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Tema de Redação da UEA SIS 3 de 2024 – “Queda nos índices de vacinação: entre o medo e a desinformação”

O tema de redação da UEA SIS 3 de 2024 foi “Queda nos índices de vacinação: entre o medo e a desinformação”. Diferente dos últimos temas que eram posicionamentos ou perguntas, este tema precisava traçar um limite que diferenciava quando o medo era um fator de diminuição das taxas de pessoas vacinadas e como a desinformação afasta pessoas deste protocolo de saúde. A redação, que já é a segunda do sistema seriado, trazia 4 textos motivadores de apoio.

Você pode conferir o tema de redação na íntegra pelo link da prova da UEA SIS de 2024, na imagem a seguir ou vendo os textos na íntegra abaixo:

Texto 1

(Quinho. www.em.com.br)

Texto 2
Mais de 60% dos municípios brasileiros não atingiram no ano de 2023 a meta de 95% de cobertura vacinal recomendada pelo Ministério da Saúde, quando considerados os imunizantes aplicados durante o primeiro ano de vida. Ainda que o total de cidades no país que alcançou o índice tenha saltado de 1 745 em 2022 para 2 100 no último ano — de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 5 568 municípios espalhados por todo o território —, os números mostram-se aquém do necessário.
Desde 2016, as coberturas de todos os imunizantes previstos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) estão em queda. A situação é preocupante, uma vez que surtos de doenças imunopreveníveis, como sarampo e poliomielite, podem surgir em todo o Brasil, colocando em xeque a saúde da população.
(Natasha Pinelli. “Maioria dos municípios brasileiros não atingiu a meta de cobertura para vacinas do calendário infantil em 2023”. https://butantan.gov.br, 23.02.2024. Adaptado.)


Texto 3
Pelo menos 1 a cada 5 brasileiros afirma já ter sentido medo de se vacinar ou desistiu de tomar a vacina após ler uma notícia negativa em plataformas digitais. Isso é o que revela o “Estudo sobre Consciência Vacinal no Brasil”, realizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público em conjunto com a Universidade Santo Amaro (Unisa), publicado em 2024.
A pesquisa revela que 72% dos entrevistados confiam ou confiam muito nas vacinas e 90% acham os imunizantes importantes ou muito importantes para a saúde pessoal, da família e da comunidade. Embora predomine a confiança quanto a segurança, eficácia e benefício das vacinas, os brasileiros ainda têm receio: 21% avaliam como alto o risco de reações das vacinas e 27% afirmam já ter sentido medo de se vacinar ou de levar uma criança ou adolescente para se vacinar. Dos 27% que alegaram ter medo, 66% disseram ter receio de reações ou efeitos colaterais graves.
(Conselho Nacional de Secretários de Saúde. “Brasileiros ainda deixam de se vacinar por medo e desinformação, revela pesquisa desenvolvida pelo CNMP”. www.conass.org.br, 06.06.2024. Adaptado.)


Texto 4
Especialistas apontaram as notícias falsas desfavoráveis à vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV) como um dos entraves ao avanço da imunização contra o câncer de colo de útero. Para o ano de 2023, foram estimados 17 mil novos casos desse tipo de câncer, que é o terceiro mais incidente entre mulheres, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A vacina é considerada o meio mais eficaz de prevenção ao HPV, responsável por esse e outros tipos de câncer.
Para o coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Fernando Henrique de Albuquerque Maia, o “negacionismo” da eficácia da vacina, ao lhe atribuir falsos efeitos colaterais, contribuiu para a rejeição de parte da população à imunização. A Coordenadora do Programa Útero é Vida, da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, Jurema de Oliveira Lima, também reconheceu as dificuldades impostas ao tratamento pela propagação de
notícias falsas.
(Emanuelle Brasil. “Para especialistas, fake news prejudicaram o avanço da imunização contra o HPV”. www.camara.leg.br, 07.11.2023. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Queda nos índices de vacinação: entre o medo e a desinformação

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Tema de Redação da UEA SIS 2 de 2024 – “Mães solo no mercado de trabalho: uma realidade possível?”

O tema de redação da UEA SIS 2 de 2024 foi “Mães solo no mercado de trabalho: uma realidade possível?”. Como primeiro contato de redação do sistema seriado, os alunos precisavam discutir dos entraves, dificuldades e sobrecarga de mães que cuidam sozinhas das crianças e como empresas não facilitam a absorção dessas trabalhadoras e a falta de políticas públicas faz o problema persistir.

Para ajudar o aluno, foram apresentados 4 textos motivadores, você pode conferir a imagem abaixo da prova, conferir o link do documento da prova da UEA SIS 2 2024 ou ver os textos na íntegra abaixo:

Texto 1


(A Mãe Solo. www.facebook.com)

Texto 2
O número de mães solo, aquelas que cuidam sozinhas de seus filhos, aumentou 17,8% na última década, passando de 9,6 milhões em 2012 para 11,3 milhões em 2022. Esta situação gera ainda mais dificuldades para o ingresso dessas mulheres no mercado de trabalho. Esse é o resultado de uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo indica que a maior parte dessas mães, pouco mais de 70%, vive apenas com seus filhos, é formada por mulheres negras, com baixa escolaridade, e está no Norte e Nordeste do país.
Janaína Feijó, responsável pelo estudo, resume a dificuldade enfrentada por essas mães: “essa mãe praticamente não tem com quem contar, não tem uma rede de apoio e não conta também com o pai da criança, o que faz com que a sobrecarga da maternidade recaia muito mais forte sobre a mãe nestas condições”.
(Carolina Pessoa Mulatinho. “Mães solo têm mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho”. https://agenciabrasil.ebc.com.br, 14.05.2023.)

Texto 3
A falta de oportunidades de empregos que possibilitem às mães solo condições adequadas para cuidar dos filhos, como creches, flexibilidade de horários, opção de trabalho remoto, e a ineficácia de políticas públicas1 podem ser entraves determinantes para que elas consigam conciliar ou não maternidade e trabalho para garantir o sustento de suas famílias.
A professora de filosofia Joelma de Paulo traz sua perspectiva sobre o tema: “A maternidade dificulta o acesso da mãe ao mercado de trabalho exatamente por não existirem políticas públicas. A mãe solo que não tem rede de apoio dificilmente vai poder retornar ao mercado de trabalho. O único projeto que conheço para ajudar as mães solo é a creche em período integral”.
(Andréa Alves. “Mães solo enfrentam desafios no mercado de trabalho”. https://portalluneta.com.br, 05.02.2024. Adaptado.)
1 políticas públicas são ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos previstos na Constituição Federal e em outras leis.

Texto 4
Para entender a alta proporção de mães solo com baixo nível educacional, é necessário analisar em que fase da vida elas se tornaram mães pela primeira vez. Como a maternidade requer uma dedicação quase que exclusiva das mães nos primeiros anos da infância da criança, torna-se muito difícil conciliar com outras atividades e responsabilidades.
Quando a maternidade acontece durante a fase escolar (antes dos 24 anos), pode desencadear uma série de desdobramentos na vida profissional e pessoal da mulher, que, a longo prazo, pode ser irreversível. A interrupção dos estudos é uma delas.
A falta de capacitação faz com que seja cada vez mais difícil essa mãe ser absorvida pelo mercado de trabalho e compromete seus salários potenciais futuros. Mesmo quando a criança atinge a idade de frequentar a escola e essa mãe pode ir em busca de emprego, ainda assim a mãe solo
enfrenta dificuldades.
(Janaína Feijó. “Mães solo no mercado de trabalho”. https://blogdoibre.fgv.br, 12.05.2023. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto expositivo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Mães solo no mercado de trabalho: uma realidade possível?

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UEA 2025, Macro, SIS 2 e SIS 3 – Sugestões de temas de redação para estudar

Visando ajudar os alunos com a redação da UEA no ano de 2024 para a UEA edição 2025, tanto Macro quanto SIS, fiz uma coletânea de 3 eixos temáticos com 12 temas. Obviamente, quero deixar claro que acho muito mais valioso saber como argumentar é muito melhor do que saber de um tema de antemão.

Veja os eixos temáticos e os temas:

1. Natureza e meio ambiente:

– A educação ambiental: entre o desafio de um mundo pós-pandemia e a formação do docente

Atualmente as brincadeiras das crianças estão cada vez mais ligadas à tecnologia e menos a ambientes abertos que propiciem interação com a natureza. A escola através da Educação Ambiental (EA) permite aos estudantes interagir e se conscientizar sobre o meio ambiente. Entretanto, com a pandemia causada pela COVID-19 o ambiente escolar foi substituído pelo ensino remoto representando grandes desafios aos professores que lecionam EA. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão crítica sobre os desafios da Educação Ambiental para reaproximar os estudantes da natureza em um contexto pós-pandemia, a fim de formar cidadãos ambientalmente conscientes. Inicialmente foi realizada uma revisão sistemática da literatura focando em trabalhos que tratassem da EA pós-pandemia. Como resultados da revisão foram encontrados dois trabalhos, ambos publicados em 2020. Após análises foram elencados três temas que serviram de base para as reflexões. A pandemia evidenciou as desigualdades no acesso às tecnologias e consequentemente à educação, além disso o ensino remoto evidenciou a falta de formação dos professores para o trabalho com as novas tecnologias. Neste contexto de incertezas e agravos nos problemas socioambientais a EA se apresenta como uma ferramenta de transformação da sociedade. Mesmo com as dificuldades causadas pela pandemia o trabalho com a EA deve continuar vislumbrando os desafios que surgirão. Assim, a EA em um contexto pós-pandemia deve priorizar a reaproximação dos estudantes com a natureza recriando o sentimento de pertencimento ambiental, que será base para a formação de cidadãos conscientes e sobre o ambiente que os cerca.
(fonte: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CENÁRIO PÓS-PANDEMIA: REFLEXÕES E POSSIBILIDADES, dezembro de 2021, vários autores, disponível no link: https://www.researchgate.net/publication/357093035_A_EDUCACAO_AMBIENTAL_NO_CENARIO_POS-PANDEMIA_REFLEXOES_E_POSSIBILIDADES)

Estamos preparados para a próxima pandemia?

Para Ester Sabino, imunologista e professora da Faculdade de Medicina da USP, o monitoramento de patógenos é essencial para que o mundo não seja pego desprevenido como foi da última vez:

“O sequenciamento é importante, porque ele dá alguns dados a mais sobre os agentes: qual é a linhagem, se existem variações importantes que estão fazendo com que esse agente adquira novas capacidades e também para saber se estão mudando as regiões em que a vacina deve produzir anticorpos”, disse a médica.

Ester Sabino explicou ainda que isso é importante tanto para vírus, como também para bactérias – já que as superbactérias, resistentes a antibióticos, são outra preocupação das autoridades de saúde.

Agora, a professora destaca que apenas monitorar os patógenos não é suficiente. Nesse aspecto, ela defende o compartilhamento de informações:

“Sequenciar só por sequenciar não adianta, tem que se inserir dentro de um processo. É preciso um sistema de informações que indique se alguma coisa está mudando”, explicou.

Ester Sabino ficou famosa em 2020 por liderar a equipe que sequenciou os genes do SARS-CoV-2, o coronavírus causador da Covid-19. Ou seja, ela entende mesmo do assunto.

(Fonte: “Como a OMS está se preparando para uma próxima pandemia?”, Site “Olhar Digital”, Bob Furuya, 09/04/2024, disponível no link https://olhardigital.com.br/2024/04/09/medicina-e-saude/como-a-oms-esta-se-preparando-para-uma-proxima-pandemia/)

– O quanto devemos urbanizar os centros não-urbanos?
A urbanização é o processo de concentração da população de uma nação e suas principais atividades econômicas em um contexto de cidade, ao invés de rural.

Esse processo começou gradativamente no mundo desde a entrada da Idade Moderna e a consolidação de seus novos valores industriais (a Revolução Industrial) , e é atualmente o modo de vida predominante nos países industrializados e mesmo naqueles em processo de desenvolvimento.

Desde meados do século 20, mais pessoas viveram em contextos urbanos no mundo ( 54% da população mundial ) do que em locais rurais, e mesmo as projeções futuras apontam para apenas um terço da população mundial em ambientes rurais por ano 2040. Isso representa uma mudança significativa em relação à tendência mundial dos séculos anteriores, que favorecia a vida rural.
Outras distinções quando se fala em urbanização podem ser:

Suburbanização. Também chamada de urbanização por derramamento, consiste na disseminação da cidade para os territórios rurais devido ao excesso de concentração habitacional na cidade, para a qual se fundam novos bairros remotos de baixa densidade , ligados ao núcleo urbano por vias rápidas.

Desenvolvimento Rural. Ocorre quando a cidade exerce influência sobre as áreas rurais que a cercam, mas como seus custos são tão elevados, muitas das atividades econômicas e vivenciais que normalmente ocorrem em seu interior passam a ser localizadas em terrenos rurais, como as ilhas urbanas de área rural.

Periurbanização. Trata-se do surgimento de espaços dentro da cidade que não atendem a propósitos tradicionais de comércio , habitabilidade ou industrial , mas que proporcionam uma espécie de “espaço intermediário” à cidade, como parques, instalações de trânsito, rodovias, etc.

Desvantagens da urbanização

Maximização do consumo . A demanda por eletricidade e combustível é muito maior nas cidades, o que afeta os mercados mundiais de matérias-primas e os efeitos adversos dos métodos de geração de eletricidade disponíveis.

Empobrecimento da agricultura. A preferência geral pelo modelo de vida urbana tende a ser em detrimento da vida rural, em muitos casos empobrecida e abandonada, já que em alguns casos a indústria pode abastecer suas atividades (como nos países importadores).

Maior pobreza urbana. migração das áreas rurais para as cidades afeta a qualidade de vida destes, visto que muitas vezes as alegadas oportunidades são escassas e a migração rural marginal aumenta cinturões das grandes cidades.

Impacto ambiental . Ao concentrar a população em poucos quilômetros, o impacto sobre a qualidade do ar , da água e do soloé maximizado, o que por sua vez afeta a saúde da população e do ecossistema . (Fonte: Urbanização, site Conceitos do Mundo, disponível no link: https://conceitosdomundo.pt/urbanizacao/)


– Desastres ambientais: quem paga a conta são as empresas ou o povo?
Nos últimos anos, o Brasil tem sido palco de desastres ambientais devastadores que expuseram a vulnerabilidade de nossas cidades e a negligência na gestão de recursos naturais. Exemplos emblemáticos incluem os desastres de Brumadinho e Maceió, causados por operações negligenciadas de empresas privadas, e a recente tragédia no Rio Grande do Sul, decorrente de eventos climáticos extremos. Mas afinal, quem paga a conta desses desastres?

Em Brumadinho, o rompimento da barragem da Vale em 2019 resultou em 270 mortes e uma destruição ambiental sem precedentes. A empresa, embora responsabilizada, ainda enfrenta processos judiciais lentos, e a aplicação de punições efetivas permanece incerta. A tragédia expôs falhas na fiscalização e na regulamentação da segurança de barragens, refletindo um sistema onde a negligência corporativa tem consequências devastadoras para a população.
Diferentemente de Brumadinho e Maceió, o desastre no Rio Grande do Sul não foi causado por uma empresa, mas por eventos climáticos extremos. Enchentes e tempestades devastaram cidades, destruindo infraestrutura e deixando milhares de desabrigados. Este caso destaca a urgência de repensar a urbanização para resistir a eventos climáticos extremos, bem como ter bons planos de gestão de crise.

No caso do Rio Grande do Sul, a responsabilidade se desloca em grande parte para o poder público, que deve investir de maneira estratégica e sustentável na criação de cidades mais resilientes. Isso implica em desenvolver infraestruturas que possam resistir aos impactos das mudanças climáticas e implementar políticas públicas voltadas à prevenção e resposta a desastres. A construção de arranjos urbanos que considerem as especificidades naturais e socioeconômicas de cada região é essencial para minimizar futuros riscos.
(Fonte: Quem paga a conta dos desastres ambientais? Uma reflexão sobre Brumadinho, Maceió e o Rio Grande do Sul, Andressa de Mello, 03/07/2024, disponível no link – https://www.linkedin.com/pulse/quem-paga-conta-dos-desastres-ambientais-uma-reflex%C3%A3o-de-mello-3pz6f)

2. Direitos sociais e garantia deles

– Por que é cada vez mais difícil ocupar um lugar público?
A noção de espaço público remete a um local pertencente ao poder público, que deve estar disponível para a população ocupar e usufruir. De uma forma ampla, é entendido como um lugar do qual todos somos donos e pelo qual todos somos responsáveis. No Brasil, aparentemente, existe uma dificuldade quanto a esse entendimento ou, até mesmo, um desconhecimento do conceito. Apesar disso, esses locais são ocupados de diversas formas, por comércio ambulante, festividades, atividades de arte e cultura, manifestações religiosas, práticas esportivas etc.

O artigo 6º da Constituição Federal do Brasil institui o lazer como um dos direitos sociais básicos, junto da educação, saúde, trabalho e segurança. O poder público tem a incumbência de utilizar o espaço público para a promoção de lazer, mas não só isso, também administrar esses locais de modo a envolver outras atividades de arte e cultura, religiosidade, esportes etc. No entanto, ainda falta a identificação, por parte da população, de como e de quem deve ocupar e usufruir desses ambientes.
(Fonte: A importância do entendimento e ocupação do espaço público, Tiago Maia, 19/07/2023, disponível no link – https://ufop.br/noticias/em-discussao/importancia-do-entendimento-e-ocupacao-do-espaco-publico


– Alimentação com ultraprocessados: dificuldade em encontrar produtos orgânicos ou preço competitivo?
O médico e escritor Chris van Tulleken defende que, em prol da saúde públicaalimentos ultraprocessados recebam o mesmo tratamento dado aos cigarros.

Infectologista do Hospital de Doenças Tropicais de Londres, professor da Universidade College London, no Reino Unido, e apresentador de alguns programas na BBC, ele também é autor do livro Gente Ultraprocessada – Por que Comemos Coisas que Não São Comida, e Por Que Não Conseguimos Parar de Comê-las (Editora Elefante).

Isso porque o conceito de ultraprocessados foi desenvolvido pela equipe liderada pelo epidemiologista brasileiro Carlos Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) — que, inclusive, assina o prefácio do novo livro.

O médico britânico confessa que duvidou do conceito de ultraprocessados de início e achava que os malefícios apontados nos estudos estavam relacionados apenas aos excessos de gordura, açúcar e sal presentes em muitos desses produtos.

Para colocar a ideia à prova, ele resolveu se submeter a uma pesquisa, em que radicalizou a própria dieta e passou a comer basicamente alimentos ultraprocessados.

Em entrevista à BBC News Brasil, van Tulleken sugere que países e governos tomem ações mais contundentes para diminuir o consumo de ultraprocessados entre a população.

Na opinião dele, as grandes redes alimentícias vão destruir as culinárias tradicionais nos próximos 50 anos — e não há muito o que as pessoas individualmente possam fazer para mudar esse cenário (ou a própria dieta).
(Fonte: ‘Precisamos odiar os ultraprocessados para deixar de comê-los’, diz autor de best-seller sobre indústria de alimentos, André Biernath, 19/10/2024, disponível no link https://www.bbc.com/portuguese/articles/cm286xmrlklo)

– Estudar na universidade é para todos?

Perguntas delicadas não têm respostas simples. Neste caso, respondo “não” e “sim”. Não: nem todo mundo precisa fazer faculdade. Sim: todo mundo deve ter condições de fazer faculdade se quiser.

O leitor percebe que, como na questão das cotas, o “não” e o “sim” não são simétricos. Ambos são compossíveis porque se sustentam em argumentos diferentes.

Quando digo que nem todo mundo precisa fazer faculdade, apenas constato o óbvio: a universidade não é o único caminho possível para a realização pessoal e profissional. Muita gente trabalha em profissões perfeitamente dignas, algumas remunerando bem, outras até muito bem, que não exigem formação universitária. Os exemplos se espalham à nossa volta.

Entretanto, todos deveriam poder escolher entre fazer ou não fazer faculdade. Para tanto, todos deveriam ter acesso a uma educação básica de qualidade para disputar nas mesmas condições a possibilidade de entrar na universidade. Atendendo ao que for específico de cada curso, a universidade, como curso considerado não por acaso “superior”, deve continuar selecionando sempre pelo mérito intelectual. Para tanto, a mensuração desse mérito, que é individual, não pode ser afetada por razões de ordem completamente outra, como cor da pele e condição econômica da família
(Fonte: Todo mundo tem que ir para a faculdade?, Gustavo Bernardo, 25/10/2024, disponível no link https://www.revista.vestibular.uerj.br/coluna/coluna.php?seq_coluna=32)

– O esporte é um direito ou é um gasto?

3. Internet

– Aumento de cirurgias estéticas em jovens: entre a pressão nas redes sociais e a irresponsabilidade dos cirurgiões
– Casas de aposta online: joga quem quer? , Formação educacional na internet: elitização de um direito ou democratização do acesso? , Quando vamos sair da era da indignação?

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"Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá" Lima Barreto UNICAMP 2025

“Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá” de Lima Barreto – Resumo de Cada Capítulo

Lima Barreto foi um escritor que tinha muitas obras panfletárias, isso significa que muito do que ele escreve mais vende uma ideia do que de fato uma narrativa, mas isso não desqualifica ou diminui seu trabalho. A obra mistura ficção e uma parte da vida do próprio Lima Barreto.

O livro começa com uma advertência, que Augusto Machado pediu para publicar a obra, que parecia precisar de exatidões para a obra ficar boa, mas dispensou, e uma explicação necessária, explicando de onde nasceu essa monografia, da consciência de divisão de trabalhos tanto de Lima Barreto quanto do doutor Pelino Guedes, nem se julga com a verdade e muito menos de saber da arte de ser doutor. Por fim, Augusto Machado pede perdão.

São 12 capítulos

Capítulo I – O inventor e a aeronave

O narrador, Machado, nunca pensou que Gonzaga de Sá se importasse com balões. Porém, ele retoma ao dia que o conheceu, pois foi à Secretaria de Cultos de um caso do Bispo de Tocantins que só recebeu 16 salvas de tiros em vez de 18. Conversaram muito, elogiaram e resolveram nada. Até pesquisavam outros países para poder separar bem as salvas de tiros e de cada religião. O caso ia de secretaria para ministério, de culto para estrangeiros e guerra, este último que decidiu adicionar um de canhão que reduziria o número de salvas mas satisfazia o prestígio. Isso que surgiam dúvidas de o que fazer a partir de agora com essas salvas. O narrador até fala da importância da secretaria de Cultos, maior que da Aviação, e nessas empreitadas no lugar do diretor, conheceu Gonzaga de Sá, que analisava quantas setas devia ter a imagem de São Sebastião. Era “um velho alto, já não de todo grisalho, mas avançado em idade, todo seco, com um longo pescoço de ave, um grande gogó, certa macieza na voz grave, tendo uns longes de doçura e sofrimento no olhar enérgico. A sua tez era amarelada, quase dessa cera amarela de certos círios.”. Julgava-o de um passado antigo de família, ele até quase casou duas vezes, com uma filha de visconde e uma lavadeira. Ele ia frequentemente aos cultos, mas não de enriquecimento como a nobreza, mas de alma. O narrador comenta que para conhecer bem um homem precisa saber como ele morreu. Conta de Lord Bacon, cheio de vilania, mas que morreu tentando ver como o frio podia reviver alguém com um frango. E o narrador volta para contar de Gonzaga de Sá. Esperava-o em um morro, via o mar, fumava e apreciava o horizonte, descreve toda a região litorânea, pensava e avaliava sobre toda sua vida e pode ser bom com o que lembrou e também desprezou outras coisas. Estava melancólico, tal como a cidade e pausou a reflexão, pensava que a criação e a atualidade eram harmoniosas, os avós de Portugal e África se conectavam e era fruto e espelho do lugar. Pensou até nas referências de leitura estrangeira, considerou que sabiam muito pouco mas também achava que sabia menos ainda. O amigo chegou, reclamava dos ingleses, sempre apressados, disse que nem para alguém como se ele estivesse indo a morte devia se ter pressa, o narrador se arrepiou de pensar em morte. Iam a casa de Gonzaga jantar, ainda que ela não estivesse lá e foram a pé. Falaram de quem morava por ali, falava de novo da morte e como lugar e gente se conectava a isso. Ao chegar em casa, ia pegar uma flor no jardim que oferecia ao narrador, caiu e morreu. Deixou ao narrador o seu legado, tinha uma obra escrita chamada “O inventor e a aeronave”, decidiu publicar pois considerava-o muito inteligente. A narrativa fala de um homem fixado e focado em construir aeronaves, estudava e até deixava de dormir. Por vinte anos, escreveu um projeto e finalmente dormiu bem. No dia seguinte, traçava os custos e materiais necessários e partiu para a oficina para montar. Montava com meticulosidade e polia tudo para ser perfeito. Mal dormiu na noite que antecedia o vôo, já no amanhecer, apaixonado e saboreando o momento, ligou o motor e a máquina perfeita não voou. Era “o que havia na folha amarelada de almaço”. O narrador não entendeu de primeira vez, mas julgou que era uma metáfora ao Acaso, que, por mais que você seja sábio ou se prepare, nem Deus pode intervir contra o Acaso.

Capítulo II – Primeiras informações

“Manuel Joaquim Gonzaga de Sá era bacharel em letras pelo antigo Imperial Colégio Dom Pedro II.”. Teve boa educação, conhecia psicologia, metafísica, não foi casado e apenas amou duas vezes, a filha do visconde e a lavadeira. Podia ser muito sendo filho de general, “não quis.”, devia passar por muitas solenidades e formalidades que o aborreciam. Era razoável trabalhador, até teve dia que trabalhava quando Deodoro declarava república em Campo de Sant’Ana. O narrador lamenta que o brasileiro não aprecie outras inteligências como a de filosofia e sociologia, que deixam evidente a diferença de quem estuda e não. Ou escolhem funcionalismo ou doutorado. Possuem ânimo no começo, mas vai esvaindo ao longo dos anos e param de estudar para só conversar. O narrador conhecia um escriturário que foi para a Europa com 14 anos pelo pai rico, estudou muito por amor das religiões de lá, voltou pela falta de dinheiro e não tinha o que fazer pelo Rio. Até participou dum concurso, passou, foi vivendo, 15 anos depois morreu e deixou saudades na repartição, principalmente pela letra, considerando-se um besta. Gonzaga de Sá não tinha conhecimento excepcional, mas tinha um bom e firme ponto de vista com ideias e resistindo à depressão do ambiente de trabalho. Ele mostrava inteligência, mas retinha-se para publicar qualquer coisa, o narrador desconfiava o que podia ser. Sempre aprendia algo novo, não era repetidor, podia ser que a mente sempre ativa o mantivesse até o sessenta, o tratava por senhor e depois de um ano que deixou de usar. Talvez por não ter filhos, só podia oferecer um conhecimento vasto e polido. Gostava de estudar e de revistas, via nacionais e internacionais, e também jornais ilustrados meteóricos que seria explicado mais tarde sua opinião. Após tanto tempo, agora com retrato que encaixava em Gonzaga de Sá, ouviu boutades, piadas, de Gonzaga de Sá. A biografia é despretensiosa e contaria conforme fosse. Contaria uma engraçada logo.

Capítulo III – Emblemas públicos (capítulo importante)

“A nossa insuficiência nas artes do desenho é manifesta.”. Não falta técnica, mas as armas e brasões mostram a falta de criatividade, além da poluição de sobreposição. Salvo o do Rio de Janeiro de forma irônica, todos são cretinos. Os tempos de colônia mostram como havia bom gosto antes. Conta também de quando viu o chafariz do Largo do Paço e como ele faltava beleza do mar chegando a ele. Ao cair a noite, viam as estrelas. As mulheres passam depressa por ali, Gonzaga se questiona do medo delas, o narrador responde que os homens não são bons, sejam eles familiares ou amantes. Saem dali e o narrador ia escrever cartas aos parentes de Minas, no dia seguinte, ao enviar, encontrou Gonzaga de Sá, fitando alguns selos, via os novos brasões e chamou para o narrador verificar. Gostava da arte e inspiração mas sentia falta de informações biográficas, para saberem mais e até poderem saber o valor deles em moeda e história. O narrador concordou e Gonzaga de Sá pediu que escrevesse a carta.

Capítulo IV – Petrópolis

Gonzaga de Sá reclama da mania do brasileiro de aristocracia e de ter sobrenome, ignorando história, respeito, e apenas focando em ter um nome, degradaram as regras de linhagem. Caminhando pelas quatro da tarde no Pedregulho, Gonzaga de Sá sugere ir ao Engenho da Penha, o narrador perguntou onde era e Gonzaga de Sá comentou que só conheciam Tijuca e Botafogo. Ele explica onde é e como parece. Tomaram o trem, um dos de Petrópolis, foram de primeira e de segunda classe, Gonzaga de Sá até leu o jornal e o narrador viu os mangues. Chegaram e tomaram uma cerveja, precisavam andar um pouco., recitou um La Fontaine e depois reclamou da gente de Petrópolis, estrangeiros sem cultura, diferente de Gonzaga de Sá que era do Rio de Janeiro, com seus negros, tamoios, mulatos, galegos e cafuzos. Perguntou se o narrador lia as notícias de Petrópolis e aconselhou que o fizesse quando ouviu a resposta negativa, ainda que fosse pequena merecia atenção. Eram mundanas, mas queria ler revoluções. Queria inversões, mas não tinha como, o narrador dizia que era uma cidade com nenhuma história e pouca fantasia. Viam uma plantação, uma portuguesa no campo e o mar. Viram um ilhote que ficava no meio do canal com paredes de sobrado, era o Cambambe, explicava Gonzaga de Sá, era para comunicação antes das estradas de ferro. O antepassado de Gonzaga de Sá, Estácio de Sá, morreu naquela ilha na frente de ferimento de flecha, sendo levado para tratamento, e o narrador via tudo aquilo e quase via a cena em sua frente. Ler página 27

Capítulo V – O passeador

“O que maravilhava em Gonzaga de Sá era o abuso que fazia da faculdade de locomoção.”. O narrador o achava por toda a parte, subia, descia, andava, mas sempre fumando e devagar. Até já o seguiu para ver como era. Ele ia com a bengala nas costas, andando por aí e vendo os prédios e lugares de antigamente para conferir a arquitetura, que comprovavam que o tempo passava e ele não tinha mais a infância para recorrer. Teve um dia que faltou à repartição, seria contado mais tarde, e um casebre de mais de 50 anos que conhecia foi derrubado, amava os detalhes da cidade, falava com gosto, via, e repudiava os subúrbios. Ele também se incomodava como o Rio se dividia de forma grosseira e não tinha uniformidade de um grande centro como outros tantos referenciais. A cidade se dividia pelas colinas e ela sofreu o crescimento de qualquer cidade, mas as regiões não se conectavam uniformemente, demorava-se para poder ir e não se mesclam, há ricos que moram em áreas pobres e o oposto, isso dá um ar único à cidade ao menos. Como o narrador tinha nada para adicionar, só concordou. Ler página 35.

Capítulo VI – O Barão, as costureiras e outras coisas

Gonzaga de Sá contou de quando o Barão do Rio Branco recebeu a vista de um poeta e perguntou da grafia de amor, com ou sem maiúscula. Ele comentou que no meio não havia necessidade, mas no começo era necessário. Gonzaga de Sá falava da palavra “Barão” com gosto, gostava da honra de receber o título de Imperador, não gostava dos títulos políticos e como o fizeram com o Barão do Rio Branco, detestava essa endeusificação, a popularização dele e de como ele fazia o que bem entendia. Ignorava lei, puxava para seu lado e deixava até a filha na míngua. Detestava como se aproveitava do sistema. Estavam ao banco do Campo de Sant’Ana e iriam ver o Teatro Provisório. Ao verem, ficaram sentados apreciando a paisagem. Dado momento viram uma menina bonita acompanhada das velhas mães. Gonzaga de Sá e ele a viram e ela ficou aparentemente contente ao colher os olhares, ainda que fossem sempre escassos visitantes no parque abandonado. Gonzaga de Sá lamentava não ter tido intimidade com alguma costureira. O narrador elogia a função de costureira, como quem modela e sabe como modelas as pessoas. Gonzaga de Sá tecia um comentário levemente sarcástico, pois ele sabia da importância da vestimenta na sociedade, ele não dizia sobre amor ou coisa parecida, mas de ter ficado ignorante dos ofícios e produções. E, ainda assim, ainda que quisesse saber mais, tudo aquilo de roupa era para achar casamento. O narrador achava perverso, mas Gonzaga de Sá não gostava da artificialidade do Rio de Janeiro de classes, ações sociais, classes. Ele validava que o que importavam eram indivíduos, a ideia de generalizar ou de fazer média não ajudava. Da mesma forma que se entendem formas geométricas apenas dentro da geometria e se perde a ideia quando se sai dela, as referências de classe, cortesia e interações sociais se eliminam quando se saem de gabinetes e escritórios. A noite veio, viram uma mulher com as pernas mostrando com medo de chuva e foram andando pela rua da Constituição. Quebrando o silêncio, Gonzaga de Sá ainda queria comprar algumas revistas e desceram pela avenida em direção à rua do Ouvidor.

Capítulo VII – Pleno contato (capítulo importante)

O narrador volta ao caso do cardeal na Secretaria de Cultos, foi tratar com o diretor, o Barão de Inhangá. Era velho, estava lá a tanto tempo quanto do Império e da mudança do Rio de Janeiro, era vadio e entendia de nada. Gastava o tempo de abrir e fechar gaveta na secretaria, quando diretor ficava arranjando lápis pra escrever, e como o Brasil ama o filho, virou Barão com 25 anos de serviço. Na seção que foi, viu Gonzaga de Sá e seu semblante certeiro do que tratava do assunto. Gonzaga de Sá lia a situação do cardeal e perguntou como que a secretaria de Roma não estava a par do assunto. Ele era criativo e original, foi o que interessou o narrador e fez querer saber mais. Encontravam-se mais vezes e falavam por mais tempo. Entretanto o narrador sentia que algo angustiava Gonzaga de Sá, algo além do amor. Pensou se era no gênio e na procura de saber mais que vinha a angústia, teve dois momentos que o viu desenhando e rapidamente escondendo quando o narrador chegava perto. Com um misto de Por e Comte, o narrador iria mostrar que, apesar de todas as teorias, a mais simples e a mais simpática era a teoria que funcionava. Em uma quinta-feira, o narrador foi até a casa de Gonzaga de Sá, ia como se fosse noite de núpcias, queria saborear aquelas palestras, foi até o alto de Santa Teresa e foi recepcionado por um preto velho. Havia Boticcelli, Dante, Julio Cesar na casa dele, Gonzaga de Sá comentou da pontualidade e o narrador achou que ele ainda estaria nos subúrbios visitando o compadre, ele foi, piorou depois da viuvez, mas quis falar algo positivo e disse como o locai tinha mais namoradores e feministas, pois elas enchiam a região de estudo, livros, tal qual a obra de Offenbach “Grã-Duquesa” de uma sociedade invertida do papel de gênero. O narrador comentou que assim faziam até casarem, depois queimavam livros e continuava o mesmo ciclo de casamento. Gonzaga de Sá concordava que elas deviam ser o que a elas quisessem ser no momento. Mas tinham sempre coisas que mudavam o pensamento, como o que viu fazia duas horas na estação Piedade, ele viu um homem que atravessou a rua e o bonde bateu nele, ficou ensanguentado mas sobreviveu. Nessa conversa das bases sólidas da humanidade, apareceu a tia de Gonzaga de Sá, Escolástica, uma velha miúda de olhos verdes. Não conseguiu admirar tanto a septuagenária pois eles saíram da sala. Deu tempo de Machado ver uns esboços de nariz desenhados. Gonzaga de Sá retornou e reclamou de criar pombos. Gostava dos animais, criava com gosto, mas davam trabalho, gostava da forma e do jeito. Perguntou se Machado tinha fome, apesar do narrador responder negativamente, Gonzaga de Sá pediu para trazer um vinho, Bucelas branco. Gonzaga de Sá falou ternamente do velho, que o pai libertou-o na pia de ser escravo também, viveu a vida toda com ele e era um irmão de leite. Estava junto, em horas boas, ruins, como dedicação animal ou divina, Gonzaga de Sá pensava até que o amava. Ele falou com voz trêmula e tentou disfarçar pegando o jornal A Gazeta de Uberaba. Machado diz que sim, um amigo o mandava, Gonzaga de Sá se espantava com o fato dele ler, mas Machado dizia que gostava dos começos, dos inícios, de quem começava e procurava as palavras certas. Gonzaga de Sá gostou e sugeriu “A Pesquisa” de Cascadura, Machado ia ler o sumário. Tinham pesquisas bem específicas de diversas áreas, todas muito bem detalhadas e que eram bem escritas. Surpreendeu o narrador da falta de visibilidade e notoriedade, ainda mais que Gonzaga de Sá conhecia nenhum. Gonzaga de Sá atribuiu a falta de fama e reconhecimento pelos meios de comunicação, discorreu que os meios de comunicação e divulgação são os jornais, revistas e livros. Os jornais são grandes empresas, trazem política e assassinatos e buscam atrair a mesma clientela de sempre sem inovar, sabem agradar, fazem muito bem e quando alguém intelectual chega lá, precisa se adaptar tanto que é mais fácil atirar todas as ideias boas pela janela. As revistas são mesmo, com a diferença da fotografia e da busca da inteligência nova, até buscam algo novo de Portugal, mas é uma ditadura de pensamento. Machado tenta defender o público, entretanto a culpa cai nos autores segundo Gonzaga de Sá, ele destravou o segredo para achar esses novos gênios em ler revistas obscuras e jornais da província. Machado dizia que essas traziam política e assassinatos, mas aquela revista desmentia. No meio tempo que ia ler, o narrador viu o pôr do sol cheio de cores e a tia veio chamar para jantar, Gonzaga de Sá levou o jornal.

Capítulo VIII – O jornal

Foram para a sala de visita e Machado via os rostos dali, de família, homens de outros tempos. Ficava imaginando como eram, o que podiam falar e até saltar dali. Constantemente Machado vai para essas descrições que não aceitam o estático ou que misturam dualidades, como concreto e abstrato, natureza e civilização, passado e presente. Ao fitar uma foto de uma moça em traje rico de baile alto, foi explicado que era avó de Gonzaga de Sá, viu a Revolução Francesa, pois morava lá. Era semelhante à Escolástica, exceto a cor dos olhos de verde para azuis. Falava como os tios tinham cara de carrasco e a tia se ria falando que Manuel sempre teve esse gênio. Foram para a sala de jantar e Machado via longamente os móveis de jacarandá, feitos por homens fortes pela estrutura que possuía. Sentaram, o narrador via a paisagem de gente, morro e palmeira. Gonzaga de Sá contou que a casa era do pai, lutou para conservar e manter, era quase tudo a mesma coisa dizia a tia, com a diferença da Palmeira segundo Gonzaga de Sá, que tinham seus 20 anos. O narrador pensou em todos os anos que a palmeira ficou lá e como está majestosa após passar tudo. Foram servidos por um copeiro de dezoito anos, tomaram a sopa e Gonzaga de Sá quis logo ler as crônicas da Gazeta de Uberaba. Liam uma crônica da chegada de reprodutores zebus. Ele lia trechos, citava de novo partes que gostava, seja da construção, sonoridade ou criatividade. Terminou a leitura, falando de quantas vacas amorosas não o esperariam em Uberaba, a tia o repreendeu para terminar a janta. A tia também descreveu a rotina estranha do sobrinho, saía sem hora pra voltar, estava sabe se lá onde e tinha dias que nem voltava para casa, até mesmo sem janta ficava, não parecia velho, tinha mais costume era de cigano. Ele lia muito, estudava, achava estranho essas vagabundagens apesar de tê-lo criado e não entender. Teve um dia que o pai dele o pegou na janela do sótão, ele queria voar e chorou o resto da tarde. A tia Escolástica não conheceu o pai, não podia, a situação após a guerra contra as Rosas dificultava. Falavam dos irmãos, todos mortos, sem descendentes, só uma irmã que vivia na Bahia, Maria da Glória, casada com desembargador, não a via mais de trinta anos e não escrevia mais de cinco anos. Gonzaga de Sá era o caçula. A mãe dele faleceu aos oito anos de idade e foi criado pela tia. Gonzaga de Sá falou meio trêmulo, mas a sobremesa chegou e nem conseguiu decifrar. Tomaram café na sala de visitas, vendo as luzes de fora. A palmeira dormiu, e os dois fumavam. Falavam de Romualdo e Aleixo Manuel, um menino de oito anos, e seus estudos. Ficava escuro e a tia reclamou da escuridão. Acenderam e o narrador vê o piano, perguntou se a tia tocava, respondeu que faziam mais de 30 anos que não, o que ele já suspeitava pela idade dela. Ela viu Gottschalk tocar e não teve mais ânimo. Gonzaga de Sá perguntou se o narrador ouviu já, coisa pouca, explicou que era diferente, fazia os olhos da tia brilharem na falta de palavras, era uma música fantástica, dolente, impetuosa como Gottschalk. Ia nos concertos durante a guerra do Paraguai com o pai. Meses depois parece que teve muita festa e descompostura. Alguns versos ficaram famosos. Falaram de como a música influenciava muitos, culpa do Império que investiu no Provisório para ter gente se encontrando. É um local que todo mundo entende e precisa estar lá para ter cultura, não há necessidade de bagagem cultural e todos gostam. Porém houve uma defasagem, desde que a nobreza não se fez, perderam-se as inspirações. Escolástica ouvia tudo quieta e deram oito horas, Machado pediu licença e se foi. Mais uma vez mergulhou-se no passado, na tradição, dos velhos bons e da mocidade, ficou mastigando as ideias da ópera e do Provisório. Pegou o bonde elétrico no primeiro carro e viu a paisagem passando da modernidade. Via crimes, mas toda sociedade os tem, assim como erros.

Capítulo IX – O padrinho (capítulo importante)

Em uma tarde no Café Papagaio, Machado via mulheres estrangeiras enfeitadas. Nisso, lembrou de Gonzaga de Sá que disse que dama fácil é o eixo da vida. Via elas passando perfumadas, brancas como mármore e cheias de vestido. Depois se expandia, via a arquitetura do redor, analisa a rua do Ouvidor e a arquitetura que mudava do Rio de Janeiro. Gonzaga de Sá comentou uma vez que elas faziam o trabalho de os polir, de trazer de volta a aspiração da beleza que tanto procuravam e mostravam em novos corpos e também móveis e roupas. Podiam até levar nosso ouro mas poliriam a sociedade. Chegavam amigos ao café e as conversas sempre variavam, mas chegavam sempre no assunto de uma revolução social por meio da literatura e da moda. Eram quatro, o narrador, Amorim, Domingos e Rangel, denominavam-se “O Esplendor dos Amanuenses”, já que era a profissão da maioria dali e ali que podiam ter prazer que não achavam no ofício. Rangel era aquarelista do futuro, mas atual pintor gênio para o gasto das etiquetas das casas comerciais. Machado falava de uma peça de teatro japonês interminável que dava sempre no jantar em conta de um hoteleiro, chamava “Tragédia”. Passou o Pedreira e Rangel quis ir com ele mas ficou ouvindo a conversa do grupo. Falaram da mania de Pedreira de traduzir tudo para o inglês, referindo-se a ele como lord Max. Chamaram-o de Super-Homem, alguém acima do bem e do mal. Domingos tinha inveja. Domingos continuava a falar da fisionomia romana, desde a época de Sêneca. Conversavam do estado espiritual e como a antecipação antes de tocar o corpo era melhor do que tocá-lo. Machado ficou surpreso ao ver que Gonzaga de Sá apareceu no café, Machado ia pela idade, mesmo que não apreciasse tanto, mas Gonzaga de Sá os refutava pela idade e o pensamento que esses lugares limitavam camadas sociais e a inteligência. Ele vinha trajado de preto como de costume e de sobrecasaca tão comum aos doutores, todos ficaram quietos e ele explicou que o compadre morreu e precisava desse favor de Machado. Tudo ao redor ficou mais intenso, a beleza das mulheres, os toques, Gonzaga de Sá ia silencioso e Machado ia ver um corpo, estava empolgado, para ver e saber o que seria depois daquilo. Ficou apertado no trem, sentia o calor e pensou que todos ali também morreriam como ele. Viam um gordo com outros três que vivia tagarelando. Pediu para que tivesse um jornal e o outro tentou vendê-lo. Outro só deu o jornal sem pedir e ele zombou falando que lembraria de levar trocado para não ficar pagando fiado para gazeteiro. Machado deixou de vê-los para ver o seu redor. Pensou que tudo aquilo um dia sairia de sua vista, pensou como que não aproveitava a vida de forma animalesca como o gordo jornaleiro. Ele amaldiçoava a educação que teve que o deixava ter esses pensamentos e não aproveitava a vida, temendo a morte. Mas era por temer a morte que devia aproveitar a vida. Voltou o pensamento ao Gonzaga de Sá, que estava quieto, pensou na perfeita relação que tinham e como nem precisavam dizer algo para estarem juntos. Chegou outro grupo e aparentemente um com anel no indicador que conversava sobre a teoria das raças. Ouvia pouco da conversa, mas a ironia foi um mais novo do grupo perguntando como que os passarinhos não tomavam choque ao irem aos fios e o mais velho que falava da teoria das raças explicou que a comunicação era fechada durante o dia. Teve algo nos namorados que vieram com o grupo de antes que irritava pela alegria, Gonzaga de Sá perguntou se Machado já namorou, ele afirmou que aos dezesseis anos, Gonzaga de Sá dizia que ele devia namorar, para não se arrepender quando fosse mais velho e enquanto tinha tempo, mesmo que Machado negasse que era algo bom. Continuaram com o bonde e andavam numa subida, viam pais gordos, cansados que andavam também com embrulhos. Iam vez em quando gritando com os carros de bois, contando tostões e usando a musculatura que tinham para puxar as crianças e as esposas. Aos poucos chegaram à praia, pensava nos operários como o alicerce da sociedade, vivendo no esforço de desenvolver a sociedade e a possível afeição dos filhos. Gonzaga de Sá apontou para um amontoado de casas, era lá. Subiam uma rua larga que se multiplicava em ruelas menores que iam sabe se lá para onde. Há uma mistura de flora, de arquitetura, de tamanhos, de mistura, os anos vão se embaralhando do que tem ali. Viam casas que lembravam o Botafogo, a Holanda, a Suíça e finalmente um chalé, do compadre de Gonzaga de Sá. Uma negra, Dona Gabriela, os atendeu, na frente de casa crianças brincavam e ela informou que o caixão chegou faz pouco e o enterro era às nove do outro dia. Perguntou de Frederico, filho da Dona Gabriela, foi buscar pão, pediu para que falasse com ele depois. Entraram e Romualdo de Araújo, o compadre, estava cercado de gente de todos os tipos de cores, Gonzaga de Sá e ele tinham educação diferente mas uma amizade profunda e terna. Viu Dona Gabriela passeando por ali, arrumando tudo, as visitas que conversavam e se silenciavam, o filho dela chegou, falou com Gonzaga de Sá e foram jantar. Machado fumava, tinha pensado muito sem chegar a nenhuma conclusão, pensava na morte. Gonzaga de Sá continuava o mesmo com os olhos ternos e o narrador vê uma mulher que não notou entrar antes ali. Sentaram juntos como velhos conhecidos, ele falava e elogiava da casa, do Botafogo e da vida, ela, Dona Alcmena, dizia que tudo acabava em morte e de nada adiantava ter algo. Era melhor que todos pudessem trabalhar para ter o mesmo segundo ele, ela preferia que existissem ricos para ele ter uma chance de também o ser, ainda que pudesse ganhar tudo com os belhos olhos dela, segundo o narrador. Ele via ela toda, pescoço, cabelo, seios, ombros, mão e a admirava, além de depois de pensar em mais coisas que só admirar. Falavam de como a felicidade vinha e só de sabia sem se dizer a alguém. Conversaram por muito tempo, até esqueceram do defunto, mas não esqueciam da morte. Ele, que era inimigo do namoro, era toda ela e se misturava em pensar no morto e nas curvas dela. Foi tudo tão automático, era o que pensava. Assim como pensou antes e Gonzaga de Sá acrescentou, ele dizia que os vivos deviam continuar vivendo, os mortos faziam o favor de lembrar porque vivemos e queremos continuar vivendo. Falava como esses sentimentos e o desejo de continuar vivendo e multiplicar era o que mantinha a humanidade, não a separação entre religião e ciência dos povos, como a teoria das raças que supersimplificava conceitos e os tornava reais, ainda que não pudesse ser possível. Foram prestar preces ao defunto, via as pessoas velhas, até mesmo analisava como a neta jovem já mostrava traços que não era mais tão jovem. Teve pena da jovem, estudaria tanto, teria tantos olhares, frequentaria cafés, tudo por conceitos e qualquer coisa abstrata que só nesses lugares de academia que existe, mas no fim de nada todo o esforço seria em vão. Então, Aleixo se pôs a chorar descontroladamente, Gonzaga de Sá o tranquilizou. Ler página 66.

Capítulo X – O enterro

O dia era bonito, Gonzaga de Sá fazia os últimos preparos, algumas mulheres choravam e Machado estava apático e aborrecido, fumava frequentemente. O caixão se fechou e nada mais. Levavam o caixão em um sol de março matutino forte, ele pesava, meninas jovens passavam cheia de vida, discutiam com pena quem poderiam ser e depois saíam a cantarolar de novo. Pegaram o bonde elétrico e o caixão passou pelas cidades, iam quatro para o enterro, Gonzaga de Sá guardava pensamentos com a testa enrugada. Gonzaga de Sá até comentou do dia bonito, nem pareciam que levavam um morto. Machado até procurava uma mágoa daquele dia, mas o indivíduo pouco mudou qualquer coisa, iam em direção ao cemitério do Caju, passaram pela rua do São Cristóvão. Até pensaram ser melhor ir por um caminho subterrâneo, que não contradiz e desse mal gosto ao enterro. Machado concordava por hábito, mas estava esgotado mentalmente e emocionalmente. Até tentou refletir de novo depois de passado um grupo de moças sobre como a civilização poderia ter trazido algo de bom e ficou quieto até chegar ao cemitério. O enterro foi breve, Gonzaga de Sá foi tratar dos atos administrativos, o caixão desceu e Machado jogou uma pá de cal sem reverência e emoção, pensava na vida que passou de colégio, infância, universidade até chegar ao portão do cemitério como se reavaliasse sua vida em pleno meio-dia. Gonzaga de Sá tomava sol na cabeça mas o narrador não queria interromper aquele momento de tristeza para lembrar de cobrir, pensou o quanto aquela amizade perdida o afetava e como a vida pode ter guiado ele a ser quieto e pouco afetuoso por idade, escala social ou algo a mais. Lamentou em voz alta a partida do amigo e foram devagar à praia, Machado se perdia em pensamentos, refletiam no motivo de se viver, Gonzaga de Sá parecia não querer ficar sozinho, apesar de não falar e nem citar o narrador, e propôs de jantarem juntos. Ficaram sentados num jardim que Gonzaga de Sá gostava muito e ficaram alheios ao redor. Tinha um rebuliço de pessoas perto dali, um casal que se abraçava, até tentou entender a pergunta do motivo do fiscal dos bondes fiscalizar o condutor, mas nada. Estavam melhor do que da manhã, narrador e personagem. Desatinou Gonzaga de Sá a falar que os desgraçados, como já pensou Schopenhauer, deviam se matar e deixar os felizes com sua felicidade. Ainda cita que não entende como existem tantas diferenças de classes e conformismo, lembrou e ficou revolta do quando viu um casamento de negros e os oficiais faziam piadas da situação econômica da festa, Machado até falou que na Europa o camponês era visto com compaixão, mas lá há literatura que absorva essas ideais e não os ignoram, enquanto no Brasil há nada segundo Gonzaga de Sá. A literatura é a mesma, um amor proibido por situação de trabalho, há tanto um dilema de família dos dois lados, mas tirando isso e o fascínio pelo pitoresco do sertão não avançam na literatura. Não há espaço ou exercício de imaginação, há um foco da simpatia pelos humildes e humilhados. Machado dizia que não há quem sofre, as pessoas são insensíveis. Gonzaga de Sá acrescentou que sofriam a própria humanidade, queria ser um escritor que escrevesse um ideal de vigor, violência, força que corrigia a bondade e a doçura dos indivíduos. Falava efusivo, mas lembrou que a maior força do mundo era a doçura e se acalmou. Ficaram vendo alguns patos, jantaram sopa no centro e retomaram a conversa, desculpou-se das palavras, estava sentido com a ida de Romualdo, sentia nele uma conexão ímpar, até marejou os olhos. Pensou em como ele sofreu, desde os catorze anos era obedecer hierarquia e comandos, seja de área militar ou ministros, aparentemente tinha motivo para não sair com a esposa que Gonzaga de Sá o casou mas se silenciou. Machado tinha tabelado Gonzaga de Sá como racional, mas durante dois dias dentro da morte do amigo ele se tornou sentimental, normal, jamais conseguiu compreender o que houve. Saíram pela rua, viam gente diferente de classes sociais, gêneros e ocupações. Gonzaga de Sá via aquela gente satisfeita e se questionava de haver certezas, ele sentia que haviam apenas crenças, esperanças. Machado não tinha resposta e pareceu que o outro não pedia uma. Foram tomar chopes no botequim, quando se despediram, Gonzaga de Sá anunciou que educaria Aleixo Manuel. Machado até pensou se Gonzaga de Sá viveria para tanto e se valeria a pena.

Capítulo XI – Era feriado nacional

Machado saiu de casa aborrecido depois das recordações. Era feriado nacional e havia festança, o narrador preferia estar bem longe. O narrador quis se embriagar no meio do povo e foi. Não sentia patriotismo e nem revolta no meio de povo, tropa e gente, mas um espetáculo em sua volta. Via duas pessoas discutindo sobre as forças da Pátria, analisava-os e analisava os generais. “A sociedade repousa sobre a resignação dos humildes.”. Era curioso esses dois homens, maltratados pelo tempo, celebrando um país que nada recebiam, só autoridades ganhavam e para eles ficavam com nada. Desviou o olhar ao encontrar com os olhos de um. Pensou nas injustiças do mundo, quis eliminar todas, fazer sua Utopia e ter um mundo que todos eram felizes. Tão rápido quanto criou, destruiu seu mundo, pois acreditava que as Artes, as Religiões e as Ciências perpetuavam e reciclavam preconceitos. Era melhor deixar esses pensamentos universitários de lado e não agir. Quis também derrubar tudo em sua volta e acabar com tudo, ninguém e nada era feliz afinal. Olhou a passeata, os mulatos, crioulos e negros e pensou que motivos históricos explicavam a vinda de tão longe e essa obediência a um sistema que os oprime. Pensou que tudo aquilo era besta de se pensar se podia ter a atenção em negócios e dinheiro. Aproveitou a passeata, desceu com ela em um sentimento de anulação e prazer e se deparou com o doutor Xisto Beldroegas, colega de trabalho de Gonzaga de Sá e bacharel em direito. Ia preocupado, conheceu-o mais por um relato de colega e de sua atividade mental, era obcecado e atencioso com a legislação cultural do Brasil e tudo que a rodeava. Procurava por papéis que resolvessem assuntos e ainda mais procurava resolver tudo em papel, atas, editais. Entendia menos ainda como a natureza não podia ser fixa ou proclamada, não entendia como o número de dia de chuvas, por exemplo, não era fixo, e achava que faltava quem o delimitasse em lei, e ainda mais se fosse ele, teria resolvido fazia tempo, pois nada era mais forte que o poder político, tudo era esmagado pela burocracia, repartições e indeferimentos para o indivíduo. Leis em âmbito que não fossem de política, com parágrafo, senador e capítulo eram bobagens. Hesitou em falar mas insistiu em falar e que ele falasse. Ele murmurou primeiro e depois disse que tudo era uma balbúrdia. Dava nem gosto de trabalhar, nomeavam conceitos errados, não entravam em acordo para que todos obedecessem e seguissem as doutrinas. Contava mais desgostos e perguntou de Gonzaga de Sá, parecia ter ficado doente e teve um delíquio, desmaio. Era perigoso em sua idade mas estava para aposentar, o doutor disse que perdia nada e nem grande coisa Gonzaga de Sá era, nem colocava os anos da República nos decretos, mesmo com 40 anos de casa. Tinha quem dizia que o doutor se aproveitaria da promoção quando ele saísse, mas ele tinha pena, disse com meia voz o resto. Continuava reclamando dos colegas de trabalho enquanto andavam e demorou para Machado conseguir escapar dele, quis ver Gonzaga de Sá, seu amigo. Apesar de ser perto das duas da tarde quando decidiu ir ver, escolheu ir às quatro para não incomodar. Depois de vinte dias sem vê-lo, foi recepcionado na casa por ele mesmo. Ele dizia que estava bem ao ouvir a notícia da doença, xingou o doutor, sentia-se incompatível com as pessoas ao seu redor, sejam velhos ossificados ou jovens abacharelados. Ficou triste com tudo que acumulou dos livros, achou que era o suficiente e não podia usar o que sabia para sua glória, sem filhos e sem como se expressar. Até comentou de quanto tempo passou perto de idiotas no trabalho, de um plano do chefe para Presidente da República que começasse como amanuense por promoções, para que o fosse apto, mas era muito tempo e muita paciência segundo Gonzaga de Sá. Machado ficou impressionado em como o amigo mudou, tinha perdido a ironia aguda e ficava irritadiço, deprimido e resignado. Olhou o céu, estava bonito, depois de rabiscos e um tempo, perguntou de novo quem o nomeou doente, ao ouvir a mesma resposta, maldisse o doutor. Mencionou um dia que ele quis falar de filosofia, fizeram um enorme esforço para começar e perguntarem como morreu Sócrates, Gonzaga de Sá ficou feliz de escapar de ser doutor. Machado riu e Gonzaga de Sá penava para acender um cigarro em meio aos tremores. Conseguiu ver os papéis do amigo enquanto o ajudava a acender o cigarro e tinham traços indecisos de fisionomia humana. Antes tinha pena deles, agora tinha ódio de como faziam retalhos do que ele dizia, eram apenas preocupados com títulos e mais nada, as conversas eram vazias, tentou mostrar ideias novas e era maldito pelas costas. Sentiu-se aborrecido de viver sozinho, de como seus amigos que poderiam entendê-lo eram poucos e bandidos e prostitutas tinham mais índole do que os graduados ao seu redor. Estava energético, Machado até pediu que se acalmasse em vão. Pensou tudo aquilo ser fruto da idade, que era disfarçado com a ironia e agora não dava mais para usar a máscara, após estar abalado com a morte do amigo. Gonzaga de Sá pediu perdão, perguntou se ele já o tinha visto assim, disse que não repetiria tal comportamento. Disse que Machado fez bem em ir, pediu para jantarem, passearem e ver tudo pela última vez, a juventude dele o faria bem. Não quis porque a gente do teatro lhe trazia hostilidade, mas cedeu, o jantar foi triste, Escolástica era indiferente ao que houve com o sobrinho, sem conselho ou consolo. Gonzaga de Sá se vestiu bem para a primeira classe, Machado mal tinha roupa para a segunda. Foram com antecedência comprar os ingressos, viam vários carros carregarem e cerimoniosamente trazendo gente. Gonzaga de Sá disse que metia dó aquele luxo. Viu as roupas, jóias, o misto de assento mal-feito e mal tratado. O presidente veio, tocaram o hino nacional e Machado ficava curioso com tanta gente importante no mesmo lugar. Os músicos afinaram os instrumentos e começariam. Viam as mulheres e comentavam, iam desde viúvas a esposas. Fechado o ato, saíram após os aplausos. Gonzaga de Sá lamentou como as pessoas de poder ali, político, econômico e social, eram pessoas de fora, desconectadas de 400 anos de história, levariam mais 400 para poderem se assimilar. Voltavam para a apresentação, os dois e todos em volta. Machado analisa antes quando ia a espetáculos, analisava e conversava em deleite com amigos, agora ele sentia uma intimidação sem nem precisar ouvir algo. Após a revolta do passado de universidade e a situação de classes, foram tomar cerveja. Gonzaga de Sá dizia que saía dessas coisas triste. Eram os mesmos no teatro 40 anos atrás, pessoas com poder e pouca capacidade e que nunca deixariam o lugar. Terminada a cerveja, Gonzaga de Sá quis saber onde Machado ia, era para casa, pediu para que dormissem na mesma casa dele e que arrumariam os livros no dia seguinte. Foram de bonde com pouca gente, Gonzaga de Sá viu uma mulher e ficou pensando e refletindo sobre tudo. Chegaram com os galos cantando e a saudação do preto Inácio.

Capítulo XII – Últimos encontros (capítulo importante)

Machado acordou bem disposto, viu aquele espaço todo em um estilo de casa que não existia mais no Rio. Foi tomar café e Escolástica estava lá, plácida, e o menino Aleixo Manuel comia o café e o via com olhos de mocidade. Até puxou o assunto dos estudos, perguntou de assuntos da história do Brasil ao menino, fez uma pergunta sobre descoberta da América e do Brasil, Aleixo respondeu com maestria e esforço, quis elogiar mas manteve silêncio, queria que a inteligência aflorasse lentamente. Após mais perguntas bem respondidas, aprontou-se, despediu-se e foi embora. Machado elogiou a inteligência do menino, Escolástica elogiava como estudava e como brincava, temeu se perder por começar tão bem. Até filosofou se poderia perder a vontade por desanimar no quão fútil é tudo. Escolástica negou, Machado foi procurar Gonzaga de Sá. Lia o Fígaro e adiou a organização dos livros. Ele tentava ler para estar acompanhado com as notícias, mas ficava atrasado porque queria ler. Gonzaga de Sá tratou do tempo como uma fatalidade e criação humana. Machado ficou quieto pois nada tinha para adicionar, exceto com a pergunta de Aleixo, ao qual elogiou a inteligência do garoto. Pegou os jornais do dia para ler, negou o almoço e chegaria tarde à repartição. Gonzaga de Sá até pediu que viesse mais, Aleixo ficava muito só. Estava mais atento ao menino, mudou mais ainda de comportamento depois da morte do amigo e essa adoção terna e figura paterna ao menino. Machado não sabia como se conectar, achava tudo aquilo um conto do vigário, algo muito elaborado para poder tratar mal. Mas ainda existia algo naquela tristeza, de filósofo demais e amigos de menos que não encaixava em toda sua tristeza. Piorava, parecia que perdeu a chance de reviver lembranças com o falecido amigo. Era errático, cansado, queixava-se, perguntou de novo a Machado se amava. Aleixo trouxe algo que não havia ou não queria trazer de volta na sua vida. Ia fazer de Aleixo gente, não fez, ia colher a flor e morreu, quem o fez gente foi a tia. Cresceram, talvez Aleixo jamais soubesse o que era ser feliz por ter conhecimento demais, talvez nem Machado devesse saber. Era muita gente velha se sacrificando, muita gente nova vindo, nada de comum acordo.

Contexto histórico – Próximo da década de 1930, perto da demolição do teatro Lírico, antigo Pedro II

Figuras de linguagem – Ironia, antítese, sinestesia Construções importantes – biografia cultural, dualidades narrativas, crítica social

Categorias
"O Sol Na Cabeça" Geovani Martins Literatura Brasileira Literatura Marginal Resumo de Cada Capítulo UFPR 2025

“O Sol Na Cabeça” de Geovani Martins – Resumo de Cada Conto

Coleção de 13 contos. O livro homenageia seus irmãos e irmãs, sua mãe Neide e sua companheira Érica.

A obra é composta por uma coleção de 13 contos, é o livro de estréia do autor.

Quem é Geovani Martins Ana da publicação da obra = 2018 O que caracteriza um conto (brevidade e dualidade histórica) Quais são os contos (Rolézim, Espiral, Roleta-russa, O caso da borboleta, A história do Periquito e do Macaco, Primeiro dia, O rabisco, A viagem, Estação Padre Miguel, O cego, O mistério da vila, Sextou, Travessia) Construções importantes (linguagem da periferia carioca, uso da memória, antítese e paradoxo) Elementos importantes (a favela como integração do indivíduo, as drogas como cotidiano, interrupção abrupta e desconforto)

“O sol na cabeça de Geovani Martins: um estudo de crítica e tradução” por Andréia Guerini e Willian Moura – ******https://www.scielo.br/j/ct/a/KhJQhNHtyLC8vP7qdkFwNdy/?lang=pt#ModalTutors

Conto 1 – Rolézim

“Para Matheus, Alan e Gleison”

Acordou e o sol era impiedoso, tudo estava quente e sentiu que o dia não seria fácil. Tinha dois reais na mesa que o narrador tinha para comprar pão, mas precisava de mais 1,80 para inteirar uma passagem, era fácil dar o calote na ida, mas na volta era o problema. Ia investir os dois reais no pão, pegar um café e ir para a praia de barriga cheia, tudo menos ficar ali no calor. Passou na casa do Vitim e mais lugares com a mesma situação: sem maconha; querendo ir para a praia; sem dinheiro. Teco tinha até um farelo que ganhou de um trampo, trabalho, mas queria ficar em casa. Iam para a praia cantar as novinhas, banharem-se e dormirem que nem criança depois. Teco até deu um baseado, queriam arranjar belengo, cocaína, o narrador achava estranho querer usar aquilo no nariz com aquela lua, aquele sol forte. O narrador nunca cheirou cocaína, lembrou de uma conversa com o irmão quando ele tinha a idade que ele tem agora, 22, era papo de gente grande, sentia, um amigo morreu de overdose no caminho para comprar mais. Proibiu o irmão de experimentar qualquer coisa e manter no baseado, mais nada. Prometeu, puxava até loló, mas sabia se controlar. Mas hoje via que era melhor ficar no baseado, até bebida era uma merda, falou de quando perdeu o sentido bebendo cachaça no aniversário, lembrava de nada e seguiu até mina no beco, coisa que podia custar a vida ainda mais se ela fosse namorada de outro. Iam de ônibus, os amigos travados e o calor estralando. O narrador achava estranho esse costume de ficar drogado enquanto era oprimido. Lembrou dele e do Poca Telha queimando um na laje da tia e chegaram mais dois com o Mano de Cinco cheirando linhas, tudo com olho vermelho, ficaram ouvindo barulho onde não tinha e o Poca Telha e ele dando risada, para piorar o Mano de Cinco pilhou falando que era a polícia tentando pegar eles, saíram peidando e tentando se esconder. Bem diferente de quando realmente teve operação quase na semana seguinte, tirando a vida do Jean, que era apaixonado por futebol, jogava na base do Madureira e era pouco para virar profissional e até ir no Flamengo ou Botafogo. Até no enterro ele tirava onda, fazia graça, tinha 4 namoradas chorando por ele com a mãe dele. O narrador amaldiçoou os policiais. Chegaram na praia “com o sol estalando”. Muitas mulheres, bunda, água gostosa. Problema era a cara de cu, de incomodados, da galera, tinha policial na praia escoltando e quebrando a brisa, empatando, impedindo, de acender o baseado. O narrador tinha duas teorias: eram maconheiros e queriam pegar o baseado deles; era traficante querendo revender pra playboy. O narrador tinha medo de quando policial queria trabalhar, “coisa boa num é!”. Quando os policiais foram embora, outro problema, nada de seda. Ninguém tinha vontade de pedir pros playboys, até porque quando estavam sozinhos parecia que iam ser assaltados, em bando pareciam que iam pular em ti. O Tico e o Poca Telha chegaram em dois menós, moleques, que pareciam estar na larica, fome após fumar maconha, e deviam dá um dois, fumar maconha, compravam tudo de doce e comida, ficavam ali como se estivessem na Disneylândia, bobeando, mas foi chegar a galera já tinham medo de assalto. O narrador tinha raiva, mas se controlava por causa da mãe e do irmão, neurótica e que prometia não falar mais se fosse dar problema. Foi o narrador para achar seda, reclamou até dessa galera que antes fumava até em guardanapo, agora era só seda smoking, conseguiu a boa com um rasta que falou que os vermes, policiais, estavam na atividade, mataram um boliviano na areia, os policiais tiveram que abafar o caso para não repercutir, ele estava devendo dinheiro e era exagero. Falou para o rasta que só ia aproveitar a praia. O rasta falou antes para ficar na atividade e depois para não perder a fé em Deus. O rasta era do Maranhão, terra que todo mundo fuma bem cedo, desde os 10, como ele e o narrador. Aproveitou a brisa, ficou vendo gaivota, aproveitou a marola, tanto de fumar maconha quanto o mar em si, sentia a água, era levado até a areia e depois competiam de quem ficava mais tempo sem respirar com todos sendo fumantes. O melhor foi depois, os mesmos que recusaram seda foram tirar foto como se fossem donos da praia e passaram dois, um pegou a mochila, o outro os celulares, ficaram procurando mas os menores já tinham vazado e ficaram rindo dos playboy que saíram só de canga. Ainda assim, pensou no rasta falando que a praia estava ativa e na polícia que podia enquadrar eles. A fome surgiu em todos de noite e a polícia estava querendo fiscalizar os meninos e outros menores. Quando quase terminaram de passar pela fila que fizeram no muro, pediram para eles encostarem também. Explicou que quem tivesse sem identidade, sem dinheiro pra passagem ou muito mais que para a passagem, ia para a delegacia. Ficou pensando na raiva da mãe, largou o chinelo e saiu correndo. Lembrou do irmão jogando golzinho, era rápido, e o narrador corria rápido e nem olhava para trás. O irmão morreu pela polícia, ele sabia que não era X9 e foi no lugar de outro. Pensou na família, todo mundo olhava ele, decidiu ver se a polícia o seguiu e eles desistiram para revistar os outros. Construções importantes: vivência no Rio como morador de favela, democratização dos espaços Elementos literários importante: o dialeto de periferia carioca, oralidade como transcrição

“Espaço urbano, opressão e resistência: as figurações da cidade em ‘O Sol na Cabeça’, de Geovani Martins – considerações finais de pesquisa” por Leandro Borges Silva – https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/coneil/2020/TRABALHO_COMPLETO_EV144_MD1_SA7_ID62614092020113539.pdf

Conto 2 – Espiral

O narrador comenta que começou cedo, achava estranho, passava na frente de uma garotada de escola particular e eles tinham medo, o que era curioso, pois eles fugiam dos meninos maiores. Pelas ruas da Gávea, ele se sentia os moleques que metiam medo nele. Ele até gostava da sensação de medo dos outros, mas “não entendia nada do que estava acontecendo.”. Há quem diga que morar na favela da Zona Sul é privilégio se comparado às outras favelas, mas a diferença é o que separa asfalto da Zona Sul e o chão do morro. É ter que andar em ruela, desviar de fio elétrico, ver amigo de infância portando arma, desviar o olhar de ratos, policiais, de cano, para depois de quinze minutos dar de frente a um condomínio com plantas ornamentais e aula de tênis. “É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros.”. A primeira perseguição o narrador jamais esqueceria, começou como toda vez, como ele assustando com o susto dos outros, era uma senhora no ponto de ônibus, ele engoliu o choro, foi chegando perto, fixando na bolsa como quem procurasse algo e ela procurava ajuda em volta. Só que mesmo ela indo embora, ele seguiu sem motivo, ia acelerado, devagar, deixando ela desesperada até que entrou em uma cafeteria. Ele sentiu nojo, pensou que aquilo podia ser invertido com sua mãe e avó sendo desconsideradas por quem corria dele sem motivo algum, mas sentiu mais ódio de que, mesmo assim, a senhora não pensava nele. Ele sentia que não dava para parar, pois eles, os perseguidos, nunca parariam. “Veio a solidão.” e uma apatia a tudo. Ele começava a se afastar de tudo e todos, mas se aproximar desse estudo de caso que fazia, entendia o terreno, as vítimas, mas era muito curto o período de reação e muitas variantes, precisava focar em um único indivíduo. Um dia, cruzando esquina, esbarrou com um homem que já levantou o braço se rendendo para um assalto aterrorizado. O narrador falou para ele sair dali logo, segurando o choro como na primeira vez. Era ele, decidiu seguir. O nome dele era Mário, ouviu perto do lugar que trabalhava, tinha filhas, duas, talvez de sete, oito anos e a outra com quatro no máximo cinco. Nunca pegou o nome porque seguia a família de longe. Batizou a mais velha de Maria Eduarda e a mais nova de Valentina, nomes equivalentes para as caras de bem alimentadas. A esposa ganhou o nome de Sophia. Ainda mais quando via o piquenique no Jardim Botânico, era uma família de comercial de margarina, tirando a babá toda de branco. Tentou forçar os encontros por 3 meses, no começo era um misto de intimidação ou não notar a presença. Até ele perceber a perseguição, ficava mais atento e preocupado, tinha vezes que claramente o perseguia, deixando a tensão crescer, até ele naturalmente fingir entrar em outro lugar. Chegaram ao momento presente e ele ficou rondando uns dias pela casa. O que era para Mário um privilégio morar perto do trabalho, ficava tentando dar voltas para despistar o narrador, o que era inútil pois ele sabia onde Mário morava. Isso era custoso ao Mário e ao narrador, que não sabia onde isso daria. Um dia, decidiu seguir até o fim e viu que ele tomava o caminho mais curto para casa, ambos suavam e tinham a cara vermelha. Ele entrou no prédio que nem máquina, e ele ficou encarando da rua para ver pela janela. Viu Mário transtornado segurando uma pistola automática. O narrador riu, sabendo que, para continuar aquilo, precisaria de uma arma de fogo também. Elementos literários importantes – Clímax, dualidade histórica Construções importantes – O preconceito, abstração da humanidade

“’O Sol na Cabeça’: a enunciação literária em ‘Espiral’ e as cenografias paratópicas no espaço discursivo êmico” por Izilda Maria Nardocci e Anderson Ferreira – https://pdf.blucher.com.br/openaccess/9786555500325/05.pdf

Conto 3 – Roleta-russa

Quando chegou na casa, geral estava tentando se escalar no pé de acerola, com o sol queimando a cabeça e brigavam para ver a fotonovela pornô do Mingau, achada em casa nas coisas do primo desaparecido. Paulo se juntou à turma sem interesse, não que não gostava, até pirava na televisão com os programas conotativos, mas a cabeça dele pirava em outra coisa. Dois brigavam entre si pela masculinidade e pela família, Paulo viu toda aquela cena meio que já prevendo o que aconteceria, quando veriam o revólver. Paulo já mexeu em uma arma e mexia, sentia o peso da arma do pai, não sabia se era bom ou ruim o que sentia. O ar pesava, queria ver os detalhes. Almir, pai de Paulo, prometeu uma vida melhor agora que saiu de ser frentista de posto de gasolina para segurança noturno, ia ganhar mais dinheiro, mas teve uma conversa séria a respeito da arma enquanto o garoto tinha apenas 10 anos. Enquanto repete aos quatro ventos que educa o filho pela culpa e remorso em vez do medo, ainda com a falta da mãe na vida do menino, Paulo nem sabia onde terminava e começava remorso, respeito, medo e culpa pelo pai. Mas tem vezes que Paulo preferia ser descoberto do que ouvir sermão. O pai conversava e pregava, o filho tinha vezes que pensava que o pai tinha descoberto, não queria decepcionar o pai, e quando o via chorando, chorava também sem saber o que acontecia. Eram dois patetas chorando, porque o filho não sabia o que fazer. Pensava em parar de mexer no revólver, comportar-se nas aulas. Dessa vez, Almir tomou banho em vez de dormir após o almoço, coisa que era tão ruim quanto leite com manga, porque disso tem gente que morre.”. Pensando que devia lembrar o pai da arma, perguntou o que ele ia fazer já que se arrumava, ele dizia que daqui a pouco voltava. Quando ouviu o portão bater, trancou a porta como quem não consegue abrir por fora e ficou a sós com a arma. A felicidade veio grande com o remorso, sentia-se mal de noite e no dia seguinte repetia tudo de novo. Era tudo um sonho, “mas nunca seria o bastante enquanto não levasse a arma para a rua, enquanto não a exibisse pra sua galera.”. Mas a maioria estava enfiada em casa vendo desenho depois do almoço ou voando pipa. Mas não ligava para as batalhas de desenho japonês, ficava com a arma, carregava e descarregava, colocou no peito, imaginava como seria ser perfurado pela bala, desceu ao estômago e depois ao pênis, que, inclusive, ficou ereto. Tirou o revólver de vergonha. Em uma conversa, falam da bala de festim e da história do Bruce Lee que tomou um tiro de um em um filme. Paulo descarregou o revólver e queria jogar no time dos ladrões no polícia e ladrão, queria desviar, fugir, provocar, mas ficou no time dos policiais, ainda que não gostasse de perseguir. Queria apontar na cabeça dos amigos e fazer o som com a boca do tiro, que entrava como buraquinho e saía fazendo estrago. Os moleques ainda brigaram de tipo de arma, de filme, de exército e irmão mais velho. As brincadeiras de corrida, as favoritas de Paulo, iam ficando para trás e preferiam cada vez mais brincadeiras que valiam algo como aposta, tazo, carta. Elas até voltavam em festa de rua, lembravam quando morreu um cara na frente da casa da Dona Margarida, o que acharam estranho, pois só ele foi morto, não levaram nada. Ainda reclamaram que a tia dele só via de morte, o que ela parou, pois não queria ver estampada a cara do primo. Paulo queria toda aquela comoção e conversa para sempre, ele não era bom ou excepcional em nada, sentia até que nem faria diferença se um dia fosse embora dali, mas sabia que no fundo tinha algo de diferente. Tentou contar que o pai já tinha matado alguém com aquela arma, mas logo falaram que ele estava sonhando com toda a história de ouvir o pai com outras armas e conversando bem cedinho. Falaram que estavam tirando as balizas de futebol e iam pedir para deixar mais um pouco e daí surge o problema: significava que estava anoitecendo e os homens iam sair para namorar e as crianças entrariam para casa; além de que o pai dele teria já voltado. Paulo saiu correndo sem se desculpar, sentiu ódio do pai por testar ele daquele jeito, raiva de ser um filho assim, pena do pai pelo filho que tinha, triste por ter caído naquela armadilha, medo de não ter pensado em uma desculpa antes, e “de qualquer forma, tudo era uma grande merda olha do por qualquer lado que fosse.”. Chegando em casa já viu os sapatos do velho e sentiu o cheiro de cigarro. Tudo ia ficando cada vez mais pesado e ele nervoso, já via o pai sentado querendo conversar. Ele ouviu o chuveiro, devolveu o revólver, segurou o choro e proclamou que era homem, tinha passado dos limites e contaria tudo ao pai. O banho demorava mais que o normal, jurava que não seria mais assim, assim como jurou tantas vezes. Queria que o mundo acabasse antes do banho, mas não foi assim, ele ouviu o chuveiro desligar, o pai esfregar a toalha no corpo, bater o Prestobarba na pia e finalmente abrir a porta. Elementos literários: narrador onisciente, digressão Construções importantes: sentimento de pertencimento, a violência como elemento que convive ”Cidades, possibilidades e violências: o Rio de Janeiro em ‘O Sol Na Cabeça (2018)’” por Marcelo Reis – https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/118005/pdf

Conto 4 – O caso da borboleta

Ninguém nasce borboleta, ela é uma dádiva do momento presente. Entretanto a borboleta não pensava nisso lá fora, realmente era azul e foi lagarta, estava ocupada em voar de árvore em árvore. Breno tinha nove anos, mas diferente de lagarta, ele vira adulto, e homem não voa. O sonho do Breno era voar, seja como piloto ou jogador de futebol. Não chegou a pensar sobre, mas sabia que era menino e não lagarta, sua avó dizia sempre que não se nascia borboleta. Pensava em como ela comia, já tinha visto passarinho e beija-flor e lagarta comer, menos borboleta. Teve fome e foi à cozinha. A avó dormia na novela das sete, coisa que adorava fazer. Não quis acordar e foi para a cozinha que era antes um quarto e tinha janela, coisa que todos achavam curioso e estranho, Breno sempre viu a cozinha daquele jeito e gostava, achava azar de quem não tinha janela. Pensou em comer biscoito ou ovo, tinha tamanho para fazer o segundo. Entra uma borboleta enquanto procura biscoito, era maior e mais bonita. Ela fica desnorteada e batendo nas paredes, Breno tenta ajudar a guiá-la pela janela. Ela voa direto para uma panela com óleo usado para a batata frita do almoço. Pensou que só se queimaria com o fogo aceso e tirou a borboleta com papel toalha, deixou-a encima da janela e foi comer biscoito. Ficou pensando na borboleta no óleo e se fosse ele nadando em uma panela que coubesse uma criança, não gostava de imaginar, mas era difícil, ainda com o estímulo da mão suja de óleo. Lembrou do pó de borboleta que cegava e teve medo de passar mal porque lambeu o óleo. Foi à cozinha e viu que ela estava morta, quis enterrar ela de pena. “Decidiu que a borboleta seria seu bicho preferido, caso não passasse mal por conta daquela lambidinha no dedo.”. Deixou a borboleta na janela e ia avisar a avó para não usar mais o mesmo óleo, deixou ela cochilando, tentou não passar mal, pensou de novo na frase da avó, sentiu uns trecos no estômago e dormiu. Elementos literários: descrição de sensações, comparação Construções importantes: descoberta de emoções, o lugar como influenciador de sensações ”Favela, infância e adolescência: o discurso narrativo do lugar e de todos os lugares em ‘O Sol Na Cabeça’” por Robson Fagundes dos Santos – https://dspace.unila.edu.br/server/api/core/bitstreams/73f438f5-35c5-42d8-8c35-c1850d4133ea/content

Conto 5 – A história do Periquito e do Macaco

Quando a UPP apareceu no morro, era mais difícil comprar drogas, dava até pena de ver a criançada vendendo, mas tudo se acostuma, infelizmente. Há um locutor silencioso, ao qual o narrador diz que foi a melhor coisa ele ter ido para o Ceará, aproveitavam as conexões com o jornal e qualquer coisa era primeira página, mesmo que a carga fosse pouca ou uma arma, ainda que ninguém saiba o que esteja acontecendo no morro ou até mesmo se prenderam alguém grande. Só piorou com a ocupação da polícia, tinham que dar satisfação, não havia paz. Não demorou tempo para os traficantes que estavam lá antes deixarem de manter a ordem pois foram para outros lugares e de novo surgir a violência, as armas e, finalmente, a morte. Antes eram alguns tiros de aviso, mas evoluiu para morte dos dois lados. Na Rocinha, chegou um momento que a polícia ficava de um lado e, segundo o narrador, os vagabundos de outro. Até dava para fumar maconha, mas piorou muito a qualidade desde a chegada da UPP. Não sabia-se muito bem o que ia rolar, se ia subir exército como no Alemão, ia ter que vir os moradores pedir para parar ou se iam lutar até a morte, mas a única certeza é que a maconha mudou mesmo. Entretanto o pior de tudo é quando entra o Cara de Macaco. Era um tenente que fazia vigia na região da Cachopa, a mesma que o narrador morava, ele conta que o tenente gostava mesmo era de tratar mal viciado, ele colocava a culpa nele, não no traficante, chegou a pegar um cara em um beco, fazer usar tudo e ainda levar a cabeça na parede de apanhar. Outro dia, pegou o Neguinho fumando baseado, ele jogou na vala e ele já apontou a arma perguntando onde que ele arranjou. Era na subida da Vila Verde, todo mundo ia lá, deu uma coronhada e perguntou de novo, ou tomava bala ou descia na vala, não pensou duas vezes e parece que pegou leptospirose. O pior foi na ladeira da Cachopa que ele pegou um playboy pegando de tudo, era a compra do mês de drogas, falava que ele financiava a compra de armas dos traficantes, coisa que era a própria polícia, e o playboy ia crescendo e respondia de volta, lógico, ele tinha as costas quentes, era filho de juiz, aí que o Cara de Macaco ficou espumando de raiva. Ele já subiu querendo fazer maldade e a galera tentou avisar, mas o Buiú se deu mal, ele estava na laje, lugar que os policiais falavam para fumar lá e ninguém mexia, nem o Cara de Macaco sabia subir, mas mandou descer, levou até a casa do Mestre e arregaçou o Buiú a noite inteira, de ter até cenoura no cu. Mas o Buiú era irmão de leite do Periquito da Rajada, coisa que o Cara de Macaco não sabia, e tão piroca das ideias, maluco, quanto o tenente. Era necessário ser maluco, pois a voz fina não dava respeito, mas quando trocava bala ele virou braço direito do dono do morro. A raiva que ele já tinha de policial só piorou com o irmão e o tenente, ele dizia que ia se vingar, até tentaram convencer a não fazer nada ou deixar passar que era coisa do momento, mas sujeito homem não ia deixar barato. O Periquito nem dormir direito dormia, aí bolou um plano, precisava de uma menina gostosa, de deixar gente maluca, como a Vanessa. No que ela chegou, disse ao tenente que tinha tesão de homem de farda, lógico que ele ficou com ela sozinho no barraco e de pau duro, mandou todos os caras com quem fazia ronda, que eram sempre cinco ou mais pessoas, para longe. A ideia era que o Periquito estivesse esperando com uma M16, ela ia entrar no banheiro, ele seguia e matava ali. Só que ele já foi tirando a roupa, ela conseguiu até tirar o colete e ir fingindo que gostava, gemendo alto para o Periquito ouvir, que já encostou o cano e o tenente nem teve como reagir, Vanessa cuspiu na cara do tenente. Os manos ajudaram a levar o corpo e queimar, ele teve que sair dali, coisa que já sabia porque ia ficar feia a situação e ficou. Embora dentro de um mês, a paz voltou na Cachopa. Sem achar o corpo, uma notícia de jornal lamentava a morte de Roberto de Souza, que até o narrador chegou a ter pena dos filhos que choravam a morte do pai, mesmo odiando polícia. Contexto histórico – Instalação das UPP’s (Unidades de Política Pacificadora) em 2013 Elementos literários – Locutor silencioso, alegoria Construções importantes – A polícia como aparato do Estado, o paradoxo de justiça ”’O Sol Na Cabeça’ e os campos de força da bios” por Vanessa Augusta Cortez dos Santos Cunha – https://www.abralic.org.br/anais/arquivos/2018_1546968876.pdf

Conto 6 – Primeiro dia

André já foi embora sem nem deixar escreverem na camiseta, estava de saco cheio de todos e tudo da escola Antônio Austregésilo, nome feio demais só que não rimava com nada para piorar. Além disso, era repetente, tinha quase doze anos em uma escola cheia de sete e oito anos. André tinha confiança que estudar no Henrique seria melhor, queria fazer a fama com as porradarias semanais contra a galera do Getúlio e ser um neurótico reconhecido. André era desligado, estava sempre pensando em estar em outro lugar, mas pensava agora na nova escola. As férias ajudavam a deixar ele de volta ao mundo, mas jurava agora que daria gosto de ser aluno, não pelo estudo, nem por ser excepcional em brigas, mas para escapar de ser chacota e chamado de pirralho pelos mais velhos. Deixou todo material exceto o caderno do Flamengo e uma Bic, a mãe se esforçava e fazia diferença na renda comprar tudo, mas fazia questão, só que André queria impressionar, ser estudioso não era uma opção. Ainda assim, viu a quadra, a escola, andava atento mas aproveitou o novo lugar. Viu duas meninas fumando escondido no intervalo, pensou até o que seria dele no futuro, diante da cumplicidade e amadurecimento. A última aula foi francês, queria aprender inglês para ter fama e ser popular, até simpatizou com a língua quando descobriu como falar “pescoço” em francês. Dois moleques da oitava série diziam que não ia ter almoço, um playboy de cabelo de chapinha loiro mandou todos ao banheiro. Apesar de tentar parecer firme, André temia pederastia como ritual de novatos e parte das regras da escola, mas não era. Era o teste da Loura do Banheiro, que foi violada naquela escola e morreu. Quem chamasse ela três vezes no espelho, ou corria ou enfrentava dois destinos, ficar possuído ou ser sugado para o espelho. O André pediu um teste de verdade, a realidade é que prometeu nunca mais fazer aquilo porque morreu de medo. O loiro sentenciou ele a fazer já que não acreditava. Luzes apagadas e portas trancadas, pensou em tudo que perderia se vacilasse. Firmou as pernas e a chamou. Elementos literários – Metáfora, brevidade do conto Construções importantes – Aceitação, lúdico ”A representação do espaço social: entre o subúrbio e o (sub)mundo em ‘Clara Dos Anjos’, de Lima Barreto, e ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Viviane Chagas de Lima – https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/50889/1/DISSERTAÇÃO Viviane Chagas de Lima.pdf

Conto 7 – O rabisco

“Não era pra estar ali.”. Tomou cerveja, já estava com a lata de spray de tinta na mão e ouviu uma moça gritando por ajuda. Os moleques de tinta iam na esperança de ter cerveja, cigarro, erva e tinta para um grande rolê, ganhando fama, juntos, como carrapatos. “O mundo tá de saco cheio desses moleques, Fernando também.”. Tinha outro nome, Maluco Disposição, mas abandonou o xarpi, tentava se distrair com outra coisa e mudava sua relação com a cidade. Desde que Raul, o filho dele, nasceu, abandonou a vida, ainda lutava contra o desejo de pintar, evitava até usar caneta. Se quisesse ser presente e ficar vivo, ia, no máximo, só pixar em baixo, em lugar seguro, que era uma morte muito pior. Quando já ouviu os tiros, nem sabia de onde vinha, já saltou para o terraço com os reflexos em dia e viu que o moleque da tinta já tinha ido embora. Não ia roubar, ia deixar de presente sua marca no mundo, uma frase em homenagem aos amigos que deram a vida pela arte dos Racionais, “Pesadelo do sistema não tem medo da morte.”. Sabia que ladrão e pichador era tudo o mesmo nos olhos da polícia, mas sabia que fazia parte do jogo aquela parte que o caçava. Não ia conseguir pixar, ia esperar eles encontrarem ninguém para ir embora, um empate. Queria ser eterno, por isso aquilo tudo, ficar na memória, mas o filho mudou a perspectiva, foi chamado de pau-mandado por querer parar. Tem dias que o sol aparece até de noite e ninguém dorme, seja de calor ou da cabeça não descansar. O pessoal se aglomerava para ver justiça contra um homem desconhecido. Fernando queria era pixar tudo, rabiscar e mostrar que a vida continua mesmo com ou sem rabisco. Pensava em como tudo parou naquilo, mas a vida tem forças que vão uma atrás da outra, não dá tempo de planejar, só de reagir depois de tudo que aconteceu. Lembrava do pai que voltava para casa e a mãe sabia o som da batida dele de bêbado. A mãe não deixava entrar, ele até queria deixar, tinha memórias de infância boas, mas vinha um mau pressentimento. Assim como veio agora, um nó na garganta que antes ficava de forma positiva, fazia-o se mover. Dessa vez, a vida passou em lampejos desordenados, não como filme, mas presságio, seu corpo sufocava de medo sendo espetáculo para as pessoas ali e o desfecho de tudo. Pensou em como seria melhor com o pai que gastou toda a aposentadoria na cachaça em vez de tentar continuar a abrir a porta da casa. O peso das escolhas veio, não adiantava mais querer pedir desculpa ou dar do melhor ao Raul, o pai já estava morto. Havia uma possibilidade de não o terem visto, estudava o tempo que passou ali e em como sair, jogou uma lata e confirmou que era pichador, ao menos não saía morto, mas que levaria porrada daquela área residencial tomaria. Abriram a porta e subiu gente, mesmo que sobrevivesse à surra, coisa que já matou também outros, ainda ia ter que explicar como que levou aquilo, sem contar que o pai trocou o filho por álcool, ele estava trocando por tinta. Pulou para outro telhado, sentiu o pé doendo muito, quis gritar mas só se escondeu. Sabia que o silêncio que reinava agora ali era definitivo. Ainda sonhou em poder rabiscar o seu nome ali nos prédios, Loki. Elementos literários: Foco narrativo para simpatizar, jornada do herói Construções importantes: O picho como reivindicação do espaço social, conflito de desajuste ”Sujeitos em trânsito: figurações do espaço urbano em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Evandro Batista Siqueira – https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/37271/1/Sujeitos em trânsito. Figurações do espaço urbano em O sol na cabeça%2C de Geovani Martins.pdf

Conto 8 – A viagem

O conto é em homenagem a Rapha, “é claro.”. O narrador, Rafa, desembarca no Cabo do Arraial, fugindo de toda a festa de fim de ano que é em Copacabana. Estava ao lado de Nanda e completamente apaixonado. Pensou que a viagem os uniria, saindo do ambiente universitário para ali. Gabriel estava lá e estava contente com isso, era um dos primeiros amigos e ficava feliz de ter por perto, ainda mais que a namorada gostava dele também. A casa era de um argentino, amigo de Gabriel, Juan, gostava de falar e rir alto, fumar maconha e achar camarão de boa qualidade, tinham fumado três baseados já, o narrador retribuiu com LSD. Só que Juan já ficou falando “no, no, no” e ninguém entendeu se ele não aceitava por ser um desses maconheiros intolerante a outras drogas ou outra coisa. Só que Gabriel voltava com a tesoura e ria da situação que entendia, porque a qualidade da maconha era bem maior do que do Fundão, e isso explicava o narrador ver tudo em câmera lenta. A voz de Juan ecoava com a gargalhada de Gabriel e o desconforto de Nanda, parecia um Zé Droguinha querendo usar tudo que podia antes das 2 da tarde. A voz ecoava nas paredes e tremia ele todo, mas que ele guardasse o LED porque era difícil achar e queria estar fritando na queima de fogos. O narrador ficou feliz em poder salvar a pátria para deixar todos muito loucos na virada, todos riram, agora, invadidos por uma onda coringa. Tentou dividir tudo por igual, ainda tomou um pouco com a Nanda, ficaram falando de coisas de sinceridade, promessas de infância e tentando explicar viagens psicodélicas inexplicáveis. Ele até desenhou ela nas almofadas, ficaram calados e curtindo a brisa. Querendo fumar mais maconha, com vergonha da dele e de pedir do argentino, contentou-se com cigarro. Só que Juan procurava algo nos bolsos e na sala e o narrador ria, achando que ele procurava maconha também, influenciado pela fumaceira que fazia, mas não era isso, ele achou uma cápsula enorme de cocaína, “Gabriel esbugalhou os olhos e soltou” uma gargalhada. Ele ia rindo com os olhos brilhando com o serviço, Gabriel nunca usou cocaína, até pegou um pouco para deixar a boca dormente, curiosamente, o narrador aponta que ele só usa maconha, doce e lança-perfume, o último em ocasiões especiais. Nanda até olhou ao narrador que tentou não dizer nada com o olhar e ela aceitou uma linha. Ele ficou até ciumento por dividirem um canudo feito de uma nota de dois reais, mas não queria mostrar que era facilmente influenciável para usar também. Depois, saíram na rua, Juan e Gabriel conversavam em espanhol e a onda batia no narrador, que ficava maravilhado com os dedos e com as coisas ao redor, como as árvores, ser bom estar vivo e morar na Terra. Rafa fica preocupado com Nanda estar fungando e a onda bater errado de misturar drogas. Ele pergunta a ela o que acha do Juan, diz que o acha muito louco, no sentido de feliz, de falar, de entender mesmo sem saber a língua, e que é por isso que vive assim, ele tinha até perguntado se era no sentido de drogado, mas no fim do ano todo mundo fica, de amor, de estresse, de drogas, é quase um fim do mundo e todos tentam viver ao máximo para aí se decepcionaram que nada acabou. Rafa pergunta se ela acha Juan gay, ela o acha engraçado, perguntou se ele ficou interessado nele e falou que não conhecia o lado ciumenta dela. Chegaram na praia e a felicidade os invadiu, o dia era quente e a água fria, mais uma vez o equilíbrio universal, o narrador nem percebeu que Nanda tirou a roupa para ficar de biquini e nem viu se o Juan tinha malícia no olhar de ver ela tirando a roupa. Era uma maravilha ver mulher tirando roupa, mas queria ver a malícia do olhar ser presente nele. Juan olhava para o céu, Nanda para o mar, parece que ficava, como fica sempre pensando demais, pensando em como todos os átomos se reuniram para estar tudo ali naquele exato momento. Gabriel nadava de um lado ao outro, Rafa achava bonito como a liberdade tomava conta do corpo dele. Com dedicação como sempre tinha, Juan foi ver as ondas, depois de um tempo, se reuniu com os meninos na água. Nanda tomava sol na areia. Rafa boiava na água, fascinado com os tons de azul, pensando como era íntimo da água, conectado a ela e como era isso que os tornava próximos, mesmo que não se conhecessem de antes, eram amigos. Nanda se juntou e a felicidade e festança foi tanta de ficar pegando areia do fundo e jogar água que os ciúmes e a neurose foram embora. Foi perceber só depois que estava explorando outros cantos, o que sua alma precisava. Andaram movidos pela alucinação, pois já estavam cansados, o narrador imaginava o que passava no íntimo de cada um, viam praias belas e mal se comunicavam, se não fossem por gestos e gargalhadas. Até que Gabriel disse que era melhor voltar pois ia escurecer. Juan garantiu e sugeriu que ir pelas dunas era um caminho curto, Rafa ficou maravilhado, pensando em quanto tempo toda aquela areia estava ali, como eram pedras antes e quanto tempo precisa passar para virar aquilo. Todo o pensamento se foi quando percebeu que o grupo era perseguido por dois loiros altos, fortes, com roupa de academia. Não queria alarmar o grupo, achou que ia ser taxado de Doidão do Grupo, mas a verdade o enchia e sentia que ia explodir se não fizesse nada, não deu outra, avisou o grupo, virou o Doidão, saiu correndo puxando Nanda. Ela perguntava o que ele tinha, Juan e Gabriel ficaram olhando, mas logo viram que os dois playboys eram da geração saúde e corriam bem melhor que todos, além de conhecerem melhor onde estavam correndo. O primeiro a ser pego foi Gabriel. Rafa não conseguia ver de onde vinham os assaltantes e se encheu de ódio, aquilo não podia estar acontecendo naquele dia, e calculou para derrubar o brutamontes como um jogador de futebol americano. Juan, vendo a ação, sacou Nanda e fugiam. Rafa se debatia, tentando não ser imobilizado, gritou que tinha nada, aí os assaltantes falaram que não eram gringos, pois estavam focando em assaltar turista, não morador, aí Gabriel cresceu e mandou eles respeitarem os moradores. Rafa achou tudo aquilo inacreditável. Mas eles estavam confusos com tudo, achou que ia reverberar no relacionamento com Nanda, mal podiam planejar o próximo passo e deram de cara com um pântano. Mal viam algo na frente, uma bad imensa bateu no narrador e ele chorou, chamavam Juan e Nanda e nada, por sorte, Gabriel não conseguia ver. Chegaram ao final e deram com o centro da cidade. Ele continuava triste, desesperado, até que Nanda o chamou de uma farmácia, ela foi comprar mertiolate, ela saiu correndo com Juan e não parava para não dar chance de anoitecer, daí foi se cortando em tudo que era espinho. Ela achava estranho como via a dor e não a sentia. Juan permanecia o mesmo, feliz e desastrado. O narrador queria dormir, ainda faltavam dois dias para o fim de ano, ficou pensando o que mais o ano poderia o reservar. Elementos narrativos – Sinestesia, texto descritivo Construções importantes – O olhar complexo de coisas simples, o uso de drogas ”A importância da obra ‘O Sol Na Cabeça’ para a literatura brasileira, e sua relevância sob uma perspectiva social” por Isabelle Laurence Marques Fonseca Silva – https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/21863/1/ILMFSilva.pdf

Conto 9 – Estação Padre Miguel

“Na época estava proibido fumar crack na Vintém. As coisas tinham fugido do controle: muito roubo, briga, perturbação.”. O consumo até existia e o comércio, mas eles tentaram limitar, quem sofria mais eram os moradores. O narrador afirma que o lucro era imenso, não iam parar, e a pedra mais trazia problema do que outra coisa, não lembrava se era proibido o consumo na favela ou na linha do trem, onde era mais intenso o uso. Até teve certeza da linha do trem pois havia ninguém mais por lá. Era tudo cercado de lixo e dejetos humanos e não-humanos, ali se reunia de tudo, gente do trabalho, da escola, tudo a noite escondia. O narrador não fumava mais, o lugar lhe causava cada vez mais nojo, ele até ria no auge do crack sobre piadas de cracudo, mas quanto mais passava por lá e ouvia histórias de antes do vício, sentia vontade de chorar. Lembrou de uma mulher que conheceu, tentou vender um guarda-chuva, daí contou que abandonou Alagoas e toda a vida para tentar a sorte no Rio com a família. Contou da filha que tinha nove anos, que o marido aparecia volta e meia na linha, apanhava, trancava a mulher no quarto mas voltava ali de qualquer jeito, ela achava um jeito. Ela chorava desesperada. O narrador não sabia se acreditava na história, até contava os dentes dela enquanto ela chorava. Ela dizia como o marido precisava de alguém melhor, chorava de verdade e pediu um abraço. Na falta de um, cedeu a maconha que tinha, falando que dava um barato bom. Até comentaram de como era a qualidade de antes, como vinha em outro saquinho, Rodrigo, amigo do narrador, comentava disso, o narrador mal sabia, os saquinhos na Vila Vintém sempre mudavam mesmo. Lembrava do grupo inseparável, Rodrigo, Felipe, Alan e Thiago, uma vez foram passar ali, fazer a cabeça e visitar a filha do Léo, mais um pai. Pensava também se a amizade sobreviveria até a vida adulta. Alan comentava do gosto de amônia, enquanto Thiago dizia que o importante era no fim todo mundo estar de cara murcha. Deu nem duas voltas na roda e Rodrigo já ia preparar outro baseado. Felipe falava que era melhor investir, ele sabia onde ficava coisa boa. O narrador já previa a conversa, só pensavam em droga, já falava para inteirar 10 cada um. Alan falava que não tinha como, a droga era o que movia a cidade do Rio, se parasse por uma semana, a cidade morria. O narrador adiciona que era droga e medo. Era o terceiro baseado e só vinha uma pressão na cabeça. Mesmo que a Amanda fosse do bonde e até fumasse, até pensou se não era melhor outro dia essa visita, um filho muda uma pessoa e todos fediam amônia, além de ser já oito horas. Foram andando, até cantaram “Recado à minha amada” do Katinguelê, mas logo voltou o silêncio. O silêncio incomodava o narrador, esse abismo entre outra pessoa que sabe se lá como se rompe. Voltavam a conversar dos dez contos para inteirarem na maconha no Jacaré, discutiam do horário para pegar, de pagarem certo e o narrador sabia que era uma tentativa de voltar à normalidade anterior. Aí começou uma história do Alan, estava todo arrumadinho para não ser pego pela polícia e aí surge uma cracuda, olhou ele de cima em baixo e disse que chupava o pau dele por cinco reais, pior, já retrucou falando que chupava de graça. Os outros já o chamaram de galã das cracudinhas do Jacaré, já até disse do possível problema e da falta de dente como vantagem, começaram a rir e pararam só quando o trem passava. Até pensou se não era efeito da onda, como quando o Vítor sentia nada ao tomar um pedaço de quadrado pela primeira vez. Era sempre mais fácil ver de pé se bateu ou não. Mas aí o narrador não sentou de volta, sentia uma agonia. Tinha vontade de sair andando dali e seguir seu rumo, mas ficou quieto segurando a bad e sem contar a eles. O narrador sempre falava que a onda tinha que ser aceita, ria e achava estranho os outros que fritavam, mas era alertado que sua hora chegaria. Mas logo voltou à calma, achou estranho como ele sofria daquele jeito e ninguém viu, sentiu que podiam todos serem sozinhos, “sem nunca permitir que o outro habite nossa intimidade”. Ele até ficava neurótico antes, achando que as pessoas o vigiavam, prestavam atenção em tudo, pior ainda quando fumava. Mas não era verdade, ninguém ligava, “Nossa dor, nosso vício, nosso vexame, é tudo muito distante dos outros.”. Passaram o baseado, era o último, fumou sem gosto e pensou se todo aquele corre com a polícia, fumar maconha com amônia e ficar ruim valiam algo, mas pensou que essa felicidade que tinha com os amigos eram o importante. Levantou e estava cansado, queria ir para casa. Apareceu um amigo do Rodrigo, pedindo folha de caderno e falando gago. Ele ia fumar, até ofereceu um fininho, mas falaram que só servia fumar aquela erva com pedra. O narrador viu de longe uma mulher fumando em uma lata de Guaravita, o crack tomou conta da favela e era difícil controlar tanto viciado. O narrador até desistiu de falar algo porque adiantaria de nada, pensou que tudo poderia ser dez minutos, juntar o restante de cada grupo e fumarem. Nisso, apareceram dois caras em uma moto, o passageiro segurando AK e quando o narrador viu já estava na parede, levando bronca que não podiam fumar crack, mas a moça já chorou gritando que estava grávida. Falou de volta que se quisesse o filho vivo, não estariam fumando, depois de mais intimidação do motorista mostrar a pistola, o da AK perguntou quem queria ser o primeiro, apontando o cano na cara de cada um por um tempo. Nunca viu tanto medo na cara de todos, pensou o que aconteceria se deixassem de existir naquele momento. Como sempre, estava sem identidade, esquecendo dos alertas da mãe de sempre andar com a sua. Ouviu o pagode e conectou as ideias, ele estava querendo jogar terror, era muito provável o tiro atravessar a parede e pegar morador, e não iam levar todos favela a dentro para matar. Agora era focar em parecer apavorado e não sorrir de deboche como sempre faz. Soltou a ordem de sair correndo e uma rajada de tiros para o ar, corriam todos desesperados e a grávida mais ainda, ele ia menos rápido, via todos e pensava que um dia escreveria aquela história. Contexto histórico – 2012, Governo Dilma, intensificação do combate ao uso de crack Elementos literários – Interrupção da normalidade, o sentimento de ser diferente Construções importantes – O sofrimento do morador, a culpa do indivíduo ”A representação da favela nos contos de ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por André Natã Mello Botton – https://abralic.org.br/anais/arquivos/2018_1547745521.pdf

Conto 10 – O cego “Seu Matias nasceu cego.”. Nunca viu arma, mulher, mar, mas vivia como se o mundo fosse feito para ele, pois também ouvia, cheirava, tocava, falava e sentia. E falava muito, pois usava sua voz para arranjar uns trocados. Tudo variava, religião, começo de mês, bom humor, consciência, mas recebia o suficiente para trabalhar dia sim e dia não. Não gostava das crianças, atropelavam uma fala da outra e era difícil ver tudo, gostava de falar com os idosos, pessoas que falam com gosto, sem medo de gastar tempo pois usam ele para falar com detalhe. O pai morreu aos 6 anos sem fazer diferença ou sentido, vivia bebendo demais. Os irmãos forma embora: Marcos com uma mulher mais velha com filho; Mariana com o pai da criança. Dona Sueli foi derrubada pela doença, só ficou Matias e as fofoqueiras para cuidarem dela. As vizinhas até perguntavam dos filhos que não cuidavam dela, ao qual ela respondia que criou os filhos para o mundo. Pensava em como se alimentar e ganhar dinheiro, não queria ficar com a caneca mendigando, queria conversar, contar a história. Treinou o que falaria no ônibus, do pai, da mãe, pediria para Deus abençoar todos, os que contribuíram e que não podiam. Os primeiros dias foram fáceis, sabia onde colocar piadas, mas a tristeza de ter que repetir a história, a solidão vinha com a contemplação do que viveu e vivia tomava seu coração “e viver de caridade passou a ser um inferno.”. Aproximou-se de um menino chamado Desenho, todos juravam que era bandido. Fazia avião, buscava quentinha para traficante, comprava pó para viciado, e gastava a grana que ganhou comprando baseado na mesma boca. Um dia Matias sugeriu irem juntos, e ele lembrava levemente, aí que aumentaram os ganhos, tinham dó do suposto filho de cego, e também ganhava bem mais que no morro, para alegria dele e conforto da mãe. Entretanto a idade veio, Desenho já era velho para bater uma laje, aos 16 comprou uma moto e virou mototáxi. Matias ia ficando velho e ia sozinho. Ficavam separados, não que falassem muito, mas continuavam o contato. No final do trabalho, pegava o dinheiro do velho, comprava o tanto de maconha e cocaína que podia e ficavam “a noite inteira fumando e cheirando, num papo angustiante em que não se olha no olho.”. Elementos literários – Limitação criativa, preenchimento criativo de descrição Construções importantes – Marginalização de membros da sociedade, deixar ao leitor que complete a história ”(Re)pensando subjetividades marginalizadas ‘no’ e ‘pelo’ discurso literário de Geovani Martins” por Élida Cristina de Carvalho Castilho – https://repositorio.ufms.br/jspui/retrieve/c2b92fb6-f1e8-4da2-80f4-926f24601479/ÉLIDA CRISTINA DE CARVALHO CASTILHO – VERSÃO FINAL.pdf

Conto 11 – O mistério da Vila

“Em memória de dona Maria de Lourdes”. Ruan, Thaís e Matheus voltaram para a rua refrescada da chuva de verão. Ao final da rua, morava uma senhora antiga, a dona Iara, e dessa casa que já via a terceira geração de família crescer, vinha o cheiro de macumba. Os moleque armaram dois golzinhos entre lombadas, tentando chegar mais perto da casa, ouvir o barulho de morcego, rato e bambu rangendo ao lado do valão. Até que um sai correndo em disparada e todos vão, naquele terror de primeira infância. O que saiu correndo disse que viu algo saindo do rio, em meio de risadas e sorrisos de cumplicidade. Um sempre concordava, aumentando a ansiedade. Dona Iara era cumprimentada durante o dia, iam para buscar cigarro, o resultado do jogo do bicho, parecia santa de dia, mas de noite era outra forma, com o cheiro e o barulho de coisa rangendo. As crianças comentam como macumba era coisa do diabo, que podia ser coisa de gente de bem e até possuir. Quando mudou, ainda era vivo Jorge, seu marido, que era pai de santo e reunia até os católicos na gira no quintal. O passar dos anos fez o número diminuir, que parecia vir com o crescimento de igrejas em volta, os antigos frequentadores convertidos agora deixavam o terreiro mal-falado. Usou as lembranças para se consolar, mesmo querendo vender a casa que tinha raízes suas com o terreiro. Um dia, um menino chamado Matheus estava ardendo de febre, igreja e médico não ajudavam, mandaram chamar dona Iara. Enquanto rezava e passava erva, todos gritavam cânticos de igreja. No final, tragou cachaça, pediu para todos também o fazerem, fizeram, e disse que ia melhorar, com a resposta de que Deus estava com eles, era só um susto. Quando dona Iara se foi, fizeram um pacto de nunca contar na rua o que aconteceu ali, só Matheus que contou para Ruan, mais ninguém. Em outra vez, a casa do Ruan ficou infestada de carrapato, dona Iara pegou três, colocou numa caixa de fósforo e mandou colocar em uma encruzilhada. A avó levou Ruan e Ruan só contou para Matheus. Da família de Thaís, menos o pai era testemunha de Jeová, ele era alcoólatra. Thaís não comemorava aniversário, não comia doce de Cosme e Damião, não doava sangue e nem usava troco para comprar cigarro ou jogo do bicho da dona Iara mas foi ela quem desamarrou a barriga no ventre no parto. “A mãe de Thaís nunca contou para ninguém.”. As crianças voltam de novo para o lugar do susto, escondendo-se com o coração batendo forte, que no fim dava história animada na frente do bar do Galo Cego. Em uma noite, soltou um barulho forte, a porta. Mílton, um dos filhos de Iara saiu correndo pela vila, suado, cheirando, eles achavam que estava possuído. O carro do tio do Matheus logo chegou e levavam o corpo desacordado de dona Iara para o carro. As crianças se espremiam escondidas para ver tudo, Ruan e Thaís sentiam vontade de abraçar e chorar, a velha saiu para o pronto-socorro. A porta estava aberta, ninguém sabia o que dizer e nem queriam contar a história no bar do Galo Cego. Ruan fechou a porta e todos foram embora, com a noite suspensa por um medo diferente. Ficaram sabendo pelo Matheus que soube dos filhos dela, era derrame ou infarto, por pouco não morre e ia ficar no hospital. Sem que vissem, Thaís pedia a Jeová pela vida de dona Iara, todos os dias e ocasiões, sem saber se era pecado orar por macumbeira. Ruan ficou em casa, sozinho, sem fazer barulho. A avó perguntou se brigou com os amiguinhos, ele disse que não queria que dona Iara morresse e a lembrou dos carrapatos. Ela disse para pedir para Deus, melhor, um santo, pois Deus ia ouvir o santo. Ruan olhava para as figuras que sempre conviveu e nunca pediu nada ou se quer prestava atenção. Ia pedir para Nossa Senhora, parecida com dona Iara, desistiu. Não sabia o que dizer e a quem, mas São Jorge, com um cavalo e uma espada que era capaz de matar um dragão era quem podia fazer qualquer coisa, as palavras saíram naturalmente, o pedido também e agradeceu antecipadamente. Ruan e Thaís voltaram para as brincadeiras da rua sem parar de orarem e pedirem preces, só Matheus parecia apático. Ruan ficou inconformado com sua indiferença da dona Iara, cobrou dele pela história de segredo e ia bater nele se mentisse da reza. Matheus saiu e foi embora. Dona Iara voltou perto do horário da novela, apoiada aos filhos, as crianças queriam espalhar as boas-novas. Ruan e Thaís foram à casa de Matheus, Ruan se desculpou e propôs de visitarem dona Iara, ele aceitou as pazes e falou que preferia ficar ali jogando videogame. Ruan soltou que se fosse assim, esquecia as pazes e nem precisava mais conversar com ele. Como eram melhores amigos, pausou o jogo e foi com o bonde. Chegando lá, dona Iara estava vestida de branco como santa com uma vela acesa ao lado de um copo de água, igual a vó de Ruan. A casa tinha um cheiro estranho, com pouca luz, mas o suficiente para os olhos de dona Iara brilharem. Thaís disse que pediu a Jeová pela vida dela, beijando a cabeça da velha, ela agradeceu e disse que devia estar viva por Deus. As crianças acharam estranho como falou de Deus, ela contou do que passou no hospital, teve medo da morte, contou de como chegou lá, como era a rua, das festanças. Eles ouviam tudo atentos, até das histórias de Orixás. Quando deram conta, já precisavam ir, Ruan contou da promessa de São Jorge, dona Iara riu, falando que ele era filho de Ogum, como disse a avó dele. Dona Iara se recuperou, voltaram os dias de cheiro com as brincadeiras. Nem parecia que tinha acontecido algo, era tudo o mesmo, menos Ruan, que invadia a vila sozinho, que ia para ouvir as histórias de seu protetor e pai, Ogum Iê. Elementos literários – Tradição oral, a memória como símbolo da literatura contemporânea Construções importantes – Sincretismo religioso, religião de barganha ”Ancestralidade e memória da cor ausente em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Cláudio do Carmo

Conto 12 – Sextou

Quando a mãe do narrador descobriu que ele fumava cigarro, ela não deu um esporro como achou que teria, mas parou de dar dinheiro e falou que se era grande o suficiente para ter vício, podia trabalhar. Até ficou bolado, mas entendeu o papo. O primeiro trabalho foi de boleiro com Márcio, professor de tênis. Arranjou dinheiro para as compras e até dormiu com seu primeiro Nike quando comprou um. Tinha o maior orgulho em cada pisada, ainda mais quando foi para a escola com ele. Gostava da sensação de ajudar em casa, queria trabalhar para sempre. Entretanto, o mesmo desejo sumia quando precisava trabalhar para gente que nem olhava na sua cara com o sol ardendo na cabeça. Odiava os idosos mas principalmente os mais novos, o jeito de falar, andar, tratar funcionário, pensava no que gostaria de responder, só que o pior de tudo eram os problemas que reclamavam, que iam desde a empregada não foi para não aguentarem mais irem para a aula de inglês. Em casa ou na escola a raiva passava devagar, com os amigos e a comida na mesa. Um dia, tudo explodiu, um aluno disse que parecia um personagem de desenho, mandou tomar no cu que não era amigo dele, nem o aluno e nem ele acreditou no que aconteceu. A mãe ficou bolada, Márcio disse que quase fode com o trabalho dele e parou de falar com o narrador. Ele se sentia mal, foi ele que o levou para ver um jogo de futebol pela primeira vez, e ver o Flamengo fazer gol dava vontade de ir abraçá-lo e celebrar. Trabalhou em outras coisas, mas era sempre fazendo algo para os outros, chegar na hora e ter sangue de barata. A convivência com o padrasto piora a, a mãe ficava quieta, o narrador ia na máxima de “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, apesar de pensar que aquilo era uma bobagem, “o caralho”. Arranjou um trampo de indicação de panfleteiro, 30 reais por dia, das 8 às 16, diferente de como não se firmava em outras coisas antes, ficou quase um ano, dava para quem pegava o papel, quem não pegava, sempre tinha outro. Tinha tempo o suficiente para sonhar. No primeiro dia chegou bem antes, viu gente grávida, mais velha que os avós e muita gente. Pensou até não ser ali, mas viu o amigo, chegou o fiscal momentos depois e ele entregou um maço de papel, tinha que entregar na rua da Carioca, na esquina. No começo sentia vergonha, olhavam-no com raiva ou pena, levava para o pessoal até entender que não era ele, mas o que ele representava, um entregador de papel. O difícil era quando passava gente que conhecia, fingia que não estava ali, um amigo ouviu que ele estava na correria e até que queria se arranjar ali, outra era uma menina que estava desenrolando, só que ele continuou trabalhando e ela passou batida. Quis usar o pagamento da primeira semana em maconha, salvar quem salvou ele nos corres, pagar a internet e algumas coisas da casa, ia ficar duro, mas trabalhar o dia inteiro tem essa vantagem, nem dá tempo de gastar o dinheiro. Comprou uma passagem de um cracudo, podia ser golpe mas ele conhecia onde ficava, arriscado tentar dar um golpe, garantiu que tinha duas passagens, pegou o trem depois de tanto tempo e estava lotado no horário das cinco. Os camelôs tentavam achar espaço que nem tinha, em São Cristóvão os novos passageiros tentavam achar espaço e os antigos diziam para pegar o próximo trem aos empurrões. No Maracanã, choveu. Pensou na desgraça de uns e na felicidade de outros, eram dos garotos inseparáveis, magros de vareta, aproveitavam do clima e do dia para fazerem negócios. Conheceu eles quando foi comprar maconha, ele tinha rodado, ficou puto, e os garotos o salvaram. Chegou em Triagem, mal conseguia chegar na porta e pisou no pé de um. Não tinha força para passar, aí em Jacarezinho empurrou e saiu, sabendo que não ficaria para ouvir as reclamações. Estava enlameado, tinha até pouca gente que poderia achar normal, pensou que se tivesse operação, ia ter que achar outra rota. A maconha ali já fez muito sucesso e era ponto de outra facção, até encontrou um amigo por ali um dia, só não voltou com o amigo mototáxi porque ficar com droga no erro era difícil. Estranhava a falta de gente, da galera fumando maconha que era em abundância, além dos cracudos que não o abordavam pedindo qualquer coisa com insistência. Foi comprar a maconha com um menino que disse que a polícia já tinha passado de manhã, não tinha mais nada no dia e estava tranquilo agora. No que ele compra cigarro, a tia disse algo que ele não associou até ele ser encontrado por um policial na estação “Cuidado com os tiras!”. Eles abordam e começam a perguntar da maconha e, principalmente, do dinheiro que fez os olhos deles brilharem. Ele tenta concordar em ir para a cadeia, assinar papel, dar a maconha, mas que precisava do dinheiro. Os policiais, sem identificação, riem, falaram que ele perdeu tudo e tentavam esquematizar que tinham achado muito mais maconha com ele do que ele dia. No final das contas, ele vai com a maconha e fica sem o dinheiro, deram, após ele reclamar, 4 reais para pegar o trem. A passagem que comprou do cracudo não funcionou e teve que pular o muro do trem para economizar. Em casa, os amigos perguntaram se ele foi abordado, explicou como levaram o dinheiro e deixaram com a maconha. Foi dechavando, pensando em cada perrengue que passou com a polícia, ia crescendo o ódio que passou todas as vezes e naquele dia, foi ver tinha feito um charuto. Fumou, a galera reclamava dos vermes, mas fumou com tanto ódio, tristeza e desânimo que preferia que tivessem levado a maconha. Elementos literários: Regionalismo, hibridismo Construções importantes: Cidade partida, desigualdade social ”A identidade marginal periférica em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Dra. Ana Paula Franco Nobile Brandileone – file:///Users/alessandroperre/Downloads/2049-6625-1-PB.pdf

Conto 13 – Travessia

Beto já tomou bronca pela primeira vez ao encontrar com o o dono do morro que mandava sumir com o corpo, não queria saber de processo ou problema, se não, quem ia para a vala era ele. Já fazia ano que entrou na boca, segurava a metralhadora mas nunca atirou uma vez. A favela nem tinha mais aparição da polícia, estavam em uma época de calma, era tanta calma que muitos entraram na boca e nem tinham como fazer algo para mostrar o valor, ficavam apontando para o invisível e imaginando tudo. O problema é que a falta de experiência de mostrar que era sangue frio ia ter que ser colocada agora para dar embora do presunto. O problema todo veio que o cara comprou pó e fez cumprimento de outra facção, em vez de dar um coro ou uma bronca deu uma rajada. Passou a adrenalina e o ódio do momento e viu que o corpo também era filho de Deus e de uma mãe, a merda já estava feita no primeiro tiro. Era tudo difícil, tinha que ver um carro para levar ao lixão, de moto não dava, já sentia que ia ser taxado de vacilão do morro. Ficou pensando em como perdeu a chance de ganhar grana, via todo mundo antes de carro importado e ele precisava pagar fiado em marmita, “bandido duro é foda”. Beto, vai contando o narrador, ia pedindo ajuda e todo mundo se desviava, na hora de arranjar droga e pagar de bandido com arma todo mundo aparecia. Ficava puto com o dono do morro que não deixava desovar o corpo no mato, a polícia nem subia para pegar droga, imagina entrar para procurar corpo de drogado morto, mas tinha que respeitar. Arranjou um Chevette para pagar depois, já sentia que ia ser parado, polícia gostava de parar carro assim, sem documento, com lanterna faltando. Pensou em levar de madrugada, mas aí mesmo que iam parar ele com sede de fazer trabalho. Decidiu ir no fim da tarde com a ajuda de Deus. Fazia tempo que não dirigia carro, no morro era de moto. Pensava no nome do corpo espremido no porta-mala, quis até que nem tivesse família e lembrou de como se afastou da mãe quando trocou os cultos por maconha. Teve dó da mãe, bastava o filho ficar na boca, mas ser assassino e ter que lidar com as fofoqueiras do culto ia ser uma desgraça, povo bom para cuidar da vida dos outros em vez da palavra de Deus. O pior rolou, o Chevette morreu em área de milícia, já estava todo doído de dirigir nervoso por trinta minutos e nem tinha grana para desenrolar ali. Viu um bar com uns coroas jogando sinuca, bebendo cerveja e que muito provavelmente tinha um miliciano. Os mesmos velhos já iam em direção ao carro e dava para ver a arma na silhueta da camiseta, vinham três. Ia explicar sem saber como, pode ser que se falasse que o presunto era viciado aliviasse, mas o número de tiros denunciava que trabalhava na boca, e aí ficou pensando em como ia morrer, ser torturado antes até verem dinheiro, e não iam ver, estava queimado e o pessoal do morro ia falar para matar mesmo, era destino de vacilão. Pensou na mãe de novo. Pensou agora em Deus. E o Chevette foi, ajudaram sem nem perguntar, ele mesmo já ajudou e nem sabia o que ia dentro, talvez as coisas melhorassem, era cria do bagulho, não tinha motivo para ficar taxado para sempre. No lixão, tinha até gente procurando, mas ele viu que nem prestavam atenção e já puxou o saco de lixo, pesado. Se fosse no mato, ia tacar fogo com gasolina, mas ali o fogo se alastrava e ia ganhar fama de vacilão e até pagar por isso, aprendeu a se controlar naquela situação e deixou para os urubus. Avaliava se voltava ao plantão, podia mostrar à galera que passou, errar era humano, qualquer um pode perder a cabeça, ou se não voltava e depois vinha no sapatinho. Só sabia que sentia ódio. Voltou e era como se visse o morro pela primeira vez com os moradores, cachaceiros, gente vendendo droga, e sua vida desmoronou na boca, mandaram o papo de vazar e nem se despedir, o morro ali não era lugar para gente emocionada. Achou que ia tomar bala, era feio morrer para vacilão, ele era cria, achou que não ia ser assim pela reação de quando voltava. Deu meia-volta, sem medo de tomar tiro pelas costas. Ia descendo, lembrando de coisas da infância, festanças, correr, sonhos de trabalho, sonhou em ser jogador de futebol, piloto, técnico de informática, nunca pensou no tráfico, olhava tudo pela última vez, sem saber onde dormir, com o peito doendo de amar e odiar aquele lugar e saber que tudo seria diferente a partir daí. Elementos literários: In Media Res, Anedota Construções importantes: O outro lado do tráfico, desconforto ”A representação da violência em ‘O Sol Na Cabeça’, de Geovani Martins” por Keury Carolaine Pereira da Silva – https://repositorio.uema.br/bitstream/123456789/1868/1/Dissertação – Keury -1 PDF- A.pdf

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Tema de Redação da UEA SIS 3 de 2021 – “Uso de redes sociais por crianças: proibir ou permitir?”

O tema de redação da UEA SIS 3 no ano de 2021 teve a pergunta “Uso de redes sociais por crianças: proibir ou permitir?”. Os textos motivadores ajudavam você a conseguir decidir pelo lado da permissão ou da proibição.

Confira a seguir os textos motivadores na íntegra

Texto 1

Para evitar riscos da exposição de crianças nas redes sociais, o Instagram decidiu seguir com mais rigor seus termos de
uso da rede social, que indicam que a idade mínima para ter acesso ao serviço é de 13 anos. Em março de 2019, por exemplo,
um garoto de apenas 8 anos criou uma conta e, meses depois, a rede social decidiu notificá-lo da impossibilidade de seguir
utilizando-a.
Essa notificação levantou um debate sobre os riscos da exposição das crianças na internet e sobre a responsabilidade das
empresas de redes sociais de zelar pela segurança desses usuários, como explica o psicólogo clínico Vítor Friary, para quem
é preciso restringir o uso para crianças. Segundo ele, “Temos que avaliar a idade para usar as redes sociais, pois a criança
não tem preparo emocional e habilidades socioemocionais para agir de forma responsável diante de alguns problemas com os
quais ela venha se deparar durante esse acesso”.
O menino Gabriel César, de 12 anos, tem Instagram e gosta de acompanhar as novidades da rede. “Nele, posso ver tudo
que meus amigos postam, material da escola, ver os stories e também compartilhar novidades”, conta. Mas a mãe de Gabriel
não deixa o filho ter acesso livre à rede. A psicóloga e psicopedagoga Dulce Maria Morais coloca a sua posição quanto a esse
debate: “Não vejo como errado criança menor de 13 anos ter rede social, em função da necessidade, em nosso mundo, de se

aprender a usar as tecnologias virtuais. O que considero imprudente por parte dos responsáveis é a criança, sem monitora-
mento, ter rede social”.

(Aline Lourenço. “Crianças de até 13 anos terão Instagram deletado; entenda o motivo”. www.em.com.br, 20.09.2019. Adaptado.)

Texto 2

Embora a maioria das plataformas estabeleça a idade mínima de 13 anos para a criação de um perfil, cerca de 20 milhões
de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos eram usuários de internet e ativos em redes sociais em 2018, segundo a pesquisa
TIC Kids Online Brasil.
A pesquisa ainda apontou que o uso de redes sociais por esse público está associado a uma série de benefícios. As redes

sociais ajudam os jovens a terem acesso à informação, construírem suas identidades, aprenderem sobre o mundo, se expres-
sarem e se relacionarem. As crianças estão desenvolvendo uma identidade virtual ao escolherem o que e como compartilhar, o

que consumir e quem seguir. Elas têm a chance de produzir conteúdo, aprimorar sua capacidade criativa e propor discussões
sobre os temas que as cercam.
Contudo, ao usarem as redes sociais, as crianças também estão sujeitas ao cyberbullying, que é a violência praticada
contra alguém via internet, e a situações de superexposição. Renata Guarido, mestre em psicologia e educação, pondera:
“qualquer episódio preconceituoso ou de insulto recebido pelas redes vai demandar da criança uma condição de lidar consigo
mesma e com esses ataques muito superior aos recursos psicológicos que ela tem, não apenas pela idade, mas porque a
exposição na internet é muito grande”.

(Mayara Penina. “Eu, criança virtual”. https://lunetas.com.br, 26.06.2020. Adaptado.)
Texto 3

Quanto mais exposição nas redes sociais, maior a quantidade de mensagens negativas com críticas, mas também men-
sagens positivas, elogios e bajulações. Essas últimas eram as maiores preocupações da mãe de três filhos Fernanda Rocha

Kanner, 38 anos, de São Paulo. Para proteger a futura saúde mental de sua filha Nina, ela resolveu apagar as redes sociais
da menina de 14 anos. Mas a decisão não passou despercebida, afinal, Nina tinha quase 2 milhões de seguidores. Fernanda
explica as razões de tomar essa decisão: “Não acho saudável nem para um adulto e muito menos para uma menina basear
referências de autoconhecimento em opiniões virtuais. Isso é ilusão. Eu não quero que a Nina cresça acreditando que é esse
personagem virtual”.

(Sabrina Ongaratto. “Mãe apaga redes sociais da filha de 14 anos com quase 2 milhões de seguidores:
‘Proteger a futura saúde mental’”. https://revistacrescer.globo.com, 20.07.2021. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empre-
gando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

Uso das redes sociais por crianças: proibir ou permitir?

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Literatura Africana Niketche: uma história de poligamia Paulina Chiziane Resumo de Cada Capítulo UNICAMP 2025

“Niketche: uma história de poligamia” de Paulina Chiziane – Resumo de Cada Capítulo

Capítulo 1

O narrador fala que ouve um estouro e pensa em se esconder. Rami, ou Rosa Maria, a narradora, é chamada pelas vizinhas para falar que Betinho que quebrou o vidro do carro. Ela sente-se mal pelo seu caçula de ter batido em carro de gente rica e pensa em como Tony podia deixar-lhe assim. O caçula voa para o quarto como que procurando o sossego que viria antes do castigo, Rami quer se sentir viva e quer castigar. Mas a cara dele de choro era demais e ela não conseguia, o menino só queria uma manga. Pedia castigo, Rami fica encantada, ainda pensa em Tony e como ela devia cuidar das coisas de homem. O dono do carro falava fino e não foi violento, ela explicou que Dr. Tony, comandante da polícia, resolveria. Aceitou, mas não sentiu crença nas palavras da mulher desesperada. As vizinhas consolam Rami. Tony era o culpado, sua ausência era perceptível e sabia por onde andava, trabalho não era. As outras falavam de como os maridos delas também as largaram. Rami não entende como os homens fazem isso com as mulheres, procurar algo novo e criar novos apetites na velhice. Para acalmar a dor, as outras mulheres contam suas dores. As mulheres sofriam caladas, mandavam ali, poucos homens passavam por ali de noite como amantes. Ela pensa em como o amor é dito e relacionado com os homens e as mulheres. Encostava a cabeça na cama fria pensando como ela foi ter aquela situação de ficar com um homem ruim sendo bela. Ela não se vê, depende dele. Dava tudo, obedecia e era desprezada. Agora que tinha mais dinheiro ficava com outras mulheres de Maputo. Não se achando psicologicamente, foi ao espelho ver-se fisicamente, tinha olheiras, chorava muito. Via uma coisa e sentia outra, até tentou falar consigo mesma, chorava e lamentava-se, não aceitava ter sido trocada do marido. Como parte da cultura, a música, o canto e a dança são para todos os momentos. A mulher feliz e bela que vê no espelho não condiz com Rami. Beija o espelho e sente frio, aquela era quem era e queria ser de novo.

Capítulo 2

Ao acordar, Rami lamenta mais ainda. Ela não lembra de ter lutado ou ter ido atrás dos desejos. Ela se sente um rio vazio de vida e quer se sentir viva. Ela vai encarar a tal Julieta – ou Juliana, não sabia bem – que tem filhos de Tony. Quer confrontá-la, machucá-la. Comeu bem, tomou banho, foi andando até a casa que sabia onde era. Bateu na porta, teve remorso, ela abriu, teve raiva de vê-la gordinha, e disse que estava ali para ter o marido. Ela entra na casa e vasculha, vendo tudo maior e mais bonito. Ela vê uma foto pendurada de Tony com a moça e fica com raiva, Julieta a trata com carinho e aí que piora tudo. Ela começa a xingar, dizendo o que nunca disse e assustando Julieta, daí elas partem pra agressão física, mas Julieta toma vantagem, Rami foi para apanhar e desmaia. Apesar de tudo, Julieta levou ela para dentro, deu banho e cuidou, respondendo que ela que devia saber onde o marido que ela procurava estava. Toda aquela contradição ofende Rami, a casa, as roupas, os quadros pendurados. Julieta disse que namoraram enquanto ainda era pequena, que Tony era casado por obrigação e esperava um momento para poder se divorciar. Tal qual Rami, tinha 5 filhos. Faziam 7 meses que ela não via Tony. Ele só aparece para deixar dinheiro. Há uma analogia de como Deus faz os homens e as mulheres, nada é o mesmo. Agora Rami tem dó. Ela era vítima, não rival. Rami consolou e quis saber onde ele estava, Julieta dizia que com uma terceira, já até tentou tirar satisfação. Rami achou estranho, pois o marido não era dela, e Julieta perguntou desde quando “teu” era algo para homem. Entrava e saía da vida de mãos vazias, tudo que chamava dela seria por pouco tempo. As duas sofriam, mulher só mudava de rosto e nome. Saiu de lá num táxi com roupas da rival. Ela fala com o espelho, não sente saudades de Tony e quer que fique longe. Quis deixar tudo, cantou para espantar os males. Queria divórcio, mas outra mulher dormiria na cama e cuidaria dos filhos. Decidiu ficar. Ler página 20

Capítulo 3

Tony dormia, roncava muito. Respondia “sim”, “não” e rosnando. Os pensamentos são fortes e ela acorda o homem que reage a nada para perguntar se lhe traía. Rami desembuchou tudo, da dor e da saudade, até do encontro com Julieta. Ele ouve e vira para dormir de novo, ela diz que traição é crime, ele diz que os homens são livres e as mulheres que pecam. Ele caiu no sono de novo e deixou ela ali, pensando no que ele sonhava. Ele acorda meia noite, enquanto era observado por Rami, como se chamassem pelo além, veste-se e vai. Há uma superstição de mudjiwas, reencarnações de cônjuges que vagam pelo mundo. Ele reclama que quer dormir em paz e vai embora. Ela queria que ficasse, mas ele vai embora antes.

Capítulo 4

Rami pede ajuda para entender o amor. O amor não é matemático e varia. Ouviu de família, mãe, amigas sobre causos e truques, sem poder entender como realmente saber do amor. Ela terá a primeira lição. Percebeu que emagreceu e pensou se estava feia, perguntou ao espelho. O espelho sorriu mudo e disse que era gorda, ela emagreceu, com o custo de um marido que a deixava louca, ele disse como ela era sortuda de ter um marido que a fazia emagrecer. Rami achou o espelho louco. Ela pede conselho ao espelho, ele diz para varrer tudo do peito e considerar que não há mulher culpada, e se quer existe homem inocente. Na primeira aula, a conselheira de amor a espera. Ela troca as letras, Rami não ri e fica feliz com a nortista. Ela era bem gorda, preenchia a cadeira, mas posava como rainha que conhecia tudo do amor, Rami invejava e pensava no que ela já devia ter passado. Na Europa, a beleza é magreza, na África, gente gorda era de alimentado bem. Rami a acha atraente, ela não era mais bonita, mas era mais magnética. Começam falando de família, Natal, e finalmente chega a pergunta de como ela estava. Ela sente vergonha, a conselheira diz que amor não se compra e não há o que ter de vergonha. Falaram de costumes e de tradições, como foi o preparatório para o casamento. Ela dizia de bordado e rezas, a conselheira perguntou de sexo, ela sabia de nada, não ouviu disso no campo e na igreja. A conselheira disse que era criança. Ela lembrou da frase “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, sem lembrar da autora. Falaram até de costumes de besuntar a pele, do tabu da menstruação, alimentação, trabalhos domésticos, intempéries, das mulheres do norte serem taxadas de frescas e falsas e as do sul serem frouxas e frias, são tratadas diferentes pelos homens, as do norte são compartilhadas e as do sul são gado. As do norte se embelezam e dão luz, as do sul falam alto como trovoadas e se vestem porque não podem ficar nuas. Os homens do sul ficam louco com as do norte e vice-versa, o primeiro pela beleza e o segundo pela subserviência. As mulheres do sul gostam dos homens do norte porque são gentis e as mulheres do norte gostam dos do sul pela agressividade. A grama do vizinho é sempre mais verde. A conselheira descobre que Rami nunca foi às escolas de amor e nem outra que não fosse cristã. A conselheira contou que ensinavam de amor e sexo. Dizia como aquilo engrandecia, e Rami ficava incomodada de ser taxada de criança, contou de Tony e sua infidelidade. Ela disse que seria mais fácil compartilhar ele, em uma poligamia. No Norte de Moçambique a partilha é comum, de bens, de comidas, até de parceiros, a mulher é luz e é dela que sai o sobrenome dos filhos das famílias. No Sul, a mulher é posse e vai pro irmão mais novo em caso de morte ou ser estéril. Rami não conseguia, era moderna mas egoísta. Ela conta que Tony também não foi às escolas de amor, e a conselheira dizia que ele era criança também. Ela ficou mais furiosa pela desqualificação do marido do que ela, a conselheira explicou que na escola do amor é ensinado que mulher é sagrado, é como mãe ou Deus, não se bate, agradece-se, idolatra-se. Ela pensa no tanto de violência que passou, passa e que até em Julieta fez. Ela conta das cores e como homem se atrai. Tal como insetos, as mulheres precisam de cor e flores. É bicho de som, é sempre bom cantar, gritar o espanta. O olho de homem é como elefante, encanta-se com coisa pequena, astuta, como gripe, infecção de bactéria. O homem é uma flecha que viaja e destrói, deixa ele ser fim e você é princípio. O amor é pavio aceso e precisa ser reaquecido, como dia e noite, como as curvas de tudo e da mulher. Rami se encanta e sente-se revelada com ela. Ela aconselhou Rami a usar ouro para destacar a pele negra bela. Falaram da pele e das diferenças, no Norte é bom pele lisa, no Sul o oposto. Os olhos são também importantes, não há mulher feia pois o amor é cego, há mulher diferente. Conquista-se homem na cama e com comida, ela conta até das partes da galinha que vão para cada um. Rami comenta como queria que tradições fossem combatidas. A conselheira achava era bom, facilitava para fisgar e manter homem por coisa boba, como a moela de galinha. Rami participou de 15 aulas, até de temas proibidos e que foi reprimida. Revoltou por estar tão despreparada, mas na escola do amor não havia idade para começar. Sabia tanto de balé e de ideias cristãs de colonizadores mas sabia nada dos ritos do próprio povo. Aprendeu segredos só de colegas de ensino, aprendeu do poder da mulher. Queria testar o conhecimento em homem novo, ver o que podia fazer. Comprou roupas novas em tons quentes, ela deseja Tony e pensa nele olhando-a. Ele a observa, põe a mão nela e diz que estava cheirando açafrão. Quis ver a terceira mulher que arruinou tudo. O espelho a encorajou para continuar a guerra. Amanhã seria outro dia.

Capítulo 5

Rami queria ver a terceira, mas para aprender, como que ela conseguiu tomar o lugar de Julieta? Pensou em quem seria sua conselheira e saiu de manhã de casa. Porém, assim que entrou na casa começou a apanhar, não adiantava dizer que era de bem, muito menos que era casada em comunhão de bens, tomava a maior surra da vida. Foram presas pela a polícia, a vizinhança via a comoção e só sabia que tinha homem no meio. Muitas mulheres marginais estavam lá, a cela era pequena e quente, fedia. Luísa, o nome da terceira, segura mãos com Rami, que estava assustada. Era boa mulher, mas saiu sem cuidar da casa e dos filhos, olhava Luísa com remorso e lágrimas. Ao passar um vigia, Rami quis saber por qual motivo estava presa se era santa, o policial disse que era santa arruaceira. Quando ela disse que era casada com o comandante António Tomás, daí que ele se arrepiou. Quis saber o que ela fazia na rua e ela foi cobrar a infidelidade. Ele disse que homem era livre para achar na rua o que não achava em casa. Aceitou conferir a identidade e ameaçou que pagaria o sobro se fosse mentira. Antes de sair, mandou que libertasse Luísa, o guarda se riu e deixou as duas em uma sala fresca com banco gelado. Luísa, após um silêncio e desculpas, dizia que Tony era dela. Rami dizia que ela era bonita e podia ter bem melhor. Ela argumenta que ela teria nada por ser amante, vivia no segredo e sem direito. Ela aceitava a marginalidade, ela recebia o dinheiro e prazer, ela acreditava que mulher devia ser usada como objeto, sem ter ilusões de criar uma casa, ela sabia que Tony era casado e tinha dois filhos. Rami se assusta com essa mulher que aceita migalhas. Ela aproveitava a maré favorável até não ser usada mais, Rami dizia que a agressão foi demais, mas Julieta tinha ido na mesma semana e tinha agredido ela, Luísa só revidou. Rami queria conhecer, Luísa era de Zambézia, de uma aldeia que homem faltava e era compartilhado, daí sua postura de aproveitar o pouco que tinha, Tony a visitava pouco mas era o suficiente de alguém que só tinha homem velho na aldeia. Luísa acusa as mulheres do sul de roubarem homens, que haviam muitos estrangeiros e sobrava nada para elas. Rami perguntou qual motivo não procurava um só pra ela, homem tinha, mas com grana era difícil. Rami perguntava como ela se achava de Tony, enquanto recebesse dinheiro, era esposa, os filhos consolidavam ainda mais, quando não ganhava dinheiro, fazia qualquer coisa, mesmo que fosse Saly agora o interesse de Tony, uma quarta mulher. Ela fascina Rami, procura tudo o que tem nela que não tem em si: cabelo farto; pele lisa; fogosa; olhos brilhantes. Ela fascinava-se com Luísa. Ela finalmente descobriu e viu que muito de Luísa era Rami no passado. Ela entendeu que Tony foi atrás do que Rami foi, procurava juventude. O guarda volta repreendendo as duas por terem baixado o nível, que deviam se comportar com a mesma finura do marido. Se elas fossem fazer mais bagunça, o próprio marido cuidaria daquilo. Elas deveriam ter vergonha. Dali, Rami foi procurar Saly, que a indicou para Mauá, a quinta mulher. O coração de Tony tinha cinco pontos, um hexágono amoroso.

Capítulo 6

Rami sente o corpo todo dolorido e inchado das rivais que foram invadidas. Ela vai para o hospital, lá, vê um casal de idosos, um senhora empurrando um senhor na maca. Eles mostram marcas da vida que passou. Quando o médico fala com eles, o senhor cala a senhora. Farta, a senhora xinga-o de rabugento e o deixa ali. Ele a chama nervoso. Ele desmaia. Rami fica surpresa com tudo aquilo.

Capítulo 7

Rami procurava soluções, estava abatida fisicamente com as rivais. Apelou para a magia. O mercador de sorte diz que pode engarrafar o homem, Rami não se dá por feliz. Ele passa uma receita de sopa nojenta, e o que move esses mercadores é dinheiro, tem quem acredita e paga para ver. Ela pensa nas lembranças de um passado oposto. Lembra do calor e da presença, hoje tem silêncio e ausência. Pensou em um caso de ladrão que engordava ao tentar sair da casa que roubou e emagrecia se afastava-se da porta. Viu tudo mas não o viu engordando. Aceitou a magia mas não a sopa porque não queria o bafo. Aceitou também uma tatuagem feita de lâmina para enfeitiçar Tony, só que ela piorou. Funcionou, Tony veio cheio de amor e pegou na tatuagem que não curou, ela o xingou e ele foi embora.

Capítulo 8

O espelho é uma metáfora constante na obra, sobre evolução, idealização, saudosismo e autoconhecimento. Ela se sente mal com o presente e envergonhada com a situação social com Tony. Fez de tudo de crendice, roupa, creme e nada do amor de volta. Ao ver as amantes, apanhou da primeira, passou vergonha com a segunda, por apanhar e ter menos filhos e ainda ter que trabalhar para manter as crianças, a terceira bateu nela e falou que o que era dela estava no ventre e o marido era dela também, tinha nenhum homem perto e era feliz por ser casada e ter um homem por um dia do mês, tinha quem nem tinha um se quer na vida. A quinta amante, Mauá, tinha dezenove anos e era borboleta ainda, tinha nem como brigar com ela. Aborreceu-se de tudo, de ter ido para a escola do amor e de tudo, a tradição e os costumes são combatidos e tenta-se entender até que ponto devem ser mantidos ou questionados. Rami fala de como as mulheres suportam as piores coisas para ter um homem e evitar a solidão. Mas é mais preciso, como Luísa disse, o problema é homem rico. Os homens exigem beleza das mulheres, as mulheres exigem dinheiro dos homens. Ela até pensa como a Bíblia diz do mal das mulheres no mundo e pensa como que Deus as trouxe ao mundo. Ela até pensa em uma deusa, casada com Deus e reza o “pai-nosso” mas mudando para uma perspectiva de mulher casada. Os homens são naturalmente polígamos, mas Rami quer Tony e o terá mesmo que seja a última coisa que faça em vida.

Capítulo 9

Tia Maria conta histórias de poligamia a Rami em sua visita, foi casada aos 10 anos e era pagamento de dívida a um rei. Morou com 24 outras esposas e teve dois filhos de um guarda e morava com 2 maridos. Rami achava tudo estranho, Tia Maria falava que a vida era curta e tudo havia de se compartilhar para ser feliz, cachimbo, comida, marido e mulher. Rami achava tudo um harém, mas a tia explicava que todas dividiam as tarefas por igual e o rei era exemplo, tinha que agradar todas sem dar privilégio ou tratar diferente. Rami não compreendia como sua tia podia ser rainha no meio de tanta poligamia, ela explicava que nada faltava, que até na Bíblia a poligamia era comum, e o rei devia ter a quem mandar e ser sinal de prosperidade, com filhos e riqueza, sem ter festas de matrimônios que ele planejasse pois isso cuidavam os outros, e tudo era parte de um contrato de jogo político, exceto a tia que era pagamento de dívida. A primeira esposa era diferente, ninguém encostava e só com ela o rei dormia na cama. Ela era também magra e possivelmente pela amargura de ficar sozinha. O rei era inteligente e poderoso. Morreu e a tia foi casar com Marcos, pai das meninas, trabalhou na África do Sul nas minas de ouro e teve silicose. Tomás cuidou das filhas e acolheu Marcos. Marcos tinha fama de gostar de homens e ser gay, mas a tia deixava que os outros falassem, ainda porque ela era a devassa por ter dois maridos.

Capítulo 10

Rami bebia vinho na festa da criança de Luísa. Ela lamenta não ser mais criança e das pequenas preocupações sem saber das durezas da vida adulta. Acha o aniversariante bonitinho como Tony, lembra do seu filho, Betinho. A casa tem poucas reformas de mão masculina e de imposição da falta de controle das mulheres. Ela não ia de início para a festa, mas aceitou o convite para mostrar que não guardava rancor e até conhecer Luísa e quem a rodeava. De noite, as crianças se foram e um homem bonito trazia flores na casa. Era o amante de Luísa, ele não sabia disfarçar e Rami pegou rápido os indícios. Ela começa a ficar encantada com o homem e fala como Tony foi encantado por Luísa e a vingou de Julieta. No fim, a vergonha a abandona, poderia ser uma metáfora de ter vomitado metaforicamente e literalmente, a Luísa arrasta ela para o quarto, um tanto desconfortável que faltava homem, que Tony fez dois filhos ali. Ela tem um sonho metafórico de pedir vinho e um homem socorrê-la. No dia seguinte acordou na cama de Luísa e pensa que teve sexo com o amante de Luísa. Pensa que tudo foi uma trama, do vinho ao quarto. Ela diz como devia ter trazido sua capulana, um vestido típico de Moçambique, que protegia sempre uma mulher e que se rendeu e seu casamento estava errado. Luísa fez café e chamava-a de irmã, Rami sentia vergonha e se chamava adúltera, Luísa dizia que não era possessiva e vinha de onde emprestar homem era como emprestar colher de pau, ainda mais elas que tinham o mesmo marido e estavam quites. Ela se sentia estuprada e usada, Luísa disse que ela estava carente e precisava, ainda mais que ela colocava essas ideias de fidelidade das mulheres do sul como tola, já que Rami era deixada para lá e Tony continuava aprontando. Rami não quer ser mulher de vida e se pune por ser mulher casada, Luísa dizia que ela era casada, mas ganhava nada e era mais sozinha do que todas, era melhor ir achando o que podia e dar aos filhos uma vida que ela jamais teve. Ela bebe mais café e pensa. Ela até ouve a mesma cantoria de ontem e acha que está delirando, mas o mesmo homem retorna, cumprimenta Rami e ela fica toda nervosa. Não há mulher feia se amor é feito no escuro, muito menos mulher fria no fogo do amor. Ele admira Rami, desde o físico até sua atitude com Luísa de se unir. Ela acha que ele se aproveita da fragilidade do casamento e que abusou dela. Mas ele era carinhoso, diz que devia haver um basta na tirania de homens e até mesmo que não fosse por outra tirania, o que não era fácil. Ela pergunta de Lu, quer saber o que ocupa em sua vida. Ele já foi casado e também foi tirano, mas achou ela na rua voltando do serviço sangrando ainda grávida, expulsa de casa por Tony. A criança levou o nome de Vítor, o mesmo do homem que a salvou. Rami não acreditava que Tony era capaz disso. Vítor disse que homem é assim, faz às amantes o que jamais faria à primeira. Ele maldizia de Tony, devia ser largado em vez de motivo de briga das mulheres. Ele tinha remorso e por isso ajudava Lu, bateu na mulher no último mês de gravidez e perdeu o único filho que teria de outras duas. Ele queria casar com Lu, mas ela só tem ambições com Tony, ainda mais que ela não queria um padrasto, pois homem do sul trata mulher como sucata. Rami tem pena e se atrai, quer ajudá-lo e sela o compromisso com um beijo, entendeu que não era produto de álcool a atração. Ela agora considera Lu uma amiga, elas voltam juntas para a casa. As crianças a recebem e ficam felizes de a ver melhor, que vivia antes qual tal viúva, ela voltou uma nova mulher. Passou a frequentar a casa da Lu e ter o amante polígamo, ainda que se enojasse, precisava.

Capítulo 11

Rami ansiava por uma terra para chamar de sua, o que era impossível em uma cultura patriarcal que desapropria tudo da mulher. Ela tinha nem sobrenome que não ligasse a homem ou espaço físico e espiritual para repousar. Pensou na poligamia como uma solução para a situação, reverteria a situação de explorada, até mesmo porque ela já vivia nessa situação. Tinha histórias de mulheres magoadas que viraram sogras terríveis para se vingarem e com razão. O povo Macua era um sem poligamia pela influência do Islamismo, já o de Rami, com raízes cristãs, era poligâmico ainda que contradiz a lei atual e a influência, pois a raiz de Moçambique era a poligamia, mas o papa influenciou para mudar esse costume ao celibato. Porém, pouco poder se exerce com pouca mulher. Ainda assim, seguiam a poligamia sem seguir tudo, como ter as mulheres e regalias mas não cumprirem os deveres de tratá-las por igual e com respeito. É uma terra com costumes de homens que é preservado pelas mulheres. A obra ao longo da narrativa vai de questionar, aceitar e entender os costumes, não de simplesmente negá-los ou ir contra, pois os costumes também possuem raízes que beneficiam duas partes, como a poligamia antes e no momento da história. Rami até pediu que Deus trouxesse um novo Moisés que contasse de Adão com várias Evas, além de bananas, já que maçãs não existem por ali. Rami não achava ruim a ideia da poligamia e de Tony, mas queria que ele tivesse dito, seguisse os moldes, e até se casasse com mais feias e mais desastradas. O jeito que Tony fazia era desrespeitar a mulher e torná-la objeto, todas rodando o mesmo homem que nada devolve e só toma. Rami ainda se considerava adúltera, mas tentava usar palavras para mudar a situação e amenizar, como um eufemismo. A poligamia contava cinco esposas e dezesseis filhos, mais quatro no ventre, Rami tinha ciúmes, ainda que não pudesse pela cultura, até de não ser a que mais tem filhos e ia fazer mais um de birra.

Capítulo 12

Rami queria ajuda da família para tramar uma conspiração com a família e os tios sobre a situação com Tony. Era um ultimato de escolher as outras ou a primeira na frente da família. Ao visitar os pais, já fica triste com o pai que mal vive mais e sempre está de olhos fechados, como quem não quisesse saber do mundo. Começou falando de coisas pequenas e foi ao problema, o pai mudou de voz moribunda e olhos fechados para arregalar e culpá-la, dizendo que na época dela mulher só ouvia. Afasta-se do pai, que era para ser segurança e perde as esperanças, vai ter com a mãe e desembucha o sofrimento. Ela se compara com as mulheres, diz o que não tem e culpa a mãe por tê-la feito menos bonita. Ela sorri e diz que homem é como bode, vai pastar em outros lugares mas sempre volta, bastava segurá-lo pelos chifres. A mãe até chora, pois Rami a lembra da irmã mais velha morta por moela de galinha, o gato comeu aquele resto e o marido a espancou, mandou ir para a casa dos pais e morreu no meio do caminho por um leopardo. Rami não sabia antes da história porque a mãe não queria lhe dar pesadelos. Ela sentiu sua dor ser menos, teve pena e perguntou da reação. A mãe disse que elas só podiam obedecer, o pai de Rami era mais um homem como todos.

Capítulo 13

Rami perguntava a quem podia do que achavam de poligamia e de sua história. Os homens sorriam e falavam que era a tradição, as mulheres praguejazam e diziam que mataria todas as amantes. Os homens falavam que o marido devia ser respeitado, as mulheres apontavam sobre inimizade, traição e até de união. A tia lhe disse que “quando as mulheres se entendem, os homens não abusam.”. Ela analisava e via que Tony não era amoroso com as outras, as usava e somente passava mais tempo com Mauá. Pensava no futuro incerto de todas. Teve um encontro secreto com todas, faltando Mauá, pois ela era amada, diferente das outras. Luísa falava de como Tony deu filhos bons, Julieta o maldizia por fazer sofrer com mentiras, Saly se indignava com a falta de apoio familiar e de linhagem. Rami se solidarizava, mas se deliciava com as dores e de ser a primeira dama, coisa que pensou no nome e na loucura de haver uma numeração. Ela precisava tomar uma ordem para ajudar todas, dirigiu-se a cada uma da dor que cada uma sentia. Elas choram ao ouvir como são tratadas por Tony. Pediu união, elas se assustaram, Rami faria um novo monumento de esperança com os cacos que tinham de todas.

Capítulo 14

Tony tinha uma festa grande de 50 anos de idade do bom e do melhor, Rami tinha um plano e foi doce durante toda a festa, Tony estava contente e até carinhoso com Rami. Cada uma das mulheres de Tony chegava, mas elas trocavam alguns filhos entre si como se cuidasse uma da outra. Tidas vestiam o mesmo e as crianças também, tal qual tradição de poligamia. Tony tinha um misto de raiva e vergonha, tentava explicar o pessoal que cochichava da cena. Elas entraram como serpentes, não tiveram vergonha. O tio dele até fala da cultura bantu, mas achava exagero o tanto de mulheres e filhos, Rami o defendia como um homem fértil e provedor. Outro tio falava de cultura, miscigenação e todas tantas outras coisas moralistas. Muitos foram embora daquele reino de pecado católico e outros homens de poder saíram dizendo que tinham compromissos. Apenas ficaram as fofoqueiras. Nesse meio tempo, Tony tomou 4 doses de uísque duplo. Rami pediu que fosse conversar com ela e as outras mulheres, que já se uniram para viver em conjunto e em poligamia. Tony resmungou e falou que ia levar uns papéis que o Ministro esqueceu, de forma covarde. Não voltou mais e elas se divertiram por ali, Rami as encorajou de aproveitar o momento de visibilidade, Rami usou a arma que Tony usou contra ela. Ao fim da noite, ela começou a ter remorso, pensando que elas ganharam visibilidade, mas o que ela teria agora?

Capítulo 15

Bem cedo, a sogra de Rami a chamou, ela gritava e tratava-a como uma criança, como toda sogra trata a nora para manter o poder e a hierarquia. Tony tinha chegado abatido, chorava e dizia que o envenenaram, comia comida sem sal e a sogra a culpava. Ela contou os fatos, da traição constante de Tony e da reunião das mulheres aliadas. A imagem de santo de Tony caía e a sogra ficava quieta. Até que ela ficou doce e feliz, pensou que família grande era sempre bom, tinha quem podia ajudar em casa, dar felicidade e até tristeza, ainda mais com dezessete netos, a família ser grande era uma união da tradição bantu com a visão católica. Rami ficou surpresa e empolgada com a visão. Até perguntou se eram ilegítimos, a sogra disse da lei, mas todos eram ainda seus netos e a continuação da linhagem. A sogra ficava feliz, tinha gente para povoar o quintal dela e queria saber quando iriam, dizia como Tony era mal-educado e como escondeu essa felicidade dela. Rami disse que não dependia dela dos netos visitarem, exigiu ver Tony o quanto antes. Vergonha era ser operário sem dinheiro para ser polígamo, mas Tony era doutor e rico, precisava desfrutar do dinheiro com a família. Mauá era quem passava mais tempo com Tony e ele ficava magro, silencioso, irritado e tratava mal os subordinados da polícia, além de beber mais. Agora que as mulheres se entendiam, ele piorava.

Capítulo 16

Rami disse às rivais que viessem cobrar Tony de suas obrigações, deveres e responsabilidades. Ao longo do livro é uma ondulação de chamar as outras mulheres de rivais, amigas e companheiras. Ele reclamava, fugia, Rami aguentava tudo e Tony enfim soltou que tudo era porque não trabalhavam e mendigavam. Cada uma tinha um sonho de negócio, Saly já tentou mas teve que usar todo o dinheiro para curar o filho, Lu queria uma loja de moda, Ju gostava de crianças, Mauá foi criada para ser esposa. Rami organizou para que os negócios se unissem, ela vendia produtos, comprava roupa e revendia, inspirando cada uma, tinham agora negócios de cabelo, roupa, devolviam o dinheiro com juros e mimos. Tony reclamava, mas não o ouviam. Rami participava da venda de roupas e no mercado principal vendia para outras. Ouvia história na hora do almoço de violência sexual das vendedoras e como cada uma tinha no consolo da história ruim um lado positivo, de maridos, filhos, pais e padrastos. Rami contou da situação com a Lu, as rivais e o marido doutor, até da prestação de contas. As vendedoras se assustavam, achavam que eram irmãs e aconselharam a mentir ao Tony das contas. Disseram que ela precisava guardar um pouco para si, até mesmo de amantes de áreas que lhe interessavam. Elas diziam que ela continuar atrás de doutor era furada, ainda mais que eles só se preocupam com filosofias e não sabem manejar dinheiro. Ela até disse que eles podiam ajudar, mas elas dizem que eles só atrapalham. Ela finalmente entrou forçada no xitique. Ela e Lu abriram uma loja cada de roupas, Saly tinha uma loja de bebidas, Ju tinha um armazém, Mauá um cabeleireiro. As rivais se sentiam mal pelo passado violento e como tudo começou, ela aceitava que não tinha como ter começado bem.

Capítulo 17

A sogra de Tony se acabava de ver os netos, levava chocolate e visitava todos, falavam de como elas deveriam ser loboladas, que é um processo de pagar à família da noiva ou à noiva em relação ao casamento. Ela agora advogava pela poligamia e negava a monogamia, sistema que negou seus netos e os marginalizou, brigou até com o irmão que era padre, agora Tony honrava a família que tinha tanta dificuldade de ter filhos. A sogra foi contra os costumes cristão e voltou às raízes sem resistência da família. Ju e Lu foram loboladas, uma com dinheiro e a outra espantada com o tanto. Tiveram que adaptar pois os filhos já estavam casados. Todas elas lobolaram com papel especificando as cláusulas e retirando o assistente conjugal. Finalmente as mulheres aceitavam um costume patriarcal, ficavam em festas por meses. Tony ia perdendo o conforto e Rami também. Uma reunião das casadas foi feita com auditoria da sogra, Rami foi promovida à rainha e podia punir as outras, ainda que não quisesse. Organizaram uma rotina de quem ficaria com Tony e de como o serviriam. A comida seria fresca, havia até mesmo o que era para alimentar e o motivo de ser apenas uma semana em cada casa. As mulheres finalmente descobriam compromisso sendo que sempre foram escondidas. Rami se deliciava.

Capítulo 18

Mauá passava Tony pela escala. Rami perguntava como foi a semana, elas se alimentavam afetivamente de pouco mas era assim mesmo. Alimentou com as partes da galinha que devia e dizia que o via cantarolando, mas na hora do sexo Tony só dormia. Mauá brilhava menos, desconfiou e descobriu que Tony tinha uma outra amante. Mauá chorava e se queixava, Ju e Lu se deliciavam pois a Mauá perdia o posto da mais nova. Elas diziam que ela finalmente sentia a desgraça que sentiam. Para Rami era o oposto, ela sentia mais nada, que diferença fazia uma sexta em uma poligamia? Seguia a tradição da poligamia e mantinha o homem por perto. Até mesmo o número de mulheres na poligamia dizia muito do homem, de saber resolver conflitos e discussões. Mauá se inconformava mais com o fato da nova amante ser feia do que a traição em si, ela era mulata, e as mulheres logo ficaram preconceituosas, dizendo que mulata não prestava. Elas precisavam descobrir o estado civil, até porque a cultura da poligamia era dos negros, podia bem ser que ela só queria se divertir, mas o fato de ser solteira poderia implicar em mais uma na poligamia, Rami não gostava da ideia de seis pois poderia dificultar em eleições com um número par. Mauá ficou encarregada de descobrir tudo da sexta, com foto e informações. Finalmente fizeram o flagrante e viram que ela era bem mais bonita que a Mauá. Ficaram pensando o que ela preenchia que outras 5 não preenchiam. Infelizmente a Mauá levou a culpa de ter sido ela que não manteve Tony amado. Saly desabafava que desde sua aparição Tony era mais ausente e a vida só piorava. Até que chegou a informação que a amante era estéril, rejeitada por um político. Na poligamia, sempre havia uma estéril, já que ela não se ocupava com crianças, provavelmente o que Tony procurava. Ela também talvez não procuraria dinheiro pois tinha emprego que mandava em homem e carro próprio, talvez do antigo casamento. Decidiram um corretivo de sexo, não uma greve, Rami tentava reinar entre as esposas no cio, reprimidas e revoltadas, Rami sofria muito.

Capítulo 19

Todas foram juntar juntas com Tony, que aprovou a ideia. Todas ficaram felizes de vê-lo e o embebedaram para que ele soltasse a verdade. Perguntavam o que ele gostava em cada uma, com a promessa de que não ficariam bravas. Mauá era doce, Saly era boa cozinheira e boa de briga, Lu é boa de corpo e se enfeita bem, Ju é um monumento de redenção, Rami é a afirmação dele de homem no mundo. Ju sentia que elas eram vistas como objetos a Tony, apesar de tentar dizer que as via com respeito tal qual Jesus Cristo veio de uma mulher, elas iam se ofendendo e fechando o rosto, até perguntarem da mulata nova, Eva. Ele diz que estava feliz com elas, mas queria experimentar uma carne mais clara. Mauá fica louca e Lu cobra da performance dele, que deve explicações pois é casado. Tony tenta falar que ele é o marido e está acima, elas respondem como nunca responderam, dizendo que era direito da poligamia de até mesmo convocar um assistente conjugal da sua má performance. Ele ameaça as deixar de lado, ainda que as tivesse registrado. As mulheres são vistas como objetos e Tony como um doador de estatutos. Elas aceitavam as palavras duras, mas Mauá dizia que era até melhor ficar solteira, pois todas elas tinham ganhado clientes e contatos, além de dinheiro. Saly comandou que Tony ficasse e agradasse todas elas aquela noite, trancou a casa e colocou Tony em cheque. Elas ficaram nuas no quarto de Saly que tinha arrumado essa armadilha para Tony com outros estrados, ele ficava num misto de nervoso e feliz, chorando e sorrindo. Mulher pelada era mau agouro e Tony se desesperava, não dava conta e ainda tentou clamar por Rami, que ela mudou e era melhor. Ele bebe uísque e diz que Eva era mulher rica, só tinha dinheiro e não tinha homem, era a única coisa que Tony podia oferecer a ela, companhia. Elas acreditam porque homens podem mentir por nada, podia ser verdade ou não. Ele bebe mais meia garrafa e decide ir para casa com Rami, ela fica feliz do marido em casa, ele toma um café forte e vomita. Ele finge dormir na cama e Rami fica pensando em como a mulher nua era um agouro, o Tony quis tanto ter tantas que ficou mal. Falou das analogias do corpo nu, o que significava, e de um conhecido que perdeu dinheiro até e capotou o carro de tanto desejar Rami nua. Até uma história da guerra civil de Moçambique de uma mulher nua com miçangas na frente que desmoralizava as tropas inimigas. Pensou também como mulher podia ser bom, como musas inspiradoras, de como o povo africano associava nudez à terra. Ela conta de um rei déspota tirano que foi combatido e ganhou. As mulheres foram anunciar o descontentamento. Ele respondeu com palavras arrogantes, elas mostraram a bunda e se foram, ele ficou insultado e teve um ataque cardíaco, morreu no mesmo dia. Rami ficou com insônia nesses pensamentos. Queria ouvir música e banhar-se com espuma e concluiu melhor ouvir voz feminina, como a de Rosália Mboa. Ela tenta ver sua nudez, queria se estimar e se assusta. Ela volta ao quarto, Tony ainda dorme e ela pensa que ele provavelmente tem um pesadelo de mulheres nuas. Ela pensa em tantas outras mulheres que vivem nessa situação de harém e pede “perdão a Deus pelo mal que a vida lhes faz.”.

Capítulo 20

Houve um conselho de família feito por Tony que pediu ajuda de todos os familiares, acusava as mulheres de não o tratarem bem e mal sabia conduzir a reunião, em um misto de choro e pressão. Apenas o pai de Rami não apareceu. A sogra de Rami a defendia, dizendo que ele que era o feiticeiro e não aguentava. A tia de Tony perguntava dos ritos, da comida, e ele confirmava tudo, apesar de não lembrar de ter comido moela, mesmo que elas tenham dito que era dado. A família de Tony defende e murmura a seu favor, as mulheres ficam em silêncio, querem construir pontes, não queimar. Saly tenta se defender falando que compra mais de quilo de moelas, mas um velho a interrompe, acusando que foram mal instruídas e que há diferença entre moela e moelas. A mãe de Rami fica quieta, Rami quer revidar, mas fica em silêncio pela mãe quieta. Começa uma discussão da moela e de como não há respeito, ainda mais que moela pode ser comprada aos montes e comida por qualquer um. Fazem como que as mulheres tivessem que olhar ao chão, como forma de submissão e pensar menos, mesmo que o chão levasse mais questionamentos. Mauá levantava a voz, incomodada com as pedradas, coisa de mulher do Norte acostumada a ser ouvida, reclamou da importância da moela, de como estavam unidad e agora era um problema. Tony usava palavras grosseiras para falar de como desrespeitaram quando ficaram nuas. A família defendia Tony falando que aquilo já era demais e ele se sentia vitorioso, até mesmo do azar que não chegava mas estava no futuro. Rami chorava porque as tias falavam de amor como se soubessem ou tivessem recebido, as mulheres eram obedientes com a casa. Contam a história de Vuyazi, uma princesa insubmissa que não fazia nada dos agrados de casamento ao homem, que foi punida pelo dragão do rei e estampada na lua, o que explicava uma vez por mês as mulheres menstruarem. Rami resmungou que não precisava ser estampada na lua e o tio de Tony clamava por ele como uma pérola no deserto. Tony ficou feliz e anunciou que sua morte seria pelo azar das mulheres. Fica um silêncio e Rami vê que mulher nasceu para chorar e sofrer, questiona Deus e o motivo de ser mulher, até mesmo do que adiantava ser homem. A família jantou e bebeu de forma exagerada, Tony era um rei por ali. Rami analisava tudo e de como podiam usar a nudez como arma, assim como Mauá ria e dizia do povo do Sul, dizendo depois da dança de Niketche, uma dança do povo macua que celebra a transição de menina para mulher, sobre a sensualidade, ainda mais das cinco que dançaram a Tony e ele só soube chorar. Falam depois das diferenças de tratamento aos homens e mulheres, mulher é celebrada com uma galinha ao nascer, homem com vaca, mulher recebe três batidas de tambor, homem cinco, mulher é amamentada até um ano, homem aos dois, mulher é anunciada como bebê no relento, homem embaixo de árvore de antepassados ou na casa, homem casa, mulher é casada, homem dorme, mulher é dormida, mulher fica viúva e homem só perde uma mulher. Lu falava até mesmo de como o verbo ter mudava a perspectiva de ver as coisas no casamento. Rami chorava era de raiva, mas usaria as mulheres como suas armas.

Capítulo 21 Tony se afasta cada vez mais de Rami e ela pensa constantemente em separação. Ela pensa que não adianta, separação é libertação para homem, para mulher é perder estatuto. Pensava em como a solidão afetava cada gênero até que Tony chega, na semana da Saly, com sorriso de que vinha coisa ruim. Queria divórcio. Rami chora, como de costume, ela pergunta o motivo e ele diz que era castigo, tentava ser rainha mas era pior que todas. Rami nem se sentia bem, quem dirá orgulhosa, como acusava Tony. Tony dizia que elas o tratavam mal pois agora tinham dinheiro. A vida era boa para ele e agora tudo mudou por orgulho de Rami.

Capítulo 22

Um homem gorducho apareceu para Rami, o advogado de Tony. Ele pediu que assinasse pacificamente, ou se não seria acusada de danos morais, maus tratos e violência psicológica e estava infeliz. Rami lembrou que ele era polígamo ao advogado, ele não ligou, acusou da culpada ser Rami de não ter sido o suficiente. Mandou ela assinar novamente, dizendo que ela era a única esposa na lei e Rami se negou a ser maltratada por outro homem além de Tony. Deu um tapa e o homem saiu correndo gritando pela mãe, Rami ia comer o gorducho. Ele disse que era da lei e se complicaria, ela ameaçou matar ele e Tony e ainda arranhou o homem. Sabendo que se complicou, fugiu dali. Ela se sentiu culpada, mas gostou de ter batido em alguém pela primeira vez, ainda mais depois de tanto apanhar e ser um homem de lei. Pensou no divórcio e desmaiou.

Capítulo 23

Rami pensa em como aceitou e suportou tudo do amor e está sendo dispensada. Foi conversar com o espelho, eles conversaram de como Deus tinha planos maiores, além de que não seria nem a primeira e nem a última a divorciar, se acontecesse, era para acontecer. O espelho dizia que o mundo continuaria sem ela e que há mulheres que sofrem muito mais. Dali apareceram as quatro rivais e perguntavam do divórcio, Rami não queria lutar contra mas as mulheres pediam que lutassem, já que podiam ser as próximas divorciadas. Ju se desesperava, pois ela tinha agora o prazer de ter um marido pois Rami era a segurança de tudo. Saly achava estranho como as mulheres do sul aceitavam ter tantos filhos sem ter amor, a relação era moral, ter filhos de pais diferentes é ruim, antes elas tentassem fisgar ele com vários filhos. Saly dizia que prazer vinha antes, condenava essa moral que só machucava elas, já que no Norte o prazer é mais simples. As rivais não se davam por vencido, elas tinham progresso, teriam com o divórcio. Saly, Mauá e Lu perguntam e explicam como encantam Tony, sem saber que Rami nada fazia, desde raspar musgo a fazer comida com teia de aranha. Encantava a ideia dessas magias, mas qual o custo do amor se é feitiçaria? Rami atacava falando que elas pensavam só em sexo, o que é um questionamento, Lu apontou já que a primeira coisa que vêem é a genitália. Mauá continuava falando da infantilidade de negarem os ritos de amor e escolas, que o pessoal do sul é só estética. Rami ainda era contra colocar as filhas na escola de amor para manter a virgindade. Saly dizia que Rami precisava ser amada, mas não por homem, ela mesma, que fizesse exercícios da parte íntima. Saly apontava que a Europa infectou Moçambique, com esses costumes de cristianismo e ciência, depositam amor no beijo mas trazem pornografia aos tolos. Mauá reafirmava que homem era escravo na mão de mulher que sabe amar. Todas falavam de como sugavam Tony por mulher ter o que comer sem precisar trabalhar. Rami está cansada e se sente derrotada de continuar e mudar. Elas insistem e contam as artimanhas de amor, tal qual as tatuagens, o que interessa Rami mas deixa-a mais cansada. Elas tentam convencê-la de como juntas já fizeram tudo, mas Rami estava insultada e queria todas longes.

Capítulo 24

Rami pensa como toda mulher é solidão e silêncio, de como se fala pouco com o que carrega e não diz. Pensa nas canções que a vagina poderia fazer, vai ao parque e faz diálogos silenciosos com todas que passam. Elas contam histórias iguais de conteúdo, mas são todas diferentes na estética. Pensa na obediência das mulheres e relata histórias esteriotipadas do coletivo social moçambicano. Pensa em como doutores ficam moles e valem de nada. Pensa em como são rebaixadas a serem rotuladas de nada, mas os homens fazem mundos e fundos para achar uma, sendo na solteirice ou traição. Finalmente ela sorri e tem orgulho de ser mulher.

Capítulo 25

Rami quer falar com sua mãe, alguém que a ama e que a entende. Rami chora ao vê-la, enquanto o pai falava com dois amigos. Ela dizia do divórcio e como mais nada agradava Tony e ela era um fracasso. A mãe a defende, falando que ela casou e foi virgem, teve tudo na legalidade e conquistou o sonho de muitas mulheres, sem feitiço. Rami pergunta de como não aprendeu nada e pede que ela conte uns feitiços, a mãe se desculpa falando que o pai era da cidade e chora. Ela se silencia e pensa em como dói a traição, a poligamia e a monogamia. Se a mãe sabia da dor da vida, por que Rami veio ao mundo?

Capítulo 26

Rami vai a pé ao trabalho. Um homem morreu atropelado e a natureza parava para ver. Falavam do lugar ser assombrado. Trabalhou e foi dormir com essa imagem. Saly ligou de madrugada, dizendo que não achava Tony. Rami ficava irritada com ter que mudar a rotina por um vadio, o coração apertava de imaginar Tony como o homem morto. Saly achava estranho tudo pois Tony foi de calção e chinelo comprar cigarro, sem levar documento e nem se quer carro. Não o acharam, às seis da manhã, foi dormir.

Capítulo 27

As tias e cunhadas de Tony entram na casa de Rami às 7 alegando que ela estava livre do fardo do divórcio, pois era viúva. Mandavam ficar quieta para não parecer alegre, Rami não entendia como eles acharam o paradeiro dele tão acertado, tomaram conta da casa e dela, rasparam a cabeça de navalha e vestiram-na de preto, moviam os móveis. Pensou que era melhor ter assinado os papéis. A morte sempre uniu pessoas mais fácil, mulher pode chorar tudo o que guardou e se alimentar com a comida paga pelo marido morto. Depois de abraços e choro que era controlada, falaram que o encontraram atropelado na ponte. Mal dava para ver o corpo e como isso passou pelas rivais? Choravam por Tony, Rami chorava por ele ter ido para outra mulher. As esposas vieram e conversaram sobre o acontecido. Elas achavam estranho todo o corpo delito, a invocação de religião e o enxotamento da ajuda policial. Lu desconfiava de traição, Saly reclamava dos olhares julgadores, Mauá dizia que a morte sempre vem com aviso e esse veio sem nada. Só que Lu lembra que no sul a morte é celebração e questiona quem que vai pagar pela comida de todos. Vão até o necrotério e Rami identifica que não é Tony por uma cicatriz atrás da orelha direita de uma briga que deixou ele todo costurado depois de uma garrafada, mas Rami não diz nada. Tentou falar até para a sogra, mas ela tentava consolar Rami. Sentiu-se irada, entendeu que toda aquela pressa era vingança do sucesso. Rami aceitou as loucuras supersticiosas da família e queria aproveitar a situação. Naquele mesmo local, havia morrido outro polígamo um ano atrás, podia ser que havia um espírito.

Capítulo 28

A família de Mauá e Saly, macua e maconde, vieram exigir os direitos de viúvas característicos das tradições. O irmão mais velho de Tony era o porta-voz e explicou que as tradições de nada valem na poligamia, pois ela é feita de trato assinado e isento de tradição. Todas vieram como concubinas e de prazer, pois na poligamia não há interesse, como elas vieram depois de Tony doutor e com dinheiro, a poligamia nem oficializava elas como esposas, apenas Rami e mal validava Ju. Isso ofende, naturalmente, os macondes e os macuas, que protestaram contra os maus-tratos de Rami e já avisaram de não encostar em Saly e Mauá. Começa uma briga de ofensas de generalizações das pessoas do norte, ditas como escravos das mulheres, e das pessoas do sul, ditas como brutas e violentos com suas mulheres. Um tenta se defender do outro, os do norte dizendo como mãe é certeza, provedora e vida, os outros no respeito da terra, mas o problema é que os homens do norte conseguem defender-se melhor, pois os homens do sul só apontam os erros, zombam e diminuem, os do norte explicam e desarmam os brutos. Saly e Mauá pedem socorro a Rami que disse que aquilo tudo era show, ninguém se mataria. Continuavam as ofensas, famílias que fizeram tanto e sofreram tanto e esqueceram do velório. Ninguém quer ficar por baixo.

Capítulo 29

As mulheres da família de Tony fazem uma nova reunião, somente com Ju e Rami. Elas culpam Rami da traição, tratar mal, fazer complô com as rivais e de feitiçaria. Rami aceita tudo e diz que sim. Agora os familiares voltavam às tradições e passariam as esposas a um dos cunhados, empolgados pela carne. Rami aceita tudo, dá a cara e não se abaixa. Pensa que era bom ter outro homem, ainda que fosse levirato e não incesto, não precisaria ficar nas ruas para encantar.

Capítulo 30

Eva, a suposta amiga de Tony, foi conversar com Rami, era bonita. Ela perguntava diretamente à Rami, até porque ela sabia que Tony estava vivo e em Paris de férias, recebeu até uma ligação dele e contou que o motivo não era para ser explicado agora. Mas Eva achava estranho tudo, ele tinha um problema do joelho e ela sugeriu ver um médico, cuidou de tudo e no dia da viagem viu a Gaby, mais uma amante, ela achou que Mauá era a última e ficou magoada com a mentira. As rivais cobraram de Eva uma participação do luto, pois havia gente que chorava e comia ali. Rami desculpou-as por serem enxotadas, Eva disse mais uma vez que era apenas amiga de Tony. Ela era do Norte, maconde. Eva pedia para que parasse a loucura, chamasse a polícia, mostrasse os documentos, Rami disse que pensaria e só seguia essa invocação de tradição e religião da família pois não a ouviam. Mas ela também queria aproveitar o momento, ela ficaria com um cunhado que era bem bonito, Levy, e até Eva o cobiçou. Mas ela ainda pensava como Tony reagiria, Rami contou de tudo que passou e Eva o considerou louco, merecia ser punido. Eva concordou com Rami do curso que tomaria e se foi, Rami a elogiou e admirou e pensou que mulher só podia ser presa ou livre, mas sempre solitária.

Capítulo 31

As quatro rivais estão no funeral de preto, Rami está com todos os acessórios de preto e só faltava pele ser pintada do tanto que tinha. Estava bela e queria ser lembrada desse dia. Há muita gente, há até outras mulheres chorando que podiam ser outras amantes de Tony, o cemitério não deixa sentimento ser escondido. Rami só chora por ver gente chorando sem ter perda. Chegou a noite e o enterro, Rami simbolicamente deixava naquele corpo a morte de Tony, não queria mais saber dele, enterrou as memórias boas e ruins. Tudo se foi do que ela admirava, ainda para melhorar ele seria lembrado como quem fingiu de morto. Rami pediu perdão por essas culturas que sofria, da história do rei e a rainha insubmissa e como a sua tia teve da moela. O enterro continuou com o corpo descendo e choro, apenas uma lágrima de Rami para não perder a pose. Ela fitava Levy, que seria seu pelos próximos oito dias, pediria a Mauá para ensinar a dança sexual e ele seria seu consolo sexual. Estava cansada dos rituais cristãos e de ganhar nada em seguir. A vida seguia em frente, partilharam tudo do Tony, disputaram até cueca e presente de familiares, deram 30 dias para sair da casa que deixaram só teto e parede para a viúva, sem encostar nas outras esposas, com medo de superstição, feitiço, gente vindo ou de não considerarem esposas.

Capítulo 32

Oito dias depois, um grupo de mulheres prepara uma fogueira na casa de Rami e a tia de Tony puxa ela da esteira e a leva pelo pulso. Ela pega o robe e vai ao banheiro com raiva. Tenta ver o espelho mas ela foi arrancada de lá. Foi banhada de água quente e folhas, cobriram com lençol branco a jogaram num quarto com incenso, folhas no chão e pelada. Ela grita e pergunta a Deus como sofre tanto se é fiel e obediente. Eis que sente uma mão quente, de Levy, era o ritual de passagem. Ele a beija de leve, incendeia rápido e se amam. Ela fica feliz e não sente vergonha de aproveitar o homem já casado, preferia ser amada por um instante do que desprezada a vida inteira.

Capítulo 33

Tony volta e acha estranho a situação toda. Vê os filhos e a Rami sem nada por volta e ela pede para ele ouvir e sentar. Ele ouve tudo, segura o choro, teve que processar da tradição da iniciação sexual e perguntou como que ela não resistiu. Ela disse que foi ensinada a obedecer, como que no luto não o faria, além de elogiar Levy como um cavalheiro e gentil. Ele tinha voz baixa, disse que Rami tinha princípios, que sabia que não era ele, até perguntou o que seria agora, a vontade de Rami de vingança era mais forte do que compaixão, disse que foi largada, raspada e despida, ainda mais que nunca era ouvida. Perguntou das outras, elas estavam recebendo visitas e condolências dos irmãos de Tony, mas ser humilhada apenas Rami, questionava a não aparição da polícia, ela respondia que foi vetada e não pegava bem uma viúva por aí. Ele estava sem chão, sem expressão, amaldiçoou a tradição, Rami o chicoteava da mesma forma que sempre foi. Ele pensava nos filhos que deixou e que a tradição os deixou sem colchão, a tradição que tanto achava boa, que trabalhou como doutor, deixaria nada aos filhos. Ele chorava, tentou um abraço e ela, pela primeira vez, recusou, ela que tanto pedia. Ela disse que ele podia ser um espírito e mandava se afastar, ele tentava de novo e continuava a repelir o homem. Ele ainda acusava Rami da desgraça, Rami disse que ele a construiu com teto de palha. Anoitece e Tony continua meditando no mesmo engradado de cerveja que sentou para ouvir tudo, as outras rivais dormiam na cama que Tony comprou, Rami e seus filhos dormiam em folhas de jornal. Até quis comprar uma cama, mas as lojas já fecharam e não atendiam esse tipo de emergência. No meio da noite Rami ainda viu Tony acordado e viu como sofria, não só de ser saqueado e tomado tudo, construiu nada para ficar, mas também da kutchinga, foi tomado e substituído em tudo que teria de resquício de vida. Ele tinha até emagrecido e contou que mandou prender todos do saque, até a mãe, responderiam judicialmente. Ele disse que não adiantava, errou demais para fazer algo, ele prometia melhorar e que errou. Ela disse que iria ao Levy e levaria os filhos, ele dizia que não e pedia perdão, ela ignorava e dizia que ele era nada, viveu como quis e que colhesse os frutos, poderia ser feliz com suas concubinas e partiria. Ele barrou a saída, puxou as malas, ela o empurrou e brigaram. Mas pararam quando chegou o filho mais velho chora vendo tudo e a campainha toca.

Capítulo 34

Cada rival foi aparecendo, bem vestida pela Lu e perfumadas pela Mauá, Tony estava no meio tal qual bolo a ser fatiado. Saly o acolhe e pergunta da viagem com deboche, elas dizem ser um espírito e o beliscam para ver se era realmente vivo, soltava gemidos e chorava, queria pedir perdão, errar era humano. Ele balbuciava, as mulheres diziam de como foram tratadas, como que voltou se foi com a Gaby. Vomitaram tudo que sentiam. Ele se oferecia para ser chicoteado, Rami pedia divórcio. Denunciavam o tratamento e escapava de responder das mulheres que choravam no velório. Falam de como é a morte no norte, respeitosa. Ele queria retomar o controle e voltar como tudo era, disse que pagaria os gastos do velório e dos negócios fechados por uma semana, pediu a tabela semanal de esposas. Saly gritou que ele devolveria tudo a Rami em sete dias. Rami disse que faria a escala, mas faltava Eva e Gaby. Tony pediu que não, eram amigas. Rami dizia que iria ao Levy. Ele clamava que só por cima do cadáver, o que era fácil. Elas se uniam para que Eva fosse a sexta, sofreu junto e se uniu às esposas. Pedia piedade e Rami foi ao banheiro ver a careca, o espelho pergunta quem era, e nega que fosse Rami, era quem a sociedade construiu.

Capítulo 35

Rami foi ao restaurante perto do serviço, estava sozinha na semana, Tony partiu para outros braços. Queria falar com Lu e retomar uma conversa. Enquanto bebia água gelada, viu um carro bonito chegando e Lu que dirigia, era usado, mas o primeiro carro, Rami a abraça de felicidade. O tópico era o Vítor, como que Lu não ia a ele para casar. Ela chegou perto como quem conta segredo, não queria ser como Rami, a primeira, pois toda primeira esposa é serviço e espinho, a segunda é flor e prazer, ela jamais trocaria isso. Rami a considerava ingrata, mas as coisas eram assim, Rami perfumava e cuidava de Tony, as esposas o recebiam perfumado e sem obrigações familiares, apenas prazer. Vito e Tony eram do sul, ela prometeu jamais casar com um homem do sul e se contentava com os prazeres de cada homem na ilegitimidade. Rami se surpreende de novo com como ela é assertiva, decidida e afronta tudo. Ela segue apenas o décimo mandamento, ama a ti mesmo como o próximo. Os homem aprendem a amar antes si do que outros, as mulheres o oposto, ela fazia como os homens, valia de nada obedecer se obedecer fosse o destino de Rami. Rami chorava, Lu se indignava de como a tratavam mal, ela multiplicava o amor onde existia ódio. Devia ser amada, Lu era grata pela poligamia e tudo que deu. Rami pensava em como os filhos também perpetuavam costumes. Também perguntava de novo da lei, que era mais forte que tradição, Lu resistia mas até chorou. Ela conta como foi violentada na vila, trocada por algodão para cobrir os irmãos, mal tratada por uma família de dezessete pelas mulheres, fugiu pela mata e sofreu na cidade até ter Tony na sua frente. Rami insistia no assunto do casamento com Vito, sentia muito pelo passado, mas ele já foi. Lu prometeu pensar.

Capítulo 36

A casa de Rami virou local de reclamações das rivais, coisa que não incomoda ela, mas os seus filhos. Era sexta, dia de passar o Tony. Lu responde o de costume, como o serviu, como o tratou, mas Tony apareceu em sua casa sem ser avisado por Saly. Ele também não foi dançar, Saly teve dó de Tony, já tinha 50 anos e dizia que gastava energia na poligamia. Tony gasta a energia que tem dançando de jazz a rock com as esposas, elas já podem pagar as despesas de fim de semana. Tony se enche de amor das esposas e ele enche sua vida com elas, troca os nomes menos o de Mauá. Porém, faziam 15 dias que Saly estava com Tony, nenhuma mais queria tomar ele em casa, homem em casa limita, não ajuda e elas tinham seus negócios agora. Ju aceitou recebê-lo, mas ela reclama de como o mimam e como isso gera mais trabalho. Rami se delicia com o plano que tem, as mulheres mudam, menos Tony, ele viveria e morreria pelas mulheres.

Capítulo 37

De noite, Mauá vai visitar Rami, bem vestida, logo vem cada uma, menos Lu, constantemente Rami é lembrada de como era traída e do que cada mulher fez para conquistar Tony, amargurando seu interior. Elas disseram que Tony as chamou ali, acharam tudo estranho e que vinha coisa ruim, principalmente Rami, que sabia o que viria mas não contava. Elas se elogiavam, pensava em como a roupa feminina só pode ser criação de homem para controlar. Finalmente Tony chegou, fumando nervoso, Rami leu uma carta breve, era um convite de casamento de Lu e Vito. Tony as ofendia, dizendo que foi traído, que não adiantava ter tantas no mundo, era o gado dele, domesticado, que riam dele pelas costas. Elas ficavam quieta, ele reclamava e dizia até demais, de como Mauá iria trair logo mais, de como Ju sempre quis casar com ele, de como Lu tinha até um filho chamado Vito e pensando desde quando existia esta relação. Pensou até se os filhos eram seus das mulheres. Quatro lhe bastavam ele diz, mas temia o que outros diriam da sua virilidade. Rami já via que ele choraria as pitangas a ela. Botou a culpa em Rami, disse que homem não nasceu para sofrer, bebeu e saiu em disparada com o carro. Telefonam para Lu e avisam do que rolou. Eles seguem Tony com o carro de Mauá e encontram a porta da casa dela escancarada. Acharam Tony chorando como touro capado, Rami preferia ver violência do que ele chorando por amor. Ele pedia que ficasse, até o dinheiro do lobolo e os filhos. Ela negava pois ele não era pai oficial. Ele até falou de largar todas e depois de matar se o deixasse. Propôs ser casada com aliança e véu, ficaria se fosse assim. Tony procurava uma solução. Escolheu a violência e disse que a amava e dava de tudo, voltaria implorando ele de volta pois ele era o melhor. Ele tenta socar ela para machucar o rosto antes do casamento, mas vai fraco, ela desvia e morde o braço dele até sangrar. Rami tentou estancar a ferida funda com um lenço. Ela sente ciúmes. Mais uma vez Tony culpa Rami, ela aceita e ele pergunta se não tem pena dele. Ele diz que ela é boa, que trazia amarguras, mas que ela era boa por isso. Ela aceita. Rami o ajuda a ir embora. Ele não aceita ser abandonado, mulher é acostumada, homem não. Ela pensa em como cantar espanta os males, tal qual uma mulher do Zimbabué que teve cinco filhos, cada uma geração da história de guerras de lá. Mas cantava feliz, apesar de ter sido violada, o último filho foi de amor e ela só teve homens, que jamais conheceriam a dor da violação sexual.

Capítulo 38

Rami está com insônia e vê Tony delirando com Lu. Ele acorda e pergunta a hora, era o dia do casamento de Lu e ele perguntou se Rami ia, pois queria impedir o casamento e pediu a participação de Rami. Rami, ainda que não fosse se ele não a deixasse, disse que ela era apenas lobolada, não havia como impedir. Ele apela dizendo que é bom, Rami só tem ele para curar de outras. Ele pensava em feitiço, contratar um pistoleiro, uma invocadora de trovões, prova do que gostava mais de Lu do que de Rami. Ele vai de desejar Lu a enxotá-la em casa frase. Ele vai a loucura quando Rami menciona de que ele devia casar com mulher antiga, ele grita do trovão a ser encomendado e desmaia. Levaram ao hospital Rami e os filhos. Ela explica ao doutor a situação do casamento, Tony grita que ela devia saber o seu lugar, Rami se cansa e o deixa. Ele chora por ela. No dia seguinte, arruma-se bem para o casamento, apesar de ter ligado ao médico para verificar como estava Tony.

Capítulo 39

Lu está irradiante no casamento, Rami se emociona. Lu pergunta de Tony e Rami explica que está hospitalizado de depressão por ela, o que a deixa mais feliz. Lu agradece e se emociona com Rami, as outras rivais, menos Ju, agradecem Rami e o que fez, Mauá até conta que era a próxima noiva. Lu até oferece o lugar de segunda esposa no casamento, para que tenha prazer. Rami vê e pensa nas mulheres que sofrem, nos homens que têm a vida para eles. Dançam, celebram Vuyazi e pensam num mundo melhor aos dois gêneros.

Capítulo 40

Já é novembro, Rami acorda, sente saudades de não sabe quem e inveja talvez da Lu, mas de tantas outras mulheres em sua situação e situações diferentes. Acha triste a situação das mulheres do mundo e estranho como é invejada. Até pensa em como é possível roubar um marido. Pensa nas promessas do Tony não cumpridas e levanta-se. Ela invoca um canto que sua mãe gosta e fala de como apanha. Enquanto lavava a louça para espantar a amargura, Tony chega com uma rosa e cheio de ternura, Rami preferia que fosse lenha. Ele diz que queria largar todas para focar só em Rami. Ela fica enjoada das mentiras e tentativas de explicar porque traía. Tenta elogiar ela mas tem um sentimento de aversão em Rami. Ele tenta jogar promessas e um ideal que nunca esteve com Rami de fato e teve pouco tempo para conhecer. Rami vai ficando com raiva, o nojo aumenta de um homem que traiu, agrediu e abandonou mulheres e filhos. Tentou bater nele com uma colher de pau mas foi parada. Ela diz como o via como sagrado e se enganou. Ele diz que o médico disse para cuidar da vida depois de ouvir suas histórias, além de que as outras esposas só o seguiam por dinheiro, agora que tinham negócios, o desrespeitavam. Pergunta o que é de cada mulher, cada uma delas tem prioridades, tenta ser doce e falar que Rami é a verdadeira. Rami lembra do avô materno que batia na sua avó, chamando-a de tambor. Ele continua com essa ideia de tentar envolvê-la, dizendo como ela o apoiava, ela não aguentou e saiu dali. Não queria mais amar um homem, queria ser segunda esposa, queria ser qualquer outra coisa.

Capítulo 41

As rivais foram convocadas emergencialmente. Elas riram, apenas Rami tinha ouvido isso pela primeira vez. Chora de novo, de como homem mente e mulher sofre. Elas fazem uma votação de arranjar uma nova mulher, todas mal têm tempo para Tony ou si mesmas. Rami diz que elas não amam mais Tony, elas dizem que o verbo é diferente, não é emoção, ficou lógico e racional. Rami acreditava no amor eterno, mas Tony não a correspondia e as rivais já tinham se aproveitado dele, cansaram-se. Ju explicava como ter um marido polígamo era cuidar como um rei, obedecer e ter direito nenhum. Pensavam quando envelhecesse do que valeria aquela poligamia. Decidiram viajar para a quinta esposa, no sul eram gordas e não serviam, no centro tinham cores de pele variada mas nada mais, no norte faltava algo ou eram imperfeitas em detalhes. A procura era longa e talvez houvesse um fim.

Capítulo 42

Elas têm uma reunião com Tony. Rami começava com medo mas todas a ajudavam no discurso que elas estavam velhas e precisavam cuidar de Tony. Ao ouvir da nova esposa, pediu que não. Elas já tinham achado a nova esposa, Saluá, dezoito anos, ela entra e é graciosa e bonita, Tony se apaixona e começa a exagerar nos ditos. Ele pergunta dela, tem medo pois é velho e tem medo de sujar a menina. Elas perguntam de novo da decisão, ele diz que não, as mulheres invocariam os assistentes conjugais e declarariam impotência sexual de Tony, que estava na lei. Mauá anuncia que já tem outro dentro de quinze dias, Tony não fala nada, Ju tinha um português com dinheiro fazia dois anos que até adotou os filhos de Tony e talvez os não legítimos entre eles. Tony permanece em silêncio.

Capítulo 43

As rivais saem com Saluá, Tony fala com Rami e a culpa de novo. Tony começa a dizer que a queria admirar, elogiar e confiar, mas homem só fazia o oposto de tudo isso. Ele fica andando na casa e decide sair na chuva. Rami tem medo da superstição de homem que sai na chuva e some. Ela até consegue chegar na frente dele e barrar a passagem. Tony queria ir para um local seguro de mulheres, a casa de sua mãe. Ele lamenta os filhos que teve e confunde, as mulheres que mal viveu junto, arrependia-se. Eles caminham juntos na chuva e até se beijam, Rami fica feliz e ele encosta em seu ventre duro. Ela estava grávida, mas ele não entendia como. Todas as esposas partiram, Lu casou com quem lhe ama, Ju casou com quem estava presente, Saly conquistou um italiano padre, Mauá tinha um substituto de Tony. Ela podia salvá-lo, mas recusa-se, o filho era de Levy. Três trovoadas o deixam mole. Rami o segura, mas solta depois de um tempo, ele cai.

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2020 Redação UEA UEA 2020 acesso 2021

Tema de Redação da UEA de 2020 – Censurar imagens de pessoas fora do padrão estético é uma forma adequada de combater o cyberbullying?

Texto 1
Cyberbullying é o bullying realizado por meio das tecnologias digitais. Pode ocorrer nas mídias sociais, plataformas de
mensagens, plataformas de jogos e celulares. É o comportamento repetido, com intuito de assustar, enfurecer ou envergonhar
aqueles que são vítimas. Quando o bullying ocorre on-line, pode parecer que o indivíduo está sendo atacado por todos os
lados, inclusive dentro da sua própria casa. Parece que não há como escapar.
(“Cyberbullying: o que é e como pará-lo”. www.unicef.org. Adaptado.)
Texto 2
Débora se sentia linda em certa noite. Ela estava em uma confraternização com a família, quando fez uma selfie com o
celular. A jovem, na época com 15 anos, compartilhou a fotografia em seu perfil no Facebook. O registro, feito em um momento
de alegria, tornou-se um dos maiores traumas de sua vida.
Após publicar a selfie na rede social, a jovem notou que desconhecidos estavam compartilhando a fotografia. Ela descobriu que havia se tornado meme — como são chamadas as imagens de humor replicadas exaustivamente em redes sociais
— em razão de sua aparência. Enquanto a selfie arrancava risadas daqueles que compartilhavam a imagem, Débora chorava
em seu quarto na periferia da zona sul de São Paulo (SP).
A repercussão da imagem fez com que a garota evitasse sair de casa para não ser reconhecida. “Eu me sentia muito feia,
muito humilhada e inferior a outras meninas. Nos comentários sobre os memes com a minha foto, falavam muito sobre a minha
aparência e isso me chateava”, conta Débora, atualmente com 22 anos. Na época, ela abandonou a escola, deixou de sair
de casa e chegou a tentar o suicídio.
Por meio de nota, o Facebook informou que bullying e assédio violam os padrões da comunidade da rede social. No comunicado, a empresa solicita que as pessoas denunciem conteúdos que acharem que não deveriam estar na plataforma. Débora,
porém, afirma que desde 2012 tem denunciado todos os memes com sua selfie, mas as imagens nunca foram excluídas.
O Facebook declarou, em comunicado, que a rede social tem atuado cada vez mais para coibir os casos de bullying. Em
2018, lançou uma ferramenta de revisão de fotos, vídeos ou postagens, por meio da qual é possível pedir que determinada
denúncia, caso não tenha tido os resultados esperados, seja reavaliada.
(Vinícius Lemos. “‘Virei meme e minha vida se tornou um pesadelo’: brasileira abandonou a escola e tentou se matar após piadas”.
www.bbc.com, 19.07.2020. Adaptado.)
Texto 3
O TikTok orientou seus moderadores a censurar vídeos nos quais aparecessem pessoas consideradas fora do padrão
estético. Estas instruções foram encontradas em documentos internos aos quais o The Intercept teve acesso.
Segundo esse veículo, as normas instruíam os funcionários do aplicativo a observar, nos vídeos, se as pessoas apresentavam algum tipo de “forma corporal anormal”, como aparência facial feia, muitas rugas no rosto ou ainda sorrisos tortos.
Outras partes do corpo também eram observadas, pois nos documentos há menção a barrar pessoas com barriga de cerveja.
A presença dessas características era o suficiente para que os tiktokkers ficassem de fora da indicação algorítmica, perdendo audiência.
Ao The Intercept, um porta-voz da ByteDance, empresa proprietária do aplicativo de vídeos curtos, disse que a maior parte
das diretrizes obtidas pelo veículo não estão mais em uso ou, em alguns casos, nunca foram utilizadas, além de afirmar que
elas foram criadas com o objetivo de combater o cyberbullying.
(André Luiz Dias Gonçalves. “TikTok é acusado de censurar vídeos de usuários ‘feios e pobres’”.
www.tecmundo.com.br, 16.03.2020. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Censurar imagens de pessoas fora do padrão estético
é uma forma adequada de combater o cyberbullying?