia “gostou da má impressão causada”. Ela soltou o cabelo e disse que era Rubião. Falou de como já recebeu outros olhares, mas nunca um comentário e ainda mais de como o fez no jardim. Mas Palha confiava nele, até mesmo de ter escrito o bilhete que o próprio Rubião ficou apaixonado e Sofia só o copiou. Só que nunca passou na cabeça que Rubião teria se apaixonado, “menos ainda a Sofia”. Ele sabia que Rubião ficava olhando para ela. Sofia não era inocente, mas eram “concessões de moça bonita”. Mas enquanto ficassem em olhares. Até chamou de tolice o que disse, podia ser coisa de poeta, moça de quinze anos ou tolos, sendo que os dois primeiros ele não era. Mas Sofia preocupava-se com a retenção das mãos. “Palha teve um calafrio.”. Ele poderia ir até Rubião e espancá-lo, mas também perguntou que ideia foi essa de ir ver a lua. Ela explicou que foi convidar D. Tonica, mas que ela não foi. Palha a culpou por ter dado chance. Sofia queria revidar, mas ainda disse que o próprio Palha falou para cuidar dos convidados com cuidado e atenção, mas que não sabia o que poderia acontecer no jardim antes. Palha recomendou evitar o jardim e a lua. Sofia não sabia como receber Rubião novamente. Palha ficou matutando, queria aprovar mas desaprovar Sofia, disse que estavam muito afetados pelo vinho. Ele ainda tentou perguntar da viúva Mendes que poderia ter chamado a atenção de Rubião. Tentou ver se poderia arranjar e se a esposa poderia suportar mais um tempo, pois ele devia muito mais do que apenas os presentes que Rubião comprava. Sofia ficou incomodada, apenas pediu que cortassem as relações. Palha tentava repetir o pedido para suportar, até que a pegou pela cintura e confessou que devia muito dinheiro. Sofia tapou a boca dele e olhou para o corredor, procurando quem pudesse ter ouvido. Aceitou continuar, que seria mais fria e que o marido, ao pedido dela, continuasse amigável. Ler página 24

Capítulo 51

Palha lia o jornal, Sofia chega. Enquanto esperava o almoço e após ler o jornal, Sofia ouvia o caso de dois comerciantes fazendo um saque e toda a tecnicidade, enquanto estava aflita. Sofia já pensava em deixar a cidade, tinha medo do Major Siqueira passar os boatos do que tinha visto. Pensava ser a culpada pela situação ter acontecido.

Capítulo 52

Nisso que Sofia olhava para a rua, um homem a cortejou, ela retribuiu. Nem sabia quem era. Lembrou, pois o rosto era familiar, de uma antiga festa que dançou com ele. Ela lembrou da festa e como era vista por todos, comentado por Carlos Maria no almoço de Rubião de outro dia. Sofia tentava dormir depois de pensar, não conseguia. Viu um carteiro andando na rua, que tropeçou e caiu. “Não pôde conter o riso.”.

Capítulo 53

O narrador pede perdão pelo riso. Pediu perdão, pois não é falta de compostura. Fez um paralelo com Homero e os deuses do Olimpo que riam de Vulcano, deus greco romano casado com Afrodite e que é traído constantemente. Pediu que para rir, bastava uma sombra de lembrança.

Capítulo 54

“Quinze dias depois”, Rubão recebe Palha em sua casa, não o tinha visto desde então. Palha se desculpou por não ter visto Doutor Camacho, mas Rubião pediu para que não se desculpasse. Pediu para Palha ficar, até para que pudessem ver a lua na enseada. Palha estremeceu. O silêncio era constante, mas Rubião e Palha não davam por ele. Doutor Camacho ficou aborrecido e foi ver a lua. Rubião queria ir, mas ficou. Palha queria esganá-lo, mas não o fez. Rubião soltou que ia se mudar.

Capítulo 55

Palha deixou de ter raiva de Rubião para ter pena. Rubião tentava praticar uma punição em si mesmo. Palha começou a pensar que poderia até ser bom para que o romance fosse embora.

Capítulo 56

Rubião ficou mal depois do episódio. Tinha vergonha. O narrador chama a atenção para o capítulo 10, que os remorsos do homem eram fáceis, mas de pouca duração, só que faltou a explicação de como eles poderiam ser curtos ou longos. O que tem de diferente em não ter mostrado a carta para receber a herança, ou qualquer coisa que o fosse na época, e da noite no jardim é que a moral é a mesma, mas os pecados eram diferentes. Queria passar dois meses em Barbacena, mas não sabia como dizer. Camacho discordou, parecia dominar Rubião.

Capítulo 57

“Camacho era homem político.”. Até mesmo enquanto estudava, já tinha ideias políticas. Como o jornal que tinha não tinha visões partidárias, as ideias eram inúmeras. O uso de adjetivos também o era para reclamar e criticar de tudo e todos. “Queria ser ministro, e trabalhou por obtê-lo.”. Falava muito, falava de várias formas a entender a visão geral. Amava política, entrava num ramo que os sonhos energéticos “evaporam com o tempo”. Elogiava quem tinha poder, procurando alguém que lhe desse uma pasta. Não dedicou a vida para mais nada, apenas a política. Comia bem.

Capítulo 58

Em um dia que para a casa de um conselheiro, viu Rubião. Viram um discurso de prestação de contas. Rubião ia que concordando com a cabeça, Camacho ouvia com atenção. Camacho convidou-o para almoçar falando que “os conservadores não se demoram no poder”. Discutiam sobre o jornal e Rubião gostava do amor pela política de Camacho. Camacho queria um lugar na câmara e Rubião via a jornada. O doutor tentou achar Rubião no dia seguinte, não o fez, mas agora que o achou, “vinha o Palha interrompê-los.”.

Capítulo 59

Rubião teimou que precisava ir a Minas. Perguntaram se estava aborrecido com a corte. “Ao contrário.”. Tinha saudades de lá, a terra natal tinha ambições que ele não alcançou, ainda mais quando saiu de lá homem. Estava “arrependido do gozo, e mal acomodado na própria riqueza.”. Camacho e Palha se entreolharam, entenderam o que cada um queria e o objetivo em comum dos dois – Rubião não podia sair dali. Palha ofereceu uma proposta de viagem de poucos dias, iria ele, Sofia e Rubião. Ele ficou empolgado, mas falou das eleições. Camacho adicionou que era coisa pouca e a viagem poderia ser de dia, que depois delas, poderia aproveitar mais Barbacena. A lua brilhava na enseada e Rubião até pensou em Sofia. Camacho se despediu. Palha quis falar que era loucura ir para Barbacena sem liquidar as dívidas. Rubião se fez de desentendido e perguntou até se Palha precisava de dinheiro. Palha pediu para que avisasse quando fosse, Rubião prometeu visitá-lo antes.

Capítulo 60

Rubião ficou com as ideias na cabeça dos dois de ir para Minas. No dia seguinte, recebeu um jornal que nunca viu, a Atalaia, jornal do Doutor Camacho, que descobriu logo depois. Porém, no caminho, viu uma criança que atravessava a rua e quase seria atropelada por um carro de cavalos. A criança tinha apenas um arranhão da queda, todos foram ver o acontecido. Rubião perdeu o chapéu que foi devolvido por um garoto, que queria fazer parte da glória e ganhou até uns cobres. Rubião machucou a palma da mão, a qual foi socorrida pela mãe do menino.

Capítulo 61

Camacho ficou interessadíssimo na história, perguntando detalhes que Rubião nem se quer tinha ideia. Rubião queria assinar, mas o que Camacho precisava era de assunto, corpo, o que ter para publicar. Tinha quase o capital que precisava, Rubião insistiu de investir os cinco contos, 1 milhão e 250 mil.

Capítulo 62

“Rubião despediu-se.”. Enquanto saia, uma baronesa argentina foi ver Camacho. Rubião descia mais devagar para ir ouvindo o que ela demandava, fingindo que não se enrolava. Rubião, em torno de tanto luxo e tanta coisa, ainda sentia-se o professor de Barbacena.

Capítulo 63

Rubião viu Sofia com uma senhora idosa e uma moça, falaram pouco e ele até olhou para trás, sem que olhassem para trás também. Ficou refletindo se ia de noite na casa, apostou que se um carro viesse da esquerda, não iria, se fosse da direita, iria. Acabou que veio da esquerda, mas teimou porque era um tílburi, carro de cavalo com apenas um assento traseiro, e não um carro. Apareceu uma caleça virando a direita, um carro com dois acentos. Decidiu ir para lá.

Capítulo 64

Duas senhoras passeavam com Sofia, uma era “tia da roça” e “autora da carta que Sofia recebeu no jardim das mãos do carteiro que logo depois deu uma queda.”, Dona Maria Augusta. Era viúva, tinha grana e dívidas. A filha era Maria Benedita, uma menina não tão bonita, mas não era feia, não gostava do nome por ser de velha. Era um nome da avó dela e afilhada do vice-rei. Sofia, contando a história para Rubião, dizia que o nome era bonito pela pessoa o ser. Rubião mal prestava atenção na história pois acariciava um cãozinho presente dele para Sofia, até ser apertado e responder que sim. Maria Benedita nasceu na roça e de lá gostava de ficar, ia para a cidade mas ficava pouco e já queria voltar. Sofia tentava puxar ela para a cidade, até para treinar piano, que tinha talento, mas tinha mais saudade da roça. Maria Augusta tentava incentivar a filha a aprender francês, outra coisa que se ria e perguntava a necessidade, já que era feliz sem e nunca fez diferença. Maria Augusta queria de todas as formas que a filha casasse, Maria Benedita ficava preocupada com a mãe que fazia drama porque morreria logo, não queria o desastre que aconteceu consigo para a filha.

Capítulo 65

“Curta foi a visita de Rubião.”. Até tentou esperar um pedido para ficar mais por Sofia mas nada veio. Ela trocava olhares, mas nada como da noite que fez a proposta de olhar para a lua. Ela agia naturalmente, ele titubeava. Desejou bem Palha que poderia aparecer logo, mas quem veio antes foi Carlos Maria. Pensou que era pela família da roça. Sofia lamentou que Palha não poderia ver Rubião. Carlos Maria acusou Palha de ter mau gosto, enquanto olhava o retrato de Sofia, já que ela era “muito mais bela, infinitamente mais bela que a pintura.”. Pediu atenção das senhoras para ver.

Capítulo 66

Rubião ficou surpreso em como Carlos Maria falava desta forma tão naturalmente. Para bom malandro, basta falar o que os outros desejam e gostariam de ouvir.

Capítulo 67

Rubião abriu o jornal Atalaia e leu o artigo editorial e outras notícias, viu o seu nome. Era o caso da Rua da Ajuda, que salvou o menino. Tentava ignorar, não gostava da atenção mas não detestava. Quis entender como que algo tão pequeno ganhou tantas proporções com tantos adjetivos. Amaldiçoou-se por ser linguarudo e não ficar quieto. Era como se fosse o oposto da história da avó de Quincas Borba, que morreu sem cerimônias ou Rubião que a salvasse. A história realmente era grandiosa em outros olhos, poderia ter se machucado mais ou até morrido. Eram adicionados alguns detalhes, que não achava ruim. Dizia que era nada, outros achavam que era até demais. “Contava a cena a alguns curiosos”. Teve até quem teve inveja, mesmo sem conhecer o aprendiz de filósofo. Foi falar para Camacho tomar cuidado, sem antes comprar mais edições para enviar à Barbacena.

Capítulo 68

“Maria Benedita consentiu finalmente em aprender francês e piano.”. Ela queria voltar logo para a roça, mas resistia. Carlos Maria até um dia pediu para que ela tocasse, a menina ficou vermelha. A mãe tentava puxar a filha para a vida da roça, ela foi criada assim, mas Palha finalmente convenceu a menina para que fosse para a cidade, para que pudesse ter uma chance para viver na cidade, onde havia união. Convenceu Maria Augusta que visitasse a filha de vez em quando e que ela também iria ser visitada pela filha e Sofia. Palha até sugeriu vender os negócios dela para que mudasse para a cidade, mas ela recusou. O começo foi difícil para se acostumar Maria Benedita, mas Sofia foi usando as distrações da cidade para acostumá-la. Os professores ensinavam e achavam gracioso a prima da roça que aprendia depois de tanto tempo. Sofia pedia para que ela descansasse entre estudos. Queria “recobrar o tempo perdido”. Aprendia novas palavras, ia para passeios que eram os descansos que Sofia inventava. Maria Benedita começava a brilhar no meio de tantos elogios que Sofia só podia ficar ouvindo. Sofia até tentou ensinar Maria Benedita a dançar, mas ela queria manter esse “bocadinho de casca da roça”. Sofia dançava bem, Palha só dançava pouco, apesar de Maria Benedita ter contado muito mais que poucos minutos.

Capítulo 69

Mas quem contou esses minutos foi o relógio de Rubião, já que Maria Benedita perguntava as horas para ele. Ela inclinou-se para ver a hora. Era cedo, queria ficar mais tempo, morava perto de lá agora. Passaram-se oito meses desde o início dos estudos de Maria Benedita. Rubião era “sócio do marido de Sofia, em uma casa de importação”, negócio que ia propor quando se deparou com Camacho na casa do aprendiz de filósofo. Apesar de entender muito mal dos números, cálculos e o tanto de conto de réis que ia dando, era convencido pela fala a continuar investindo. Palha investia com um membro do Parlamento que era da Inglaterra. Em casa, Rubião via os gastos do dinheiro que tinha e viu olhos de censura no Quincas Borba cão, com um “tom de censura” ao aprendiz. Apesar de querer o dinheiro de volta, pensava que Palha desconfiaria dele. Ainda queria vitória nas eleições. Mas ainda pensava em Sofia. Maria Benedita perguntou a Rubião se achava Sofia bonita, ao qual ele concordou. Ela estava bonita e bem decotada, o que já foi explicado no capítulo 35, usando as pérolas que Rubião as deu. Carlos Maria dançava com ela, tinha pose de rei, tal qual um imperador que “se admiraria da demora do ministério em vir cumprimentá-lo.”. Tal qual o episódio da lua, Carlos Maria convidou-a para passear, sabendo que ela queria descansar. Os galanteios duravam por 6 meses, apesar de uma pausa de dois meses que viajou para Petrópolis. Carlos Maria fez uma analogia do mar batendo com o coração dele que batia por Sofia. Diferente de Rubião, ele era mais decidido e sabia como disfarçar, Sofia é que ficou desconcertada. Ela quis sentar enquanto estava sentindo o olhar de todos que nem ouviram o que ele disse, mas Carlos Maria a deixou perto da sua prima, como pediu, e saiu do baile, mesmo ela pedindo rapidamente para ficar. Ler página 38

Capítulo 70

“Rubião cedeu a cadeira, e acompanhou Carlos Maria”. Antes de entrarem, Rubião o puxou de lado para que perguntasse algo que lhe atormentava. Rubião se contentava em vê-la de relance e do dinheiro que emprestava. Não tinha ciúmes de Palha, mas “a possibilidade de um rival de fora veio atordoá-lo”. O baile era na casa de Camacho, festejando o aniversário de sua mulher. No meio de tantas conversas, um homem “doutrinário” começou a falar que a punição moral sempre chegava, mesmo que não fosse em sua geração. As conversas começaram a se misturar, sem ninguém que concordasse ou fim que se chegasse. Carlos Maria se retirava, Rubião perguntou e achou estranho, já que via-o acompanhando Sofia até a carruagem das últimas vezes. Ele respondeu que só ficou para dançar porque Sofia era “mestra no ofício”. Rubião começou a ficar com ciúmes e foi vigiar Sofia.

Capítulo 71

Sofia reclamava do sarau e de como doíam suas pernas. Palha falava que era a má disposição da esposa que despenteava-se, se dançou muito, é que foi bom. Palha elogiou como Carlos Maria valsava. “Sofia estremeceu”. Sofia esperava ciúmes, já que ele mal falava bem de alguém sem ser vaidoso. Palha a beijou e ela não tinha tédio ou dor de cabeça como o episódio de Rubião. Sofia, como quem procurasse sinais, olhava para o mar e para toda a força que ele batia por ali. Ela relembrou de como Carlos Maria falou, “teve um calafrio” e o texto ficou ecoando.

Capítulo 72

Sofia sentiu a mão do marido em seu ombro, eles se despediram. Palha falou da prima da roça que estava mal e Sofia ajeitou a gravata do marido. Despediram-se mais duas vezes.

Capítulo 73

Sofia jurou pela própria mãe que não mais pensaria no episódio de Carlos Maria. Pensou que evitou um escândalo, já que ele poderia ter dito o mesmo na frente de todos. As frases ecoavam em sua cabeça.

Capítulo 74

Enquanto ela se vestia, banhava-se e decidia o que ia fazer no dia, ecoava as palavras de Carlos Maria em sua mente. O que mais intriga na comparação era o jeito que ela foi feita. Enquanto Rubião era clichê e usava a lua, Carlos Maria inventou uma situação totalmente inusitada que pegou até Sofia desprevenida do que poderia ser dito e até de poder parar ele antes do galanteio ser finalizado – é um misto de mistério, culpa e curiosidade. Só que Carlos Maria mentiu, não tinha ido lá. Pensou em se desculpar, mas achava que “a emenda era pior que o soneto, e que há bonitos sonetos mentirosos.”. Carlos Maria se deliciava da inveja e da ambição, pois teve Sofia. Só via um defeito nela – a educação, mal de ser jovem ou vício do casamento.

Capítulo 75

Quando saiu de perto de Sofia, Carlos Maria estava rodeado de mulheres, as quais se deleitava pela atenção. Carlos Maria gostava de Sofia, mas amar? Achou exagero. Saiu de casa irritado. Não sabia quais mentiras emendar e quais manter pela estética.

Capítulo 76

Carlos Maria montava bem o cavalo. Colhia todas as admirações, mesmo que fossem pequenas.

Capítulo 77

Sofia mandou Maria Benedita se levantar. A prima da roça ainda estava acostumada a “dormir com as galinhas e acordar com os galos.”. Sofia perguntou o que achou do baile, viu que não dançou. A prima disse que gostou do baile com a boca, e que odiou com o corpo. Não dançou porque não gostava, ainda menos da ideia de um homem apertando o corpo dela com o seu. Sofia perguntou se ela queria voltar para a roça, ao passo que Maria Benedita largou o jornal que fingia ler para responder que tinha saudades da mãe. Sofia não entendia, parecia tão feliz ali. Maria Benedita não respondia o motivo. Sofia disse que ela precisava casar e que tinha noivo – obviamente, era Rubião. Mas não revelou o nome, pois tinha ciúmes. Maria Benedita voltou a sorrir, pensou até que poderia ser Carlos Maria.

Capítulo 78

Rubião continuava insistindo em interrogar Carlos Maria, sem nunca encontrá-lo. Major Siqueira afirmava que Rubião precisava casar. Rubião pensou que poderia ser o episódio da lua, mas a filha do Major ainda estava bonita, só que agora com quarenta anos. Dona Tonica nem ficou feliz, só lamentava. O pai estava contente com as lembranças. Ler página 42

Capítulo 79

Depois que o Major saiu, uma voz perguntou o motivo de não fazer isso. Rubião viu apenas o cão. Achou estranho, mas acariciou o cão, com ternura e medo.

Capítulo 80

A ideia grudou tanto na cabeça que mal lembrou que suas pernas levaram o Major para a rua. Foi até o canapé pensar que estava entediado quando não tinha público. Ia até mesmo às sessões da câmara e audiências. A lembrança e visão de Sofia só piorava tudo. Lia muito ultimamente, especificamente Dumas e Feuillet. (explicar brevemente dos dois)

Capítulo 81

“Antes de cuidar da noiva, cuidou do casamento.”. Ficou pensando em tudo que poderia ser e lembrando de como gostava de ir ver o imperador. Pensava nas pessoas que iam, como chegaria ao local de coupé, os elogios que recebia. Era um espetáculo direcionado a ele, sem pensar quem era a casada.

Capítulo 82

Só que o sonho vinha com pessoas da nobreza, com títulos, por isso o fascínio com a nobreza. Fingia até mesmo assinar com os nomes que achava sonoros e tinha um almanaque com o nome deles. Mas quando conhecia as mulheres da nobreza, Sofia vinha em mente. E quem o acordava desses sonhos era a visão de Palha. Iam ao teatro com frequência, mas quando ela não lhe dava o braço, o dia era ruim. Conversava com Quincas Borba cão sobre, e o cão repetia as palavras do Major. Lembrou do filósofo e de como poderia participar do casamento e do brinde. “O espírito de Rubião pairava sobre o abismo.”.

Capítulo 83

Rubião foi ver Sofia, descobriu que Maria Augusta tinha morrido. Maria Benedita sofria, Palha pediu para que a visitasse. Falou do sofrimento e de como evoluiu, falou até dos negócios mas Rubião entendia nada do que o sócio dizia. Palha até ficou mais alegre e reteve Rubião que queria sair, falou que era o noivo que Maria Benedita tanto precisava. Rubião ficou surpreso. Palha achou estranho dele não saber da ideia por Sofia. Rubião disse que andava distraído. Os dois se despediram.

Capítulo 84

Mas Rubião se perguntava o motivo de Sofia não ter lhe dito. Pensou que ela não disse e mentia ao marido para que o projeto não andasse. Ficou calmo.

Capítulo 85

Mas não tão calmo. Não tinha com o que se distrair, era cedo para fazer qualquer coisa por ali ou por perto ou por longe. Pensou até em como que não se entediava em Minas mas o acontecia de ficar na capital. Lembrou que Freitas estava doente, foi visitá-lo. Conversou com o doente e disse à mãe, pobre, que a falta de dinheiro não devia ser vergonha. Deu seis notas de vinte mil-réis (3.500). Ela nem soube como agradecer, quando conseguiu se mexer, tentou correr até a rua para agradecer, “mas já não podia ver o benfeitor.”.

Capítulo 86

Rubião só refletiu a atitude espontânea depois. Sentiu alívio de não ser pobre. Passaram por um lugar que Rubião lembrou quando visitou a cidade pela primeira vez. A praia mudava de estética de casas formosas para locais com apenas canoas e crianças descalças. As pessoas ali perceberam os olhos de Rubião. Gostou de ver as risadas, mas começou a ver de novo a arquitetura da corte. Ficou feliz de ser rico. Ler página 46

Capítulo 87

Rubião foi andando pela Rua da Saúde sem prestar atenção ao sair do tílburi. Passou por uma mulher nos 25 anos, mais pobre do que bonita. O filho dela se atrapalhou nas pernas de Rubião. Ela ficou nervosa com a criança. Mais uma vez, a visão de ter uma família assombrou Rubião. Olhou de volta para a mãe da criança e pensou em candidatas. Pensou em Dona Tonica, pensou em Sofia, cada uma tinha uma música conjugal.

Capítulo 88

Lembrou do Freitas novamente. Pensou que fez bem em deixar o dinheiro. Até pensou que deixou demais ou de menos, mas queria se esquecer disso.

Capítulo 89

Voltou ao tílburi, querendo escapar das ideias. O cocheiro perguntou o que ele achou, disse que gostou e que voltaria mais vezes. O cocheiro riu. Rubião ficou pensando se era algo que disse ou até maneirismos de Minas, mas não chego à conclusão nenhuma. O cocheiro, como soubesse que ficou quieto muito tempo, confessou que não acreditava que Rubião estivesse admirado pelo bairro, pois era o jeito que olhava para tudo, inclusive que olhou para a mulher. Rubião fingiu que não sabia da mulher que trombou. O cocheiro continuou falando que era bom guardador de segredos, tal qual viu a história dum moço da Rua dos Inválidos. O moço entrou, disse que ia ver a costureira da mulher na Rua da Harmonia. Como Rubião prestava atenção, o cocheiro verificava se continuaria contando, já que quem fica contando fofoca presta atenção se alguém lhe ouve. Quando chegou na casa, a mulher se apressou para que ele entrasse na casa.

Capítulo 90

Rubião começou a matutar se a história era com Sofia e Carlos Maria depois de sair do tílburi. Ficou tão neurótico que ouviu a canção da cigarra falando o nome dela. Pensou na história da cigarra e da formiga.

Capítulo 91

A campainha tocou. Tentou manter a feição calma para os convidados. Achou os convidados na sala de visita e teve um desejo repentino de dar a mão para beijar, mas “reteve-se a tempo, espantado de si próprio.”.

Capítulo 92

Rubião foi visitar Maria Benedita que preparava um vestido de luto. Ela estava encantadora. Rubião mal acompanhava a conversa. Maira Benedita havia feito uma comissão de mulheres para a epidemia de Alagoas. Os homens só participavam com dinheiro, ria Maria Benedita disso que dizia si mesma. Rubião ajudou com uma quantia grossa. A comissão ajudaria Sofia a ter mais evidência. Sofia não entendia o motivo de Rubião sumir de tempos em tempos. Rubião disse que era sem motivo. Apareceu um diretor de banco que queria falar com Palha. Sofia foi com ele e deixou Rubião.

Capítulo 93

Rubião ficou impaciente e andava de um lado para o outro, ouvia algumas frases soltas de Palha, mais do que ouvia do diretor. A costureira perguntou as horas e estava atrasada para ir para a Rua do Passeio, tinha que ir à Rua da Harmonia também.

Capítulo 94

Sofia viu Rubião transtornado, ele dizia que era nada. O diretor logo saiu e Palha agradeceu a visita. Rubião não conseguia sair, recusava tudo, até mesmo os caprichos de Sofia e o tílburi de Palha, queria caminhar de noite.

Capítulo 95

Rubião tentou achar a costureira no caminho. Tinha tão em mente que queria vê-la que trombou em um homem e só continuou andando.

Capítulo 96

O homem que foi empurrado era o diretor do banco, estava bem contente. Só que ele tinha tido um bom dia. O ministro foi jantar com ele, ouviu as ideias longas. Sentiu-se humilhado por tentar agradar. Só que Palha o tratou bem, o que faltou no ministro sobrava no sócio de Rubião. Ruminava “os rapapés de Cristiano Palha.”.

Capítulo 97

Rubião continuou seguindo e viu um homem com a costureira. Perdeu eles. Voltou para dormir mas não conseguia. Queria comprar a informação e ter a qualquer custo. Foi olhar para o céu e lembrou da promessa do Cruzeiro. Ficou pensando no quanto o Cruzeiro era distintivo e até uma honra. Fechou a janela e foi dormir. Acordou com o criado espanhol com um bilhete.

Capítulo 98

O bilhete era de Sofia, ela e Palha ficaram preocupados com Rubião. Deu dinheiro ao mensageiro e ofereceu dar mais se precisasse. Entregou uma carta e até perguntou a ele como as moças estavam. Repetiu a pergunta antes dele ir embora e não sabia mais o que pergunta. O menino se foi.

Capítulo 99

Rubião ficou matutando de como não enviou nenhuma flor do seu jardim, pensou que o luto era mais chamativo. Viu uma carta caída no chão do moleque, era de Carlos Maria. Queria abrir. Queria esganar Carlos Maria com todo o dinheiro que tinha. Ler página 51

Capítulo 100

“Nenhum dos habituados da casa compareceu ao almoço.”. Estava tão acostumado com gente, comentários e graças que comer sozinho era comer nada. Davi e Camacho apareceram, o primeiro tinha uma candidatura para Rubião. Ainda assim, ficou pensando no conteúdo da carta, com “a esperança de descobrir que não havia nada.”. Rubião duvidava da candidatura e da influência de Camacho, mas o outro confirmava que conseguiria tudo em seu devido tempo. Ainda denunciou que a política era como a religião, gostou tanto da analogia que escreveu em um papel para fazer um artigo. Rubião temia os olhares e o poder da política, até teve vertigem de pensar.

Capítulo 101

Freitas faleceu. Rubião chorou escondido e custeou todo o enterro. A mãe dele quase caiu aos pés, mas Rubião não deixou, os convidados ficaram impressionados. Um convidado tentou chamar a atenção, dizendo que foi demitido, foi o perseguindo enquanto Rubião relutantemente segurava uma das argolas do caixão. Participou de toda a cerimônia, bem triste e choroso. Quando foi embora, ouviu um comentário que parecia senador.

Capítulo 102

Rubião voltava de carro, viu até mesmo o ministro que ia para o despacho imperial. Rubião pensava no amigo morto e no som do galope.

Capítulo 103

“Ao sétimo dia da morte de Dona Maria Augusta, rezou-se a missa de uso”. Rubião foi e viu Carlos Maria. Ele ainda tinha a carta que viu cair três dias atrás. Sofia estava lá também, Rubião a via tão bonita. Rubião começou a perguntar para Sofia do costume dela de escrever cartas. Ficou triste e cada vez mais preocupante porque ele falava que gostava dela. Sofia pedia silêncio, porque não é que alguém chegava, mas ele aumentava o tom de voz. Ela tapou a boca dele antes que pudesse continuar e decidiu sair dali.

Capítulo 104

Sofia retornou momentos depois, Rubião foi ter com ela que já colocou os dedos no lábio para que ele fizesse silêncio. Sabia que ele era bom e que aceitaria que tudo foi só um episódio se ele se arrependesse. Porém, Rubião não se arrependia. Acusou da manipulação dela e mostrou a carta. Ela ficou pálida ao ver o nome de Carlos Maria. Ela quis saber como o tinha e até pediu que lesse. Rubião até foi puxado pelo braço, mas ele foi mais forte e saiu de lá. Sofia ficou, “com medo dos criados”.

Capítulo 105

Sofia ficou inquieta com a carta. Pensou como que Rubião a tinha. Pensou até nos possíveis boatos. Começou a chamá-lo de bobo. Ria de nervoso dele. Lembrou das palavras de Carlos Maria, de como era bonita e como todos, inclusive Rubião, não a achariam? Ficou matutando a mudança de Rubião, tinha medo de recebê-lo sozinha, como o fez em um dia e mentiu que não estava em casa.

Capítulo 106

Porém, o narrador intervém para dizer que a história de tudo que ouviu era mentira. Não foi por excesso do cocheiro, mas paranoia de Rubião. O nome das ruas veio por convenção da mulher que Rubião viu no passeio, e além do fato que o jeito que ele se vestia cabia de onde morava. Ler página 55

Capítulo 107

Porém, apenas Sofia ficava pensando no que poderia ser de Carlos Maria. Não o amava e nem tinha expectativas.

Capítulo 108

“Durante alguns meses, Rubião deixou de ir ao Flamengo.”, mesmo que se forçando a não ir. Tanto em não saber do que pedir perdão como o de ver Carlos Maria e de que fazia muito tempo que não ia, Rubião não aparecia. Foi visitar Palha no armazém, disse que tinha muito o que fazer. Sofia, porém, esperava mais a visita do que Palha, queria se explicar, nunca conseguiu. Rubião veio dar dinheiro para a subscrição para Alagoas, eram 5 contos de réis (1 milhão e 250 mil). Palha até pediu menos, já dizendo que era muito. Rubião riu, escreveu o número 1 na frente, totalizando 15 contos de réis (3 milhões e 750 mil). Palha advertiu que tivesse cautela com o dinheiro, com o capital, ele sabia mais do que Rubião possuía porque cuidava da grana do que o próprio aprendiz de filósofo. Palha nem entendia porque colocava tanto. Rubião dizia que era que sabia que não ia perder dinheiro e que eram para negócios. Palha ficava incomodado, sabia onde investir, até mesmo os últimos investimentos de Rubião iam mal. Rubião ouvia tudo, de como investia sem ouvir Palha ou seguir os instintos, agradeceu e recusou tudo. Palha até falou que devolvia os dez contos, mas queria saber o motivo de não visitá-los mais. Rubião sentia ironia, “como de pessoa que soubesse de tudo, e risse dele.”. Convidou para jantar e não podia.

Capítulo 109

“Rubião sonhou com Sofia e Maria Benedita.”. Viu-as de saia, costas despidas. Rubião segurava um chicote e as castigava sem misericórdia. Elas choravam e pediam misericórdia. Em comparação com Álvares de Azevedo, era metáforas para a Imperatriz Eugênia. Hamlet dizia que era um método. Rubião pediu para retirar as mulheres e enforcar Palha. Sofia aceitou ir na carruagem com Rubião. O aprendiz de filósofo sentia-se Luís Napoleão, o cão Quincas Borba ia no carro. Rubião acordou.

Capítulo 110

“Rubião fez os dous empréstimos e o negócio.”. Pagou dívidas da Atalaia de 1 conto e 200 (30 mil) e investiu em negócios do porto. Camacho falava energético de como era desvalorizado pelo povo que tanto defendia e que reergueria o serviço, tal qual colocou o dinheiro no paletó. Camacho contava de ataques aos inimigos políticos como forma de correção. A candidatura ia mal por conta da oposição. O narrador analisa como a política é feita de concessões de quem está no poder.

Capítulo 111

Rubião gostou do artigo, ainda que tenha mudado de estratégia de atacar a política. Ficaram insistindo em um som de “v” em “vis vendilhões”. Camacho ficava feliz com as adições do seu investidor na sonoridade dos artigos. Prometia que todos iriam ser castigados.

Capítulo 112

O narrador pensa de como queria fazer um sumário de como tudo acontecia, tal qual os velhos livros. Mas o narrador culpa o leitor. Se queres ler, basta ler.

Capítulo 113

Mas, ainda como se fosse para agradar o leitor, disse que o título poderia ser “de como Rubião, satisfeito da emenda feita no artigo, tantas fases compôs e ruminou, que acabou por escrever todos os livros que lera.”. Rubião era satisfeito de ser autor de frases soltas.

Capítulo 114

Porém, o próximo capítulo não teria o mesmo título.

Capítulo 115

Rubião conseguia não ir mais ver Sofia, quiça o Flamengo. Até a viu em um carro, cumprimentou ela de volta. Ficou surpreso com a fineza, mas pensou que eram as outras pessoas do carro que a viam. Foi andando até chegar ao Banco do Brasil, Palha estava por ali, comentou que viu Sofia. Perguntou como o sócio estava. Palha ficou incomodado que ele não lembrava do aniversário de Sofia, pediu para que ao menos fizesse o favor de uma xícara. Assim como Palha desviou da pergunta, Rubião tentou desviar também. Rubião falou que iria, comprou um presente, uma jóia de 2 contos, 50 mil reais. Enquanto Sofia se arrumava, a criada trouxe o presente de Rubião e ficou lá esperando para ver o que era. Sofia ficou espantada e perguntou do entregador. Ficou pensando em tudo que passaram e da generosidade, sabia que ele o adorava. Ela ficou se admirando no espelho, tal qual ainda tivesse 25 anos, e o tinha fisicamente. Rubião ficou pensando que Carlos Maria estaria lá e que não teria dado presente melhor. A comissão de Alagoas e Carlos Maria estavam lá. Rubião foi, com outro olhar, Sofia até deu a mão e viu que tinha outro passo. Rubião ficou vigiando os olhares de Carlos Maria e Sofia. No meio da festa, Rubião até tentou falar com ela sobre o que aconteceu da carta, ela deixou uma lágrima cair. Tentou sair dali e Rubião tentou fazer com que ficasse. Sofia disse que Maria Benedita e Carlos Maria iriam casar. Para quem tinha pouco tempo, foi falando muito de Maria Benedita. Saiu da sala e deixou Rubião.

Capítulo 116

Rubião ficou surpreso com tudo isso, não achava que “era Maria Benedita que casava com Carlos Maria”, viu que tinha se confundido todo. Foi até conversar com Maria Benedita, já que ele foi abordado por ela que procurava a prima. Rubião a elogiava ternamente, era bonita, não tanto quanto Sofia, mas tinha sua beleza, Carlos Maria não a elogiava desse jeito, só pensava na felicidade conjugal como um troféu.

Capítulo 117

O casamento foi breve. Até pensaram que a catástrofe de Alagoas foi útil para este casamento. Falou da história de uma choupana que pegava fogo. A dona da casa chorava na frente. Um bêbado passou e perguntava se era dela, pediu permissão para acender o charuto. Ler trecho da página 62.

Capítulo 118

Voltando ao casamento, Maria Benedita claramente de vista gostava de Carlos Maria. Desde o começo que não sabia do nome, ao qual Sofia guardava que era Rubião, aconteceu todo o desastre de Alagoas e formou a liga, conheceu outras mulheres. Dona Fernanda quando conheceu Carlos Maria tentou empurrar uma outra menina, trocaram ofensas irônicas, desde o gosto até a religião. Gostava de conversar com mulheres, achava bem melhor do que falar com homens. Passado tempo e também da morte de Maria Augusta, deixou a outra pretendente para depois e firmou de casar Maria Benedita com Carlos Maria. Dona Fernanda gostava de ouvir a lamúria dos outros, era o completo oposto de Sofia. Maria Benedita ficava confusa, gostava de Carlos Maria, mas não sabia se compor e agir como uma casada, tal qual Fernanda afirmava que deveria gostar do marido, mas não mais do que Deus.

Capítulo 119

Dona Fernanda prometia que ter um marido era melhor que qualquer sonho, apesar deles poderem ser maus e custarem a irem embora. O marido de Dona Fernanda, Teófilo, reclamou. do discurso dele dito e passado ao jornal. Dona Fernanda tentava consolar o marido, até esqueceu e não percebeu Maria Benedita ali. Dona Fernanda conseguiu acalmar o marido que “ao almoço, já ele sorria”.

Capítulo 120

“No Domingo seguinte, D. Fernanda foi à igreja de Santo Antônio dos Pobres.”. Viu o primo, Carlos Maria e se surpreendeu dele ali, Teófilo, por exemplo, mal passava ali. Falou que saindo dali podiam almoçar, mesmo sem convite, só precisavam decidir na casa de quem. Dona Fernanda tinha notícias a Carlos Maria, tinha alguém para casar, mas não contava que era Maria Benedita, era uma mulher que ia sofrendo e se acostumando a ficar solteira. Carlos Maria se aborrecia com tanto misticismo da mulher que a adorava. Fernanda até trocava de assunto, falava da casa, dos filhos. Até que Dona Fernanda disse o nome de Maria Benedita. Começou a ir ver mais vezes a menina que não confessava em palavras mas tinha o rosto e os modos de vergonha com ele. Assim foi que descobriu, tempos antes ainda dizia coisas doces à Sofia, agora descobriu que tinha uma pretendente.

Capítulo 121

Rubião ficou contente que Carlos Maria estava para casar. Ainda pensou nas lágrimas de Sofia quando confessou o mal-entendido. Ele sentia que Sofia queria ser entendida e que a lágrima era um arrependimento da alma.

Capítulo 122

Rubião ficou contente demais que Carlos Maria estava para casar. Casaram dentro de três semanas que Rubião ouviu a notícia. Carlos Maria ficou feliz com o evento, mais o evento do que a mulher. Estava acostumado com “olhos admirativos”, mas tinha outro aspecto esse dia. Até os arredores eram diferentes, os comentários. Porém, Carlos Maria ainda era um admirador de ruínas. Via os contrastes de casas desbotando com as novas borboletas. Mas já via Maria Benedita grata a ele, ajoelhada, suplicando e devota.

Capítulo 123

Mas Maria Benedita pensava o mesmo, com a mesma atitude.

Capítulo 124

“Casaram-se; três meses depois foram para a Europa.”. Dona Fernanda estava muito feliz. Cantou uma música italiana de como era bom ser feliz vendo a aurora.

Capítulo 125

Sofia não foi para a Europa e mandou o marido, estava doente. Porém, sentia vergonha, o sentimento que a deixou doente. Não embarcou pois ficou lembrando de como Rubião disse que a faria Imperatriz. Pensou se era um pretexto de amante, mas achou ser essa intenção “demasiado vaidosa”. Viu que todos os homens passavam, até Carlos Maria passou, mas Rubião ficava. Leu no romance que alguém merecia ser amado. Fechou os olhos e ficou pensando. A escrava, achando que ela dormia, deixou o caldo e saiu nas pontas do pé.

Capítulo 126

No cais, Palha e Rubião ficavam calados. Palha disse que precisava “dizer-lhe uma cousa importante.”.

Capítulo 127

Rubião estava sonhando enquanto via o paquete – grande embarcação que transporta mercadorias. Ficou pensando no que via na frente, de pessoas, nacionalidades, olhou para o distante e pensou na vastidão do mar e no que poderia até existir na imaginação. Acordou com a fala de Palha.

Capítulo 128

Foram almoçar para que Palha contasse a coisa importante a Rubião. Ele queria liquidar os negócios para ser diretor em um novo banco. Rubião achou que era para o ano que vem, mas ele queria no mesmo ano, até disse que a coisa era certa, precisava fazer tudo logo, ainda que Rubião não entendesse a pressa, e que o Camacho já tinha garantido o lugar para Rubião. Até perguntou se essa liquidação era para separá-los como amigos, Palha disse que não, até perguntou como que poderiam ser amigos se os negócios não estivessem a parte. Só que Palha só pagava o que tinha emprestado, não o que devia. Ainda tentou entregar a Rubião o dinheiro, mas Rubião não aceitava. Palha ria e gostava da cena. Ler página 69

Capítulo 129

Não havia banco, Palha queria toda a grana, inventou a história para ser o único em lucro. Palha tinha um bom dinheiro, tinha capital em bons lugares, precisava crescer com essas jogadas. “Vagamente pensava em baronia.”.

Capítulo 130

O Major se lamentava que Palha não os convidava para mais nada. Dona Tonica pediu que o pai não falasse assim. Moravam em outra casa, agora um sobradinho. Rubião dizia que era confusão e não havia nada de especial. Desde a comissão de Alagoas que o Major Siqueira percebia a mudança de comportamento agora que ficava cada vez mais rico e o Major ficava cada vez mais pobre. Dona Tonica ainda tentou defender que quiseram saber do estado de doença dela tempos atrás com um moleque, coisa que nem mandaram para que fossem convidados ao aniversário. Até chorou o Major, a filha por ver o pai chorando.

Capítulo 131

Rubião parou de defender os Palhas na frente do Major. Major até pediu que fosse jantar, mas que avisasse antes, pois era “jantar de pobre”. Rubião disse que viria quando pudesse e Dona Tonica o viu indo embora pela janela.

Capítulo 132

Dona Tonica foi ler Saint-Clair das Ilhas, o qual já tinha decorado. Dona Tonica pediu para que comprasse comida enlatada para ter um jantar quando ele aparecesse. O Major só tinha dinheiro para o vestido da filha. Falou que deixavam para o próximo mês, falando que haveria chance e tempo.

Capítulo 133

O narrador tinha coisa para contar, mas os capítulos se atropelaram. As relações de Rubião aumentaram por ajuda de Camacho. Era famoso pela barba e bigode, peito largo, sobrecasaca justa e uma bengala de unicórnio, “um ricaço de Minas.”. Até a história de ser discípulo de filósofo adicionaram, era uma lenda, apesar de nunca falar de filosofia. Tinha até discípulos, que ouviam as palestras e até se acostumaram a dar ordens aos criados. Até emprestou dinheiro aos novos discípulos, que não recebia de volta. Quincas Borba era adorado por todos. Apesar de Rubião não gostar da primeira vez, Quincas Borba comia as migalhas que iam no colo dos discípulos. Explicou como dentro do cão vivia o maior homem de todos os tempos. Tentando conciliar sua vida com os discípulos, mandou que o jantar fosse servido às 6 horas, ele ali ou não. Alguns até tentavam disfarçar, mas a maioria seguiu as ordens do aprendiz de filósofo.

Capítulo 134

Os discípulos aproveitavam a ausência para fumar os charutos que ali estavam. Os discípulos iam desde os acostumados aos móveis para os que se deleitavam com os charutos. Dois bustos estavam ali, o de Napoleão primeiro e Napoleão terceiro. O criado espanhol achava tudo bobo.

Capítulo 135

Rubião tinha livros e diplomas a ele. Era sócio de congregações e colocava seu dinheiro em tudo. “Assinava jornais sem os ler.”.

Capítulo 136

O cobrador do jornal do Governo foi mandado ao diabo pelo Rubião, que o pagou mesmo assim. Ficou intrigado como tinha gente que adorava e não pagava pelo jornal.

Capítulo 137

Se o dinheiro saiu, a imaginação vinha para Rubião. Se antes ficava entediado esperando outros, agora tinha muito o que fazer. Comprou uma tetéia de bronze para a filha do Camacho, ela ia fazer aniversário.

Capítulo 138

Sofia ia bem. Ganhou até apelido de “o anjo da consolação” no jornal Atalaia. Ficava lisonjeada, mas não a alegrava. Na outra edição, as outras mulheres foram elogiadas. Palha exagerava nas novas relações e Sofia o censurava. Sofia ia removendo as amizades antigas. Os trinta anos chegaram. Nem via mais se os homens a verificavam.

Capítulo 139

Foi ver a Sofia, desejou defender o Major mas ela interrompia sempre. Até disse de ir passear, mesmo que Palha não fosse. Sofia, mesmo com Rubião já fazendo planos, negou. Mas Sofia tinha vontade, só que usava Palha como desculpa. Até imaginou eles andando a cavalo.

Capítulo 140

Não era um cavalo, era corcel, encaixa melhor na situação.

Capítulo 141

Rubião insistia, Sofia também, por motivos e coisas diferentes. Ela até disse para irem hoje, mas Rubião tinha visitas. Ficou para depois. Rubião foi embora. Sofia pensou que ele era um homem aborrecido. Ela começou a ver algumas rosas, que eram duas. Há uma comparação de que as rosas mostram bem o passar do tempo e de como a ira consome tudo. A rosa é símbolo de amor e desejo. Como as rosas podem ser eternas? Depende do jardineiro. Há um conflito de Sofia entre amá-lo fora do matrimônio e desprezá-lo. Sentia-se má e injusta.

Capítulo 142

Sofia perguntou o mesmo para outras plantas, “e não lhe disseram cousa diferente”. Até pensou que a frase “pensar com os seus botões” fazia sentido. Ler página 74

Capítulo 143

Foram passear, Sofia caiu do cavalo. Otelo até diria que era uma bela guerreira, Rubião limitou-se a dizer no começo que parecia um anjo.

Capítulo 144

O joelho de Sofia machucou. Ficou preocupada se ficou despida, Palha jurou que não. Palha apreciava o corpo da mulher e Sofia ficava nervosa de Rubião ter visto algo. Palha disse que não e perguntou se ele repetiu o episódio de Santa Teresa. Sofia disse que não. Pediu para jurar, ele jurou por Deus e o que era mais sagrado a ele, por ela mesma. Ficou feliz com a mulher que era dele, e até queria que Rubião tivesse visto o começo da perna da esposa.

Capítulo 145

Rubião, no dia seguinte do passeio, decidiu se barbear em casa. Lucien, um oficial francês, foi cedo a pedido de Rubião. O aprendiz de filósofo estava contente.

Capítulo 146

Quincas Borba cão não gostava do francês, mas Rubião o repeliu, o cão obedeceu. O francês lamentava a barba que ia retirar, testemunhou que aquilo era para agradar mulher. Rubião concordou. Queria o rosto como de Napoleão III. Apesar de até haver um busto de referência, o francês teimava em continuar ou atender os pedidos de Rubião. Finalmente atendeu às demandas e ficou sério. Depois de tanto serviço, Rubião achou que estava parecido. Os bigodes não eram muito compridos, o francês disse como deixar parecido. Deu vinte mil-réis, 500 reais, pelo serviço, apesar do francês afirmar que não tinha troco.

Capítulo 147

Rubião ficou numa poltrona, pensando em ideias de ministros e embaixadores. Imaginou-se indo à lua.

Capítulo 148

“Quando desceu da lua” ouviu o cão. Até pensou que a cara nova era muito diferente, mas era boa, aprovada pelos discípulos. Camacho gostou e aconselhou que mantivesse o rosto. Rubião ouvia e concordava. Parecia agora que nem era um imperador e o aprendiz de filósofo, mas era só imperador.

Capítulo 149

Sofia achou curiosa a transformação, Rubião perguntou do joelho, ela estava melhor. Ela achou que a mudança seria por conta dela, Rubião pensou que estava melhor, o que ela acreditava. A luva dela caiu no chão, foram os dois pegar e bateram um o nariz do outro. Riram-se. Rubião foi já que o carro chegou.

Capítulo 150

Rubião ajudou Sofia a entrar no carro, mas ele pulou para ir com ela.

Capítulo 151

Mal conseguiu pedir que parasse. Ela tinha medo do escândalo e não pediu para parar o carro. Sofia tinha medo que vissem os dois juntos e ele propôs abaixar as cortinas. Apesar de ser um cenário parecido com o de Santa Teresa, ali ela não podia fugir e estava enclausurada. Entretanto, Rubião “não dizia nada.”.

Capítulo 152

Sofia estava encolhida, talvez de medo, mas “principalmente repugnância.”. Ela até pensou onde estavam os sonhos bons antigamente com ele, mas ali tudo desapareceu. Tentou pedir que ele saísse ou ela saía, até tentou ajoelhar para pedir, ele a parou antes de completar o movimento. Pediu pela mãe dele, que ele disse que era uma santa. Ele disse que não saía, que até obedeceu as cortinas porque ficava aborrecida. Iam como um casal cansado. Ele não pedia nada de volta. “Era um inexplicável, um monstro.”.

Capítulo 153

Rubião falou, dizia que jamais um homem esquecia o primeiro amor correspondido. Dizia até que os dois pareciam naturalmente casados. Sofia temia que alguém o ouvisse. Ele lembrou da primeira vez que se viram e como ele a acalmou. Até disse que beijou a soleira da porta e teve que parar para não beijar os degraus. Sofia o chamou pelo nome, mas ele era Luís Napoleão, para ela, “Luís. Sou o teu Luís”. Sofia planejava como tirá-lo daí, o destino final era o armazém do Palha. Ele dizia que até o vento era indigno de tocá-la e que temia que Palha zangasse-se com ela. Mas não queria que ela se sentisse mal, podia castigá-lo e não o fazia. Deu o solitário a ela, ainda que não o quisesse. Ainda ia dar outro melhor, queria que pensasse no título de duquesa para ter. Antes que chegassem, Rubião pediu que o carro parasse.

Capítulo 154

Rubião saiu do carro mas voltava à normalidade, conversava, tirava dúvidas e entrava nas lojas. Sofia mergulhava no devaneio.

Capítulo 155

“Espalhou-se a nova mania de Rubião.”. Alguns testavam e outros encaminhavam conversas de negócios da França para ele. Rubião caia ao abismo.

Capítulo 156

A guerra franco-prussiana chegou e abalou ainda mais os devaneios de Rubião. Lia as notícias, contava os mortos e sempre achava uma vitória. Os discípulos e amigos não desconversavam e iam no devaneio. Cada um tinha uma patente militar. Mesmo que ele ordenasse ataques, já os via cumpridos na mente, com eles fazendo algo ou não. A casa ia desbotando-se, a prataria ia se perdendo, mas a linguagem parecia a mesma de Quincas Borba ainda em Barbacena.

Capítulo 157

Sofia tinha compaixão, pois sentia-se culpada pela doença em ser a loucura dele. Tinha compaixão pois ele o amou até a loucura.

Capítulo 158

Dona Fernanda até perguntou o motivo de não o tratarem, Palha disse que não era grave, pois não fazia nada de mais, “era rico, mas gastador.”. Teófilo pensava ser bom tratá-lo. Dona Fernanda tinha uma carta de Maria Benedita. Era uma carta de quem viaja para um lugar novo, nada de mais, exceto o post scriptum que dizia que estava grávida. Ela tinha uma dualidade, tinha um excesso de compaixão e informações em excesso de Carlos Maria. Soube se recompor e disse que estava feliz.

Capítulo 159

A manhã era de sol, apesar de Sofia sentir que chovia pelo espírito da alma, quando acordou, começou a chover. Estava com espírito de defunto pensando da carta que recebeu e das memórias de Carlos Maria. Pensava em como ele a movia e também do caco que era Maria Benedita para transformá-la em pessoa da cidade. Até pensou em como Dona Fernanda entregou a carta e como o deputado Teófilo elogiou o vestido de Sofia, que era cor de palha, o marido dela ficou cheio de vaidade, era um vestido que mostrava muito do corpo, e olhá-lo era olhar Sofia por inteiro, coisa que Teófilo o fez. Ficou remoendo, adicionando e multiplicando pensamentos.

Capítulo 160

“A chuva cessou um pouco”. Sofia até tentou sacudir os pensamentos e sair. Há uma comparação com Diógenes, filósofo grego do cinismo. Até pensou em amar de volta os bilhetes dos namorados. Porém, a chuva voltou espessa.

Capítulo 161

Sofia ficou em casa lendo, leu um livro de Feuillet, “Na Revista dos Dous Mundos”. Enquanto lia, sonhou que recebia as palavras de ternura de Rubião e Carlos Maria, mas aceitava com prazer. Acordou assustada com o sonho que acabava com um beijo de sangue na mão. Palha viu tudo sem ligar, pensava em negócios. Sofia temeu ter chamado o nome de alguém enquanto dormia. Ela até disse que sonhou que matavam Palha. Ele gostou da ideia, queria até mais sonhos que o matassem para vê-la com ternura, gritando agoniada.

Capítulo 162

“No dia seguinte, o sol apareceu claro e quente, o céu límpido, e o ar fresco.”. Sofia passeou e fez visitas. Tanta gente boa e bonita fez tudo de ruim de desaparecer do dia anterior. Ler página 83

Capítulo 163

Todos os maus pensamentos voltaram para onde moravam. O remorso existe sempre em algum nível, mas ali estava aceitável.

Capítulo 164

“Um só incidente afligiu Sofia naquele dia puro e brilhante”, ela viu Rubião. Fingiu não o ter visto enquanto comprava um livro e fugiu para a rua. Dias depois, até viu Rubião na casa de Dona Fernanda, apertaram mãos e ele foi embora. Sofia perguntou se ia lá com frequência, ela disse que foi umas 5 vezes, sendo que apenas a segunda vez ele veio delirando. Ele podia até sarar, mas tinha olhos distantes, Dona Fernanda pediu que Palha fizesse uma intervenção. Sofia disse que apressaria o marido, até pensou que Rubião tivesse dito algo de Sofia, mas o delírio por si só explicaria tudo. Até perguntou como que Dona Fernanda não tomasse conta do assunto, ela disse que era muito trabalho e já tinha, até pensou em como seria no futuro se tivesse que tomar conta dele. Sofia impressionou-se com a generosidade de Dona Fernanda.

Capítulo 165

Palha alugou uma casa na Rua do Príncipe e meteu Rubião e Quincas Borba cão lá. Os discípulos e amigos de Rubião entenderam a mudança e continuaram a visitar a casa antiga do aprendiz de filósofo, estavam muito acostumados. Palha avisou que ele precisava de descanso. Até ouviu quem diria que tinha de ser feito antes o exílio. Outros acompanharam a ideia. Mas mal podiam se separar, estavam acostumados com a convivência e nem poderiam pensar em se separar.

Capítulo 166

Rubião notou o sumiço, chegou a convidá-los, ninguém veio. Pensou até se “fizera algum mal”, mas não achou nada.

Capítulo 167

Doutor Falcão disse que até podia ficar bom, Dona Fernanda tinha esperanças. Ele achou que era menos da família do que era de Sofia. O Doutor Falcão disse que a fez duquesa “por não poder nomeá-la imperatriz”, achou até que se amaram. Dona Fernanda achou tudo muito sem fundamento, ainda que o Falcão achasse que poderia se arranjar tal situação facilmente. Falcão até achou que Rubião poderia amar Dona Fernanda, já que era uma mulher tão prestativa.

Capítulo 168

Doutor Falcão pensou nisso a noite inteira, há uma comparação de Hamlet. Não contou a mais ninguém suas suspeitas.

Capítulo 169

Carlos Maria e Maria Benedita voltaram, Dona Fernanda podia focar em outra coisa que não fosse Rubião. Dona Fernanda estava feliz demais, quis saber de tudo, ainda mais se Carlos Maria a amava e se ela era feliz com o casamento. Carlos Maria ouvia as confissões da amada, mas tinha opiniões singulares. Não gostava do afeto como demonstração pública, o bebê não era para ser festa, não entendia como Maria Benedita poderia ser outra coisa que não feliz no casamento. Queria estar só. Maria Benedita estava entediada com o relacionamento, Carlos Maria cedia, mas ela só ficava com incômodos. Só lembrava das palavras de Maria Nazaré que fazia a vontade do senhor.

Capítulo 170

Quando ficaram sozinhos, Maria Benedita achou que Carlos Maria estava aborrecido. Ele recusava, ela repetia, ele sorriu um sorriso debochado, que ela detestava. Maria Benedita repetia os gestos e conversa, achou até ter sido excessiva – o que sabia que era. Viu isso do costume da felicidade expansiva quando na colônia brasileira em Paris. Ela prometeu ser menos tagarela, Carlos Maria a perdoou pois ela tinha pedido isso, diz que até mesmo o feto tinha ficado feliz.

Capítulo 171

Rubião gritou que era assim que queria ver o casal, Maria Benedita até se afastou de Carlos Maria. Carlos Maria não fez muita comoção, Rubião foi sentando sem ser convidado, falavam da queda do Ministério de Rubião, disse que iria falar com Palha. Disse que queria Carlos Maria nele e de outros colegas. Maria Benedita se retirou. Carlos até estendeu a mão para se despedir de Rubião, voltou a pedir que fizesse parte do ministério. Saiu da casa, mas ficava fazendo pausas e demorava, dizia fatos da guerra. Maria Benedita olhava de longe, quando foi para a rua, ficou rindo de como gesticulava. “Carlos Maria, porém, olhava plácido.”.

Capítulo 172

Maria Benedita relembrou Carlos que, se o ministério caiu, Teófilo era o ministro. Ainda viram Rubião parado na rua, esperando carro ou outra coisa.

Capítulo 173

Carlos Maria exclamou ao pensar no primo ministro, perguntou se Maria Benedita gostaria de vê-lo ministro. Pensou que ele seria um bom ministro. Carlos pensou que ela gostaria dele se fosse qualquer posição, até pensou que ela poderia ser rainha e ele imperador. Carlos Maria voltava a ler, Maria Benedita ficava calada, alisando o cabelo, saiu dali e deixou-o lendo.

Capítulo 174

“Rubião foi à casa de Dona Fernanda”, mas ele não podia entrar. Esperavam o médico, segundo o criado. Rubião não teimou e saiu. Havia uma comoção pois a mulher falou que ela precisava do médico, mas quem estava abatido era Teófilo. Uma criada fofoqueira ouviu a ama chorando e se lastimando. Ela pedia que ele sossegasse, viviam bem, não havia motivo para pegar mais trabalho. Ele estava em choque por não fazer parte de nenhuma pasta, ainda que fosse ativo na política.

Capítulo 175

Fernanda chamava-o para jantar, ele levantou-se com raiva e dizendo palavras raivosas. Ele ficava mais incomodado com a gente que ali estava do que não ter recebido nenhuma nomeação. Queria até dizer ao Imperador sobre toda a canalhice. Até foi ao gabinete, tentava achar algo para escrever enquanto terminava uma ideia que parou no meio. Ele estava decepcionado pelo trabalho meticuloso que fazia, de guardar jornais, arquivar informações e da organização. A mulher tentava consolá-lo, pedia até para passar um ano em Varsóvia, pedia pelos filhos e para que passeasse, porém a política era tudo para Teófilo, sair dela era “sair da própria pele.”. Gostou da ideia e agradeceu a mulher. No jantar, um dos filhos mais velhos disse que queria ser ministro, o pai disse para ser qualquer outra coisa.

Capítulo 176

Teófilo recebeu uma carta no outro dia da Ordenança. Achou até que podia ser um cargo, mas não era, era uma chamada de última hora, pensou que era conferência.

Capítulo 177

Era um pedido de assumir uma presidência, iriam viajar, a pedido do marquês. Até perguntou a Fernanda se teria como recusar, ela concordou com Teófilo que não tinha como.

Capítulo 178

Despediu-se dos pertences do gabinete na casa, iriam ficar separados por quatro meses. Ela prometeu que deixaria os livros limpos.

Capítulo 179

Rubião ficou sabendo de nada. Vivia com o cão e o criado, trabalhava mal e gostava do título de marquês. Rubião tinha poucas crises, ainda que tentasse se segurar em lembranças e vistas de amigos que ainda mantinha, como Camacho e o Major. Foi visitar Camacho, até tentou falar de política, o amigo lhe recebeu quieto, ele foi embora como se entendesse os pormenores, falou que voltaria quando estivesse menos atarefado, pensou que teria lhe machucado.

Capítulo 180

Encontrou o Major, ele mudou de casa e Rubião achou-o na rua, acompanhou-o até a nova casa. Tinha boas notícias, Dona Tonica os recebeu com um novo vestido e ia casar. Era um homem de meia-idade que a visitava na janela, chamado Rodrigues, “cabelo curto, raro, olhando espantado para a agente, cara chupada, pescoço fino e paletó abotoado.”. Tinha filho prestes a morrer de tuberculose, era empregado no Ministério da Guerra, viúvo. Sonhava em ter filhos e pedia a Nossa Senhora, o chamaria de Álvaro.

Capítulo 181

Casariam em cinco semanas, não era capitalista mas Rodrigues ganhava dinheiro. Major ficava feliz de se livrar do trambolho que chamava de filha, mas Dona Tonica estava tão feliz que não ligava para a vexação. Rubião disse que o pai teria saudades. Major até pensou que poderia casar. Rubião começou a surtar. Major e Tonica tentavam convencê-lo a sair de casa, mas ele delirava com um carro que não viria. Rodrigues apareceu para visitar a casa, Major tentou convencer que havia um carro na praça, coisa que o Rodrigues viu pela piscadela que deveria seguir com a mentira. Cumprimentou o novo noivo, iria dar presentes, até tentou olhar para trás para ver Dona Tonica que nem na janela estava, pois estava com o noivo.

Capítulo 182

Rubião foi só andando, chegou até o paço imperial, falava com uma imperatriz, que não se sabia se era Sofia ou Eugênia. Crianças corriam em volta dele chamando de “gira”, de maluco. Uma das crianças, Deolindo, foi chamado pela mãe. Rubião entendia tudo como uma aclamação e agradeceu. A criança foi, mas não antes de gritar para Rubião pela última vez.

Capítulo 183

O filho era uma peste, mas o marido achou estranho que a mulher não reconheceu quem salvou a vida do filho. A mulher ficou pálida, não tinha certeza, o homem falou que o era, mas não o tinha visto desse estado. Amaldiçoou as crianças e a falta de polícia. Queria trazê-lo para casa, mas teve medo de ser vaiado pelas crianças. Virou o rosto para não ser reconhecido por Rubião. A mãe teve medo do filho endoidecer por castigo divino. Ler página 94

Capítulo 184

Rubião foi até a casa de Dona Fernanda, os vadios já tinham ido embora, ele ainda andava como imperador. As pessoas comparavam como ele andava em um palacete fantasmagórico, ainda que a casa real deles fosse pior, era real.

Capítulo 185

“Rubião foi recolhido a uma casa de saúde.”. Palha não cumpriu o que Sofia pediu e Sofia nem se quer lembrava da promessa. Cuidavam de outra casa no Botafogo. Palha e Falcão o acompanharam para a casa, Rubião até pediu que fossem sábado para uma revista militar, eles falaram que iriam, Rubião enviaria um carro novo, um que jamais foi tocado para Sofia poder sentar.

Capítulo 186

Falcão achava que realmente Sofia e Rubião foram amantes.

Capítulo 187

O Quincas Borba cão não foi, teve que ser segurado, tal qual em Barbacena. Dona Fernanda, pedindo o consentimento do diretor, pôde levar o cão. Iria escrever para Sofia mas foi ela mesma até lá.

Capítulo 188

Sofia falava de como Rubião foi rico, enquanto andavam pela casa dele, mas como estragou tudo. Tinha nojo da imundice, o criado se quer se incomodou com as visitas. Tentaram abrir as janelas, procuravam o que podia ser sentimental, além de procurarem o cão. Estava no quarto, magro, abatido. Ele foi até Dona Fernanda, que mal sabia o nome dele. Ela o acariciou, ele comia mal e chorava muito, sentia falta do dono. Sofia até disse que estava se enchendo de pulgas, Dona Fernanda se conectava nos olhos da simpatia do animal e não escutou-a.

Capítulo 189

“Saíram. Sofia, antes de pôr o pé na rua, olhou para um e outro lado, espreitando se vinha alguém”. Foi voltando aos poucos na delicadeza que tinha. Falou a Dona Fernanda da loucura de Rubião. Até a convidou para ver o palacete.

Capítulo 190

A filha de Maria Benedita nasceu. Ela esqueceu momentaneamente do louco para acudir a mulher tão boa de Carlos Maria.

Capítulo 191

A ideia é que ficasse bom entre seis a oito meses segundo o diretor. Dona Fernanda até convidou Sofia a ver o doente, podia fazer bem. Palha contou os bens finais de Rubião, eram três contos e duzentos, 80 mil.

Capítulo 192

O tempo passaria logo, dizia Dona Fernanda. Sofia dizia que até poderia vê-lo, mas não tinha ânimo de vê-lo assim. Nesse meio tempo, também, Teófilo voltou, caiu o ministério, o marido de Dona Tonica morreu três dias antes de casar, Camacho escrevia sobre a lei dos ingênuos e a casa nova foi inaugurada de Palha e Sofia. Sofia estava irradiante e usava jóias, algumas presentes de Rubião. Todas admiravam a “trintona fresca e robusta”, mas alguns falavam com pena da virtude conjugal de amar demais o marido.

Capítulo 193

Dona Fernanda levou ao marido uma carta, ele trabalhava já cedo, ainda que ontem fosse o dia que inauguraram a casa de Palha e Sofia. O diretor da casa de saúde anunciou que Rubião sumiu da casa faziam 3 dias. Ele melhorava e o sumiço o assustou. Apesar de não ter interesse em Rubião, gostava de mandar cartas para pessoas de alto escalão, por isso atendeu o pedido da mulher de pedirem para achá-lo.

Capítulo 194

Rubião e Quincas Borba cão haviam ido para Barbacena. Rubião encontrou-se com Palha, disse que estava bom mas queria pagar quem lhe tinha servido bem, pediu cem-mil réis de Palha, 2500, que o deu de bom grado e sem hesitar. Palha falou que falaria com o diretor. O diretor disse que precisava de meses, não apenas dias.

Capítulo 195

Quando chegou, bradou o lema de Quincas Borba filósofo, mesmo que tenha esquecido da alegoria toda. Foi até a igreja, havia ninguém para recepcioná-lo. As memórias vinham de tudo, mas ninguém vinha. Pensou que não soubessem que chegou.

Capítulo 196

Começou a chover fortemente. Andavam sem rumo e esperança de pouso. Pensou em parar na farmácia mas apenas continuou.

Capítulo 197

Rubião pensava nos banquetes em vez de ter forme, recurso que faltava a Quincas Borba cão. Quando Rubião parava, podia dormir e ignorar a fome, mas o dono continuava andando por aí sem rumo e sem motivo, ele apenas o seguia.

Capítulo 198

Exclamou de novo “ao vencedor, as batatas”, já fazia sol.

Capítulo 199

A comadre de Rubião encontrou os dois e os agasalhou, deu abrigo e almoço. “Rubião tinha febre. Comeu pouco e sem vontade.”. Ele tentou até explicar, mas a comadre entendia nada. Até tentou chamar a vizinha para ajudar a entender o homem sem juízo. As pessoas ouviam os boatos e viam de perto o doido. Aconselharam prendê-lo, não fazia bem ter doido por perto. O mesmo médico que tratou Quincas Borba filósofo tratou de Rubião, mas ele disse que era nada ao médico, apenas que capturaram o rei da Prússia, exigiam 5 bilhões de francos.

Capítulo 200

Rubião morreu dias depois. Não antes de ser coroado. Tomou força, o corpo cedeu, pediu que guardassem a coroa e mal conseguiu terminar o bordão, morreu. “A cara ficou séria, porque a morte é séria”.

Capítulo 201

Quincas Borba cão agoniou na morte, fugiu em busca do dono e morreu na rua. O narrador até pergunta se o nome do livro é do cão ou do filósofo. “Questão prenhe de questões”. Pediu para chorar quem quisesse ou risse. O Cruzeiro, que Sofia nunca mais olhou, está alto para que ninguém possa ver riso ou choro algum.

O livro passa em um tempo entre 3 anos e 5 anos. No primeiro, ele gastou 6.800 reais por dia, no segundo, 4.100 reais por dia. O Neymar ganha 1.17 milhões por dia. Elon Musk ganha 354 milhões por dia. Palha pensava em ser barão, ele precisaria dar 750 mil réis, 80 mil reais.

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Literatura Brasileira Resumo de Cada Capítulo

“Dois Irmãos” de Milton Hatoum – Resumo de Cada Capítulo

Livro da FUVEST até 2025. Contexto histórico – Próximo da Segunda Guerra Mundial, mudança do eixo de comércio de Manaus para São Paulo, início da Ditadura Militar.

Carlos Drummond de Andrade – “A casa foi vendida com todas as lembranças todos os móveis todos os pesadelos todos os pecados cometidos ou em vias de cometer a casa foi vendida com seu bater de portas com seu vento encanado sua vista do mundo seus imponderáveis” – Poema “Liquidação”

Temáticas:

  • Diferenças de classes sociais
  • Choque entre regiões do Brasil
  • A narração pós-moderna e o conflito do que é memória e o que aconteceu
  • Sexualidade e conflito e identidade
  • Situações paradoxais que propulsionam a narrativa
  • A fatalidade do esquecimento, da morte

O livro não é dividido por muitos capítulos. Há separações que denotam uma passagem de tempo entre capítulos. Para motivos de organização, esses espaçamentos serão chamados de “parte” dentro de cada capítulo.

Prólogo – Zana abandonou tudo que tinha de memórias. Queria que Omar voltasse. Ela perambulava em uma casa que só possuía lembranças de membros da família libanesa e que morava em Manaus. O narrador não teve coragem de vê-la morrer. Ela ainda perguntou, em árabe, se os irmãos tinham se reconciliado.

Capítulo 1 – Parte 1 – Yaqub, 18 anos, o irmão mais velho, chega no Rio de Janeiro, vindo do Líbano. Halim, seu pai, que não via desde seus 13 anos, mal reconheceu o pai. Ao abrir a mala, tinha nada, pois a família do Líbano não queria que o jovem fosse ao Brasil. Yaqub tinha um irmão gêmeo, Omar, que ficou no país, enquanto ele foi enviado para ser ra’í. Enquanto iam para Manaus, Halim ensinava Yaqub sobre os costumes diferentes do Líbano (mijar na parede, cuspir no chão, vestimentas) em relação ao Brasil. Zana, mãe de Yaqub, o encontra no aeroporto, após pagar propina para passar pela segurança, com o garoto ainda enjoado da viagem, a mãe que encontrou de volta um pedaço dela, emociona-se. Yaqub tinha dificuldades de falar em português, enquanto revia seu lugar de infância em Manaus. Yaqub lembrava do caçula, Omar, e como ele era destemido e irresponsável na infância, diferente de si, mais fechado e medroso. Yaqub lembra de uma festa de Carnaval que queria ficar com uma garota. Após obedecer sua mãe e levar Rânia, sua irmã, para casa, voltou ao baile vendo a garota que gostava com Omar – foi a última manhã que viu o irmão, o qual nunca sofria repressões da mãe, voltar do baile, viajou para o Líbano logo depois.

Capítulo 1 – Parte 2 – Rânia, irmã de Yaqub, reencontra-se com o irmão. Yaqub perguntou por Domingas e começou a revisitar a casa. Zana diz que Omar apareceria para jantar com eles. Yaqub olha para fora, lembrando do passado. Os parentes comentaram de como Yaqub tinha chegado do Rio, o garoto tentava falar mas faltavam palavras do português. Começaram a elogiar Yaqub, em contraponto do caçula, ao passo que a mãe disse que os dois eram idênticos em tudo. Yaqub ficou feliz de faltar palavras naquele momento e não dizer nada. Omar chegou e foi recepcionado pela mãe como se ele fosse o filho ausente. Os irmãos se estranharam, mas Yaqub disse que ia melhorar, afinal, “tudo melhora depois de uma guerra.”

Capítulo 1 – Parte 3 – O narrador conta que a cicatriz no rosto de Yaqub foi contado por Domingas, o único traço de diferença física entre os gêmeos. O narrador conta que conheceu Domingas pouco depois do Carnaval. Era costume ir bem arrumado para o cinema ambulante na casa dos Reinoso. Enquanto esperavam o filme, a sobrinha dos Reinoso, Lívia, ficava paquerando os gêmeos. O caçula teve ciúmes. Apesar dela ter o coração de todos, ela gostava dos gêmeos, em específico de Yaqub. A sessão durou pouco pois faltava luz em meio ao dia de chuva. Todo viram Lívia beijando Yaqub enquanto ligavam as luzes do cinema. Omar foi para cima do irmão. Zana culpava Halim pelo comportamento dos gêmeos. Yaqub foi humilhado na escola e permanecia em silêncio. A ideia inicial era que os dois fossem ao Líbano, apenas Yaqub foi, no meio da guerra. Os pais, com medo da violência ir para a casa, mandaram-no para viagem. Voltando ao presente, Yaqub ainda falava nada, apenas comia, no meio das conversas da família.

Capítulo 1 – Parte 4 – O narrador fala da moradia e do comportamento igual aos gêmeos de mesada, educação e moradia. Zana temia os hábitos do Líbano no irmão recém-chegado, além da fala trocada de “p” por “b” e ser quieto. Yaqub com as mulheres, porém, era outra história. “Tinha olhos de boto”. A mãe sabia de antemão e lia os versos copiados das meninas a ele, de prazer quase cruel. Yaqub estudava muito a gramática da língua portuguesa. Era bom em matemática, como opostos do outro irmão (que ouvia as comparações vindas dos pais). Anos depois, Yaqub passaria na Escola Politécnica de São Paulo, “em ‘brimeiro lugar, babai’”. O matemático não dava bola para ninguém, gostava de xadrez mas preocupava os pais de sua falta de ciclo social. Yaqub não gostava de sair, ainda mais nos bailes carnavalescos, festas juninas, jogos de futebol. Compensava a pele sem sol pela matemática que fazia na cabeça, sem precisar tomar notas. Já Omar gostava das farras e “audácias juvenis”. Halim detestava a repetição de comportamento de encher a cara de bebida, voltar para casa e ser auxiliado por Domingas para tirar a roupa, beber água e passar as tardes dormindo na rede de ressaca. Halim não apoiava e repreendia o garoto, mas ele não se abalava, até teve orgulho quando foi expulso do colégio de padres que reprovou duas vezes. Ao encontrar o diretor, ele perguntou à mãe se o outro filho continuaria na escola. Deixou para responder outro dia.

Capítulo 1 – Parte 5 – O Caçula foi estudar no Águia de Haia – apelidado de “Galinheiro dos Vândalos”. O professor de francês mal ensinava, os gestos obscenos na escola eram livres, Laval era o que mais se destacava, professor que recitava poemas e escrevia um para cada aluno. O Caçula contava com gosto como foi expulso do antigo colégio de padres. Deu um soco e um chute no padre, foi punido para ficar ajoelhado do meio dia até ver a primeira estrela. A mãe defendia dizendo que “Bolislau errou”, pois o “filho só quis provar que é homem… que mal há nisso?”. O narrador conquistaria o diploma na mesma escola do Caçula, sendo que o irmão mais novo nem terminou o curso no Galinheiro dos Vândalos.

Capítulo 1 – Parte 6 – Yaqub foi para São Paulo, sem avisar com antecedência e enfrentando as negações da mãe, deixando livros e roupas ao narrador. No Natal de 1949, um ano antes de sua partida à grande cidade, recusou o presente de bicicleta e dinheiro e pediu uma farda de espadachim para desfilar no colégio de padres. O pai aproveitou o dia de silêncio, a mãe foi ver o filho, toda orgulhosa. Yaqub foi destaque do desfile, ganhou até foto e elogios no jornal, além de beijos e flores enquanto desfilava “com um ar de filho único que não era”. Foi Bolislau que recomendou ir embora de Manaus, já se ficasse ali, seria “derrotado pela província e devorado pelo” irmão.

Capítulo 1 – Parte 7 – Yaqub saiu da escola cheio de elogios, ganhou duas medalhas. Os professores sabiam do futuro brilhante dele, diferente do irmão que faltou ao jantar de despedida. Ele só voltou tarde, enquanto Yaqub pedia para não receber dinheiro dos pais. Omar acordou mas dessa vez sem a ajuda das mulheres, que só tinham olhos e foco para o viajante. Recusou a comida fria. Lívia apareceu na casa e perguntou por Yaqub, que foi voando a ela. Domingas foi espiar e viu os dois trocando carícias. Omar, sombra da casa, viu o irmão ainda marcado da garota que amava.

Capítulo 2 – Parte 1 – Há um retorno ao passado, para 1914. Há uma descrição do restaurante de Galib, viúvo e pai de Zana, ponto de encontro de imigrantes libaneses, sírios e judeus marroquinos. Halim recebeu uma indicação de um amigo poeta, Abbas, e começou a frequentar cada vez mais o local. Halim admirava Zana e trazia peixes para Galib, ganhando almoço de graça. Quis comprar um chapéu para a filha do dono do restaurante, mas o amigo poeta sugeriu um gazal (peça de tecido com um poema). Fingiu ter esquecido no restaurante para, semanas depois, receber de volta de Galib. Abbas, ao ver o amigo derrotado, recomendou beber e ter coragem. Halim apareceu bêbado no restaurante para o susto de Galib e Zana. Leu os versos do gazal no meio de risadas dos outros clientes. Dois meses depois, era esposo da garota de 15 anos. Já velho, Halim contava a história ao narrador, confundindo árabe com português, pois contava de vez em quando algumas histórias, “como retalhos de um tecido” que “foi se desfibrando até esgarçar”, era um “romântico tardio, um deslocado anacrônico”. O casamento entre ele e Zana não era bem visto por ser muçulmano. Zana era bem decidida, de “uma teimosia silenciosa, matutada, uma insistência em fogo brando”, sendo a última e definitiva palavra do casal. O casamento seria no altar de Nossa Senhora do Líbano, com a presença das maronitas (tradicional do Líbano) e católicas de Manaus. No casamento, a foto dos dois beijando tinha Zana de olhos abertos, assustada com a voracidade. Halim era um Jó paciente acompanhado de Zana que mandava e desmandava, além de ser “um demônio na cama e na rede”. O narrador disse que contava as histórias com a maior naturalidade, ainda que pausasse para fumar narguile e tentando lembrar de vozes e pessoas devoradas pelo tempo. Apesar do casal não ter viajado para o Líbano, Galib foi, todo contente. Depois de duas cartas, Zana recebeu uma carta enquanto morava no Biblos, de que o pai morreu. Zana ficou desesperada, pedindo três filhos e se agarrando às roupas do pai. Halim tentava convencer de que não adiantava se agarras às coisas, já que eram vazias. Tinha o costume de não guardar dinheiro, agradava mulher e filhos. A dor da morte era grande pois quando viajavam para fora não viam o corpo, recebiam apenas uma carta ou telegrama. E ainda assim, Zana quis que Yaqub fosse sozinho para a aldeia dos parentes dele.

Capítulo 3 – Parte 1 – Yaqub, já em São Paulo, mandava cartas ao fim de cada mês. A vida era sozinha e fria, deixando a mãe de coração partido e o filho caçula com ideias de ter uma festança para afastar essas ideias da cabeça da mãe. Conforme os meses passavam, e talvez pela cabeça de matemático professor paulistano, as cartas diminuíam o número de textos, até entrar na Universidade de São Paulo. Seria engenheiro. Mandaram dinheiro e felicitação, sem entenderem o título, porém, ele agradeceu e mandou o dinheiro de volta. Zana enchia-se de orgulho, levando o crédito do filho paulistano ser dela, não o filho que foi levado ao Líbano por ordens dela.

Capítulo 3 – Parte 2 – O narrador conta como via apenas fotos de Yaqub fardado. Enquanto um era uma figura abstrata de um mundo distante, o outro irmão era bem presente, zombando do sucesso de quem tinha voz e aparência iguais. Zana ficava entre o pouco que recebia de notícias e fotos do filho matemático e de seu falecido pai. O narrador ficava entre as reclamações do paciente Halim e da saudosa Zana. Lembraram de como Domingas chegou à casa, como era próxima de Zana, apesar de ser sua empregada e de como Zana se deixava levar pelo prazer do sexo. Halim lamentava de não ter comércio, já que “exagerava nas coisas do amor”. Halim nunca quis filhos, mas Zana pestanejava por caprichos do marido, sua teimosia e de seu falecido pai, queria três. Tinha muito carinho pelo Caçula que adoeceu nos primeiros meses, temendo a morte. Domingas era uma índia que sonhava na liberdade que deixava para depois, ainda mais quando nasceu Rânia, cuidava dela e de Yaqub com muito carinho. Ela ouvia fofocas da patroa e tinha medo, mas rezavam juntas e tudo voltava ao normal. Como esperado, as noites de sexo de Halim e Zana não eram mais as mesmas. Os gêmeos eram travessos, com destaque em Omar. Numa noite, viu o mosquiteiro pegando fogo e Omar deitado ao lado de Zana. Acordou a casa aos gritos, achava um desaforo o filho dormir na mesma cama. Foi dormir no depósito da loja e até sugeriu para Zana que fizessem amor na frente de Omar. Ela respondeu com ironia para que anunciassem outro filho. Ele começou a dormir no depósito e se trancavam lá por horas quando ela resolvia visitá-lo.

Capítulo 4 – Parte 1 – O narrador conta como sabe pouco de si. Tão pouco dos antepassados, da origem e desconfiava que um dos gêmeos era o pai. Domingas disfarçava. Uma noite de sábado, Domingas pediu para ir à cidade. Zana achou estranho mas deixou, desde que voltasse cedo. Domingas acordou feliz, fez café e identificava os pássaros da região. Ela lembrava de como os pais se encontraram. Lembrou também de como o pai morreu e foi levada ao orfanato. Rezava muito, aprendeu a ler e queria fugir, inspirada em outras do orfanato. Um dia, uma das irmãs pediu que ela tomasse banho, cortasse as unhas e se vestisse bem. Ela foi levada até Dona Zana, com a ameaça de que caso ela se comportasse mal, voltava ao orfanato. Cuidou dos gêmeos, em especial Yaqub, sofreu quando ele viajou. Apesar do pouco tempo que passou, Domingas chegou a vila mas logo foi embora, assombrada pelas memórias e por não cumprir de chegar cedo à casa. Conforme chegavam próximos da cidade, Domingas falava menos. Choveu no final da viagem. O barco balançava fortemente, tanto o narrador quanto Domingas vomitaram. Voltaram para casa sujas, Domingas dormiu na rede e o narrador no chão. No meio da noite, Domingas perguntou se gostava de Yaqub, mas não ouviu mais. O narrador ganhou um quarto separado de Domingas, já estava grande. O narrador ficou fascinado pelo rio, enquanto Domingas jamais viajou de barco novamente. Ia ao cinema e via sessões de domingo.

Capítulo 4 – Parte 2 – O narrador tinha permissão de passear pela casa. Domingas sempre se ocupava em limpar a casa, até demais. O narrador era apaixonado por Zahia. Apesar de filho de Domingas, fazia os afazeres para Zana e alguns amigos dela. Para poder fugir dos trabalhos pesados, ouvia as fofocas da rua e contava para Zana. Chegava até a faltar de aulas para comprar coisas para Zana, sendo que ela pagava fiado e nunca estava satisfeita. Porém gostava menos era de Omar, que não queria que comesse na mesa e ainda precisava ajudar o caçula quando chegava bêbado ou machucado. O narrador só sabia nutrir ódio pelo relacionamento entre Zana, Halim e sua mãe. Ainda assim, era fascinado pelas histórias do pai dos gêmeos. O narrador procurava memórias em uma casa que esquecia o passado.

Capítulo 4 – Parte 3 – Em 1956, Yaqub continuava genial e conquistando objetivos em São Paulo. Omar iria a São Paulo, apesar do matemático não gostar da ideia. Uma noite, Omar levou uma mulher à casa e a deixou em completo caos. Halim esperou a mulher ir embora e deu uma única bofetada no filho que fingia estar dormindo, segurando-o pelo cabelo. Depois, algemou o filho ainda nu no cofre e Halim sumiu por dois dias. As mulheres da casa cuidavam dele. O narrador tentou procurar Halim, sem sucesso. Viu um vira-lata acorrentado que latia e babava. Riu da cena pois lembrou de Omar, já que “toda valentia é vulnerável”.

Capítulo 4 – Parte 4 – Halim decidiu mandar Omar para São Paulo. Yaqub estava casado e ainda não aceitava dinheiro dos pais, nem se quer anunciou o nome da esposa. Zana teve ciúmes, já que “filho casado era um filho perdido ou sequestrado”. No aniversário da mãe, o Caçula trouxe flores, trazendo surpresa para Rânia. Porém, Omar trazia isso como uma máscara de suas intenções, “sorrindo cinicamente para a irmã. Sorria, fazia-lhe cócegas nos quadris, nas nádegas, uma das mãos tateava-lhe o vão das pernas”. Rânia afastou-se do irmão e foi para o quarto. Rânia era reclusa, mal saía do quarto, abandonou a universidade no primeiro semestre, não frequentava festas e dormia em uma cama estreita. Pediu para trabalhar na loja do pai, coisa que nunca veio de Omar. Era uma vendedora exímia, por habilidade e beleza. Recebia cartas de pretendentes, médicos e advogados, mas jogava todas no fogo, as únicas que guardava era de Yaqub. A mãe tinha pena da filha solteirona. Porém, escondendo “seus pensamentos, suas ideias, seu humor e mesmo uma boa parte do corpo”, ela mantinha a loja do pai andando e sua vida. Na única noite que se arrumava, no aniversário de Zana, iludia um pretendente que a mãe trazia e encantava todos, até o narrador. Talib era tarado por ela. Quando recebia o pretendente, dançava, fingindo não saber como e dando esperanças à mãe. Porém, quando aparecia o Caçula, jogava-se aos braços dele, para ciúmes do pretendente. Zana e Rânia competiam pela atenção do Caçula, até que chegou o evento da Mulher Prateada (motivo que Omar foi mandado para São Paulo). Era uma mulher mais velha que conhecia, motivo que a preocupava, já que todas as meninas que Omar trazia eram desconhecidas. Era Dália, tinha sobrenome mas o narrador esqueceu, tinha um vestido vermelho e corpo que chamavam atenção de todos, mais até do que Rânia. Zana duelava com sorrisos falsos com Dália. Rânia, diferente das outras noites, comeu a sobremesa e foi para o quarto. Dália dançava com um corpo prateado, ganhando a atenção de todos, ainda mais da mãe, uma rainha destronada que jamais havia traído Omar. Zana sequer assoprou as velas e foi ao quarto. Zana viu os dois dançando, chamou a mulher para limpar a casa enquanto Omar ficava na rede. Um momento, a mãe a puxou pelo braço e cochichou. Dália foi ao banheiro, com o vestido prateado em uma sacola e com um olhar derrotado. Saiu e bateu a porta com força. Omar, assustado, a perseguiu. Descobriram que ela fazia parte de um grupo de dança e a mãe pediu abrigo para Yaqub ao irmão, que negou prontamente. Escreveu que poderia alugar um quarto, matricular em um colégio particular, enviar notícias mas jamais dormir no mesmo teto. Sabendo dos planos, Omar aparecia menos em casa, xingava o irmão. Descobriram o lar de Dália, uma casa derruída, destruída. O narrador foi visitar a mando de Zana. Foi oferecer dinheiro, as tias da casa aceitaram. Dália sumiu. Em uma noite chuvosa, Omar, bêbado e doente, apareceu. Zana discutiu com o filho sobre a dançarina. O pai deu o ultimato que iria para São Paulo. Zana ainda tentou adiar a viagem e dizer que voltaria depois de alguns meses. Halim não falou mais com o filho até o dia do embarque. Omar viajou dando coices no ar. Foram seis meses de quietude. O quarto ficou do jeito que ele deixou, a pedido dele para Domingas. A mãe demorava para limpar os dois quartos – um bagunçado e o outro que nem parecia ter vida. O narrador entrou no Galinheiro dos Vândalos com a ajuda de Halim. A escola tinha histórias, ex-namoradas e gravuras do Caçula. Conseguiu terminar o curso que o mais novo não concluiu. Omar disse que ia bem e que estudava em São Paulo, acostumado ao frio. A empregada de Yaqub levou doces da mãe para Omar, que comeu com muito gosto. Yaqub, em novembro, visitou o bairro da Liberdade, onde morava Omar, ainda que ele não o queria vê-lo. Yaqub lembrava do começo de sua vida em São Paulo. Pensou em tudo que não teve, na solidão e no que não podia comprar, pensando que “o desamparo engrandece a pessoa” e isso engrandeceria Omar. Foi visitar o colégio do irmão, ele era participativo e prestava atenção. Porém, após o feriado de novembro, o irmão deixou de aparecer na escola e nem avisou que não ficaria mais no quarto. Yaqub tentou procurá-lo em todos os lugares e a esposa disse que não deveria se preocupar. Foi até o quarto de Omar e viu um mapa dos Estados Unidos. Após alguns meses, recebia os doces e também o primeiro cartão-postal.

Capítulo 5 – Parte 1 – Yaqub foi visitar a família pela primeira vez. O narrador ficou aflito, conta de como Domingas estava nervosa. Lembrou de quando Domingas discutiu com Yaqub por levar Lívia a São Paulo, e que não a levou para visitar em Manaus. A mãe perguntou da nora e Yaqub se irritou, falando que “o outro filho vai te dar uma nora e tanto”, e que seria “tão exemplar quanto ele”, o irmão caçula. Zana contou do sonho que teve com os gêmeos se dando bem, Halim reclamou da atenção desproporcional ao caçula e disse para falar com o matemático. Zana e Domingas faziam de tudo para que os gêmeos não se vissem. O narrador conta como ficou em conflito do que contavam de Yaqub a ele – era desconfiado da família, mas saudoso com os lugares da infância que via com o narrador. Porém, a dor do reencontro era maior que a saudade da infância. Foi ao restaurante, ao porto e aos lugares que visitava quando criança, muito sério. Yaqub reclamava do comércio e de como o pai não se inovava. O narrador notava como Rânia se tornava sensual na presença do irmão, recebendo carinhos de Yaqub no colo dele. Viu os dois indo ao quarto e trancarem a porta, só os viu de novo no jantar. Em um jantar que mal tocou na comida, Talib perguntou se ele não tinha saudade do Líbano. Yaqub perguntou “Que Líbano?”. O silêncio reinou na sala, Talib disse que era o Líbano que morava no coração, com a resposta de Yaqub sendo “Não morei no Líbano, seu Talib”. Disse que não havia esquecido uma coisa, mas desistiu de continuar. Talib se retirou após um pedido de tomar licor com suas filhas. Fumava no jardim incomodado. Conversou com Halim e o narrador só o viu no domingo, dia que voltaria para São Paulo. Rânia o acompanhou até o aeroporto, Domingas entregou um pacote de farinha e penca de pacovãs, “abraçou-o; soluçou ao vê-lo partir”.

Capítulo 5 – Parte 2 – Os pais descobrem das aventuras de Omar. Não haviam desconfiado porque ele voltou falando inglês e espanhol. O narrador foi com Halim até a ponta da Cidade Flutuante, local que o pai dos gêmeos vendia. Halim era conhecido e conhecia o pessoal. Um navegante contou a história de um casal de irmãos que vivia ali por perto, longe das pessoas. Halim desembestou a falar mal de Omar e reclamar de como era ingrato. O Caçula mandou cartões-postais de diferentes cidades, Yaqub fez questão de rasgar todos, menos um, ao qual entregou ao pai e que elogiava o país, inferiorizava os pais e os convidava a visitar. Omar tinha roubado o passaporte de Yaqub, além de roupas. Descobriu após a empregada confessar tudo: a invasão do irmão na casa enquanto viajavam para Santos no feriado, os almoços com o dinheiro que os pais mandavam a Omar, os 820 dólares roubados de um “harami, ladrão”. O engenheiro queria o dinheiro de volta. O pai pediu para perdoar, fazendo com que o filho só ficasse mais energético. Afinal, “parece que o diabo torce para que uma mãe escolha um filho”. Não era apenas dinheiro, mas também o casamento que era segredo – Omar havia desenhado nas fotos de casamento. Halim ouviu tudo, disse que ia dar um jeito. Foi para casa com orquídeas, ficou nu na rede, chamou a mulher e fez sexo.

Capítulo 5 – Parte 3 – 6 anos depois da fuga de Omar, Yaqub mudou de endereço. Mandavam fotos que mostravam mais a “decoração e se esqueceram de mostrar o rosto”. A mãe emoldurava as fotos, apesar da diferença visível, fazia elogios em gangorra para Omar e Yaqub. Zana era enciumada com a nora, que enviava presentes para Halim. Zana tinha vontade de destruir tudo. As notícias da nova capital do Brasil ecoavam, Rânia queria modernizar a loja. Halim só queria comer bem, sem se importar com o amanhã. Yaqub foi o pequeno deus que apareceu e reformou tudo, sem dar chance aos pais de dizer “não”. A falta de energia era constante, mas tudo na casa era novo, até o quarto do narrador e de Domingas. A loja até terminou com o fiado e melhorava. Quem desprezava tudo era Omar, não queria nem que pintassem o seu quarto. Zana admirava o filho em fotos com mulheres seminuas, Omar roubava dinheiro da loja, Domingas repunha e Zana dava de presente a Omar no bolso enquanto se arrumava para sair. A loja não era mais a mesma, possuía vitrines e artigos novos da moda. Halim era um conhecido que lembrava-se do passado.

Capítulo 5 – Parte 4 – Depois de Dália, o Caçula se apaixonou por uma mulher apelidada de Pau-Mulato. Apesar de Omar ter parado de voltar bêbado, acordar cedo e barbear-se, sua mãe não ficava calma, ficava aflita. O novo irmão encantava Rânia, conversavam nas refeições e convivia com a família. As filhas de Talib se encantavam com o novo Omar. Omar até trouxe um inglês a sua casa, que recusou as comidas de Domingas. Saiu ele e o inglês no conversível do caçula para surpresa de todos. Zana desconfiava do filho, viu que o emprego do filho era falso. Ele estava participando de contrabando. “Quando o destino de um filho está em jogo, nenhum detetive do mundo consegue mais pistas que uma mãe.”. Halim desconfiou de Zanuri, um agente do governo, que frequentava a casa e vigiava casais. Delatou o episódio que Omar encontrou com a mulher, a mãe foi aos poucos dando indícios, até que Omar percebeu. Foi dando sinais e disse que ele devia sair de casa, o que aceitou. No fatídico dia que iria embora, a mãe brigou com ele, num misto de quer que vá embora mas que fique de mãe. O pai, por outro lado, deliciava-se com a saída do caçula. A mãe causou um alvoroço na casa após as palavras duras de um filho que saía e pedia para não ser seguido, já que o outro dava orgulho. As mulheres sentiam falta do Caçula, ainda que o narrador não entendesse como e o quê. Halim, sem ser amado, prometeu que traria de volta o filho.

Capítulo 6 – Parte 1 – Halim envelhecia, apesar do corpo demorar para mostrar. O narrador nasceu em um dia de briga, já que Azaz contou que Halim estava de graças com algumas indígenas. Chamou o sem-teto para brigas às 3 – o valentão apareceu horas antes e o pai dos gêmeos apareceu meia hora atrasado. Foi um banho de sangue. Azaz morreu três anos depois, Halim nem festejou. O pior foi quando voltou no dia da luta para casa, viu Omar brigando com Yaqub e Zana tentando apartar. Halim tirou a camisa e rodopiava a corrente de aço, chamando os filhos para a briga. Zana pediu calma, ouviu o boato dele ter filha com indígenas e disse que “estaria em paz se tivesse meia dúzia de curumins soltos por aí”. Mandou Omar ao quarto, Yaqub foi se esconder no quarto de Domingas com o filho, Domingas e Zana cuidaram dos ferimentos de Halim, cheio de furos e marcas de navalha.

Capítulo 6 – Parte 2 – Halim procurava Omar, foi atrás do Booth Line, procurar Wyckham, o inglês contrabandista. Procurou nos lugares que Omar frequentava e nada, só tinha notícia de que Omar foi aos Estados Unidos para ter um supermercado de importados. Na quarta noite, descobriu por Tannus, que o ajudava na procura, que o nome de Wyckham era Francisco Keller, Chico Quelé, filho de alemães pobres e era inglês coisa nenhuma. Soube do conversível que foi um carro adaptado, peças de um, motor de outro. Foi daí que Omar conheceu Quelé, que aparecia dando agrados e Omar que procurava mulheres, além de conhecer a Pau-Mulato. Omar queria sempre mais. Halim continuava com a procura com Tannus. Ficaram em círculos, chegaram a repetir trajetos, enquanto Tannus aproveitava para fazer comércio.

Capítulo 6 – Parte 3 – Halim esperava por um pequeno milagre, ainda que fosse pouco religioso e adiava a crença. Rânia, agora tutora da loja, controlava as despesas da casa, exceto do peixe, já que comiam bem. Mas era peixe até demais. Halim começou a prestar atenção no peixeiro, Adamor, o famoso Perna de Sapo. Tentava vender os peixes ruins, mas Domingas era boa para saber da qualidade do peixe. Apesar de esbravejar contra a indígena, ela fazia comentários duros mas prezava pela apresentação do vendedor. Adamor era sobrevivente de guerra e salvador de um herói americano. Ao longo do tempo que Omar estava sumido, Adamor prestava atenção nas dores de Zana, meio chorando meio querendo vender. Halim queria a atenção de Zana mas nem lendo os gazais era possível. Um dia, ele viu Zana e Adamor saindo juntos, ela vestindo a melhor roupa, chovia uma chuva triste e fina. Omar foi encontrado, vivendo metade na terra, metade nos rios, foi Perna de Sapo quem achou, vivendo como pescador e cartomante, sem terem se afastado da cidade. Ele estava careca, com barba grisalha, olhos esbugalhados e tomava banho quando a mulher o dava, vendia peixes na madrugada por qualquer preço. Omar foi até a antiga casa e começou a destruir tudo com uma corrente, esbravejava contra o pai sobre o irmão engenheiro. As mulheres ficaram assustadas e fugiam dele, o Caçula rosnava, enquanto o narrador segurava sua posição para se defender. Apesar de esperar pela raiva, Omar foi se acalmando, a mãe foi tentando acalmar o filho perdido. Abraçou o filho e pediu ao narrador e às meninas que limpassem tudo. O narrador comenta do espelho que Omar quebrou, pois já não precisaria lustrar com tanto zelo. Halim comprou outro, o qual o narrador limpava com menos zelo.

Capítulo 6 – Parte 4 – Na madrugada que Zana e o Perna de Sapo saíram, Halim pediu ao narrador para ir vigiar. Omar estava por perto, todos perceberam a presença de Zana, já que seu cheiro era inconfundível. Todos viam ela chegar, tal qual chegava para encantar Omar. O narrador só conseguiu ouvir o choro e a voz de Zana falando que o filho voltaria para casa. Omar retornou à casa. “O Caçula foi mimado como nunca”. Rânia ia abrindo o cofre da loja, cedendo ao irmão, que ia acariciando ela por beijos, afagos, lambidas. Omar sentiu-se derrotado de não poder ter uma vida simples com uma mulher, mas ter que ficar na tutela da mãe com várias putas. Omar voltou ao lar. O narrador discutiu com Halim sobre o seu futuro e se aprendeu algo onde estudava, dizendo que nem o Galinheiro dos Vândalos Omar terminou. Disse que nunca queria filhos e que os queria em outro país. Reclamou de como Zana se comportava, da vida difícil no começo do Brasil, da preferência do filho mais novo por parte da mulher. Halim envelhecia, mal jogava, mal subia as escadas e nem identificava as pessoas que passavam perto dele. Era “um náufrago agarrado a um tronco, longe das margens do rio, arrastado pela correnteza para o remanso do fim”.

Capítulo 7 – Parte 1 – Na primeira semana de janeiro de 1964, Antenor Laval, o professor de francês, foi falar com Omar. Perguntou ao narrador se tinha lido os livros. Foram ele e Omar resolver algo. A mãe estranhou a sobriedade. Omar pediu dinheiro para Rânia, a mãe pedia para Rânia ceder e ela se enraiveceu. Amava o comércio, o narrador a ajudava com frequência, tentando ao máximo ouvir as histórias dos clientes. Halim não aguentava mais ver Omar, lamentava a filha que sustentava “aquele parasita”. O narrador estudava no Liceu. Falava do poético professor de francês. Em sua última aula que o viu, o narrador anotou “Que cherchent- ils au Ciel, tous ce aveugles?” (Os Cegos, Baudelaire), o professor saiu da sala sem dizer nada. Foi preso no dia seguinte. Foi humilhado na praça das Acácias, “esbofeteado como se fosse um cão vadio à mercê da sanha de uma gangue feroz”. O narrador pegou a mala do professor Laval e levou consigo. No dia de sua morte, acenderam tochas, todos tinham um poema manuscrito do mestre. Após um minuto de silêncio, começaram a ler os poemas do mestre. O Caçula foi o último a ler. Até escreveu um dos versos com tinta vermelha ali. O narrador teve pena dele.

Capítulo 7 – Parte 2 – A cidade vivia em medo. O narrador ainda lembra de Laval. Corria no Liceu que Laval era “militante vermelho, dos mais afoitos, chefe dos chefes, com passagem por Moscou”. Escreveu muito, não gostava do título de poeta, mas não recusava o título de mestre. Em meio a ver Laval, viu um espectro na casa, era Yaqub.

Capítulo 7 – Parte 3 – Yaqub não tinha perdido a pose de espadachin, Domingas abraçou, “o abraço mais demorado que ela deu num homem da casa”. Domingas preparou a mesa, a rede, ele foi deitar e pediu para que Domingas ficasse perto dele. Várias vezes mencionou o nome do narrador. Ele ria, mas parou quando Domingas passou a mão na cicatriz, “traço estranho na face esquerda”. Omar chegou ensopado, viu o irmão. Yaqub balbuciou algumas palavras e o Caçula ignorou, subiu ao quarto. Omar chamou Domingas, que a ignorou, sorrindo. Yaqub era um alguém que quis provar a si mesmo. A mãe foi abraçar o filho que chegou, mas percebendo que o Caçula gemia. Halim reclamava dos soldados, Yaqub disse que finalmente “Manaus está pronta para crescer”. Yaqub trabalhava na casa dos pais, voltou sem vestir terno. Acordava bem cedo, gostava de ver o dia amanhecer e as cores mudarem. Prometeu ao narrador que levaria-o para ver o mar. O narrador desconfiou de Yaqub saber da morte de Laval. Yaqub ficou pensativo, falou que outro professor em São Paulo sem terminar a frase. A cidade estava ocupada pelo Exército e Marinha. O comércio de Rânia fechou. Yaqub não se abalava, era oficial da reserva, como dizia orgulhoso. Em uma tarde que foi sair para fotografar edifícios, vários soldados apareceram em jipes. Desesperou-se, foi resgatado por Halim e Yaqub, ardendo de febre. Nos últimos dias, Yaqub acariciava-o, até Halim se preocupou com o “neto bastardo”. O que não foi deixado de gastar com médico, Yaqub ofereceu de dinheiro para Domingas, que aceitou desta vez. O narrador não sabia se veria Yaqub de novo, “ele não gostava de prolongar a despedida; segurou” as mãos do narrador e disse escreveria e mandaria livros. Halim abraçou o filho que tinha presa, chorava e balbuciava que ali era a casa do filho. Pediu para ver a nora, Yaqub disse que traria e que ficaria num hotel. Yaqub disse que ficaria num hotel pois não era obrigado a aturar os surtos do Caçula, ainda que não tivesse falado dele, mas falou alto para que ouvisse. O narrador perguntou se Yaqub era o pai. Não aguentava a humilhação da mãe, que ignorou o assunto. Omar ficava cada vez mais doente e saudoso.

Capítulo 7 – Parte 4 – Omar teimou de catar frutas podres, folhas e colocava em um saco. Tinha nenhum conhecimento, machucava-se. O narrador ficava feliz pois podia estudar aos sábados. Rânia foi até a loja para limpar tudo, com ajuda do narrador. Limpava tudo, “não teve pena de jogar nada fora”. O narrador encarou o corpo de Rânia, vendo também através da roupa. Beijaram-se. Após horas, Rânia disse da festa de quinze anos que não teve, falando que a mãe implicou com o homem que ela amava. Porém, ela nunca disse quem era o homem, pediu para que fosse embora e nunca mais voltou a ajudá-la.

Capítulo 7 – Parte 5 – Zana olhava para o narrador estudando e para o filho que remexia no quintal. Um dia, as duas filhas de Talib, Zahia e Nahda, chegaram na casa e viram Omar pelado no quintal. Quando percebeu que estava sendo vigiado, tapou a virilha. Porém, estava com o ramêmi, pênis, com pus, estava doente de novo. Tinha uma gonorreia galopante e Zana só sabia disso agora. Halim não sabia de nada e Zana mentia que ele tinha ressaca, em vez de contar a verdade. Halim saía por aí com mais frequência, fosse de dia ou de noite. Ele percebia que estava envelhecendo e que as pessoas ao seu redor morriam. Estava cada vez mais audacioso, comia a comida de Lívia em vez da de Zana. Em uma tarde, o narrador achou Halim na beira do Rio Negro, vendo a demolição da Cidade Flutuante. Chorava muito com os outros moradores. Uma noite apenas que a busca do narrador pelo pai dos gêmeos foi em vão, na véspera de Natal de 1968. Esperaram Halim voltar, dizendo que era costumeiro o seu desaparecimento. Porém já de madrugada, o acharam no sofá. Tentou falar com ele. Tentou até falar em árabe. Porém, não respondeu, estava “calado, para sempre”.

Capítulo 8 – Parte 1 – Dois meses antes de Halim morrer, Omar desapareceu. Continuou exercendo a ocupação de jardineiro. O narrador até torceu para que voltasse às festas e “nunca mais se erguesse da rede vermelha”, mas não aconteceu. Continuava arrumando, subindo na árvore, sem limpar os cupinzeiros, tarefa que acabaria ficando para o narrador. O narrador gostava de ver o espetáculo. Halim evitava ver fogo, suas consequências e ficar parado, morto, como o pai ficou. Viu o pai morto sentado no sofá, começou a gritar, lembrando de quando ficou acorrentado. Talib chegou com as filhas, a tempo de evitar o “confronto entre o filho vivo e o pai morto”. Rânia ficou desesperada, tal qual Zana tinha ficado quando aconteceu com o pai dela. Zana jamais tinha contado que tinha lido os gazais que Halim deixou no restaurante de propósito. Repetia os versos de quem achava isso tolo, romântico, curiosa e aliviada. Yaqub mandou flores com dizeres, Omar ficou afastado, vendo o enterro. Poucas semanas depois, Omar foi repreendido pelas palavras grosseiras que apontou para o pai morto, “humilhar o esposo morto, isso Zana não admitia”. Disse que deveria abandonar o “trabalho de péssimo jardineiro” e procurar um emprego. Omar parou de ir ao quintal. Rânia ofereceu trabalho, ao qual ele riu com “trovões de uma bronquite cônica” e dentes amarelos e afiados. Zana ficava quieta, de luto. Manaus mudava, menos Omar. Tentou agradar a mãe, que apenas queria “paz entre os” filhos. Um dia, Omar surgiu com um homem desconhecido. Rochiram, era um indiano que começou a frequentar a casa, falava manso, misturando inglês e espanhol. Ele começou a trazer presentes, conquistando a atenção de Zana. A família tomou curiosidade pelo indiano e Omar morria de medo de falarem o nome de Yaqub. Rochiram estava sendo ajudado por Omar a “encontrar um terreno perto do rio”. Começou a ficar desconfiado, até mesmo do pai morto, deixou de levá-lo para casa. Zana quis datilografar uma carta para Yaqub – o engenheiro ajudaria com a planta e Omar ajudaria o indiano em Manaus, tudo para que puddeve ter o “seu grande sonho” de ver os filhos reconciliados. Tinha falta de Halim, não podia “morrer vendo os gêmeos se odiarem como dois inimigos”. Já que Yauqb era mais estudado, ele poderia entender melhor, tanto do Líbano, quanto do filho que não saia de perto da mãe. Enviou a carta. Yaqub disse que o que tinham era entre eles, mas se interessou pelo hotel, ignorando a participação do irmão. Rânia mostrou a carta, tentando ter algo para mostrar a Omar, que riu. Quando mencionou da construtora, piorou. Omar se esquivava de todos e esbravejava contra Yaqub. As mulheres apenas viam em silêncio. O narrador conseguiu escutar que Yaqub estava em um hotel por ali, um hotel muito simples e escondido. Em um dia de chuva forte que trouxe goteiras, tiveram que tirar a mobília dos quartos enlameados. No outro dia, Omar acordou cedo, sem comer o manjar que era feito a ele todos os dias e avisou que não voltaria para o almoço. Antes das onze, enquanto o narrador limpava os arredores da casa e cavava fossas, Yaqub apareceu. Trouxe roupa para Domingas e livros para o narrador. Estava com o corpo ereto e a expressão saudável, o que o deixava “bem menos envelhecido que o Caçula”. Ele havia ido ao cemitério ver o túmulo. Comeu o que Omar deixou para trás, chamou o narrador que mostrou os desenhos, vendo o corpo sujo de terra. Disse a ele sobre os cálculos e de que “não podes passar a vida limpando quintal e escrevendo cartas comerciais para Rânia”. Domingas pedia para Yaqub fugir e sair dali, apesar dele querer ficar com Domingas, que só observava o corredor. Porém, o inevitável aconteceu – Omar chegou e destruiu Yaqub. Os vizinhos ainda o ajudaram, mas Omar ainda descontou nos desenhos e na louça da cozinha.

Capítulo 8 – Parte 2 – Yaqub se contorcia na rede, tinha o rosto inchado e a boca que não parava de sangrar. Domingas tratou de limpar tudo antes que Zana chegasse, pediu para mentir sobre Yaqub. Zana não engoliu a mentira, achou o passaporte roubado de Yaqub por Omar no quarto do Caçula. Ficou pensando, repensando, analisando como Omar tinha ficado com mulheres e não ia para frente. Zana tinha o sonho desfeito, falou que Yaqub tinha se reunido com o indiano e “estragou tudo”. Rochiram apareceu na loja de Rânia, pedindo muito mais do que antes. Ameaçou sabendo conhecer pessoas influentes, a irmã pediu tempo. Domingas ficava preocupada com Yaqub. Zana já não pintava o cabelo e mechas grisalhas apareciam.

Capítulo 9 – Parte 1 – Domingas piorava de saúde, pensando em Yaqub. Em uma tarde de domingo, ela foi passar com o narrador por Manaus Harbour. Passeou por ali, viu conhecidos e rezou. Começou a contar de quando nasceu e como Halim cuidava dele, dizendo que ia estudar, foi no batismo, pediu o nome do pai dele no menino, Nael. Omar não aceitava essa proximidade de Domingas com Yaqub, em uma noite, bêbado, “agarrou com força de homem”. Na casa, Zana começou a chamar o filho agredido de agressor. Zana estava cada vez mais desnorteada, sem marido e sem Domingas. Ela pedia pelo filho Caçula de volta. Talib dizia que uma porta fechava e a outra abria. Rânia começou a se livrar de tudo da casa que lembrava do passado. Quando voltou para casa, o narrador encontrou Domingas enrolada na rede de Omar, armada no quartinho. Viu os olhos fechados, balançou a rede mas a mãe não mexeu. “Ela não dormia”. O narrador lembra dos cheiros e de como a mãe o deu o que mais queria saber, sua origem. Zana chamou por Domingas, até a vê-la na rede e abraça-la de joelhos.

Capítulo 9 – Parte 2 – O narrador tentou escrever em vão que sua mãe morreu. Filosofou sobre esperar a morte e o esquecimento. Pediu a Rânia que a enterrasse no jazigo da família.

Capítulo 10 – Parte 1 – “A casa foi se esvaziando e em pouco tempo envelheceu”. Rânia mudou para um bangalô. Zana teimava em ficar na casa. Caiu e teve que engessar braço e clavícula. Estendia a roupa de Halim, sentava ao lado direito de onde o filho almoçava, de noite chamava Domingas. O narrador ia assustado correndo, ver Zana perto do oratório. Rânia tinha medo de Rocharim aparecer e queria abandonar Manaus. Continuava enxotando clientes e ex-pretendentes que compravam de tudo e sorria ao próximo cliente. Eram menos visitas, mais tempo de estudo para o narrador. Estelita passou para visitar Zana e recebeu acusações da filha da irmã dela, Lívia, acabar com a casa. Zana queria ver mais ninguém. Só tolerou a visita de Emilie. Aos poucos, Zana contava coisas que poucos sabiam. Seu nome era Zeina. Disse que Halim incomodou-se de quando Domingas foi para a casa, que mudou muito depois que Domingas engravidou. Quando ia ter o filho, Zana perguntou se ia aturar um filho de ninguém como havia reclamado antes, no qual ele “se aborreceu, disse que tu eras alguém, filho da casa”. Ela falava e fazias as próprias perguntas. Até falou que sabia que o narrador os espiava quando eles faziam sexo no tapete que rezavam. A vontade de viver de Zana ia dissipando conforme ia percebendo que Omar não voltaria. Chorava e conversava com fotos. Cinco semanas foram necessárias “para ofuscar a casa, para dar um ar de abandono”. Um dia que uma boca de lobo entupiu e Rânia pediu ajuda do narrador, um homem entrou na loja, era Rochiram. Ela ouviu o que tanto esperava e já sabia, “a dívida dos dois irmãos em troca da casa de Zana”, mas a surpresa veio que o irmão engenheiro já estava de acordo com as condições. Foram para o bangalô, Zana saiu da casa, vendo lugares vazios que faltavam algo. Cozinhava, procurava Domingas e esperava Omar, segurando sua rede encardida, “esperava a visita que nunca veio”.

Capítulo 10 – Parte 2 – O narrador ficou sozinho na casa. Zana levou o que tinha de roupas de Halim, a fotografia do pai e a mobília do aposento. Rânia apareceu para pedir que cuidasse da mãe, que voltou a quebrar o braço. Rânia pediu para que chamasse uma das meninas do cortiço, mas Zana queria ninguém, o narrador cuidava. Zana ia sofrendo de “tanta saudade de Halim e do Caçula diluía a beleza do rosto dela”. Orava para que Omar não morresse, que voltasse. Não falava de Yaqub. Em um dia, Zana sumiu, acharam-na no galinheiro. O narrador pediu por ajuda mas ela disse que dali não saía, foi levada com muito custo para o carro, enquanto chorava. Teve hemorragia interna, ficou internada. O narrador a visitou, ela já se esforçava muito para poder lembrar e só podia falar em árabe. Procurou as mãos dele e balbuciou “Nael… querido…”.

Capítulo 11 – Parte 1 – Zana morreu com o filho ainda foragido. Não viu a casa que morava renovada. Tinha gente de tudo quanto é lugar na Casa Rochiram, até mesmo de Brasília, mas ninguém que era da rua, que o narrador conhecesse. Porém, havia um corredorzinho que conduz aos fundos da casa, que pertencia ao narrador, a herança dele. Yaqub queria assim: facilitar a vida do narrador e arruinar a do irmão. Disse que seria melhor receber a bagatela para que Omar não sofresse as consequências. Rânia arrancou a assinatura da casa da mãe só no hospital, quando ela tentou reconciliar os irmãos. Ela não sabia que Yaqub saiu antes do hospital e de Manaus pois Omar apareceu por lá. Omar saiu andando, bebeu e esbravejou a história. Rânia tentou comprar o silêncio, Yaqub fez corpo delito e comprou advogados atrás de Omar. Yaqub teve paciência de pantera, perseguia Omar que vivia de favores. Rânia não conseguia mais pagar pelas dívidas que Omar continuava fazendo, as queixas continuavam e Rânia esperava pelo pior.

Capítulo 12 – Parte 1 – Rânia achou Omar, com um destino conectado ao de Laval, na praça das Acácias. Os policiais apareceram aos montes, as pessoas fugiram. Omar, como esperado, reagiu, rindo deles. Recebeu uma coronhada e um ticket de ida para o presídio. Rânia se desesperou perguntou para onde ia. Ficou incomunicável no presídio. Tentava comprar os policiais em vão, a conexão de Omar com Laval era uma condenação política. Estava em condições deploráveis na cela que enchia de água nas chuvas. Na manhã que saiu para o Tribunal, Rânia estava sozinha. Omar era só osso e pelanca. Rânia escreveu a Yaqub, dizendo que “a vingança é mais patética do que o perdão”. Ameaçou devolver tudo que tinha dele, reclamou de como tratou a mãe e o irmão. Foi nessa época que o narrador se afastou de Rânia, o lugar dele não era ali.

Capítulo 12 – Parte 2 – Omar saiu às custas dos poucos níqueis de Rânia. Omar queria ver a mãe e chorava. Rânia tentou se aproximar mas Omar continuava perambulando por aí. Yaqub continuava escrevendo ao narrador, pedindo por flores no túmulo de Halim e de Zana. Não falava de Rânia ou de Omar, perguntava quando iria visitá-lo em São Paulo, o que adiou por vinte anos. “Não quis ver o mar tão prometido”, sequer encostou nos desenhos rasgados. Queria distância dos cálculos de Yaqub. Nas últimas cartas, ele só falava do futuro, “essa falácia que persiste”. O narrador guardou apenas uma única foto, a qual Yaqub estava perto do Bar da Margem. Recortou a foto para ver o rosto de Domingas, sorrindo. Anos antes de Yaqub morrer, queria mais se distanciar do que estar perto dos irmãos. A dor que os gêmeos causaram eram iguais, o sentimento de perda o narrador deixou aos mortos. O que Halim desejou tanto os filhos cumpriram: não tiveram filhos.

Capítulo 12 – Parte 3 – O narrador viu Omar pela última vez, em uma chuva de tarde de meio-céu. Foi o dia que tinha dado a primeira aula no Liceu que estudou. Ainda morava no mesmo quartinho na Casa Rochiram. Tinha um bestiário da mãe, única coisa que sobrou dela ali. Começou a reunir as conversas com Halim, os escritor de Laval, passou “parte da tarde com as palavras do poeta inédito e a voz do amante de Zana”. Desde que Zana morreu, não cuidava da natureza, era uma conexão ao passado que não podia ter mais. Omar invadiu o refúgio do narrador. Era já quase velho, um homem de meia-idade. Não reconheceu o local ou agia como quem não reconhecesse. O narrador esperava uma palavra. Quis dizer algo. Titubeou. Olhou para o narrador, emudecido. “Deu as costas e foi embora.”.

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Castro Alves Literatura Brasileira Romantismo no Brasil

Mocidade e Morte – Castro Alves

Oh! Eu quero viver, beber perfumes

Na flor silvestre, que embalsama os ares;

Ver minh’alma adejar pelo infinito,

Qual branca vela n’amplidão dos mares.

No seio da mulher há tanto aroma…

Nos seus beijos de fogo há tanta vida… –

Árabe errante, vou dormir à tarde

À sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma voz responde-me sombria:

Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer… quando este mundo é um paraíso,

E a alma um cisne de douradas plumas:

Não! o seio da amante é um lago virgem…

Quero boiar à tona das espumas.

Vem! formosa mulher – camélia pálida,

Que banharam de pranto as alvoradas.

Minh’alma é a borboleta, que espaneja

O pó das asas lúcidas, douradas…

E a mesma voz repete-me terrível,

Com gargalhar sarcástico: — impossível!

Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.

Vejo além um futuro radiante:

Avante! – brada-me o talento n’alma

E o eco ao longe me repete – avante! –

O futuro… o futuro… no seu seio…

Entre louros e bênçãos dorme a glória!

Após – um nome do universo n’alma,

Um nome escrito no Panteon da história.

E a mesma voz repete funerária: — Teu Panteon – a pedra mortuária!

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Literatura Brasileira Resumo de Cada Capítulo

“Marília de Dirceu” de Tomás António Gonzaga – Resumo de Cada Capítulo

O livro é uma história de amor de poemas escritor por Dirceu (Tomás António Gonzaga) a Marília (Maria Doroteia), um amor entre o autor aos seus 40 anos com uma jovem de 16 anos. Por fazer parte da Inconfidência Mineira, Tomás António Gonzaga seria preso. No dia que iriam se casar, que ele marcou de propósito no dia que seria preso e era também o dia que Maria Doroteia teria 18 anos, não houve pena do autor e ele ficou exilado em Moçambique para cumprir a pena. Maria Doroteia nunca soube mais dele e morreu aos 85 anos. Tomás António Gonzaga casou-se com uma filha de comerciante de escravos, teve dois filhos e morreu aos 66 anos. Seu corpo foi levado ao Brasil e enterrado junto ao corpo de Maria Doroteia. O livro é um conjunto de poemas que varia de sílabas poéticas e rimas. São 3 partes (as 2 primeiras escritas antes do exílio, a terceira em Moçambique), com 33 liras, 38 liras e 9 liras, respectivamente. Foi publicado em 1792 (a primeira parte), em 1799 (a segunda parte) e em 1812 (a terceira parte). Há uma mistura de características do Arcadismo e do Romantismo, sendo a primeira mais presente do que a segunda.

Parte I

Lira 1

A parte 1 é publicada em 1792. Lira é um instrumento que acompanha a leitura dos poemas, principalmente na Grécia Antiga, que deveria ser cantada (por isso o nome “eu lírico”). Dirceu se apresenta como um vaqueiro que tem seu próprio gado, que não trabalha para outras pessoas. O amor é tratado racionalmente – nos moldes do Arcadismo – e tenta convencer logicamente a Marília que ele é uma boa opção. Ele se apresenta como dono de terras, que possui talento e que está bem preservado (que não parece velho).

Lira II

Dirceu começa a descrever Marília. Apesar dele citar os cabelos de Marília em partes da obra em ser loiro, ela é morena (o Arcadismo segue os moldes greco-romanos de beleza, como o amor é idealizado, Marília é descrita com o cabelo loiro mesmo que seja morena, e, há, até, partes do texto que ele confunde a cor). Marília é retratada como um amor distante, já que o amor na vida real não era aceito pela família de Maria Doroteia por conta da diferença de idade entre os dois.

Lira III

Dirceu diz que ama Marília pois é humano amar. Ela é bela, e ignorar a beleza é estar fora de razão. O amor no Arcadismo é galante, ele tenta convencer, mostrar o que possui. Não é como o amor romântico (apesar de alguns traços do Romantismo começarem a aparecer na obra) que é fatalista e extremamente exagerado, o amor árcade é comedido, racional, comparativo.

Lira IV

Dirceu conta como ver Marília fez seu corpo mudar. As relações são com vocabulário pastoril – em vez de espelho, uma fonte, em vez de senhor, pastor, em vez de posses, gado – e o amor é uma relação de servo como era no Trovadorismo, trocando a imagem da Senhora e do Vassalo para Pastor e Camponesa.

Lira V

Dirceu fala dos sítios que possui e cita Alceu, pseudônimo para Inácio José de Alvarenga Peixoto, um dos participantes e principais articuladores da Inconfidência Mineira, além de poeta carioca do Arcadismo (Tomás António Gonzaga nunca quis confessar de sua participação e sempre tentou deixar registrado que era inocente, pois poderia ser morto por isso). Há a descrição do campo ao seu redor, seguindo os conceitos de Fugere Urbem (do latim “fugir da cidade”, voltar à simplicidade dos campos em meio à intensificação da industrialização dos centros urbanos).

Lira VI

Há uma mudança nas sílabas poéticas de lira em lira, variando entre versos decassílabos (10 sílabas poéticas, separando as sílabas por quantas vezes caem o queixo/há uma pronúncia de uma vogal forte até outra) como nesta lira ou em redondilhas maiores (7 sílabas poéticas). Dirceu fala do talento – Estrela – e até cita Alceste (pseudônimo para Glauceste, Cláudio Manuel da Costa) que ele chora pelo talento em escrever poemas que Dirceu tem. E mesmo com esse talento e de várias outras coisas interessantes no mundo, Dirceu que é feliz por passar horas olhando para Marília.

Lira VII

Dirceu tenta explicar a beleza de Marília e falha, pois não tem recursos que poderia comparar ela por ser tão bela. Ele chega a comparar ela com os deuses greco-romanos, uma das táticas do Arcadismo de recuperar elementos da Grécia e Roma Antiga, e diz que venceria a beleza de todas. Porém, o que se destaca também do Arcadismo é a linguagem simples do poema, como uma forma de negação do Barroco de possuir uma linguagem que é exageradamente complicada, o Arcadismo traz poemas compreensíveis, de fácil leitura, sem usar palavras não usuais ou construções que confundem os leitores.

Lira VIII

Dirceu pergunta o motivo de Marília estar se queixando de estar apaixonada. Há o uso de elementos da natureza – pombas, ninho – para falar que é a Lei da Natureza amar. Se até as Deuses e os animais amam, como ela poderia não amar? É uma tentativa de Dirceu argumentar o amor, tornando ele racional, em vez de puramente impulsivo (como o seria no Romantismo).

Lira IX

Dirceu diz como ele tem suas mãos nos cabelos de Marília, em vez de estar em martelos, bigornas e ferros de trabalho como outros vaqueiros. Como é um período próximo da Revolução Francesa e também perto industrialização do Brasil, Dirceu ser dono de capital e não trabalhar para outros mostrava como seria vantajoso Marília estar com ele (na vida real, Tomás António Gonzaga era juiz).

Lira X

Há uma mudança para 4 sílabas poéticas na lira X. Dirceu conta como o Amor (em letra maiúscula, citando a divindade, não o sentimento) traz setas – flechas – que atingem os mortais, traz guerras, foi ao Céu e à terra. Inclusive, que a própria Marília possui essas flechas, falando como ela faz quem olhe para ela se apaixone. Então, a única forma de não se apaixonar, é fugindo do seu rosto lindo.

Lira XI

Por ser uma obra com tantas edições, que só perde para “Os Lusíadas”, sendo uma citação do próprio Manuel Bandeira, há uma metalinguagem – conversa de um texto com outros textos – com Virgílio (inspiração de Tomás António Gonzaga) e Homero na questão de escrever poemas. Ele pede inspiração para as Musas – divindades que trazem o espírito poético aos poetas – para escrever seus poemas, que seja maior do que já foi escrito, para falar de Marília. Dizendo que toda a natureza se silencia perante o simples falar de seu nome.

Lira XII

Dirceu narra uma batalha que trava e de como o Amor jamais morrerá enquanto Marília continuar vivendo. Perceba que, mesmo que o sentimento do amor tente ser mais racional no Arcadismo, é possível perceber um exagero dos sentimentos que será tão comum ao Romantismo.

Lira XIII

Há citações de deuses e elementos da cultura greco-romana, já que o Arcadismo possui esta retomada de princípios e valores da época. Dirceu diz que tudo faria – desde ir ao Céu e ao Inferno – por Marília. Como é um amor de galanteio, há sempre uma argumentação, convencimento e exposição para poder amar.

Lira XIV

Dirceu conversa com Marília para aproveitarem o momento, já que eles irão morrer. Este conceito é aplicado ao Carpe Diem – “aproveite o dia” – no sentido de aproveitar o que já se tem, não de que você deve fazer loucuras porque vai morrer, mas ficar feliz com o que está ao seu alcance hoje.

Lira XV

Aqui, o vocativo muda para Alceu – Alvarenga Peixoto – sobre a perfeição natural da beleza de Marília. O vocativo aqui muda pois, geralmente, Marília é usada como o vocativo (a voz com quem o eu lírico, Dirceu, conversa e fala) ao longo do poema. Até mesmo, o uso dos nomes é alterado para que fossem mais semelhantes à Grécia e à Roma.

Lira XVI

Agora, o vocativo muda para Glauceste – Cláudio Manuel da Costa – para poder comparar as pastoras – Marília de Dirceu e Eulina de Glauceste, em como cada uma se comporta com o amor que recebe dos pastores. Perceba que o próprio livro possui um aspecto de posse, já que a Marília é de Dirceu (Marília de Dirceu). Como é um período de intensificação de ideias burguesas de propriedade privada, o amor também se modifica para esta ideia de posse, em vez de uma relação emocional como era nas escolas anteriores.

Lira XVII

Dirceu compara suas emoções com elementos da natureza – a ideia de um local tranquilo para o amor é do Locus Amoenus. Ele diz como os céus ficam triste quando ela está, até porque ela tem ciúmes de alguém que estava interessado nele, e Dirceu pede para que ela não tenha. A relação de pastores é uma tentativa de fugir da vida de cidades, uma forma de ir para simplicidade do que são os centros urbanos na época.

Lira XVIII

Dirceu lamenta que logo será velho como um que ele está falando para Marília. Esta percepção da vida e morte é um dos pressupostos do Arcadismo para que a vida seja aproveitada, em vez do que será colocado no Romantismo como uma forma de escapismo de uma realidade cruel.

Lira XIX

Dirceu chama Marília para prestar atenção no local calmo que estavam – Locus Amoenus – assim como viam o gado e ficavam na sombra. Isso traz uma oposição à rápida urbanização dos centros urbanos brasileiros.

Lira XX

Há uma narração de Marília se machucando com uma rosa e sendo resgatada. Esta imagem de uma mulher bela e idealizada como inocente e que precisa ser resgatada.

Lira XXI

Apesar de ser melhor articulado no Romantismo, Dirceu fala de como se sente com os sentimentos do amor. A ele, não apetece mais os mesmos assuntos que tinha anteriormente com outras pessoas, perde noção de tempo e não se cuida mais como antes, pois viu Marília.

Lira XXII

Dirceu diz como os poemas podem eternizar a beleza de Marília, tal qual já fizeram outros poetas. Já passadas tantas liras, parece exagero o tanto que se fala da beleza de Marília, mas é comum ao Arcadismo (e também ao Romantismo) de como se descreve a amada.

Lira XXIII

Há uma cena que Marília canta para Dirceu em um campo calmo. Por muitas vezes, a obra faz mistura de um texto lírico (poemas) e um texto narrativo.

Lira XXIV

Dirceu diz como o deus Jove deu presentes e talentos às criações da terra. O homem ganhou as armas do discurso e as donzelas ganharam a arma da beleza. Ele diz como há até mesmo guerra e paz por isso (citando Helena de Tróia) e que até Marília poderia dar a todos paz e guerra.

Lira XXV

Há uma história de como o Cupido não conseguia atingir suas flechas em Dirceu, e que apenas Marília conseguiria atingir. Apesar de não ser dito ao longo da obra, a paixão é real e aconteceu, porém, Maria Doroteia tinha 16 anos quando eles se conheceram, e só chegaria aos 18 anos no dia que combinou o casamento (que, de propósito, ele marcou para ser o mesmo que seria exilado, tentando compadecer as autoridades).

Lira XXVI

Cupido pintou um quadro para poder representar a maior beleza do mundo. Vênus, a deusa da beleza, cede o lugar para que fosse de Marília.

Lira XXVII

Dirceu chama Alexandre, César e Augusto para falar das conquistas de terras. Dirceu diz que, em vez de batalhar, quer viver nos braços de Marília, já que nem dormindo ele deixa de pensar nela. Isto será uma das temáticas do Romantismo (o mundo dos sonhos como local ideal e possível do amor, ou de escapar da realidade cruel).

Lira XXVIII

Dirceu conta que Marília roubou as flechas de Cupido enquanto ele dormia. Apesar das risadas dos Faunos, Cupido diz que agora suas flechas devem ser temerosas, já que quem as têm é Marília.

Lira XXIX

Dirceu discute com o Amor, dizendo como ele faz as pessoas sofrerem e como causa guerras. Quando Dirceu se arma para enfrentar uma batalha, ele vê que é contra Marília e que ele perderia nesta luta de amor.

Lira XXX

Dirceu conta a história de que a deusa Vênus dormia e que o Cupido foi dar um beijo no rosto. Vênus fica zangada e Cupido disse que era fácil confundir seu rosto com o de Marília.

Lira XXXI

Dirceu pede paciência de Marília para que possa escrever versos que sejam da altura da beleza dela. É comum ver o verbo “cantar” com a escrita de poemas, já que os poemas, inicialmente, eram cantados.

Lira XXXII

Dirceu fala de que encontrou antigos versos que escreveu a outras amores em uma noite. Ele conversou com um Deus cego tentando convencer a não queimar pois os versos eram inspirados pelo Cupido e que havia glórias ali. Dirceu responde que tinha Marília e que não teria sentido ter versos que não fossem delas.

Lira XXXIII

Dirceu chama Glauceste para que cante de Marília. Apesar dele cantar, os outros choram de inveja e Dirceu chora de gosto, pois Dirceu é quem tinha Marília.

Parte 2

Lira I

A parte 2 foi publicada em 1799. Nesta época, Tomás António Gonzaga já estava preso (não no ano da publicação, mas da escrita). Dirceu se encontra em uma masmorra (prisão) e que não está contente. Ainda assim, por conta do pedido de Marília pedir para cantar a ele, assim ele o faz.

Lira II

Dirceu diz ter um coração maior que o mundo. Diferente da parte 1, que ele não estava preso, Tomás António Gonzaga ainda afirma nunca ter participado da Inconfidência Mineira.

Lira III

Dirceu lamenta como sua sorte não muda, já que ao longo de tantos anos o mundo mostrou exemplo de como o mundo muda. O aspecto agora mais melancólico não somente se liga à vida do autor como também a características que surgirão no Romantismo, sobre os exageros de sentimento e do fatalismo (como a vida do eu lírico é miserável em tantas obras).

Lira IV

Dirceu lamenta que a idade está deixando marcas em seu corpo – o cabelo perde a cor, sente dor nas costas e não anda mais da mesma forma. Diz que Marília poderia trazer saúde a seu corpo novamente e que seria jovem por vê-la. Esta narração é comum à segunda geração do Romantismo. Porém, é possível avaliar a obra como uma obra do Arcadismo não só pela primeira parte, mas como também a natureza é uma forma de mostrar os sentimentos do eu lírico e que até Cláudio Manuel da Costa usava deste recurso (usando o local calmo e também o local horrível).

Lira V

Há uma temática do mar, tão comum na escrita da literatura portuguesa de como o mar não traz mais novidades ou ventos bons. Tudo isso para relacionar seu sofrimento por não ter Marília.

Lira VI

Dirceu reclama de como não resta nem mais a língua para ele, ou até mesmo de como tantas outras pessoas tiveram mais do que merecia. Ele ainda tem honra e virtude.

Lira VII

Dirceu conversa com Glauceste, invocando seu talento para que cante novos poemas para acalmar os corações. Vale lembrar que Cláudio Manuel da Costa, durante a prisão dos envolvidos da Inconfidência Mineira, cometeu suicídio, enquanto Tomás António Gonzaga foi exilado.

Lira VIII

Dirceu diz como foi chamado para visitar sua história com a deusa Fortuna. Apesar de está lá, disse que eram pequenos momentos de felicidade em coisas gastas que não seriam o mesmo do que Marília, o que o fez abandonar o templo da deusa.

Lira IX

Dirceu lamenta sua vida de agora, comparando o passado que ele possuía gado, tempo e que ficava com Marília. Hoje, o que ele pode fazer é suspirar. Esta comparação é comum ao Romantismo, como forma melancólica de que o presente é insuportável.

Lira X

Dirceu lamenta não ter Marília com ele, ao mesmo tempo que Cupido ri de sua situação. Lembre-se que esta parte tem uma diferença escandalosa de comportamento do eu lírico antes positivo e que para ele bastava pouco para ser feliz – Aurea Mediocritas -, agora, possui nada.

Lira XI

Dirceu diz que nem o inferno poderia ser tanto sofrimento como o sofrimento que ele sofre do abutre da saudade que ataca ele.

Lira XII

Dirceu narra uma história possível do futuro que Marília levará o rebanho dela para passear e contará as histórias que ela teve que passou tempo com Dirceu. O uso de verbos até muda da parte 1 para a parte 2 – enquanto na primeira se foca em ações do futuro e presente, agora há uma atenção redobrada para o futuro do pretérito e verbos no passado, em uma dicotomia entre “o que poderemos ter” contra “o que não temos mais”.

Lira XIII

Dirceu, mesmo sem esperança nenhuma, ainda guarda uma gota de crença que o Destino o ajudará a não ser punido ou morrer – esta última, era a punição comum aos integrantes da Inconfidência Mineira.

Lira XIV

Dirceu invoca o poder da amizade, tão recorrente na literatura grega para que lembrem do que deve honrar as santas leis da Humanidade.

Lira XV

Dirceu lamenta a sua situação de hoje, comparado com o que tinha anteriormente. Dirceu fala até da morte, como fim certeiro que não costuma ser pensado no Arcadismo como trágico, mas como algo que é certeiro e que o dia deve ser aproveitado por isso – para que você possa aproveitar que está vivo. Ao contrário nesta lira, a morte é um alívio do sofrimento, o que será um traço marcante no Romantismo.

Lira XVI

Dirceu fala de como se sente triste de ter deixado Marília, amaldiçoa o Cupido, fala mal de Jove e diz pouco da sorte. Mais uma vez, ele deixou Marília no altar, achando que a ocasião faria com que as autoridades tivessem pena de prendê-lo, deixando ela sem saber para onde foi e nem sabia se estava vivo.

Lira XVII

Dirceu lamenta que está ficando velho. Ele apenas vê a única possibilidade de ver Marília ser morrer aos braços dela, após ter sido julgados pelos juízes do inferno e o deus Plutão.

Lira XVIII

Dirceu faz um devaneio a respeito do choro – tanto das lágrimas de Marília, quanto das referências gregas e romanas.

Lira XIX

Dirceu diz que lembra de Marília nas memórias, principalmente na sombra, que ele pode se iludir. Este recurso de imaginar visões e até confundir o que é realidade e imaginação é comum na literatura inglesa, principalmente com Poe e Byron.

Lira XX

Aqui, Dirceu fala de como o sol se põe e ele fica a chorar por Marília, mesmo que o Cupido tente levar a cantar. É notório perceber como aqui o pôr do sol é diferente da parte 1, a qual tem uma perspectiva de descanso do fim do dia, para aproveitar o fim. Já na parte 2, o pôr do sol ganha um aspecto fúnebre, de fim da vida e perda das esperanças.

Lira XXI

Dirceu lamenta a relação atual entre os pastores (Glauceste e Dirceu) e suas pastoras (Eulina e Marília). Como o amor pastoril continua, a diferença nesta parte é que não há galanteio, não se argumenta para amar. Agora, há apenas a saudade e a lamentação do que não se pode mais fazer. Apesar de Dirceu não mais cantar como antes, seu juramento de amor continua a Marília.

Lira XXII

Mais uma vez, Dirceu afirma ser inocente, mesmo na masmorra (prisão). Em nenhum momento do livro e nem na vida, Tomás António Gonzaga assume ter participado da Inconfidência Mineira.

Lira XXIII

Dirceu fala da justiça, invocando referências da Antiguidade.

Lira XXIV

Dirceu diz que vai lutar contra tigres e leões, provando que é inocente.

Lira XXV

Dirceu fala de como o tempo vence tudo, menos o amor que ele sente por Marília.

Lira XXVI

Dirceu fala que tudo conspira para que ele seja humilhado de sua inocência.

Lira XXVII

Dirceu fala de elementos da noite e da neve, o que é oposto da primeira parte que fala do dia e do sol.

Lira XXVIII

Dirceu se compara com os elementos da natureza, dizendo que é mais forte que tudo.

Lira XXIX

Dirceu tenta quebrar sua tristeza com um pouco de contentamento, mesmo que não veja sentido nisso. Apolo o ajuda a cantar para Marília.

Lira XXX

Dirceu canta a beleza de Marília.

Lira XXXI

Dirceu diz da tristeza da falta de tudo de Marília. Fala da voz, do cabelo e da pele da pastora. É notória a diferença de um desejo de ter da parte 1 (a possibilidade de poder ter por estar galanteando) da parte 2 (o sentimento de desolação de nunca mais poder ter ou de que tudo ficou na memória).

Lira XXXII

Dirceu perde as esperanças de ficar vivo, compara-se com os navegadores e descreve calafrios. Ao pensar em Marília, ele ganha forças para continuar. O Arcadismo traz a temática da calma como contraponto do desenvolvimento e crescimento desenfreado das cidades, aqui, é semelhante ao Romantismo que traz a calma como uma exceção da vida sofrida do eu lírico.

Lira XXXIII

Dirceu descreve sua aparência de dado como morto, o cabelo em mal estado e a barba por fazer. Ainda insiste em ser inocente.

Lira XXXIV

Dirceu traz Morfeu para pintar seus sonhos. Traz o passado que é interrompido por ser acordado, e vê que nada é real. Diz que o único crime é amar Marília.

Lira XXXV

Dirceu diz à Marília que os suspiros que ela ouvir algum dia serão dele. É interessante perceber como é comum ver o uso recorrente do elemento da visão como primeiro contato da paixão e da voz como elemento carente ao Romantismo. Há muito mais o uso de descrição de imagens na parte 1, enquanto a parte 2 possui mais descrições sonoras.

Lira XXXVI

Dirceu fala de como suas mãos perecem, como elas antes carregavam uma pluma e que poderiam até segurar um cetro de monarca.

Lira XXXVII

Dirceu conversa com um pássaro para que não cante para ele, mas que visite Marília, pois será melhor do que cantar para ele que está preso na masmorra.

Lira XXXVIII

Dirceu faz um retrocesso histórico dos povos que já visitaram as terras brasileiras. Ele sempre usa o termo Luso Povo para o povo de Portugal pois Brasil ainda é colônia de Portugal. Dirceu queria gastar mais uma hora com Marília.

Parte 3

Lira I

A parte 3 foi publicada em 1812. Ela reúne Marília e outras musas que teve de inspiração antes de conhecer ela. Cupido chama Dirceu para um templo para que termine seu lamento e cante novamente. Ele mostra os tesouros e armas de outros deuses a Dirceu. Fala de outras mulheres conhecidas na cultura grega e romana – Helena de Tróia, Deidamia de Aquiles, Cleópatra, Hérmia, Ônfale – até chegar em Marília.

Lira II

Dirceu diz que mesmo não cantando o nome de Marília, ainda fala bem dela.

Lira III

Dirceu fala de como está atrás de grandes livros e cantos de poesia. Ele lerá novamente o processo do passado até chegar a Marília.

Lira IV

Dirceu narra uma história entre Amor e Morte conversando. Cada um deles fala de como as flechas atingem os humanos. Falando da história, Marília conhecerá se Dirceu padece de amor ou de morte.

Lira V

Dirceu canta de Nise, a pastora de Cláudio Manuel da Costa. Várias vezes ele invoca sua estrela – seu talento.

Lira VI

Dirceu fala de como estava em um bosque tecido pelo Amor, até ser picado por uma serpente, porém, ele sai ileso.

Lira VII

Dirceu diz que os mares sabem agora da beleza de Marília.

Lira VIII

Dirceu narra como está navegando pelos mares com Marília. Ele se encontra com seu pai e apresenta Marília. Todavia, era apenas um sonho.

Lira IX

Dirceu usa Dircéia para referir-se à Marília. É notório perceber que Dirceu parece totalmente servo de Marília em toda a obra, fazendo até sentido que o título fosse “Dirceu de Marília”. Todavia, com a cultura patriarcal, explica-se a ordem “Marília de Dirceu”. Ele lamenta que não pode dizer adeus a ela, porém, esperançoso do próximo dia que poderia ver ela. Fora da obra, tanto Tomás António Gonzaga e Maria Dorotéia foram enterrados juntos, anos após a morte de cada um, como ele havia prometido na obra.

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Casimiro de Abreu Literatura Brasileira

Meus oito anos – Casimiro de Abreu

Oh ! que saudades que tenho
Da aurora de minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias
Do despontar da existência !

Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu é – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh! dias da minha infância !
Oh! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,

De camisa aberto o peito,

Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar !
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !

Que amor, que sonhos, que flores.
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Lisboa – 1857