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Tema de Redação do ENEM de 2024 – “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”

O tema de redação do ENEM de 2024 foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Seguindo o modelo de temas que o ENEM sempre cobra, ele volta para mais um tipo de direito social que é negligenciado, seja por falta de políticas públicas ou também uma apatia da sociedade.

Você pode conferir o pdf da prova, ver a imagem do tema de redação completo ou ler os textos na íntegra abaixo:

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2024 Redação UEA UEA UEA 2024 acesso 2025

Tema de Redação da UEA de 2024 – “Crianças e adolescentes devem ser proibidos de acessar redes sociais?”

A UEA 2025, do ano de 2024, teve como tema de redação a pergunta “Crianças e adolescentes devem ser proibidos de acessar redes sociais?”. O tema seguiu a tendência das últimas duas edições da UEA em propor uma pergunta, além de ser um tema parecido com o que foi cobrado no SIS 3 da UEA de 2021.

Você pode conferir a prova da UEA de 2024, ver a imagem abaixo ou ler os textos na íntegra abaixo:

Texto 1
A interação de crianças com a internet ocorre cada vez mais cedo e de forma ampla. Cerca de um terço dos usuários da rede no mundo é de crianças e adolescentes, segundo dados da pesquisa TIC Kids on-line, produzida pelo Comitê Gestor da Internet (CGO.br). Ao todo, 95% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos acessaram a internet em 2023. Entre as crianças de 9 a 10 anos, 68% disseram ter perfis em redes sociais.
“Importante destacar as oportunidades de aprendizado e entretenimento e acesso a direitos fundamentais dessa presença de crianças e adolescentes no ambiente digital, mas também os riscos de exploração, exposição e acesso a conteúdos inapropriados”, diz Maria Mello, coordenadora do Programa Criança e Consumo do Instituto Alana, entidade de histórica atuação nos direitos da infância.
(Pedro Rafael Vilela. https://agenciabrasil.ebc.com.br, 14.03.2024. Adaptado.)

Texto 2
O governador da Flórida, nos Estados Unidos, Ron DeSantis, sancionou um projeto de lei que limita o acesso de menores de 16 anos a redes sociais. A norma entrará em vigor em 1o de janeiro de 2025. A partir do ano que vem, crianças com menos de 14 anos estarão proibidas de acessar as plataformas de redes sociais, e adolescentes entre 14 e 15 anos podem ter acesso, desde que obtenham consentimento dos pais, uma medida que, segundo seus apoiadores, protegerá esses jovens e crianças dos riscos on-line à saúde mental.
Apoiadores afirmam que a lei conterá os efeitos prejudiciais das redes sociais sobre o bem-estar das crianças que usam essas plataformas excessivamente e que, como resultado, podem sofrer de ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental.
(https://g1.globo.com, 26.03.2024. Adaptado.)

Texto 3

(www.instagram.com, 26.07.2018.)

Texto 4
Proibir o uso das redes sociais não é a solução e achar que elas vão deixar de existir é ilusão. Uma das correntes positivas encontradas nas redes é o aprendizado. Hoje, já é possível encontrar diversos perfis para se aprender temas diversos que vão desde cozinhar até falar outro idioma. A própria plataforma do TikTok já disponibiliza uma seção “Aprender” com conteúdos mais educativos. Além do acesso ao conhecimento, as redes sociais também ampliaram as interações sociais. Conhecer novas pessoas com interesses em comum, por exemplo, faz com que as redes sociais promovam aspectos de socialização e de comunicação. Isso acontece com mais intensidade durante a adolescência, já que essa é uma fase em que há a inclusão social do indivíduo em grupos.
(Carolina Delboni. www.estadao.com.br, 14.08.2023. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Crianças e adolescentes devem ser proibidos de acessar redes sociais?

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Tema de Redação da UEA SIS 3 de 2024 – “Queda nos índices de vacinação: entre o medo e a desinformação”

O tema de redação da UEA SIS 3 de 2024 foi “Queda nos índices de vacinação: entre o medo e a desinformação”. Diferente dos últimos temas que eram posicionamentos ou perguntas, este tema precisava traçar um limite que diferenciava quando o medo era um fator de diminuição das taxas de pessoas vacinadas e como a desinformação afasta pessoas deste protocolo de saúde. A redação, que já é a segunda do sistema seriado, trazia 4 textos motivadores de apoio.

Você pode conferir o tema de redação na íntegra pelo link da prova da UEA SIS de 2024, na imagem a seguir ou vendo os textos na íntegra abaixo:

Texto 1

(Quinho. www.em.com.br)

Texto 2
Mais de 60% dos municípios brasileiros não atingiram no ano de 2023 a meta de 95% de cobertura vacinal recomendada pelo Ministério da Saúde, quando considerados os imunizantes aplicados durante o primeiro ano de vida. Ainda que o total de cidades no país que alcançou o índice tenha saltado de 1 745 em 2022 para 2 100 no último ano — de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 5 568 municípios espalhados por todo o território —, os números mostram-se aquém do necessário.
Desde 2016, as coberturas de todos os imunizantes previstos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) estão em queda. A situação é preocupante, uma vez que surtos de doenças imunopreveníveis, como sarampo e poliomielite, podem surgir em todo o Brasil, colocando em xeque a saúde da população.
(Natasha Pinelli. “Maioria dos municípios brasileiros não atingiu a meta de cobertura para vacinas do calendário infantil em 2023”. https://butantan.gov.br, 23.02.2024. Adaptado.)


Texto 3
Pelo menos 1 a cada 5 brasileiros afirma já ter sentido medo de se vacinar ou desistiu de tomar a vacina após ler uma notícia negativa em plataformas digitais. Isso é o que revela o “Estudo sobre Consciência Vacinal no Brasil”, realizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público em conjunto com a Universidade Santo Amaro (Unisa), publicado em 2024.
A pesquisa revela que 72% dos entrevistados confiam ou confiam muito nas vacinas e 90% acham os imunizantes importantes ou muito importantes para a saúde pessoal, da família e da comunidade. Embora predomine a confiança quanto a segurança, eficácia e benefício das vacinas, os brasileiros ainda têm receio: 21% avaliam como alto o risco de reações das vacinas e 27% afirmam já ter sentido medo de se vacinar ou de levar uma criança ou adolescente para se vacinar. Dos 27% que alegaram ter medo, 66% disseram ter receio de reações ou efeitos colaterais graves.
(Conselho Nacional de Secretários de Saúde. “Brasileiros ainda deixam de se vacinar por medo e desinformação, revela pesquisa desenvolvida pelo CNMP”. www.conass.org.br, 06.06.2024. Adaptado.)


Texto 4
Especialistas apontaram as notícias falsas desfavoráveis à vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV) como um dos entraves ao avanço da imunização contra o câncer de colo de útero. Para o ano de 2023, foram estimados 17 mil novos casos desse tipo de câncer, que é o terceiro mais incidente entre mulheres, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A vacina é considerada o meio mais eficaz de prevenção ao HPV, responsável por esse e outros tipos de câncer.
Para o coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Fernando Henrique de Albuquerque Maia, o “negacionismo” da eficácia da vacina, ao lhe atribuir falsos efeitos colaterais, contribuiu para a rejeição de parte da população à imunização. A Coordenadora do Programa Útero é Vida, da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, Jurema de Oliveira Lima, também reconheceu as dificuldades impostas ao tratamento pela propagação de
notícias falsas.
(Emanuelle Brasil. “Para especialistas, fake news prejudicaram o avanço da imunização contra o HPV”. www.camara.leg.br, 07.11.2023. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Queda nos índices de vacinação: entre o medo e a desinformação

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Tema de Redação da UEA SIS 2 de 2024 – “Mães solo no mercado de trabalho: uma realidade possível?”

O tema de redação da UEA SIS 2 de 2024 foi “Mães solo no mercado de trabalho: uma realidade possível?”. Como primeiro contato de redação do sistema seriado, os alunos precisavam discutir dos entraves, dificuldades e sobrecarga de mães que cuidam sozinhas das crianças e como empresas não facilitam a absorção dessas trabalhadoras e a falta de políticas públicas faz o problema persistir.

Para ajudar o aluno, foram apresentados 4 textos motivadores, você pode conferir a imagem abaixo da prova, conferir o link do documento da prova da UEA SIS 2 2024 ou ver os textos na íntegra abaixo:

Texto 1


(A Mãe Solo. www.facebook.com)

Texto 2
O número de mães solo, aquelas que cuidam sozinhas de seus filhos, aumentou 17,8% na última década, passando de 9,6 milhões em 2012 para 11,3 milhões em 2022. Esta situação gera ainda mais dificuldades para o ingresso dessas mulheres no mercado de trabalho. Esse é o resultado de uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo indica que a maior parte dessas mães, pouco mais de 70%, vive apenas com seus filhos, é formada por mulheres negras, com baixa escolaridade, e está no Norte e Nordeste do país.
Janaína Feijó, responsável pelo estudo, resume a dificuldade enfrentada por essas mães: “essa mãe praticamente não tem com quem contar, não tem uma rede de apoio e não conta também com o pai da criança, o que faz com que a sobrecarga da maternidade recaia muito mais forte sobre a mãe nestas condições”.
(Carolina Pessoa Mulatinho. “Mães solo têm mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho”. https://agenciabrasil.ebc.com.br, 14.05.2023.)

Texto 3
A falta de oportunidades de empregos que possibilitem às mães solo condições adequadas para cuidar dos filhos, como creches, flexibilidade de horários, opção de trabalho remoto, e a ineficácia de políticas públicas1 podem ser entraves determinantes para que elas consigam conciliar ou não maternidade e trabalho para garantir o sustento de suas famílias.
A professora de filosofia Joelma de Paulo traz sua perspectiva sobre o tema: “A maternidade dificulta o acesso da mãe ao mercado de trabalho exatamente por não existirem políticas públicas. A mãe solo que não tem rede de apoio dificilmente vai poder retornar ao mercado de trabalho. O único projeto que conheço para ajudar as mães solo é a creche em período integral”.
(Andréa Alves. “Mães solo enfrentam desafios no mercado de trabalho”. https://portalluneta.com.br, 05.02.2024. Adaptado.)
1 políticas públicas são ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos previstos na Constituição Federal e em outras leis.

Texto 4
Para entender a alta proporção de mães solo com baixo nível educacional, é necessário analisar em que fase da vida elas se tornaram mães pela primeira vez. Como a maternidade requer uma dedicação quase que exclusiva das mães nos primeiros anos da infância da criança, torna-se muito difícil conciliar com outras atividades e responsabilidades.
Quando a maternidade acontece durante a fase escolar (antes dos 24 anos), pode desencadear uma série de desdobramentos na vida profissional e pessoal da mulher, que, a longo prazo, pode ser irreversível. A interrupção dos estudos é uma delas.
A falta de capacitação faz com que seja cada vez mais difícil essa mãe ser absorvida pelo mercado de trabalho e compromete seus salários potenciais futuros. Mesmo quando a criança atinge a idade de frequentar a escola e essa mãe pode ir em busca de emprego, ainda assim a mãe solo
enfrenta dificuldades.
(Janaína Feijó. “Mães solo no mercado de trabalho”. https://blogdoibre.fgv.br, 12.05.2023. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto expositivo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Mães solo no mercado de trabalho: uma realidade possível?

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2024 Redação UEA Redação UEA SIS 2 Redação UEA SIS 3 UEA

UEA 2025, Macro, SIS 2 e SIS 3 – Sugestões de temas de redação para estudar

Visando ajudar os alunos com a redação da UEA no ano de 2024 para a UEA edição 2025, tanto Macro quanto SIS, fiz uma coletânea de 3 eixos temáticos com 12 temas. Obviamente, quero deixar claro que acho muito mais valioso saber como argumentar é muito melhor do que saber de um tema de antemão.

Veja os eixos temáticos e os temas:

1. Natureza e meio ambiente:

– A educação ambiental: entre o desafio de um mundo pós-pandemia e a formação do docente

Atualmente as brincadeiras das crianças estão cada vez mais ligadas à tecnologia e menos a ambientes abertos que propiciem interação com a natureza. A escola através da Educação Ambiental (EA) permite aos estudantes interagir e se conscientizar sobre o meio ambiente. Entretanto, com a pandemia causada pela COVID-19 o ambiente escolar foi substituído pelo ensino remoto representando grandes desafios aos professores que lecionam EA. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão crítica sobre os desafios da Educação Ambiental para reaproximar os estudantes da natureza em um contexto pós-pandemia, a fim de formar cidadãos ambientalmente conscientes. Inicialmente foi realizada uma revisão sistemática da literatura focando em trabalhos que tratassem da EA pós-pandemia. Como resultados da revisão foram encontrados dois trabalhos, ambos publicados em 2020. Após análises foram elencados três temas que serviram de base para as reflexões. A pandemia evidenciou as desigualdades no acesso às tecnologias e consequentemente à educação, além disso o ensino remoto evidenciou a falta de formação dos professores para o trabalho com as novas tecnologias. Neste contexto de incertezas e agravos nos problemas socioambientais a EA se apresenta como uma ferramenta de transformação da sociedade. Mesmo com as dificuldades causadas pela pandemia o trabalho com a EA deve continuar vislumbrando os desafios que surgirão. Assim, a EA em um contexto pós-pandemia deve priorizar a reaproximação dos estudantes com a natureza recriando o sentimento de pertencimento ambiental, que será base para a formação de cidadãos conscientes e sobre o ambiente que os cerca.
(fonte: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CENÁRIO PÓS-PANDEMIA: REFLEXÕES E POSSIBILIDADES, dezembro de 2021, vários autores, disponível no link: https://www.researchgate.net/publication/357093035_A_EDUCACAO_AMBIENTAL_NO_CENARIO_POS-PANDEMIA_REFLEXOES_E_POSSIBILIDADES)

Estamos preparados para a próxima pandemia?

Para Ester Sabino, imunologista e professora da Faculdade de Medicina da USP, o monitoramento de patógenos é essencial para que o mundo não seja pego desprevenido como foi da última vez:

“O sequenciamento é importante, porque ele dá alguns dados a mais sobre os agentes: qual é a linhagem, se existem variações importantes que estão fazendo com que esse agente adquira novas capacidades e também para saber se estão mudando as regiões em que a vacina deve produzir anticorpos”, disse a médica.

Ester Sabino explicou ainda que isso é importante tanto para vírus, como também para bactérias – já que as superbactérias, resistentes a antibióticos, são outra preocupação das autoridades de saúde.

Agora, a professora destaca que apenas monitorar os patógenos não é suficiente. Nesse aspecto, ela defende o compartilhamento de informações:

“Sequenciar só por sequenciar não adianta, tem que se inserir dentro de um processo. É preciso um sistema de informações que indique se alguma coisa está mudando”, explicou.

Ester Sabino ficou famosa em 2020 por liderar a equipe que sequenciou os genes do SARS-CoV-2, o coronavírus causador da Covid-19. Ou seja, ela entende mesmo do assunto.

(Fonte: “Como a OMS está se preparando para uma próxima pandemia?”, Site “Olhar Digital”, Bob Furuya, 09/04/2024, disponível no link https://olhardigital.com.br/2024/04/09/medicina-e-saude/como-a-oms-esta-se-preparando-para-uma-proxima-pandemia/)

– O quanto devemos urbanizar os centros não-urbanos?
A urbanização é o processo de concentração da população de uma nação e suas principais atividades econômicas em um contexto de cidade, ao invés de rural.

Esse processo começou gradativamente no mundo desde a entrada da Idade Moderna e a consolidação de seus novos valores industriais (a Revolução Industrial) , e é atualmente o modo de vida predominante nos países industrializados e mesmo naqueles em processo de desenvolvimento.

Desde meados do século 20, mais pessoas viveram em contextos urbanos no mundo ( 54% da população mundial ) do que em locais rurais, e mesmo as projeções futuras apontam para apenas um terço da população mundial em ambientes rurais por ano 2040. Isso representa uma mudança significativa em relação à tendência mundial dos séculos anteriores, que favorecia a vida rural.
Outras distinções quando se fala em urbanização podem ser:

Suburbanização. Também chamada de urbanização por derramamento, consiste na disseminação da cidade para os territórios rurais devido ao excesso de concentração habitacional na cidade, para a qual se fundam novos bairros remotos de baixa densidade , ligados ao núcleo urbano por vias rápidas.

Desenvolvimento Rural. Ocorre quando a cidade exerce influência sobre as áreas rurais que a cercam, mas como seus custos são tão elevados, muitas das atividades econômicas e vivenciais que normalmente ocorrem em seu interior passam a ser localizadas em terrenos rurais, como as ilhas urbanas de área rural.

Periurbanização. Trata-se do surgimento de espaços dentro da cidade que não atendem a propósitos tradicionais de comércio , habitabilidade ou industrial , mas que proporcionam uma espécie de “espaço intermediário” à cidade, como parques, instalações de trânsito, rodovias, etc.

Desvantagens da urbanização

Maximização do consumo . A demanda por eletricidade e combustível é muito maior nas cidades, o que afeta os mercados mundiais de matérias-primas e os efeitos adversos dos métodos de geração de eletricidade disponíveis.

Empobrecimento da agricultura. A preferência geral pelo modelo de vida urbana tende a ser em detrimento da vida rural, em muitos casos empobrecida e abandonada, já que em alguns casos a indústria pode abastecer suas atividades (como nos países importadores).

Maior pobreza urbana. migração das áreas rurais para as cidades afeta a qualidade de vida destes, visto que muitas vezes as alegadas oportunidades são escassas e a migração rural marginal aumenta cinturões das grandes cidades.

Impacto ambiental . Ao concentrar a população em poucos quilômetros, o impacto sobre a qualidade do ar , da água e do soloé maximizado, o que por sua vez afeta a saúde da população e do ecossistema . (Fonte: Urbanização, site Conceitos do Mundo, disponível no link: https://conceitosdomundo.pt/urbanizacao/)


– Desastres ambientais: quem paga a conta são as empresas ou o povo?
Nos últimos anos, o Brasil tem sido palco de desastres ambientais devastadores que expuseram a vulnerabilidade de nossas cidades e a negligência na gestão de recursos naturais. Exemplos emblemáticos incluem os desastres de Brumadinho e Maceió, causados por operações negligenciadas de empresas privadas, e a recente tragédia no Rio Grande do Sul, decorrente de eventos climáticos extremos. Mas afinal, quem paga a conta desses desastres?

Em Brumadinho, o rompimento da barragem da Vale em 2019 resultou em 270 mortes e uma destruição ambiental sem precedentes. A empresa, embora responsabilizada, ainda enfrenta processos judiciais lentos, e a aplicação de punições efetivas permanece incerta. A tragédia expôs falhas na fiscalização e na regulamentação da segurança de barragens, refletindo um sistema onde a negligência corporativa tem consequências devastadoras para a população.
Diferentemente de Brumadinho e Maceió, o desastre no Rio Grande do Sul não foi causado por uma empresa, mas por eventos climáticos extremos. Enchentes e tempestades devastaram cidades, destruindo infraestrutura e deixando milhares de desabrigados. Este caso destaca a urgência de repensar a urbanização para resistir a eventos climáticos extremos, bem como ter bons planos de gestão de crise.

No caso do Rio Grande do Sul, a responsabilidade se desloca em grande parte para o poder público, que deve investir de maneira estratégica e sustentável na criação de cidades mais resilientes. Isso implica em desenvolver infraestruturas que possam resistir aos impactos das mudanças climáticas e implementar políticas públicas voltadas à prevenção e resposta a desastres. A construção de arranjos urbanos que considerem as especificidades naturais e socioeconômicas de cada região é essencial para minimizar futuros riscos.
(Fonte: Quem paga a conta dos desastres ambientais? Uma reflexão sobre Brumadinho, Maceió e o Rio Grande do Sul, Andressa de Mello, 03/07/2024, disponível no link – https://www.linkedin.com/pulse/quem-paga-conta-dos-desastres-ambientais-uma-reflex%C3%A3o-de-mello-3pz6f)

2. Direitos sociais e garantia deles

– Por que é cada vez mais difícil ocupar um lugar público?
A noção de espaço público remete a um local pertencente ao poder público, que deve estar disponível para a população ocupar e usufruir. De uma forma ampla, é entendido como um lugar do qual todos somos donos e pelo qual todos somos responsáveis. No Brasil, aparentemente, existe uma dificuldade quanto a esse entendimento ou, até mesmo, um desconhecimento do conceito. Apesar disso, esses locais são ocupados de diversas formas, por comércio ambulante, festividades, atividades de arte e cultura, manifestações religiosas, práticas esportivas etc.

O artigo 6º da Constituição Federal do Brasil institui o lazer como um dos direitos sociais básicos, junto da educação, saúde, trabalho e segurança. O poder público tem a incumbência de utilizar o espaço público para a promoção de lazer, mas não só isso, também administrar esses locais de modo a envolver outras atividades de arte e cultura, religiosidade, esportes etc. No entanto, ainda falta a identificação, por parte da população, de como e de quem deve ocupar e usufruir desses ambientes.
(Fonte: A importância do entendimento e ocupação do espaço público, Tiago Maia, 19/07/2023, disponível no link – https://ufop.br/noticias/em-discussao/importancia-do-entendimento-e-ocupacao-do-espaco-publico


– Alimentação com ultraprocessados: dificuldade em encontrar produtos orgânicos ou preço competitivo?
O médico e escritor Chris van Tulleken defende que, em prol da saúde públicaalimentos ultraprocessados recebam o mesmo tratamento dado aos cigarros.

Infectologista do Hospital de Doenças Tropicais de Londres, professor da Universidade College London, no Reino Unido, e apresentador de alguns programas na BBC, ele também é autor do livro Gente Ultraprocessada – Por que Comemos Coisas que Não São Comida, e Por Que Não Conseguimos Parar de Comê-las (Editora Elefante).

Isso porque o conceito de ultraprocessados foi desenvolvido pela equipe liderada pelo epidemiologista brasileiro Carlos Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) — que, inclusive, assina o prefácio do novo livro.

O médico britânico confessa que duvidou do conceito de ultraprocessados de início e achava que os malefícios apontados nos estudos estavam relacionados apenas aos excessos de gordura, açúcar e sal presentes em muitos desses produtos.

Para colocar a ideia à prova, ele resolveu se submeter a uma pesquisa, em que radicalizou a própria dieta e passou a comer basicamente alimentos ultraprocessados.

Em entrevista à BBC News Brasil, van Tulleken sugere que países e governos tomem ações mais contundentes para diminuir o consumo de ultraprocessados entre a população.

Na opinião dele, as grandes redes alimentícias vão destruir as culinárias tradicionais nos próximos 50 anos — e não há muito o que as pessoas individualmente possam fazer para mudar esse cenário (ou a própria dieta).
(Fonte: ‘Precisamos odiar os ultraprocessados para deixar de comê-los’, diz autor de best-seller sobre indústria de alimentos, André Biernath, 19/10/2024, disponível no link https://www.bbc.com/portuguese/articles/cm286xmrlklo)

– Estudar na universidade é para todos?

Perguntas delicadas não têm respostas simples. Neste caso, respondo “não” e “sim”. Não: nem todo mundo precisa fazer faculdade. Sim: todo mundo deve ter condições de fazer faculdade se quiser.

O leitor percebe que, como na questão das cotas, o “não” e o “sim” não são simétricos. Ambos são compossíveis porque se sustentam em argumentos diferentes.

Quando digo que nem todo mundo precisa fazer faculdade, apenas constato o óbvio: a universidade não é o único caminho possível para a realização pessoal e profissional. Muita gente trabalha em profissões perfeitamente dignas, algumas remunerando bem, outras até muito bem, que não exigem formação universitária. Os exemplos se espalham à nossa volta.

Entretanto, todos deveriam poder escolher entre fazer ou não fazer faculdade. Para tanto, todos deveriam ter acesso a uma educação básica de qualidade para disputar nas mesmas condições a possibilidade de entrar na universidade. Atendendo ao que for específico de cada curso, a universidade, como curso considerado não por acaso “superior”, deve continuar selecionando sempre pelo mérito intelectual. Para tanto, a mensuração desse mérito, que é individual, não pode ser afetada por razões de ordem completamente outra, como cor da pele e condição econômica da família
(Fonte: Todo mundo tem que ir para a faculdade?, Gustavo Bernardo, 25/10/2024, disponível no link https://www.revista.vestibular.uerj.br/coluna/coluna.php?seq_coluna=32)

– O esporte é um direito ou é um gasto?

3. Internet

– Aumento de cirurgias estéticas em jovens: entre a pressão nas redes sociais e a irresponsabilidade dos cirurgiões
– Casas de aposta online: joga quem quer? , Formação educacional na internet: elitização de um direito ou democratização do acesso? , Quando vamos sair da era da indignação?

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"Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá" Lima Barreto UNICAMP 2025

“Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá” de Lima Barreto – Resumo de Cada Capítulo

Lima Barreto foi um escritor que tinha muitas obras panfletárias, isso significa que muito do que ele escreve mais vende uma ideia do que de fato uma narrativa, mas isso não desqualifica ou diminui seu trabalho. A obra mistura ficção e uma parte da vida do próprio Lima Barreto.

O livro começa com uma advertência, que Augusto Machado pediu para publicar a obra, que parecia precisar de exatidões para a obra ficar boa, mas dispensou, e uma explicação necessária, explicando de onde nasceu essa monografia, da consciência de divisão de trabalhos tanto de Lima Barreto quanto do doutor Pelino Guedes, nem se julga com a verdade e muito menos de saber da arte de ser doutor. Por fim, Augusto Machado pede perdão.

São 12 capítulos

Capítulo I – O inventor e a aeronave

O narrador, Machado, nunca pensou que Gonzaga de Sá se importasse com balões. Porém, ele retoma ao dia que o conheceu, pois foi à Secretaria de Cultos de um caso do Bispo de Tocantins que só recebeu 16 salvas de tiros em vez de 18. Conversaram muito, elogiaram e resolveram nada. Até pesquisavam outros países para poder separar bem as salvas de tiros e de cada religião. O caso ia de secretaria para ministério, de culto para estrangeiros e guerra, este último que decidiu adicionar um de canhão que reduziria o número de salvas mas satisfazia o prestígio. Isso que surgiam dúvidas de o que fazer a partir de agora com essas salvas. O narrador até fala da importância da secretaria de Cultos, maior que da Aviação, e nessas empreitadas no lugar do diretor, conheceu Gonzaga de Sá, que analisava quantas setas devia ter a imagem de São Sebastião. Era “um velho alto, já não de todo grisalho, mas avançado em idade, todo seco, com um longo pescoço de ave, um grande gogó, certa macieza na voz grave, tendo uns longes de doçura e sofrimento no olhar enérgico. A sua tez era amarelada, quase dessa cera amarela de certos círios.”. Julgava-o de um passado antigo de família, ele até quase casou duas vezes, com uma filha de visconde e uma lavadeira. Ele ia frequentemente aos cultos, mas não de enriquecimento como a nobreza, mas de alma. O narrador comenta que para conhecer bem um homem precisa saber como ele morreu. Conta de Lord Bacon, cheio de vilania, mas que morreu tentando ver como o frio podia reviver alguém com um frango. E o narrador volta para contar de Gonzaga de Sá. Esperava-o em um morro, via o mar, fumava e apreciava o horizonte, descreve toda a região litorânea, pensava e avaliava sobre toda sua vida e pode ser bom com o que lembrou e também desprezou outras coisas. Estava melancólico, tal como a cidade e pausou a reflexão, pensava que a criação e a atualidade eram harmoniosas, os avós de Portugal e África se conectavam e era fruto e espelho do lugar. Pensou até nas referências de leitura estrangeira, considerou que sabiam muito pouco mas também achava que sabia menos ainda. O amigo chegou, reclamava dos ingleses, sempre apressados, disse que nem para alguém como se ele estivesse indo a morte devia se ter pressa, o narrador se arrepiou de pensar em morte. Iam a casa de Gonzaga jantar, ainda que ela não estivesse lá e foram a pé. Falaram de quem morava por ali, falava de novo da morte e como lugar e gente se conectava a isso. Ao chegar em casa, ia pegar uma flor no jardim que oferecia ao narrador, caiu e morreu. Deixou ao narrador o seu legado, tinha uma obra escrita chamada “O inventor e a aeronave”, decidiu publicar pois considerava-o muito inteligente. A narrativa fala de um homem fixado e focado em construir aeronaves, estudava e até deixava de dormir. Por vinte anos, escreveu um projeto e finalmente dormiu bem. No dia seguinte, traçava os custos e materiais necessários e partiu para a oficina para montar. Montava com meticulosidade e polia tudo para ser perfeito. Mal dormiu na noite que antecedia o vôo, já no amanhecer, apaixonado e saboreando o momento, ligou o motor e a máquina perfeita não voou. Era “o que havia na folha amarelada de almaço”. O narrador não entendeu de primeira vez, mas julgou que era uma metáfora ao Acaso, que, por mais que você seja sábio ou se prepare, nem Deus pode intervir contra o Acaso.

Capítulo II – Primeiras informações

“Manuel Joaquim Gonzaga de Sá era bacharel em letras pelo antigo Imperial Colégio Dom Pedro II.”. Teve boa educação, conhecia psicologia, metafísica, não foi casado e apenas amou duas vezes, a filha do visconde e a lavadeira. Podia ser muito sendo filho de general, “não quis.”, devia passar por muitas solenidades e formalidades que o aborreciam. Era razoável trabalhador, até teve dia que trabalhava quando Deodoro declarava república em Campo de Sant’Ana. O narrador lamenta que o brasileiro não aprecie outras inteligências como a de filosofia e sociologia, que deixam evidente a diferença de quem estuda e não. Ou escolhem funcionalismo ou doutorado. Possuem ânimo no começo, mas vai esvaindo ao longo dos anos e param de estudar para só conversar. O narrador conhecia um escriturário que foi para a Europa com 14 anos pelo pai rico, estudou muito por amor das religiões de lá, voltou pela falta de dinheiro e não tinha o que fazer pelo Rio. Até participou dum concurso, passou, foi vivendo, 15 anos depois morreu e deixou saudades na repartição, principalmente pela letra, considerando-se um besta. Gonzaga de Sá não tinha conhecimento excepcional, mas tinha um bom e firme ponto de vista com ideias e resistindo à depressão do ambiente de trabalho. Ele mostrava inteligência, mas retinha-se para publicar qualquer coisa, o narrador desconfiava o que podia ser. Sempre aprendia algo novo, não era repetidor, podia ser que a mente sempre ativa o mantivesse até o sessenta, o tratava por senhor e depois de um ano que deixou de usar. Talvez por não ter filhos, só podia oferecer um conhecimento vasto e polido. Gostava de estudar e de revistas, via nacionais e internacionais, e também jornais ilustrados meteóricos que seria explicado mais tarde sua opinião. Após tanto tempo, agora com retrato que encaixava em Gonzaga de Sá, ouviu boutades, piadas, de Gonzaga de Sá. A biografia é despretensiosa e contaria conforme fosse. Contaria uma engraçada logo.

Capítulo III – Emblemas públicos (capítulo importante)

“A nossa insuficiência nas artes do desenho é manifesta.”. Não falta técnica, mas as armas e brasões mostram a falta de criatividade, além da poluição de sobreposição. Salvo o do Rio de Janeiro de forma irônica, todos são cretinos. Os tempos de colônia mostram como havia bom gosto antes. Conta também de quando viu o chafariz do Largo do Paço e como ele faltava beleza do mar chegando a ele. Ao cair a noite, viam as estrelas. As mulheres passam depressa por ali, Gonzaga se questiona do medo delas, o narrador responde que os homens não são bons, sejam eles familiares ou amantes. Saem dali e o narrador ia escrever cartas aos parentes de Minas, no dia seguinte, ao enviar, encontrou Gonzaga de Sá, fitando alguns selos, via os novos brasões e chamou para o narrador verificar. Gostava da arte e inspiração mas sentia falta de informações biográficas, para saberem mais e até poderem saber o valor deles em moeda e história. O narrador concordou e Gonzaga de Sá pediu que escrevesse a carta.

Capítulo IV – Petrópolis

Gonzaga de Sá reclama da mania do brasileiro de aristocracia e de ter sobrenome, ignorando história, respeito, e apenas focando em ter um nome, degradaram as regras de linhagem. Caminhando pelas quatro da tarde no Pedregulho, Gonzaga de Sá sugere ir ao Engenho da Penha, o narrador perguntou onde era e Gonzaga de Sá comentou que só conheciam Tijuca e Botafogo. Ele explica onde é e como parece. Tomaram o trem, um dos de Petrópolis, foram de primeira e de segunda classe, Gonzaga de Sá até leu o jornal e o narrador viu os mangues. Chegaram e tomaram uma cerveja, precisavam andar um pouco., recitou um La Fontaine e depois reclamou da gente de Petrópolis, estrangeiros sem cultura, diferente de Gonzaga de Sá que era do Rio de Janeiro, com seus negros, tamoios, mulatos, galegos e cafuzos. Perguntou se o narrador lia as notícias de Petrópolis e aconselhou que o fizesse quando ouviu a resposta negativa, ainda que fosse pequena merecia atenção. Eram mundanas, mas queria ler revoluções. Queria inversões, mas não tinha como, o narrador dizia que era uma cidade com nenhuma história e pouca fantasia. Viam uma plantação, uma portuguesa no campo e o mar. Viram um ilhote que ficava no meio do canal com paredes de sobrado, era o Cambambe, explicava Gonzaga de Sá, era para comunicação antes das estradas de ferro. O antepassado de Gonzaga de Sá, Estácio de Sá, morreu naquela ilha na frente de ferimento de flecha, sendo levado para tratamento, e o narrador via tudo aquilo e quase via a cena em sua frente. Ler página 27

Capítulo V – O passeador

“O que maravilhava em Gonzaga de Sá era o abuso que fazia da faculdade de locomoção.”. O narrador o achava por toda a parte, subia, descia, andava, mas sempre fumando e devagar. Até já o seguiu para ver como era. Ele ia com a bengala nas costas, andando por aí e vendo os prédios e lugares de antigamente para conferir a arquitetura, que comprovavam que o tempo passava e ele não tinha mais a infância para recorrer. Teve um dia que faltou à repartição, seria contado mais tarde, e um casebre de mais de 50 anos que conhecia foi derrubado, amava os detalhes da cidade, falava com gosto, via, e repudiava os subúrbios. Ele também se incomodava como o Rio se dividia de forma grosseira e não tinha uniformidade de um grande centro como outros tantos referenciais. A cidade se dividia pelas colinas e ela sofreu o crescimento de qualquer cidade, mas as regiões não se conectavam uniformemente, demorava-se para poder ir e não se mesclam, há ricos que moram em áreas pobres e o oposto, isso dá um ar único à cidade ao menos. Como o narrador tinha nada para adicionar, só concordou. Ler página 35.

Capítulo VI – O Barão, as costureiras e outras coisas

Gonzaga de Sá contou de quando o Barão do Rio Branco recebeu a vista de um poeta e perguntou da grafia de amor, com ou sem maiúscula. Ele comentou que no meio não havia necessidade, mas no começo era necessário. Gonzaga de Sá falava da palavra “Barão” com gosto, gostava da honra de receber o título de Imperador, não gostava dos títulos políticos e como o fizeram com o Barão do Rio Branco, detestava essa endeusificação, a popularização dele e de como ele fazia o que bem entendia. Ignorava lei, puxava para seu lado e deixava até a filha na míngua. Detestava como se aproveitava do sistema. Estavam ao banco do Campo de Sant’Ana e iriam ver o Teatro Provisório. Ao verem, ficaram sentados apreciando a paisagem. Dado momento viram uma menina bonita acompanhada das velhas mães. Gonzaga de Sá e ele a viram e ela ficou aparentemente contente ao colher os olhares, ainda que fossem sempre escassos visitantes no parque abandonado. Gonzaga de Sá lamentava não ter tido intimidade com alguma costureira. O narrador elogia a função de costureira, como quem modela e sabe como modelas as pessoas. Gonzaga de Sá tecia um comentário levemente sarcástico, pois ele sabia da importância da vestimenta na sociedade, ele não dizia sobre amor ou coisa parecida, mas de ter ficado ignorante dos ofícios e produções. E, ainda assim, ainda que quisesse saber mais, tudo aquilo de roupa era para achar casamento. O narrador achava perverso, mas Gonzaga de Sá não gostava da artificialidade do Rio de Janeiro de classes, ações sociais, classes. Ele validava que o que importavam eram indivíduos, a ideia de generalizar ou de fazer média não ajudava. Da mesma forma que se entendem formas geométricas apenas dentro da geometria e se perde a ideia quando se sai dela, as referências de classe, cortesia e interações sociais se eliminam quando se saem de gabinetes e escritórios. A noite veio, viram uma mulher com as pernas mostrando com medo de chuva e foram andando pela rua da Constituição. Quebrando o silêncio, Gonzaga de Sá ainda queria comprar algumas revistas e desceram pela avenida em direção à rua do Ouvidor.

Capítulo VII – Pleno contato (capítulo importante)

O narrador volta ao caso do cardeal na Secretaria de Cultos, foi tratar com o diretor, o Barão de Inhangá. Era velho, estava lá a tanto tempo quanto do Império e da mudança do Rio de Janeiro, era vadio e entendia de nada. Gastava o tempo de abrir e fechar gaveta na secretaria, quando diretor ficava arranjando lápis pra escrever, e como o Brasil ama o filho, virou Barão com 25 anos de serviço. Na seção que foi, viu Gonzaga de Sá e seu semblante certeiro do que tratava do assunto. Gonzaga de Sá lia a situação do cardeal e perguntou como que a secretaria de Roma não estava a par do assunto. Ele era criativo e original, foi o que interessou o narrador e fez querer saber mais. Encontravam-se mais vezes e falavam por mais tempo. Entretanto o narrador sentia que algo angustiava Gonzaga de Sá, algo além do amor. Pensou se era no gênio e na procura de saber mais que vinha a angústia, teve dois momentos que o viu desenhando e rapidamente escondendo quando o narrador chegava perto. Com um misto de Por e Comte, o narrador iria mostrar que, apesar de todas as teorias, a mais simples e a mais simpática era a teoria que funcionava. Em uma quinta-feira, o narrador foi até a casa de Gonzaga de Sá, ia como se fosse noite de núpcias, queria saborear aquelas palestras, foi até o alto de Santa Teresa e foi recepcionado por um preto velho. Havia Boticcelli, Dante, Julio Cesar na casa dele, Gonzaga de Sá comentou da pontualidade e o narrador achou que ele ainda estaria nos subúrbios visitando o compadre, ele foi, piorou depois da viuvez, mas quis falar algo positivo e disse como o locai tinha mais namoradores e feministas, pois elas enchiam a região de estudo, livros, tal qual a obra de Offenbach “Grã-Duquesa” de uma sociedade invertida do papel de gênero. O narrador comentou que assim faziam até casarem, depois queimavam livros e continuava o mesmo ciclo de casamento. Gonzaga de Sá concordava que elas deviam ser o que a elas quisessem ser no momento. Mas tinham sempre coisas que mudavam o pensamento, como o que viu fazia duas horas na estação Piedade, ele viu um homem que atravessou a rua e o bonde bateu nele, ficou ensanguentado mas sobreviveu. Nessa conversa das bases sólidas da humanidade, apareceu a tia de Gonzaga de Sá, Escolástica, uma velha miúda de olhos verdes. Não conseguiu admirar tanto a septuagenária pois eles saíram da sala. Deu tempo de Machado ver uns esboços de nariz desenhados. Gonzaga de Sá retornou e reclamou de criar pombos. Gostava dos animais, criava com gosto, mas davam trabalho, gostava da forma e do jeito. Perguntou se Machado tinha fome, apesar do narrador responder negativamente, Gonzaga de Sá pediu para trazer um vinho, Bucelas branco. Gonzaga de Sá falou ternamente do velho, que o pai libertou-o na pia de ser escravo também, viveu a vida toda com ele e era um irmão de leite. Estava junto, em horas boas, ruins, como dedicação animal ou divina, Gonzaga de Sá pensava até que o amava. Ele falou com voz trêmula e tentou disfarçar pegando o jornal A Gazeta de Uberaba. Machado diz que sim, um amigo o mandava, Gonzaga de Sá se espantava com o fato dele ler, mas Machado dizia que gostava dos começos, dos inícios, de quem começava e procurava as palavras certas. Gonzaga de Sá gostou e sugeriu “A Pesquisa” de Cascadura, Machado ia ler o sumário. Tinham pesquisas bem específicas de diversas áreas, todas muito bem detalhadas e que eram bem escritas. Surpreendeu o narrador da falta de visibilidade e notoriedade, ainda mais que Gonzaga de Sá conhecia nenhum. Gonzaga de Sá atribuiu a falta de fama e reconhecimento pelos meios de comunicação, discorreu que os meios de comunicação e divulgação são os jornais, revistas e livros. Os jornais são grandes empresas, trazem política e assassinatos e buscam atrair a mesma clientela de sempre sem inovar, sabem agradar, fazem muito bem e quando alguém intelectual chega lá, precisa se adaptar tanto que é mais fácil atirar todas as ideias boas pela janela. As revistas são mesmo, com a diferença da fotografia e da busca da inteligência nova, até buscam algo novo de Portugal, mas é uma ditadura de pensamento. Machado tenta defender o público, entretanto a culpa cai nos autores segundo Gonzaga de Sá, ele destravou o segredo para achar esses novos gênios em ler revistas obscuras e jornais da província. Machado dizia que essas traziam política e assassinatos, mas aquela revista desmentia. No meio tempo que ia ler, o narrador viu o pôr do sol cheio de cores e a tia veio chamar para jantar, Gonzaga de Sá levou o jornal.

Capítulo VIII – O jornal

Foram para a sala de visita e Machado via os rostos dali, de família, homens de outros tempos. Ficava imaginando como eram, o que podiam falar e até saltar dali. Constantemente Machado vai para essas descrições que não aceitam o estático ou que misturam dualidades, como concreto e abstrato, natureza e civilização, passado e presente. Ao fitar uma foto de uma moça em traje rico de baile alto, foi explicado que era avó de Gonzaga de Sá, viu a Revolução Francesa, pois morava lá. Era semelhante à Escolástica, exceto a cor dos olhos de verde para azuis. Falava como os tios tinham cara de carrasco e a tia se ria falando que Manuel sempre teve esse gênio. Foram para a sala de jantar e Machado via longamente os móveis de jacarandá, feitos por homens fortes pela estrutura que possuía. Sentaram, o narrador via a paisagem de gente, morro e palmeira. Gonzaga de Sá contou que a casa era do pai, lutou para conservar e manter, era quase tudo a mesma coisa dizia a tia, com a diferença da Palmeira segundo Gonzaga de Sá, que tinham seus 20 anos. O narrador pensou em todos os anos que a palmeira ficou lá e como está majestosa após passar tudo. Foram servidos por um copeiro de dezoito anos, tomaram a sopa e Gonzaga de Sá quis logo ler as crônicas da Gazeta de Uberaba. Liam uma crônica da chegada de reprodutores zebus. Ele lia trechos, citava de novo partes que gostava, seja da construção, sonoridade ou criatividade. Terminou a leitura, falando de quantas vacas amorosas não o esperariam em Uberaba, a tia o repreendeu para terminar a janta. A tia também descreveu a rotina estranha do sobrinho, saía sem hora pra voltar, estava sabe se lá onde e tinha dias que nem voltava para casa, até mesmo sem janta ficava, não parecia velho, tinha mais costume era de cigano. Ele lia muito, estudava, achava estranho essas vagabundagens apesar de tê-lo criado e não entender. Teve um dia que o pai dele o pegou na janela do sótão, ele queria voar e chorou o resto da tarde. A tia Escolástica não conheceu o pai, não podia, a situação após a guerra contra as Rosas dificultava. Falavam dos irmãos, todos mortos, sem descendentes, só uma irmã que vivia na Bahia, Maria da Glória, casada com desembargador, não a via mais de trinta anos e não escrevia mais de cinco anos. Gonzaga de Sá era o caçula. A mãe dele faleceu aos oito anos de idade e foi criado pela tia. Gonzaga de Sá falou meio trêmulo, mas a sobremesa chegou e nem conseguiu decifrar. Tomaram café na sala de visitas, vendo as luzes de fora. A palmeira dormiu, e os dois fumavam. Falavam de Romualdo e Aleixo Manuel, um menino de oito anos, e seus estudos. Ficava escuro e a tia reclamou da escuridão. Acenderam e o narrador vê o piano, perguntou se a tia tocava, respondeu que faziam mais de 30 anos que não, o que ele já suspeitava pela idade dela. Ela viu Gottschalk tocar e não teve mais ânimo. Gonzaga de Sá perguntou se o narrador ouviu já, coisa pouca, explicou que era diferente, fazia os olhos da tia brilharem na falta de palavras, era uma música fantástica, dolente, impetuosa como Gottschalk. Ia nos concertos durante a guerra do Paraguai com o pai. Meses depois parece que teve muita festa e descompostura. Alguns versos ficaram famosos. Falaram de como a música influenciava muitos, culpa do Império que investiu no Provisório para ter gente se encontrando. É um local que todo mundo entende e precisa estar lá para ter cultura, não há necessidade de bagagem cultural e todos gostam. Porém houve uma defasagem, desde que a nobreza não se fez, perderam-se as inspirações. Escolástica ouvia tudo quieta e deram oito horas, Machado pediu licença e se foi. Mais uma vez mergulhou-se no passado, na tradição, dos velhos bons e da mocidade, ficou mastigando as ideias da ópera e do Provisório. Pegou o bonde elétrico no primeiro carro e viu a paisagem passando da modernidade. Via crimes, mas toda sociedade os tem, assim como erros.

Capítulo IX – O padrinho (capítulo importante)

Em uma tarde no Café Papagaio, Machado via mulheres estrangeiras enfeitadas. Nisso, lembrou de Gonzaga de Sá que disse que dama fácil é o eixo da vida. Via elas passando perfumadas, brancas como mármore e cheias de vestido. Depois se expandia, via a arquitetura do redor, analisa a rua do Ouvidor e a arquitetura que mudava do Rio de Janeiro. Gonzaga de Sá comentou uma vez que elas faziam o trabalho de os polir, de trazer de volta a aspiração da beleza que tanto procuravam e mostravam em novos corpos e também móveis e roupas. Podiam até levar nosso ouro mas poliriam a sociedade. Chegavam amigos ao café e as conversas sempre variavam, mas chegavam sempre no assunto de uma revolução social por meio da literatura e da moda. Eram quatro, o narrador, Amorim, Domingos e Rangel, denominavam-se “O Esplendor dos Amanuenses”, já que era a profissão da maioria dali e ali que podiam ter prazer que não achavam no ofício. Rangel era aquarelista do futuro, mas atual pintor gênio para o gasto das etiquetas das casas comerciais. Machado falava de uma peça de teatro japonês interminável que dava sempre no jantar em conta de um hoteleiro, chamava “Tragédia”. Passou o Pedreira e Rangel quis ir com ele mas ficou ouvindo a conversa do grupo. Falaram da mania de Pedreira de traduzir tudo para o inglês, referindo-se a ele como lord Max. Chamaram-o de Super-Homem, alguém acima do bem e do mal. Domingos tinha inveja. Domingos continuava a falar da fisionomia romana, desde a época de Sêneca. Conversavam do estado espiritual e como a antecipação antes de tocar o corpo era melhor do que tocá-lo. Machado ficou surpreso ao ver que Gonzaga de Sá apareceu no café, Machado ia pela idade, mesmo que não apreciasse tanto, mas Gonzaga de Sá os refutava pela idade e o pensamento que esses lugares limitavam camadas sociais e a inteligência. Ele vinha trajado de preto como de costume e de sobrecasaca tão comum aos doutores, todos ficaram quietos e ele explicou que o compadre morreu e precisava desse favor de Machado. Tudo ao redor ficou mais intenso, a beleza das mulheres, os toques, Gonzaga de Sá ia silencioso e Machado ia ver um corpo, estava empolgado, para ver e saber o que seria depois daquilo. Ficou apertado no trem, sentia o calor e pensou que todos ali também morreriam como ele. Viam um gordo com outros três que vivia tagarelando. Pediu para que tivesse um jornal e o outro tentou vendê-lo. Outro só deu o jornal sem pedir e ele zombou falando que lembraria de levar trocado para não ficar pagando fiado para gazeteiro. Machado deixou de vê-los para ver o seu redor. Pensou que tudo aquilo um dia sairia de sua vista, pensou como que não aproveitava a vida de forma animalesca como o gordo jornaleiro. Ele amaldiçoava a educação que teve que o deixava ter esses pensamentos e não aproveitava a vida, temendo a morte. Mas era por temer a morte que devia aproveitar a vida. Voltou o pensamento ao Gonzaga de Sá, que estava quieto, pensou na perfeita relação que tinham e como nem precisavam dizer algo para estarem juntos. Chegou outro grupo e aparentemente um com anel no indicador que conversava sobre a teoria das raças. Ouvia pouco da conversa, mas a ironia foi um mais novo do grupo perguntando como que os passarinhos não tomavam choque ao irem aos fios e o mais velho que falava da teoria das raças explicou que a comunicação era fechada durante o dia. Teve algo nos namorados que vieram com o grupo de antes que irritava pela alegria, Gonzaga de Sá perguntou se Machado já namorou, ele afirmou que aos dezesseis anos, Gonzaga de Sá dizia que ele devia namorar, para não se arrepender quando fosse mais velho e enquanto tinha tempo, mesmo que Machado negasse que era algo bom. Continuaram com o bonde e andavam numa subida, viam pais gordos, cansados que andavam também com embrulhos. Iam vez em quando gritando com os carros de bois, contando tostões e usando a musculatura que tinham para puxar as crianças e as esposas. Aos poucos chegaram à praia, pensava nos operários como o alicerce da sociedade, vivendo no esforço de desenvolver a sociedade e a possível afeição dos filhos. Gonzaga de Sá apontou para um amontoado de casas, era lá. Subiam uma rua larga que se multiplicava em ruelas menores que iam sabe se lá para onde. Há uma mistura de flora, de arquitetura, de tamanhos, de mistura, os anos vão se embaralhando do que tem ali. Viam casas que lembravam o Botafogo, a Holanda, a Suíça e finalmente um chalé, do compadre de Gonzaga de Sá. Uma negra, Dona Gabriela, os atendeu, na frente de casa crianças brincavam e ela informou que o caixão chegou faz pouco e o enterro era às nove do outro dia. Perguntou de Frederico, filho da Dona Gabriela, foi buscar pão, pediu para que falasse com ele depois. Entraram e Romualdo de Araújo, o compadre, estava cercado de gente de todos os tipos de cores, Gonzaga de Sá e ele tinham educação diferente mas uma amizade profunda e terna. Viu Dona Gabriela passeando por ali, arrumando tudo, as visitas que conversavam e se silenciavam, o filho dela chegou, falou com Gonzaga de Sá e foram jantar. Machado fumava, tinha pensado muito sem chegar a nenhuma conclusão, pensava na morte. Gonzaga de Sá continuava o mesmo com os olhos ternos e o narrador vê uma mulher que não notou entrar antes ali. Sentaram juntos como velhos conhecidos, ele falava e elogiava da casa, do Botafogo e da vida, ela, Dona Alcmena, dizia que tudo acabava em morte e de nada adiantava ter algo. Era melhor que todos pudessem trabalhar para ter o mesmo segundo ele, ela preferia que existissem ricos para ele ter uma chance de também o ser, ainda que pudesse ganhar tudo com os belhos olhos dela, segundo o narrador. Ele via ela toda, pescoço, cabelo, seios, ombros, mão e a admirava, além de depois de pensar em mais coisas que só admirar. Falavam de como a felicidade vinha e só de sabia sem se dizer a alguém. Conversaram por muito tempo, até esqueceram do defunto, mas não esqueciam da morte. Ele, que era inimigo do namoro, era toda ela e se misturava em pensar no morto e nas curvas dela. Foi tudo tão automático, era o que pensava. Assim como pensou antes e Gonzaga de Sá acrescentou, ele dizia que os vivos deviam continuar vivendo, os mortos faziam o favor de lembrar porque vivemos e queremos continuar vivendo. Falava como esses sentimentos e o desejo de continuar vivendo e multiplicar era o que mantinha a humanidade, não a separação entre religião e ciência dos povos, como a teoria das raças que supersimplificava conceitos e os tornava reais, ainda que não pudesse ser possível. Foram prestar preces ao defunto, via as pessoas velhas, até mesmo analisava como a neta jovem já mostrava traços que não era mais tão jovem. Teve pena da jovem, estudaria tanto, teria tantos olhares, frequentaria cafés, tudo por conceitos e qualquer coisa abstrata que só nesses lugares de academia que existe, mas no fim de nada todo o esforço seria em vão. Então, Aleixo se pôs a chorar descontroladamente, Gonzaga de Sá o tranquilizou. Ler página 66.

Capítulo X – O enterro

O dia era bonito, Gonzaga de Sá fazia os últimos preparos, algumas mulheres choravam e Machado estava apático e aborrecido, fumava frequentemente. O caixão se fechou e nada mais. Levavam o caixão em um sol de março matutino forte, ele pesava, meninas jovens passavam cheia de vida, discutiam com pena quem poderiam ser e depois saíam a cantarolar de novo. Pegaram o bonde elétrico e o caixão passou pelas cidades, iam quatro para o enterro, Gonzaga de Sá guardava pensamentos com a testa enrugada. Gonzaga de Sá até comentou do dia bonito, nem pareciam que levavam um morto. Machado até procurava uma mágoa daquele dia, mas o indivíduo pouco mudou qualquer coisa, iam em direção ao cemitério do Caju, passaram pela rua do São Cristóvão. Até pensaram ser melhor ir por um caminho subterrâneo, que não contradiz e desse mal gosto ao enterro. Machado concordava por hábito, mas estava esgotado mentalmente e emocionalmente. Até tentou refletir de novo depois de passado um grupo de moças sobre como a civilização poderia ter trazido algo de bom e ficou quieto até chegar ao cemitério. O enterro foi breve, Gonzaga de Sá foi tratar dos atos administrativos, o caixão desceu e Machado jogou uma pá de cal sem reverência e emoção, pensava na vida que passou de colégio, infância, universidade até chegar ao portão do cemitério como se reavaliasse sua vida em pleno meio-dia. Gonzaga de Sá tomava sol na cabeça mas o narrador não queria interromper aquele momento de tristeza para lembrar de cobrir, pensou o quanto aquela amizade perdida o afetava e como a vida pode ter guiado ele a ser quieto e pouco afetuoso por idade, escala social ou algo a mais. Lamentou em voz alta a partida do amigo e foram devagar à praia, Machado se perdia em pensamentos, refletiam no motivo de se viver, Gonzaga de Sá parecia não querer ficar sozinho, apesar de não falar e nem citar o narrador, e propôs de jantarem juntos. Ficaram sentados num jardim que Gonzaga de Sá gostava muito e ficaram alheios ao redor. Tinha um rebuliço de pessoas perto dali, um casal que se abraçava, até tentou entender a pergunta do motivo do fiscal dos bondes fiscalizar o condutor, mas nada. Estavam melhor do que da manhã, narrador e personagem. Desatinou Gonzaga de Sá a falar que os desgraçados, como já pensou Schopenhauer, deviam se matar e deixar os felizes com sua felicidade. Ainda cita que não entende como existem tantas diferenças de classes e conformismo, lembrou e ficou revolta do quando viu um casamento de negros e os oficiais faziam piadas da situação econômica da festa, Machado até falou que na Europa o camponês era visto com compaixão, mas lá há literatura que absorva essas ideais e não os ignoram, enquanto no Brasil há nada segundo Gonzaga de Sá. A literatura é a mesma, um amor proibido por situação de trabalho, há tanto um dilema de família dos dois lados, mas tirando isso e o fascínio pelo pitoresco do sertão não avançam na literatura. Não há espaço ou exercício de imaginação, há um foco da simpatia pelos humildes e humilhados. Machado dizia que não há quem sofre, as pessoas são insensíveis. Gonzaga de Sá acrescentou que sofriam a própria humanidade, queria ser um escritor que escrevesse um ideal de vigor, violência, força que corrigia a bondade e a doçura dos indivíduos. Falava efusivo, mas lembrou que a maior força do mundo era a doçura e se acalmou. Ficaram vendo alguns patos, jantaram sopa no centro e retomaram a conversa, desculpou-se das palavras, estava sentido com a ida de Romualdo, sentia nele uma conexão ímpar, até marejou os olhos. Pensou em como ele sofreu, desde os catorze anos era obedecer hierarquia e comandos, seja de área militar ou ministros, aparentemente tinha motivo para não sair com a esposa que Gonzaga de Sá o casou mas se silenciou. Machado tinha tabelado Gonzaga de Sá como racional, mas durante dois dias dentro da morte do amigo ele se tornou sentimental, normal, jamais conseguiu compreender o que houve. Saíram pela rua, viam gente diferente de classes sociais, gêneros e ocupações. Gonzaga de Sá via aquela gente satisfeita e se questionava de haver certezas, ele sentia que haviam apenas crenças, esperanças. Machado não tinha resposta e pareceu que o outro não pedia uma. Foram tomar chopes no botequim, quando se despediram, Gonzaga de Sá anunciou que educaria Aleixo Manuel. Machado até pensou se Gonzaga de Sá viveria para tanto e se valeria a pena.

Capítulo XI – Era feriado nacional

Machado saiu de casa aborrecido depois das recordações. Era feriado nacional e havia festança, o narrador preferia estar bem longe. O narrador quis se embriagar no meio do povo e foi. Não sentia patriotismo e nem revolta no meio de povo, tropa e gente, mas um espetáculo em sua volta. Via duas pessoas discutindo sobre as forças da Pátria, analisava-os e analisava os generais. “A sociedade repousa sobre a resignação dos humildes.”. Era curioso esses dois homens, maltratados pelo tempo, celebrando um país que nada recebiam, só autoridades ganhavam e para eles ficavam com nada. Desviou o olhar ao encontrar com os olhos de um. Pensou nas injustiças do mundo, quis eliminar todas, fazer sua Utopia e ter um mundo que todos eram felizes. Tão rápido quanto criou, destruiu seu mundo, pois acreditava que as Artes, as Religiões e as Ciências perpetuavam e reciclavam preconceitos. Era melhor deixar esses pensamentos universitários de lado e não agir. Quis também derrubar tudo em sua volta e acabar com tudo, ninguém e nada era feliz afinal. Olhou a passeata, os mulatos, crioulos e negros e pensou que motivos históricos explicavam a vinda de tão longe e essa obediência a um sistema que os oprime. Pensou que tudo aquilo era besta de se pensar se podia ter a atenção em negócios e dinheiro. Aproveitou a passeata, desceu com ela em um sentimento de anulação e prazer e se deparou com o doutor Xisto Beldroegas, colega de trabalho de Gonzaga de Sá e bacharel em direito. Ia preocupado, conheceu-o mais por um relato de colega e de sua atividade mental, era obcecado e atencioso com a legislação cultural do Brasil e tudo que a rodeava. Procurava por papéis que resolvessem assuntos e ainda mais procurava resolver tudo em papel, atas, editais. Entendia menos ainda como a natureza não podia ser fixa ou proclamada, não entendia como o número de dia de chuvas, por exemplo, não era fixo, e achava que faltava quem o delimitasse em lei, e ainda mais se fosse ele, teria resolvido fazia tempo, pois nada era mais forte que o poder político, tudo era esmagado pela burocracia, repartições e indeferimentos para o indivíduo. Leis em âmbito que não fossem de política, com parágrafo, senador e capítulo eram bobagens. Hesitou em falar mas insistiu em falar e que ele falasse. Ele murmurou primeiro e depois disse que tudo era uma balbúrdia. Dava nem gosto de trabalhar, nomeavam conceitos errados, não entravam em acordo para que todos obedecessem e seguissem as doutrinas. Contava mais desgostos e perguntou de Gonzaga de Sá, parecia ter ficado doente e teve um delíquio, desmaio. Era perigoso em sua idade mas estava para aposentar, o doutor disse que perdia nada e nem grande coisa Gonzaga de Sá era, nem colocava os anos da República nos decretos, mesmo com 40 anos de casa. Tinha quem dizia que o doutor se aproveitaria da promoção quando ele saísse, mas ele tinha pena, disse com meia voz o resto. Continuava reclamando dos colegas de trabalho enquanto andavam e demorou para Machado conseguir escapar dele, quis ver Gonzaga de Sá, seu amigo. Apesar de ser perto das duas da tarde quando decidiu ir ver, escolheu ir às quatro para não incomodar. Depois de vinte dias sem vê-lo, foi recepcionado na casa por ele mesmo. Ele dizia que estava bem ao ouvir a notícia da doença, xingou o doutor, sentia-se incompatível com as pessoas ao seu redor, sejam velhos ossificados ou jovens abacharelados. Ficou triste com tudo que acumulou dos livros, achou que era o suficiente e não podia usar o que sabia para sua glória, sem filhos e sem como se expressar. Até comentou de quanto tempo passou perto de idiotas no trabalho, de um plano do chefe para Presidente da República que começasse como amanuense por promoções, para que o fosse apto, mas era muito tempo e muita paciência segundo Gonzaga de Sá. Machado ficou impressionado em como o amigo mudou, tinha perdido a ironia aguda e ficava irritadiço, deprimido e resignado. Olhou o céu, estava bonito, depois de rabiscos e um tempo, perguntou de novo quem o nomeou doente, ao ouvir a mesma resposta, maldisse o doutor. Mencionou um dia que ele quis falar de filosofia, fizeram um enorme esforço para começar e perguntarem como morreu Sócrates, Gonzaga de Sá ficou feliz de escapar de ser doutor. Machado riu e Gonzaga de Sá penava para acender um cigarro em meio aos tremores. Conseguiu ver os papéis do amigo enquanto o ajudava a acender o cigarro e tinham traços indecisos de fisionomia humana. Antes tinha pena deles, agora tinha ódio de como faziam retalhos do que ele dizia, eram apenas preocupados com títulos e mais nada, as conversas eram vazias, tentou mostrar ideias novas e era maldito pelas costas. Sentiu-se aborrecido de viver sozinho, de como seus amigos que poderiam entendê-lo eram poucos e bandidos e prostitutas tinham mais índole do que os graduados ao seu redor. Estava energético, Machado até pediu que se acalmasse em vão. Pensou tudo aquilo ser fruto da idade, que era disfarçado com a ironia e agora não dava mais para usar a máscara, após estar abalado com a morte do amigo. Gonzaga de Sá pediu perdão, perguntou se ele já o tinha visto assim, disse que não repetiria tal comportamento. Disse que Machado fez bem em ir, pediu para jantarem, passearem e ver tudo pela última vez, a juventude dele o faria bem. Não quis porque a gente do teatro lhe trazia hostilidade, mas cedeu, o jantar foi triste, Escolástica era indiferente ao que houve com o sobrinho, sem conselho ou consolo. Gonzaga de Sá se vestiu bem para a primeira classe, Machado mal tinha roupa para a segunda. Foram com antecedência comprar os ingressos, viam vários carros carregarem e cerimoniosamente trazendo gente. Gonzaga de Sá disse que metia dó aquele luxo. Viu as roupas, jóias, o misto de assento mal-feito e mal tratado. O presidente veio, tocaram o hino nacional e Machado ficava curioso com tanta gente importante no mesmo lugar. Os músicos afinaram os instrumentos e começariam. Viam as mulheres e comentavam, iam desde viúvas a esposas. Fechado o ato, saíram após os aplausos. Gonzaga de Sá lamentou como as pessoas de poder ali, político, econômico e social, eram pessoas de fora, desconectadas de 400 anos de história, levariam mais 400 para poderem se assimilar. Voltavam para a apresentação, os dois e todos em volta. Machado analisa antes quando ia a espetáculos, analisava e conversava em deleite com amigos, agora ele sentia uma intimidação sem nem precisar ouvir algo. Após a revolta do passado de universidade e a situação de classes, foram tomar cerveja. Gonzaga de Sá dizia que saía dessas coisas triste. Eram os mesmos no teatro 40 anos atrás, pessoas com poder e pouca capacidade e que nunca deixariam o lugar. Terminada a cerveja, Gonzaga de Sá quis saber onde Machado ia, era para casa, pediu para que dormissem na mesma casa dele e que arrumariam os livros no dia seguinte. Foram de bonde com pouca gente, Gonzaga de Sá viu uma mulher e ficou pensando e refletindo sobre tudo. Chegaram com os galos cantando e a saudação do preto Inácio.

Capítulo XII – Últimos encontros (capítulo importante)

Machado acordou bem disposto, viu aquele espaço todo em um estilo de casa que não existia mais no Rio. Foi tomar café e Escolástica estava lá, plácida, e o menino Aleixo Manuel comia o café e o via com olhos de mocidade. Até puxou o assunto dos estudos, perguntou de assuntos da história do Brasil ao menino, fez uma pergunta sobre descoberta da América e do Brasil, Aleixo respondeu com maestria e esforço, quis elogiar mas manteve silêncio, queria que a inteligência aflorasse lentamente. Após mais perguntas bem respondidas, aprontou-se, despediu-se e foi embora. Machado elogiou a inteligência do menino, Escolástica elogiava como estudava e como brincava, temeu se perder por começar tão bem. Até filosofou se poderia perder a vontade por desanimar no quão fútil é tudo. Escolástica negou, Machado foi procurar Gonzaga de Sá. Lia o Fígaro e adiou a organização dos livros. Ele tentava ler para estar acompanhado com as notícias, mas ficava atrasado porque queria ler. Gonzaga de Sá tratou do tempo como uma fatalidade e criação humana. Machado ficou quieto pois nada tinha para adicionar, exceto com a pergunta de Aleixo, ao qual elogiou a inteligência do garoto. Pegou os jornais do dia para ler, negou o almoço e chegaria tarde à repartição. Gonzaga de Sá até pediu que viesse mais, Aleixo ficava muito só. Estava mais atento ao menino, mudou mais ainda de comportamento depois da morte do amigo e essa adoção terna e figura paterna ao menino. Machado não sabia como se conectar, achava tudo aquilo um conto do vigário, algo muito elaborado para poder tratar mal. Mas ainda existia algo naquela tristeza, de filósofo demais e amigos de menos que não encaixava em toda sua tristeza. Piorava, parecia que perdeu a chance de reviver lembranças com o falecido amigo. Era errático, cansado, queixava-se, perguntou de novo a Machado se amava. Aleixo trouxe algo que não havia ou não queria trazer de volta na sua vida. Ia fazer de Aleixo gente, não fez, ia colher a flor e morreu, quem o fez gente foi a tia. Cresceram, talvez Aleixo jamais soubesse o que era ser feliz por ter conhecimento demais, talvez nem Machado devesse saber. Era muita gente velha se sacrificando, muita gente nova vindo, nada de comum acordo.

Contexto histórico – Próximo da década de 1930, perto da demolição do teatro Lírico, antigo Pedro II

Figuras de linguagem – Ironia, antítese, sinestesia Construções importantes – biografia cultural, dualidades narrativas, crítica social

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"O Sol Na Cabeça" Geovani Martins Literatura Brasileira Literatura Marginal Resumo de Cada Capítulo UFPR 2025

“O Sol Na Cabeça” de Geovani Martins – Resumo de Cada Conto

Coleção de 13 contos. O livro homenageia seus irmãos e irmãs, sua mãe Neide e sua companheira Érica.

A obra é composta por uma coleção de 13 contos, é o livro de estréia do autor.

Quem é Geovani Martins Ana da publicação da obra = 2018 O que caracteriza um conto (brevidade e dualidade histórica) Quais são os contos (Rolézim, Espiral, Roleta-russa, O caso da borboleta, A história do Periquito e do Macaco, Primeiro dia, O rabisco, A viagem, Estação Padre Miguel, O cego, O mistério da vila, Sextou, Travessia) Construções importantes (linguagem da periferia carioca, uso da memória, antítese e paradoxo) Elementos importantes (a favela como integração do indivíduo, as drogas como cotidiano, interrupção abrupta e desconforto)

“O sol na cabeça de Geovani Martins: um estudo de crítica e tradução” por Andréia Guerini e Willian Moura – ******https://www.scielo.br/j/ct/a/KhJQhNHtyLC8vP7qdkFwNdy/?lang=pt#ModalTutors

Conto 1 – Rolézim

“Para Matheus, Alan e Gleison”

Acordou e o sol era impiedoso, tudo estava quente e sentiu que o dia não seria fácil. Tinha dois reais na mesa que o narrador tinha para comprar pão, mas precisava de mais 1,80 para inteirar uma passagem, era fácil dar o calote na ida, mas na volta era o problema. Ia investir os dois reais no pão, pegar um café e ir para a praia de barriga cheia, tudo menos ficar ali no calor. Passou na casa do Vitim e mais lugares com a mesma situação: sem maconha; querendo ir para a praia; sem dinheiro. Teco tinha até um farelo que ganhou de um trampo, trabalho, mas queria ficar em casa. Iam para a praia cantar as novinhas, banharem-se e dormirem que nem criança depois. Teco até deu um baseado, queriam arranjar belengo, cocaína, o narrador achava estranho querer usar aquilo no nariz com aquela lua, aquele sol forte. O narrador nunca cheirou cocaína, lembrou de uma conversa com o irmão quando ele tinha a idade que ele tem agora, 22, era papo de gente grande, sentia, um amigo morreu de overdose no caminho para comprar mais. Proibiu o irmão de experimentar qualquer coisa e manter no baseado, mais nada. Prometeu, puxava até loló, mas sabia se controlar. Mas hoje via que era melhor ficar no baseado, até bebida era uma merda, falou de quando perdeu o sentido bebendo cachaça no aniversário, lembrava de nada e seguiu até mina no beco, coisa que podia custar a vida ainda mais se ela fosse namorada de outro. Iam de ônibus, os amigos travados e o calor estralando. O narrador achava estranho esse costume de ficar drogado enquanto era oprimido. Lembrou dele e do Poca Telha queimando um na laje da tia e chegaram mais dois com o Mano de Cinco cheirando linhas, tudo com olho vermelho, ficaram ouvindo barulho onde não tinha e o Poca Telha e ele dando risada, para piorar o Mano de Cinco pilhou falando que era a polícia tentando pegar eles, saíram peidando e tentando se esconder. Bem diferente de quando realmente teve operação quase na semana seguinte, tirando a vida do Jean, que era apaixonado por futebol, jogava na base do Madureira e era pouco para virar profissional e até ir no Flamengo ou Botafogo. Até no enterro ele tirava onda, fazia graça, tinha 4 namoradas chorando por ele com a mãe dele. O narrador amaldiçoou os policiais. Chegaram na praia “com o sol estalando”. Muitas mulheres, bunda, água gostosa. Problema era a cara de cu, de incomodados, da galera, tinha policial na praia escoltando e quebrando a brisa, empatando, impedindo, de acender o baseado. O narrador tinha duas teorias: eram maconheiros e queriam pegar o baseado deles; era traficante querendo revender pra playboy. O narrador tinha medo de quando policial queria trabalhar, “coisa boa num é!”. Quando os policiais foram embora, outro problema, nada de seda. Ninguém tinha vontade de pedir pros playboys, até porque quando estavam sozinhos parecia que iam ser assaltados, em bando pareciam que iam pular em ti. O Tico e o Poca Telha chegaram em dois menós, moleques, que pareciam estar na larica, fome após fumar maconha, e deviam dá um dois, fumar maconha, compravam tudo de doce e comida, ficavam ali como se estivessem na Disneylândia, bobeando, mas foi chegar a galera já tinham medo de assalto. O narrador tinha raiva, mas se controlava por causa da mãe e do irmão, neurótica e que prometia não falar mais se fosse dar problema. Foi o narrador para achar seda, reclamou até dessa galera que antes fumava até em guardanapo, agora era só seda smoking, conseguiu a boa com um rasta que falou que os vermes, policiais, estavam na atividade, mataram um boliviano na areia, os policiais tiveram que abafar o caso para não repercutir, ele estava devendo dinheiro e era exagero. Falou para o rasta que só ia aproveitar a praia. O rasta falou antes para ficar na atividade e depois para não perder a fé em Deus. O rasta era do Maranhão, terra que todo mundo fuma bem cedo, desde os 10, como ele e o narrador. Aproveitou a brisa, ficou vendo gaivota, aproveitou a marola, tanto de fumar maconha quanto o mar em si, sentia a água, era levado até a areia e depois competiam de quem ficava mais tempo sem respirar com todos sendo fumantes. O melhor foi depois, os mesmos que recusaram seda foram tirar foto como se fossem donos da praia e passaram dois, um pegou a mochila, o outro os celulares, ficaram procurando mas os menores já tinham vazado e ficaram rindo dos playboy que saíram só de canga. Ainda assim, pensou no rasta falando que a praia estava ativa e na polícia que podia enquadrar eles. A fome surgiu em todos de noite e a polícia estava querendo fiscalizar os meninos e outros menores. Quando quase terminaram de passar pela fila que fizeram no muro, pediram para eles encostarem também. Explicou que quem tivesse sem identidade, sem dinheiro pra passagem ou muito mais que para a passagem, ia para a delegacia. Ficou pensando na raiva da mãe, largou o chinelo e saiu correndo. Lembrou do irmão jogando golzinho, era rápido, e o narrador corria rápido e nem olhava para trás. O irmão morreu pela polícia, ele sabia que não era X9 e foi no lugar de outro. Pensou na família, todo mundo olhava ele, decidiu ver se a polícia o seguiu e eles desistiram para revistar os outros. Construções importantes: vivência no Rio como morador de favela, democratização dos espaços Elementos literários importante: o dialeto de periferia carioca, oralidade como transcrição

“Espaço urbano, opressão e resistência: as figurações da cidade em ‘O Sol na Cabeça’, de Geovani Martins – considerações finais de pesquisa” por Leandro Borges Silva – https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/coneil/2020/TRABALHO_COMPLETO_EV144_MD1_SA7_ID62614092020113539.pdf

Conto 2 – Espiral

O narrador comenta que começou cedo, achava estranho, passava na frente de uma garotada de escola particular e eles tinham medo, o que era curioso, pois eles fugiam dos meninos maiores. Pelas ruas da Gávea, ele se sentia os moleques que metiam medo nele. Ele até gostava da sensação de medo dos outros, mas “não entendia nada do que estava acontecendo.”. Há quem diga que morar na favela da Zona Sul é privilégio se comparado às outras favelas, mas a diferença é o que separa asfalto da Zona Sul e o chão do morro. É ter que andar em ruela, desviar de fio elétrico, ver amigo de infância portando arma, desviar o olhar de ratos, policiais, de cano, para depois de quinze minutos dar de frente a um condomínio com plantas ornamentais e aula de tênis. “É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros.”. A primeira perseguição o narrador jamais esqueceria, começou como toda vez, como ele assustando com o susto dos outros, era uma senhora no ponto de ônibus, ele engoliu o choro, foi chegando perto, fixando na bolsa como quem procurasse algo e ela procurava ajuda em volta. Só que mesmo ela indo embora, ele seguiu sem motivo, ia acelerado, devagar, deixando ela desesperada até que entrou em uma cafeteria. Ele sentiu nojo, pensou que aquilo podia ser invertido com sua mãe e avó sendo desconsideradas por quem corria dele sem motivo algum, mas sentiu mais ódio de que, mesmo assim, a senhora não pensava nele. Ele sentia que não dava para parar, pois eles, os perseguidos, nunca parariam. “Veio a solidão.” e uma apatia a tudo. Ele começava a se afastar de tudo e todos, mas se aproximar desse estudo de caso que fazia, entendia o terreno, as vítimas, mas era muito curto o período de reação e muitas variantes, precisava focar em um único indivíduo. Um dia, cruzando esquina, esbarrou com um homem que já levantou o braço se rendendo para um assalto aterrorizado. O narrador falou para ele sair dali logo, segurando o choro como na primeira vez. Era ele, decidiu seguir. O nome dele era Mário, ouviu perto do lugar que trabalhava, tinha filhas, duas, talvez de sete, oito anos e a outra com quatro no máximo cinco. Nunca pegou o nome porque seguia a família de longe. Batizou a mais velha de Maria Eduarda e a mais nova de Valentina, nomes equivalentes para as caras de bem alimentadas. A esposa ganhou o nome de Sophia. Ainda mais quando via o piquenique no Jardim Botânico, era uma família de comercial de margarina, tirando a babá toda de branco. Tentou forçar os encontros por 3 meses, no começo era um misto de intimidação ou não notar a presença. Até ele perceber a perseguição, ficava mais atento e preocupado, tinha vezes que claramente o perseguia, deixando a tensão crescer, até ele naturalmente fingir entrar em outro lugar. Chegaram ao momento presente e ele ficou rondando uns dias pela casa. O que era para Mário um privilégio morar perto do trabalho, ficava tentando dar voltas para despistar o narrador, o que era inútil pois ele sabia onde Mário morava. Isso era custoso ao Mário e ao narrador, que não sabia onde isso daria. Um dia, decidiu seguir até o fim e viu que ele tomava o caminho mais curto para casa, ambos suavam e tinham a cara vermelha. Ele entrou no prédio que nem máquina, e ele ficou encarando da rua para ver pela janela. Viu Mário transtornado segurando uma pistola automática. O narrador riu, sabendo que, para continuar aquilo, precisaria de uma arma de fogo também. Elementos literários importantes – Clímax, dualidade histórica Construções importantes – O preconceito, abstração da humanidade

“’O Sol na Cabeça’: a enunciação literária em ‘Espiral’ e as cenografias paratópicas no espaço discursivo êmico” por Izilda Maria Nardocci e Anderson Ferreira – https://pdf.blucher.com.br/openaccess/9786555500325/05.pdf

Conto 3 – Roleta-russa

Quando chegou na casa, geral estava tentando se escalar no pé de acerola, com o sol queimando a cabeça e brigavam para ver a fotonovela pornô do Mingau, achada em casa nas coisas do primo desaparecido. Paulo se juntou à turma sem interesse, não que não gostava, até pirava na televisão com os programas conotativos, mas a cabeça dele pirava em outra coisa. Dois brigavam entre si pela masculinidade e pela família, Paulo viu toda aquela cena meio que já prevendo o que aconteceria, quando veriam o revólver. Paulo já mexeu em uma arma e mexia, sentia o peso da arma do pai, não sabia se era bom ou ruim o que sentia. O ar pesava, queria ver os detalhes. Almir, pai de Paulo, prometeu uma vida melhor agora que saiu de ser frentista de posto de gasolina para segurança noturno, ia ganhar mais dinheiro, mas teve uma conversa séria a respeito da arma enquanto o garoto tinha apenas 10 anos. Enquanto repete aos quatro ventos que educa o filho pela culpa e remorso em vez do medo, ainda com a falta da mãe na vida do menino, Paulo nem sabia onde terminava e começava remorso, respeito, medo e culpa pelo pai. Mas tem vezes que Paulo preferia ser descoberto do que ouvir sermão. O pai conversava e pregava, o filho tinha vezes que pensava que o pai tinha descoberto, não queria decepcionar o pai, e quando o via chorando, chorava também sem saber o que acontecia. Eram dois patetas chorando, porque o filho não sabia o que fazer. Pensava em parar de mexer no revólver, comportar-se nas aulas. Dessa vez, Almir tomou banho em vez de dormir após o almoço, coisa que era tão ruim quanto leite com manga, porque disso tem gente que morre.”. Pensando que devia lembrar o pai da arma, perguntou o que ele ia fazer já que se arrumava, ele dizia que daqui a pouco voltava. Quando ouviu o portão bater, trancou a porta como quem não consegue abrir por fora e ficou a sós com a arma. A felicidade veio grande com o remorso, sentia-se mal de noite e no dia seguinte repetia tudo de novo. Era tudo um sonho, “mas nunca seria o bastante enquanto não levasse a arma para a rua, enquanto não a exibisse pra sua galera.”. Mas a maioria estava enfiada em casa vendo desenho depois do almoço ou voando pipa. Mas não ligava para as batalhas de desenho japonês, ficava com a arma, carregava e descarregava, colocou no peito, imaginava como seria ser perfurado pela bala, desceu ao estômago e depois ao pênis, que, inclusive, ficou ereto. Tirou o revólver de vergonha. Em uma conversa, falam da bala de festim e da história do Bruce Lee que tomou um tiro de um em um filme. Paulo descarregou o revólver e queria jogar no time dos ladrões no polícia e ladrão, queria desviar, fugir, provocar, mas ficou no time dos policiais, ainda que não gostasse de perseguir. Queria apontar na cabeça dos amigos e fazer o som com a boca do tiro, que entrava como buraquinho e saía fazendo estrago. Os moleques ainda brigaram de tipo de arma, de filme, de exército e irmão mais velho. As brincadeiras de corrida, as favoritas de Paulo, iam ficando para trás e preferiam cada vez mais brincadeiras que valiam algo como aposta, tazo, carta. Elas até voltavam em festa de rua, lembravam quando morreu um cara na frente da casa da Dona Margarida, o que acharam estranho, pois só ele foi morto, não levaram nada. Ainda reclamaram que a tia dele só via de morte, o que ela parou, pois não queria ver estampada a cara do primo. Paulo queria toda aquela comoção e conversa para sempre, ele não era bom ou excepcional em nada, sentia até que nem faria diferença se um dia fosse embora dali, mas sabia que no fundo tinha algo de diferente. Tentou contar que o pai já tinha matado alguém com aquela arma, mas logo falaram que ele estava sonhando com toda a história de ouvir o pai com outras armas e conversando bem cedinho. Falaram que estavam tirando as balizas de futebol e iam pedir para deixar mais um pouco e daí surge o problema: significava que estava anoitecendo e os homens iam sair para namorar e as crianças entrariam para casa; além de que o pai dele teria já voltado. Paulo saiu correndo sem se desculpar, sentiu ódio do pai por testar ele daquele jeito, raiva de ser um filho assim, pena do pai pelo filho que tinha, triste por ter caído naquela armadilha, medo de não ter pensado em uma desculpa antes, e “de qualquer forma, tudo era uma grande merda olha do por qualquer lado que fosse.”. Chegando em casa já viu os sapatos do velho e sentiu o cheiro de cigarro. Tudo ia ficando cada vez mais pesado e ele nervoso, já via o pai sentado querendo conversar. Ele ouviu o chuveiro, devolveu o revólver, segurou o choro e proclamou que era homem, tinha passado dos limites e contaria tudo ao pai. O banho demorava mais que o normal, jurava que não seria mais assim, assim como jurou tantas vezes. Queria que o mundo acabasse antes do banho, mas não foi assim, ele ouviu o chuveiro desligar, o pai esfregar a toalha no corpo, bater o Prestobarba na pia e finalmente abrir a porta. Elementos literários: narrador onisciente, digressão Construções importantes: sentimento de pertencimento, a violência como elemento que convive ”Cidades, possibilidades e violências: o Rio de Janeiro em ‘O Sol Na Cabeça (2018)’” por Marcelo Reis – https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/118005/pdf

Conto 4 – O caso da borboleta

Ninguém nasce borboleta, ela é uma dádiva do momento presente. Entretanto a borboleta não pensava nisso lá fora, realmente era azul e foi lagarta, estava ocupada em voar de árvore em árvore. Breno tinha nove anos, mas diferente de lagarta, ele vira adulto, e homem não voa. O sonho do Breno era voar, seja como piloto ou jogador de futebol. Não chegou a pensar sobre, mas sabia que era menino e não lagarta, sua avó dizia sempre que não se nascia borboleta. Pensava em como ela comia, já tinha visto passarinho e beija-flor e lagarta comer, menos borboleta. Teve fome e foi à cozinha. A avó dormia na novela das sete, coisa que adorava fazer. Não quis acordar e foi para a cozinha que era antes um quarto e tinha janela, coisa que todos achavam curioso e estranho, Breno sempre viu a cozinha daquele jeito e gostava, achava azar de quem não tinha janela. Pensou em comer biscoito ou ovo, tinha tamanho para fazer o segundo. Entra uma borboleta enquanto procura biscoito, era maior e mais bonita. Ela fica desnorteada e batendo nas paredes, Breno tenta ajudar a guiá-la pela janela. Ela voa direto para uma panela com óleo usado para a batata frita do almoço. Pensou que só se queimaria com o fogo aceso e tirou a borboleta com papel toalha, deixou-a encima da janela e foi comer biscoito. Ficou pensando na borboleta no óleo e se fosse ele nadando em uma panela que coubesse uma criança, não gostava de imaginar, mas era difícil, ainda com o estímulo da mão suja de óleo. Lembrou do pó de borboleta que cegava e teve medo de passar mal porque lambeu o óleo. Foi à cozinha e viu que ela estava morta, quis enterrar ela de pena. “Decidiu que a borboleta seria seu bicho preferido, caso não passasse mal por conta daquela lambidinha no dedo.”. Deixou a borboleta na janela e ia avisar a avó para não usar mais o mesmo óleo, deixou ela cochilando, tentou não passar mal, pensou de novo na frase da avó, sentiu uns trecos no estômago e dormiu. Elementos literários: descrição de sensações, comparação Construções importantes: descoberta de emoções, o lugar como influenciador de sensações ”Favela, infância e adolescência: o discurso narrativo do lugar e de todos os lugares em ‘O Sol Na Cabeça’” por Robson Fagundes dos Santos – https://dspace.unila.edu.br/server/api/core/bitstreams/73f438f5-35c5-42d8-8c35-c1850d4133ea/content

Conto 5 – A história do Periquito e do Macaco

Quando a UPP apareceu no morro, era mais difícil comprar drogas, dava até pena de ver a criançada vendendo, mas tudo se acostuma, infelizmente. Há um locutor silencioso, ao qual o narrador diz que foi a melhor coisa ele ter ido para o Ceará, aproveitavam as conexões com o jornal e qualquer coisa era primeira página, mesmo que a carga fosse pouca ou uma arma, ainda que ninguém saiba o que esteja acontecendo no morro ou até mesmo se prenderam alguém grande. Só piorou com a ocupação da polícia, tinham que dar satisfação, não havia paz. Não demorou tempo para os traficantes que estavam lá antes deixarem de manter a ordem pois foram para outros lugares e de novo surgir a violência, as armas e, finalmente, a morte. Antes eram alguns tiros de aviso, mas evoluiu para morte dos dois lados. Na Rocinha, chegou um momento que a polícia ficava de um lado e, segundo o narrador, os vagabundos de outro. Até dava para fumar maconha, mas piorou muito a qualidade desde a chegada da UPP. Não sabia-se muito bem o que ia rolar, se ia subir exército como no Alemão, ia ter que vir os moradores pedir para parar ou se iam lutar até a morte, mas a única certeza é que a maconha mudou mesmo. Entretanto o pior de tudo é quando entra o Cara de Macaco. Era um tenente que fazia vigia na região da Cachopa, a mesma que o narrador morava, ele conta que o tenente gostava mesmo era de tratar mal viciado, ele colocava a culpa nele, não no traficante, chegou a pegar um cara em um beco, fazer usar tudo e ainda levar a cabeça na parede de apanhar. Outro dia, pegou o Neguinho fumando baseado, ele jogou na vala e ele já apontou a arma perguntando onde que ele arranjou. Era na subida da Vila Verde, todo mundo ia lá, deu uma coronhada e perguntou de novo, ou tomava bala ou descia na vala, não pensou duas vezes e parece que pegou leptospirose. O pior foi na ladeira da Cachopa que ele pegou um playboy pegando de tudo, era a compra do mês de drogas, falava que ele financiava a compra de armas dos traficantes, coisa que era a própria polícia, e o playboy ia crescendo e respondia de volta, lógico, ele tinha as costas quentes, era filho de juiz, aí que o Cara de Macaco ficou espumando de raiva. Ele já subiu querendo fazer maldade e a galera tentou avisar, mas o Buiú se deu mal, ele estava na laje, lugar que os policiais falavam para fumar lá e ninguém mexia, nem o Cara de Macaco sabia subir, mas mandou descer, levou até a casa do Mestre e arregaçou o Buiú a noite inteira, de ter até cenoura no cu. Mas o Buiú era irmão de leite do Periquito da Rajada, coisa que o Cara de Macaco não sabia, e tão piroca das ideias, maluco, quanto o tenente. Era necessário ser maluco, pois a voz fina não dava respeito, mas quando trocava bala ele virou braço direito do dono do morro. A raiva que ele já tinha de policial só piorou com o irmão e o tenente, ele dizia que ia se vingar, até tentaram convencer a não fazer nada ou deixar passar que era coisa do momento, mas sujeito homem não ia deixar barato. O Periquito nem dormir direito dormia, aí bolou um plano, precisava de uma menina gostosa, de deixar gente maluca, como a Vanessa. No que ela chegou, disse ao tenente que tinha tesão de homem de farda, lógico que ele ficou com ela sozinho no barraco e de pau duro, mandou todos os caras com quem fazia ronda, que eram sempre cinco ou mais pessoas, para longe. A ideia era que o Periquito estivesse esperando com uma M16, ela ia entrar no banheiro, ele seguia e matava ali. Só que ele já foi tirando a roupa, ela conseguiu até tirar o colete e ir fingindo que gostava, gemendo alto para o Periquito ouvir, que já encostou o cano e o tenente nem teve como reagir, Vanessa cuspiu na cara do tenente. Os manos ajudaram a levar o corpo e queimar, ele teve que sair dali, coisa que já sabia porque ia ficar feia a situação e ficou. Embora dentro de um mês, a paz voltou na Cachopa. Sem achar o corpo, uma notícia de jornal lamentava a morte de Roberto de Souza, que até o narrador chegou a ter pena dos filhos que choravam a morte do pai, mesmo odiando polícia. Contexto histórico – Instalação das UPP’s (Unidades de Política Pacificadora) em 2013 Elementos literários – Locutor silencioso, alegoria Construções importantes – A polícia como aparato do Estado, o paradoxo de justiça ”’O Sol Na Cabeça’ e os campos de força da bios” por Vanessa Augusta Cortez dos Santos Cunha – https://www.abralic.org.br/anais/arquivos/2018_1546968876.pdf

Conto 6 – Primeiro dia

André já foi embora sem nem deixar escreverem na camiseta, estava de saco cheio de todos e tudo da escola Antônio Austregésilo, nome feio demais só que não rimava com nada para piorar. Além disso, era repetente, tinha quase doze anos em uma escola cheia de sete e oito anos. André tinha confiança que estudar no Henrique seria melhor, queria fazer a fama com as porradarias semanais contra a galera do Getúlio e ser um neurótico reconhecido. André era desligado, estava sempre pensando em estar em outro lugar, mas pensava agora na nova escola. As férias ajudavam a deixar ele de volta ao mundo, mas jurava agora que daria gosto de ser aluno, não pelo estudo, nem por ser excepcional em brigas, mas para escapar de ser chacota e chamado de pirralho pelos mais velhos. Deixou todo material exceto o caderno do Flamengo e uma Bic, a mãe se esforçava e fazia diferença na renda comprar tudo, mas fazia questão, só que André queria impressionar, ser estudioso não era uma opção. Ainda assim, viu a quadra, a escola, andava atento mas aproveitou o novo lugar. Viu duas meninas fumando escondido no intervalo, pensou até o que seria dele no futuro, diante da cumplicidade e amadurecimento. A última aula foi francês, queria aprender inglês para ter fama e ser popular, até simpatizou com a língua quando descobriu como falar “pescoço” em francês. Dois moleques da oitava série diziam que não ia ter almoço, um playboy de cabelo de chapinha loiro mandou todos ao banheiro. Apesar de tentar parecer firme, André temia pederastia como ritual de novatos e parte das regras da escola, mas não era. Era o teste da Loura do Banheiro, que foi violada naquela escola e morreu. Quem chamasse ela três vezes no espelho, ou corria ou enfrentava dois destinos, ficar possuído ou ser sugado para o espelho. O André pediu um teste de verdade, a realidade é que prometeu nunca mais fazer aquilo porque morreu de medo. O loiro sentenciou ele a fazer já que não acreditava. Luzes apagadas e portas trancadas, pensou em tudo que perderia se vacilasse. Firmou as pernas e a chamou. Elementos literários – Metáfora, brevidade do conto Construções importantes – Aceitação, lúdico ”A representação do espaço social: entre o subúrbio e o (sub)mundo em ‘Clara Dos Anjos’, de Lima Barreto, e ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Viviane Chagas de Lima – https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/50889/1/DISSERTAÇÃO Viviane Chagas de Lima.pdf

Conto 7 – O rabisco

“Não era pra estar ali.”. Tomou cerveja, já estava com a lata de spray de tinta na mão e ouviu uma moça gritando por ajuda. Os moleques de tinta iam na esperança de ter cerveja, cigarro, erva e tinta para um grande rolê, ganhando fama, juntos, como carrapatos. “O mundo tá de saco cheio desses moleques, Fernando também.”. Tinha outro nome, Maluco Disposição, mas abandonou o xarpi, tentava se distrair com outra coisa e mudava sua relação com a cidade. Desde que Raul, o filho dele, nasceu, abandonou a vida, ainda lutava contra o desejo de pintar, evitava até usar caneta. Se quisesse ser presente e ficar vivo, ia, no máximo, só pixar em baixo, em lugar seguro, que era uma morte muito pior. Quando já ouviu os tiros, nem sabia de onde vinha, já saltou para o terraço com os reflexos em dia e viu que o moleque da tinta já tinha ido embora. Não ia roubar, ia deixar de presente sua marca no mundo, uma frase em homenagem aos amigos que deram a vida pela arte dos Racionais, “Pesadelo do sistema não tem medo da morte.”. Sabia que ladrão e pichador era tudo o mesmo nos olhos da polícia, mas sabia que fazia parte do jogo aquela parte que o caçava. Não ia conseguir pixar, ia esperar eles encontrarem ninguém para ir embora, um empate. Queria ser eterno, por isso aquilo tudo, ficar na memória, mas o filho mudou a perspectiva, foi chamado de pau-mandado por querer parar. Tem dias que o sol aparece até de noite e ninguém dorme, seja de calor ou da cabeça não descansar. O pessoal se aglomerava para ver justiça contra um homem desconhecido. Fernando queria era pixar tudo, rabiscar e mostrar que a vida continua mesmo com ou sem rabisco. Pensava em como tudo parou naquilo, mas a vida tem forças que vão uma atrás da outra, não dá tempo de planejar, só de reagir depois de tudo que aconteceu. Lembrava do pai que voltava para casa e a mãe sabia o som da batida dele de bêbado. A mãe não deixava entrar, ele até queria deixar, tinha memórias de infância boas, mas vinha um mau pressentimento. Assim como veio agora, um nó na garganta que antes ficava de forma positiva, fazia-o se mover. Dessa vez, a vida passou em lampejos desordenados, não como filme, mas presságio, seu corpo sufocava de medo sendo espetáculo para as pessoas ali e o desfecho de tudo. Pensou em como seria melhor com o pai que gastou toda a aposentadoria na cachaça em vez de tentar continuar a abrir a porta da casa. O peso das escolhas veio, não adiantava mais querer pedir desculpa ou dar do melhor ao Raul, o pai já estava morto. Havia uma possibilidade de não o terem visto, estudava o tempo que passou ali e em como sair, jogou uma lata e confirmou que era pichador, ao menos não saía morto, mas que levaria porrada daquela área residencial tomaria. Abriram a porta e subiu gente, mesmo que sobrevivesse à surra, coisa que já matou também outros, ainda ia ter que explicar como que levou aquilo, sem contar que o pai trocou o filho por álcool, ele estava trocando por tinta. Pulou para outro telhado, sentiu o pé doendo muito, quis gritar mas só se escondeu. Sabia que o silêncio que reinava agora ali era definitivo. Ainda sonhou em poder rabiscar o seu nome ali nos prédios, Loki. Elementos literários: Foco narrativo para simpatizar, jornada do herói Construções importantes: O picho como reivindicação do espaço social, conflito de desajuste ”Sujeitos em trânsito: figurações do espaço urbano em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Evandro Batista Siqueira – https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/37271/1/Sujeitos em trânsito. Figurações do espaço urbano em O sol na cabeça%2C de Geovani Martins.pdf

Conto 8 – A viagem

O conto é em homenagem a Rapha, “é claro.”. O narrador, Rafa, desembarca no Cabo do Arraial, fugindo de toda a festa de fim de ano que é em Copacabana. Estava ao lado de Nanda e completamente apaixonado. Pensou que a viagem os uniria, saindo do ambiente universitário para ali. Gabriel estava lá e estava contente com isso, era um dos primeiros amigos e ficava feliz de ter por perto, ainda mais que a namorada gostava dele também. A casa era de um argentino, amigo de Gabriel, Juan, gostava de falar e rir alto, fumar maconha e achar camarão de boa qualidade, tinham fumado três baseados já, o narrador retribuiu com LSD. Só que Juan já ficou falando “no, no, no” e ninguém entendeu se ele não aceitava por ser um desses maconheiros intolerante a outras drogas ou outra coisa. Só que Gabriel voltava com a tesoura e ria da situação que entendia, porque a qualidade da maconha era bem maior do que do Fundão, e isso explicava o narrador ver tudo em câmera lenta. A voz de Juan ecoava com a gargalhada de Gabriel e o desconforto de Nanda, parecia um Zé Droguinha querendo usar tudo que podia antes das 2 da tarde. A voz ecoava nas paredes e tremia ele todo, mas que ele guardasse o LED porque era difícil achar e queria estar fritando na queima de fogos. O narrador ficou feliz em poder salvar a pátria para deixar todos muito loucos na virada, todos riram, agora, invadidos por uma onda coringa. Tentou dividir tudo por igual, ainda tomou um pouco com a Nanda, ficaram falando de coisas de sinceridade, promessas de infância e tentando explicar viagens psicodélicas inexplicáveis. Ele até desenhou ela nas almofadas, ficaram calados e curtindo a brisa. Querendo fumar mais maconha, com vergonha da dele e de pedir do argentino, contentou-se com cigarro. Só que Juan procurava algo nos bolsos e na sala e o narrador ria, achando que ele procurava maconha também, influenciado pela fumaceira que fazia, mas não era isso, ele achou uma cápsula enorme de cocaína, “Gabriel esbugalhou os olhos e soltou” uma gargalhada. Ele ia rindo com os olhos brilhando com o serviço, Gabriel nunca usou cocaína, até pegou um pouco para deixar a boca dormente, curiosamente, o narrador aponta que ele só usa maconha, doce e lança-perfume, o último em ocasiões especiais. Nanda até olhou ao narrador que tentou não dizer nada com o olhar e ela aceitou uma linha. Ele ficou até ciumento por dividirem um canudo feito de uma nota de dois reais, mas não queria mostrar que era facilmente influenciável para usar também. Depois, saíram na rua, Juan e Gabriel conversavam em espanhol e a onda batia no narrador, que ficava maravilhado com os dedos e com as coisas ao redor, como as árvores, ser bom estar vivo e morar na Terra. Rafa fica preocupado com Nanda estar fungando e a onda bater errado de misturar drogas. Ele pergunta a ela o que acha do Juan, diz que o acha muito louco, no sentido de feliz, de falar, de entender mesmo sem saber a língua, e que é por isso que vive assim, ele tinha até perguntado se era no sentido de drogado, mas no fim do ano todo mundo fica, de amor, de estresse, de drogas, é quase um fim do mundo e todos tentam viver ao máximo para aí se decepcionaram que nada acabou. Rafa pergunta se ela acha Juan gay, ela o acha engraçado, perguntou se ele ficou interessado nele e falou que não conhecia o lado ciumenta dela. Chegaram na praia e a felicidade os invadiu, o dia era quente e a água fria, mais uma vez o equilíbrio universal, o narrador nem percebeu que Nanda tirou a roupa para ficar de biquini e nem viu se o Juan tinha malícia no olhar de ver ela tirando a roupa. Era uma maravilha ver mulher tirando roupa, mas queria ver a malícia do olhar ser presente nele. Juan olhava para o céu, Nanda para o mar, parece que ficava, como fica sempre pensando demais, pensando em como todos os átomos se reuniram para estar tudo ali naquele exato momento. Gabriel nadava de um lado ao outro, Rafa achava bonito como a liberdade tomava conta do corpo dele. Com dedicação como sempre tinha, Juan foi ver as ondas, depois de um tempo, se reuniu com os meninos na água. Nanda tomava sol na areia. Rafa boiava na água, fascinado com os tons de azul, pensando como era íntimo da água, conectado a ela e como era isso que os tornava próximos, mesmo que não se conhecessem de antes, eram amigos. Nanda se juntou e a felicidade e festança foi tanta de ficar pegando areia do fundo e jogar água que os ciúmes e a neurose foram embora. Foi perceber só depois que estava explorando outros cantos, o que sua alma precisava. Andaram movidos pela alucinação, pois já estavam cansados, o narrador imaginava o que passava no íntimo de cada um, viam praias belas e mal se comunicavam, se não fossem por gestos e gargalhadas. Até que Gabriel disse que era melhor voltar pois ia escurecer. Juan garantiu e sugeriu que ir pelas dunas era um caminho curto, Rafa ficou maravilhado, pensando em quanto tempo toda aquela areia estava ali, como eram pedras antes e quanto tempo precisa passar para virar aquilo. Todo o pensamento se foi quando percebeu que o grupo era perseguido por dois loiros altos, fortes, com roupa de academia. Não queria alarmar o grupo, achou que ia ser taxado de Doidão do Grupo, mas a verdade o enchia e sentia que ia explodir se não fizesse nada, não deu outra, avisou o grupo, virou o Doidão, saiu correndo puxando Nanda. Ela perguntava o que ele tinha, Juan e Gabriel ficaram olhando, mas logo viram que os dois playboys eram da geração saúde e corriam bem melhor que todos, além de conhecerem melhor onde estavam correndo. O primeiro a ser pego foi Gabriel. Rafa não conseguia ver de onde vinham os assaltantes e se encheu de ódio, aquilo não podia estar acontecendo naquele dia, e calculou para derrubar o brutamontes como um jogador de futebol americano. Juan, vendo a ação, sacou Nanda e fugiam. Rafa se debatia, tentando não ser imobilizado, gritou que tinha nada, aí os assaltantes falaram que não eram gringos, pois estavam focando em assaltar turista, não morador, aí Gabriel cresceu e mandou eles respeitarem os moradores. Rafa achou tudo aquilo inacreditável. Mas eles estavam confusos com tudo, achou que ia reverberar no relacionamento com Nanda, mal podiam planejar o próximo passo e deram de cara com um pântano. Mal viam algo na frente, uma bad imensa bateu no narrador e ele chorou, chamavam Juan e Nanda e nada, por sorte, Gabriel não conseguia ver. Chegaram ao final e deram com o centro da cidade. Ele continuava triste, desesperado, até que Nanda o chamou de uma farmácia, ela foi comprar mertiolate, ela saiu correndo com Juan e não parava para não dar chance de anoitecer, daí foi se cortando em tudo que era espinho. Ela achava estranho como via a dor e não a sentia. Juan permanecia o mesmo, feliz e desastrado. O narrador queria dormir, ainda faltavam dois dias para o fim de ano, ficou pensando o que mais o ano poderia o reservar. Elementos narrativos – Sinestesia, texto descritivo Construções importantes – O olhar complexo de coisas simples, o uso de drogas ”A importância da obra ‘O Sol Na Cabeça’ para a literatura brasileira, e sua relevância sob uma perspectiva social” por Isabelle Laurence Marques Fonseca Silva – https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/21863/1/ILMFSilva.pdf

Conto 9 – Estação Padre Miguel

“Na época estava proibido fumar crack na Vintém. As coisas tinham fugido do controle: muito roubo, briga, perturbação.”. O consumo até existia e o comércio, mas eles tentaram limitar, quem sofria mais eram os moradores. O narrador afirma que o lucro era imenso, não iam parar, e a pedra mais trazia problema do que outra coisa, não lembrava se era proibido o consumo na favela ou na linha do trem, onde era mais intenso o uso. Até teve certeza da linha do trem pois havia ninguém mais por lá. Era tudo cercado de lixo e dejetos humanos e não-humanos, ali se reunia de tudo, gente do trabalho, da escola, tudo a noite escondia. O narrador não fumava mais, o lugar lhe causava cada vez mais nojo, ele até ria no auge do crack sobre piadas de cracudo, mas quanto mais passava por lá e ouvia histórias de antes do vício, sentia vontade de chorar. Lembrou de uma mulher que conheceu, tentou vender um guarda-chuva, daí contou que abandonou Alagoas e toda a vida para tentar a sorte no Rio com a família. Contou da filha que tinha nove anos, que o marido aparecia volta e meia na linha, apanhava, trancava a mulher no quarto mas voltava ali de qualquer jeito, ela achava um jeito. Ela chorava desesperada. O narrador não sabia se acreditava na história, até contava os dentes dela enquanto ela chorava. Ela dizia como o marido precisava de alguém melhor, chorava de verdade e pediu um abraço. Na falta de um, cedeu a maconha que tinha, falando que dava um barato bom. Até comentaram de como era a qualidade de antes, como vinha em outro saquinho, Rodrigo, amigo do narrador, comentava disso, o narrador mal sabia, os saquinhos na Vila Vintém sempre mudavam mesmo. Lembrava do grupo inseparável, Rodrigo, Felipe, Alan e Thiago, uma vez foram passar ali, fazer a cabeça e visitar a filha do Léo, mais um pai. Pensava também se a amizade sobreviveria até a vida adulta. Alan comentava do gosto de amônia, enquanto Thiago dizia que o importante era no fim todo mundo estar de cara murcha. Deu nem duas voltas na roda e Rodrigo já ia preparar outro baseado. Felipe falava que era melhor investir, ele sabia onde ficava coisa boa. O narrador já previa a conversa, só pensavam em droga, já falava para inteirar 10 cada um. Alan falava que não tinha como, a droga era o que movia a cidade do Rio, se parasse por uma semana, a cidade morria. O narrador adiciona que era droga e medo. Era o terceiro baseado e só vinha uma pressão na cabeça. Mesmo que a Amanda fosse do bonde e até fumasse, até pensou se não era melhor outro dia essa visita, um filho muda uma pessoa e todos fediam amônia, além de ser já oito horas. Foram andando, até cantaram “Recado à minha amada” do Katinguelê, mas logo voltou o silêncio. O silêncio incomodava o narrador, esse abismo entre outra pessoa que sabe se lá como se rompe. Voltavam a conversar dos dez contos para inteirarem na maconha no Jacaré, discutiam do horário para pegar, de pagarem certo e o narrador sabia que era uma tentativa de voltar à normalidade anterior. Aí começou uma história do Alan, estava todo arrumadinho para não ser pego pela polícia e aí surge uma cracuda, olhou ele de cima em baixo e disse que chupava o pau dele por cinco reais, pior, já retrucou falando que chupava de graça. Os outros já o chamaram de galã das cracudinhas do Jacaré, já até disse do possível problema e da falta de dente como vantagem, começaram a rir e pararam só quando o trem passava. Até pensou se não era efeito da onda, como quando o Vítor sentia nada ao tomar um pedaço de quadrado pela primeira vez. Era sempre mais fácil ver de pé se bateu ou não. Mas aí o narrador não sentou de volta, sentia uma agonia. Tinha vontade de sair andando dali e seguir seu rumo, mas ficou quieto segurando a bad e sem contar a eles. O narrador sempre falava que a onda tinha que ser aceita, ria e achava estranho os outros que fritavam, mas era alertado que sua hora chegaria. Mas logo voltou à calma, achou estranho como ele sofria daquele jeito e ninguém viu, sentiu que podiam todos serem sozinhos, “sem nunca permitir que o outro habite nossa intimidade”. Ele até ficava neurótico antes, achando que as pessoas o vigiavam, prestavam atenção em tudo, pior ainda quando fumava. Mas não era verdade, ninguém ligava, “Nossa dor, nosso vício, nosso vexame, é tudo muito distante dos outros.”. Passaram o baseado, era o último, fumou sem gosto e pensou se todo aquele corre com a polícia, fumar maconha com amônia e ficar ruim valiam algo, mas pensou que essa felicidade que tinha com os amigos eram o importante. Levantou e estava cansado, queria ir para casa. Apareceu um amigo do Rodrigo, pedindo folha de caderno e falando gago. Ele ia fumar, até ofereceu um fininho, mas falaram que só servia fumar aquela erva com pedra. O narrador viu de longe uma mulher fumando em uma lata de Guaravita, o crack tomou conta da favela e era difícil controlar tanto viciado. O narrador até desistiu de falar algo porque adiantaria de nada, pensou que tudo poderia ser dez minutos, juntar o restante de cada grupo e fumarem. Nisso, apareceram dois caras em uma moto, o passageiro segurando AK e quando o narrador viu já estava na parede, levando bronca que não podiam fumar crack, mas a moça já chorou gritando que estava grávida. Falou de volta que se quisesse o filho vivo, não estariam fumando, depois de mais intimidação do motorista mostrar a pistola, o da AK perguntou quem queria ser o primeiro, apontando o cano na cara de cada um por um tempo. Nunca viu tanto medo na cara de todos, pensou o que aconteceria se deixassem de existir naquele momento. Como sempre, estava sem identidade, esquecendo dos alertas da mãe de sempre andar com a sua. Ouviu o pagode e conectou as ideias, ele estava querendo jogar terror, era muito provável o tiro atravessar a parede e pegar morador, e não iam levar todos favela a dentro para matar. Agora era focar em parecer apavorado e não sorrir de deboche como sempre faz. Soltou a ordem de sair correndo e uma rajada de tiros para o ar, corriam todos desesperados e a grávida mais ainda, ele ia menos rápido, via todos e pensava que um dia escreveria aquela história. Contexto histórico – 2012, Governo Dilma, intensificação do combate ao uso de crack Elementos literários – Interrupção da normalidade, o sentimento de ser diferente Construções importantes – O sofrimento do morador, a culpa do indivíduo ”A representação da favela nos contos de ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por André Natã Mello Botton – https://abralic.org.br/anais/arquivos/2018_1547745521.pdf

Conto 10 – O cego “Seu Matias nasceu cego.”. Nunca viu arma, mulher, mar, mas vivia como se o mundo fosse feito para ele, pois também ouvia, cheirava, tocava, falava e sentia. E falava muito, pois usava sua voz para arranjar uns trocados. Tudo variava, religião, começo de mês, bom humor, consciência, mas recebia o suficiente para trabalhar dia sim e dia não. Não gostava das crianças, atropelavam uma fala da outra e era difícil ver tudo, gostava de falar com os idosos, pessoas que falam com gosto, sem medo de gastar tempo pois usam ele para falar com detalhe. O pai morreu aos 6 anos sem fazer diferença ou sentido, vivia bebendo demais. Os irmãos forma embora: Marcos com uma mulher mais velha com filho; Mariana com o pai da criança. Dona Sueli foi derrubada pela doença, só ficou Matias e as fofoqueiras para cuidarem dela. As vizinhas até perguntavam dos filhos que não cuidavam dela, ao qual ela respondia que criou os filhos para o mundo. Pensava em como se alimentar e ganhar dinheiro, não queria ficar com a caneca mendigando, queria conversar, contar a história. Treinou o que falaria no ônibus, do pai, da mãe, pediria para Deus abençoar todos, os que contribuíram e que não podiam. Os primeiros dias foram fáceis, sabia onde colocar piadas, mas a tristeza de ter que repetir a história, a solidão vinha com a contemplação do que viveu e vivia tomava seu coração “e viver de caridade passou a ser um inferno.”. Aproximou-se de um menino chamado Desenho, todos juravam que era bandido. Fazia avião, buscava quentinha para traficante, comprava pó para viciado, e gastava a grana que ganhou comprando baseado na mesma boca. Um dia Matias sugeriu irem juntos, e ele lembrava levemente, aí que aumentaram os ganhos, tinham dó do suposto filho de cego, e também ganhava bem mais que no morro, para alegria dele e conforto da mãe. Entretanto a idade veio, Desenho já era velho para bater uma laje, aos 16 comprou uma moto e virou mototáxi. Matias ia ficando velho e ia sozinho. Ficavam separados, não que falassem muito, mas continuavam o contato. No final do trabalho, pegava o dinheiro do velho, comprava o tanto de maconha e cocaína que podia e ficavam “a noite inteira fumando e cheirando, num papo angustiante em que não se olha no olho.”. Elementos literários – Limitação criativa, preenchimento criativo de descrição Construções importantes – Marginalização de membros da sociedade, deixar ao leitor que complete a história ”(Re)pensando subjetividades marginalizadas ‘no’ e ‘pelo’ discurso literário de Geovani Martins” por Élida Cristina de Carvalho Castilho – https://repositorio.ufms.br/jspui/retrieve/c2b92fb6-f1e8-4da2-80f4-926f24601479/ÉLIDA CRISTINA DE CARVALHO CASTILHO – VERSÃO FINAL.pdf

Conto 11 – O mistério da Vila

“Em memória de dona Maria de Lourdes”. Ruan, Thaís e Matheus voltaram para a rua refrescada da chuva de verão. Ao final da rua, morava uma senhora antiga, a dona Iara, e dessa casa que já via a terceira geração de família crescer, vinha o cheiro de macumba. Os moleque armaram dois golzinhos entre lombadas, tentando chegar mais perto da casa, ouvir o barulho de morcego, rato e bambu rangendo ao lado do valão. Até que um sai correndo em disparada e todos vão, naquele terror de primeira infância. O que saiu correndo disse que viu algo saindo do rio, em meio de risadas e sorrisos de cumplicidade. Um sempre concordava, aumentando a ansiedade. Dona Iara era cumprimentada durante o dia, iam para buscar cigarro, o resultado do jogo do bicho, parecia santa de dia, mas de noite era outra forma, com o cheiro e o barulho de coisa rangendo. As crianças comentam como macumba era coisa do diabo, que podia ser coisa de gente de bem e até possuir. Quando mudou, ainda era vivo Jorge, seu marido, que era pai de santo e reunia até os católicos na gira no quintal. O passar dos anos fez o número diminuir, que parecia vir com o crescimento de igrejas em volta, os antigos frequentadores convertidos agora deixavam o terreiro mal-falado. Usou as lembranças para se consolar, mesmo querendo vender a casa que tinha raízes suas com o terreiro. Um dia, um menino chamado Matheus estava ardendo de febre, igreja e médico não ajudavam, mandaram chamar dona Iara. Enquanto rezava e passava erva, todos gritavam cânticos de igreja. No final, tragou cachaça, pediu para todos também o fazerem, fizeram, e disse que ia melhorar, com a resposta de que Deus estava com eles, era só um susto. Quando dona Iara se foi, fizeram um pacto de nunca contar na rua o que aconteceu ali, só Matheus que contou para Ruan, mais ninguém. Em outra vez, a casa do Ruan ficou infestada de carrapato, dona Iara pegou três, colocou numa caixa de fósforo e mandou colocar em uma encruzilhada. A avó levou Ruan e Ruan só contou para Matheus. Da família de Thaís, menos o pai era testemunha de Jeová, ele era alcoólatra. Thaís não comemorava aniversário, não comia doce de Cosme e Damião, não doava sangue e nem usava troco para comprar cigarro ou jogo do bicho da dona Iara mas foi ela quem desamarrou a barriga no ventre no parto. “A mãe de Thaís nunca contou para ninguém.”. As crianças voltam de novo para o lugar do susto, escondendo-se com o coração batendo forte, que no fim dava história animada na frente do bar do Galo Cego. Em uma noite, soltou um barulho forte, a porta. Mílton, um dos filhos de Iara saiu correndo pela vila, suado, cheirando, eles achavam que estava possuído. O carro do tio do Matheus logo chegou e levavam o corpo desacordado de dona Iara para o carro. As crianças se espremiam escondidas para ver tudo, Ruan e Thaís sentiam vontade de abraçar e chorar, a velha saiu para o pronto-socorro. A porta estava aberta, ninguém sabia o que dizer e nem queriam contar a história no bar do Galo Cego. Ruan fechou a porta e todos foram embora, com a noite suspensa por um medo diferente. Ficaram sabendo pelo Matheus que soube dos filhos dela, era derrame ou infarto, por pouco não morre e ia ficar no hospital. Sem que vissem, Thaís pedia a Jeová pela vida de dona Iara, todos os dias e ocasiões, sem saber se era pecado orar por macumbeira. Ruan ficou em casa, sozinho, sem fazer barulho. A avó perguntou se brigou com os amiguinhos, ele disse que não queria que dona Iara morresse e a lembrou dos carrapatos. Ela disse para pedir para Deus, melhor, um santo, pois Deus ia ouvir o santo. Ruan olhava para as figuras que sempre conviveu e nunca pediu nada ou se quer prestava atenção. Ia pedir para Nossa Senhora, parecida com dona Iara, desistiu. Não sabia o que dizer e a quem, mas São Jorge, com um cavalo e uma espada que era capaz de matar um dragão era quem podia fazer qualquer coisa, as palavras saíram naturalmente, o pedido também e agradeceu antecipadamente. Ruan e Thaís voltaram para as brincadeiras da rua sem parar de orarem e pedirem preces, só Matheus parecia apático. Ruan ficou inconformado com sua indiferença da dona Iara, cobrou dele pela história de segredo e ia bater nele se mentisse da reza. Matheus saiu e foi embora. Dona Iara voltou perto do horário da novela, apoiada aos filhos, as crianças queriam espalhar as boas-novas. Ruan e Thaís foram à casa de Matheus, Ruan se desculpou e propôs de visitarem dona Iara, ele aceitou as pazes e falou que preferia ficar ali jogando videogame. Ruan soltou que se fosse assim, esquecia as pazes e nem precisava mais conversar com ele. Como eram melhores amigos, pausou o jogo e foi com o bonde. Chegando lá, dona Iara estava vestida de branco como santa com uma vela acesa ao lado de um copo de água, igual a vó de Ruan. A casa tinha um cheiro estranho, com pouca luz, mas o suficiente para os olhos de dona Iara brilharem. Thaís disse que pediu a Jeová pela vida dela, beijando a cabeça da velha, ela agradeceu e disse que devia estar viva por Deus. As crianças acharam estranho como falou de Deus, ela contou do que passou no hospital, teve medo da morte, contou de como chegou lá, como era a rua, das festanças. Eles ouviam tudo atentos, até das histórias de Orixás. Quando deram conta, já precisavam ir, Ruan contou da promessa de São Jorge, dona Iara riu, falando que ele era filho de Ogum, como disse a avó dele. Dona Iara se recuperou, voltaram os dias de cheiro com as brincadeiras. Nem parecia que tinha acontecido algo, era tudo o mesmo, menos Ruan, que invadia a vila sozinho, que ia para ouvir as histórias de seu protetor e pai, Ogum Iê. Elementos literários – Tradição oral, a memória como símbolo da literatura contemporânea Construções importantes – Sincretismo religioso, religião de barganha ”Ancestralidade e memória da cor ausente em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Cláudio do Carmo

Conto 12 – Sextou

Quando a mãe do narrador descobriu que ele fumava cigarro, ela não deu um esporro como achou que teria, mas parou de dar dinheiro e falou que se era grande o suficiente para ter vício, podia trabalhar. Até ficou bolado, mas entendeu o papo. O primeiro trabalho foi de boleiro com Márcio, professor de tênis. Arranjou dinheiro para as compras e até dormiu com seu primeiro Nike quando comprou um. Tinha o maior orgulho em cada pisada, ainda mais quando foi para a escola com ele. Gostava da sensação de ajudar em casa, queria trabalhar para sempre. Entretanto, o mesmo desejo sumia quando precisava trabalhar para gente que nem olhava na sua cara com o sol ardendo na cabeça. Odiava os idosos mas principalmente os mais novos, o jeito de falar, andar, tratar funcionário, pensava no que gostaria de responder, só que o pior de tudo eram os problemas que reclamavam, que iam desde a empregada não foi para não aguentarem mais irem para a aula de inglês. Em casa ou na escola a raiva passava devagar, com os amigos e a comida na mesa. Um dia, tudo explodiu, um aluno disse que parecia um personagem de desenho, mandou tomar no cu que não era amigo dele, nem o aluno e nem ele acreditou no que aconteceu. A mãe ficou bolada, Márcio disse que quase fode com o trabalho dele e parou de falar com o narrador. Ele se sentia mal, foi ele que o levou para ver um jogo de futebol pela primeira vez, e ver o Flamengo fazer gol dava vontade de ir abraçá-lo e celebrar. Trabalhou em outras coisas, mas era sempre fazendo algo para os outros, chegar na hora e ter sangue de barata. A convivência com o padrasto piora a, a mãe ficava quieta, o narrador ia na máxima de “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, apesar de pensar que aquilo era uma bobagem, “o caralho”. Arranjou um trampo de indicação de panfleteiro, 30 reais por dia, das 8 às 16, diferente de como não se firmava em outras coisas antes, ficou quase um ano, dava para quem pegava o papel, quem não pegava, sempre tinha outro. Tinha tempo o suficiente para sonhar. No primeiro dia chegou bem antes, viu gente grávida, mais velha que os avós e muita gente. Pensou até não ser ali, mas viu o amigo, chegou o fiscal momentos depois e ele entregou um maço de papel, tinha que entregar na rua da Carioca, na esquina. No começo sentia vergonha, olhavam-no com raiva ou pena, levava para o pessoal até entender que não era ele, mas o que ele representava, um entregador de papel. O difícil era quando passava gente que conhecia, fingia que não estava ali, um amigo ouviu que ele estava na correria e até que queria se arranjar ali, outra era uma menina que estava desenrolando, só que ele continuou trabalhando e ela passou batida. Quis usar o pagamento da primeira semana em maconha, salvar quem salvou ele nos corres, pagar a internet e algumas coisas da casa, ia ficar duro, mas trabalhar o dia inteiro tem essa vantagem, nem dá tempo de gastar o dinheiro. Comprou uma passagem de um cracudo, podia ser golpe mas ele conhecia onde ficava, arriscado tentar dar um golpe, garantiu que tinha duas passagens, pegou o trem depois de tanto tempo e estava lotado no horário das cinco. Os camelôs tentavam achar espaço que nem tinha, em São Cristóvão os novos passageiros tentavam achar espaço e os antigos diziam para pegar o próximo trem aos empurrões. No Maracanã, choveu. Pensou na desgraça de uns e na felicidade de outros, eram dos garotos inseparáveis, magros de vareta, aproveitavam do clima e do dia para fazerem negócios. Conheceu eles quando foi comprar maconha, ele tinha rodado, ficou puto, e os garotos o salvaram. Chegou em Triagem, mal conseguia chegar na porta e pisou no pé de um. Não tinha força para passar, aí em Jacarezinho empurrou e saiu, sabendo que não ficaria para ouvir as reclamações. Estava enlameado, tinha até pouca gente que poderia achar normal, pensou que se tivesse operação, ia ter que achar outra rota. A maconha ali já fez muito sucesso e era ponto de outra facção, até encontrou um amigo por ali um dia, só não voltou com o amigo mototáxi porque ficar com droga no erro era difícil. Estranhava a falta de gente, da galera fumando maconha que era em abundância, além dos cracudos que não o abordavam pedindo qualquer coisa com insistência. Foi comprar a maconha com um menino que disse que a polícia já tinha passado de manhã, não tinha mais nada no dia e estava tranquilo agora. No que ele compra cigarro, a tia disse algo que ele não associou até ele ser encontrado por um policial na estação “Cuidado com os tiras!”. Eles abordam e começam a perguntar da maconha e, principalmente, do dinheiro que fez os olhos deles brilharem. Ele tenta concordar em ir para a cadeia, assinar papel, dar a maconha, mas que precisava do dinheiro. Os policiais, sem identificação, riem, falaram que ele perdeu tudo e tentavam esquematizar que tinham achado muito mais maconha com ele do que ele dia. No final das contas, ele vai com a maconha e fica sem o dinheiro, deram, após ele reclamar, 4 reais para pegar o trem. A passagem que comprou do cracudo não funcionou e teve que pular o muro do trem para economizar. Em casa, os amigos perguntaram se ele foi abordado, explicou como levaram o dinheiro e deixaram com a maconha. Foi dechavando, pensando em cada perrengue que passou com a polícia, ia crescendo o ódio que passou todas as vezes e naquele dia, foi ver tinha feito um charuto. Fumou, a galera reclamava dos vermes, mas fumou com tanto ódio, tristeza e desânimo que preferia que tivessem levado a maconha. Elementos literários: Regionalismo, hibridismo Construções importantes: Cidade partida, desigualdade social ”A identidade marginal periférica em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Dra. Ana Paula Franco Nobile Brandileone – file:///Users/alessandroperre/Downloads/2049-6625-1-PB.pdf

Conto 13 – Travessia

Beto já tomou bronca pela primeira vez ao encontrar com o o dono do morro que mandava sumir com o corpo, não queria saber de processo ou problema, se não, quem ia para a vala era ele. Já fazia ano que entrou na boca, segurava a metralhadora mas nunca atirou uma vez. A favela nem tinha mais aparição da polícia, estavam em uma época de calma, era tanta calma que muitos entraram na boca e nem tinham como fazer algo para mostrar o valor, ficavam apontando para o invisível e imaginando tudo. O problema é que a falta de experiência de mostrar que era sangue frio ia ter que ser colocada agora para dar embora do presunto. O problema todo veio que o cara comprou pó e fez cumprimento de outra facção, em vez de dar um coro ou uma bronca deu uma rajada. Passou a adrenalina e o ódio do momento e viu que o corpo também era filho de Deus e de uma mãe, a merda já estava feita no primeiro tiro. Era tudo difícil, tinha que ver um carro para levar ao lixão, de moto não dava, já sentia que ia ser taxado de vacilão do morro. Ficou pensando em como perdeu a chance de ganhar grana, via todo mundo antes de carro importado e ele precisava pagar fiado em marmita, “bandido duro é foda”. Beto, vai contando o narrador, ia pedindo ajuda e todo mundo se desviava, na hora de arranjar droga e pagar de bandido com arma todo mundo aparecia. Ficava puto com o dono do morro que não deixava desovar o corpo no mato, a polícia nem subia para pegar droga, imagina entrar para procurar corpo de drogado morto, mas tinha que respeitar. Arranjou um Chevette para pagar depois, já sentia que ia ser parado, polícia gostava de parar carro assim, sem documento, com lanterna faltando. Pensou em levar de madrugada, mas aí mesmo que iam parar ele com sede de fazer trabalho. Decidiu ir no fim da tarde com a ajuda de Deus. Fazia tempo que não dirigia carro, no morro era de moto. Pensava no nome do corpo espremido no porta-mala, quis até que nem tivesse família e lembrou de como se afastou da mãe quando trocou os cultos por maconha. Teve dó da mãe, bastava o filho ficar na boca, mas ser assassino e ter que lidar com as fofoqueiras do culto ia ser uma desgraça, povo bom para cuidar da vida dos outros em vez da palavra de Deus. O pior rolou, o Chevette morreu em área de milícia, já estava todo doído de dirigir nervoso por trinta minutos e nem tinha grana para desenrolar ali. Viu um bar com uns coroas jogando sinuca, bebendo cerveja e que muito provavelmente tinha um miliciano. Os mesmos velhos já iam em direção ao carro e dava para ver a arma na silhueta da camiseta, vinham três. Ia explicar sem saber como, pode ser que se falasse que o presunto era viciado aliviasse, mas o número de tiros denunciava que trabalhava na boca, e aí ficou pensando em como ia morrer, ser torturado antes até verem dinheiro, e não iam ver, estava queimado e o pessoal do morro ia falar para matar mesmo, era destino de vacilão. Pensou na mãe de novo. Pensou agora em Deus. E o Chevette foi, ajudaram sem nem perguntar, ele mesmo já ajudou e nem sabia o que ia dentro, talvez as coisas melhorassem, era cria do bagulho, não tinha motivo para ficar taxado para sempre. No lixão, tinha até gente procurando, mas ele viu que nem prestavam atenção e já puxou o saco de lixo, pesado. Se fosse no mato, ia tacar fogo com gasolina, mas ali o fogo se alastrava e ia ganhar fama de vacilão e até pagar por isso, aprendeu a se controlar naquela situação e deixou para os urubus. Avaliava se voltava ao plantão, podia mostrar à galera que passou, errar era humano, qualquer um pode perder a cabeça, ou se não voltava e depois vinha no sapatinho. Só sabia que sentia ódio. Voltou e era como se visse o morro pela primeira vez com os moradores, cachaceiros, gente vendendo droga, e sua vida desmoronou na boca, mandaram o papo de vazar e nem se despedir, o morro ali não era lugar para gente emocionada. Achou que ia tomar bala, era feio morrer para vacilão, ele era cria, achou que não ia ser assim pela reação de quando voltava. Deu meia-volta, sem medo de tomar tiro pelas costas. Ia descendo, lembrando de coisas da infância, festanças, correr, sonhos de trabalho, sonhou em ser jogador de futebol, piloto, técnico de informática, nunca pensou no tráfico, olhava tudo pela última vez, sem saber onde dormir, com o peito doendo de amar e odiar aquele lugar e saber que tudo seria diferente a partir daí. Elementos literários: In Media Res, Anedota Construções importantes: O outro lado do tráfico, desconforto ”A representação da violência em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Keury Carolaine Pereira da Silva – https://repositorio.uema.br/bitstream/123456789/1868/1/Dissertação – Keury -1 PDF- A.pdf

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2021 Redação UEA Redação UEA SIS 3 UEA

Tema de Redação da UEA SIS 3 de 2021 – “Uso de redes sociais por crianças: proibir ou permitir?”

O tema de redação da UEA SIS 3 no ano de 2021 teve a pergunta “Uso de redes sociais por crianças: proibir ou permitir?”. Os textos motivadores ajudavam você a conseguir decidir pelo lado da permissão ou da proibição.

Confira a seguir os textos motivadores na íntegra

Texto 1

Para evitar riscos da exposição de crianças nas redes sociais, o Instagram decidiu seguir com mais rigor seus termos de
uso da rede social, que indicam que a idade mínima para ter acesso ao serviço é de 13 anos. Em março de 2019, por exemplo,
um garoto de apenas 8 anos criou uma conta e, meses depois, a rede social decidiu notificá-lo da impossibilidade de seguir
utilizando-a.
Essa notificação levantou um debate sobre os riscos da exposição das crianças na internet e sobre a responsabilidade das
empresas de redes sociais de zelar pela segurança desses usuários, como explica o psicólogo clínico Vítor Friary, para quem
é preciso restringir o uso para crianças. Segundo ele, “Temos que avaliar a idade para usar as redes sociais, pois a criança
não tem preparo emocional e habilidades socioemocionais para agir de forma responsável diante de alguns problemas com os
quais ela venha se deparar durante esse acesso”.
O menino Gabriel César, de 12 anos, tem Instagram e gosta de acompanhar as novidades da rede. “Nele, posso ver tudo
que meus amigos postam, material da escola, ver os stories e também compartilhar novidades”, conta. Mas a mãe de Gabriel
não deixa o filho ter acesso livre à rede. A psicóloga e psicopedagoga Dulce Maria Morais coloca a sua posição quanto a esse
debate: “Não vejo como errado criança menor de 13 anos ter rede social, em função da necessidade, em nosso mundo, de se

aprender a usar as tecnologias virtuais. O que considero imprudente por parte dos responsáveis é a criança, sem monitora-
mento, ter rede social”.

(Aline Lourenço. “Crianças de até 13 anos terão Instagram deletado; entenda o motivo”. www.em.com.br, 20.09.2019. Adaptado.)

Texto 2

Embora a maioria das plataformas estabeleça a idade mínima de 13 anos para a criação de um perfil, cerca de 20 milhões
de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos eram usuários de internet e ativos em redes sociais em 2018, segundo a pesquisa
TIC Kids Online Brasil.
A pesquisa ainda apontou que o uso de redes sociais por esse público está associado a uma série de benefícios. As redes

sociais ajudam os jovens a terem acesso à informação, construírem suas identidades, aprenderem sobre o mundo, se expres-
sarem e se relacionarem. As crianças estão desenvolvendo uma identidade virtual ao escolherem o que e como compartilhar, o

que consumir e quem seguir. Elas têm a chance de produzir conteúdo, aprimorar sua capacidade criativa e propor discussões
sobre os temas que as cercam.
Contudo, ao usarem as redes sociais, as crianças também estão sujeitas ao cyberbullying, que é a violência praticada
contra alguém via internet, e a situações de superexposição. Renata Guarido, mestre em psicologia e educação, pondera:
“qualquer episódio preconceituoso ou de insulto recebido pelas redes vai demandar da criança uma condição de lidar consigo
mesma e com esses ataques muito superior aos recursos psicológicos que ela tem, não apenas pela idade, mas porque a
exposição na internet é muito grande”.

(Mayara Penina. “Eu, criança virtual”. https://lunetas.com.br, 26.06.2020. Adaptado.)
Texto 3

Quanto mais exposição nas redes sociais, maior a quantidade de mensagens negativas com críticas, mas também men-
sagens positivas, elogios e bajulações. Essas últimas eram as maiores preocupações da mãe de três filhos Fernanda Rocha

Kanner, 38 anos, de São Paulo. Para proteger a futura saúde mental de sua filha Nina, ela resolveu apagar as redes sociais
da menina de 14 anos. Mas a decisão não passou despercebida, afinal, Nina tinha quase 2 milhões de seguidores. Fernanda
explica as razões de tomar essa decisão: “Não acho saudável nem para um adulto e muito menos para uma menina basear
referências de autoconhecimento em opiniões virtuais. Isso é ilusão. Eu não quero que a Nina cresça acreditando que é esse
personagem virtual”.

(Sabrina Ongaratto. “Mãe apaga redes sociais da filha de 14 anos com quase 2 milhões de seguidores:
‘Proteger a futura saúde mental’”. https://revistacrescer.globo.com, 20.07.2021. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empre-
gando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

Uso das redes sociais por crianças: proibir ou permitir?

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