Cristo Cigano História em versos dividida em 12 partes, baseada na história original espanhola do Cigano Cachorro, contada por João Cabral de Melo Neto a Sophia Melo, que também era devotamente católica. 1 poema separado e outros 11 numerados. Não fica claro se é um longo poema dividido em 12 partes ou um livro de poemas. O certo é que ela renegou o livro, achando-o, ao longo do tempo, muito distoante de sua obra.
A palavra faca
O poema abre como uma referência a João Cabral de Melo Neto, autor de “Morte vida severina”. São versos livres, há uma preocupação no uso das palavras de forma precisa, como a faca, que terá um significado de estrutura do poema, da apresentação da narrativa, de ligação a João Cabral de Melo Neto, do ofício do escultor e do fim do Cristo Cigano.
- O escultor e a tarde
Há uma descrição do escultor, organizado em dois quartetos, um quinteto e um terceto. A história começa na primavera, época de vida, tema comum da obra de Sophia de Melo. Trabalha-se também com referência ao Barroco nesse poema, já que dualidades se chocarão, como antíteses e paradoxos e oposições. O destino lhe esperava, nesse meio de vida.
- O destino
Os homens de preto podem ser uma referência às batinas de padre, pedindo o trabalho. Assim como usa “Seu”, em letra maiúscula, para se referir a Jesus Cristo.
- Busca Mas o escultor não conseguia ver a morte para esculpir o rosto de Cristo expirando, perto de morrer. Existiam duas possibilidades, ou ele achava alguém perto da morte, ou teria que matar alguém. Segundo o Novo Testamento, Cristo morreu de ter sido esfaqueado, então era também outra coisa que poderia ter levado à obsessão do escultor pela faca que não só o instrumento do ofício. Renegava a morte, só recriava da vida e a vida o cercava. Procurava, sem entender a morte. “E como te amarei Tanto que em meus dedos Tua imagem floresça E entre as minhas mãos O teu rosto apareça?”.
- O encontro
Ele finalmente encontra um cigano se banhando na margem do rio, nu. Na história, aparentemente existia um cigano chamado Cigano Cachorro, popular na região. Apesar dele não ter nome aqui, ele é o mesmo da história e é descrito de forma sensual.
- O amor O escultor se apaixona pela visão. Abandonou a crença de que esculpia a vida e teria ele esculpido. Sabia que seria seu fim, que entraria em conflito com suas crenças e sua obra máxima.
- A solidão Aqui se dá ele procurando pelo cigano
- Trevas Agora ele procura uma face oculta, envolto em trevas de um mundo que a ele antes era claro, entrando em dualidades.
- Canção de matar Ele usa a faca para fazer o paralelo do amor ao objeto da obra, de como sua morte dará vida ao seu rosto que esculpirá em madeira, tal qual na história original de uma estátua de quase dois metros talhada em madeira. Ele assim se libertaria da obsessão com a faca, trazendo morte.
- Morte do cigano Com 3 versos, anuncia a morte de como foi rápido o processo. Curioso notar o uso de sons sibilantes, como uma faca que corta o ar. Assim como o uso de sons plosivos, como se fosse o choque, um encontro de corpos, um golpe.
- Aparição O cigano vai morrendo, e aquele intermédio entre vida e morte vai se pintando ao rosto, para que o escultor possa ver. Uma das possíveis histórias originais é que o escultor viu o Cigano Cachorro falecendo e depois reconheceram o seu rosto na escultura final, mas a outra teoria é que ele realmente o matou e depois viram a semelhança do rosto e deduziram que ele matou o cigano.
- Final Nada da vida foi seu modelo, a lenda acabou assim. Não é um poema da vida, mas da morte, da complexidade e da dualidade de estar vivo.