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"Opúsculo Humanitário" FUVEST 2026 Nísia Floresta

“Opúsculo Humanitário” de Nísia Floresta – Resumo de Cada Capítulo

Seu nome e pseudônimo são uma homenagem total. Sua cidade natal leva seu nome. Viveu até os 74 anos, morreu de pneumonia.

Coleção de 62 artigos publicados de forma esporádica, em uma coletânea sobre a educação no século XIX para as mulheres. Ela mesmo foi proprietária de uma escola, Augusto, em homenagem ao pensador Augusto Comte, pai do positivismo e companhia de Nísia. Recebeu críticas duras no âmbito pedagógico e pessoal.

A educação era exclusiva aos homens, sem contar a popular frase “O melhor livro é a almofada e o bastidor”, que retrata a mentalidade da época de mulher ser um objeto a ser admirado e ocioso.

Conceitos importantes: Educação é religião; As falas são contraditórias; O feminismo atual não é o mesmo de hoje

Nísia faz uma dedicatória ao irmão.

Capítulo 1 Nísia clama pelo país, atrasado e liberal, da educação das mulheres. Ela destaca como a educação da mulher foi fator definitivo do desenvolvimento. Na Ásia, mesmo os povos babilônicos com dinheiro e sabedoria, viviam na ignorância. O que faltava era Deus.

Capítulo 2 Agora ela fala do Egito, que mesmo com os faraós, toda a sabedoria e toda a riqueza, não cultivavam a sabedoria pela mulher. “A beleza física, entre esses povos, era o único mérito real da mulher”. E ainda que tivesse beleza, era competida. Nenhum dos grandes compreendeu o mal do embrutecimento do sexo. Armavam-se contra impérios e outros reis e eram fraco de pensamento esclarecido. Sempre quis a mulher inculta para cumprir seu papel humilhante.

Capítulo 3

Agora na Grécia, contava de Licurgo, “foi o primeiro que melhor soube harmonizar os interesses da pátria com as vantagens da civilização.”. Teve tantos filósofos marcantes e se destacou ao mundo, a vida adoçou pois as mulheres participavam da sociedade, não de objeto de prazer, mas trabalho de espírito. Mas havia algo que impedia o avanço contínuo e seu estabelecimento – o paganismo, não acreditar em Deus foi a ruína deles e de tantos outros grandes povos.

Capítulo 4 Os romanos tinham mulheres exemplares, mas que não as viam como iguais. Eram heróicas, mas queriam subjulgá-las para controlar. As que se destacavam, faltavam educação, e nem os gloriosos romanos conseguiram se manter por quererem controlar as mulheres. Se houvesse educação, não haveriam Messalinas, Tulias e Agripinas.

Capítulo 5 “É uma verdade incontestável que a educação da mulher muita influência teve sempre sobre a moralidade dos povos, e que o lugar, que ela ocupa entre eles é o barômetro que indica os progressos de sua civilização.” Os bárbaros do Norte e os selvagens das Américas e da Oceania exemplificam seu ponto, deixaria de lado os europeus para falar de outros povos. Pois, mesmo com o Renascimento e avanços tecnológicos, nada mudou da educação da mulher. Lamentou o sangue derramado pelas terras, ainda mais dos reis e nobres que ficaram nos castelos, repetindo em ecos que era o papel divino. Os gregos desapareceram, haviam novos filósofos, mas a terra no Oriente se tingia de sangue e imperadores pioravam os direitos aos povos. Apenas as cristãs conseguiam ter um alívio no coração de uma vida, coisa que, para a autora era verdade. Assim ficava a educação feminina, estacionada, com povos se perdendo no anticristo, na riqueza e no sangue derramado. Ler capítulo 5

Capítulo 6 Agora o foco é nas três grandes nações da Europa Moderna e os Estados Unidos. Começa-se pela Alemanha, exemplo de país de direitos às mulheres. Baseiam a felicidade doméstica na moral esclarecida das mulheres. Aponta como os homens do Sul mantêm a ignorância da educação tão comum dos homens do Norte.

Capítulo 7

Ela explica a vantagem da mulher germânica sobre as mulheres antigas e modernas. O espírito de família e o respeito à velhice são intrínsecos, e isso o que ela concorda, devem ser melhores mães, esposas, pensadoras mais profundas como os grandes exemplos de pensadores da Alemanha.

Capítulo 8 Agora o foco é na Grã-Bretanha, povo que engrandece nas letras e nas ciências e na educação feminina. Seja pela rainha ou pelos escritores, a nação colheu muitos frutos dessa educação cultivada. Desde cedo vê as vantagens do sexo que são, ainda mais na nova vida de casada e as virtudes da vida doméstica. Assim que na França e Inglaterra se dá essa diferença da donzela e da esposa, tal qual do galanteio tão diferente reagido aos países, pois as inglesas já sabem da sinceridade e da independências nos primeiros anos.

Capítulo 9 As inglesas se destacam pela instrução do espírito, ainda que as romanas e as gregas se destaquem pela educação moral e dos costumes. A educação dos ingleses é moral, e assim deve ser a da mulher, baseada na religião. Dá exemplos de escritoras que pontuam bem essa relação da religião como base da educação e o progresso inglês, como Jane Austin, Maria Edgeworth, Inchbald e Hannah More.

Capítulo 10 Agora aponta Voltaire, sarcástico com as mulheres, e Montesquieu, desviado da visão justa das mulheres. Traçam linhas que tratam a mulher como objeto de prazer, são poucos que viam a necessidade de libertarem as mulheres de seu estado de escravo e aplicar a educação na vida delas.

Capítulo 11 Agora o foco é na França. Povo hospitaleiro ao estrangeiro, o desenvolvimento veio com o compartilhamento da inteligência com a mulher. Se retirasse esse direito, a nação cai. A francesa reina mais forte pelo espírito do que qualquer outra comandante de outro reino. Não foi só pelos exemplos do direito da educação que a França se distingue, o amor maternal se destaca. Sendo assim, a mulher moderna

Capítulo 12 Assim como a Inglaterra, a França tem mulheres produtoras de todas as classes. Traz duas que destacam a necessidade da educação moral como base, Staël e George Sand, escrevendo e produzindo e provando que a mulher será o modelo da família e digna. Se falta essa dignidade e energia, é que faltou essa educação.

Capítulo 13

Agora destaca-se a beneficiência da mulher francesa. Ela aponta como são tão benéficas, educadas na religião, que vão até para lugares que nem sua língua falam ou os homens não as respeitem. Pensou até quando isso seria possível, tamanha dedicação para a Pátria e ser menosprezada. Ainda mesmo há quem aponte, inclusive na França, que a instrução seria mais prejudicial que benéfica, sendo que se bem instruída na moral, não há exceção que minta a regra. Mesmo que esses três países se destaquem no que diz da educação da mulher, ainda há muito o que se progredir.

Capítulo 14 Agora fala-se dos Estados Unidos da América, país jovem, com gozo intermediário das vantagens da educação da metrópole com a falta da aristocracia europeia. Destacam-se pelo cunho da verdade e do útil. Semelhantes aos franceses, são polidos, mas menos ociosos para ocuparem-se com galanteios. Ainda com o amor pelas ciências com tantas escolas, aplicam apenas ao que é útil e podem tirar resultados ao país.

Capítulo 15 É notório como a mulher na América é tão companheira e participativa da vida conjugal. Pela busca da verdade, depositam esforços nas ciências, investem-se em comércios e crescem perante os outros países europeus.

Capítulo 16 O livro de Mrs Stowe destaca-se pelos preceitos que a autora defende, educação religiosa e moral, a quem a autora compara com o Evangelho moderno que todos deveriam consumir, “Cabana do Pai Tomás”. Para a autora, ficava a esperança de que as gerações lessem as obras, ou ao menos decorassem as páginas para ter essa educação americana.

Capítulo 17 Volta-se o foco ao Brasil. Mesmo com esse regresso da história da Europa, Ásia, os pensadores, os países e os exemplos, o Brasil continua sem mover os obstáculos da educação da mulher. “Deus depôs no coração da Brasileira o germe de todas as virtudes”. Deve-se abrir a possibilidade de educar e desabrochar as infinitas felicidades de uma sociedade livre e civilizada.

Capítulo 18 Há uma lamentação em tocar no assunto da vaidade e de vontades pessoais de se fazer história. Deve ser um trabalho de séculos, mas espera-se que os homens da nação comecem a agir para que percebam que a verdadeira felicidade da nação está em educar a mulher. Cabe, ao presente, contentar-se nesse cenário de exploração de mata virgem, mas que, no futuro, os frutos virão de um país justo a elas que inspiram.

Capítulo 19 Mais de um moralista já estabeleceu e ao longo da obra se destaca a máxima de que a “educação da mulher muita influência tem sobre a moralidade dos povos, e que é ela o característico mais saliente de sua civilização.”. Analisa-se o Brasil durante seus 3 séculos, e as primeiras mulheres brasileiras, mas não as indígenas, que será feito outra hora. Não será analisado com os brasileiros, que pouco escreveram, mas com os viajantes estrangeiros.

Capítulo 20 Lamenta-se a herança de Portugal de desprezar o sexo feminino, ocupavam com missionários e guerras e deixavam a mulher para a serventia da casa, que levavam nenhum trunfo da guerra. Procurando glória onde menos havia, pouco se fez da educação da mulher, ainda assim, saíram alguns gênios dessa terra.

Capítulo 21 O exemplo de Públia Hortênsia de Castro mostra que a mulher na educação é na sociedade é mais impedida pelos preconceitos do que sua capacidade. E pegando os grandes homens de Portugal, era possível ver o exemplo da nação em relação ao posicionamento da educação da mulher.

Capítulo 22 Portugal perdeu sua glória, subiu como uma nação nobre e caiu no poder. Inclusive teve que colocar o Brasil no manto da escuridão da escravidão, desviando ela da Europa. A autora é fortemente contra a escravidão. Diz que a metrópole trouxe tudo de pior ao novo solo do Brasil. Ainda que tenha tido escritores exemplares, a situação foi ruim. Mas nem só de escritores se faz uma nação. Inclusive, elogia Nóbrega e Anchieta, “esses verdadeiros apóstolos do Cristianismo.”.

Capítulo 23

A sede de ouro e a ambição de terra e poder foi o que atraiu muitos ao Brasil, desejos piores do que o caráter dos selvagens. Os selvagens são mencionados como os aborígenes da Oceania ou os nativos dos Estados Unidos. Até D. Pedro denunciou como vinham corruptos e avarentos, ainda que magistrados ou agentes fiscais para o Brasil em 1822. “De tais homens não podia provir vantagem alguma para o progresso das ideias, e por conseguinte da educação da mulher.”. Ficou para fazer trabalho têxtil e de comida, e ainda que existissem virtudes, ficavam escondidas como diamantes brutos nas famílias patriarcais do Brasil.

Capítulo 24 O Brasil vivia no ego superinflado de Portugal, orgulhoso de um passado glorioso que não possui mais e enriquecendo pessoas de outro país e sofrendo todos os males. Nem mesmo haviam escolas, a ciência era negada, precisavam ir até Portugal para serem educados. Se era intencional, pouco importa, pois isso só resultava no mesmo fim de que a mulher nenhuma educação poderia ter. Infelizmente, o que faziam eram ficar em casa, salvo exceções que tinham educação, recebiam migalhas, e se ocupavam de tecer.

Capítulo 25 “As escolas de ensino primário tinham antes o aspecto de casas penitenciárias do que de casas de educação. O método da palmatória e da vara era geralmente adotado como o melhor incentivo para o desenvolvimento da inteligência!”. Ainda que algumas instituições isentassem as meninas da palmada, ficava a audiência e até xingamentos e tapas na cara, coisas que não competiam para criar a modéstia para as mulheres. Isso quando exerciam o magistério e não entendiam dele. Ficava ao cargo de jesuítas torturadores e mestres charlatães o ensino, que só sabiam soletrar alguns clássicos. E os pais, por terem tido a mesma educação, assim a consideravam normal, e seria preciso educar os pais para ter uma boa educação aos filhos. Ler o capítulo.

Capítulo 26 “Quanto mais ignorante é um povo, tanto mais fácil é a um governo absoluto exercer sobre ele o seu ilimitado poder.”. Ainda assim, quanto maior é o poder ao soberano menos seguro ele é. “A força não pode nunca persuadir, mas sim fazer hipócritas.”. A mulher deve ter a possibilidade de elevar sua moral e uma boa educação. Todos que tentaram apenas focar na parte física da beleza, não entenderam o ponto do espírito da mulher. Ainda que nenhum homem prefira ter uma mulher que se alegre com futilidades do que uma que se honra com as virtudes da sociedade.

Capítulo 27 Referenciando e relativizando Platão, a mulher é uma alma servindo-se de um corpo. A autora acha inaceitável a mulher se dar ao ócio, aos sentidos do corpo do que elevar o intelecto da razão e sua aproximação com Deus. Dessa forma os falsos adoradores e amorais se aproveitam de controlar mulheres que não desenvolvem o intelecto para terem escravas. Ainda se usa da fraqueza física como justificativa de inferiorizar a mulher, sendo que o que destaca o homem é o intelecto, e nisso a mulher também pode ser igual ou melhor. O que se torna paradoxal, uma vez que o corpo menos robusto deveria evidenciar a necessidade de se ocupar com as faculdades intelectuais. Ainda mais, quem elogia a mulher pela fraqueza, cai em uma falácia maior de ter que admirar ela pela fraqueza.

Capítulo 28 Há uma lamentação para quem acha que a mulher veio para ser alvo de prazer e nada mais terá da vida se não uma vida sem luz. Ainda se pensa na utilidade e no tempo que se despendeu de Aristóteles e todos os filósofos de criarem a filosofia e a razão para tão pouco usarem. Há uma clareza que nem todos os homens possam ser instruídos igualmente, o mesmo se espera das mulheres, mas que pelo menos seja instruídas, e que seja bem feito. Volta-se a fazer um regresso histórico de importância para a análise da situação.

Capítulo 29 Diante de uma explosão vulcânica, portugueses procuraram refúgio no Brasil, que estava de braços abertos. Criaram-se tribunais, escolas, academias, os portos fechados para estrangeiros se abriu e a colônia teve melhoramentos com a vida da família Real, agora com o nome de Reino. A educação feminina continuava como na condição da colônia, com ineptos pedagogos, padres charlatões ou as mães da família, aprendiam tudo menos o que poderia torná-la mais digna. Ainda que pudessem ter a vantagem de estudar em tantos lugares da Europa, as mulheres nem podiam aprender a ler. Existia o dizer de que ensinar a ler e a escrever seria a porta de entrada para escreverem cartas de amor, até mesmo os pais que queriam ensinar eram censurados. Lamentável a situação que continua, sem elevar as mulheres, porque se faz-se essa crítica aos do passado, incluem-se os do presente, pois ainda pensam assim, apenas viciando o espírito em sua simplicidade primitiva.

Capítulo 30 Há um paradoxo, pois se há o apontamento da falta de instrução ser essencial pois prejudica a mulher, como as mulheres brasileiras não eram celebradas como as mais virtuosas? “Mas todos sabem, a não serem os povos selvagens, que é um paradoxo, e paradoxo ridículo, avançar-se que a ignorância é o melhor estado para o desenvolvimento das virtudes morais.”. Mesmo que se ouça o brado de abandonar vícios, outros continuam. São um povo que celebram os antepassados, apontam as virtudes que prolongam, mas cometem o erro de não aprenderem dos passados e abandonarem os vícios. “Do número desses erros é o que nos inspirou este escrito.”.

Capítulo 31 Analisam-se as escolas régias, o início da instrução com profissionais duvidosos. Deixava-se por elas dizerem que sabiam ensinar, e a elas deixavam o ensino do sexo. Ganharam essa fama e os pais não conseguem bancar escolas particulares, ficam assim frustrados. Admira-se o desleixo dos profissionais, passando ou não por ensino que os capacitavam a ensinar e pareciam nada capacitados. Dará espaço a análise dos frutos.

Capítulo 32 Analisa-se a emoção da independência do Brasil, que, mesmo com o amor da mulher de D. Pedro I, pouco podia fazer pela educação. Pouco se podia fazer quando tantos brasileiros queriam fazer um ato ingrato. Lamenta-se a falta de avanço na educação, sauda-se José Bonifácio de Andrada.

Capítulo 33 Desde 1831 o Brasil tem governo nacional, tal qual será o alvo das críticas da situação, ou falta da, educação feminina, ainda que exista o consenso geral que a educação não está bem regulada e organizada, ela se mantém a mesma. Esse bárbaro sistema, sem frutos, e que não só tolera o sistema que deixa na mão de falsos educadores e diretores a punição física, mas implora e exige a educação moral que deveria ser dada em casa, não com um estranho como punição travestida de educação. Quem tenha poder, ainda confessa que tem obediência dos subalternos, mas dos filhos não conseguem nada – o problema é mais moral do que de trabalho. Parece, como a metáfora da autora, “ao sadio e vigoroso dono de um terreno fértil, mas inculto pela preguiça de seus braços, que vai pedir ao seu vizinho, a quem falecem iguais vantagens, o alimento necessário para a vida.”. E nenhuma casa se quer é preparada para poder cuidar, seja pelo desafio grande ou de forma educacional preparativa, já que se ocupam de falar mal um do outro e de colocar picuinha em alunos. Essa confiança do brasileiro no estrangeiro e a falta de cuidar do seu que toleram esses erros a mais do que tolerariam se fossem brasileiros. Ler o capítulo.

Capítulo 34 Comenta-se sobre as leis da educação no Brasil. Levam-se mais as casas de educação como uma estimativa e atividade financeira, local que frustrados e melindrosos comerciantes recorrem ao falharem nos projetos. Comparam-se os europeus de que não vêem motivo de sair do país para educar, e lamenta tal qual António Feliciano Castilho lamenta como um país pode perder seus gênios e criadores de tais por falta de recursos. O que atrai, no final das contas um europeu para o Brasil que não existe nos Estados Unidos, é o amor à natureza e o interesse financeiro material, em nada atrai a população que falta de princípios europeus.

Capítulo 35 Faz-se uma caricatura que qualquer um no Brasil que saiba ler e escrever se denomina apto a ser diretor de colégio. Pior é a inércia do governo e do povo de não exigirem uma reforma da educação e os auto-proclamados diretores que tentam decidir como melhorar a educação da mocidade que sofre com eles. Há uma intertextualidade da autora de que ela espera virar a folha do jornal, uma vez que esses capítulos eram publicados regularmente em um jornal por ela, que veria a notícia da educação da mulher, nada encontrariam e esperariam pelo melhor no dia seguinte. Apesar das lamentações, fará-se uma análise do que realmente foi feito pelo governo em relação a esse assunto.

Capítulo 36 “Pelo Quadro demonstrativo do estado da instrução primária e secundária das províncias do Império e do município da Corte, no ano de 1852, vê-se que a estatística dos alunos, que frequentaram todas as aulas públicas, monta a 55.500, número tão limitado para a nossa população; e que neste número apenas 8.443 alunas se compreendem!”, a desproporção mostra o desrespeito e o atraso. “Na província de Minas, onde a instrução se acha mais geralmente difundida, entre 209 escolas de primeiras letras, só 24 pertencem ao sexo feminino!”, sem contar a citação infeliz de um dos presidentes da província que a mulher deve ser ensinada a ser criada de si e do marido, tal qual relação com a província e os escravos, confundindo o espírito brasileiro e o povo mineiro. “Na ilustrada Bahia, de 184 escolas primárias, 26, somente, são de meninas. Menos egoísta para com o sexo a sua rival na glória, o heroico Pernambuco, fiel a suas tradições, lhe sobressai em equidade, pois que de 82 escolas, 16 pertencem ao sexo feminino. A província do Rio de Janeiro, com 116 escolas, dá ao sexo 36. No município da Corte, a sede do governo imperial, onde devia-se mais facilitar a instrução do povo, acham-se apenas criadas nove aulas de meninas!”. Há estados que nenhum número se quer chegou. Soma-se o baixo número, o método educacional e a decadência moral e a situação fica pavorosa.

Capítulo 37 Gonçalves Dias é citado com sua revolta contra o sistema educacional, desde o uso de material ao método e os lugares. Fica-se repetindo do avanço, ainda que a educação não melhore, abrem-se bailes e teatros que só mostram sexo e aplaudem como se aquilo fosse arte. Ela idealiza o passado, que deveria ser respeitado e igualado ou ser melhor que tal. Pouco se vê realmente de progresso da nação, menos ainda da educação.

Capítulo 38 Como celebrar o progresso do Brasil se o próprio governo aponta o problema na educação? Há um comparativo de um historiador francês, Ferdinand Dinis, de que as mulheres do Brasil e os costumes de lá remotam como se fossem atividades do século XVI, sem nada a Europa influenciar mudanças. Reflete-se sobre esse falso progresso, denúncia da condição da mulher e da situação da educação brasileira defasada e má armada. Ainda houvessem outros tempos que os meninos se aventurassem para ter o mínimo de educação, mas os pais não arriscam as filhas com uma parcela de perigo do que havia antes, ainda que preocupações justas. Considera-se a mudança de atitude para os que tiveram contato com europeus, ou a Europa, ou até que tivessem fortuna.

Capítulo 39 Passado os governantes e as instituições, agora serão analisados os pais de família. Infelizmente, apesar de serem uma âncora que impeça o naufrágio dos barcos da mocidade, ainda se enganam com aparências. Sempre se levam a colocar as meninas em colégios que possuam muitas delas, sem relevar o que levam elas ali, seja condição financeira, mérito ou promessas. Até cita-se de uma educadora que impôs um limite do número de alunas para melhorar a qualidade, coisa que surpreendeu em um sistema que visa lucro. Não há como ultrapassar a educação da mãe, dado que o tempo que se investe é relacionado ao resultado da educação final.

Capítulo 40 Há uma divergência dos objetivos das instituições públicas ou privadas de ensino, mas o que elas possuem em comum é ensinar e criar o sentimento de ciúmes e inveja entre seus membros. Há até uma citação de um diretor que conta da emulação ser um sentimento nobre, contrário da inveja. Essa emulação, esse sentimento de se igualar ao outro, só pode ser bem feito quando o trabalho em casa é exemplar na criação das meninas. Mesmo que duas meninas tenham a mesma instrução escolar e o sentimento de emulação, se a mãe não a educa não se terão duas meninas iguais. Ou seja, os pais precisam visar colégios que as diretoras sejam reconhecidas pelo zelo e dedicação ao ensino, já que as meninas poderão gozar das horas de estudos reguladas e a falta de tanto contato com os escravos. Tocará-se em outro assunto da decadência dos bons costumes da mocidade.

Capítulo 41 Um estranho hábito que se fez comum no Brasil foi o de terceirizar a amamentação. Não só o problema vem da falta de cumprir com a obrigação do papel da mãe, mas de deixar para as escravas mais esse serviço após todas as condições que já vive. Já de cedo, com leite impuro, como diz a autora, a criança logo aprende que a alimentação e ser servido são naturais como chamar os pais, e que assim sempre será feito, servido. Já aprendem cedo os maus costumes ensinados aos pais, salvo a situação que escapam de não saberem ainda o que fazem. Assim como cita Fénélon, as crianças já aprendem comandos antes mesmo de falarem, são influenciados logo cedo. Citando Agostinho, as crianças aprendem por repetição e por mostragem o nome dos objetos. Todavia, as mães preferem se afastar do choro e do aborrecimento da atividade e dar aos negros, impregnando as crianças com os pensamentos sem moral. É necessário que as brasileiras tomem seu ofício de amamentarem e serem exemplos.

Capítulo 42 Os afazeres de casa são rodeados de escravos, ensinados pelo chicote. As meninas logo se acostumam a ver esse espetáculo humilhante e tratar até a própria ama como objeto de ser útil ou não a ser vendido ou jogado fora. Se quer conseguem repelir essa ingratidão e a raíz anticristã rega um lar sem valores cristãos, que, mais uma vez, para a autora é sinônimo de educação. O que era para ser um embrião de inteligência se torna um ser violento, que vai lhe envenenando pouco a pouco o seu estado natural. Outra preocupação é a falta de respeito ou de limitar os assuntos abordados na frente de crianças, discutem e falam palavras que deixaria até pessoas mais velhas coradas, iniciando-as em um caminho tenebroso que falta idade e valor cristão a ser cultivado.

Capítulo 43 Condenam-se os pais, cheios de vício e má conduta, cita-se Dr. Rendu e sua análise problemática do Brasil, povo sempre seminu, vivendo na escravidão e em comum lugar e tempo, difícil algo mudar no país enquanto continuasse a escravidão. Dói, como aponta a autora, ouvir críticas de estrangeiros, não só porque ferem o orgulho nacional, mas que são verdade. Clama-se imitar os bons costumes, sem copiar tudo.

Capítulo 44 A autora diz que é útil imitar os aspectos positivos dos outros países, como os ingleses no respeito da religião e da lei, os alemães no hábito do pensamento e o empenho de melhorar, os franceses na sua civilização e inovação, e de todos citados pelo empenho no trabalho e procura de avançar. Lamenta-se o Brasil como país que nada se assemelha a esses, da estagnação de querer melhorar e de como até as partes mais pobres dos Estados Unidos gozam de uma educação melhor do que o Brasil inteiro. Não é nem na erudição o problema, já que se pode aprender essa educação em outras gerações, mas a educação moral e religiosa que se perde nas famílias é o grande problema. Relaciona Voltaire que aprendeu música aos 84 anos, pois o importante é o ensino religioso desde a infância para não corroer o ser. Mora no lar o exemplo das meninas, do desleixo, da ira, até mesmo de ensinarem maus costumes e péssimos hábitos. “Uma mãe é então o quadro mais eloquente, para lhes servir de norma em sua conduta futura, o modelo que devem primeiro copiar; se esse modelo não é perfeito, como poderá a menina apresentar uma cópia perfeita?”.

Capítulo 45 É possível notar alguns núcleos familiares privilegiados que estão isento deste contato da podridão e da corrupção da educação. Ainda no meio corrupto, são exemplos de humanidade, de filhas que respeitam, aceitam e toleram os pais e seus crimes, e das esposas, de doar-se em espírito, alma, corpo e desejo ao lar, e das mães, direcionando e tomando as dores das crias. As mulheres vencem, mas não são felizes, a vida é uma constante luta. Congratulam-se os pais que seguem o caminho direito, que, apesar da sociedade decadente, são exemplos para as mulheres do lar. Comparam-se as meninas francesas, inglesas e alemãs das brasileiras, aquelas, respirando a inocência, livres, estas, presas em espartilhos e maquiadas como mulheres adultas. Crianças moldadas em uma moda absurda que impede a liberdade da infância.

Capítulo 46 Conta-se de um episódio aterrorizante de um colégio com oitenta alunas. “Uma menina de 6 anos frequentava como externa aquele colégio.”, ela era simpática e doce, mas assustou a diretora que, ao vê-la respirando com dificuldade, tirou o espartilho que a sufocava e apertava os órgãos. Lamenta-se que os médicos levam nenhum crédito e nada avisam as mães, vaidosas em querer ver as filhas assim. Não deu outra, a filha procurando validação da mãe, vestiu de novo na manhã seguinte, caiu nos braços da diretora e morreu. A mãe só pode ver o fruto do desejo de ver a filha bela em vez de criança e livre. A diretora, tantas vezes advertindo as mães do perigo, tomou o exemplo para alcanças as mães e as alunas, tanto pela proteção da mocidade quanto o choque do ocorrido. Repetiram-se os valores cristãos, da liberdade para as meninas, valorizarem o espírito acima do corpo, as filhas foram noticiar as mães de forma preocupante, as mães se convaleceram, mas logo esqueceram do ocorrido. “Algum tempo depois os espartilhos, tirados às que haviam testemunhado essa pungentíssima cena, voltaram de novo a comprimi-las. A imagem da morte havia desaparecido e a moda reconquistava todos os seus loucos e funestos excessos!”. Ler capítulo.

Capítulo 47 “As lições e os esforços de uma ou outra pessoa, desta ou daquela outra família nada podem contra a generalidade dos princípios e hábitos seguidos por uma nação inteira.”. Mesmo com pais que criem corretamente e com a moral e a religião em dia, os filhos se sentirão estrangeiros da pátria. A natureza do governo é um cheque social. A liberdade na educação é mal entendida, as meninas vão por superficialidades, línguas sem saberem a história, conhecimentos básicos de geografia e do mundo sem relação e de modo decorado, bordado bruto para elogios, dança para ser visto no salão, música e canto sem conhecer nada da origem. Em vez de dar bom exemplo, reprimir ações negativas e apoiar as positivas, deixa-se para ensinar tudo depois e se desculpa e se negligencia com a máxima de que é uma criança. Nada poderá se esperar da nação brasileira de progresso se a educação, no geral, seja pública, privada e domiciliar, não ter uma grande reforma. É inútil diretores quererem mudar filhos viciados e pais esperarem milagres de uma mudança de atitude de negligência domiciliar. Existe potencial, mas fica nisso.

Capítulo 48 Repete-se o assunto da importância da participação da mãe na educação, para que colha frutos da educação escolar melhor. Delas é a importância de ocupar com ocupações úteis e também pequenas distrações inocentes. É ensinar desde cedo o valor do trabalho, de como se engrandece com propósitos de produções materiais e intelectuais. Devem bastar a si mesmas, procurar o intelecto a ser desenvolvido fora ou dentro de casa, mas com exemplos de tal em casa.

Capítulo 49

Reflete-se no mau exemplo das agressões físicas e verbais que as crianças vivenciam frente aos escravos, não só que testemunham mas são incitados pelos pais a fazerem também. Defende-se que os escravos tenham coração nobre, que pode faltar a educação religiosa para engrandecerem, mas pior ainda são os senhores que acreditam comprar um animal em vez de verem um ser humano. Mas ainda assim, com todo esse histórico, jamais se perdoa desobediência, de negros sem educação propriamente aplicada, restando o silêncio e a revolta de Deus. Afastai esse costume bárbaro, diz a autora, para que todos possam gozar de um mundo cristão.

Capítulo 50 Denuncia-se o costume do tédio, tão acostumado pelas escravas em volta, reforçado pelos exemplos dos pais. Isso é possível ver na mudança da nobreza que tirou o ensino de saber de títulos para afazeres úteis e produtivos ao corpo e à mente ao exemplo da Revolução Francesa que a nobreza teve que servir à burguesia por nada saber fazer. Vêem-se no Brasil todas as classes ociosas, banhadas em dinheiro proveniente de trabalho, não de preguiça. Certamente que o ócio desperta a inteligência como cita Helvécio, mas a preguiça e a languidez eram outras e em outro lugar, não se adequando a teoria que funciona na Europa e não funciona no Brasil.

Capítulo 51 A educação física é tão mal entendida quanto à moral. Ficam em colos de escravas, estudando em casa, mal saem de casa a vida inteira, salvo algumas poucas exceções e só aos domingos, para ir à missa. Desculpam-se em governar a casa, mas em completa desordem e sem saber como ordenar. “Neste aprendizado e nesta indolência decorre a vida da menina, a quem se repete de contínuo a velha arriscada máxima “reprime todos os impulsos da natureza, e embelece-te para seres mulher”: isto é, habitua-te desde a infância à hipocrisia e procura reinar pela matéria embora o teu reinado seja de pouca duração.”. Ela cita um exemplo, Selena, do pai que narra ter ensinado em certo grau a ter força, educação e ocupar-se utilmente. Via as consequências de outros pais e países, que deixavam as meninas se ocupar de inutilidades, até mesmo da música de forma superficial, resultavam em meninas que atraíam maridos que a viam pelo físico e torravam o dinheiro do casamento. Cita Domingos José Alves de Magalhães, da nação viciada em preguiça, vaidade e avareza, fechando as portas das Ciências ao mundo.

Capítulo 52 Agora se volta a atenção para as classes pobres, sem tempo de poderem ascender social, intelectual e economicamente. Assim se compara com as mulheres europeias dos países da França, Alemanha e Inglaterra, que criam filhos e ainda auxiliam no trabalho dos maridos, colhendo frutos de crianças que apreciam e respeitam o trabalho, diferente das brasileiras que não se vêem ou são tratadas como independentes, mas que são do marido, vivem para e por ele e sem ele são nada. Dá-se nisso que o casamento a torna inútil, no sentido da produção e individualidade. Deve-se dedicar-se ao trabalho, forma de engrandecimento e de colher o respeito do marido, em vez de se deitar sobre a falsa promessa da eternidade de um matrimônio.

Capítulo 53 Analisa-se os pobres da França, que, com o trabalho e a ascensão, mantém a dignidade até mesmo na vestimenta, contrário dos brasileiros que se esbaldam em luxúria, cedendo ao crime e à ociosidade. Cita dois pensamentos de como a preguiça, a falta de contato com Deus, deixa a população viciada e inerte.

Capítulo 54 Diz-se que a análise seria feita não só da província, mas de todo o Brasil. “Todos os brasileiros, qualquer que tenha sido o lugar de seu nascimento, têm iguais direitos à fruição dos bens distribuídos pelo seu governo, assim como à consideração e ao interesse de seus concidadãos.”. São duas classes distintas que existem no Brasil, rica, que esgota a terra comprando metais com dinheiro da família, e pobre que sobra apenas as ciências e as artes para terem um pouco de nome e de respeito. Clama-se pelo amor ao trabalho e a união do povo.

Capítulo 55 Traz o assunto da falta de exemplos por parte do clero para a mocidade se inspirar. A religião enriquece a alma, muito mais importante do que qualquer riqueza material. Assim, a mulher também precisa ser instruída na religião, dado que, sem ela, nenhuma civilização pode se chamar de avançada. Mas falta instrução, bons exemplos do clero, até modos de como instruir eficientemente. Relaciona também uma moça bem instruída que Luís Filipe se admirou pelo fato dela ter tanta instrução e ter que aprender catecismo ao chegar na França.

Capítulo 56 Traz-se um relato de um padre da França que veio ministrar um dos primeiros cursos de catecismo em uma das capitais no Brasil doze anos atrás. Só que, iludidas no pensamento de levar as meninas para a educação, logo perceberam que o padre era o resumo da mocidade, alguém que vai para a Igreja como um centro de flertes e de festas. São necessários bons exemplos no púlpito.

Capítulo 57 Faz-se um apanhado geral do perfil corrompido do brasileiro, que apesar de ser modesto, dócil e generoso, é corrompido pela escravidão, preguiça e falta de religião. Até mesmo que diz o Conde de Castelnau que aqui existe clero, mas não padres. Por fim, tecerá-se um assunto em torno dos caboclos, os indígenas que possuem pele cobreada.

Capítulo 58 Enquanto a autora faz uso de um de seus poemas, “Lágrimas de um Caeté”, ela lamenta o indígena, fadado à soberba e violência do branco. Lamenta-se como não há mais como Padre Anchieta que procuram catequizar e educar o indígena, sobravam poucos dos tantos que viviam por ali. Por fim, lamenta como a morte do povo foi feita para agradar um povo que nem era o brasileiro, e pior ainda, sem benefício nenhum a ninguém.

Capítulo 59 Deseja-se focar na mulher indígena. Elas se assemelhavam às mulheres com valores cristãos, fiéis ao lar e fora, acompanhavam o marido no trabalho e na casa, ocupada com afazeres e forte. Foi a primeira a sofrer as vantagens da civilização trazida pelos europeus, tratadas como escravas, como objetos. Falavam de Cristo e agiam com hipocrisia. Porém, mesmo em meio da natureza, considerados selvagens, agiam de tal forma que era heróica e inspirava até os mais educados cristãos, já que eles eram espontâneos e não educados na fé cristã. Elogia a ética e a moral da conduta indígena, citando Paraguassu, esposa de Diogo Álvares Correa, o Caramuru. Também há a referência de Poti e de Moema, figuras da literatura e da história. Lamenta-se, mesmo que tenham algumas vitórias e honra, vão sumindo e talvez desaparecerão por completo.

Capítulo 60 Trata-se agora da fidelidade, característica inata da esposa indígena. Denuncia o esteriótipo dos indígenas serem preguiçosos e contra os valores cristãos, sendo que eles sempre se mantêm ocupados pelos exemplos que já tiveram contato. Poderiam ser de ótima ajuda para a sociedade, mas toda a atrocidade de serem escravizados, substituídos pelos negros e tomarem esteriótipos que não cabem a eles só afastam essas pessoas que também querem ver o país crescendo. Enquanto o governo não tomar medidas de educar esse povo, qualquer coisa é apenas faixada.

Capítulo 61 Resume-se que o brasileiro procura no estrangeiro as soluções, sendo que o próprio brasileiro tem meios e gente para resolver. Cita alguns trechos da obra “Viagem às Margens de Mucuri” e de como é infrutífero e cruel o modo que tentam controlar os indígenas e como respondem, além de como o matam e o violentam e suas reações. Reforçam até que eram resilientes na tortura e no tratamento desumano, começaram a serem agressivos e a responderem quando as mulheres e as crianças foram alvos de tortura. Lamenta-se toda a situação e de que a mulher indígena merece lugar melhor na sociedade, todo o tratamento é anti-nacional e anti-cristão. Espera-se que no futuro isso mude. Fará-se mais um apanhado geral das mulheres no geral.

Capítulo 62 Faz-se um pensamento da exclusão da mulher como princípio importante das sociedades, mesmo que ela seja o grande objetivo e motivo de atitudes e de ações de governos e homens ao longo da história de diversas sociedades. Pede aos pais que eduquem as filhas, saibam da religião, não sejam bonecas para exposição, saibam seu povo, sua utilidade, a história do país, que removam esses preconceitos da fragilidade do sexo e clamem pelos seus direitos e seu lugar de respeito no Brasil, tal qual os homens e o povo do Brasil reconheçam. Se temos uma terra fértil, bela e princípios elevados fáceis de serem adotados, o Brasil tem o fim certo de ser uma elevada nação.

Partes divididas: Do capítulo 1 ao capítulo 5 – Antiguidade
Do capítulo 6 ao capítulo 17 – Modernidade
Do capítulo 18 ao capítulo 24 – A herança de Portugal no Brasil
Do capítulo 25 ao capítulo 38 – O sistema e a legislação da educação no Brasil
Do capítulo 39 ao capítulo 51 – A moralidade e a hipocrisia das famílias brasileiras
Do capítulo 52 ao capítulo 54 – Os ricos e os pobres no Brasil
Do capítulo 55 ao capítulo 57 – O clero no Brasil
Do capítulo 58 ao capítulo 61 – A mulher indígena no Brasil
Capítulo 62 – Resumo geral

“Emancipação e educação feminina em ‘Opúsculo Humanitário’ de Nísia Floresta” por Francisco Aedson de Souza Oliveira e Jéssica Luana Fernandes – https://periodicos.ufersa.edu.br/kuab/article/view/12599/11601 ”As representações do feminino através das obras ‘Opúsculo Humanitário’ e ‘Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens’, de Nísia Floresta” por Milena Bruno Ferreira – https://repositorio.ufms.br/jspui/bitstream/123456789/5777/1/A ESCRITA DE AUTORIA FEMININA.pdf#page=33 ”Nísia Floresta e a recepção de romancistas estrangeiras em ‘Opúsculo Humanitário’” por Larissa Karoline Campos Oliveira – https://historiaeliteratura.fflch.usp.br/sites/historiaeliteratura.fflch.usp.br/files/inline-files/IISEMINÁRIO HISTÓRIA %26 LITERATURA _0.pdf#page=44

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FUVEST FUVEST 2026

FUVEST 2026 – Lista de obras de leitura obrigatória

Pela primeira vez, um vestibular pediu uma lista completamente composta de autoras. Havia uma lista anteriormente que a FUVEST 2028 teria outras obras, mas a mudança foi feita ainda em 2024.

Dessa forma, a FUVEST do ano de 2025, acesso 2026, possui 9 obras novas comparadas ao ano passado.

A lista de obras de leitura obrigatória da FUVEST 2026 ficou da seguinte forma:

Você pode conferir os resumos das obras clicando no nome delas.

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"As Meninas" FUVEST 2026 Lygia Fagundes Telles Resumo de Cada Capítulo

“As Meninas” de Lygia Fagundes Telles – Resumo de Cada Capítulo

Romance, ano de publicação 1973. “Para Paulo Emílio”.

Obra publicada durante o período da Ditadura Militar, supostamente o livro passou pela censura porque a obra deve ter sido vista pelo censor como algo bobo ou sem profundidade, ainda que tenha narrações explícitas dos crimes e das torturas cometidas na época.

A obra possui 12 capítulos e 4 narradores diferentes, as três protagonistas e um narrador em terceira pessoa. A narração de Lorena é marcada por conectar os temas das ideias que possui, uma atrás da outra, sem concluir ou retomar qualquer ideia, como se fugisse de um pensamento. Também tem as expressões “morrer de pena”, “se matar”, “já pensou?”, “p da vida” e “ai meu Pai”. Chama Lia de Lião ou pelo nome completo, Lia de Melo Schultz, e Ana Clara de Ana Turva ou Aninha. A narração de Lia é a mais organizada de todas, tenta sempre se distanciar dos desejos individuais e pensa em outros e no coletivo. Tem as expressões “não sei explicar”, “extraordinário”, “verboten”, “putz”. Chama as meninas pelo próprio nome que possuem ou até a Lorena de Lena e a Ana Clara de Ana ou Ana Turva. A narração de Ana Clara é a mais caótica, ela retoma ideias, mistura o que pensa, não termina frases. Ela varia entre estar sóbria e lembrar da infância traumática da mãe droga e dos amantes abusivos e estar drogada misturando as ideias, memórias, ilusões e metáforas. Também tem as expressões “Ah”, “Dureza”, “Pomba”, e é a que mais usa palavrões como “Desgraçado”, “Puta”. Chama Lorena de nhem-nhem.

Conceitos importantes: Alienação; Amadurecimento; Identidade. Recursos linguísticos importantes: Anáfora x Função Fática; Paragrafação e construção de orações; Estrangeirismos e referências

Capítulo 1

O narrador acordou, sentou na cama e deitou pois era cedo para banhar-se. Ficava pensando em coisa melhor do que tomar água de côco e fazer xixi no mar como dizia o tio da Lião, que era pensar o M. N., Marcus Nemesius, um ginecologista, diria quando caísse o último véu. Lembrava de Lião, Lia de Melo Schultz, e como escrevia, pensou na frase de que a cidade cheirava pêssego, pois era época. Dedicou a Guevara, era sobre uma reflexão da vida e a morte em latim. Ainda pensa na língua, de Guevara gostar e ela não, até quando pensava na morte em tempo livre, achava que a língua combinava. Combinava os pensamentos com M. N. e o cheiro de pêssego na cidade. Foi do pensamento do rosto peludo de M. N. paralisado de um lado, para a palavra “infinitamente” e de volta a pensar em pele de cobra que tocou. Pensava nos detalhes que Deus fazia e os pormenores do gozo com M. N., foi para Ana Clara que contava do delírio do namorado quando tirava os cílios postiços. “Em verdade vos digo que chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante do que a do sexo.”. Pensava até que a boca era mais excitante, mexendo-se desde fala até morder um pêssego, que queria escrever um livro entitulado “O Homem do Pêssego”. Um homem cheio de dureza e marcas de tal se deliciava ao passar a mão no pêssego maduro e essa cena tinha deixado a narradora maravilhada. Ele brincava de morder e não finalmente se deliciar com o pêssego e a narradora ficava na ponta do pé, engasgou com o leite que tomava quando ele finalmente se lambuzou com o suco do pêssego. Lorena Vaz Leme, o nome da narradora, não tinha vergonha. Queria ser santa, mas o Anjo Sedutor e ela toda não davam. Pensou em acender incenso, purificar-se, mas tinha sono tal qual o gato, Astronauta. Procurou por ele. Pensava como ele era preguiçoso mas astuto, bom e demônio. M. N. não o conhecia. Queria oferecer sangue a Jesus, mas podia oferecer apenas música, tinha horror a sangue e curtia Jimi Hendrix, mesmo que morreu de overdose. Levantou da cama, dançou um pouco e foi ao toca-discos. Procurava o disco de Jimi Hendrix. De pijama branco com flores amarelas e uma corrente de coração de ouro no pescoço, perguntou agora onde estava Rômulo. Deixou o disco ser tocado de leve.

Parte 2

Uma voz vinha do jardim chamando Lorena, Lorena Vaz Leme. Enquanto dançava quase a cair, Lia de Melo Schultz, Lião, a chamava que queria falar com ela. Lorena comentava da primavera, sem dar bola a Lia. Ela tentava segurar a meia acima da perna, mas o elástico já tinha se ido. Lorena até comentou ser melhor sandália, mas Lia precisava andar o dia todo. Lorena pensava na cafonice, pior mesmo era joanete, que devia ter vindo de uma Joana com pés deformados e deu origem aos joanetos. Lorena ofereceu suas meias, Lia rejeitou por serem suíças, queria francesas. Pensou que nem ia dar, era doideira usar meia para engrossar perna, mas ela ficava magra. Lorena terminou dizendo que estava apaixonada e se mataria se M. N. não a telefonasse.

Parte 3

A narradora muda para Lia, pensava na falta que Miguel fazia para ajudá-la. Lorena dizia de ouvir Jimi Hendrix e comer biscoito, mas Lia preferia sua música e seus biscoitos, detestava o colonialismo cultural de Lorena, a achava fresca. Lia continua a pedir pelo carro emprestado pela manhã. Tentava segurar as pontas como Miguel dizia, preferia ficar presa, como ele, mas aguentava Lorena e o jeito que mudava de foco, desde os biscoitos a acenar para Madre Alix com uma careta ao fim. Lorena perguntou se Lia tinha uma metralhadora na sacola, a faculdade continuava de greve. Irmã Bula brincava com o gato, atenta às duas meninas, Lorena imitava uma metralhadora. Perguntava como não sequestrariam M. N., desviando da pergunta do carro de Lia. Ela acendia um cigarro e preferia sofrer do que ver outros sofrerem, em especial Miguel preso. Tinha raiva, queria morrer, chorar. O povo estava longe, a burguesia fazia tudo sem medo. Intelectual era pior que tira, o crime acontecia. Tinha vontade de chorar, faltava lenço e até pediu a Lorena, que focava de novo em outra coisa do que o carro. Maurício, não estava ali, mas era torturado com um bastão elétrico. Miguel tinha dito que morreria se adiantasse algo, mas preocupavam-se mais com a cor de graxa de sapato a usar.

Parte 4

Lia pediu a caixa de lenço verde das ofertadas por Lorena. Lorena dá o lenço verde de Istambul, tão precioso, mas que tentou se conformar que era lenço para Lião que estava já impaciente. Percebeu a depressão existencial. Pensou se era Miguel preso ainda, pensou em todos os outros presos e a possibilidade dela também ser presa. Tinha medo mesmo do pensionato e quando via padre e freira por perto. Lião devolveria no dia seguinte, Lorena até disse para ficar e pegar outro e jogou o rosa. Pensou no lenço que não abriu que se conectou com o coração dela que não abria e borbulhava o sangue, tal qual o episódio com a espingarda com Remo que era tudo brincadeira e a mãe viu. Não quis mais pensar naquilo e queria sentir o sol. Lorena reclamou de como não ficava bronzeada para Lião e ela perguntou do velho, que era como chamava M. N., amado de Lorena. Ficava irritada de como o chamava de velho. Falava de comer caviar e Lorena notava como Lião mudou. Perguntou se foi para pior. Pensava em secreções, empadas com café e em tomar vinho com M. N. e comer lagosta, chamava de lagostim. Até chegou ao pensamento das crianças do Nordeste que passam fome e como precisava carregar esse povo nas costas. Pensou que Deus podia ter seus motivos. Lião dizia que devolvia amanhã o lenço, Lorena sabia que não, era mesquinha, sabia que não podia emprestar coisas pessoais. Irmã Bula chamava por Lia pela janela. Lião tem medo e Ana Clara posa de indiferente. Ela chega e pega vários lenços para se limpar depois do sexo, sem cerimônia e poesia. Pensava em como ela agia diferente, até de se masturbar, Lião achava tudo estranho e se impressionava com o tanto de mulheres que faziam nada, herança de Idade Média. Duas abelhas foram perto e Lorena afastou, pensando que M. N. podia aprender que para afastar bastava ser assim brando. Viu a abelha esfregando as patas e associou à memória de Lião estudando sobre masturbação. Teve a primeira experiência em uma aula de piano, enquanto tocava o banco a estimulava, tocou sem errar e a mãe a elogiou. A segunda vez foi em banho de banheira, o jato quente passou pelo corpo e passava o pensamento de Felipe e sua moto.

Parte 5

A narração muda para outra pessoa além de Lorena e Lia, a gata cheirava a sacola de couro de Lia, desconfiada. Lembrava de Lorena que conversava com Mieux para ter certeza de tudo. Falavam do banheiro a ser reformado, Mieux era motorista e tinha um caso com a copeira, era galanteador. Ele já imaginava como seria o quarto, enquanto contava para a mãe de Lorena, toda afobada. Como ele ia por trás e não o viam, Mieux passou a mão na bunda de Lorena.

Parte 6

A narração volta para Lorena, ouviu Lião chegar e aceitou a oferta de chá. Ela estava eufórica de uma chamada. A narração de Lorena é marcada pela interjeição “Ai meu Pai”, tinha dó de Lião, estourou de falta, sem dinheiro na metade do mês, namorante preso. Ela faz movimentos para desenvolver o busto, ela se acha a mais bonita e se mantinha como a modelo das três, mexeu na água e preparava o chá. Lião perguntou de baixar o volume da vitrola e já diminuiu tudo. Lorena vai para muitos pensamentos inacabados, tratando do prazer das pequenas coisas até a pensar de novo em M. N., ofereceu frutas, ficou lamentando-se de M. N. não ligar e iria se matar. Lião roía o biscoito, Lorena não entendia como ela, com bunda de baiana, vestisse roupas que não a dessem vantagem. Lorena pensava em qualquer outra coisa, especialmente sobre o corpo, do que os pedidos de Lião para pedir o carro, coisa que ela sempre era salva por Lorena – dinheiro. Zombou ainda das pernas, Lia tentava manter o foco de como e quando pedir o carro. Lorena até pensou no mundo infestado de máquinas, ainda mais em Era de Aquário. Lia poemas, falou de Tagore. Discutiam do amor que acabou, Lia dizia como tudo estava na Bíblia, achava nada novo os poemas. Lorena se encantava com os romances clássicos e Lia mal tem paciência para isso. Ela para a água de ferver do chá, como seu pai ensinou, deu o cinzeiro para Lia depositar a maçã e começou a brincadeira tão comum de entrevistar uma a outra. Fingiu que segurava um microfone e pediu a “sua opinião sobre alguns problemas importantes da nossa comunidade”. Descobre-se que Lia faz Ciências Sociais, trancou a matrícula e rodou de tanta falta. Ela escrevia um romance, mas rasgou tudo, Lia se surpreende, ainda mais que ela gostava tanto. Ofereceu uvas e Lia recusa. Fala da novidade de uma poetisa do Amazonas que ficaria no quarto de Lia, pensou que poderia ser índia, deu o chá para Lia que o mexia e a encarava, além de pedir mais açúcar. Começou a discussão de onde ela devia ficar, Lia apontou o quarto de Lorena que tinha até banheiro, comentou do hábito de índio tomar banho, falaram de deixar no quarto de Ana Clara, mas todo o uso de drogas que ela faz, ainda não mencionado, afetaria a naturalidade da índia, além de que ela logo sairia, pois estava combinada de casar com o industrial, que na verdade era traficante. A todo momento Ana Turva, apelido de Ana Clara, estava dopada, além de dever dinheiro a ponto de ir gente bater na porta do pensionato. Lia mal sabia do fato dele ser traficante, Lorena comentava até das picadas de agulha. Lorena sonhava nesse milagre do casamento e até emprestaria dinheiro, que ela dizia ao contrário para não afastar, superstição, e que precisava casar virgem. Lia ria que ela devia acreditar num milagre de verdade, não em casamento com gente rica, crença de cristão que ela achava graça. Lorena dá mais chá e ouve a voz de drogado do Jimi Hendrix, fica pensando, “voz turbilhonada de quem pede socorro mas não quer ser socorrido”. Comentam que ela estava melhor ontem e Madre Alix a ajudaria com uma análise. Lia achava loucura.

Parte 7

A narração volta para Lia. Ela recebe a xícara e contempla a riqueza dos objetos no quarto, pergunta da grana da família. Lorena fica séria, comenta como a agência de publicidade de Mieux deu em nada e gastaram muito com a loja de decoração e ainda gasta. Lorena já entendeu a conversa de que ela queria dinheiro e perguntou se precisava. Lia queria chá, via a amiga fazendo exercícios e afirmou que talvez precisasse para fazer umas operações na Ana Clara. Lorena teve pena, Lia achava isso revoltante, um sentimento de superioridade isso de morrer de pena de todo mundo. Viu a coleção de sinos de Lorena e perguntou como ia, o irmão de Lorena, Remo, ia trazer alguns da Tunísia. Ela sonhava com esse mundo que o irmão viajava e Lia lembrava da amiga alienada que pediu para ir a uma reunião da universidade. Assistiam filmes de vietcongue com sangue, os comentários eram poucos e cortados por olhares julgadores, são muitos filmes, bebiam uísque e comiam patê, além de debaterem o que poderiam ver depois. Uns pedem carona ao final, riem, mas são vigilantes e bem informados os intelectuais. Sabem quem foi preso e torturado, acham superior, sabem do estupro, tem gente que dá detalhe, há quem peça uma suavização do tom, para curtirem o encontro e não falarem daquilo. Contam também de quem sumiu e nunca mais voltou. Supostamente, mesmo que esse livro tenha sido publicado durante a Ditadura Militar, ele passou pois o censor achou a leitura chata e tabelou a obra como uma história longa sobre meninas. Lorena mostrava os sinos e falava da nacionalidade. Lia pensava no livro rasgado, podia aproveitar o que tinha escrito em outra coisa, como em um diário, “estilo simples, direto”, mas ninguém gostava do que escrevia, ponderava se as pessoas possuíam bom gosto ou sabiam o que era bom. Lia lembrou mais uma vez do carro, Lorena ameaçou se matar se ouvisse mais uma vez. Mencionou como devia pegar um sino para saber por onde ela andava e que todos deveriam fazer isso, como as cabras. Lorena queria dar um orixá para Lia, presente que foi da mãe. Dizia da separação dos dois, de como lamentam quando ficam sem notícia, do pai que resistia. Lorena falava do amado telefonar e se Lia iria jantar. Lorena nem ouviu e Lia só deu um afago na cabeça e foi embora. Aumentou o som da vitrola. Via a amiga indo embora e observava como ela parecia ter esquecido algo. Lorena disse para ficar tranquila com a história do carro, ela mesma tinha ganhado um e nem foi buscar o cheque, deixava uma chave para Lia pois não gostava de conduzir. Lia está distante, Lorena tenta fazer caretas, fazia muito melhor do que Remo e Rômulo. Pediu para estacionar na esquina e combinaram qual caixinha ficaria a chave. Lorena respeitava esse turbilhão de demônios de Lia e perguntava nada. Lorena perguntou de novo quem tinha o hímen complacente e Lia riu como a muito tempo Lorena não tinha visto. Lorena pensava em resolver os problemas, até da virgindade. Lia lembrou de pedir de volta o dinheiro de Ana Clara, mas Lorena pediu para chamar ao contrário, de “oriehnid”. As duas levantam o punho fechado, com a saudação antifascista. Ela foi andando embora, Lorena pergunta se ela tinha uma banana. Supôs que ela ia embora feliz, marchando como soldado em dia de desfile. Ler página 25

Sugestão de leitura extra – “Por que a Ditadura Militar não censurou ‘As Meninas’?” por Thais Morgado dos Santos e Rosa Maria Valente Fernandes – https://periodicos.unisantos.br/leopoldianum/article/view/689/562

Capítulo 2

Alguém chama pela Coelha, Ana Clara, Ana Clara Conceição, chamado pela Lorena de Ana Turva, se esforça para abrir os olhos, já que tinha uma orla negra vinda de um soco. Tentou disfarçar que tinha sono com um beijo e uma mordida em quem a chamava, Max. Ele estava preocupada que Ana Clara estava gelada, ela dizia que era que não estava brilhante. Ela dizia que o amava, mas ele não entendia como se ela não gostava de fazer sexo. Ana Clara dizia que estava travada, comentou que veria um analista, ele disse para comentar de como se contraía que nem ostra, coisa que ela odeia, e ele teve vontade de comer ostra com vinho branco. Max procurou por um baseado e entregou a Ana Clara, falando de como aquilo engrena, mas Ana Clara pensava em como nada engrenava e como sua cabeça era sua maior inimiga, só deixava ela triste, só o porre deixava ela em paz. Ana Clara disse que não poderia demorar muito, Max vai para a cozinha e a narração se mistura em terceira pessoa com a de Ana Clara pensando em como todos só queriam fazer amor com ela e a usavam como objeto. Ela mesma sabia que era bonita, tinha um metro e setenta, “uma beleza de modelo”, mas ela sentia nada, estava travada, na falta de uma palavra melhor. Ela mal sentia tesão pelo Max que amava, imagine com o anão que estava para casar, que a chamava de Escamoso. Dava a desculpa que era virgem, por isso era fria. Ele ria, como os outros, Ana Clara ia da mesa para a cama e vice-versa, queria era só dormir, sem ninguém a chamando para “fazer um amorzinho”. Queria que sua cabeça virasse uma abóbora, tal qual das histórias da mãe. Sempre ficava na falta de dinheiro, até porque também nunca cobrava dos outros o dinheiro que emprestava. Ela tenta lembrar do nome do dentista com a ajuda de Max, mas ela bloqueou e só lembrava pelo apelido, Doutor Algodãozinho. Olha para o copo, lembra do papo de Lorena sobre neve, mas mal existia neve por ali e ela achava lindo, achava ela uma enjoada. Comia o gelo e falava do dentista que trocava o algodão do buraco dos dentes por muito tempo sem fazer nada. Max disse que ela tinha bons dentes, julgou que ele trabalhava bem, mas ele negligenciava o trabalho, o algodão escondia o buraco abrindo para fazer uma ponte, tanto na mãe quanto na filha. Ele cantava e ela se esforçava para dormir para ir embora logo. Pensava nesse estereótipo de canção e em avós, tal qual na possibilidade de Madre Alix poder ter sido sua avó. Ela pergunta a Max se freira podia ser avó, mas ele estava ocupado escolhendo discos. Ela o achava lindo, inicialmente pelos dentes perfeitos, mas em janeiro ela se casava com vida nova, dava a desculpa que era sua vez de ser rica, a dele já foi. Ele faz uma analogia com uma hóstia do disco que escolheu e Ana Clara dizia que tinha ódio de Deus, mas ela tinha mesma era da música, tal qual mania da Lorena, “uns negros berrando o dia inteiro um berreiro desgraçado”. Tinha ódio de negro, ainda que o dentista fosse branco de olho azul, ele era sacana. Doutor Hachibe, aparentemente o terapeuta dela, contou que as pessoas expulsam os nomes para se protegerem, mas o apelido ficava. Adiantava nada, ela lembrava dos barulhos do dentista e adiantou nada bloquear o nome. Lembrava dela ser cliente assídua como uma outra negra. Lembrava da cera que ia sendo colocada no buraco e da única paz que teve quando seu nervo foi tapado e não fisgava mais. Lembrava dos cheiros, da cera com creolina queimando o dente, o cheiro de mijo, não de pipi que nem Lorena falava, o de cerveja choca da boca do Doutor Algodãozinho. Cheiro é um elemento muito importante na construção de mundo em literatura infantil, Ana Clara é visivelmente abalada com cheiros e pode ser que nunca se distanciou ou superou a infância. O cheiro de cerveja vinha pois ele tomava depois do jantar, horário dos clientes miseráveis. Queria machucá-lo, xingava-o. Max interrompia que queria ser abraçado pois tinha frio. Doutor Algodãozinho falou que os quatro dentes da frente estavam perdidos, Ana Clara chorava desconsolada e ele dizia que faria uma ponte e deixaria perfeito tal qual a mãe e como faria com Teo, que era desdentado. Sentia o frio da correntinha que beliscava a pele, não era chique ou de ouro, era escura e tinha mancha de sangue. A mão fria ia vindo, a boca quente repetindo a ponte, ela fechou a boca mas o nariz estava aberto, tendo as memórias, lembrava do cheiro de cimento da construção que só fazia barulho e deixava irritado Teo na casa, das flores da floricultura que trabalhou, e especialmente do suor, vômito, mijo e do Doutor Algodãozinho. A narração vai se misturando na confusão da ponta e de Doutor Algodãozinho apalpando ela, com tanta força que estourou um botão da blusa e logo ele foi depois para baixo, Ana Clara queria o botão de volta mas ela se confundia com a luz e fechava os olhos. A ponte ia levar ela para longe de tudo, dos homens baratas da construção, para um novo emprego, longe da mãe, ia fazer um curso noturno de manicure e um homem se apaixonaria por ela e se casaria. As unhas do dedo de barata do Doutor arrebentavam a calça e ia a cutucando, lembrava de tantas baratas na construção e como elas fugiam dos ataques. Lembrou-se e confundiu-se com o ataque do Doutor Algodãozinho em sua mãe, Ana Clara pegou uma barata e jogou na sopa para misturar, o amante da mãe ia quebrando móvel da casa e sua mãe só porque a janta não estava pronta. Os pensamentos se confundem entre ela chorando e gritando enquanto era apalpada, com a sopa ficando pronta depois do banho de barata, pensou que poderia se safar porque a sopa ficou pronta e a moça negra ouvia lá fora, o Doutor Algodãozinho tinha medo dela. Foi lá falar com ela que não tinha como atender, deu até uns remédios para suprir a dor, e ela ia ouvindo tudo, os comprimidos balançando, ela guardando na bolsa, dizendo que entendia a dor e a situação, o portão fechando e o sapato de borracha fazendo barulho. Ana Clara chorava pedindo uísque e Max a abraçou, os dois se uniam e o copo até caiu. Ela queria dinheiro acima de tudo, que se dane fazer amor ou superstição. Ela respondeu que tinha depressão. Ficava revoltada com os diferentes terapeutas e na hipocrisia que adultos choravam por infância, morte e depois abusavam dos outros, ainda mais sexualmente com ela. O casamento seria vida nova, ela falava alto, seria livre pelo dinheiro, não por ser como Lia, uma terrorista subdesenvolvida, destrancaria a matrícula e seria uma intelectual burguesa. “Liberdade é segurança”. Discutia em mente com Lia e si mesma sobre a vida melhor que seria. Sem ônibus, sem contrariar, quis saber as horas mas Max delirava em um relógio que tinha. Ela tentou esmurrar ele, ganhou uma mordida no pescoço e ela ria sem poder pedir que não, já que o Escamoso veria e perguntaria o que era. Ficava enraivecida quando ele esfregava na cara a família que tinha. Ela não tinha uma, morreram todos em um vôo internacional na Escócia, achava chique morrer para um monstro escocês. Tentou lembrar de um nome, “Até o Amargo Fim”, Max queria era comprar uma ilha. Continua pensando na possibilidade de uma família e do ano novo. Ela e Max não se entendem porque cada um fica em uma loucura, até dizem um ao outro que são lindos e se amam mas não respondem outras perguntas. Ana Clara lembra de outro terapeuta e diz como é feliz ali. Chamou Max de lindo como David, ele teve ciúmes, ela explicou a estátua de Michelangelo que Lorena contou sobre. Ele falava de viajar, ela falava que ele não era mais rico, ela contou da coleção de sinos em resposta dos postais de Max e ele disse que seu piu-piu era maior que o de David. Ana Clara pensava na sua vez de ser rica, em como Lorena e Lena emprestavam dinheiro para suas enrascadas, ia casar e ser virgem de novo. De novo Max escolhe música do berreiro. Já passa ela por agressões demais, quer carinho. Pensou na agressão do corpo, de ser violada, humilhada, gastaria dinheiro com bobeiras. Pensa no dinheiro, na vida nova enquanto Max vai a beijando. Ia pedir dinheiro para a operação de virgindade. Pensava na Lena, na Lorena que já foi rica. Ela sentia frio, se cobriram e ele pediu que se casassem. Ela perguntava das horas de novo, Max a comparava com a governanta. Ela reclama dos nhem-nhem-nhem de Lia e as ideias comunitas de Lorena e precisa explicar de novo as amigas para Max – Lia era a magrela cabeçuda, Lorena era a gorda bossa retirante. Max achava ruim ver tristeza, queria ver mais gente contente, pedia que ficasse mas ela achava estar grávida. Ele ficou inocente e pediu para terem, seria bom até que fossem gêmeos e misturava francês com a Mademoiselle da governanta que lembrava. Ela se sentia lúcida e achava ruim, ainda mais achava ruim que foi ficar pobre. Perguntava da irmã e Max não queria falar dela. Tentava ameaçar com gelo, mas Max só delirava da Mademoiselle e do japonês que cronometrava o tempo de natação, ela queria saber da irmã de qualquer forma. Ele deu de falar da mãe, Ana Clara queria saber mas ele só delirava entre falar com alguém que não estava lá e chorar. Agora lembrava de ver a casa derrubada, mas ficava mais triste da Jaboticabeira que estava no chão entre os destroços das paredes de seus quartos que deu espaço a um edifício. Queria ser rica, queria a infância de Max, ganhou uma massagem enquanto Max contava de um chinesinho. Queria conversa com Max, não tinha, ano que vem era vida nova.

Capítulo 3

Parte 1

A Lorena volta a ser narradora e pensa nas torturas, pensava que não era forte, era delicada e logo soltava tudo. Pensava no Bank of Boston, na Marinha e também em Rômulo e Remo, assim como Rômulo que tomou um tiro sem querer no peito enquanto brincavam com uma arma sem saber que estava carregada. Pensava na morte de Rômulo que se conectava com a ideia das plantas dorme-maria. Lembrava do Astronauta, o gato, pensa em Carlos Drummond de Andrade e em como as pessoas são sentidas pela presença e ausência, como um testemunho das pessoas desaparecidas durante a Ditadura Militar. Lembrou da mãe que a deixou para ficar no quarto de choffer e foi morar com Mieux que cada vez mais tirava seu dinheiro. Pensava em como tudo era preto lá fora, mas se alienava no seu mundo rosa e dourado. Lia comentava que precisava-se de peito de ferro para aguentar a cidade. Gostava do dinheiro que vinha no envelope, era Deus que a visitava e dia de comprar discos. Bastava sua alienação e pensava nas pupilas que dilatavam como quando Lia pegava as notícias do mundo. Ficava com a pupila cheia como o Astronauta com medo ou Ana Clara de tão drogada. Pensava no equilíbrio de Madre Alix no pensionato que dava medo. Pensava em como Lião se enraivecia com a música de Hendrix, falava que nem tinha Wagner, mas tinha leite. Foi comer uma maçã e pegou os livros do curso de Direito para estudar. Como quem já mal tem paciência para começar, pensou saber tudo e estaria pronta para uma prova no dia seguinte se a greve acabasse. Via o livro que Lia tinha o hábito de ficar rabiscando e marcando e viu um trecho marcado que dizia de obedecer a Pátria como se obedece Deus, precisava-se dar de todo e amar não importa como. Achava estranho, pois jurava que Lia achava que o povo era a Pátria e que ela não acreditasse em Deus. Enquanto abria as torneiras da banheira, lembrava de Lia chegando com as malas e “O Capital” escondido em saco de pão mal escondido. Era filha de alemão, Herr Paul, Seu Pô, ex-nazista, comerciante tranquilo, com baiana, Dona Dionísia. Supostamente o pai era desligado e quando viu o que era nazismo, arrancou a farda e veio marchando para Salvador, coisa de cinema. Herdou do pai a resiliência e da mãe o corpo. Lembrou de conhecer Lia, oferecer para tomar um banho de banheira e como ela via tudo da Lorena. Ela até preparou o banho, mas ela cochilou na poltrona. Pensava em que música Ana Clara e Lia podiam ser, ela era uma balada medieval. Tentava mostrar e dar o que as meninas não tinham, como a música, até pensava agora em descobrir o cinema. Lião ainda transbordou da água e se sentiu mal, erro de cálculo de Lorena. Ela emprestava o que dava para as meninas, oriehnid para Ana Clara, carro para Lia. Lia gostou do banho. Lorena precisava se misturar com a massa, ainda que tivesse medo. Falava do corpo de Ana Clara, era magrérrima, tinha peitos pobres, era mais pálida, dizia que estava apenas constatando, até porque fazia de tudo pela Ana Clara, dava oriehnid, apertava a mão nos abortos, sabia que ia ter problemas com ela na vida, mas emprestava desde o primeiro dia que a viu e já pegou a emprestar tudo, preferia até isso do que a Ana Clara moribunda de agora. Era cheia de dívidas, mas alteza, agora nem saía do quarto. Pensava se envelheceriam, pensava nela quase surda e virgem, Lião gorda energética de aventuras, Ana Clara mentirosa toda maquiada mentindo a idade. Sabia do amor, ouviu tantas histórias que sabia até mesmo os efeitos das drogas. Lembrava da cena de Ana Clara abortando e Lorena presente, aumentava o volume da música para fugir desse pensamento. Lorena tomava sol mesmo que não ganhasse bronzeado e ficasse vermelha ali com seu almoço de maçã, triângulo de queijo, bolacha de água e sal e cenoura. Via uma conversa de formigas confusa, pensou que Ana Clara poderia ser uma raposa. Queria enganar mas era alienada, foi engravidar e nem para ser do noivo e lá ia ela dar oriehnid e apertar a mão na intimidade que achava ruim. Ajudava, amai o outro, ajudava Ana Turva que se chamou de Ana Preta nos raros momentos que teve de humor. Ela era amada, ovelha negra sempre é amada, como Madre Alix a adorava e deu o Agnus Dei a ela, de uma outra freira que virou santa que Ana Clara não sabia o nome. Lembrava do quarto de Ana, desorganizado totalmente, foi procurar do perfume que ela usou todo e culpou o gato. Mandou Sebastiana lavar a roupa embolada e ela ficou maravilhada com o quadro que tinha dela ali. Pensou ser modelo, Lorena explicou que quase, queria ser bonita assim para M. N. a procurar ali. Mas vai saber, tinham que combinar diferente, ficava na esperança.

Parte 2

Lorena foi avisada que uma carta chegou do estrangeiro, apesar de ela estar esperando um telefonema. Irmã Bula estava arrancando algumas plantas de forma violenta, ela falava do Papa, do vício aumentar no mundo e Lorena pensava em como ela era bruta na jardinagem e bordado, tal violência remetia com Rômulo e sua mãe que tentava tapar o buraco do tiro, estava pálido, era tudo brincadeira e ele empalidecia. Tentava fugir de novo dessa lembrança da morte, pensava nas letras do bordado mal feito do lenço da freira. Pensava no uso das letras, como morriam, viviam, e nas plantas que a irmã arrancava sem julgamento. Pensava na omissão de coisas subentendidas, mas ela queria a verdade, nada omisso, como queria de M. N., queria a verdade, mas ele “sugere reticências. Omissões.”. Ela ficava torrando no sol, pensando na vida, o que de forma curiosa é diferente dos pensamentos de Ana Clara, que não consegue separar a linha entre um pensamento concluído e outro, fazendo com que as ideias se misturem, e de Lia, que tenta focar seu pensamento para não lembrar da verdade de outros pensamentos que tenta não ficar pensando para sofrer menos. Lia pensava na omissão, em como M. N. disse que a mulher dele não devia saber. Não entendia a paixão dele por uma mulher obesa, vesga e com dentadura postiça. Pensou até que todas as esposas eram belas fadas antes. Gostava nem da esposa dele. A mãe dele contou que a tia já foi bonita, comportava-se como ainda fosse. A tia Luci mostrava todo o corpo cheio de cirurgias, pernas com varizes, operação no pé, os peitos que os médicos tentavam botar na cabeça dela que pareciam ter quinze anos, entretanto a voz não escondia a idade. Tinha até pensado que M. N. casou por interesse do dinheiro, mas viu que era amor mesmo, mas ele caiu no problema da burguesia de sua esposa que era a avareza, a soberba e a gula, como Lião percebia que a burguesia de país subdesenvolvido é gulosa. Tinha cinco filhos, Lorena não entendia como. Lembrou até de ter ido ler cartas e ver seu futuro, era um caso difícil, mas ela tinha vários homens que chegariam para ela, prometendo amor, mesmo que ela só quisesse seu rei proibido. Lia falava de pedir ajuda para Iemanjá, mas Lorena gostava de fadas. Mas era tudo proibido, queria casar, queria a papelada para dar segurança que Mieux não deu para sua mãe, mas Lia dizia que mais ninguém quer casar, fora padre, gay e prostituta. Conta também a origem do apelido de Mieux, que falava uma frase toda hora de na falta de alguém melhor, era a mãe de Lorena mesmo. Só que abreviava tudo que situação, até com vinho. Lorena achava estranho, considerava-o simples. Mas a tia arrematou que de simples tinha nada, era esperto, investigou a mãe da Lorena em tudo quanto é lugar para saber das posses, dinheiro, era um golpe. Não casaram nem foi por ter ficado sã, mas que apareceria a diferença de idade entre ela e Mieux. Tinham até planejado vestido de mãe e filha combinando, mas amaldiçoou essa mania de brasileira de viver falando de documento. Tinha pena da mãe, queria ser jovem, tinha até o desenho dos vestidos em um livro que a deu, guardava assim como guardava as cartas para M. N. com medo, mas queria, queria se desapegar da imaginação das consequências e sofrimentos. A Irmã Priscila finalmente deu a carta para Lorena, era do irmão. Ela perguntou se estava melhor, disse que sim, como tinha nada para fazer da greve da faculdade, ficava por ali, estava esperando um telefonema do amado para jantar. Adiava para ler a carta, mal lia para Lia pois tudo que vinha do exterior comentava sobre o Nordeste em paralelo. Achou ter ouvido o telefone.

Parte 3 Pensava no telefonema e naquela casarão silencioso. Até pensou no Fabrizio, andava como homem das cavernas com cara barbuda e cabelo espetado, podia até ser um cinema com hambúrguer e chope com ele. Pensou em um dia que se viram depois de uma chuva forte, ele tinha tomado banho e estava toda frágil com ele. Iam tomar um chá de 5 minutos que virou uma hora porque a chaleira não ligava, daí deu de acabar a energia, quando voltou, ficaram se encarando. A palavra amantes ressoou por ela naquela noite. Lorena chegou encharcada com estatísticas, foi para o tapete mostrar tudo. Lia ficou tão feliz depois dela ter dado o discurso da burguesia decadente, a falsa virtude dos velhos e a decomposição da geração que ofereceu a metade da garrafa do uísque quando ela partia. Fabrizio continuava ali e chegou agora Ana Clara. Sorriu pálida, ela queria livros emprestados porque ia destrancar a matrícula de Psicologia. Disse que ia ler, usava óculos, sinal de que parou de beber. Ficou até as quatro da madrugada e dormiu ali. Fabrizio, sem entusiasmo, montou na moto e disse que voltava amanhã. “Amanhã conheci M. N.”. Comparou Fabrizio a um cachorro estabanado, pensou como Astronauta a fez ficar comovida com gatos. Cuidou dele todinho em dia que foi ao cinema com Aninha (sóbria), deu mamadeira, ensinou com esforço a fazer xixi no quintal e nada de interesse. Ninguém segura gato, ela se desata a rir de estar fadada à solidão, lembrava disso quando a tia falava ao entrar de um casamento e ir logo a outro. Foi ouvir Bethânia, pensando em M. N. e no telefonema e como não vivia mais sem música, sem M. N., e um esqueleto franzino que descobriram.

Sugestão e leitura extra – “Gênero e crítica social em ‘As Meninas’ de Lygia Fagundes Telles” por Amara Cristina de Barros e Silva Botelho e Caio Victor Lima Cavalcanti Leite – https://periodicos.ufcat.edu.br/lep/article/view/41234

Capítulo 4

Parte 1

Há uma reclamação do tempo passar rápido demais por Ana Clara, tentando chamar Max para prestar atenção a Mozart. Ela comia açúcar e gostava, comia e não engordava, como engordava Lião, mas não o mesmo de Lorena. Discutiam de música e de pintura, Max gostava de louco, Ana Clara tinha pavor. Ana Clara gostava muito dos Estados Unidos, as ideias de Lia são mais europeias e Lorena é mais brasileira. O Escamoso gostava de viajar, Ana Clara até voltaria com as aulas de inglês mas ficava sóbria, queria ficar dopada de novo. Max continuava pirando, meio que tentando ver o céu com algo voando e usando Ana Clara de escudo em risadas. Ficava cansada de abstrações, sempre viveu com monstros. Refere-se a Lorena frequentemente com “nhem-nhem-nhem-nhem”, frequentemente ela não termina os pensamentos, foi de querer quarto com rosa, tudo quadrado a reclamar da predileção de Lorena por Van Gogh. Até pensava na nova clientela de psicóloga que teria, seria uma vida nova, mas nada de problemas de mendigo, escolheria a clientela. Max ficava se rindo de um pássaro querer bicar seu pênis. Ficava enraivecida com o nome completo, Ana Clara Conceição, as pessoas ficavam surpresas pelo nome completo, ela ficava louca, nome valia nada, a Lorena tinha nome de bandeirante que estuprava e enfiava um tição em negro para procurar ouro escondido e estupravam índias. Nome valia nada segundo ela, comprava um novo, rasgava a certidão e faria do pai um imperador, Caio César Augusto Conceição, professor universitário. Tinha raiva da mãe que sabia até fazer sexo em terreno baldio mas não sabia segurar para levar ao cartório registrar o nome. Via Max dormindo feliz segurando o pinto e pensando que a sua mãe nunca ficou com negro, levava de tudo quanto era nojento, menos negro. Achavam Ana Clara italiana, sabia lá de onde vinha, depois inventava. Era ruiva, autêntica, pele branca como Lorena, suspeita era Lia, declarava-se branca, distante dos subdesenvolvidos. Pensava no Jorge, que falava quase Jóge e tinha anel vermelho com unha do dedinho grande. Ana Clara queria mais do que tudo era esquecer, fumando, bebendo, não queria lembrar do som do anel acertando a mãe enquanto batia nela em bofetadas, dizia que quando acabasse a construção se livrava delas, mas nunca terminava e o quarto ficava com baratas e ratos, tudo coberto de cal, levou esse costume até para o pensionato. E Aldo tinha comido a barata na sopa, Ana Clara tinha ideias boas no ódio, ainda mais na noite antes da mãe morrer. Agora era Sérgio, queria outro filho, depois de tanto apanhar e ficar encolhida, tomou formicida e morreu. Um outro Gaúcho matou o irmão de aborto, ela viu até o aborto na lata, sentiu nada. Pensou até em trazer flores, mas odiava a floricultura e queria distância a partir de então de tudo que tinha ódio. Pensava em outra menina que perguntava da mãe, perguntava a Max o que fazia já que estava grávida.

Parte 2 Ana Clara estava agora delirando com drogas, sentia tudo diferente e dizia a Madre Alix, na sua frente como gafanhoto, que era uma despedida, ano novo era vida nova. Falava da experimentação, comprar casa na praia para Madre Alix, uma amiga vesga, Adriana, foram ao cinema, tomaram sorvete, teve até uma senhora que veio querer saber o que ela fazia na praia e ela rápida soltou que os pais se foram de forma trágica, começou a rezar, imaginou sendo adotada, até desviava do Doutor Algodãozinho. Ia enrolando pensamentos de uma violência sexual, com uma tecelã velha perguntando da morte dos pais e ela se emaranhando no tapete. Esqueceram o assunto e pensava nas noites na varanda, gente bebendo que lhe dava fome e a lembrava de comida com as cores. Ana Clara pensava nos perfumes, como Lia se gabava de usar pouco e Lorena de falar que sentia o cheiro dela de longe. Pausa os pensamentos em injetar drogas, esbanjar dinheiro e querer ser verdadeiro. Achava fácil quem dizia ser verdadeiro, ser rico e falar a verdade era fácil. Pensava no casamento por amor, o Agnus Dei que a protegeu, até Max acordar rindo e falando de uma canção. Ana Clara pensa em uma estrada vermelha, gosta de tudo, até dos negros, até da guitarra. Pergunta-se que horas seriam. Tentava entender o que se passava no quarto de uísque e a perna de Max. Queria fazer xixi, no pensamento foi levada a pensar em Lulu, seu cão, e de como era empolgado e de como gostava de ir ao mar. Pensou nas coisas que eram jogadas ao mar para serem esquecidas, no Doutor Algodãozinho e pedia para Lulu voltar. Sonhou estar remando e ser puxada para baixo, acordou se amaldiçoando por engravidar como a mãe, mas ela renasceria como borboleta, diferente da mãe que morreu como formiga. Ana Clara odiava negros, talvez pela experiência de violência sexual, julgava Lia que gostava da negada, era corintiana. Falava que gostava até casar que não casava, ela não acreditava no casamento mas, se amasse, até mesmo um negro, pensaria. Eles têm é ódio de negro, pensava Ana Clara, mas ela tinha ódio e não escondia do quê. Queria jóias, até gritou para Max, ele falou que dormisse, beijou seu corpo e ficou investigando. Pensou em uma desintoxicação, viu os pés de Max, lembrou das artes e teatros que viu com Lia. Até disse a Max que ano que vem era outro. Ele soluçava e respondeu só para ter paz da dor. Ela pensa no cerco que estão fazendo segundo Lião e chora de soluçar pedindo que Max pare de vender drogas para os menininhos e pede que comecem a fazer esportes, que o japonesinho estava olhando. Ela odeia chorar porque estraga a cara bonita. Delira vendo quatro irmãs, uma representando cada estação e com vestidos e pele de porcelana. Elas cantam uma canção e Ana Clara reconhece. Ainda pensa na formigona morrendo e um anão que passou dizendo que não havia importância. Pensava em fazer exercícios e ir a uma clínica para se desintoxicar. Ela amaldiçoava-se de ter engravidado de Max, justo um pobre. Tentava acordá-lo para conversar. Pensava em formigas e baratas e suas feições e atitudes. Ficava também revoltada com as análises, pagar dinheiro para se autoflagelar com coisas que queria esquecer do passado que a machucavam e machucaram. Lembrava de sonhos recorrentes como as mulheres dos vestidos ou um homem com lábio leporino, sonhava com o coração sendo visto por fora. Max tinha fome e Ana Clara disse que dormisse. Via o quarto, pouca luz, paredes escuras, tentava dar intimidade aquele local mas não era o resultado. Ficava de novo a tentar tirar a poeira de tudo. Sonhava que caía em um buraco e era uma fossa. Refletia de novo sobre os antigos namorados de sua mãe, agora era Adamastor. Pensava e discutia sobre o futebol, tal qual Lorena não gostava por causa dos negros, mal sabia o que era ser corintiana. Max perguntava se ela tinha noivo, explicou o corpo do escamoso. Ele convidou para conhecerem o mundo, ainda mais o Afeganistão para montar em camelo. Ela lembrou que ele montou em um cisne, pediu para contar a história com uma ameaça de um murro, ele disse que era um porco, recebeu o murro no queixo e sangrou, ele disse que quebrou seu dente em soluços. Era brincadeira e pediu até que retribuísse, ela contou que estava grávida de novo e Max queria o filho, disse de conhecer o mundo e comprar uma ilha. Ana Clara disse de se enfiar com mafiosos. Ele lembrava de uma amante peluda que perguntava de ir ao casamento, ela não conseguia focar naquele delírio, pensava em sua história de cinderela. Tentou saber as horas, ia se aprontar rápido, tinha mania de relógio. Ao se ver no espelho, se afastou da imagem, assustada com o que viu dela.