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Tema de Redação da UNICAMP de 2022 – Violência por arma de fogo (convocação) e racismo na escola (depoimento)

A UNICAMP 2023, edição realizada no ano de 2022, pediu duas propostas de redação com dois temas diferentes. Os temas foram “violência por arma de fogo” e “racismo na escola”.

A proposta 1 dava a situação de um episódio com violência por arma de fogo que resultou na morte de uma colega, o qual você escreveria uma convocação contra a abertura de um clube de tiros na mesma cidade próximo a sua casa e de medidas a respeito do porte e posse de armas e segurança.

A proposta 2 dava a situação de um episódio de um projeto antirracista na escola, o qual você escreveria um depoimento que seria mantido em sigilo para denunciar um fato de racismo sofrido no ambiente e como as situações que desenvolvem a pluralidade étnico-racial são executadas na escola.

Lembrando que a UNICAMP aplica duas propostas mas você deve escrever apenas uma.

Você pode conferir os textos motivadores da Proposta 1 e da Proposta 2 a seguir ou também pode ver o PDF de cada uma neste link e neste link.

Confira:

PROPOSTA 1

Uma amiga sua de escola foi vítima de um disparo acidental por arma de fogo, realizado por uma pessoa que havia obtido porte de colecionador de armas com base nos Decretos Federais 9.846/2019 e 10.627/2021. Um ano após a morte de sua amiga, você foi informada/o de que um grupo de empresários de seu bairro inauguraria um clube de tiro perto da sua casa. Preocupada/o, você decidiu convocar uma reunião com a associação de moradores do seu bairro para discutirem providências a serem tomadas a respeito. No seu texto de convocação, você deve a) destacar os perigos que envolvem a abertura de um clube de tiro em seu bairro; b) apresentar argumentos contrários à posse e ao porte de armas de fogo; e, de modo mais amplo, c) criticar uma política de segurança pública baseada no armamento da população brasileira. O seu texto deve, obrigatoriamente, levar em conta a coletânea a seguir.

  1. Dados do Exército Brasileiro mostram que, entre janeiro de 2019 e maio de 2022, surgiram 1.006 clubes de tiro no Brasil. É quase um clube de tiro inaugurado por dia, totalizando mais de 2 mil espaços como estes em todo o país. Paralelamente, números divulgados pelo Anuário de Segurança Pública apontam um crescimento de 474% no número de pessoas que conseguiram o Certificado de Registro – documento emitido pelo Exército –, que dá direito ao cidadão de exercer atividades como Caçador, Atirador e Colecionador, os chamados CACs. Essa autorização também inclui transitar com a arma no percurso entre a casa e o clube de tiro. A abertura de clubes
    de tiros interessa ao setor econômico da indústria armamentista, composta por indústrias de armas, empresários de clubes, atiradores, influenciadores digitais, instrutores e todos que defendem o uso da arma de fogo. Muitos desses estabelecimentos também trabalham com a venda de armas e auxiliam o interessado com a documentação exigida para tirar o porte de arma.
    (Adaptado de SOBREIRA, Amanda. Como a política de armas de Bolsonaro facilita crimes e arsenais como o de Roberto Jefferson. Brasil de Fato, 29/10/2022.)
  2. O Instituto Sou da Paz aponta que, atualmente no Brasil, mais de 880 mil armas de fogo estão nas mãos de CACs. A lei em vigor permite que os atiradores comprem até 60 armas, sendo que 30 de uso restrito, como fuzis, além da compra anual de até 180 mil
    balas. Já os caçadores podem comprar até 30 armas, 15 delas de uso restrito e até 6 mil balas. Para os colecionadores, a legislação não impõe limite numérico.
    (Adaptado de DEISTER, Jaqueline. O que os últimos homicídios cometidos por policiais significam no debate sobre armamento? Brasil de Fato, 20/07/2022.)
  3. “Ter uma arma triplica o risco de suicídio”, salienta David Hemenway, professor de saúde pública da Universidade de Harvard. Várias de suas pesquisas concluíram que estados onde há mais lares com armas têm taxas de suicídio mais altas, particularmente suicídios por armas de fogo. A diferença seria explicada pelo acesso mais fácil ao armamento, já que não havia nessas residências problemas de saúde mental ou casos de pensamentos suicidas acima da média. Em análises da relação entre disponibilidade de armas de fogo e mortes não intencionais, homicídios e suicídios de mulheres e crianças, o professor Hemenway concluiu que em estados com mais
    armas há mais mortes violentas nesses grupos. Outra análise, comparando 25 países de renda alta, revelou que, onde há mais armas, há mais homicídios de mulheres, com os Estados Unidos da América no topo da lista.
    (Adaptado de CORRÊA, Alessandra. Armas são eficazes para defesa pessoal? Por que este professor americano sustenta que esse discurso é mito. BBC News Brasil, 18/09/2018.)
  4. A organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) tem utilizado os decretos do presidente para adquirir legalmente armas
    de fogo. A política facilita a compra de armamento para quem se registra como colecionador, atirador ou caçador, apelidados de CACs.
    De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, criminosos da facção têm usado tal nomenclatura para as compras. Os equipamentos foram comprados com autorização da lei atual – alguns por meio de “laranjas”, pessoas que adquirem as armas para o grupo, mas também por criminosos com extensa ficha criminal.
    (Adaptado de Notícias Uol – São Paulo. PCC utiliza política dos CACs de Bolsonaro para comprar armas, diz jornal. 25/07/2022.)
  5. O Instituto de Segurança Pública concluiu que o combate à criminalidade se dá com novas formas de atuação das polícias, principalmente no que tange às ações de inteligência e estrutura (armamento, viaturas, coletes, contingente, informatização). Tais mecanismos, até então utilizados pelo estado de São Paulo, ilustram o combate à criminalidade através de políticas de segurança e de políticas
    públicas sociais.
    (Adaptado de CAPEZ, Fernando. Controvérsias jurídicas. Segurança pública e armamento da população civil. Consultor Jurídico, 14/04/2022.)

PROPOSTA 2

O colégio em que você estuda decidiu lançar um projeto de educação antirracista. Antes de elaborar tal projeto, a direção resolveu escutar estudantes, familiares, professoras/es e funcionárias/os sobre a questão da discriminação racial no espaço escolar. Solicitou, então, que cada um desses membros da comunidade escolar enviasse um depoimento, a ser mantido em sigilo. Decidida/o a contribuir com esse projeto e compartilhar a sua experiência como estudante do terceiro ano do ensino médio, você enviará o seu depoimento, no qual deve a) declarar como se identifica racialmente; b) relatar se já presenciou, cometeu ou sofreu algum ato de racismo dentro do colégio e c) explicar como a diversidade étnico-racial é tratada nesse espaço escolar: no currículo, ou nos conflitos cotidianos, ou na contratação de professoras/es, ou na presença de alunas/os negras/os. O seu texto deve, obrigatoriamente, levar em conta a coletânea a seguir.

  1. Antirracismo: postura, sentimento, movimento, conceito de oposição ao racismo.
    (Dicionário Caldas Aulete. Disponível em https://www.aulete.com.br/antirracismo. Acesso em 01/09/2022.)
  2. “As escolas trazem o racismo como uma questão entre duas pessoas, confundindo-o com bullying. Não o enxergam como um sistema que se retroalimenta e se reinventa”, explica Ednéia Gonçalves, diretora-executiva adjunta da Ação Educativa. Pensar uma educação antirracista envolve tratar da relação entre duas pessoas, mas também de permitir que todos tenham sua identidade e história acolhidas no espaço escolar. E o processo de acolhimento e de reconhecimento das identidades requer que a escola repense todas as suas dimensões: curricular, formativa, de atendimento, avaliação, material didático, arquitetura e rotina. Se a escola não tiver um trabalho constante, sério e intencional de autoestima, autocuidado, de valorização da cultura negra, vai ser muito difícil as pessoas se identificarem como negras. As escolas estão avançando, mas o racismo aparece muito nas dobras. Quando você esgarça, ele pula”,
    alerta Ednéia.
    (Adaptado de Como pensar a construção de uma educação antirracista. Centro de Referências em Educação Integral, 11/06/2019.)
  3. Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o ensino da
    história e cultura afro-brasileira e indígena.
    § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos
    negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
    resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
    § 2o
    Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo
    o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.
    (Adaptado de BRASIL. Palácio do Planalto. Lei nº 11.645, de 10/03/2008, que altera a Lei nº 9.394, de 20/12/1996, modificada pela Lei n° 10.639, de 09/01/2003.)
  4. “Há quase uma ausência do debate racial no campo da Educação. E esse silêncio nos leva a acreditar no mito da democracia racial.
    Mas os números revelam que não é assim”, explicou Iara Pires Viana, geógrafa e gestora da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais. Segundo ela, há uma relação intrínseca entre as desigualdades raciais e o direito de aprender. Iara defende que o papel da Educação para não reproduzir o racismo é o de denunciar a pedagogia das ausências, isto é, o racismo epistêmico, marcado em todo o processo de formação. Promover uma educação antirracista vai muito além de simplesmente combater as manifestações materiais do racismo cotidiano, como ofensas e xingamentos. Apesar de positivas, essas medidas não bastam para a construção de uma educação efetivamente inclusiva e equânime. A educação antirracista implica necessariamente a revisão do currículo, garantindo sua pluriversalidade, bem como a composição de um corpo docente etnicamente diverso.

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Redação UNIFESP UNIFESP

Tema de Redação da UNIFESP de 2022 – É possível conciliar mérito e bem comum?

A edição da UNIFESP 2023, aplicada no ano de 2022, teve como palavras do tema de redação “É possível conciliar mérito e bem comum?”.

Você pode conferir como que a UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) disponibilizou os textos motivadores do tema a seguir ou pode também acessar pelo PDF do link.

Confira

Texto 1
Meritocracia pode ser compreendida como um sistema de hierarquização e premiação baseado nos méritos pessoais de cada indivíduo. O poder do mérito está assentado na suposição de qualidades individuais, resultado de esforço e dedicação.
(Berenice Bento. “Crítica da crítica à meritocracia”. https://diplomatique.org.br, 27.04.2021. Adaptado.)

Texto 2
Um mês depois da Tomada da Bastilha, em 1789, a Assembleia Nacional da França aprovou um dos textos mais importantes da história do mundo — a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Um trecho consagrava uma ideia nova para a época, uma das bandeiras dos iluministas franceses: as pessoas devem ser julgadas por seu mérito, e não pela raça, sexo ou pela “nobreza do sangue”.
De acordo com o sexto artigo da Declaração, “Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos”.
(Leandro Narloch. “Ideia revolucionária fundou o mundo moderno”. www.folha.uol.com.br, 15.09.2021. Adaptado.)

Texto 3
No livro Capital e ideologia, Thomas Piketty argumenta que a ideia de meritocracia serve para que os “vencedores” do atual sistema econômico justifiquem a desigualdade ― em qualquer escala ― jogando nos “perdedores” a culpa por seu próprio fracasso, como se obter êxito fosse apenas questão de esforço individual.
(“Como o discurso da meritocracia ajuda a ampliar a desigualdade social”. www.intrinseca.com.br, 01.09.2020.)

Texto 4
Atualmente, enxergamos o sucesso não como uma questão de sorte, mas como algo que conquistamos por meio de nosso próprio esforço e luta. Esse é o cerne da ética meritocrática. Ela exalta a liberdade e o merecimento. Esse modo de refletir gera poder. Incentiva as pessoas a pensar em si mesmas como responsáveis por seu destino, não como vítimas de
forças além do seu controle. Mas tem também um lado negativo. Quanto mais nos enxergamos como pessoas que vencem pelo próprio esforço, menos provável será que nos preocupemos com o destino de quem é menos afortunado do que nós. Se meu sucesso é resultado de minhas ações, o fracasso deles deve ser culpa deles. Essa lógica faz a meritocracia ser corrosiva para a coletividade e a noção de bem comum.
(Michael J. Sandel. A tirania do mérito: o que aconteceu com o bem comum?, 2021. Adaptado.)

Texto 5
O bem comum deve ser considerado como uma pluralidade de valores que resultam da relação entre o interesse particular de cada indivíduo com o interesse da sociedade. Em um espaço político, pensar apenas em interesses privados, em detrimento do bem comum, significaria corromper a coisa pública.
(Paula Mendes Lima. “Interesse e bem comum”. In: Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Dicionário da república, 2019. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
É POSSÍVEL CONCILIAR MÉRITO E BEM COMUM?

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Redação UFRGS UFRGS

Tema de Redação da UFRGS de 2022 – O apagamento das mulheres na história e o direito à memória

O tema de redação da UFRGS 2023 foi “O apagamento das mulheres na história e o direito à memória”. A seguir, você pode conferir como que a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) realizada no ano de 2022 (com o acesso de 2023) ofereceu os textos motivadores de leitura ou você pode também ver eles na íntegra no PDF no link.

Confira:

REDAÇÃO
Considere, abaixo, o texto “O apagamento das mulheres na história e o direito à memória”, de autoria da Juíza do Trabalho Daniela Valle R. Muller, escrito para o blog Sororidade em Pauta, e publicado na Revista Carta Capital, em 12.04.2019.
Às vezes acontece bem na nossa frente, de supetão. A verdade é que passamos a enxergar o que já acontece faz tempo, afinal, o apagamento da mulher na história e/ou a diminuição do seu papel eram tidos como “naturais” e só passaram a ser percebidos como problema há pouco tempo. Uma situação da qual nos damos conta aos poucos, percebendo que nos relatos oficiais nós, as mulheres, sumimos e, quando mencionadas, aparecemos apenas em papéis coadjuvantes – amantes, esposas, mães, enfim, como um detalhe pitoresco e de menor relevância da narrativa. Discutimos e pensamos nisso, normalmente, de forma abstrata, mas a vida não acontece apenas no plano das ideias, a realidade é caprichosa e um dia ela teima de acontecer assim, na nossa frente, e de um modo semiexplícito para não deixar dúvida do que se passa. Mais do que entender, nesse momento sentimos o que é a memória negada e distorcida em relação às mulheres, em especial quanto a sua atuação na esfera pública.
Comigo esse flagrante aconteceu durante uma aula sobre Lênin e a Revolução Russa. O professor relatava detalhadamente os acontecimentos entre 1914 e 1920 e a certa altura mencionou uma importante reunião de governo, realizada pouco depois da vitória revolucionária.
Nesse momento, uma aluna interpelou sobre a participação de uma determinada mulher na referida reunião. O professor confirmou, mas disse que essa participação, essa mulher, o fato em si, nada daquilo era significativo e seguiu a aula sem dar detalhes sobre nossa revolucionária, que permaneceu nas sombras da história. Nesse exato momento, aquela mulher foi simplesmente apagada da narrativa histórica, e isso aconteceu através de um gesto singelo, cotidiano: avaliação como irrelevante dessa presença feminina.
É um poder grande esse de selecionar o que é importante e o que não é digno de registro e nota, o que pode ser apagado, esquecido.
Até hoje não sei quem era a pioneira, seu nome não foi anotado no quadro, nem mesmo foi ditado claramente, apenas mencionado en passant pela colega de turma. E isso em relação a um movimento protagonizado por mulheres que, em 23 de fevereiro de 1917 (dia 8 de março no nosso calendário), iniciaram um protesto e uma greve que foram o estopim da Revolução Russa de outubro de 1917.
Mesmo assim, pouco ou nada sabemos acerca de revolucionárias como Inês Armand, Natália Sedova, Rosalia Zemlyachka, Alexandra Kollontai e Nadêjda Krúpskaia.
Esse é apenas um de infinitos casos. Mesmo em relação à Revolução Francesa, detalhada, descrita e narrada ad nauseam nos últimos duzentos anos, raramente se menciona a existência de Olympe de Gouges que, em 1791, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, além de peças teatrais que explicavam os princípios da Revolução Francesa à enorme massa de analfabetos; nem Sophie de Condorcet e tantas outras que já questionavam a desigualdade opressora entre homens e mulheres.
A história do Brasil não é exceção. Aqui, tantas outras mulheres são igualmente esquecidas, classificadas como desimportantes.
Desse jeito ficamos sem acesso a uma parte importante da nossa memória, das origens que nos constituíram como sociedade, porque pouco ou nada conhecemos sobre figuras como Dandara dos Palmares, Luísa Mahin, Mariana Crioula, Myrthes Campos, Alzira Soriano, Nísia da Silveira.
Ou então são desqualificadas como figuras tristes, loucas ou más. Essa desqualificação, aliás, é uma constante, basta lembrar a vereadora Marielle Franco que, poucas horas após seu brutal assassinato, sofre uma nova tentativa de homicídio, dessa vez, simbólico, moral. Para que o crime seja perfeito sua morte tem que ser completa, para impedir a continuidade da sua luta, das suas ideias, da sua representatividade, enfim, para que ela se torne uma pessoa que ninguém conhece e, portanto, sem importância, senha para desaparecer dos registros históricos oficiais.
E muito antes dela aprendemos: D. Carlota Joaquina era louca, D. Leopoldina, melancólica e malamada, Domitila de Castro, apenas uma mundana e por aí vai. Será mesmo? Mulheres que participaram tão ativamente de acontecimentos políticos tão relevantes na história do Brasil?
Um país que nasceu de um decreto assinado por uma mulher, onde a escravidão foi extinta por lei assinada também por uma mulher, a primeira escola pública gratuita foi instituída por uma mulher, a primeira greve geral foi iniciada por mulheres, operárias da indústria têxtil de São Paulo, não tem como contar sua história por inteiro excluindo as mulheres da narrativa e dos registros oficiais.
Consequência dessa falta de registro é a impressão, fortemente instalada no senso comum, de que a participação das mulheres na história, na sociedade e na política é nula ou bastante secundária e reforça a premissa patriarcal de que a mulher deve se restringir ao ambiente e às questões domésticas, civis, particulares.
Entretanto, a memória das conquistas, das realizações e também das injustiças sofridas por nossas ancestrais que foram massacradas e/ou silenciadas, que não tiveram oportunidade de ter seu ponto de vista considerado, é a chave para interromper essa lógica, sendo um componente essencial para compreender o presente e confrontar uma visão de “natureza” quanto ao protagonismo dos homens na construção do processo histórico.
Tal quadro desafia a compreensão da realidade para além dos feitos narrados pelos vencedores, registrados nos livros e documentos oficiais, e recomenda uma aproximação do passado que fica oculto, de expedientes que a história oficial deu por arquivados, mas estão guardados em fragmentos como roupas, canções, corpos, depoimentos, ruínas, prédios. Olhar com atenção esses fragmentos permite “escovar a história a contrapelo”, conhecer e cultivar a memória daquelas que lutaram e trazêlas a público para dar nova vida às mulheres que ficaram escondidas nas sombras da história.
Porque a memória é assim, um jogo de luz e sombras, seletiva: enquanto traz à luz alguns fatos e aspectos, obscurece tantos outros, que se apagam, caem no esquecimento.
Resgatar a memória de luta das mulheres é uma necessidade para enfrentar, hoje, o retrocesso representado pela opressão machista e patriarcal; portanto, conhecer, registrar e divulgar os feitos das mulheres, suas lutas, suas ideias, suas estratégias de solidariedade e enfrentamento é dar nova vida a essas guerreiras, evitando que fiquem nos registros históricos como derrotadas e insignificantes.
Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/sororidade-em-pauta/o-apagamento-das-mulheresna-historia-e-o-direito-a-memoria/

Você, com certeza, percebeu: o texto é contundente! Ele expõe com clareza a opinião da Juíza a respeito do assunto. Para argumentar, a autora faz uso de conhecimento histórico, de experiências pessoais e de exemplos conhecidos, ou não, por nós. Realmente, o tema “O apagamento das mulheres na história e o direito à memória” merece discussão ampla e aprofundada.
A partir da leitura do texto, considere a seguinte situação: você faz parte de um grupo universitário que estuda e debate assuntos da contemporaneidade, atividade muito comum dentro das
universidades. Normalmente, esses grupos são coordenados por um ou dois professores e contam com a participação de alunos de iniciação científica, alunos de diferentes semestres da faculdade,
outros professores etc. Ou seja, são, por natureza, bastante heterogêneos.
O fato é que o professor coordenador do seu grupo leu o texto da Juíza durante uma reunião e, como era de esperar, o tema suscitou forte debate. Alguns colegas concordaram completamente com a autora; outros, dela discordaram veementemente. Enfim, instaurou-se uma forte polêmica!
Tendo em vista essa situação, o professor coordenador solicitou a membros do grupo a redação de textos dissertativos que apresentem claramente um posicionamento acerca das opiniões lançadas
pela Juíza. Esses textos representarão as ideias daqueles que concordaram ou daqueles que discordaram da autora.
Você foi um dos escolhidos pelo professor nesta importante tarefa: escrever um dos textos!
Observe que você será porta-voz de uma coletividade: seu texto, além de apresentar um posicionamento qualificado sobre as ideias da Juíza, deverá representar a opinião de seus colegas de grupo.
Enfim, você deverá escrever uma dissertação que, ao ser lida no grupo de estudos ao qual você pertence, apresentará seu ponto de vista sobre o texto da Juíza e representará a opinião daqueles com os quais você se identificou durante o debate.
Bom trabalho!


Instruções
A versão final do seu texto deve:
1 – conter um título na linha destinada a esse fim;
2 – ter a extensão mínima de 30 linhas, excluído o título – aquém disso, o texto não será avaliado –, e máxima de 50 linhas. Segmentos emendados, ou rasurados, ou repetidos, ou linhas em branco terão esses espaços descontados do cômputo total de linhas.
3 – ser escrita, na folha definitiva, com caneta e em letra legível, de tamanho regular.

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2022 Redação Vestibulares 2022

Todos os Temas de Redação de 2022

Aqui, coletei os temas de redação dos vestibulares que falo e que explico. Você pode conferir qual foi o tema com os textos motivadores. Alguns são “2023” pois é o ano de acesso à universidade, mas o ano de aplicação é 2022.

VestibularTemaTextos Motivadores
ENEM Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no BrasilLink para os textos motivadores
ENEM PPLMedidas para o enfrentamento da recorrência da insegurança alimentar no BrasilLink para os textos motivadores
FUVESTRefugiados ambientais e vulnerabilidade socialLink para os textos motivadores
UNESPA “lógica do condomínio”: o espaço público está em declínio?Link para os textos motivadores
UNIFESP É possível conciliar mérito e bem comum?Link para os textos motivadores
UNICAMPProposta 1 – Violência por arma de fogo (convocação)
Proposta 2 – Racismo na escola (depoimento)
Link para os textos motivadores
UEAO ativismo digital pode mudar positivamente a sociedade brasileira?Link para os textos motivadores
UEA – SIS 3Por que a produtividade tóxica está cada vez mais presente na sociedade atual? Link para os textos motivadores
UEA – SIS 2 Jogos eletrônicos: entre os perigos do vício e os benefícios cognitivos Link para os textos motivadores
UECE .12023.1 – Maus-tratos e abandono de animais (artigo de opinião e relato)Link para os textos motivadores
UECE .22023.2 – Envelhecimento da população (artigo de opinião e história)Link para os textos motivadores
UFRGS O apagamento das mulheres na história e o direito à memóriaLink para os textos motivadores
UERJ A capacidade de se opor a um destino socialmente estabelecido fortalece nossa humanidade?Link para os textos motivadores
Fonte: site do INEP, site da UFRGS, repositório UNESP, site do Brasil Escola, drive do DesempenhosMED
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Notícias em Níveis: Inglês

Presente de Subjuntivo em Espanhol – Lista de Verbos Irregulares

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UFPR Vestibulares 2023

Lista de livros da UFPR em 2023

A UFPR vai pedir em 2023 para sua edição da UFPR 2024 as seguintes obras:

Livro e AutorLink para resumo
“Marília de Dirceu” de Tomás António Gonzaga Link
“Sagarana” de Guimarães Rosa
“Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto
“Noite na Taverna” de Álvares de Azevedo
“Nove Noites” de Bernardo Carvalho
“Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus
“A Falência” de Julia Lopes de Almeida
“O Livro das Semelhanças” de Ana Martins Marques
Fonte site da UFPR

Os livros que saíram da lista do ano de 2022, da edição de 2023, foram “Casa de Pensão” de Aluísio de Azevedo, “O Uraguai” de Basílio da Gama, e “Últimos Cantos” de Gonçalves Dias. Entraram na lista no ano de 2023, da edição de 2024, as obras “O Livro das Semelhanças” de Ana Martins Marques, “Noite na Taverna” de Álvares de Azevedo e “Marília de Dirceu” de Tomás António Gonzaga.

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Literatura Brasileira Resumo de Cada Capítulo

“Dois Irmãos” de Milton Hatoum – Resumo de Cada Capítulo

Livro da FUVEST até 2025. Contexto histórico – Próximo da Segunda Guerra Mundial, mudança do eixo de comércio de Manaus para São Paulo, início da Ditadura Militar.

Carlos Drummond de Andrade – “A casa foi vendida com todas as lembranças todos os móveis todos os pesadelos todos os pecados cometidos ou em vias de cometer a casa foi vendida com seu bater de portas com seu vento encanado sua vista do mundo seus imponderáveis” – Poema “Liquidação”

Temáticas:

  • Diferenças de classes sociais
  • Choque entre regiões do Brasil
  • A narração pós-moderna e o conflito do que é memória e o que aconteceu
  • Sexualidade e conflito e identidade
  • Situações paradoxais que propulsionam a narrativa
  • A fatalidade do esquecimento, da morte

O livro não é dividido por muitos capítulos. Há separações que denotam uma passagem de tempo entre capítulos. Para motivos de organização, esses espaçamentos serão chamados de “parte” dentro de cada capítulo.

Prólogo – Zana abandonou tudo que tinha de memórias. Queria que Omar voltasse. Ela perambulava em uma casa que só possuía lembranças de membros da família libanesa e que morava em Manaus. O narrador não teve coragem de vê-la morrer. Ela ainda perguntou, em árabe, se os irmãos tinham se reconciliado.

Capítulo 1 – Parte 1 – Yaqub, 18 anos, o irmão mais velho, chega no Rio de Janeiro, vindo do Líbano. Halim, seu pai, que não via desde seus 13 anos, mal reconheceu o pai. Ao abrir a mala, tinha nada, pois a família do Líbano não queria que o jovem fosse ao Brasil. Yaqub tinha um irmão gêmeo, Omar, que ficou no país, enquanto ele foi enviado para ser ra’í. Enquanto iam para Manaus, Halim ensinava Yaqub sobre os costumes diferentes do Líbano (mijar na parede, cuspir no chão, vestimentas) em relação ao Brasil. Zana, mãe de Yaqub, o encontra no aeroporto, após pagar propina para passar pela segurança, com o garoto ainda enjoado da viagem, a mãe que encontrou de volta um pedaço dela, emociona-se. Yaqub tinha dificuldades de falar em português, enquanto revia seu lugar de infância em Manaus. Yaqub lembrava do caçula, Omar, e como ele era destemido e irresponsável na infância, diferente de si, mais fechado e medroso. Yaqub lembra de uma festa de Carnaval que queria ficar com uma garota. Após obedecer sua mãe e levar Rânia, sua irmã, para casa, voltou ao baile vendo a garota que gostava com Omar – foi a última manhã que viu o irmão, o qual nunca sofria repressões da mãe, voltar do baile, viajou para o Líbano logo depois.

Capítulo 1 – Parte 2 – Rânia, irmã de Yaqub, reencontra-se com o irmão. Yaqub perguntou por Domingas e começou a revisitar a casa. Zana diz que Omar apareceria para jantar com eles. Yaqub olha para fora, lembrando do passado. Os parentes comentaram de como Yaqub tinha chegado do Rio, o garoto tentava falar mas faltavam palavras do português. Começaram a elogiar Yaqub, em contraponto do caçula, ao passo que a mãe disse que os dois eram idênticos em tudo. Yaqub ficou feliz de faltar palavras naquele momento e não dizer nada. Omar chegou e foi recepcionado pela mãe como se ele fosse o filho ausente. Os irmãos se estranharam, mas Yaqub disse que ia melhorar, afinal, “tudo melhora depois de uma guerra.”

Capítulo 1 – Parte 3 – O narrador conta que a cicatriz no rosto de Yaqub foi contado por Domingas, o único traço de diferença física entre os gêmeos. O narrador conta que conheceu Domingas pouco depois do Carnaval. Era costume ir bem arrumado para o cinema ambulante na casa dos Reinoso. Enquanto esperavam o filme, a sobrinha dos Reinoso, Lívia, ficava paquerando os gêmeos. O caçula teve ciúmes. Apesar dela ter o coração de todos, ela gostava dos gêmeos, em específico de Yaqub. A sessão durou pouco pois faltava luz em meio ao dia de chuva. Todo viram Lívia beijando Yaqub enquanto ligavam as luzes do cinema. Omar foi para cima do irmão. Zana culpava Halim pelo comportamento dos gêmeos. Yaqub foi humilhado na escola e permanecia em silêncio. A ideia inicial era que os dois fossem ao Líbano, apenas Yaqub foi, no meio da guerra. Os pais, com medo da violência ir para a casa, mandaram-no para viagem. Voltando ao presente, Yaqub ainda falava nada, apenas comia, no meio das conversas da família.

Capítulo 1 – Parte 4 – O narrador fala da moradia e do comportamento igual aos gêmeos de mesada, educação e moradia. Zana temia os hábitos do Líbano no irmão recém-chegado, além da fala trocada de “p” por “b” e ser quieto. Yaqub com as mulheres, porém, era outra história. “Tinha olhos de boto”. A mãe sabia de antemão e lia os versos copiados das meninas a ele, de prazer quase cruel. Yaqub estudava muito a gramática da língua portuguesa. Era bom em matemática, como opostos do outro irmão (que ouvia as comparações vindas dos pais). Anos depois, Yaqub passaria na Escola Politécnica de São Paulo, “em ‘brimeiro lugar, babai’”. O matemático não dava bola para ninguém, gostava de xadrez mas preocupava os pais de sua falta de ciclo social. Yaqub não gostava de sair, ainda mais nos bailes carnavalescos, festas juninas, jogos de futebol. Compensava a pele sem sol pela matemática que fazia na cabeça, sem precisar tomar notas. Já Omar gostava das farras e “audácias juvenis”. Halim detestava a repetição de comportamento de encher a cara de bebida, voltar para casa e ser auxiliado por Domingas para tirar a roupa, beber água e passar as tardes dormindo na rede de ressaca. Halim não apoiava e repreendia o garoto, mas ele não se abalava, até teve orgulho quando foi expulso do colégio de padres que reprovou duas vezes. Ao encontrar o diretor, ele perguntou à mãe se o outro filho continuaria na escola. Deixou para responder outro dia.

Capítulo 1 – Parte 5 – O Caçula foi estudar no Águia de Haia – apelidado de “Galinheiro dos Vândalos”. O professor de francês mal ensinava, os gestos obscenos na escola eram livres, Laval era o que mais se destacava, professor que recitava poemas e escrevia um para cada aluno. O Caçula contava com gosto como foi expulso do antigo colégio de padres. Deu um soco e um chute no padre, foi punido para ficar ajoelhado do meio dia até ver a primeira estrela. A mãe defendia dizendo que “Bolislau errou”, pois o “filho só quis provar que é homem… que mal há nisso?”. O narrador conquistaria o diploma na mesma escola do Caçula, sendo que o irmão mais novo nem terminou o curso no Galinheiro dos Vândalos.

Capítulo 1 – Parte 6 – Yaqub foi para São Paulo, sem avisar com antecedência e enfrentando as negações da mãe, deixando livros e roupas ao narrador. No Natal de 1949, um ano antes de sua partida à grande cidade, recusou o presente de bicicleta e dinheiro e pediu uma farda de espadachim para desfilar no colégio de padres. O pai aproveitou o dia de silêncio, a mãe foi ver o filho, toda orgulhosa. Yaqub foi destaque do desfile, ganhou até foto e elogios no jornal, além de beijos e flores enquanto desfilava “com um ar de filho único que não era”. Foi Bolislau que recomendou ir embora de Manaus, já se ficasse ali, seria “derrotado pela província e devorado pelo” irmão.

Capítulo 1 – Parte 7 – Yaqub saiu da escola cheio de elogios, ganhou duas medalhas. Os professores sabiam do futuro brilhante dele, diferente do irmão que faltou ao jantar de despedida. Ele só voltou tarde, enquanto Yaqub pedia para não receber dinheiro dos pais. Omar acordou mas dessa vez sem a ajuda das mulheres, que só tinham olhos e foco para o viajante. Recusou a comida fria. Lívia apareceu na casa e perguntou por Yaqub, que foi voando a ela. Domingas foi espiar e viu os dois trocando carícias. Omar, sombra da casa, viu o irmão ainda marcado da garota que amava.

Capítulo 2 – Parte 1 – Há um retorno ao passado, para 1914. Há uma descrição do restaurante de Galib, viúvo e pai de Zana, ponto de encontro de imigrantes libaneses, sírios e judeus marroquinos. Halim recebeu uma indicação de um amigo poeta, Abbas, e começou a frequentar cada vez mais o local. Halim admirava Zana e trazia peixes para Galib, ganhando almoço de graça. Quis comprar um chapéu para a filha do dono do restaurante, mas o amigo poeta sugeriu um gazal (peça de tecido com um poema). Fingiu ter esquecido no restaurante para, semanas depois, receber de volta de Galib. Abbas, ao ver o amigo derrotado, recomendou beber e ter coragem. Halim apareceu bêbado no restaurante para o susto de Galib e Zana. Leu os versos do gazal no meio de risadas dos outros clientes. Dois meses depois, era esposo da garota de 15 anos. Já velho, Halim contava a história ao narrador, confundindo árabe com português, pois contava de vez em quando algumas histórias, “como retalhos de um tecido” que “foi se desfibrando até esgarçar”, era um “romântico tardio, um deslocado anacrônico”. O casamento entre ele e Zana não era bem visto por ser muçulmano. Zana era bem decidida, de “uma teimosia silenciosa, matutada, uma insistência em fogo brando”, sendo a última e definitiva palavra do casal. O casamento seria no altar de Nossa Senhora do Líbano, com a presença das maronitas (tradicional do Líbano) e católicas de Manaus. No casamento, a foto dos dois beijando tinha Zana de olhos abertos, assustada com a voracidade. Halim era um Jó paciente acompanhado de Zana que mandava e desmandava, além de ser “um demônio na cama e na rede”. O narrador disse que contava as histórias com a maior naturalidade, ainda que pausasse para fumar narguile e tentando lembrar de vozes e pessoas devoradas pelo tempo. Apesar do casal não ter viajado para o Líbano, Galib foi, todo contente. Depois de duas cartas, Zana recebeu uma carta enquanto morava no Biblos, de que o pai morreu. Zana ficou desesperada, pedindo três filhos e se agarrando às roupas do pai. Halim tentava convencer de que não adiantava se agarras às coisas, já que eram vazias. Tinha o costume de não guardar dinheiro, agradava mulher e filhos. A dor da morte era grande pois quando viajavam para fora não viam o corpo, recebiam apenas uma carta ou telegrama. E ainda assim, Zana quis que Yaqub fosse sozinho para a aldeia dos parentes dele.

Capítulo 3 – Parte 1 – Yaqub, já em São Paulo, mandava cartas ao fim de cada mês. A vida era sozinha e fria, deixando a mãe de coração partido e o filho caçula com ideias de ter uma festança para afastar essas ideias da cabeça da mãe. Conforme os meses passavam, e talvez pela cabeça de matemático professor paulistano, as cartas diminuíam o número de textos, até entrar na Universidade de São Paulo. Seria engenheiro. Mandaram dinheiro e felicitação, sem entenderem o título, porém, ele agradeceu e mandou o dinheiro de volta. Zana enchia-se de orgulho, levando o crédito do filho paulistano ser dela, não o filho que foi levado ao Líbano por ordens dela.

Capítulo 3 – Parte 2 – O narrador conta como via apenas fotos de Yaqub fardado. Enquanto um era uma figura abstrata de um mundo distante, o outro irmão era bem presente, zombando do sucesso de quem tinha voz e aparência iguais. Zana ficava entre o pouco que recebia de notícias e fotos do filho matemático e de seu falecido pai. O narrador ficava entre as reclamações do paciente Halim e da saudosa Zana. Lembraram de como Domingas chegou à casa, como era próxima de Zana, apesar de ser sua empregada e de como Zana se deixava levar pelo prazer do sexo. Halim lamentava de não ter comércio, já que “exagerava nas coisas do amor”. Halim nunca quis filhos, mas Zana pestanejava por caprichos do marido, sua teimosia e de seu falecido pai, queria três. Tinha muito carinho pelo Caçula que adoeceu nos primeiros meses, temendo a morte. Domingas era uma índia que sonhava na liberdade que deixava para depois, ainda mais quando nasceu Rânia, cuidava dela e de Yaqub com muito carinho. Ela ouvia fofocas da patroa e tinha medo, mas rezavam juntas e tudo voltava ao normal. Como esperado, as noites de sexo de Halim e Zana não eram mais as mesmas. Os gêmeos eram travessos, com destaque em Omar. Numa noite, viu o mosquiteiro pegando fogo e Omar deitado ao lado de Zana. Acordou a casa aos gritos, achava um desaforo o filho dormir na mesma cama. Foi dormir no depósito da loja e até sugeriu para Zana que fizessem amor na frente de Omar. Ela respondeu com ironia para que anunciassem outro filho. Ele começou a dormir no depósito e se trancavam lá por horas quando ela resolvia visitá-lo.

Capítulo 4 – Parte 1 – O narrador conta como sabe pouco de si. Tão pouco dos antepassados, da origem e desconfiava que um dos gêmeos era o pai. Domingas disfarçava. Uma noite de sábado, Domingas pediu para ir à cidade. Zana achou estranho mas deixou, desde que voltasse cedo. Domingas acordou feliz, fez café e identificava os pássaros da região. Ela lembrava de como os pais se encontraram. Lembrou também de como o pai morreu e foi levada ao orfanato. Rezava muito, aprendeu a ler e queria fugir, inspirada em outras do orfanato. Um dia, uma das irmãs pediu que ela tomasse banho, cortasse as unhas e se vestisse bem. Ela foi levada até Dona Zana, com a ameaça de que caso ela se comportasse mal, voltava ao orfanato. Cuidou dos gêmeos, em especial Yaqub, sofreu quando ele viajou. Apesar do pouco tempo que passou, Domingas chegou a vila mas logo foi embora, assombrada pelas memórias e por não cumprir de chegar cedo à casa. Conforme chegavam próximos da cidade, Domingas falava menos. Choveu no final da viagem. O barco balançava fortemente, tanto o narrador quanto Domingas vomitaram. Voltaram para casa sujas, Domingas dormiu na rede e o narrador no chão. No meio da noite, Domingas perguntou se gostava de Yaqub, mas não ouviu mais. O narrador ganhou um quarto separado de Domingas, já estava grande. O narrador ficou fascinado pelo rio, enquanto Domingas jamais viajou de barco novamente. Ia ao cinema e via sessões de domingo.

Capítulo 4 – Parte 2 – O narrador tinha permissão de passear pela casa. Domingas sempre se ocupava em limpar a casa, até demais. O narrador era apaixonado por Zahia. Apesar de filho de Domingas, fazia os afazeres para Zana e alguns amigos dela. Para poder fugir dos trabalhos pesados, ouvia as fofocas da rua e contava para Zana. Chegava até a faltar de aulas para comprar coisas para Zana, sendo que ela pagava fiado e nunca estava satisfeita. Porém gostava menos era de Omar, que não queria que comesse na mesa e ainda precisava ajudar o caçula quando chegava bêbado ou machucado. O narrador só sabia nutrir ódio pelo relacionamento entre Zana, Halim e sua mãe. Ainda assim, era fascinado pelas histórias do pai dos gêmeos. O narrador procurava memórias em uma casa que esquecia o passado.

Capítulo 4 – Parte 3 – Em 1956, Yaqub continuava genial e conquistando objetivos em São Paulo. Omar iria a São Paulo, apesar do matemático não gostar da ideia. Uma noite, Omar levou uma mulher à casa e a deixou em completo caos. Halim esperou a mulher ir embora e deu uma única bofetada no filho que fingia estar dormindo, segurando-o pelo cabelo. Depois, algemou o filho ainda nu no cofre e Halim sumiu por dois dias. As mulheres da casa cuidavam dele. O narrador tentou procurar Halim, sem sucesso. Viu um vira-lata acorrentado que latia e babava. Riu da cena pois lembrou de Omar, já que “toda valentia é vulnerável”.

Capítulo 4 – Parte 4 – Halim decidiu mandar Omar para São Paulo. Yaqub estava casado e ainda não aceitava dinheiro dos pais, nem se quer anunciou o nome da esposa. Zana teve ciúmes, já que “filho casado era um filho perdido ou sequestrado”. No aniversário da mãe, o Caçula trouxe flores, trazendo surpresa para Rânia. Porém, Omar trazia isso como uma máscara de suas intenções, “sorrindo cinicamente para a irmã. Sorria, fazia-lhe cócegas nos quadris, nas nádegas, uma das mãos tateava-lhe o vão das pernas”. Rânia afastou-se do irmão e foi para o quarto. Rânia era reclusa, mal saía do quarto, abandonou a universidade no primeiro semestre, não frequentava festas e dormia em uma cama estreita. Pediu para trabalhar na loja do pai, coisa que nunca veio de Omar. Era uma vendedora exímia, por habilidade e beleza. Recebia cartas de pretendentes, médicos e advogados, mas jogava todas no fogo, as únicas que guardava era de Yaqub. A mãe tinha pena da filha solteirona. Porém, escondendo “seus pensamentos, suas ideias, seu humor e mesmo uma boa parte do corpo”, ela mantinha a loja do pai andando e sua vida. Na única noite que se arrumava, no aniversário de Zana, iludia um pretendente que a mãe trazia e encantava todos, até o narrador. Talib era tarado por ela. Quando recebia o pretendente, dançava, fingindo não saber como e dando esperanças à mãe. Porém, quando aparecia o Caçula, jogava-se aos braços dele, para ciúmes do pretendente. Zana e Rânia competiam pela atenção do Caçula, até que chegou o evento da Mulher Prateada (motivo que Omar foi mandado para São Paulo). Era uma mulher mais velha que conhecia, motivo que a preocupava, já que todas as meninas que Omar trazia eram desconhecidas. Era Dália, tinha sobrenome mas o narrador esqueceu, tinha um vestido vermelho e corpo que chamavam atenção de todos, mais até do que Rânia. Zana duelava com sorrisos falsos com Dália. Rânia, diferente das outras noites, comeu a sobremesa e foi para o quarto. Dália dançava com um corpo prateado, ganhando a atenção de todos, ainda mais da mãe, uma rainha destronada que jamais havia traído Omar. Zana sequer assoprou as velas e foi ao quarto. Zana viu os dois dançando, chamou a mulher para limpar a casa enquanto Omar ficava na rede. Um momento, a mãe a puxou pelo braço e cochichou. Dália foi ao banheiro, com o vestido prateado em uma sacola e com um olhar derrotado. Saiu e bateu a porta com força. Omar, assustado, a perseguiu. Descobriram que ela fazia parte de um grupo de dança e a mãe pediu abrigo para Yaqub ao irmão, que negou prontamente. Escreveu que poderia alugar um quarto, matricular em um colégio particular, enviar notícias mas jamais dormir no mesmo teto. Sabendo dos planos, Omar aparecia menos em casa, xingava o irmão. Descobriram o lar de Dália, uma casa derruída, destruída. O narrador foi visitar a mando de Zana. Foi oferecer dinheiro, as tias da casa aceitaram. Dália sumiu. Em uma noite chuvosa, Omar, bêbado e doente, apareceu. Zana discutiu com o filho sobre a dançarina. O pai deu o ultimato que iria para São Paulo. Zana ainda tentou adiar a viagem e dizer que voltaria depois de alguns meses. Halim não falou mais com o filho até o dia do embarque. Omar viajou dando coices no ar. Foram seis meses de quietude. O quarto ficou do jeito que ele deixou, a pedido dele para Domingas. A mãe demorava para limpar os dois quartos – um bagunçado e o outro que nem parecia ter vida. O narrador entrou no Galinheiro dos Vândalos com a ajuda de Halim. A escola tinha histórias, ex-namoradas e gravuras do Caçula. Conseguiu terminar o curso que o mais novo não concluiu. Omar disse que ia bem e que estudava em São Paulo, acostumado ao frio. A empregada de Yaqub levou doces da mãe para Omar, que comeu com muito gosto. Yaqub, em novembro, visitou o bairro da Liberdade, onde morava Omar, ainda que ele não o queria vê-lo. Yaqub lembrava do começo de sua vida em São Paulo. Pensou em tudo que não teve, na solidão e no que não podia comprar, pensando que “o desamparo engrandece a pessoa” e isso engrandeceria Omar. Foi visitar o colégio do irmão, ele era participativo e prestava atenção. Porém, após o feriado de novembro, o irmão deixou de aparecer na escola e nem avisou que não ficaria mais no quarto. Yaqub tentou procurá-lo em todos os lugares e a esposa disse que não deveria se preocupar. Foi até o quarto de Omar e viu um mapa dos Estados Unidos. Após alguns meses, recebia os doces e também o primeiro cartão-postal.

Capítulo 5 – Parte 1 – Yaqub foi visitar a família pela primeira vez. O narrador ficou aflito, conta de como Domingas estava nervosa. Lembrou de quando Domingas discutiu com Yaqub por levar Lívia a São Paulo, e que não a levou para visitar em Manaus. A mãe perguntou da nora e Yaqub se irritou, falando que “o outro filho vai te dar uma nora e tanto”, e que seria “tão exemplar quanto ele”, o irmão caçula. Zana contou do sonho que teve com os gêmeos se dando bem, Halim reclamou da atenção desproporcional ao caçula e disse para falar com o matemático. Zana e Domingas faziam de tudo para que os gêmeos não se vissem. O narrador conta como ficou em conflito do que contavam de Yaqub a ele – era desconfiado da família, mas saudoso com os lugares da infância que via com o narrador. Porém, a dor do reencontro era maior que a saudade da infância. Foi ao restaurante, ao porto e aos lugares que visitava quando criança, muito sério. Yaqub reclamava do comércio e de como o pai não se inovava. O narrador notava como Rânia se tornava sensual na presença do irmão, recebendo carinhos de Yaqub no colo dele. Viu os dois indo ao quarto e trancarem a porta, só os viu de novo no jantar. Em um jantar que mal tocou na comida, Talib perguntou se ele não tinha saudade do Líbano. Yaqub perguntou “Que Líbano?”. O silêncio reinou na sala, Talib disse que era o Líbano que morava no coração, com a resposta de Yaqub sendo “Não morei no Líbano, seu Talib”. Disse que não havia esquecido uma coisa, mas desistiu de continuar. Talib se retirou após um pedido de tomar licor com suas filhas. Fumava no jardim incomodado. Conversou com Halim e o narrador só o viu no domingo, dia que voltaria para São Paulo. Rânia o acompanhou até o aeroporto, Domingas entregou um pacote de farinha e penca de pacovãs, “abraçou-o; soluçou ao vê-lo partir”.

Capítulo 5 – Parte 2 – Os pais descobrem das aventuras de Omar. Não haviam desconfiado porque ele voltou falando inglês e espanhol. O narrador foi com Halim até a ponta da Cidade Flutuante, local que o pai dos gêmeos vendia. Halim era conhecido e conhecia o pessoal. Um navegante contou a história de um casal de irmãos que vivia ali por perto, longe das pessoas. Halim desembestou a falar mal de Omar e reclamar de como era ingrato. O Caçula mandou cartões-postais de diferentes cidades, Yaqub fez questão de rasgar todos, menos um, ao qual entregou ao pai e que elogiava o país, inferiorizava os pais e os convidava a visitar. Omar tinha roubado o passaporte de Yaqub, além de roupas. Descobriu após a empregada confessar tudo: a invasão do irmão na casa enquanto viajavam para Santos no feriado, os almoços com o dinheiro que os pais mandavam a Omar, os 820 dólares roubados de um “harami, ladrão”. O engenheiro queria o dinheiro de volta. O pai pediu para perdoar, fazendo com que o filho só ficasse mais energético. Afinal, “parece que o diabo torce para que uma mãe escolha um filho”. Não era apenas dinheiro, mas também o casamento que era segredo – Omar havia desenhado nas fotos de casamento. Halim ouviu tudo, disse que ia dar um jeito. Foi para casa com orquídeas, ficou nu na rede, chamou a mulher e fez sexo.

Capítulo 5 – Parte 3 – 6 anos depois da fuga de Omar, Yaqub mudou de endereço. Mandavam fotos que mostravam mais a “decoração e se esqueceram de mostrar o rosto”. A mãe emoldurava as fotos, apesar da diferença visível, fazia elogios em gangorra para Omar e Yaqub. Zana era enciumada com a nora, que enviava presentes para Halim. Zana tinha vontade de destruir tudo. As notícias da nova capital do Brasil ecoavam, Rânia queria modernizar a loja. Halim só queria comer bem, sem se importar com o amanhã. Yaqub foi o pequeno deus que apareceu e reformou tudo, sem dar chance aos pais de dizer “não”. A falta de energia era constante, mas tudo na casa era novo, até o quarto do narrador e de Domingas. A loja até terminou com o fiado e melhorava. Quem desprezava tudo era Omar, não queria nem que pintassem o seu quarto. Zana admirava o filho em fotos com mulheres seminuas, Omar roubava dinheiro da loja, Domingas repunha e Zana dava de presente a Omar no bolso enquanto se arrumava para sair. A loja não era mais a mesma, possuía vitrines e artigos novos da moda. Halim era um conhecido que lembrava-se do passado.

Capítulo 5 – Parte 4 – Depois de Dália, o Caçula se apaixonou por uma mulher apelidada de Pau-Mulato. Apesar de Omar ter parado de voltar bêbado, acordar cedo e barbear-se, sua mãe não ficava calma, ficava aflita. O novo irmão encantava Rânia, conversavam nas refeições e convivia com a família. As filhas de Talib se encantavam com o novo Omar. Omar até trouxe um inglês a sua casa, que recusou as comidas de Domingas. Saiu ele e o inglês no conversível do caçula para surpresa de todos. Zana desconfiava do filho, viu que o emprego do filho era falso. Ele estava participando de contrabando. “Quando o destino de um filho está em jogo, nenhum detetive do mundo consegue mais pistas que uma mãe.”. Halim desconfiou de Zanuri, um agente do governo, que frequentava a casa e vigiava casais. Delatou o episódio que Omar encontrou com a mulher, a mãe foi aos poucos dando indícios, até que Omar percebeu. Foi dando sinais e disse que ele devia sair de casa, o que aceitou. No fatídico dia que iria embora, a mãe brigou com ele, num misto de quer que vá embora mas que fique de mãe. O pai, por outro lado, deliciava-se com a saída do caçula. A mãe causou um alvoroço na casa após as palavras duras de um filho que saía e pedia para não ser seguido, já que o outro dava orgulho. As mulheres sentiam falta do Caçula, ainda que o narrador não entendesse como e o quê. Halim, sem ser amado, prometeu que traria de volta o filho.

Capítulo 6 – Parte 1 – Halim envelhecia, apesar do corpo demorar para mostrar. O narrador nasceu em um dia de briga, já que Azaz contou que Halim estava de graças com algumas indígenas. Chamou o sem-teto para brigas às 3 – o valentão apareceu horas antes e o pai dos gêmeos apareceu meia hora atrasado. Foi um banho de sangue. Azaz morreu três anos depois, Halim nem festejou. O pior foi quando voltou no dia da luta para casa, viu Omar brigando com Yaqub e Zana tentando apartar. Halim tirou a camisa e rodopiava a corrente de aço, chamando os filhos para a briga. Zana pediu calma, ouviu o boato dele ter filha com indígenas e disse que “estaria em paz se tivesse meia dúzia de curumins soltos por aí”. Mandou Omar ao quarto, Yaqub foi se esconder no quarto de Domingas com o filho, Domingas e Zana cuidaram dos ferimentos de Halim, cheio de furos e marcas de navalha.

Capítulo 6 – Parte 2 – Halim procurava Omar, foi atrás do Booth Line, procurar Wyckham, o inglês contrabandista. Procurou nos lugares que Omar frequentava e nada, só tinha notícia de que Omar foi aos Estados Unidos para ter um supermercado de importados. Na quarta noite, descobriu por Tannus, que o ajudava na procura, que o nome de Wyckham era Francisco Keller, Chico Quelé, filho de alemães pobres e era inglês coisa nenhuma. Soube do conversível que foi um carro adaptado, peças de um, motor de outro. Foi daí que Omar conheceu Quelé, que aparecia dando agrados e Omar que procurava mulheres, além de conhecer a Pau-Mulato. Omar queria sempre mais. Halim continuava com a procura com Tannus. Ficaram em círculos, chegaram a repetir trajetos, enquanto Tannus aproveitava para fazer comércio.

Capítulo 6 – Parte 3 – Halim esperava por um pequeno milagre, ainda que fosse pouco religioso e adiava a crença. Rânia, agora tutora da loja, controlava as despesas da casa, exceto do peixe, já que comiam bem. Mas era peixe até demais. Halim começou a prestar atenção no peixeiro, Adamor, o famoso Perna de Sapo. Tentava vender os peixes ruins, mas Domingas era boa para saber da qualidade do peixe. Apesar de esbravejar contra a indígena, ela fazia comentários duros mas prezava pela apresentação do vendedor. Adamor era sobrevivente de guerra e salvador de um herói americano. Ao longo do tempo que Omar estava sumido, Adamor prestava atenção nas dores de Zana, meio chorando meio querendo vender. Halim queria a atenção de Zana mas nem lendo os gazais era possível. Um dia, ele viu Zana e Adamor saindo juntos, ela vestindo a melhor roupa, chovia uma chuva triste e fina. Omar foi encontrado, vivendo metade na terra, metade nos rios, foi Perna de Sapo quem achou, vivendo como pescador e cartomante, sem terem se afastado da cidade. Ele estava careca, com barba grisalha, olhos esbugalhados e tomava banho quando a mulher o dava, vendia peixes na madrugada por qualquer preço. Omar foi até a antiga casa e começou a destruir tudo com uma corrente, esbravejava contra o pai sobre o irmão engenheiro. As mulheres ficaram assustadas e fugiam dele, o Caçula rosnava, enquanto o narrador segurava sua posição para se defender. Apesar de esperar pela raiva, Omar foi se acalmando, a mãe foi tentando acalmar o filho perdido. Abraçou o filho e pediu ao narrador e às meninas que limpassem tudo. O narrador comenta do espelho que Omar quebrou, pois já não precisaria lustrar com tanto zelo. Halim comprou outro, o qual o narrador limpava com menos zelo.

Capítulo 6 – Parte 4 – Na madrugada que Zana e o Perna de Sapo saíram, Halim pediu ao narrador para ir vigiar. Omar estava por perto, todos perceberam a presença de Zana, já que seu cheiro era inconfundível. Todos viam ela chegar, tal qual chegava para encantar Omar. O narrador só conseguiu ouvir o choro e a voz de Zana falando que o filho voltaria para casa. Omar retornou à casa. “O Caçula foi mimado como nunca”. Rânia ia abrindo o cofre da loja, cedendo ao irmão, que ia acariciando ela por beijos, afagos, lambidas. Omar sentiu-se derrotado de não poder ter uma vida simples com uma mulher, mas ter que ficar na tutela da mãe com várias putas. Omar voltou ao lar. O narrador discutiu com Halim sobre o seu futuro e se aprendeu algo onde estudava, dizendo que nem o Galinheiro dos Vândalos Omar terminou. Disse que nunca queria filhos e que os queria em outro país. Reclamou de como Zana se comportava, da vida difícil no começo do Brasil, da preferência do filho mais novo por parte da mulher. Halim envelhecia, mal jogava, mal subia as escadas e nem identificava as pessoas que passavam perto dele. Era “um náufrago agarrado a um tronco, longe das margens do rio, arrastado pela correnteza para o remanso do fim”.

Capítulo 7 – Parte 1 – Na primeira semana de janeiro de 1964, Antenor Laval, o professor de francês, foi falar com Omar. Perguntou ao narrador se tinha lido os livros. Foram ele e Omar resolver algo. A mãe estranhou a sobriedade. Omar pediu dinheiro para Rânia, a mãe pedia para Rânia ceder e ela se enraiveceu. Amava o comércio, o narrador a ajudava com frequência, tentando ao máximo ouvir as histórias dos clientes. Halim não aguentava mais ver Omar, lamentava a filha que sustentava “aquele parasita”. O narrador estudava no Liceu. Falava do poético professor de francês. Em sua última aula que o viu, o narrador anotou “Que cherchent- ils au Ciel, tous ce aveugles?” (Os Cegos, Baudelaire), o professor saiu da sala sem dizer nada. Foi preso no dia seguinte. Foi humilhado na praça das Acácias, “esbofeteado como se fosse um cão vadio à mercê da sanha de uma gangue feroz”. O narrador pegou a mala do professor Laval e levou consigo. No dia de sua morte, acenderam tochas, todos tinham um poema manuscrito do mestre. Após um minuto de silêncio, começaram a ler os poemas do mestre. O Caçula foi o último a ler. Até escreveu um dos versos com tinta vermelha ali. O narrador teve pena dele.

Capítulo 7 – Parte 2 – A cidade vivia em medo. O narrador ainda lembra de Laval. Corria no Liceu que Laval era “militante vermelho, dos mais afoitos, chefe dos chefes, com passagem por Moscou”. Escreveu muito, não gostava do título de poeta, mas não recusava o título de mestre. Em meio a ver Laval, viu um espectro na casa, era Yaqub.

Capítulo 7 – Parte 3 – Yaqub não tinha perdido a pose de espadachin, Domingas abraçou, “o abraço mais demorado que ela deu num homem da casa”. Domingas preparou a mesa, a rede, ele foi deitar e pediu para que Domingas ficasse perto dele. Várias vezes mencionou o nome do narrador. Ele ria, mas parou quando Domingas passou a mão na cicatriz, “traço estranho na face esquerda”. Omar chegou ensopado, viu o irmão. Yaqub balbuciou algumas palavras e o Caçula ignorou, subiu ao quarto. Omar chamou Domingas, que a ignorou, sorrindo. Yaqub era um alguém que quis provar a si mesmo. A mãe foi abraçar o filho que chegou, mas percebendo que o Caçula gemia. Halim reclamava dos soldados, Yaqub disse que finalmente “Manaus está pronta para crescer”. Yaqub trabalhava na casa dos pais, voltou sem vestir terno. Acordava bem cedo, gostava de ver o dia amanhecer e as cores mudarem. Prometeu ao narrador que levaria-o para ver o mar. O narrador desconfiou de Yaqub saber da morte de Laval. Yaqub ficou pensativo, falou que outro professor em São Paulo sem terminar a frase. A cidade estava ocupada pelo Exército e Marinha. O comércio de Rânia fechou. Yaqub não se abalava, era oficial da reserva, como dizia orgulhoso. Em uma tarde que foi sair para fotografar edifícios, vários soldados apareceram em jipes. Desesperou-se, foi resgatado por Halim e Yaqub, ardendo de febre. Nos últimos dias, Yaqub acariciava-o, até Halim se preocupou com o “neto bastardo”. O que não foi deixado de gastar com médico, Yaqub ofereceu de dinheiro para Domingas, que aceitou desta vez. O narrador não sabia se veria Yaqub de novo, “ele não gostava de prolongar a despedida; segurou” as mãos do narrador e disse escreveria e mandaria livros. Halim abraçou o filho que tinha presa, chorava e balbuciava que ali era a casa do filho. Pediu para ver a nora, Yaqub disse que traria e que ficaria num hotel. Yaqub disse que ficaria num hotel pois não era obrigado a aturar os surtos do Caçula, ainda que não tivesse falado dele, mas falou alto para que ouvisse. O narrador perguntou se Yaqub era o pai. Não aguentava a humilhação da mãe, que ignorou o assunto. Omar ficava cada vez mais doente e saudoso.

Capítulo 7 – Parte 4 – Omar teimou de catar frutas podres, folhas e colocava em um saco. Tinha nenhum conhecimento, machucava-se. O narrador ficava feliz pois podia estudar aos sábados. Rânia foi até a loja para limpar tudo, com ajuda do narrador. Limpava tudo, “não teve pena de jogar nada fora”. O narrador encarou o corpo de Rânia, vendo também através da roupa. Beijaram-se. Após horas, Rânia disse da festa de quinze anos que não teve, falando que a mãe implicou com o homem que ela amava. Porém, ela nunca disse quem era o homem, pediu para que fosse embora e nunca mais voltou a ajudá-la.

Capítulo 7 – Parte 5 – Zana olhava para o narrador estudando e para o filho que remexia no quintal. Um dia, as duas filhas de Talib, Zahia e Nahda, chegaram na casa e viram Omar pelado no quintal. Quando percebeu que estava sendo vigiado, tapou a virilha. Porém, estava com o ramêmi, pênis, com pus, estava doente de novo. Tinha uma gonorreia galopante e Zana só sabia disso agora. Halim não sabia de nada e Zana mentia que ele tinha ressaca, em vez de contar a verdade. Halim saía por aí com mais frequência, fosse de dia ou de noite. Ele percebia que estava envelhecendo e que as pessoas ao seu redor morriam. Estava cada vez mais audacioso, comia a comida de Lívia em vez da de Zana. Em uma tarde, o narrador achou Halim na beira do Rio Negro, vendo a demolição da Cidade Flutuante. Chorava muito com os outros moradores. Uma noite apenas que a busca do narrador pelo pai dos gêmeos foi em vão, na véspera de Natal de 1968. Esperaram Halim voltar, dizendo que era costumeiro o seu desaparecimento. Porém já de madrugada, o acharam no sofá. Tentou falar com ele. Tentou até falar em árabe. Porém, não respondeu, estava “calado, para sempre”.

Capítulo 8 – Parte 1 – Dois meses antes de Halim morrer, Omar desapareceu. Continuou exercendo a ocupação de jardineiro. O narrador até torceu para que voltasse às festas e “nunca mais se erguesse da rede vermelha”, mas não aconteceu. Continuava arrumando, subindo na árvore, sem limpar os cupinzeiros, tarefa que acabaria ficando para o narrador. O narrador gostava de ver o espetáculo. Halim evitava ver fogo, suas consequências e ficar parado, morto, como o pai ficou. Viu o pai morto sentado no sofá, começou a gritar, lembrando de quando ficou acorrentado. Talib chegou com as filhas, a tempo de evitar o “confronto entre o filho vivo e o pai morto”. Rânia ficou desesperada, tal qual Zana tinha ficado quando aconteceu com o pai dela. Zana jamais tinha contado que tinha lido os gazais que Halim deixou no restaurante de propósito. Repetia os versos de quem achava isso tolo, romântico, curiosa e aliviada. Yaqub mandou flores com dizeres, Omar ficou afastado, vendo o enterro. Poucas semanas depois, Omar foi repreendido pelas palavras grosseiras que apontou para o pai morto, “humilhar o esposo morto, isso Zana não admitia”. Disse que deveria abandonar o “trabalho de péssimo jardineiro” e procurar um emprego. Omar parou de ir ao quintal. Rânia ofereceu trabalho, ao qual ele riu com “trovões de uma bronquite cônica” e dentes amarelos e afiados. Zana ficava quieta, de luto. Manaus mudava, menos Omar. Tentou agradar a mãe, que apenas queria “paz entre os” filhos. Um dia, Omar surgiu com um homem desconhecido. Rochiram, era um indiano que começou a frequentar a casa, falava manso, misturando inglês e espanhol. Ele começou a trazer presentes, conquistando a atenção de Zana. A família tomou curiosidade pelo indiano e Omar morria de medo de falarem o nome de Yaqub. Rochiram estava sendo ajudado por Omar a “encontrar um terreno perto do rio”. Começou a ficar desconfiado, até mesmo do pai morto, deixou de levá-lo para casa. Zana quis datilografar uma carta para Yaqub – o engenheiro ajudaria com a planta e Omar ajudaria o indiano em Manaus, tudo para que puddeve ter o “seu grande sonho” de ver os filhos reconciliados. Tinha falta de Halim, não podia “morrer vendo os gêmeos se odiarem como dois inimigos”. Já que Yauqb era mais estudado, ele poderia entender melhor, tanto do Líbano, quanto do filho que não saia de perto da mãe. Enviou a carta. Yaqub disse que o que tinham era entre eles, mas se interessou pelo hotel, ignorando a participação do irmão. Rânia mostrou a carta, tentando ter algo para mostrar a Omar, que riu. Quando mencionou da construtora, piorou. Omar se esquivava de todos e esbravejava contra Yaqub. As mulheres apenas viam em silêncio. O narrador conseguiu escutar que Yaqub estava em um hotel por ali, um hotel muito simples e escondido. Em um dia de chuva forte que trouxe goteiras, tiveram que tirar a mobília dos quartos enlameados. No outro dia, Omar acordou cedo, sem comer o manjar que era feito a ele todos os dias e avisou que não voltaria para o almoço. Antes das onze, enquanto o narrador limpava os arredores da casa e cavava fossas, Yaqub apareceu. Trouxe roupa para Domingas e livros para o narrador. Estava com o corpo ereto e a expressão saudável, o que o deixava “bem menos envelhecido que o Caçula”. Ele havia ido ao cemitério ver o túmulo. Comeu o que Omar deixou para trás, chamou o narrador que mostrou os desenhos, vendo o corpo sujo de terra. Disse a ele sobre os cálculos e de que “não podes passar a vida limpando quintal e escrevendo cartas comerciais para Rânia”. Domingas pedia para Yaqub fugir e sair dali, apesar dele querer ficar com Domingas, que só observava o corredor. Porém, o inevitável aconteceu – Omar chegou e destruiu Yaqub. Os vizinhos ainda o ajudaram, mas Omar ainda descontou nos desenhos e na louça da cozinha.

Capítulo 8 – Parte 2 – Yaqub se contorcia na rede, tinha o rosto inchado e a boca que não parava de sangrar. Domingas tratou de limpar tudo antes que Zana chegasse, pediu para mentir sobre Yaqub. Zana não engoliu a mentira, achou o passaporte roubado de Yaqub por Omar no quarto do Caçula. Ficou pensando, repensando, analisando como Omar tinha ficado com mulheres e não ia para frente. Zana tinha o sonho desfeito, falou que Yaqub tinha se reunido com o indiano e “estragou tudo”. Rochiram apareceu na loja de Rânia, pedindo muito mais do que antes. Ameaçou sabendo conhecer pessoas influentes, a irmã pediu tempo. Domingas ficava preocupada com Yaqub. Zana já não pintava o cabelo e mechas grisalhas apareciam.

Capítulo 9 – Parte 1 – Domingas piorava de saúde, pensando em Yaqub. Em uma tarde de domingo, ela foi passar com o narrador por Manaus Harbour. Passeou por ali, viu conhecidos e rezou. Começou a contar de quando nasceu e como Halim cuidava dele, dizendo que ia estudar, foi no batismo, pediu o nome do pai dele no menino, Nael. Omar não aceitava essa proximidade de Domingas com Yaqub, em uma noite, bêbado, “agarrou com força de homem”. Na casa, Zana começou a chamar o filho agredido de agressor. Zana estava cada vez mais desnorteada, sem marido e sem Domingas. Ela pedia pelo filho Caçula de volta. Talib dizia que uma porta fechava e a outra abria. Rânia começou a se livrar de tudo da casa que lembrava do passado. Quando voltou para casa, o narrador encontrou Domingas enrolada na rede de Omar, armada no quartinho. Viu os olhos fechados, balançou a rede mas a mãe não mexeu. “Ela não dormia”. O narrador lembra dos cheiros e de como a mãe o deu o que mais queria saber, sua origem. Zana chamou por Domingas, até a vê-la na rede e abraça-la de joelhos.

Capítulo 9 – Parte 2 – O narrador tentou escrever em vão que sua mãe morreu. Filosofou sobre esperar a morte e o esquecimento. Pediu a Rânia que a enterrasse no jazigo da família.

Capítulo 10 – Parte 1 – “A casa foi se esvaziando e em pouco tempo envelheceu”. Rânia mudou para um bangalô. Zana teimava em ficar na casa. Caiu e teve que engessar braço e clavícula. Estendia a roupa de Halim, sentava ao lado direito de onde o filho almoçava, de noite chamava Domingas. O narrador ia assustado correndo, ver Zana perto do oratório. Rânia tinha medo de Rocharim aparecer e queria abandonar Manaus. Continuava enxotando clientes e ex-pretendentes que compravam de tudo e sorria ao próximo cliente. Eram menos visitas, mais tempo de estudo para o narrador. Estelita passou para visitar Zana e recebeu acusações da filha da irmã dela, Lívia, acabar com a casa. Zana queria ver mais ninguém. Só tolerou a visita de Emilie. Aos poucos, Zana contava coisas que poucos sabiam. Seu nome era Zeina. Disse que Halim incomodou-se de quando Domingas foi para a casa, que mudou muito depois que Domingas engravidou. Quando ia ter o filho, Zana perguntou se ia aturar um filho de ninguém como havia reclamado antes, no qual ele “se aborreceu, disse que tu eras alguém, filho da casa”. Ela falava e fazias as próprias perguntas. Até falou que sabia que o narrador os espiava quando eles faziam sexo no tapete que rezavam. A vontade de viver de Zana ia dissipando conforme ia percebendo que Omar não voltaria. Chorava e conversava com fotos. Cinco semanas foram necessárias “para ofuscar a casa, para dar um ar de abandono”. Um dia que uma boca de lobo entupiu e Rânia pediu ajuda do narrador, um homem entrou na loja, era Rochiram. Ela ouviu o que tanto esperava e já sabia, “a dívida dos dois irmãos em troca da casa de Zana”, mas a surpresa veio que o irmão engenheiro já estava de acordo com as condições. Foram para o bangalô, Zana saiu da casa, vendo lugares vazios que faltavam algo. Cozinhava, procurava Domingas e esperava Omar, segurando sua rede encardida, “esperava a visita que nunca veio”.

Capítulo 10 – Parte 2 – O narrador ficou sozinho na casa. Zana levou o que tinha de roupas de Halim, a fotografia do pai e a mobília do aposento. Rânia apareceu para pedir que cuidasse da mãe, que voltou a quebrar o braço. Rânia pediu para que chamasse uma das meninas do cortiço, mas Zana queria ninguém, o narrador cuidava. Zana ia sofrendo de “tanta saudade de Halim e do Caçula diluía a beleza do rosto dela”. Orava para que Omar não morresse, que voltasse. Não falava de Yaqub. Em um dia, Zana sumiu, acharam-na no galinheiro. O narrador pediu por ajuda mas ela disse que dali não saía, foi levada com muito custo para o carro, enquanto chorava. Teve hemorragia interna, ficou internada. O narrador a visitou, ela já se esforçava muito para poder lembrar e só podia falar em árabe. Procurou as mãos dele e balbuciou “Nael… querido…”.

Capítulo 11 – Parte 1 – Zana morreu com o filho ainda foragido. Não viu a casa que morava renovada. Tinha gente de tudo quanto é lugar na Casa Rochiram, até mesmo de Brasília, mas ninguém que era da rua, que o narrador conhecesse. Porém, havia um corredorzinho que conduz aos fundos da casa, que pertencia ao narrador, a herança dele. Yaqub queria assim: facilitar a vida do narrador e arruinar a do irmão. Disse que seria melhor receber a bagatela para que Omar não sofresse as consequências. Rânia arrancou a assinatura da casa da mãe só no hospital, quando ela tentou reconciliar os irmãos. Ela não sabia que Yaqub saiu antes do hospital e de Manaus pois Omar apareceu por lá. Omar saiu andando, bebeu e esbravejou a história. Rânia tentou comprar o silêncio, Yaqub fez corpo delito e comprou advogados atrás de Omar. Yaqub teve paciência de pantera, perseguia Omar que vivia de favores. Rânia não conseguia mais pagar pelas dívidas que Omar continuava fazendo, as queixas continuavam e Rânia esperava pelo pior.

Capítulo 12 – Parte 1 – Rânia achou Omar, com um destino conectado ao de Laval, na praça das Acácias. Os policiais apareceram aos montes, as pessoas fugiram. Omar, como esperado, reagiu, rindo deles. Recebeu uma coronhada e um ticket de ida para o presídio. Rânia se desesperou perguntou para onde ia. Ficou incomunicável no presídio. Tentava comprar os policiais em vão, a conexão de Omar com Laval era uma condenação política. Estava em condições deploráveis na cela que enchia de água nas chuvas. Na manhã que saiu para o Tribunal, Rânia estava sozinha. Omar era só osso e pelanca. Rânia escreveu a Yaqub, dizendo que “a vingança é mais patética do que o perdão”. Ameaçou devolver tudo que tinha dele, reclamou de como tratou a mãe e o irmão. Foi nessa época que o narrador se afastou de Rânia, o lugar dele não era ali.

Capítulo 12 – Parte 2 – Omar saiu às custas dos poucos níqueis de Rânia. Omar queria ver a mãe e chorava. Rânia tentou se aproximar mas Omar continuava perambulando por aí. Yaqub continuava escrevendo ao narrador, pedindo por flores no túmulo de Halim e de Zana. Não falava de Rânia ou de Omar, perguntava quando iria visitá-lo em São Paulo, o que adiou por vinte anos. “Não quis ver o mar tão prometido”, sequer encostou nos desenhos rasgados. Queria distância dos cálculos de Yaqub. Nas últimas cartas, ele só falava do futuro, “essa falácia que persiste”. O narrador guardou apenas uma única foto, a qual Yaqub estava perto do Bar da Margem. Recortou a foto para ver o rosto de Domingas, sorrindo. Anos antes de Yaqub morrer, queria mais se distanciar do que estar perto dos irmãos. A dor que os gêmeos causaram eram iguais, o sentimento de perda o narrador deixou aos mortos. O que Halim desejou tanto os filhos cumpriram: não tiveram filhos.

Capítulo 12 – Parte 3 – O narrador viu Omar pela última vez, em uma chuva de tarde de meio-céu. Foi o dia que tinha dado a primeira aula no Liceu que estudou. Ainda morava no mesmo quartinho na Casa Rochiram. Tinha um bestiário da mãe, única coisa que sobrou dela ali. Começou a reunir as conversas com Halim, os escritor de Laval, passou “parte da tarde com as palavras do poeta inédito e a voz do amante de Zana”. Desde que Zana morreu, não cuidava da natureza, era uma conexão ao passado que não podia ter mais. Omar invadiu o refúgio do narrador. Era já quase velho, um homem de meia-idade. Não reconheceu o local ou agia como quem não reconhecesse. O narrador esperava uma palavra. Quis dizer algo. Titubeou. Olhou para o narrador, emudecido. “Deu as costas e foi embora.”.

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Todos os Temas de Redação da UNESP – Desde 2001

A seguir, você poderá ver todos os temas do vestibular da UNESP que é feita pela banca corretora da VUNESP.

Você pode encontrar o tema pelo Ano de Ingresso (o ano que você entrará na UNESP para estudar) e o Ano da Prova (quando ela foi aplicada). Por exemplo, quem faz a prova em 2023 (ano da prova), fará a prova da UNESP 2024 (ano do ingresso).

Os últimos 6 temas foram:

Ano de Ingresso (Ano da Prova)Tema
2024 (2023)É possível viver um futuro offline?
2023 (2022)A “lógica do condomínio”: o espaço público está em declínio?
2022 (2021)“Tudo bem não estar bem”?: a tristeza em tempos de felicidade compulsória
2021 (2020)Tempo é dinheiro?
2020 (2019)O carro será o novo cigarro?
2019 (2018) Compro, logo existo?
Os últimos 6 temas da UNESP. Fonte: site da VUNESP.

Os temas a seguir são mais antigos. Eles fogem um pouco de como os temas da UNESP são atualmente quando mais distante for o tema do ano presente. É interessante saber o que já caiu, mas você precisará fazer algumas alterações caso queira escrever e/ou estudar para estes temas nos dias de hoje. Alguns anos, a UNESP teve uma segunda aplicação (prova de verão e prova de inverno eram os nomes), que são marcados com “/1” e “/2”. Caso você não veja, é porque o tema foi o mesmo e/ou não houve a segunda aplicação.

Ano de Ingresso (Ano da Prova)Tema
2018/2 (2017)Liberar o porte de armas de fogo a todos os cidadãos diminuirá a violência no Brasil?
2018/1 (2017)O voto deveria ser facultativo no Brasil?
2017/2 (2016)Prisão especial para portadores de diploma: afronta à Constituição?
2017/1 (2016) A riqueza de poucos beneficia a sociedade inteira?
2016 (2015) Publicação de imagens trágicas: banalização do sofrimento ou forma de sensibilização?
2015/2 (2014)A redução da maioridade penal contribuirá para a diminuição da criminalidade no Brasil?
2015/1 (2014) O legado da escravidão e o preconceito contra negros no Brasil
2014/2 (2013) A tolerância da sociedade brasileira à violência sexual contra mulheres
2014/1 (2013) Corrupção no Congresso Nacional: reflexo da sociedade brasileira?
2013/2 (2012) Curso universitário em outra cidade: motivações e desafios
2013/1 (2012)Escrever: o trabalho e a inspiração
2012/2 (2011) A questão das queimadas no Brasil
2012/1 (2011)A bajulação: virtude ou defeito?
2011/2 (2010)O futuro do livro
2011/1 (2010)Grafites: entre o vandalismo e a arte
2010/2 (2009)Os valores morais e sua importância na sociedade
2010/1 (2009)A felicidade, entre o ter e o ser
2009/2 (2008)A tecnologia e a invasão da privacidade
2009/1 (2008)O homem: inimigo do planeta?
2008/2 (2007)Há exagero na relação entre humanos e animais de estimação?
2008/1 (2007)É preciso ser famoso?
2007/2 (2006)A questão do idoso no Brasil
2007/1 (2006)A busca da beleza do corpo nos dias atuais
2006/2 (2005)O Brasil no espaço: prós e contras
2006/1 (2005)O sentimento do ciúme em nossas relações
2005/2 (2004) Terra para todos: utopia ou sonho possível?
2005/1 (2004)“Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes”
2004/2 (2003)O sistema de cotas para negros nas universidades brasileiras
2004/1 (2003)Os estrangeirismos na língua portuguesa
2003/2 (2002)A escola e a vida – o que é importante aprender
2003/1 (2002)
2002 (2001)A verdade ou a mentira: uma questão de conveniência?
2001 (2000)Os exames vestibulares e o acesso à universidade
Todos os temas da UNESP/VUNESP desde 2001. Fonte: site da VUNESP.
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5 formas de achar emprego na Bélgica

Site do VDAB – https://www.vdab.be/

Site do Actiris – https://www.actiris.brussels/fr/citoyens/

Site do RVA – https://www.rva.be/

Aplicativo Flexi-Job (disponível apenas na Bélgica) – https://apps.apple.com/app/id1474539927

Glassdoor, parte norte – https://nl.glassdoor.be/member/home/index.htm?countryPickerRedirect=true

Glassdoor, parte Sul e Bruxelas – https://fr.glassdoor.be/profile/login_input.htm

Site do Indeed – https://emplois.be.indeed.com/

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